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Estruturas Políticas - slides

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Estruturas políticas
A Administração e a Política Colonial 
História do Brasil I
Prof. Luiz Carlos Villalta
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O Caráter do Estado Português
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Um Estado Patrimonialista?
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Uma viagem musical: Bancarrota Blues, de Chico Buarque (1985)
Uma fazenda/ Com casarão/ Imensa varanda/ Dá gerimun/ Dá muito mamão/ Pé de jacarandá/ Eu posso vender/ Quanto você dá?
Algum mosquito/ Chapéu de sol/
Bastante água fresca/ Tem surubim/ 
Tem isca para anzol/ Mas nem tem que pescar/ Eu posso vender/ Quanto quer pagar?
O que eu tenho/ Eu devo a Deus/ Meu chão, meu céu, meu mar/ Os olhos do meu bem/ E os filhos meus/ Se alguém pensa que vai levar/ Eu posso vender/ Quanto vai pegar?
Os diamantes rolam no chão/ O ouro é poeira/ Muita mulher pra passar sãbão/ Papoula pra cheirar/ Eu posso vender/ Quanto vai pagar?
Negros quimbundos/ Pra variar/ Diversos açoites/ Doces lundus/ Prô nonhô sonhar/ À sombra dos oitis/ Eu posso vender/ Que é que você diz?
Sou feliz/ E devo a Deus/ Meu Éden tropical/ Orgulho dos meus pais/ E dos filhos meus/ Ninguém me tira nem por mal/ Mas posso vender/ Deixe algum sinal.
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O Patrimonialismo
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O patrimonialismo, segundo Weber e seus leitores
Um tipo de dominação baseado na tradição, existente em sociedades pré-capitalistas.
Características:
A organização de poder pelo soberano dá-se de modo análogo a seu poder doméstico, confundindo-se os domínios público e privado, de tal sorte que o patrimônio público é tomado como propriedade pessoal do governante. Riquezas, bens sociais, cargos e direitos são distribuídos pelo governante como sua propriedade pessoal
Existência de um quadro administrativo pessoal do senhor, constituído por servidores (não por funcionários). Esse corpo de funcionários burocráticos administra, controla e usufrui do patrimônio público. Uma ética do jeitinho e do atalho permite a esse corpo burlar as regras ordinárias da vida social e garantir algum benefício pessoal ou familiar.
Falta de competências fixadas segundo regras objetivas, de hierarquia racional fixa, de um sistema de nomeações e promoções regulados, de formação profissional, de salário fixo ou pago em dinheiro. 
Fontes: A. Paim, Ricardo Vélez Rodríguez, Fernando Henrique Cardoso, Raymundo Faoro, Inés Rouquaud & María Roa Herrera. 
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O patrimonialismo, segundo Simon Schwartzman
Duas linhas de desenvolvimento do Estado. 
1a) Europa feudal: do feudalismo às sociedades capitalistas ocidentais de hoje. 
2a) Do patrimonialismo a uma variedade de sociedades subdesenvolvidas, autoritárias e fascistas.
Patrimonialismo: variante de um sistema de dominação tradicional, baseado na extensão do domicílio do governante. Depende do controle do processo produtivo social pelo governante e sua entourage.
Características políticas dos sistemas patrimoniais: 
A) Cooptação;
B) Participação política débil, dependente e controlado hierarquicamente de cima para baixo;
C) Polarização: indivíduos e grupos sociais previamente fora da arena política, mas desejosos de nela ingressar X detentores do sistema político, em condições de comprar ou incorporar esses esforços de participação, de forma que se estabeleçam vínculos de dependência. 
D) Busca-se o controle de um patrimônio, de uma fonte substancial de riqueza a ser explorada (e não a preponderância de uma determinada política).
			São Paulo e o Estado Nacional. São Paulo: Difel, 1975.
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Patrimonialismo e desenvolvimento capitalista, segundo Faoro
 Sob o sistema patrimonialista de poder:
1) desenvolveu-se uma ordem econômica capitalista (i.e, voltada para o lucro, monetarizada, não necessariamente assentada em relações capitalistas de produção), dirigida pelo Estado, que impediria “a autonomia da empresa, anularia as liberdades públicas, fundadas sobre as liberdades econômicas, de livre contrato, livre concorrência, livre profissão, opostas, todas, aos monopólios e às concessões reais” (p. 22).
2) houve uma “expansão do capitalismo comercial”, que fez “do Estado uma gigantesca empresa de tráfico, mas” impediu “o capitalismo industrial’ (p. 26). “A atividade industrial, quando emerge, decorre de estímulos, favores, privilégios, sem que a empresa individual, baseada racionalmente no cálculo, incólume às intervenções governamentais, ganhe incremento autônomo. Comandam-na um impulso comercial e uma finalidade especulativa, alheadores das liberdades econômicas, sobre as quais se assenta a revolução industrial” (p. 27).
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Os paradigmas teóricos
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O paradigma corporativo
Cf.
 TORGAL, SKINNER, MACEDO, MORSE,
MACEDO, XAVIER & HESPANHA e XAVIER
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A concepção corporativa da sociedade
Base: idéia de uma ordem universal, humana e física, que orientava todas as criaturas para um objetivo último: o Criador.
Partes e funções: na busca da consecução do objetivo, as partes tinham funções diferentes, cooperando cada qual de um modo distinto para a realização do destino cósmico, segundo objetivos específicos e irredutíveis.
Concepção de sociedade: um corpo voltado para um fim cósmico, composto por órgãos diferentes, indispensáveis, de cuja atuação particular dependia a concretização daquele mesmo fim. 
Concepção de poder: repartido, pois seria monstruoso o corpo que se reduzisse à cabeça.
Decorrências da partilha do poder: 
A) significava a autonomia político-jurídica dos corpos sociais;
B) não implicava prejuízo à articulação natural entre os órgãos: “entre a cabeça e a mão deve existir o ombro e o braço, entre o soberano e os oficiais executivos devem existir instâncias intermediárias”. 
