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O CAPITAL RESUMO CAP 12

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CAP. 12 – DIVISÃO DO TRABALHO E MANUFATURA 
1 DUPLA ORIGEM DA MANUFATURA 
“A cooperação fundada na divisão do trabalho adquire sua forma clássica na manufatura” (MARX, 2016, 
p. 391). Sendo forma característica do processo de produção de meados do século XVI ao último terço do 
século XVIII. 
Nasce quando são concentrados diversos trabalhadores, de ofícios diferentes e independentes, em uma 
oficina, sob o comando do mesmo capitalista, por cujas mãos tem de passar um produto até seu acabamento, 
ou seja, onde são empregados simultaneamente em um processo de trabalho em que a cooperação entre eles 
é imprescindível. 
A junção destes diversos trabalhadores permite que muitos produtos possam ser feitos ao mesmo tempo, 
encontrando-se em fases diversas da produção ao mesmo tempo. 
Marx exemplifica com a manufatura de carruagem que reúne diversos trabalhadores de ofícios diferentes 
onde trabalham simultaneamente em colaboração. 
“Até aí, estamos no domínio da cooperação simples [...], Mas logo sucede uma modificação substancial” 
(MARX, 2016, p. 391). 
Os trabalhadores que realizavam todas as etapas de produção de um bem, com a especialização dentro da 
manufatura vão perdendo aos poucos a capacidade de produzir a mercadoria inteiramente. 
Para a manufatura a forma mais apropriada de trabalho consiste nesta especialização, ela divide a produção 
em diversas operações especializadas e cristaliza cada operação em função exclusiva de um trabalhador e a 
totalidade da mercadoria é produzida pela união desses trabalhadores parciais. 
O surgimento da manufatura ocorre pela combinação de diferentes ofícios sob o comando do mesmo capital 
ou pela junção, sob o domínio de um capital, de muitos trabalhadores que fazem a mesma coisa ou a mesma 
espécie de trabalho. 
Contudo, as circunstâncias externas, como a necessidade de elevar a produção em determinado prazo, 
acarretou na subdivisão dos trabalhos e da necessidade da cooperação dos trabalhadores, pois cada um fazia 
uma parcela da mercadoria e o produto do seu trabalho era a matéria prima do trabalhador seguinte. 
“Essa repartição acidental de tarefas repete-se, revela suas vantagens peculiares e ossifica-se, 
progressivamente, em divisão sistemática do trabalho” (MARX, 2016, p. 392). 
A mercadoria deixa de ser produto individual do artesão independente, passando a ser produto social de um 
conjunto de trabalhadores, cada um deles realizando a mesma e ininterrupta tarefa única e parcial. 
A manufatura se origina e se forma, a partir do artesanato, de duas maneiras: 
1. “Surge da combinação de ofícios independentes diversos que perderam sua independência e se 
tornaram tão especializados que passam a constituir apenas operações parciais do processo de 
produção de uma única mercadoria” – ou seja, junta sob o domínio do mesmo capital diferentes 
processos de produção, antes realizados em separado. 
2. “Tem sua origem na coordenação de artífices de determinado ofício, decompondo o ofício em suas 
diferentes operações particulares, isolando-as e individualizando-as para tornar cada uma delas 
função exclusiva de um trabalhador especial” – ou seja, aperfeiçoa a divisão do trabalho existente 
anteriormente. 
O resultado da manufatura é “um mecanismo de produção cujos órgãos são serem humanos” (MARX, 2016, 
p. 393). 
Contudo, na manufatura a base da produção ainda é manual, artesanal, dependendo, portanto, da habilidade, 
rapidez e segurança do trabalhador ao manejar seu instrumento. 
“[...] cada processo parcial percorrido pelo produto tem de ser realizável como trabalho parcial 
profissional de um artesão. [...] o trabalhador é absorvido por uma função parcial e sua força de trabalho 
se transforma para sempre em órgão dessa função parcial” (MARX, 2016, p. 393). 
A divisão manufatureira do trabalho é uma espécie particular de cooperação, muitas de suas vantagens 
decorrem da natureza geral da cooperação. 
 
2 O TRABALHADOR PARCIAL E SUA FERRAMENTA 
Um trabalhador que passa a vida inteira se especializando um uma função parcial, transforma todo o seu 
corpo em órgão automático especializado dessa operação, portanto, sua produtividade será maior do que a 
do artesão que realiza todas as etapas da produção. 
