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1 ead.senasp.gov.br 2 Olá! Seja bem-vindo(a) ao curso de “Análise Criminal”. A seguir, veja a apresentação do tema proposto, os objetivos esperados, a importância da análise criminal e como ela é fundamental para que se obtenham resultados efetivos no âmbito da segurança pú- blica. Bons estudos! Segundo alguns autores há três tipos de mentiras sobre a estatística: as mentiras, as mentiras sérias e as estatísticas. Veja algumas delas: “Os números não mentem, mas os mentirosos forjam os números.” “Se torturarmos os dados por bastante tempo, eles acabam por admitir qualquer coisa.” O historiador Andrew Lang disse que algumas pessoas usam a estatística “como um bêbado utiliza um poste de iluminação – para servir de apoio e não para iluminar”. Quais são as razões para que esta visão persista? Por que fazer análise criminal? Estas são algumas das perguntas que servirão de base para os seus estudos sobre o tema em ques- tão. As principais razões para a produção de impressões distorcidas da realidade a partir das estatísticas são: • O uso de pequenas amostras • Distorções deliberadas • Perguntas tendenciosas • A elaboração de gráficos enganosos • Pressões políticas Este curso tem como propósito a construção de um alicerce que amplie a formação de analistas criminais no Brasil. Dessa forma, a perspectiva é contribuir para que novos conteúdos relacionados às mo- dernas técnicas de análise sejam agregados em futuro próximo. Aqui você estudará os conceitos básicos da análise estatística que fundamentam o processo de análise criminal. Objetivos do Curso Ao finalizar o curso, você será capaz de: • Reconhecer a importância da análise criminal; • Descrever os principais conceitos e aplicações da estatística criminal; • Identificar as técnicas e instrumentos que possibilitam a coleta de informações; • Aplicar os conceitos básicos relacionados à estatística para compreender melhor as técnicas utilizadas na análise criminal; Identificar os diferentes tipos de mapas, relacionando-os às suas informações; Compreender os elementos conceituais e metodológicos necessários para a ope- racionalização da análise criminal. APRESENTAÇÃO 3 ead.senasp.gov.br • Identificar os diferentes tipos de mapas relacionando às informações que reúnem; • Compreender os elementos conceituais e metodológicos necessários para a operacionalização da análise criminal. Estrutura do Curso O curso está dividido nos seguintes módulos: • Módulo 1 – Por que fazer análise criminal? • Módulo 2 – Coleta de informações • Módulo 3 – Análise Estatística Criminal • Módulo 4 – Sistemas de Informação Geográfica • Módulo 5 – Operacionalização da análise criminal Bom curso! 4 Apresentação Seja bem-vindo(a) ao primeiro módulo deste curso! Neste módulo, você estudará a importância da análise criminal frente à nova perspectiva de policiamento e a sua contribuição para a gestão das ações de segurança pública. Objetivos do módulo Ao final do módulo, você deverá ser capaz de: • Definir análise criminal e identificar as contribuições para a gestão da segurança pública; • Compreender os aspectos relacionados à nova perspectiva de policiamento e a importância do foco nas ações de análise criminal; e • Classificar a produção de conhecimento em segurança pública de acordo com as vertentes utilizadas. Estrutura do módulo O conteúdo deste módulo está dividido nas seguintes aulas: • Aula 1 – A análise criminal e seu campo de aplicação • Aula 2 – A análise criminal frente à nova perspectiva de policiamento • Aula 3 – Análise criminal X alocação de recursos • Aula 4 – Focalização das ações da análise criminal • Aula 5 – Vertentes básicas E então, você está preparado para iniciar a primeira aula? Nesta aula, você aprenderá mais sobre a análise criminal e o seu campo de aplicação. Vamos lá! Aula 1: A análise criminal e seu campo de aplicação 1.1 Dimensões do campo de aplicação O campo de aplicação da análise criminal pode ser descrito a partir de duas dimensões principais: • Orientar os gestores quanto ao planejamento, execução e redirecionamento das ações do siste- ma de segurança pública, contribuindo para a melhoria na distribuição dos recursos materiais e humanos; e • Dar conhecimento à população e a outros órgãos governamentais e não-governamentais quanto à situação da segurança pública, auxiliando suas participações efetivas na gestão e execução das ações. MÓDULO 1 POR QUÊ FAZER ANÁLISE CRIMINAL? 5 ead.senasp.gov.br 1.2 Definição • A definição de análise criminal abrange muito mais que um simples traçado de gráficos, tabelas e mapas. Constitui-se no uso de uma coleção de métodos para planejar ações e políticas de segurança pública, obter dados, organizá-los, analisá-los, interpretá-los e deles tirar CONCLU- SÕES. • A realização da análise criminal envolve, principalmente, o uso de métodos estatísticos, por meio dos quais tratam as informações para tentar conhecer as causas que determinam o fenô- meno da segurança pública, buscando identificar, no resultado final, quais influências cabem a cada uma dessas causas. Você concluiu a primeira aula! Vamos prosseguir? Aula 2 – A análise criminal frente à nova perspectiva de policiamento O modelo atual de alocação eficiente dos gastos públicos cria a necessidade de repensar a forma como a segurança pública é feita. Os profissionais dessa área devem se questionar sobre os resultados es- perados de sua atividade profissional, assim como sobre a forma de agir para cumprirem essa expectativa: como fazer mais com menos recursos? Para responder a questão levantada no slide anterior – como fazer mais com menos recursos? – é preciso passar da reação para a ação. Ao invés de apenas reagir diante de uma cadeia de incidentes, a principal estratégia para quebrar esse ciclo é a execução de ações preventivas para a criação de ambientes seguros. Importante! Essa é a nova perspectiva que contrasta com a forma tradicional de pensar policiamento. A atitude mais comum é o pronto atendimento à vítima, mas dessa forma, o alcance de resultados depende somente do aumento do efetivo e da compra de armas e viaturas. 2.1 Nova perspectiva A nova perspectiva de policiamento requer que: • A polícia examine de modo detalhado cada um dos problemas a serem abordados, identifica do suas causas; • Leve em consideração um conjunto bastante amplo de opções para intervir sobre essas causas; e • Escolha a opção a ser utilizada com base em uma relação de custo e benefício, pautada no al- cance de resultados. Observa-se uma mudança na lógica de gestão, pois o objetivo prioritário deixa de ser apenas a solução dos crimes que já ocorreram e passa a ser a manutenção de um ambiente social onde não ocorra nenhum crime, as pessoas possam andar nas ruas tranquilamente e a sensação de segurança seja com- partilhada por todos e todas, independentemente de suas características culturais, econômicas e naturais. 2.2 O trabalho do analista criminal Atualmente, o trabalho do analista criminal está limitado à tabulação dos registros sobre os crimes. Em poucas situações, observa-se a análise dos padrões de vitimização, tendo como foco principal a identificação do perfil de quem deve ser preso e, em situações escassas, essa análise busca identificar fatores urbanos e populacionais associados aos padrões de incidência criminal. 6 Essa situação fica ainda mais precária quando se questiona o uso das conclusões dessas análises na gestão das ações e políticas de segurança pública. Os processos de tomada de decisão baseados na rotina e na autoridade, marcados pela indiferença quanto aos resultados a serem alcançados em perspectiva sistê- mica, ainda prevalecem. Uma das explicações para essa situação é a grande falta de analistas criminais bem treinados e compromissadoscom sua atividade. Importante! O bom analista criminal não espera uma demanda de informação para iniciar seu trabalho. Esponta- neamente, ele passa todo seu tempo de trabalho buscando identificar problemas que devem ser resolvidos, avalia as principais causas do problema para identificar as respostas com o maior potencial de efetividade e traça um projeto de execução que sempre parte da diretriz que é preciso aprender com os resultados alcan- çados, quer sejam positivos ou negativos. Outro importante ponto a ser destacado no trabalho do analista criminal é a existência, entre esses profissionais, de uma concepção modesta sobre a importância do seu trabalho, visto sempre como um tra- balho de bastidores. É preciso repensar essa concepção. O analista criminal tem importância fundamental na garantia do sucesso do trabalho dos órgãos de segurança pública, pois tem influência direta sobre o processo de tomada de decisão, assim como sobre a forma de resolver o problema. Mais que uma fonte de informações, o analista criminal deve assumir o papel de conselheiro. Mais que um técnico especialista em análise de dados, o analista criminal deve agir como um pesquisador que visa trazer as melhores contribuições possíveis da ciência para o aperfeiçoamento do trabalho policial. No quadro funcional dos órgãos de segurança pública, o analista criminal é a pessoa com maior conhecimento sobre o processo de produção e coleta de informações, a análise de dados e sobre a avaliação de resultados. Além disso, é a pessoa com maior capacidade de encontrar fontes alternativas de dados e relatórios que podem ser utilizados para dar sustentação e aperfeiçoar as análises a serem empre- endidas e as conclusões a serem alcançadas. A importância do trabalho do analista criminal foi demonstrada em uma pesquisa sobre a efetivida- de das estratégias de ação policial desenvolvida nos Estados Unidos, em 2003. Veja na figura 1 um quadro de avaliação de resultados de diferentes estratégias de policia- mento. As estratégias selecionadas pela pesquisa foram distribuídas considerando dois eixos principais: a focalização do objeto alvo da ação (eixo horizontal) e a ampliação do conjunto de estratégias de po- liciamento utilizadas (eixo vertical). 