C) A função da cabeça: representar “a unidade do corpo” e “manter a harmonia entre todos os seus membros, atribuindo a cada um aquilo que lhe é próprio”, “garantindo a cada qual o seu estatuto (‘foro’, ‘direito’, ‘privilégio’); numa palavra, realizando a justiça”.					Xavier & Hespanha
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As teorias corporativas de poder da Segunda Escolástica
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As bases: reinterpretações dos escritos de São Tomás de Aquino por...
Dominicanos
Francisco de Vitoria (1485-1546)
Martin de Azpilcueta Navarro (1492-1587)
Domingo de Soto (1494-1560)
Jesuítas
Luís de Molina (1536-1600)
Roberto Belarmino (1542-1621) - italiano 
Francisco Suárez (1548-1617) 
Juan de Mariana (1536-1624) 
Martinus Becanus (1563-1624) - holandês
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Pontos de partida
A Bíblia não basta para a vida cristã, devendo ser consideradas as tradições e a autoridade da Igreja.
O homem tem a capacidade de usar seu raciocínio para criar os fundamentos morais da vida política.
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Deus e a hierarquia das leis, retomando São Tomás...
a “lei eterna”: pela qual age o próprio Deus.
a “lei divina”: aquela que Deus comunica aos homens através da escritura.
a “lei da natureza”: que Deus inscreve nos homens para que eles sejam capazes de compreender Seus desígnios.
a “lei positiva” (chamada de lex humana, lex civilis ou ius positivum): criada e promulgada pelos homens para governar as repúblicas que estabelecem. 
Teóricos jesuítas: desenvolvendo as idéias de Vitória, consideravam que a lei das nações constitui um dos aspectos da lei humana positiva.
Suárez e Molina: Qualquer lei a ser estabelecida deve incluir as determinações dadas por Deus no Décalogo.
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Deus, Sociedade e Estado
O Homem é, por natureza, um animal social.
Deus é a fonte primeira do direito e do Estado (= expressão da condição natural do homem como “ser social”). 
O Estado se
originaria de um “pacto social”, através do qual o povo, como comunidade, detendo o poder derivado de Deus, buscaria realizar o “bem comum”, definido em consonância com os fins eternos do homem, que pertenceriam à jurisdição da Igreja. O Estado nasce do consentimento. 
O Estado teria como fim o bem comum, tornando-se ilegítimo, tirano, se o esquecesse. 
Em situação de tirania, o “povo”, a comunidade, tinha o direito de resistir ativamente, mas não o tiranicídio.
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Da autoridade da Igreja ao poder do Papa
Suárez:
Papa recebera o poder, via Pedro, de Cristo.
Deteria o poder espiritual.
Podia se intrometer em assuntos temporais, se o rei fosse herético.
Sua autoridade seria superior a dos Concílios gerais, que precisariam ser confirmados pelo Papa.
Detém o poder legislativo supremo no interior da Igreja, recebido diretamente de Cristo.
Detém o poder temporal em Roma, que lhe foi atribuído pela doação de Constantino (T,2,18) e de se intrometer em assuntos eclesiásticos fora de Roma.
Outros teóricos jesuítas chegaram às mesmas conclusões.
Belarmino
Cristo disse a Pedro: “A ti entrego as chaves”.
Logo, a Igreja detém autoridade na vida cristã e o Papa, sobre a Igreja.
Combatia a intromissão do papado em assuntos temporais (exceto em seus próprios domínios territoriais e quando estivisse em jogo assuntos espirituais).
Autoridades política e eclesiástica são tipos distintos de poder.
Vitória
Podia intrometer-se no temporal caso estivessem envolvidos assuntos espirituais.
Concílio da Igreja poderia ser convocado contra sua vontade.
A decisão do concílio não poderia ser alterada pelo Papa.
República temporal é perfeita e completa em si mesma.
Mariana
Controle eclesiástico sobre os reis (T,1,192)
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O contrato e o direito à insurgência
A origem da instituição do poder e o direito de insurgência: na origem, havia um contrato. Logo, em certos casos, admitia-se a insurgência do povo-comunidade contra seus soberanos. Azpilcueta Navarro, Suárez, Soto, Bellarmino, João Azor, Mariana, Molina, Mariana, Hermann Busembaum (1600-1688) e Cláudio Lacroix (1652-1714) admitiam essa possibilidade. 
Azpilcueta Navarro:
Distinguia o poder in actu e o poder in habitu (o rei deteria o poder in actu, mas o povo-comunidade continuaria a deter este ‘habitualmente’, isto é, potencialmente, mesmo após o ‘pacto de sujeição’). 
Em caso de manifesta tirania régia, o poder político podia ser assumido pelo povo.
Suárez e Belarmino:
o poder pertenceria naturalmente ao povo-comunidade, que o transmitiria ao governante de uma forma que ele não deixaria de existir em si; 
o povo conservaria o poder in habitu, podendo readquiri-lo em certas circunstâncias definidas com clareza nos documentos e nos costumes imemoriais (T,2,17). 
C) segundo Suárez, no exercício do poder, o rei não estaria sujeito ao povo-comunidade: o rei teria recebido o poder de maneira “‘plena e absoluta’”, sendo assim independente (T,2,17).
D) A preservação da república, a possibilidade de destruição iminente, dá-lhe o direito de resistir e matar um rei tirano.
Juan de Mariana: um rei poderia ser assassinado em certas circunstâncias, quando abusasse do seu poder. 
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As teorias corporativas em Portugal
Grandes pensadores espanhóis – Suarez, Molina e Navarro – lecionaram em Portugal.
A literatura portuguesa seiscentista: admitia a origem popular do poder régio. Exemplos: os juristas Manuel Álvares Pegas e Melchior Phebo, o historiador Conde da Ericeira.
Especificidades: 
1) o princípio da origem pactícia do poder subordinava-se ao princípio hereditário (havia que respeitar a descendência do sangue real); 
2) o princípio hereditário sujeitava-se ao bem comum, com o que se permitia o afastamento de herdeiros desprovidos das qualidades necessárias para o governo e de reis que governassem mal;
 3) os vassalos teriam o direito de exigirem do rei o respeito dos jura aquisita por pactos subseqüentes, de denunciarem o pacto de sujeição nos casos em que o rei não cumprisse gravemente seus deveres, resistindo e privando-o de seu poder, podendo até mesmo matá-lo. 