“O trabalhador coletivo que constitui o mecanismo vivo da manufatura consiste apenas nesses 
trabalhadores parciais, limitados. Por isso, produz-se em menos tempo ou eleva-se a força produtiva do 
trabalho, em comparação com os ofícios independentes. Também aperfeiçoa-se o método do trabalho 
parcial, depois que este se torna função exclusiva de uma pessoa” (MARX, 2016, p. 394). 
Ainda segundo Marx (2016, p. 394): 
“A manufatura produz realmente a virtuosidade do trabalhador mutilado, ao reproduzir e levar 
sistematicamente ao extremo, dentro da oficina, a especialização natural dos ofícios que encontra na 
sociedade”. 
Quando um artífice executava todas as etapas de produção da mercadoria, ou a maioria delas, de uma etapa 
para a outra precisava parar para mudar de ferramenta ou de posição, o que consistia em tempo não 
trabalhado. 
Com a especialização do trabalho, cada trabalhador só executa parte de uma mercadoria não precisando 
mudar de ferramenta e posição. O acréscimo de produtividade decorre da maior intensidade do trabalho 
contínuo e único. 
Todavia, quando o artífice precisava mudar de posição ou ferramenta, neste tempo suas forças recebiam novo 
estímulo ao trabalho, com a eliminação do tempo de mudança de ferramenta, elimina-se esse estímulo. 
As manufaturas se caracterizam pela diferenciação das ferramentas, estas modificadas para cada processo de 
trabalho, elevam a produtividade do trabalhador ao serem produzidas para operar plenamente em mãos de 
um trabalhador parcial específico. 
“O trabalhador parcial e seu instrumento constituem os elementos simples da manufatura. Examinemo-la 
agora em seu conjunto” (MARX, 2016, p. 396). 
 
3 AS DUAS FORMAS FUNDAMENTAIS DA MANUFATURA: MANUFATURA HETEROGÊNEA 
E MANUFATURA ORGÂNICA 
A manufatura tem duas formas fundamentais: 
1. MANUFATURA HETEROGÊNEA: o artigo se constitui pelo simples ajustamento mecânico de 
partes de produtos fabricados por trabalhadores parciais que trabalham a domicílio para uma 
capitalista. 
Ex. Manufatura de relógio, as peças são feitas por artesãos independentes e a manufatura monta as 
peças adquiridas, produzindo poucas delas. 
O fracionamento da produção pouco permite o emprego de instrumental comum de trabalho; e o 
capitalista evita as despesas de construção com o sistema disperso de fabricação. 
A falta de conexão entre os processos dificulta a transformação de manufaturas desse gênero em 
grande indústria mecanizada. 
2. MANUFATURA ORGÂNICA: sua forma perfeita, a forma acabada do produto deve-se a uma 
sequência de operações e manipulações conexas, uma sequência de processos gradativos. 
Há redução do espaço que separa as diversas fases de produção do artigo. 
Há ganho de produtividade, em relação ao artesanato, em virtude do caráter cooperativo da 
manufatura. 
“Para estabelecer e manter a conexão entre as diferentes funções isoladas, é necessário o transporte 
ininterrupto do artigo de uma mão para outra e de um processo para outro. Isto representa, 
confrontando-se com a grande indústria mecanizada, uma limitação peculiar, custosa e imanente ao 
princípio da manufatura” (MARX, 2016, p. 399). 
Ex. Manufatura de agulhas em que o arame passa pelas mãos de 72 e até 92 trabalhadores parciais, 
realizando cada um uma operação específica. 
Se olharmos a oficina como um todo a matéria-prima encontra-se simultaneamente em todas as etapas da 
produção. E as diversas operações parciais se sobrepõe acarretando aumento da produtividade do trabalho. 
Esse ganho de produtividade decorre da cooperação. A manufatura cria as condições de cooperação 
decompondo a atividade do artesão eaprisionando cada trabalho em uma única parcela do ofício. 
Assim, “[...] o resultado do trabalho de um é o ponto de partida para o trabalho do outro. Um trabalhador 
dá ocupação diretamente ao outro. [...] essa dependência direta dos trabalhos e dos trabalhadores entre si 
obriga cada um a só empregar o tempo necessário à sua função, obtendo-se assim continuidade, 
uniformidade, regularidade, ordenamento e, notadamente, intensidade de trabalho que não se alcançam no 
ofício independente e nem mesmo na cooperação simples” (MARX, 2016, p. 400). 