7 ead.senasp.gov.br A partir da Figura 1, percebe-se que a perspectiva restrita apenas ao reforço da lei foi trocada por uma perspectiva mais abrangente que inclui uma aproximação da polícia com a comunidade, além da reali- zação de ações sociais. Observe que, no contexto da estratégia tradicional, a focalização é baixa e a estratégia envolve apenas o reforço da lei (perspectiva jurídica). A pesquisa conclui que não existem evidências empíricas de um resultado efetivo das ações em relação à redução da incidência criminal. Por outro lado, no policiamento orientado para o problema (Clarke & Eck, 2007), marcado pela focalização da ação e pelo uso de um conjunto diversificado de estratégias orien- tadas para a solução dos problemas abordados, a pesquisa identificou fortes evidências empíricas de um resultado efetivo em relação à redução da incidência criminal. O policiamento orientado para o problema tem como principal estratégia de intervenção a pro- moção de mudanças nas condições que fazem do crime um problema repetitivo. Ele apresenta um grande avanço em relação à estratégia tradicional de policiamento, pois objetiva um resultado mais efetivo do que o alcançado pelas respostas reativas aos incidentes e pelas patrulhas policiais preventivas. Nesta aula, você viu vários aspectos sobre o trabalho do analista criminal frente à nova perspectiva de policiamento! Vamos prosseguir para a próxima aula? Aula 3 – Análise criminal X Alocação de recursos O aumento de recursos financeiros investidos é suficiente para o alcance de resultados? No âmbito nacional, uma constatação científica de Cerqueira e Lobão (2003) expôs que que a efe- tiva solução dos problemas de segurança pública nunca resultará apenas do aumento dos recursos gastos pelos órgãos de segurança pública. Baseados em informações sobre os fatores associados à incidência de homicídios em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, entre 1980 e 2003, eles concluíram que o aumento das despesas com segurança pública não está relacionado estatisticamente à redução da incidência de homicídios. Dos fatores considerados por Cerqueira e Lobão (2003), a redução da desigualdade social foi o único relacionado diretamente à redução da incidência de homicídios. 8 Cabe ressaltar, no entanto, que os autores consideraram os gastos em segurança pública sem sepa- rá-los e sem analisar as possibilidades de distribuição e aplicação desses recursos efetivos na própria área. Para alcançar resultados reais, não basta aumentar o volume de recursos financeiros investidos. É preciso analisar as alternativas de intervenção e investir os recursos conforme as relações entre custo e benefício de cada alternativa. Essa questão aponta para a importância do analista criminal, que fornece o subsídio tanto para a tomada de decisão quanto para o investimento. Por fim, a pesquisa destaca a necessidade de trabalhar com estratégias de intervenção que ultrapassem o âmbito das ações tradicionais de polícia, pois a melhor perspectiva de resultado foi observada quando reunidas todas as estratégias de ação de forma conjunta: • Ações policiais; • Redução da desigualdade social; e • Aumento da renda per capita. SAIBA MAIS... Antes de prosseguir, leia o texto em anexo: Recorte 1: “A análise criminal contribuindo para mudan- ças na política nacional.”, que está nos anexos do curso. Nota: Há na REDE EAD um curso de Policiamento Orientado para o Problema. Matricule-se para o próximo ciclo, caso ainda não tenha cursado. Nesta aula, você estudou sobre a Análise criminal e a Alocação de recursos. Vamos prosseguir? Aula 4 – Focalização das ações e o trabalho da análise criminal 4.1 A dinâmica de trabalho do analista criminal Em relação à dinâmica de trabalho do analista criminal, pode-se, didaticamente, dividi-la em quatro etapas: • Sistematização e análise dos dados de segurança pública, buscando identificar padrões de in- cidentes; • Submissão desses padrões a uma profunda análise buscando identificar suas causas; • Identificação de formas de intervenção nas relações causais encontradas para cessar a ocorrên- cia dos incidentes; e • Avaliação do impacto das intervenções e, caso haja ausência de impacto, reinício do processo. No contexto do policiamento orientado a problemas, as formas de intervenção devem ser concebi- das de maneira ampla, não se restringindo apenas às ações tradicionais de polícia. Por outro lado, o fluxo de trabalho de análise envolve a contínua coleta e sistematização de novos dados que podem resultar em mudanças radicais nas ações que já vêm sendo executadas. 4.2 A focalização das ações Para a análise criminal ser mais eficiente, as quatro etapas expostas anteriormente pre- cisam ser aplicadas a um problema focalizado. Dois pontos merecem destaque quando se discute a questão da focalização das ações: • A valorização de uma perspectiva local de ação; e • A focalização de tipos criminais específicos para intervenção. 9 ead.senasp.gov.br 4.2.1 A valorização de uma perspectiva local de ação Ao focalizar uma perspectiva mais local, o analista criminal faz com que sua instituição seja mais bem informada, eficiente e capaz de usar seus recursos para reduzir o crime. A perspectiva local atribui ao analista criminal maior capacidade para investigar e identificar as causas do problema abordado. Essa orientação do trabalho numa perspectiva local propõe que o analista: Converse com os policiais sobre como eles concebem seu trabalho; participe diretamente de ativi- dades desenvolvidas pelos órgãos de segurança pública; troque informações com profissionaisdas empresas de segurança privada; crie uma rede com analistas criminais das regiões vizinhas; colete informações direta- mente com agressores e vítimas; e busque contribuir para aprimorar os processos de coleta de informação. 4.2.2 A focalização de tipos criminais específicos para intervenção A focalização nos tipos criminais permite ao analista especificar as causas particulares, os atores e as dinâmicas de cada tipo de crime, permitindo uma análise mais apurada do fenômeno criminal. Caso essa focalização não seja realizada e uma categoria criminal ampla (roubo, por exemplo) seja considerada como problema, torna-se difícil identificar as causas do problema. Cada tipo de roubo – em estabelecimento comercial, residência, transporte coletivo, de carga, dentre outros – possui suas causas específicas, resulta de diferentes motivações e envolve atores distintos em termos de conhecimento, habili- dade e organização. Importante! Cada tipo criminal específico tem causas particulares e recomenda-se que as intervenções sejam focalizadas em cada um deles separadamente. Parabéns, você está quase no fim deste módulo! Vamos prosseguir para a última aula? Aula 5 – Vertentes básicas 5.1 Vertentes da produção de conhecimento para segurança pú- blica Magalhães (2007) destaca três grandes vertentes básicas do trabalho de produção de conhecimento voltado para a gestão em segurança pública: • Análise criminal estratégica; • Análise criminal tática; e • Análise criminal administrativa. Veja a seguir cada uma delas. 5.1.1 Análise criminal estratégica (ACE) Trata da atividade de produção do conhecimento voltado para o estudo dos fenômenos e suas in- 10 fluências a longo prazo. Dentre seus principais focos estão: • Formulação de políticas públicas; • Produção de conhecimento para redução da criminalidade; • Planejamento e desenvolvimento de soluções; • Interação com outras secretarias na construção de ações de segurança pública; • Direcionamento de investimentos; • Formulação do plano orçamentário; • Controle e acompanhamento de ações e projetos; e • Formulação de indicadores de desempenho. Seu principal objetivo é: Trabalhar na identificação das tendências da criminalidade. Exemplificando... Se o analista identifica que o fenômeno criminal apresenta uma tendência ascendente, essa infor- mação será utilizada para formular e determinar prioridades das ações dos operadores do sistema de segu- rança pública. 5.1.2 Análise criminal tática (ACT) Trata da atividade de produção do conhecimento voltado para o estudo dos fenômenos e suas in- fluências a médio prazo. Essa vertente estuda o fenômeno criminal visando fornecer subsídios para os ope- radores de segurança pública que atuam diretamente “nas ruas”. Nesse sentido, o conhecimento é utilizado pelas polícias ostensivas e investigativas. Dentre seus principais focos estão: No caso da Análise Criminal Tática, a produção de conhecimento serve para: • Orientar as atividades de policiamento ostensivo nas atividades preventivas e repressivas. Exem- plo: Identificação de pontos quentes, correlacionando dia e horários críticos; e • Subsidiar a polícia investigativa nas soluções das ocorrências criminais, principalmente na busca da autoria e materialidade dos delitos. Seu principal objetivo é: Trabalhar na identificação de padrões das atividades criminais. 5.1.3 Análise criminal administrativa (ACA) Trata da atividade de produção do conhecimento voltado para o público alvo. A atividade nessa vertente se assemelha à de um editor-chefe, pois tem o objetivo de selecionar os assuntos divulgados para cada cliente. Dentre seus principais focos estão: • Fornecimento de informações sumarizadas para seus diversos públicos – cidadãos, gestores pú- blicos, instituições públicas, organismos internacionais, organizações não-governamentais, etc.; • Elaboração de estatísticas descritivas; • Elaboração de informações gerais sobre tendências criminais; • Comparações com períodos similares passados; e • Comparações com outras cidades similares. Seu principal objetivo é: Trabalhar as estatísticas criminais de forma descritiva. Finalizando... Parabéns! Você finalizou este módulo! 