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Um exemplo: Justa acclamação do Sereníssimo Rey de Portugal D. João o IV, Francisco Velasco de Gouvea, editada em Lisboa, em 1627
Invocando Bellarmino, Vitória e Navarro, apresentava a teoria do pacto e defendia que os reis ficavam obrigados a subordinar-se a Deus, a obedecerem ao Papa, a respeitarem os privilégios eclesiásticos, devendo praticar a justiça e assegurar o respeito à religião.
Nessa obra, em sua primeira parte, há as seguintes proposicões (julgadas “absurdas” por José de Seabra Silva, um político e pensador do século XVIII, defensor de um outro paradigma):
“= Que o Poder Regio dos Reys está nos Póvos, e Républicas, e dellas o recebêrão immediatamente.
[...]= Que ainda que os Póvos transferissem o Poder nos Reys, lhes ficou habitualmente, e o podem reassumir quando lhes for necessario para sua conservação.
[...] =Que Podem os Reynos, e Póvos privar os Reys intruzos, e tyrannos; negando-lhes a obediencia; submettendo-se a quem tiver legitimo Direito de reinar nelles.
[...] = Que os Reynos, posto que sejão Catholicos, não tem regularmente, senão só em certos casos dependencia do Summo Pontifice, para privarem os Reys tyrannos, e intruzos, e acclamarem aos que forem legitimos.
SYLVA, Jozeph de Seabra da. Dedução Chronologica e Analytica. Lisboa: Officina de Miguel Manescal da Costa, 1767. 
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Retrato de Joseph de Seabra Silva
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O absolutismo contratualista
A primeira grande manifestação literária em Portugal: Deducção Chronológica e Analytica.
Defende a tese de que o rei “é soberano, ungido de Deus Todo-Poderoso, imediato à sua divina omnipotência, e tão independente que não reconhecia na terra senhor superior temporal”.
Considerava sediciosas e abomináveis as teses de que “todo o poder temporal era dependente do governo eclesiástico, por ser este o único governo que Deus tinha criado”.
A monarquia portuguesa era uma monarquia pura, constituída por territórios conquistados em guerra justa, fundada por doação (de Afonso VI de Leão a D. Henrique), transmitida por sucessão e em que todos os poderes residiam pura e soberanamente no rei. Não havia qualquer participação no poder de outros corpos do Reino, nomeadamente aqueles reunidos em Cortes. As Cortes, desde Lamego, foram sempre um organismo consultivo, a que o rei recorria na falta de outros meios para ouvir o Reino.
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A administração portuguesa
Fontes:
J. Subtil, R. Faoro, C. Prado Jr. e L. M. Souza
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Traços Gerais da Administração
Até meados do século XVIII: predomínio de uma concepção jurisdicionalista de governo, uma ‘administração passiva’.
Depois de meados do século XVIII: rumo a uma ‘administração ativa’.
Zonas de atuação do governo: “justiça”, a primeira atribuição do rei; a “graça”, dom da liberalidade régia; “fazenda”- “economia”, relacionada à imagem do rei como ‘chefe da casa’ (prover, prever e promover os meios disponíveis à busca do “sustento” e “engrandecimento’, correspondendo a uma administração ativa) e o “governo político”, ligado ao rei como cabeça da república. No período iluminista, “o governo assume as características de uma atividade dirigida por razões específicas (as razões de Estado), tendentes a organizar a sociedade, impondo-lhe uma ordem”. O “governo político” triunfa (J. Subtil). 
Noções inexistentes: a) separação de funções e poderes do Estado (legislativo, executivo e judiciário); b) definição de esferas paralelas e diferentes das atividades estatais (geral, provincial e local); c) diferenciação, no indivíduo, de planos distintos e regulados diferentemente: “o das relações externas e jurídicas, que cabem ao direito” e o “do foro íntimo”; d) distinção entre público e privado; e) na Colônia, primazia do público sobre o privado (Prado Jr. e F. A. Novais).
O Estado:
“uma unidade inteiriça”, sem “funções bem discriminadas, competências bem definidas, disposição ordenada, segundo um princípio uniforme de hierarquia e simetria” (Prado Jr.). Oficiais: massa desarticulada e disforme (Arno Wheling).
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Na Colônia
a) transplante das instituições reinóis (exceção: as capitanias hereditárias, de curta duração);
 b) ausência da idéia de unidade da colônia para os efeitos da administração metropolitana (Prado Jr); 
c) no século XVIII, aos olhos das autoridades na metrópole, sob o temor da revolta e da desgregação, nascia a unidade da América Portuguesa, não propriamente administrativa 
O conselheiro Antonio Rodrigues da Costa, membro do Conselho Ultramarino, de 1709 a 1732, formulou, diante de revoltas coloniais, uma teoria do perigo interno, indicando que considerava que os vassalos poderiam acabar conscientes do que havia de comum nas distintas partes do Brasil – L. M. Souza.
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O Padroado
Direito de administrar os assuntos religiosos no ultramar, concedido pelo Papado aos reis de Portugal e, depois, aos imperadores do Brasil.
Longa história: na América portuguesa, combinava dois padroados (1- o dos reis portugueses, conquistado anteriormente e que buscava incentivar o culto nos territórios conquistados aos mouros e 2- o padroado obtido por D. Henrique em 1456, como governador da Ordem de Cristo, de deter o poder espiritual sobre todas as terras conquistadas e por conquistar, padroados esses fundidos por D. João II). 
Permitia à Coroa a interferência nos assuntos eclesiásticos:
a) apresentando a Santa Sé nomes para dignidades eclesiásticas maiores (abadias, bispados, arcebispados) e menores (conezias, curas, etc.);
b) rejeitando bulas e breves papais com os quais estivesse em desacordo, 
c) assumindo a responsabilidade pela construção e manutenção de templos e pelo pagamento dos eclesiásticos, 
d) coletando os dízimos e administrando receitas. 