A concorrência leva a só se aplicar na produção o tempo de trabalho socialmente necessário, para se obter a 
taxa de mais-valia social, pois cada produtor tem que vender a sua mercadoria ao preço de mercado. 
Na manufatura “torna-se lei técnica do próprio processo de produção o fornecimento de determinada 
quantidade de produto num tempo dado” (MARX, 2016, p. 400). 
Contudo, as operações diferentes precisam de tempo desigual fornecendo quantidades desiguais de 
mercadorias. Contrata-se, portanto, trabalhadores em proporções desiguais para com isso gerar os produtos 
na mesma proporção, uma vez que o produto de um é a matéria prima de outro. 
“Assim, numa manufatura de tipos de imprensa, por exemplo, há quatro fundidores e dois quebradores para 
um polidor: o fundidor funde 2.000 tipos por hora, o quebrador destaca 4.000 e o polidor dá polimento a 
8.000. Reaparece aí o princípio da cooperação em sua forma mais simples, o emprego simultâneo de muitos 
que fazem a mesma coisa; só que agora ele exprime uma relação orgânica. [...] Fixada pela experiência a 
proporção mais adequada dos diferentes grupos de trabalhadores parciais para determinada escala de 
produção, só se pode ampliar essa escala empregando-se um múltiplo de cada grupo especial” (MARX, 
2016, p. 400-401). 
Os membros destes grupos de trabalho são totalmente dependentes uns dos outros para a produção da 
mercadoria. Faltando um dos membros o organismo produtivo fica paralisado. Por isso, que no capítulo sobre 
a jornada de trabalho, quando a fábrica funcionava 24 horas, e quando um dos meninos faltavam o que 
trabalhou 12 horas precisaria trabalhar mais 12 do que faltou. 
A manufatura pode tornar-se uma combinação de diferentes manufaturas. 
O período manufatureiro estabelece a diminuição do tempo de trabalho necessário para a produção de 
mercadorias. O mecanismo específico deste período é o trabalhador coletivo, composto de muitos 
trabalhadores parciais. 
A divisão do trabalho é realizada com base nas habilidades específicas de cada trabalhador, pois cada 
trabalhador possui diferentes habilidades necessárias à produção, uma vez concretizada a divisão do trabalho, 
cada trabalhador limita-se a uma parcela da produção. Com isso, obtém-se uma força de trabalho coletiva 
que possui todas as qualidades produtivas no mesmo grau elevado de habilidade e a despende ao mesmo 
tempo. 
A especialização em uma parcela da produção implica aperfeiçoamento do trabalho exercido maior agilidade 
e eficiência. 
“O hábito de exercer uma função única limitada transforma-o naturalmente em órgão infalível dessa função, 
compelindo-o à conexão com o mecanismo global a operar com a regularidade de uma peça de máquina” 
(MARX, 2016, p. 404). 
A manufatura cria tanto uma estrutura hierárquica quanto uma classificação dos trabalhadores em hábeis e 
inábeis. 
Os inábeis, que seriam deixados de lado pelo artesanato, são utilizados na produção embora não se gaste 
tempo e recursos com o ensino do processo produtivo a esses. Mesmo os hábeis, com a divisão do trabalho 
da manufatura, reduzem em muito os custos de aprendizagem de uma função em comparação com o 
artesanato, o qual demanda-se o aprendizado de todo o processo produtivo de uma mercadoria. 
“Em ambos os casos, cai o valor da força de trabalho. [...] A desvalorização relativa da força de trabalho, 
decorrente da eliminação ou da redução dos custos de aprendizagem, redunda, para o capital, em acréscimo 
imediato de mais-valia, pois tudo o que reduz o tempo de trabalho necessário para reproduzir a força de 
trabalho aumenta o domínio do trabalho excedente” (MARX, 2016, p. 405). 
A própria repetição de uma única função leva, pela prática, ao aperfeiçoamento do trabalho e barateando o 
valor da força de trabalho. 
 
4 A DIVISÃO DO TRABALHO NA MANUFATURA E DIVISÃO DO TRABALHO NA 
SOCIEDADE 
A divisão manufatureira do trabalho e a divisão social do trabalho constitui o fundamento geral de toda a 
produção de mercadoria. 