11 ead.senasp.gov.br Aqui, você aprendeu que: • A realização da análise criminal envolve, principalmente, o uso de métodos estatísticos. Por meio deles, as informações são tratadas para que se possa conhecer as causas que determinam o fenômeno da segurança pública, buscando identificar, no resultado final, quais as melhores ações para cada uma dessas causas; • O modelo atual de alocação eficiente dos gastos públicos cria a necessidade de pensar melhor a forma de como se faz segurança pública; • O analista criminal tem importância fundamental na garantia do sucesso do trabalho dos órgãos de segurança pública, pois tem influência direta sobre o processo de tomada de decisão, assim como sobre a forma de resolver o problema. • Dos fatores considerados por Cerqueira e Lobão (2003), a redução da desigualdade social foi o único relacionado diretamente à redução da incidência de homicídios; • Para a análise criminal ser mais eficiente, as quatro etapas da dinâmica de trabalho do analista precisam ser aplicadas a um problema focalizado. Dois pontos merecem destaque quando se discute a questão da focalização das ações: a valorização de uma perspectiva local de ação e a focalização de tipos criminais específicos para intervenção. Agora, para fixar o conteúdo é importante que você realize os exercícios propostos a seguir. No próximo módulo você aprenderá sobre: • A descrição dos métodos de abordagem; • A enumeração dos aspectos que devem ser observados na construção de um questionário; e • A identificação das fontes de dados e informações de segurança pública. Bons estudos! Exercícios Com base nos conhecimentos adquiridos no módulo 1, realize as atividades propostas a seguir. 1. Podemos definir segurança pública como: a) É constituída pelo uso de uma coleção de métodos para planejar ações e políticas de segurança pública, obter dados, organizá-los, analisá-los, interpretá-los e deles extrair conclusões. b) É constituída pelo uso de uma coleção de métodos para traçar gráficos, tabelas e mapas. c) É constituída pelo uso de uma coleção de métodos para executar ações e políticas de segurança pública. d) É constituída de ferramentas para levantar informações. 2. A análise criminal se enquadra na perspectiva da segurança pública: a) Reativa b) Preventiva c) Passiva d) Proativa 3. A produção do conhecimento de gestão em segurança pública pode ser classificada segundo três 12 vertentes. Considerando estas vertentes, associe a 2ª coluna de acordo com a 1ª: (1) Análise criminal estratégica (ACE) (2) Análise criminal tática (ACT) (3) Análise criminal administrativa (ACA) ( ) Trata da atividade de produção do conhecimento voltada para o estudo dos fenômenos e suas influências no médio prazo. ( ) Trata da atividade de produção do conhecimento voltada para o público alvo. ( ) Trata da atividade de produção do conhecimento voltado para o estudo dos fenômenos e suas influências no longo prazo. 13 ead.senasp.gov.br Gabarito Resposta correta atividade 1: a alternativa “a”. Resposta correta atividade 2: alternativa: “b”. Resposta correta atividade 3: sequência: 2; 3; 1). 14 Apresentação Olá! Seja bem-vindo ao módulo “Coleta de Informações”. Antes de iniciar o conteúdo desse módulo, que tal relembrar o que você estudou no anterior? • Você viu a definição de análise criminal e identificou suas contribuições para a gestão da segu- rança pública; • Compreendeu os aspectos relacionados à nova perspectiva de policiamento e a importância do foco nas ações de análise criminal; e • Viu a classificação da produção de conhecimento em segurança pública deacordo com as ver- tentes utilizadas. Neste módulo, você estudará alguns dos métodos de abordagem dos fenômenos sociais que po- dem ser utilizados para a elaboração de diagnósticos sobre a situação da segurança pública e monitoramen- to de resultados das ações e políticas. Cabe destacar que um método não exclui o outro. Muitas vezes é preciso combiná-los, pois cada um possui vantagens e limitações; a combinação possibilita que se complementem. Objetivos do módulo Ao final do módulo, você deverá ser capaz de: • Descrever os métodos de abordagem; • Enumerar os aspectos que devem ser observados na construção de um questionário; e • Identificar as fontes de dados e informações de segurança pública. Estrutura do módulo O conteúdo deste módulo está dividido nas seguintes aulas: • Aula 1 – Métodos de abordagem • Aula 2 – Construção de um questionário • Aula 3 – Fontes de dados e informações de segurança pública Aula 1 – Métodos de abordagem 1.1 Abordagem e técnicas de análise A compreensão dos fenômenos sociais pode ser feita a partir de três abordagens. Para cada uma das abordagens há técnicas de análise específicas, veja a seguir: MÓDULO 2 COLETA DE INFORMAÇÕES 15 ead.senasp.gov.br 1. Observação do comportamento que ocorre naturalmente no âmbito real. • Análise de conteúdo • Estudo de caso • Análise de dados secundários 2. Criação de situações artificiais e observação do comportamento antes das tarefas definidas para as situações. • Avaliação de impacto (laboratório) 3. Realização de perguntas às pessoas sobre o que fazem (fizeram) e pensam (pensaram). • Survey • Estudo de caso 1.2 Vantagens e limitações das técnicas de análise • Análise de conteúdo • Estudo de caso • Análise de dados secundários • Avaliação de impacto • Survey Análise de conteúdo Alguns tópicos de pesquisa são suscetíveis ao exame sistemático de documentos, como romances, poemas, publicações governamentais, músicas, boletins de ocorrências etc. As informações trazidas pelos documentos são sistematizadas, buscando a existência de semelhanças. As principais desvantagens desta técnica são: • O tipo de documento selecionado para o exame pode não ser a medida mais apropriada da questão ou fenômeno a ser estudado. • A análise dos documentos sempre envolve um espaço de arbitrariedade. Estudo de caso O estudo de caso envolve a descrição e explicação abrangente dos muitos componentes de uma determinada situação social. Num estudo de caso, você busca coletar e examinar o máximo de informações possíveis sobre o tema. Se o estudo é sobre a comunidade, você aborda a sua história, seus aspectos religiosos, políticos, eco- nômicos, geográficos, sua composição racial etc. Em resumo, você procura a descrição mais abrangente e tenta determinar as inter-relações lógicas dos seus vários componentes. Enquanto a maioria das pesquisas busca diretamente o conhecimento generalizado, o estudo de caso busca o conhecimento abrangente de um só caso. Dessa forma, o conhecimento produzido não é ne- cessariamente generalizável. Se o estudo de caso é realizado pelo pesquisador que é participante no evento ou grupo social estudado, este é denominado de Estudo de Caso com Observação Participante. Na prática, como observador participante, o pesquisador pode ou não se revelar como tal. Essa de- cisão tem importantes implicações metodológicas e éticas. O pesquisador que admitir que esteja realizando um estudo pode afetar diretamente o fenômeno que pretende estudar. Por outro lado, a não identificação do pesquisador pode ter implicações éticas relativas ao engano. Como estudo de caso, a observação participante busca colher informações muito detalhadas. 16 A grande desvantagem desse método é que o pesquisador dificilmente consegue manter pro- cedimentos sistemáticos de pesquisa. Análise de dados secundários A realização de pesquisas científicas não envolve, necessariamente, a coleta e análise de dados ori- ginais (pesquisa de campo). Alguns tópicos de pesquisa podem ser estudados analisando dados já coletados e compilados. A análise dos dados secundários tem a grande vantagem da economia. O pesquisador não precisa arcar com os custos de amostragens, entrevistas, codificações, recrutamento de sujeitos experimentais etc. A principal desvantagem do método é que o pesquisador fica limitado a dados já coletados e compilados por outros, que podem não representar adequadamente a questão que lhe interessa. Avaliação de impacto A avaliação de impacto procura determinar os resultados das ações e políticas. Para mensurar esses resultados, não basta olhar o objeto de análise e ver o que aconteceu com ele depois da aplicação da política. Para garantir que as mudanças observadas são resultantes da política empreendida, é preciso com- parar o grupo em que ela foi implementada – chamado de tratado – com um grupo similar que não a expe- rimentou – chamado de controle. TRATADO: Grupo em que foi implementada a política. CONTROLE: Grupo similar em que não foi implementada a política. Quando se está trabalhando com experimento aleatório, também chamado de experimento puro, é bastante simples medir o impacto. Os experimentos aleatórios são aqueles em que os “tratados” e “controles” são escolhidos de forma aleatória na população. Esse tipo de estudo é muito usado na medicina para testes de remédios. Das pessoas inscritas para o teste, são selecionados dois grupos de forma aleatória, por sorteio. Para um grupo é distribuído o placebo (grupo controle) e para o outro grupo é dado o remédio (grupo tratado). Depois do tratamento, compara-se a condição de saúde dos dois grupos. Se o grupo tratado apresenta melhor condição de saúde de que o grupo controle, o remédio tem resultado positivo. Caso contrário, o remédio não tem resultado. Entretanto, na prática, é quase impossível implementar experimentos