Fonte: Charles Boxer
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As características dos ofícios públicos
A patrimonialidade.
O uso privado da função pública.
O predomínio da fidelidade pessoal.
A multiplicidade das funções
A estabilidade
A ausência de especialização profissional.
A associação com o enobrecimento.
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Desembargo do Paço
Inícios com Dom João II (reinado: 1481-1495) e término com o liberalismo. 
Em 1795, com a extinção da Real Mesa da Comissão Geral para a Censura de Livros, incorporou a censura (Secretaria da Revisão).
Com a transferência da Corte, em 1808: criada uma ramificação, no RJ, o Desembargo do Paço e a Mesa da Consciência e Ordens, mantendo-se os tribunais de Lisboa. 
Algumas competências: organizar exames para acessos à magistratura; aprovar candidatos a tabeliães de notas e escrivães do judicial, advogados e procuradores; conceder mercê de ofícios de justiça ou as suas confirmações; confirmar as pautas para as vereações das câmaras; conceder promoções, licenças e transferências; proceder aos autos de “residência” dos juízes de fora; analisar pedidos de perdão, comutação de penas, embargos, apelações, agravos e confirmações; preparo das decisões dos processos que não pertenciam à jurisdição de outros tribunais; emitir pareceres. 
Fonte: Subtil
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Mesa da Consciência e Ordens
Criação: D. João III (1532) . Extinção: em 1833
Competências: das matérias que tocassem à obrigação da “consciência” dos monarcas; a partir de 1551, também dos assuntos espirituais e materiais relativos às Ordens Militares de Cristo, São Tiago e São Bento de Avis. 
Outras competências: governo e inspeção na Universidade de Coimbra (o que diminuiria depois da reforma pombalina), governo da provedoria dos cativos e defuntos, a superintendência da Casa dos Órfãos da Cidade de Lisboa, o governo e provimento das capelas e mercearias de D. Afonso IV, D. Beatriz, D. Catarina, infante D. Luís e D. Leonor, o provimento do Hospital das Caldas e demais hospitais e albergarias, a visita e inspeção das capelas onde se encontravam seputados os reis, o provimento e pagamento aos mestres de Gramática, Canto, pregadores e organistas nos lugares das ordens militares, a atribuição de hábitos aos providos em benefícios e a autorização para ingresso nos conventos e ordens.
Fonte: Subtil e Prado Jr.
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Casa da Suplicação de Lisboa e Relação do Porto
Tribunais judiciais superiores, com áreas geográficas distintas de jurisdição (grosso modo, Sul e Norte de Portugal, respectivamente). 
Em 1808, seria estabelecida no Brasil a Casa de Suplicação do Brasil.
Os Assentos tinham poder de lei, até 1769.
Casa de Suplicação de Lisboa: as capitanias do Pará, Maranhão, Piauí e Rio Negro estavam sob sua jurisdição. 
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Conselho da Fazenda
Primeiro regimento dos vedores da Fazenda: 1516.
Com as Ordenações Filipinas, a área financeira, de competência do Conselho, ganha autonomia em relação à área jurisdicional, da competência da Casa de Suplicação. 
O Conselho da Fazenda foi instituído em 1591, por Filipe II. 
Com a criação do Erário Régio (1761), o Conselho da Fazenda reforçou as suas competências jurisdicionais, firmando-se “com a única e exclusiva instância judicial em matéria financeira [...] Perdeu, contudo, quase todas as competências na área do governo econômico”.
Fonte: Subtil
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Secretarias de Estado
Em 1602: 4 secretários do despacho; em 1607, dois; com a Restauração, um secretário e, em 1643, mais um; no final do XVII, uma 3a secretaria.
Em 1736, havia as secretarias de: 
a) Negócios Interiores do Reino; 
b) Marinha e Domínios Ultramarinos;
 c) Estrangeiros e Guerras. 
Em 1788: Secretaria dos Negócios da Fazenda, organizada efetivamente em 1801. 
Funções: recepcionar as consultas ao rei, tratar dos seus despachos, registrando-os e remetendo-os para os tribunais e conselhos. Negócios eclesiásticos e expediente do paço e da casa real. Embora vejam-se atribuições executivas, é importante lembrar que outros órgãos também as tinham.
A Secretaria do Estado dos Negócios Interiores do Reino ganhou centralidade. 
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O Conselho Ultramarino 
Entre 1614 e 1643, denominado Conselho das Índias. 
Subordinava-se à Secretaria de Estado dos Negócios da Marinha e Domínios Ultramarinos. 
Atribuição: administração geral das capitanias e das demais colônias portuguesas da África e Oriente. Todos os assuntos que fossem do interesse da Colônia, com exceção daqueles da alçada da Mesa de Consciência e Ordens.
 Na “realidade, a impossibilidade material de atender a tamanho acúmulo de serviço [...] atrasava consideravelmente o expediente [... e] deixava grande número de casos dormir o sono da eternidade nas gavetas dos arquivos” 
Fonte: C. Prado Jr. 
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Outros órgãos
Conselho de Estado: criado em 1562, como órgão de consulta do rei. Foi revitalizado pela Revolução Liberal de 1820.
Conselho de Guerra: criado em 1640, perdendo competências a partir de 1736.
 Junta da Bula da Cruzada: criada em 1591, para administrar as rendas provindas da bula concedida pel papa e destinadas à conservação das fortalezas do Norte da África.
 Junta dos Três Estados: criada em 1643, para administrar e supervisionar a arrecadação dos impostos da décima militar e outros (inclusive, o contrato do açúcar e do tabaco).
Erário Régio: criado em 1761.
Intendência-Geral da Polícia: criada em 1760. Função de polícia, separada da função judicial (tendência). Prevenção à criminalidade. Estímulo à educação e bem-estar, para promover a “razão” e a “riqueza”. 
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O Estado Português em MG: imerso em contradições
Em Minas, o Estado demiurgo e o Estado ineficaz estiveram presentes. Havia a lei que buscava sobrepor-se às gentes e uma colonização que escapava às determinações legais.