Os grandes ramos da divisão social são: agricultura, indústria, comércio, etc. 
A divisão do trabalho em particular é a diferenciação desses grandes ramos em espécies e variedades. 
A divisão de trabalho em uma oficina é a divisão individualizada. 
Marx faz um resgate histórico do surgimento da divisão do trabalho, mostrando sua origem nas diferenças 
fisiológicas (sexo e idade) e sua evolução com o crescimento da população e com o conflito entre diversas 
tribos. 
“A troca de produtos se origina nos pontos em que diferentes famílias, tribos, comunidades entram em 
contato [...] A troca não cria a diferença entre os ramos de produção, mas estabelece relações entre os 
ramos diferentes e transforma-os em atividades mais ou menos interdependentes dentro do conjunto da 
produção social. A divisão social do trabalho surge aí através da troca entre ramos de produção que são 
originalmente diversos e independentes entre si” (MARX, 2016, p. 406-407). 
Essas diferenças surgem das condições diversas que tais comunidades enfrentam, com meios de produção e 
de subsistência distintos de acordo com o ambiente em que se localizam. 
O processo de troca fundamenta separação entre a cidade e o campo. 
Do mesmo modo que na manufatura é necessário determinado volume de força de trabalho, a divisão social 
do trabalho depende da magnitude e da densidade da população. Contudo, a densidade populacional é 
relativa, um país será mais denso em relação a outro, mesmo se menos povoado, se possuir muitos meios de 
transporte. 
Para ocorrer a divisão manufatureira do trabalho a divisão social deverá ter atingido certo grau de 
desenvolvimento. A primeira, todavia, desenvolve e multiplica a divisão social do trabalho ao demandar 
ferramentas cada vez mais específicas, diferenciam os ofícios que produzem tais mercadorias. 
“Se a manufatura se apodera de um estágio particular de produção de uma mercadoria, os demais estágios 
de produção se transformam em diversas indústrias independentes. [...] Para aperfeiçoar a divisão do 
trabalho na manufatura, o mesmo ramo de produção é dividido em manufaturas diversas” (MARX, 2016, 
p. 408). 
Ampliando-se a divisão do trabalho em particular, ou a divisão do trabalho em espécies. 
No período manufatureiro a divisão social do trabalho desenvolve-se com a ampliação do mercado mundial 
e com o sistema colonial. 
A divisão social do trabalho é semelhante a divisão do trabalho na manufatura, a principal diferença é a 
dispersão dos processos relacionados no tempo e no espaço. O produto agrícola é matéria-prima de algumas 
indústrias, com o produto do trabalhador do início da linha de produção de uma manufatura específica é 
matéria-prima do trabalhador ao lado deste. 
A principal característica da divisão manufatureira do trabalho é que o trabalhador parcial não produz 
mercadoria. Somente o trabalhador coletivo, que reúne os trabalhos parciais, é capaz de produzir as 
mercadorias. 
Enquanto a divisão social do trabalho se processa através da compra e venda dos produtos de diferentes 
ramos de trabalho. Na manufatura, a conexão dos trabalhadores parciais ocorre pela compra de suas forças 
de trabalho por um mesmo capitalista que as emprega como força coletiva. 
Enquanto a divisão social do trabalho pressupõe dispersão dos meios de produção entre diferentes produtoresde mercadorias independentes entre si. A manufatura demanda concentração dos meios de produção nas 
mãos de um capitalista. 
Além disso, enquanto o acaso distribui os produtores de mercadorias e seus meios de produção entre os 
diferentes ramos de produção. Na manufatura tem-se uma proporção determinada da quantidade de 
trabalhadores de cada função necessárias à produção. 
“A divisão manufatureira do trabalho pressupõe a autoridade incondicional do capitalista sobre seres 
humanos transformados em simples membros de um mecanismo que a ele pertence. A divisão social do 
trabalho faz confrontarem-se produtores independentes de mercadorias, os quais não reconhecem outra 
autoridade além da concorrência, além da coação exercida sobre eles pela pressão dos recíprocos interesses 
[...] O mesmo espírito burguês que louva, como fator de aumento da força produtiva, a divisão 
manufatureira do trabalho, a condenação do trabalhador a executar perpetuamente uma operação parcial 
e sua subordinação completa ao capitalista, com a mesma ênfase denuncia todo controle e regulamentação 
sociais conscientes do processo de produção como um ataque aos invioláveis direitos de propriedade, de 
liberdade e de iniciativa do gênio capitalista. É curioso que o argumento mais forte até agora encontrado 
pelos apologistas entusiastas do sistema de fábrica contra qualquer organização geral do trabalho social 
seja o de que esta transformaria toda a sociedade numa fábrica” (MARX, 2016, p. 411). 