aleatórios no caso de políticas públicas, pois existe um problema ético e moral. PARA REFLETIR... Sendo o objetivo fazer uma política de prevenção à criminalidade em áreas de alta periculosidade da cidade, como escolher uma área que não vai receber essa política? Isto é justo com a população desse local? Normalmente, as ações e políticas têm desenhos não aleatórios e as avaliações devem buscar de- senhos não experimentais, denominados por avaliações de estudos observacionais ou quase-experimentais. A implicação do desenho não experimental para a avaliação do impacto é que o “controle” não pode ser comparado diretamente com o “tratado”, pois os atributos de ambos não são, necessariamente, 17 ead.senasp.gov.br equivalentes. Para fazer essa comparação é necessário que se apliquem técnicas estatísticas que tornam o “con- trole” equivalente ao tratado. Existem várias técnicas para isso, as mais usadas são “pareamento com escore de propensão” e “diferenças em diferenças”. Neste curso não serão tratadas essas técnicas, pois exigem um conhecimento avançado em estatística. Para mais detalhes, veja Ravallion (2001; 2005) e Heckman et al. (1998). Survey Um survey é realizado quando se pretende construir enunciados sobre uma população, isto é, des- cobrir a distribuição de certos traços e atributos, avaliar o impacto de alguma política ou ação etc. Para que seja viável, em termos técnicos e econômicos, a pesquisa é realizada em uma amostra cientificamente selecionada da população, de forma a representá-la. Essa seleção científica da amostra permite a extrapolação dos resultados encontrados para a população, ou seja, se a amostra é composta por 50% de homens, pode-se extrapolar o resultado dizendo que nossa população é composta de 50% de ho- mens. A coleta de informações envolve sempre a aplicação de um questionário, que deve priorizar a cons- trução de questões com respostas fechadas, retirando ao máximo a possibilidade de respostasabertas em formato de texto. Assim, esses instrumentos de coleta de informação favorecem o uso de técnicas quanti- tativas para análise dos dados. 1.3 Métodos e técnicas X Aplicações Os vários métodos de abordagem dos fenômenos sociais têm aplicações distintas quanto ao tipo de pesquisa que se pretende realizar e tipo de informações a ser coletada. Eles também podem ser utilizados de forma complementar quando necessário. Veja abaixo alguns exemplos: • Quando se precisa de informações representativas da situação de grandes grupos sociais com menor gasto de recursos e maior rapidez, são utilizados surveys e informações secundárias, sistematizadas continuamente por órgãos de estatística oficial. Essas informações se agregam no conjunto denominado de informações quantitativas e se caracterizam por buscar mensurar a questão estudada em números ou categorias. A grande limitação dos dados quantitativos na realização de pesquisas é que eles reduzem a realidade a algumas categorias, deixando de lado muita informação que seria útil para uma melhor compre- ensão do fenômeno estudado. • Pesquisas com informações mais detalhadas: Quando se verifica a necessidade de trabalhar com informações mais detalhadas, partimos para outro conjunto de informações denominado por informações qualitativas. As pesquisas envolvendo a coleta dessas informações – análise de conteúdo e estudo de caso – são normalmente mais difíceis e mais caras de serem realizadas. Ao mesmo tempo em que se conhece a realidade de modo mais detalhado, perde-se capacidade de generalização dos conhecimentos produzidos. • Pesquisas na área de segurança pública: Como exemplo de pesquisas na área de segurança pública, é possível citar: 18 Pesquisas na área de segurança pública Técnicas de análise Pesquisa que analisam informações trazidas de bases de ocorrências regis- tradas pelas polícias. Análises de dados secundários. Pesquisas de vitimização. Survey Pesquisas que buscam avaliar de forma mais detalhada a criminalidade, envolvendo entre- vistas com moradores. Estudo de caso. Pesquisa mais detalhada realizada por alguém que convive com a comunidade. Estudo de caso ou, especificamente, pesquisa etnográfica. Aula 2 – Construção de um questionário Olá! Na aula anterior você conheceu os três métodos de abordagem dos fenômenos sociais e também estudou sobre as várias técnicas de análise de tais fenômenos. Dando sequência ao conteúdo desse módulo, agora, você aprenderá a construir um questionário. Preparado(a)? Vamos lá! O que é um questionário? Um questionário pode ser definido como um: “conjunto de perguntas sobre um determinado tópico que não testa a habilidade do respondente, mas mede sua opinião, seus interesses, aspectos de personali- dade e informação biográfica”. (YAREMENKO et al., 1986). O objetivo de uma pesquisa determina a forma do questionário e a maneira da sua aplicação por meio dos conceitos e da população alvo. 2.1 Definição e a relação com a pesquisa É possível verificar as seguintes interdependências entre a elaboração de um instrumento e a estratégia de sua aplicação: • O grau de complexidade dos conceitos determina o número de perguntas e sua forma de apre- sentação. • Há uma relação recíproca entre características da população alvo e complexidade dos conceitos a serem investigados, pois ambos determinam a maneira de transformação dos conceitos em perguntas e sua administração. • O tamanho da amostra determina o formato do questionário em relação ao tipo de entrevistas e ao tamanho do seu conteúdo. • O tamanho da amostra é determinado pelos recursos disponíveis (tempo, dinheiro e recursos humanos). 2.2. Elaboração de um questionário Na elaboração de um questionário, o analista criminal deve estar atento também aos seguintes 19 ead.senasp.gov.br fatores: 1. Contexto social da sua aplicação; 2. Perguntas; 3. Estrutura lógica na organização dessas perguntas; e 4. Diferentes formas de coleta de informação. No que diz respeito à administração do questionário, sendo ele observado como um instrumento de coleta de informações é importante apontar que esse processo envolve sempre uma interação entre pes- quisador e respondente. A interação pode ocorrer no âmbito de uma entrevista presencial, na qual os dois atores são colocados frente a frente numa relação de entrevistador e entrevistado, ou no âmbito da resposta a um questionário encaminhado, por exemplo, via e-mail ou correio, no qual ocorre uma interação entre os dois atores pela apresentação do questionário (na maneira como as questões foram escritas, no agradecimento pela disponibilidade de responder ao questionário, dentre outros fatores). Ou seja, mesmo no preenchi- mento de um questionário, ocorre uma entrevista, mas nesse caso, a relação entre entrevistado e entrevis- tador é mediada pelo questionário. 2.3 Contexto social da aplicação do questionário A disposição do respondente em revelar algo sobre si mesmo, permitindo o pesquisador obter as informações desejadas, varia conforme a situação. O pesquisador não tem poder sobre o respondente e precisa convencê-lo de que vale a pena participar da pesquisa. Alguns aspectos do contexto social e cultural na interação entre entrevistado e entrevistador devem ser observados, como por exemplo: • Criação e manutenção de um ambiente de cortesia durante a entrevista. • Seriedade no processo de interação, favorecendo a obtenção de respostas autênticas. • Boa impressão sobre a imagem do pesquisador e da organização representada por ele. • Ênfase na relevância do assunto da pesquisa para o entrevistado. • Promoção de uma aproximação do entrevistado e do entrevistador em termos culturais. • Realização da pesquisa em um ambiente físico adequado para o alcance dos melhores resulta- dos na realização da pesquisa. 2.4 Estrutura lógica do questionário Segundo Dillman (1978), três coisas devem ser feitas para maximizar as respostas de um questio- nário: • Minimizar o custo para o respondente. • Maximizar as recompensas para o respondente. • Estabelecer a confiança de que a recompensa será concedida. Lembre-se das seguintes recomendações para o estabelecimento da estrutura lógica do questioná- rio: Muitas pessoas participam de pesquisas por se sentirem importantes em ter sua opinião valori- zada ou pela oportunidade de falar e serem ouvidos. Comunicar resultados e/ou facilitar o acesso a eles é outra forma importante de recompensar os respondentes. • Estabelecer contato com o respondente em potencial e assegurar sua cooperação. Para esta- 20 belecer confiança, o entrevistador deve se apresentar e indicar com e para quem trabalha. A seguir, precisa capturar o interesse do respondente pelo tema e para isso, sugere-se ressaltar o quanto opiniões e expe- riências do respondente são importantes. São os primeiros momentos da entrevista que importam para a disposição do respondente em cooperar. Nesse momento, o questionário e sua importância devem ser apresentados da forma mais completa. • Como o respondente pode desistir da pesquisa a qualquer momento, persiste a necessidade de continuar a manter seu interesse durante a realização da entrevista. Alguns pontos merecem especial atenção para evitar a desistência no meio do processo da entrevista: a tarefa deve parecer ser breve, é preci- so reduzir ao máximo o esforço mental e físico requerido, eliminar as possibilidades de embaraço, qualquer implicação de subordinação e custo financeiro. • O mínimo de cortesia na despedida consiste em um agradecimento pela valiosa colaboração do respondente, seja de maneira verbalizada no fim da entrevista, seja de maneira escrita no fim do questio- nário. Muitas pessoas participam de pesquisa por se sentirem importantes em ter sua opinião valorizada ou por poder falar e ser ouvido.Comunicar resultados e/ou facilitar o acesso a eles é outra forma importante de recompensar os respondentes. 