Administradores envolveram-se com o contrabando e negócios ilegais e realizaram desmandos inconcebíveis.
A administração da Capitania realizou um movimento pendular entre a sujeição extrema ao Estado e a autonomia.
Por esses motivos, o governo de Minas foi sempre uma empresa
difícil, exigindo uma mistura do agro e do doce. “Para cobrar o imposto, o Estado devia ser firme e incisivo, mas mostrando-se presente demais, provocava descontentamentos, e consequentemente atrapalhava as cobranças”.
O governador de Minas devia ser zeloso dos interesses reais, mas, instalado na Capitania, envolvia-se em corrupção. Nessas condições, era preciso que se mantivesse uma estreita subordinação a Lisboa. A distância e a complexidade burocrática, porém, dissolviam essa subordinação. 
(Laura de Mello e Souza. Desclassificados do ouro, p. 92-100). 
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O Estado Português na América: uma polêmica
R. FAORO
Monstruoso, bem sucedido e limitado em seu alcance (capitalismo comercial)
Estado Patrimonialista
Centralizado precocemente e pioneiro na iniciativa colonizadora.
O Estado, suas leis e o estamento burocrático tiveram papel decisivo na colonização, moldando a colônia.
Estado impôs-se à Colônia e distanciou-se da sociedade.
A força do burocrata crescia na medida em que a força do poder central diminuía pela distância: era uma sombra (pequena, com o sol a pino; grande, com o sol no ocaso). 
C. PRADO JR.
Centralista, ineficiente e que conduzia à desordem, peça menor de um sistema de colonização inadequado
Mero transplante do que havia na metrópole. 
Inteiriço, ineficiente, confuso, irracional, inadequado e emperrado.
Ajustando-se e adaptando-se sob o peso das circunstâncias (como o fisco em Minas Gerais).
Cipoal de leis e sobreposição de poderes: estimulavam os funcionários à desobediência e à usurpação, solapando-se a autoridade pública.
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Inquisição: das origens medievais à instalação em Portugal
Das origens à Época Moderna:
Origem: remonta ao século XIII (criada e controlada pelo papa para o fim de conter o avanço das heresias valdense e cátara).
Na Época Moderna: 1542, recriada na Itália, com o objetivo de reprimir o protestantismo e combater as idéias e manifestações culturais que se distanciavam dos ensinamentos da igreja católica.
Em Portugal: 
Instalação: provisória, em 1536 e, definitiva, em 1547. Extinção: em 1821.
Negociações: o monarca assumiu o controle do tribunal em seus domínios e, em troca, deu ao Sumo Pontífice vultuosa fortuna e apoio à Reforma Católica e à difusão do catolicismo no Novo Mundo.
Objetivos: repressão aos cristãos-novos judaizantes (só cessada com as reformas pombalinas de 1768-1773), e, em plano menor, a do protestantismo, a depuração das mentalidades populares e a repressão às ofensas à família e às práticas sexuais heterodoxas que tangenciassem a heresia.
Em 1774, Pombal deu-lhe um novo regimento, tornando-o um tribunal mais político.
Tribunais: em Lisboa, Coimbra e Évora. No ultramar português, tribunal só em Goa.
Delitos sexuais da alçada inquisitorial: sodomia (depois de 1646, sodomia feminina é descriminalizada), bigamia (a partir de 1689, também passou para a competência de tribunais seculares), solicitação (a partir de 1599), bestialidade (ao que parece, apenas até 1613) e proposições heréticas de cunho sexual (p. ex., “Maria não era virgem”). 
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A Inquisição e o Brasil
Nenhum tribunal: colônia ficou jurisdicionada ao tribunal de Lisboa.
Atuou no Brasil até 1810 (Tratado com a Inglaterra estabeleceu seu fim na Colônia).
Visitadores às partes do Brasil: ao certo, à Bahia e a Pernambuco, respectivamente, em 1591-93 e em 1595, por Heitor Furtado de Mendonça; à Bahia, entre 1618 e 1620, por Dom Marcos Teixeira; e ao Grão-Pará, por Geraldo José de Abranches, cônego de Mariana, de 1763 a 1769.
Bispos coloniais, desde o século XVI, remetiam culpas à Inquisição de Lisboa, colhidas no tribunal eclesiástico de suas dioceses ou nas “visitas episcopais”, quando eles próprios ou seus delegados percorriam os bispados.
Desde o século XVII, de agentes espalhados pela Colônia: os comissários e os familiares.
Comissários: eclesiásticos, nomeados para o cargo após inquirição de genere, na qual deveriam provar sua “pureza de sangue” e sua virtude. Realizavam diligências ordenadas pela Inquisição de Lisboa, promovendo prisões, fazendo inquirições conforme determinavam as cartas de interrogatório enviadas pelo tribunal e com o auxílio de um eclesiástico encarregado de escrever os autos dos inquéritos, cuidando da remessa e da orientação de confissões e denúncias.
Familiares: freqüentemente leigos, que ajudavam os comissários nas diligências, nomeados depois da habilitação de genere e que desempenhavam a função até a morte, gozando de privilégios fiscais e de prestígio social. 
Os povos: instigados, colaboravam com confissões e denúncias de delitos contra a fé e a moral católicas.
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A organização administrativa colonial
Senado da Câmara
Tropas
Capitanias (1534)
Estados (1548 e 1621)
Vice-Reinado (1640)
Reino Unido (1815)
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Senado da Câmara: órgão inferior da administração colonial (I). 
Sedes: vilas ou cidades, com jurisdição extensiva a seus termos. 
Competências: locais e gerais. Locais: a) processar e julgar crimes de injúrias verbais, pequenos furtos e infrações de seus editos (causas de almotaçaria); b) resolver litígios que se referissem a servidões públicas (caminhos etc.) e a terras de seu patrimônio; c) ouvir e expressar queixas e solicitações do “povo”. Não locais: meros departamentos administrativos do governo da capitania (p. ex., publicar editais do governador). 