Deste modo, na sociedade capitalista existe um despotismo na divisão manufatureira do trabalho e uma 
anarquia na divisão social do trabalho. Contrariando as antigas formas de sociedade, nas quais predominava 
uma organização do trabalho social subordinada a um plano e a uma autoridade, enquanto nas oficinas, a 
divisão do trabalho era praticamente inexistente. 
De acordo com Marx, quanto mais se intervém na divisão social do trabalho, menos se desenvolve a divisão 
do trabalho nas oficinas, quanto menos se intervém na divisão social, mas se desenvolve a divisão dentro das 
oficinas. 
Na Idade Média existiam leis específicas que impediam a transformação do mestre artesão em capitalista, 
ele podia contratar um número limitado de trabalhadores que exerciam o mesmo ofício. O mercador só 
poderia distribuir os produtos do artesão, não podendo comprar força de trabalho para produzir. 
A organização corporativa excluía a divisão manufatureira do trabalho. O trabalhador permanecia 
indissoluvelmente unido aos meios de produção. 
Deste modo, faltava a base principal da manufatura: o trabalhador desprovido dos meios de produção e a 
conversão desses meios em capital. 
“Enquanto a divisão social do trabalho [...] é inerente às mais diversas formações econômicas da sociedade, 
a divisão do trabalho na manufatura é uma criação específica do modo de produção capitalista” (MARX, 
2016, p. 414). 
 
5 O CARÁTER CAPITALISTA DA MANUFATURA 
A divisão manufatureira do trabalho torna o aumento do número de trabalhadores empregados uma 
necessidade técnica da produção. O número de trabalhadores que o capitalista precisa empregar é dado pela 
divisão do trabalho estabelecida. 
A elevação do capital variável e da produtividade implica elevação do capital constante, pois a quantidade 
de matéria-prima necessária à produção cresce na mesma proporção em que a produtividade cresce com a 
divisão do trabalho. 
O incremento progressivo do montante mínimo necessário ao capitalista é uma lei que decorre do caráter 
técnico da manufatura. 
“Enquanto a cooperação simples, em geral, não modifica o modo de trabalhar do indivíduo, a manufatura 
o revoluciona inteiramente e se apodera da força individual de trabalho em suas raízes. Deforma o 
trabalhador monstruosamente, levando-o, artificialmente, a desenvolver uma habilidade parcial, à custa da 
repressão de um mundo de instintos e capacidades produtivas [...] o próprio indivíduo é mutilado e 
transformado no aparelho automático de um trabalho parcial [...]. Originalmente, o trabalhador vendia sua 
força de trabalho ao capital por lhe faltarem os meios materiais para produzir uma mercadoria. Agora, sua 
força individual não funciona se não estiver vendida ao capital” (MARX, 2016, p. 415). 
O trabalhador da manufatura só consegue desenvolver sua atividade produtiva como acessório da oficina 
capitalista. 
O homem de saber e o trabalhador produtivo separam-se completamente com o desenvolvimento do 
capitalismo e da indústria que exige um trabalhador parcial especialista em somente uma etapa da produção. 
“A ignorância é a mãe da indústria e da superstição. O raciocínio e a imaginação estão sujeitos a erros; 
mas é independente de ambos um modo habitual de mover a mão ou o pé. Por isso, as manufaturas 
prosperam mais onde mais se dispensa o espírito e onde a manufatura pode [...] ser considerada uma 
máquina cuja partes são seres humanos” (FERGUSON apud MARX, 2016, p. 417). 
Em meado do século XVIII algumas manufaturas preferiam empregar indivíduos meio idiotas em certas 
operações simples que constituíam segredo industrial. 
“A compreensão da maior parte das pessoas se forma necessariamente através de suas ocupações 
ordinárias. Um homem que despende toda a sua vida na execução de algumas operações simples [...] não 
tem oportunidade de exercitar sua inteligência. [...] Geralmente ele se torna tão estúpido e ignorante quanto 
se pode tornar uma criatura humana. [...] A uniformidade de sua vida estacionária corrompe seu ânimo. 