2.5 A estrutura do questionário Uma estrutura bem pensada contribui para reduzir o esforço físico e mental do respondente. Além disso, assegura que todos os temas de interesse do pesquisador sejam tratados numa ordem objetiva, man- tendo o interesse do respondente em continuar. É preciso saber com precisão por que se está incluindo cada pergunta no questionário. Os princípios a seguir poderão ajudá-lo na estruturação: • 1º Princípio: Procure sempre direcionar a estruturação do questionário da seguinte forma: do geral para o específico, do impessoal para o pessoal, do menos delicado para o mais delicado. • 2º Princípio: Disponha as perguntas de modo a obedecer a uma lógica de aproximação. Exem- plo: Ao se pesquisar a situação de insegurança, primeiro se pergunta sobre a cidade, depois sobre o bairro e, então, sobre a rua e a casa onde o respondente reside. • 3º Princípio: Garanta que as perguntas referentes a uma mesma temática permaneçam sempre juntas e recebam uma introdução que ajude o respondente a concentrar-se nela. 2.6 As perguntas As perguntas iniciais servem para estabelecer um relacionamento de confiança entre respondente e pesquisador. Nunca se deve começar o questionário por perguntas burocráticas (nome, sexo, idade, renda familiar etc.), pois essas questões só terão respostas autênticas quando o respondente desenvolver certo grau de confiança no entrevistador. As perguntas burocráticas devem ser inseridas sempre no final do questionário. Cabe destacar tam- bém que perguntar o nome no início da entrevista contradiz qualquer afirmação sobre o caráter confidencial da entrevista. Quais são as características de uma boa pergunta? Uma boa pergunta é aquela que gera respostas fidedignas e válidas e, por essa razão, devem apresentar algumas características básicas: • A pergunta precisa ser compreendida e comunicada consistentemente; • As expectativas quanto às respostas precisam ser explicitadas para os respondentes; • Os respondentes devem ter todas as informações necessárias para a resposta; e • Os respondentes precisam estar dispostos a responder. 21 ead.senasp.gov.br 2.7 Aspectos a serem observados A seguir, você conhecerá os principais aspectos a serem observados na elaboração de uma pesquisa: Linguagem Quanto à linguagem usada na formulação das perguntas, é preciso ficar sempre atento à população alvo da pesquisa. A compreensão da linguagem utilizada pode mudar de acordo com o público. Abreviações, gírias ou termos regionais, termos especiais ou sofisticados devem ser evitados. Há dois problemas nos questionários relacionados à linguagem. São eles: 1. A ambiguidade, ou seja, o questionário permite mais de uma interpretação da pergunta; 2. As perguntas podem direcionar as respostas, então é preciso ficar atento à escolha das palavras. Importante! Uma vez que as questões estiverem elaboradas, pergunte-se: O respondente está entendendo o que o entrevistador quis perguntar? O enunciado da pergunta induz a resposta de alguma forma? Quanto ao tipo de perguntas, é possível elaborar perguntas abertas e fechadas. Perguntas abertas são indicadas quando não se conhece a abrangência e variabilidade das possí- veis respostas. Esse tipo de perguntas estabelece, no início da entrevista, um clima receptivo entre pesquisa- dor e respondente e, no final, captura as opiniões não cobertas pelas perguntas fechadas. As perguntas abertas também servem para reforçar ao respondente o real interesse nas suas opi- niões. Perguntas fechadas são aquelas em que são oferecidas opções para o respondente escolher como resposta. Devem ser utilizadas quando se conhece os tópicos que serão informados pelos respondentes. Além disso, esse tipo de pergunta deve ser usado quando existem muitos respondentes e pouco tempo para a pesquisa. 2.8 Problemas que devem ser evitados A forma com que as perguntas são formuladas e ordenadas no questionário podem gerar alguns problemas. Ao formular as perguntas é preciso verificar se elas não constituem ameaça ao respondente. Caso existam razões para supor que o respondente é “sensível” ao tema, é preciso verificar maneiras de encontrar a informação sem provocar constrangimento. Outro problema diz respeito ao entrevistado fornecer respostas falsas às perguntas. Um dos moti- vos é que o respondente pode ter algo a esconder ou não saber como responder. Por fim, se o respondente não lembrar de alguma resposta, o entrevistador não deve deixá-lo constrangido. É preciso frisar que as perguntas não constituem em um teste e que é natural não ter respostas para todas as perguntas. 2.9 Escalas de respostas Para tornar mais fácil a classificação das respostas às perguntas é necessário que se pense nas esca- las de respostas. As escalas podem ser classificadas em: • Escala Nominal; • Escala Ordinal; • Escala Intervalar. 22 A Escala Nominal utiliza símbolos ou números somente para identificar as pessoas, objetos ou categorias. Por exemplo, o gênero, estado civil ou atributos como cor de cabelo, uso de bengala e existência de tatuagem. Mesmo para as medições em escala nominal é preciso se preocupar em estabelecer um bom rela- cionamento com o respondente. Exemplo: A frase “Qual o estado civil de V.Sa?” soa melhor do que solicitar simplesmente “Estado civil”. Dependendo da população alvo e do objetivo da pesquisa, um maior ou menor número de alter- nativas é apropriado. Exemplos: A raça pode ter como categoria apenas: a) brancos e b) não brancos OU a) brancos, b) negros, c) pardos, d) indígenas, e) asiáticos e f) outros. Lembre-se! O importante é que as opções sejam mutuamente exclusivas e cubram todas as alternativas. Na Escala Ordinal, além de se identificarem as pessoas, objetos ou categorias, ocorre uma orde- nação desses elementos. Por exemplo, a hierarquização da percepção de níveis de violência entre diferentes locais de uma cidade, status social ou ordem de chegada em uma competição. Uma técnica de mensuração muito utilizada nas ciências sociais para levantar atitudes, opiniões e avaliações é a construção de escalas Likert. Nela, o respondente avalia um fenômeno numa escala de, geral- mente, cinco alternativas. Para saber mais sobre as escalas Likert, acesse: http://pt.wikipedia.org/wiki/Escala_Likert. O conteúdo das alternativas varia de acordo com o tema abordado na pergunta. Um ponto interes- sante na utilização de escalas é a decisão quanto ao uso de número par ou ímpar de alternativas, pois o uso de um número ímpar de alternativas indica que se criou um ponto neutro no meio da escala, ou seja, foi aberto espaço para o entrevistado expor uma posição neutra sobre o tema abordado. Independentemente do número de alternativas, é importante que as opções estejam balanceadas, isto é, as direções opostas de respostas devem possuir o mesmo número de opções. Veja abaixo dois exemplos de perguntas na escala ordinal. a) Em termos gerais, o quão satisfeito você está com as suas condições de trabalho? 1. Bastante satisfeito 2. Muito satisfeito 3. Pouco satisfeito 4. Nada satisfeito b) O quão seguro, você se sente ao andar sozinho pelas ruas na região onde reside ao anoitecer? 1. Muito seguro 2. Razoavelmente seguro 3. Nada seguro Na Escala Intervalar, as características são ordenadas conforme uma dimensão subjacente e os intervalos entre as alternativas têm tamanho conhecido e podem ser comparados. Exemplos: • O tamanho da população. • O número de crimes registrados. • O número de inquéritos concluídos. 23 ead.senasp.gov.br Aula 3 – Fontes de dados Neste módulo você estudou as três abordagens dos fenômenos sociais e suas respectivas técnicas de análise. Além disso, você também aprendeu a construir questionários de forma apropriada.Agora, na próxima aula, você estudará sobre as fontes de dados. Vamos lá! O uso científico das informações de segurança pública e de justiça criminal para a gestão de polí- ticas envolve não apenas informações específicas dessa área, mas também informações socioeconômicas e urbanas necessárias para se contextualizar a sua situação. Essa contextualização permite, por exemplo, identificar as causas sociais dos fenômenos de se- gurança pública e também aperfeiçoar a visão sobre o resultado alcançado. Possibilita, ainda, verificar se as mudanças que ocorrem na segurança pública têm também outras condições além da atuação dos órgãos dessa área. Do ponto de vista da pesquisa social, há um consenso de que apenas as informações administrati- vas de agências de segurança pública e justiça criminal não são suficientes para a compreensão dos fenôme- nos relacionados à incidência criminal ou à violência. Para uma visão efetivamente compreensiva dos fenômenos relacionados a tal problemática, como enfatiza Kahn (2002), é necessário atentar para as condições gerais de vida da população. 