Composição: juiz presidente (letrado, remunerado, de nomeação régia, chamado juiz de fora ou, mais freqüentemente, cidadão leigo, sem remuneração, eleito como os demais membros da Câmara), e cargos eletivos (juizes ordinários, sempre dois; 3 vereadores e procuradores), tesoureiros e juiz dos órfãos (estes últimos só em alguns termos). Rotatividade anual nesses cargos. Serviam na câmara diversos funcionários nomeados por elas ou pelo rei, governador-geral e capitães donatários. Escrivães eram remunerados; almotacés e vereadores, não (vereadores passaram a receber propina ou gratificação em 1744).
Eleições: indiretas. Os votantes, os homens bons, na casa da Câmara, indicavam por maioria seus eleitores, que, separados em 3 pares, organizavam listas tríplices. O presidente (o ouvidor e, na sua falta, o juiz mais velho), com os nomes mais votados, formava três róis definitivos, depositados em bolas de cera, os pelouros, guardadas num cofre. Anualmente, no dia 08/12, em público, um menino retirava do cofre um pelouro, com os nomes dos vereadores do ano seguinte. Os dois pelouros restantes seriam retirados em cada ano subseqüente, até completarem-se 3 anos. Em caso de impedimento de um eleito, a própria Câmara escolhia o substituto (chamava-se eleição de barrete). Depois de transcorridos 3 anos, procedia-se a nova eleição. 				Fontes: C. Prado Jr., A. Wehling F. Bicalho e Graça Salgado
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Senado da Câmara: órgão inferior da administração colonial (II)
Reuniões: periódicas (2 vezes por semana). 
Patrimônio: o rossio, destinado para edificações, logradouros e pastos públicos + ruas, praças, caminhos, pontes, chafarizes etc. As terras do rossio poderiam ser concedidas para particulares ou afordas. 
Finanças, formadas com os rendimentos que devia arrecadar: foros (renda dos chãos aforados) e tributos. 2/3 da renda municipal pertenciam à Câmara e 1/3 pertencia ao Real Erário da Capitania.
Nomeações: juiz almotacel (encarregado de fiscalizar o comércio de gêneros de abastecimento e a higiene e limpeza públicas); juiz vintenários ou de vintena, com jurisdição nas freguesias (um para cada uma) e atribuições iguais aos dos juizes-de-fora e ordinários, em menor âmbito; escrivão, síndico etc. 
Ouvidores e corregedores de comarca e dos governadores: intrometiam-se em questões de pura administração municipal. 
Ouvidores, governadores, Relação e Corte: instâncias de recurso contra atos da Câmara. 				Fonte: C. Prado Jr.
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Juízes: de fora, ordinário, almotacé, vintenário ou de
vintena
Designação não corresponde ao que hoje denominamos juízes. 
Exerciam as funções dos juízes modernos (julgavam, proferiam sentenças, resolviam litígios) e também executavam medidas administrativas. 
Executavam a lei e as obrigações do seu cargo, suscitados por seus jurisdicionados ou por si mesmos (p. 314). 
Os juízes de fora e os juízes ordinários representavam uma instância superior aos juízes de vintena e inferior do ouvidor de comarca.
Juízes ordinários: ignorantes, simples cidadãos, escolhidos por eleição e que serviam gratuitamente. 
Juízes de fora: letrados, de nomeação régia e remunerado.
 Fonte: Caio Prado Jr
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A organização militar
Modelo luso
Tropas de 1a Linha
Tropas de 2a Linha (milícias)
Tropas de 3a Linha (corpos de ordenanças)
Fontes: Francis Cotta, M.B.N da Silva, M. F. S. Gouvea e C. Prado Jr.
Realidade colonial:
tropas regulares;
tropas auxiliares (milícia);
tropas irregulares (orden)
outros tipos de corpo e serviço (capitães do mato).
Fontes: Francis Cota, p. 218.
Determinações legais versus práticas (alcançada por meio da pesquisa empírica.
Modelos lusos foram adaptados às particularidades locais).
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Tropas de 1a Linha
Características: Regular, profissional e paga.
Composição: regimentos portugueses, com efetivos que vinham do Reino, e, complementando, tropas recrutadas na colônia (em princípio, apenas brancos, mas, dado o caráter mestiço da população, foram aceitos pretos e mulatos não muito escuros).
Recrutamento das tropas na Colônia: como havia poucos voluntários, criminosos e vadios eram forçados a se alistar. Isso era insuficiente, havendo, então, recrutamentos em que eram usuais a falta de critério e a violência, alcançando inclusive os clérigos e, sobretudo, levando a população à deserção.
Funções diferenciadas conforme a região: Rio de Janeiro, São Paulo e Bahia (fortalezas + enfrentamento de tropas que viriam do mar); Mato Grosso e Amapá (defesa das fronteiras terrestres); Sul (expulsão dos castelhanos) e Minas Gerais (segurança interna; especialização policial precoce – Cota, p. 218).
Condições(em MG): recebia soldo, fardamento, farinha, azeite, cavalos e assistência médica
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Milícias (2a)
Criadas em Portugal em 1641.
Organização: até fins do século XVIII, em terços e, de fins do século XVIII em diante, em regimentos. 
Patentes superiores (com a organização em regimentos): coronel, tenente-coronel e major.
Bases para a organização: as freguesias e as hierarquias sociais e raciais (p. ex., artífices, pardos, mulatos, pretos). 
Organização nas capitanias: falta de uniformidade. 
Serviço obrigatório e não remunerado.
Recrutamento: toda a população masculina livre e forra.
MG: Cavalaria (homem branco) e Infantaria (regimentos separados de brancos, pardos e negros libertos). Equipamentos e armas por conta dos soldados ou do comandante. 
Comando: oficiais escolhidos na população civil (que não podiam escapar dessa obrigação) e algumas patentes regulares destacadas para as organizar e instruir. 
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Ordenanças (3a)
Bases legais: Leis de dezembro de 1569 e de 10/12/1570, Provisão de 1574 e Regimento de Ordenanças, de 1758.
Patentes superiores: capitão-mor e sargento-mor, correspondentes, na organização em regimentos, respectivamente, a coronel e tenente-coronel. Ficavam com os chefes e mandões locais.