[...] Destrói mesmo a energia de seu corpo e torna-o incapaz de empregar suas forças com vigor e 
perseverança em qualquer outra tarefa que não seja aquela para a que foi adestrado. Assim, sua habilidade 
em seu ofício particular parece adquirida com o sacrifício de suas virtudes intelectuais, sociais e guerreiras. 
E, em toda a sociedade desenvolvida e civilizada, esta é a condição a que ficam necessariamente reduzidos 
os pobres que trabalham (the labouring poor), isto é, a grade massa do povo” (SMITH apud MARX, 2016, 
p. 417). 
Para evitar a degeneração completa do povo, oriunda da divisão do trabalho, Smith recomenda o ensino 
popular pelo Estado, embora em quantidade muito pequena. 
Contudo, um dos tradutores de Smith não concordava com a ideia de ensino ao povo, segundo ele isso 
contrariaria a ideia de divisão do trabalho, pois existe a divisão natural do trabalho entre o manual e o 
intelectual. 
A divisão do trabalho provoca deformação física e espiritual do trabalhador. O período manufatureiro leva 
essa divisão ao seu ponto máximo. 
“A divisão manufatureira do trabalho, nas bases históricas dadas, só poderia surgir sob a forma 
especificamente capitalista. Como forma capitalista do processo social de produção, é apenas um método 
especial de produzir mais-valia relativa ou de expandir o valor do capital, o que se chama de riqueza social, 
wealth of nations etc., à custa do trabalhador. Ela desenvolve a força produtiva do trabalho coletivo para o 
capitalista, e não para o trabalhador, e, além disso, deforma o trabalhador individual. Produz novas 
condições de domínio do capital sobre o trabalho. Revela-se, de um lado, progresso histórico e fator 
necessário do desenvolvimento econômico da sociedade, e, do outro, meio civilizado e refinado de 
exploração” (MARX, 2016, p. 420). 
A economia política só se torna uma ciência autônoma no período manufatureiro e vê na divisão do trabalho 
uma forma de se obter mais produto com a mesma quantidade de trabalho. 
Durante o período em que predominou a produção manufatureira surgiram diversos obstáculos a plena 
realização de suas tendências. Entre eles estão: 
1. A redução do número de trabalhadores inábeis, em virtude da influência predominantemente dos 
hábeis; 
2. Mesmo com o ajuste do processo produtivo para o emprego de mulheres e crianças, essa tendência 
fracassa ante os hábitos e aresistência do trabalhador masculino; 
3. Embora a divisão do trabalho manual reduzisse o custo de formação do trabalhador, e 
consequentemente seu valor, ainda era necessário um longo tempo de aprendizagem para o trabalho 
especializado mais difícil; e quando essa aprendizagem se tornava desnecessária os trabalhadores 
procuravam zelosamente mantê-la. 
As leis que prescreviam o tempo de aprendizagem, 7 anos, foram deixadas de lado pela indústria moderna, 
mas vigoraram plenamente no período manufatureiro. 
Uma vez que o trabalho manual constituía o fundamento da manufatura, o capital lutava constantemente com 
a insubordinação dos trabalhadores. 
“Em virtude da fraqueza da natureza humana, ocorre que, quanto mais destro o trabalhador, mais 
voluntarioso é ele, mais difícil de ser tratado e, sem dúvida, menos apto para participar de um mecanismo 
coletivo ao qual pode causar grande dano” (URE apud MARX, 2016, p. 423). 
Marx destaca que por todo o período manufatureiro haviam críticas sobre a falta de disciplina dos 
trabalhadores. 
A manufatura ao atingir certo estágio de desenvolvimento entrou em conflito com as necessidades de 
produção que ela mesma criou. 
“Uma de suas obras mais perfeitas foi a oficina para a produção de ferramentas e ainda dos mais 
complicados aparelhos mecânicos, que já eram aplicados em algumas manufaturas. [...] Essa oficina, 
produto da divisão manufatureira do trabalho, produziu, por sua vez máquinas. Estas eliminaram o ofício 
manual como o princípio regulador da produção social. Assim, não há mais necessidade técnica de fixar o 
trabalhador em uma operação parcial, por toda a vida. E caíram as barreiras que aquele princípio opunha 
ao domínio do capital” (MARX, 2016, p. 424).

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