3.1 Fontes de dados Em seu artigo sobre a importância dos indicadores como instrumento auxiliar à prevenção muni- cipal da criminalidade, Kahn (2002) observa que o nível socioeconômico é um fator explicativo para o pre- domínio de eventos criminais específicos em determinadas localidades, muito embora a explicação da sua distribuição seja bastante complexa. Outros estudos buscaram entender a relação entre taxas de criminalidade e indicadores socioeco- nômicos. Soares (2008), por exemplo, busca analisar a relação entre desenvolvimento, desigualdade e homi- cídios a partir de uma revisão de vários estudos empíricos que abordam a relação entre taxas de homicídios e variáveis sociais e demográficas, tais quais renda, alfabetização, urbanização, migração, entre outras. Dessa forma, é desejável que os bancos de dados sobre criminalidade – geralmente compostos por dados administrativos policiais, como registros de ocorrências -, contenham informações socioeconô- micas da população local e da infraestrutura urbana. Os dados frequentemente trabalhados em sistemas de segurança pública e justiça criminal são dados policiais, do Ministério Público, da Justiça e do sistema prisional, para fins de administração dos pro- cedimentos de rotina. Em geral, essas informações não são utilizadas na área de gestão, pois somente os dados das polícias estão organizados em banco de dados. Já os demais, na maioria das vezes, não estão informatizados ou constituem arquivos de formulários. Geralmente, esses dados não contêm as informações necessárias para a avaliação de políticas pú- blicas de segurança ou programas particulares. Faltam informações sociodemográficas, dos infratores ou demandantes dos serviços de justiça criminal, dentre outras. Em função disso, é preciso pensar criativamente na utilização de outras possíveis fontes para complementar ou checar as informações fornecidas pelas bases de dados oficiais. 3.1.1 Características e limitações dos registros das polícias mili- tares e das polícias civis • Polícia Militar: Os registros da Polícia Militar incluem crimes e ocorrências diversas, mas não 24 abrangem o conjunto total de crimes e, portanto, não podem ser usados como base exclusiva de um sistema de informação criminal. O grande problema dessa base de dados está relacionado à subnotificação dos crimes, ou seja, muitos indivíduos não reportam os crimes à polícia. • Polícia Civil: A Polícia Civil praticamente só registra crimes, mas deixa de registrar uma ampla gama de incidentes que perturbam a segurança pública e não chegam a constituir crime. Um dos grandes problemas dessa base de dados também é a subnotificação dos crimes. Por causa das características dos dados gerados pelas polícias e suas limitações, muitas vezes são neces- sárias fontes alternativas de informações. 3.2 SINESP – Sistema Nacional de Estatísticas em Segurança Pú- blica Desde o ano de 2004, a Secretaria Nacional de Segurança Pública, do Ministério da Justiça, vem despendendo esforços para a concretização de uma base nacional de dados e informações de segurança pública, com o apoio dos entes federados, órgãos federais e estaduais, instituições de segurança pública, profissionais em segurança pública, pesquisadores e demais parceiros. Uma grande ação foi a criação do Sistema Nacional de Estatísticas de Segurança Pública e Justiça Criminal – SINESPJC, implantado em 2004, com o módulo Polícia Civil e posteriormente com o módulo Polí- cia Militar em 2006. Este sistema teve como principal objetivo iniciar o processo informatizado de coleta de dados estatísticos junto às 27 UFs, em um cenário que contava apenas com 07 UFs com sistemas de registro de ocorrências informatizados. Neste contexto, a SENASP veio fomentando - junto aos entes federados e por meio de convênios com a União - o desenvolvimento, customização e ampliação de sistemas informatizados de registros de ocorrências policiais e sistemas de atendimento e despacho das Polícias e Corpos de Bombeiros Militares. O objetivo foi o de melhorar os processos de envio, tratamento e análise de dados. Mesmo com o apoio da SENASP, as instituições de segurança pública não deixaram de arcar com o ônus de ter que alimentar, de forma manual ou minimamente informatizada, a base de dados nacional. Limitações do SINESPJC não permitiam que sistemas estaduais fossem integrados diretamente ao sistema nacional, tornando o processo de alimentação lento e árduo. Além disso, havia o problema da falta de pa- dronização dos formulários de coleta nos Estados. Partindo deste novo cenário, identificados os problemas e desafios, a SENASP em maio de 2012, juntamente com representantes das Polícias Civis, Militares e Corpos de Bombeiros Militares das 27 Unida- des de Federação, definiu os campos e conteúdos mínimos dos boletins de ocorrências e atendimento e despacho das instituições de segurança pública. Neste mesmo ano, foi promulgada a Lei 12.681, que institui o Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública, Prisionais e sobre Drogas, com a finalidade de armazenar, tratar e integrar dados e informações para auxiliar na formulação, implementação, execução, acompanhamento e avaliação das políticas relacionadas à segurança pública; sistema prisional e execução penal; e enfrentamento do tráfico de crack e outras drogas ilícitas. Com isto, o SINESPJC torna-se o módulo de estatística do SINESP. Logo após a criação da lei do SINESP, o Ministério da Justiça, por meio da SENASP, toma o compro- misso de firmar junto às Unidades da Federação 27 termos de adesão ao SINESP, ratificando o compromisso de todos em cooperar com a implantação, manutenção e atualização do sistema. O não envio dos dados previstos no Termo implica na impossibilidade de receber recursos ou celebrar parcerias com a União para financiamento de programas, projetos ou ações de segurança pública e do sistema prisional. • Enviar os dados previstos no Termo • Possibilidade de receber recursos e celebrar parceiras com a União O SINESP tem como objetivo sanar o problema da má qualidade de informações de crime no Bra- sil. Essa má qualidade se deve aos diversos problemas estruturais que impediram, ao longo dos anos, uma 25 ead.senasp.gov.br melhor qualidade da informação, e, além disso, a particularidades dos próprios eventos criminais, que, por natureza, são difíceis de serem registrados pela população. Por exemplo, furtos e roubos de pequenos valores e casos de estupros, abusos, assédios e coerções, muitas vezes, estão inseridos dentro de contextos pessoais ou familiares, fazendo com que as vítimas rara- mente procurem as autoridades para registro dos fatos. 3.3 Fontes alternativas de informação Pesquisas de vitimização Na maior parte dos crimes, a única fonte alternativa possível são aspesquisas de vitimização, que permitem não apenas estimar a incidência real do fenômeno, mas também o tamanho e o perfil da subnotificação. No Brasil, a primeira pesquisa de vitimização realizada em âmbito nacional foi empreendida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no suplemento da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 1988. Depois disso, o IBGE empreendeu outra pesquisa nacional de vitimização, tam- bém como suplemento da PNAD, no ano de 2009. Cabe destacar a Pesquisa Nacional de Vitimização realizada pelo Ministério da Justiça, de 2010 a 2012, no âmbito do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, pelo Centro de Estudos da Cri- minalidade e Segurança Pública (CRISP) e Datafolha. Para saber mais sobre essa pesquisa, acesse o arquivo “Pesquisa de vitimização”, que está nos anexos do curso. Outros exemplos de pesquisas de vitimização empreendidas no Brasil são expostos a seguir: • Pesquisa de vitimização ILANUD: Essa pesquisa foi desenvolvida em 2002, a partir da parceria Instituto Latino Americano das Nações Unidades (ILANUD)/Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República/FIA/Universidade de São Paulo (USP). Ela é representativa para os municípios de São Paulo, Rio de Janeiro, Recife e Vitória. • Pesquisa de vitimização INSPER: Essa pesquisa foi desenvolvida pelo Instituto de Ensino e Pesquisa (INSPER). O estudo toma como base pesquisas domiciliares com 2.967 pessoas na ci- dade de São Paulo em 2003 e 2008. Os sete tipos de ocorrência apurados no levantamento são: residência, veículo, componentes de veículos, crime contra a pessoa, trânsito, agressões e casa de temporada. • Pesquisa de vitimização CRISP/UFMG: Essa pesquisa foi desenvolvida nos anos de 2001, 2003 e 2006 pelo Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública da Universidade Federal de Minas Gerais (CRISP/UFMG) e é representativa para o município de Belo Horizonte, no qual foram entrevistadas 6.220 pessoas. Outras fontes de dados e informações: No caso de roubos e furtos de carros, os dados das seguradoras são importantes para comprovar tendências. Entretanto, como nem todos os carros estão segurados, as informações das seguradoras devem conter menos registros que as das polícias. No caso dos homicídios, os dados do Datasus/Ministério da Saúde são geralmente de uma confiabi- lidade superior aos da polícia, pela própria natureza de sua produção e por estarem submetidos a uma crítica mais detalhada. Mas eles também apresentam problemas, como a existência de uma categoria de mortes violentas de intencionalidade desconhecida, que incluiria homicídios, suicídios e mortes acidentais. Para chegar a uma estimativa mais precisa, é necessário submeter essa categoria a uma estimativa que reclassifica uma parte dela como homicídio. Além disso, a dificuldade maior para utilizar esses dados 26 como indicadores de segurança pública é a demora na sua divulgação, justamente devido ao tempo dedica- do à crítica dos dados. De qualquer forma, é muito importante que, mesmo com certo atraso, tais registros sejam comparados com os da polícia, para testar a validade dos últimos. Existem inúmeras instituições públicas e privadas que compilam informações que podem ser rele- vantes para a análise de crimes, criminosos ou vítimas específicas. Alguns exemplos: as agências de regula- ção dos produtos controlados (tais como armas, álcool ou drogas), agências reguladoras que fiscalizam instituições bancárias ou de segurança, autoridades fiscais e alfandegárias, departamentos de segu- rança de instituições privadas etc. SAIBA MAIS... O site do Ministério da Justiça vem se institucionalizando nos últimos anos como referência nacional em relação às informações de segurança pública. Destacam-se como exemplo de relatórios