Papéis: militar e administrativo (realização de obras públicas, coleta de tributos, controle dos índios). 
Organização: regimentos (brancos) e terços (não-brancos), divididos em companhias, por sua vez subdivididas em esquadras. Terços: comandados por um capitão-mor, com jurisdição sobre a população do termo respectivo. Companhias (250 homens): comandadas por um capitão, um tenente e um sargento ou alferes. Esquadras (15 homens): comandadas por um cabo. 
Composição: toda a população masculina, entre 18 e 60 anos, não alistada na tropa de linha ou nas milícias e não dispensada do serviço militar (oficiais da Justiça e da Fazenda). 
Força de caráter local: só agia no lugar em que se formava e em que residiam seus efetivos, em convocações e exercícios periódicos e, eventualmente, em serviços locais.
Recrutamento: não havia. Apenas fazia-se um arrolamento, pois toda a população masculina em teoria engajava-se nelas. 
Veículo de ascensão social e de constituição de redes clientelares.
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Ouvidor e corregedor da comarca
Corregedor: função geralmente acumulada pelo ouvidor.
Intrometia-se em assuntos de estrita natureza municipal, também de competência das Câmaras. Por exemplo: arrematação dos rendimentos, autorização de imposições e despesas; provimento sobre a alienação das terras do patrimônio municipal. 
Como corregedor, era fiscal da administração. Tem jurisdição na comarca e seus respectivos termos. 
Instância superior em relação à Câmara e aos Juízes. 
Exercia a função também de Intendente de Polícia, desde 1766. Era nomeado pelo soberano, para um período de 3 anos. Nas Comarcas do Rio de Janeiro e da Bahia, havia um ouvidor do cível e outro do crime, ambos fazendo parte das Relações existentes em ambas as cidades.
Fonte: Caio Prado Jr
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Relações da Bahia e do Rio de Janeiro 
Órgãos colegiais.
Jurisdições: Bahia, as capitanias setentrionais (menos Pará, Maranhão, Piauí e Rio Negro, subordinadas à Casa de Suplicação de Lisboa) e Rio de Janeir, as capitanias meridionais, do Espírito Santo ao Rio Grande do Sul, incluindo as interiores. 
Respectivamente, presididas pelo Governador da Bahia e pelo Vice-Rei. 
Outros membros: os ouvidores da Bahia e do Rio, agravistas, procurador, juiz da Coroa etc., todos com o título de “desembargadores”. 
Atribuições: judiciárias e administrativas, assemelhando-se mais, porém, aos modernos tribunais judiciários, pois atuavam sobretudo como tribunal de recursos e instância superior, não lhes cabendo nenhuma ação direta.
Fonte: Caio Prado Jr. 
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Capitanias hereditárias e Capitanias Reais
 Capitanias hereditárias: implantadas em 1534, por Dom João III, com a doação de territórios a nobres portugueses, a partir daí chamados capitães donatários.
 Obrigações dos donatários em relação às Capitanias: povoá-las, explorá-las e administrá-las, arcando com os custos desse empreendimento. O direitos dos donatários sobre as terras recebidas eram transmitidos hereditariamente aos seus descendentes. 
Entre 1534 e 1536: criadas 14 capitanias (uma delas, São Vicente, com dois lotes). Ao longo do século XVI, foram criadas outras capitanias.
Capitanias reais: como o fracasso da maior parte das capitanias hereditárias, algumas tornaram-se reais (isto é, capitanias pertencentes à Coroa). Do século XVI até o século XVIII, a Coroa estabeleceu várias capitanias reais (novas ou através da incorporação das capitanias hereditárias). 
Depois de 1757, só havia capitanias reais.
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Capitanias: tipos e subdivisões
Tipos: principais e subalternas (sujeitas às principais). Subalternas ao RJ: RS e SC. Subalternas ao PA: Rio Negro. Subalterna a PE: CE. Poderes de governo iguais, mas o título do governador diferia: nas principais, capitão-general e governador; nas subalternas, governador. 
Depois de 1763, o capitão-general do Rio de Janeiro tinha o título de Vice-Rei do Brasil. 
Divisões das capitanias: comarcas <= termos <= freguesias <= bairros.
Comarcas: compunham-se de termos, cujas sedes eram as respectivas vilas e cidades. 
Termos: dividiam-se em freguesias.
Freguesias: as paróquias (i.e., circunscrição eclesiástica, que servia para a administração civil, que tinha como sede uma igreja paroquial), que se dividiam em bairros. 
Bairros: circunscrição imprecisa. 
Fonte: C. Prado Jr
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Governo Geral, Vice-Reinado e Estados
Estado do Brasil
 Governo geral do Estado do Brasil: criado em 1548 pela Coroa, para estabelecer uma administração que viesse a se sobrepor às capitanias. 
Sede: inicialmente, Salvador. 
Repartição: entre, 1573 e 1578 e 1608-1612, o Estado do Brasil foi
repartido em dois governos, tendo por sedes Salvador e Rio de Janeiro. 
Em 1640, o Estado do Brasil foi elevado à categoria de Vice-Reino.
Deslocamento da sede: em 1763, a capital do Estado do Brasil foi transferida para o Rio de Janeiro, fixando-se nessa cidade.
Estado do Maranhão/ Estado do Grão-Pará
Em 1621, o Estado do Brasil perdeu parte do seu território, que passou a constituir o Estado do Maranhão (durou até 1652, sendo reinstaurado, em 1654, com o nome de Estado do Maranhão e Pará). 
Sede do Estado do Maranhão e Pará: até 1737, São Luís e, depois, Belém.
Em 1751, passou a chamar-se Estado do Grão-Pará e Maranhão.
Em 1774, foi extinto.
Brasil, 1815: Reino Unido a Portugal e Algarves
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Governadores das Capitanias
Chefe supremo da capitania: figura híbrida (“Governador das armas” e mais um pouco de outros órgãos, como “do ‘Governador da Justiça’, do próprio rei’). Acima de tudo, militar: comanda todas as forças armadas da capitania e das capitanias subalternas. 