disponíveis nessa página: Para saber mais sobre o Ministério da Justiça, acesse: http://www.justica.gov.br/sua-seguranca/se- guranca-publica/estatisticas. • Efetivo dos Órgãos Estaduais de Segurança Pública (2003 a 2007); • Análise das Ocorrências Registradas pelas Polícias Civis (2004 e 2005); • Perfil das Instituições de Segurança Pública (2004 a 2007); • Investimentos dos Governos Estaduais em Segurança Pública (2005 a 2008); • Diagnóstico da Perícia Criminal no Brasil (2012); • Estudo Profissiográfico e Mapeamento de Competências: Perfil dos Cargos das Instituições Esta- duais de Segurança Pública (2012); • Mulheres nas Instituições de Segurança Pública (2013); • Pesquisa Perfil das Instituições de Segurança Pública (2013); • Pensando a Segurança Pública (2013). Há ainda... • Os portais das Secretarias Estaduais de Segurança Pública, da Polícia Civil e da Polícia Mili- tar. Quando as informações estatísticas não estão disponibilizadas no portal é preciso fazer um contato telefônico ou por e-mail com os gestores dessas instituições, solicitando-as. • Os Grupos de pesquisa e portais acadêmicos relacionados a essa questão. • Censo demográfico realizado pelo IBGE a cada 10 anos. Para saber mais sobre Censo demográfico, acesse o arquivo “Censo”, que está nos anexos do curso. Finalizando... Neste módulo, você estudou que: • A compreensão dos fenômenos sociais pode ser feita a partir de três abordagens: observação do comportamento que ocorre naturalmente no âmbito real; criação de situações artificiais e observação do comportamento antes das tarefas definidas para as situações e realização de perguntas às pessoas sobre o que fazem (fizeram) e pensam (pensaram). • Para cada uma das abordagens há técnicas de análise específicas. Cada uma delas tem vanta- gens e limitações. • Os vários métodos de abordagem dos fenômenos sociais têm aplicações distintas quanto ao 27 ead.senasp.gov.br tipo de pesquisa que se pretende realizar e tipo de informações a serem coletadas. Eles também podem ser utilizados de forma complementar quando necessário. • Um questionário pode ser definido como um “conjunto de perguntas sobre um determinado tópico que não testa a habilidade do respondente, mas mede sua opinião, seus interesses, as- pectos de personalidade e informação biográfica”. (YAREMENKO et al., 1986). • Os dados frequentemente trabalhados em sistemas de segurança pública e justiça criminal são dados policiais, do Ministério Público, da Justiça e do sistema prisional, para fins de adminis- tração dos procedimentos de rotina. Em geral, essas informações não são utilizadas na área de gestão. • Os registros da Polícia Militar incluem crimes e ocorrências diversas, mas não abrangem o con- junto total de crimes e, portanto, não podem ser usados como base exclusiva de um sistema de informação criminal. • A Polícia Civil praticamente só registra crimes, mas deixa de registrar uma ampla gama de inci- dentes que perturbam a segurança pública e não chegam a constituir crime. • Na maior parte dos crimes, a única fonte alternativa possível são as pesquisas de vitimização, que permitem não apenas estimar a incidência real do fenômeno, mas também o tamanho e o perfil da subnotificação. Exercícios Com base nos conhecimentos adquiridos no módulo 2, realize as atividades propostas a seguir. Atividade 1. O método de pesquisa de avaliação de impacto inclui: a) ( ) Sistematização das informações trazidas pelos documentos, buscando a existência de semelhanças. b) ( ) Determinação dos resultados das ações e políticas de segurança pública. c) ( ) Descrição e explicação abrangente dos muitos componentes de uma determinada situação social. d) ( ) Construção de enunciados sobre uma população. Atividade 2. Qual a principal vantagem da coleta de informação por dados secundários? a) ( ) O pesquisador fica limitado a dados já coletados e compilados. b) ( ) O pesquisador tem que selecionar a amostra de forma científica. c) ( ) O pesquisador não precisa arcar com oscustos de amostragens, entrevistas e codificações. d) ( ) O pesquisador não pode representar adequadamente a questão que lhe interessa. Atividade 3. Em relação às perguntas contidas no questionário, assinale a afirmativa FALSA: a) ( ) As perguntas devem apresentar cinco características básicas: a pergunta precisa ser com- preendida e comunicada consistentemente; as expectativas quanto às respostas precisam ser explicitadas para o respondente; os respondentes devem ter todas as informações necessárias para a resposta; e os res- pondentes precisam estar dispostos a responder. b) ( ) As perguntas abertas são indicadas quando não se conhece a abrangência e variabilidade das possíveis respostas. Esse tipo de pergunta estabelece, no início da entrevista, um clima receptivo entre pesquisador e respondente, e, no final, captura as opiniões não cobertas pelas perguntas fechadas. 28 c) ( ) Quanto à linguagem usada na formulação das perguntas, é preciso atentar para a sua compreensão pela população alvo da pesquisa. Abreviações, gírias ou termos regionais, termos especiais ou sofisticados devem ser utilizados para facilitar a compreensão do entrevistado. d) ( ) Perguntas em escala nominal utilizam símbolos ou números somente para identificar as pessoas, objetos ou categorias. 29 ead.senasp.gov.br Gabarito Resposta correta atividade 1: afirmativa b). Resposta correta atividade 2: afirmativa c). Resposta correta atividade 3: afirmativa c). 30 Apresentação Olá, seja bem-vindo(a) ao módulo “Análise Estatística Criminal”! Neste módulo, você estudará os conceitos básicos relacionados ao estudo da estatística para com- preender melhor as técnicas utilizadas na análise criminal. Lembrando que, no módulo anterior, você aprendeu a descrever os métodos de abordagem dos fe- nômenos sociais (e as técnicas de análise correspondentes). Também estudou sobre os aspectos que devem ser observados na construção de um questionário. E, por fim, conheceu diversas fontes de dados e informa- ções de segurança pública. Preparado(a) para aprender mais sobre Análise Criminal? Então, vamos lá! Objetivos do módulo Ao final do módulo, você deverá ser capaz de: • Definir os principais conceitos relacionados à estatística; • Correlacionar as séries estatísticas aos fatores básicos que as estruturam; • Descrever as formas pelas quais as informações podem ser apresentadas estatisticamente; • Identificar as técnicas utilizadas na estatística descritiva; e • Definir análise de regressão. Estrutura do módulo O conteúdo deste módulo está dividido nas seguintes aulas: • Aula 1 – Conceitos básicos • Aula 2 – Séries estatísticas • Aula 3 – Apresentação dos dados • Aula 4 – Estatística descritiva • Aula 5 – Análise de regressão Aula 1 – Conceitos básicos 1.1 Estatística e análise estatística criminal O termo estatística surgiu da expressão em latim statisticum collegium, que significa palestra sobre os assuntos do Estado. No século XVII, o termo Statistik foi utilizado designando a análise de dados sobre o Estado. Entre- tanto, somente no início do século XIX o termo adquiriu o significado de coleta e classificação de dados, que persiste até hoje. A análise estatística criminal consiste na aplicação da análise estatística aos dados de criminalidade MÓDULO 3 ANÁLISE ESTATÍSTICA CRIMINAL 31 ead.senasp.gov.br e segurança pública. 1.1.1 Estatística descritiva X Estatística inferencial A estatística descritiva é um ramo da estatística que utiliza várias técnicas para organizar, descrever e sumarizar dados. Já a estatística inferencial reúne o conjunto técnicas utilizadas na identificação de relações entre variáveis que representem ou não relações de causa e efeito. 1.2 Conceitos básicos Variáveis Amostra População Censo São objetos que servem para guardar informa- ções e permitem dar nomes a cada uma das partes da informação que se quer guardar. Por exemplo, tratando-se de vitimização dos indiví- duos, há como variáveis distintas: quantos crimes o indivíduo sofreu, sua escolaridade, seu gêne- ro, sua idade etc. É uma coleção de dados relativos a uma parte da população que a representa. É usada, na maioria das vezes, por causa da impossibilidade e dos custos de coletar informações de todos os elementos da população. É um conjunto de indi- víduos ou objetos que apresentam pelo menos uma característica em comum. É uma coleção de da- dos relativos a todos os elementos de uma população. 1.3 Fluxo de execução da análise estatística O trabalho de análise estatística resulta da execução de quatro etapas: coleta, crítica, apresen- tação e análise dos dados. • Coleta de Dados: Após a definição do problema a ser estudado e o estabelecimento do projeto de pesquisa (objetivo, a forma pela qual os dados serão coletados, cronograma das atividades, custos envolvidos, exame das informações disponíveis e delineamento da amostra), o passo se- guinte é a coleta de dados, que consiste na busca ou compilação das informações em variáveis, componentes do fenômeno a ser estudado. • Crítica dos dados: A revisão crítica dos dados procede com a finalidade de identificar e supri- mir os valores estranhos ao levantamento, os quais são capazes de provocar futuros enganos. Esses valores podem ocorrer, principalmente, por problemas de preenchimento ou digitação dos questionários. • Apresentação dos Dados: Convém que as informações sejam organizadas em conjunto de da- dos - de forma prática e racional - para facilitar sua apresentação no formato de tabelas, gráficos ou mapas. A execução dessa etapa ocorre de forma interligada à próxima etapa (análise dos dados), pois com o desenvolvimento da análise é possível descobrir outras tabelas, gráficos ou mapas que sejam necessários para melhor compreensão do fenômeno estudado. • Elaboração de tabelas / Elaboração de gráficos / Elaboração de mapas: São representações utilizadas para resumir e apresentar os dados de uma pesquisa, visando descrevê-la. • Análise: Análise das informações produzidas a partir da leitura das tabelas, gráficos e mapas, sistematizando as conclusões em um relatório. 32 A execução desse fluxo da análise estatística envolve sempre a possibilidade de retorno à primeira etapa da pesquisa (coleta de dados). Tanto a crítica dos dados pode mostrar que a etapa de coleta não foi bem planejada ou executada, quanto às etapas de apresentação e análise podem evidenciar que os dados coletados são insuficientes para garantir uma boa compreensão do fenômeno estudado. Aula 2 - Séries estatísticas 2.1 O que é uma série estatística? Uma série estatística constitui uma coleção de dados estatísticos referidos a uma mesma ordem de classificação, ou seja, uma sequência de números que se refere a certa variável. A construção de séries estatísticas está estruturada em três fatores básicos e esses fatores levam à existência de três tipos distintos de séries estatísticas: Veja a seguir mais detalhes sobre cada série. A série temporal (cronológica, histórica, evolutiva ou marcha) é identificada pelo caráter variável do fator cronológico. Fonte: SENASP/MJ – Pesquisa Perfil Organizacional das Delegacias Especializadas de Atendi- mento à Mulher – Brasil (2003/2007) 33 ead.senasp.gov.br A série geográfica (territorial, espacial ou de localização) é identificada pelo caráter variável do fator local. Tabela 3 – Ordenamento das UF por taxas de homicídio (em 100 mil) – Brasil 2000-2010* Fonte: SIM/SVS/MS *2010: dados preliminares A série específica (ou categórica) é identificada pelo caráter variável do fator fenômeno. 34 Tabela 4 – Ocorrências registradas pelas polícias civis por número e taxas por 100 mil habi- tantes (Brasil-2012) Aula 3 – Apresentação dos dados Uma vez que os dadosforam coletados, deve-se ter atenção ao examiná-los, pois, muitas vezes, o conjunto de valores é extenso e desorganizado e há risco de se perder a visão global do fenômeno analisado. Para que isso não ocorra, é interessante reunir os valores em tabelas, gráficos ou mapas, faci- litando sua compreensão. 3.1 Construção de tabelas Um dos objetivos da construção de tabelas é sistematizar os valores que uma ou mais variáveis podem assumir, para que se tenha uma visão global da sua variação. Ou seja, a tabela é uma maneira de apresentar resumidamente um conjunto de dados. 1. TÍTULO DA TABELA – Conjunto de informações, as mais completas possíveis, respondendo às perguntas: O quê? Quando? e Onde? É localizado no topo da tabela, além de conter a palavra “TABELA” e sua respectiva numeração. 2. CORPO DA TABELA - É o conjunto de linhas e colunas que contém informações sobre a va- riável em estudo. Nota: A substituição de uma informação da tabela pode ser feita pelos seguintes sinais: (...) infor- mação é coletada, mas não está disponível; (–) informação não coletada e (?) quando há dúvida da validade da informação. 3. RODAPÉ - Elementos complementares da tabela: 35 ead.senasp.gov.br 1. Fonte: Identifica o responsável (pessoa física ou jurídica) pela sistematização dos dados nu- méricos. 2. Notas: É o texto que irá esclarecer de forma geral ou específica algum conteúdo da tabela. 3. Chamadas: Símbolo remissivo atribuído a algum elemento de uma tabela que necessita de uma nota específica. 3.2 Construção de gráficos A construção de gráficos atende às mesmas finalidades da construção das tabelas, ou seja: representar os resultados de forma simples, clara e verdadeira; demonstrar a evolução do fenômeno em estudo e obser- var a relação dos valores analisados. Veja que a disposição dos elementos é idêntica à das tabelas. Clique sobre cada um para ter acesso a mais informações. • Título do gráfico: Conjunto de informações, as mais completas possíveis, respondendo às per- guntas: o quê? Quando? e Onde? Localizado no topo do gráfico, além de contar a palavra “GRÁ- FICO” e sua respectiva numeração. • Corpo do gráfico: É a representação gráfica da análise efetuada. • Rodapé: Elementos complementares do gráfico: o Fonte: Identifica o responsável (pessoa física ou jurídica) pela sistematização dos dados nu- méricos; o Notas: É o texto que irá esclarecer de forma geral ou específica algum conteúdo do gráfico; o Chamadas: Símbolo remissivo atribuído a algum elemento do gráfico que necessita de uma nota específica Na análise criminal, se trabalha com 4 tipos de gráficos. Veja a seguir cada um deles. Gráficos em colunas Conjunto de retângulos dispostos verticalmente, separados por um espaço. Gráficos de Barras Conjunto de retângulos dispostos horizontalmente, separados por um espaço. 36 Gráfico 2 – Percentual da população que considera ter aumentado a delinquência nos últimos 12 meses (América Latina, 2011) Gráficos em setores Representação através de um círculo, por meio de setores, sendo muito utilizado quando se quer comparar cada valor de uma série com o seu total (proporção). 37 ead.senasp.gov.br Gráficos em linhas ou curvas Utilizado principalmente para representar séries temporais. Aula 4 – Estatística descritiva 4.1 Parâmetros para descrição dos dados Como você estudou anteriormente no curso, a análise descritiva envolve técnicas para organizar, resumir e descrever os dados de uma pesquisa. Para facilitar a descrição dos dados, são utilizados alguns parâmetros que serão apresentados a seguir, didaticamente divididos em cinco grupos: 1. Parâmetros para comparação relativa; 2. Distribuição de frequência; 3. Medidas de tendência central; 4. Medidas de dispersão; 5. Análise de correlação. Estude a seguir sobre cada uma delas. 4.1.1 Parâmetros para comparação relativa Proporção É obtida a partir do cálculo de uma parte do conjunto sobre o seu total. Exemplo 1: Considere 10 pessoas retidas em uma delegacia, das quais 4 são homens. A pro- porção de homens é de 4/10 = 0,4, ou seja, temos 0,4 homens por pessoa retida na delegacia. Exemplo 2: Considere que 20 ocorrências são registradas em um município, das quais 10 são homicídios dolosos. A proporção de homicídios é de 10/20 = 0,5, ou seja, 0,5 homicídios por ocorrência 38 registrada no município. Porcentagem As porcentagens são obtidas a partir do cálculo das proporções, simplesmente multiplican- do-se o quociente obtido por 100 (a palavra porcentagem significa “por cem”). Enquanto a soma das pro- porções é igual a 1, a soma das porcentagens é igual a 100, a menos que as partes não sejam mutuamente exclusivas e exaustivas. Exemplo: Considerando os exemplos de proporção, há 40% de homens entre as pessoas retidas e 50% de homicídios entre as ocorrências registradas no município Razão É o resultado de um número A em relação a um número B (“A dividido por B”). Exemplo: A razão de policiais por viatura no Brasil é de (policiais)/(viaturas) = 618.613 / 76.074 = 8,13, ou seja, há 8,13 policiais por viatura. Cabe ressaltar que a razão busca relacionar quantidades de itens diferentes, como: policiais por viatura, PIB por habitantes, recursos financeiros gastos pela polícia militar pelo total do efetivo da polícia militar etc. A seguir, você aprenderá a calcular a proporção, a porcentagem e a razão, a partir da tabela 6. Cálculos da proporção, porcentagem e razão – Tabela 6 Proporção de gastos com a subfunção policiamento Gasto com a função policiamento/Gasto total > 18.591.783.723,58/51.547.486.525,76 = 0,36 Para cada real gasto com segurança pública, 36 centavos são referentes à subfunção policia- mento. Porcentagem de gastos com a subfunção policiamento 0,36 x 100 = 36% Cerca dos 36% dos gastos com a função segurança pública no Brasil são referentes à subfun- 39 ead.senasp.gov.br ção policiamento Razão de gastos com a subfunção policiamento por gastos com a subfunção defesa civil. Gastos com a subfunção policiamento/Gastos com a subfunção defesa civil > 18.591.783.723,58/1. 630.080.129,49 = 11,40 Para cada real gasto com a subfunção defesa civil são gastos R$ 11,40 com a subfunção po- liciamento 4.1.2 Distribuição de frequências A distribuição de frequência é o conjunto de mensurações de frequências para os dados ob- servados. • Frequência absoluta: É o número de vezes que o valor de uma determinada variável é obser- vado. • Frequência absoluta acumulada: É a soma das frequências absolutas dos valores inferiores ou iguais ao valor dado. • Frequência relativa: É a razão da frequência absoluta pelo número total de observações. • Frequência relativa acumulada: É a soma das frequências relativas dos valores inferiores ou iguais ao valor dado. • Distribuição de frequência: É uma forma de apresentar as frequências. São apresentadas as variáveis seguidas de suas frequências absolutas. Exemplo: número de homicídios ocorridos em 16 cidades distintas. A seguir, você estudará a explicação dos conceitos relacionados à distribuição de frequência, com base na Tabela 8. Distribuição de frequências Frequência absoluta: Na primeira coluna foram colocados, em ordem crescente, todos os possíveis números de homicídios ocorridos em 16 cidades. Na segunda coluna, aparecem quantas cidades sofreram aquele número de homicídios. Observe, na tabela 8, que a frequência absoluta de 0 homicídio é um, ou seja, das 16 cidades analisadas somente uma delas teve 0 homicídio. A frequência absoluta de 3 homicídios é dois, ou seja, duas cidades tiveram 3 homicídios. A frequência absoluta de 4 homicídios é um, ou seja, uma cidade teve 4 homi- cídios, e assim por diante. Frequência absoluta acumulada: Foi construída a terceira coluna da tabela 8 somando-se à cada linha a frequência
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