Competências e jurisdições: amplas, com atribuições em todos os setores, “com relativamente poucas exceções”. Variaram com o tempo, conforme os próprios governadores e as capitanias, suas personalidades. Intrometiam-se em assuntos da alçada municipal: a) provendo cargos de nomeação da câmara (escrivão, por exemplo); b) prorrogando mandatos de juiz ordinário e outros membros; c) realizando obras públicas locais (bicas, por exemplo); d) estabelecendo providências sobre o comércio de gêneros de primeira necessidade etc; e) escolhendo, a partir de listas tríplices organizadas pelos Senados das Câmaras, o capitão-mor, sargento-mor e capitão, oficiais superiores das ordenanças.
Força: nenhuma autoridade colonial equiparava-se aos governadores, tidos como representantes do próprio rei, inclusive no beija-mão. A distância de Lisboa dava-lhes mais poderes. 
Limites: a) prestavam contas pormenorizadas da sua gestão, principalmente quando se findava; b) eram objeto de queixas e críticas, ouvidas pela Coroa; c) demais autoridades coloniais funcionavam como contrapesos; d) tinham apenas assento nas Relações e nos órgãos fazendários, que eram organizados de forma colegiada; c) havia órgãos sem interferência nenhuma dos governadores (Intendências do ouro e dos diamantes e Mesas de Inspeção).
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Órgãos fazendários
Geriam o Real Errário nas capitanias do Brasil (não tendo patrimônio próprio, não se distinguiam do Erário da Monarquia em geral). 
Funções: arrecadar tributos e efetuar despesas, não havendo subordinação entre eles, nem em relação aos governadores. 
Órgãos:
a) Junta da Fazenda: era o principal órgão da administração da fazenda, tinha forma colegial e era presidido pelo governador. 
b) Junta de Arrecadação do Subsídio Voluntário (instituído em 1756, por dez anos, para custear a reedificação de Lisboa, destruída por um terremoto em 1755, mas veio a perpetuar-se, sendo arrecadado ainda no Império): presidida pelo governador.
Alfândega: arrecadava os direitos de importação.
Tribunal da Provedoria da Fazenda: que corresponde ao que hoje desenvolvem as procuradorias fiscais, acrescentando-se outras atribuições fazendárias (p. ex., expedir guias para o pagamento de tributos da passagem para Minas Gerais, no caso da Provedoria do RJ).
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Tributos
Tributos ordinários: dízimo (10a parte de qualquer produção, pagos em espécie, i.e, dinheiro, o que era grave, numa economia com escassez de moeda), direitos de alfândega; passagens dos rios e registros; as entradas (em MG); imposições especiais sobre bestas que vinham do Sul e se cobravam em SP; donativos, terças partes e novos direitos, que eram pagos pelas serventias de ofícios de justiça; emolumentos de provisões e patentes (nomeações para cargos públicos). 
Outros tributos: subsídio literário (instituído em 1772); subsídios extraordinários – ambos cobrados com imposições especiais sobre aguardente, gado entrado nos açougues, outros gêneros de consumo, capitação dos escravos. 
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Arrecadação de tributos
Feita geralmente por “contrato” (i. e, entregue a particulares, por um certo período de tempo, geralmente 3 anos, por uma soma global que o contratador se obrigava a pagar ao Erário, em troca dos tributos que ficavam por sua conta). 
Esses contratos eram leiloados, ficando com quem desse mais. Quando o Erário fazia a arrecadação ele mesmo, dizia-se que o “contrato” estava sob “administração”. 
Os contratadores eram ávidos e intolerantes, praticando extorsões e tornando-se insolventes. O sistema era “uma das mais maléficas práticas do governo colonial”, p. 321. 
Os agentes de poder tratavam com favoritismo e vistas gordas os contratadores que eram seus amigos ou comparsas, endividados com a fazenda pública. 
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Documentos para análise
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“Sermão da Visitação de Nossa Senhora” - Padre Antônio Vieira (2/07/1640), em saudação a D. Jorge de Mascarenhas, primeiro vice-rei do Brasil
Prêmio e castigo são os dois pólos em que se revolve e sustenta a conservação de qualquer monarquia e porque ambos estes faltaram sempre ao Brasil, por isso se arruinou e caiu. Sem justiça não há reino, nem província, nem cidade: nem ainda companhia de ladrões que possa conservar-se. [...] Que a causa por que os reinos e as monarquias se não conservam debaixo do mesmo Senhor, a causa porque andam passando inconstantemente de umas nações a outras, como vemos, é proper injustitias, por injustiças. As injustiças da terra são as que abrem a porta à justiça do céu [...] Pois se por injustiças se perdem os estados do mundo, se por injustiças os entrega Deus a nações estrangeiras, como poderíamos nós conservar o nosso, ou como poderemos restaurar depois de perdidos, senão fazendo justiça? O contrário seria resistir a Deus e porfiar contra a mesma fé. (p. 139-141)
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Arte de Furtar, editado em 1744, datado de 1652, livro de autoria indefinida 
“Das injustiças, nasce a tirania, não para estar ociosa, mas para obrar mais injustiças. É assim que os autores a dividem em duas, quando a definem. A primeira se dá quando ocupa um reino com violência, contra as leis. A segunda quando o rei governa contra as mesmas leis” (p. 98).
“A nobreza das ciências colhe-se de três princípios: o primeiro é o objeto, ou matéria, em que se ocupa; segundo as regras e preceitos de que consta; terceiro os mestres e sujeitos que a professam. Pelo primeiro princípio, é a teologia mais nobre que todas, porque tem a Deus por objeto. Pelo segundo, é a filosofia, porque suas regras e preceitos são delicadíssimos e admiráveis. Pelo terceiro, é a música, porque a professam anjos, no céu e, na terra, príncipes. 
E por todos esses três princípios é a arte de furtar muito nobre, porque o seu objeto e matéria em que se emprega é tudo o que tem nome de precioso. As suas regras e preceitos são sutilíssimos e infalíveis; e os sujeitos e mestres que a professam, ainda mal, que as mais das vezes são os que se prezam de mais nobres, para que não digamos que são senhorias, altezas e majestades”.

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