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p U T R O S L I V R O S DE NOSSA EDIÇÃO A M A R A L , Rafael Caiado (Advogado em Brasí l ia) ^ Peter Hãberle e a Hermenêutica Const i tucional ^ R A Ú J O , Cláud ia de R. M. (Profa. da U D F de Brasí l ia) • O Dire i to Const i tuc ional de Resistência ^ A P P E L L E T T I , Mauro (Prof. da Univers. de Florença , Itália) ^ O Controle Judic ia l de Constitucionalidade das Leis no D i r e i t o Comparado fcoNI, Luís Cláudio (Mestre em Direito) ) A Internacionalização do Poder Constituinte £ U N H A , Paulo Ferreira da (Prof. da Faculdade de Direito do Porto - Portugal) ^ Anti-Leviatã - D i r e i t o , Política e Sagrado p O D O Y ? Arnaldo Sampaio de Moraes (Doutor em Direito) • Direito Constitucional Comparado H à B E R L E , Peter (Prof. da Univers. de Augsburg - Alemanha) l Hermenêutica Consti tucional - a Sociedade Aberta dos Intérpretes da Constituição r í E S S E , Konrad (Prof. da Univers. de Freiburg. im Br.) } A Força Normat iva da Constituição • Elementos de Dire i to Constitucional da República Federal da Alemanha LOPES, Ana Maria D ' A v i l a (Dr. em Direito pela Univers. Federal de M G ) • Os Direitos Fundamentais como Limites ao Poder de Legis lar > MATTOS, Patr ícia Castro (Advogada em 3ras í l i a ) • As Visões de Weber e H a b e r m a s sobre Política e D i r e i t o ^ A D I L H A , Norma Sueli (Doutora em Direito) I Colisão de Direitos M e t a i n d i v i d u a i s e Decisão Judic ia l ROTHENBURG, W. Claudius «'Procurador da Repúbl ica) • Princípios Consti tucionais SANTOS, Mar í l ia Lourido dos (Mestre em Direito e Magistrada) • Interpretação Const i tucional no Controle das Políticas Públicas SCHERZBERG, Arno (Prof. da Univers. de Erfurt/Alemanha) • Para Onde e de que F o r m a vai o Dire i to Público? SOUZA, Lu iz Eduardo de (Prof. da Univers. Federal do Pará) O Direi to à L i b e r d a d e : os Sentidos Positivos e Negativos ISBN 978-857525-462-2 TEIXEIRA, Anderson Vichinkeski (Doutor em Filosofia do Direito) Estado de Nações - Hobbes e as Re lações Internacionais no Século X X I PETER HÄBERLE OS PROBLEMAS DA VERDADE NO ESTADO CONSTITUCIONAL Tradução de Urbano Carvelli 1 Sergio Antonio Fabris Editor OS PROBLEMAS DA VERDADE NO ESTADO CONSTITUCIONAL 'Wahrheitsprobleme im Verfassungsstaat PETER HÄßERLE Prof. Dr. Dr. h.c. mulL Diretor do Instituto de Direito Europeu e Cultura Jurídica da Universidade de Bayreuth Diretor do Centro de Pesquisas para o Direito Constitucional Europeu da Universidade de Bayreuth OS PROBLEMAS DA VERDADE NO ESTADO CONSTITUCIONAL Wahrheitsprobleme im Verfassungsstaat Tradução: Urbano Carvelli Professor na Faculdade de Direito da Universidade de Colônia - Alemanha Sergio Antonio Fabris Editor Porto Alegre/2008 ©, 1995 Nomos Verlagsgesellschaft mbH &: Co. KG ©, 2008 Peter Hãberle, Apêndice ©, Sergio Antonio Fabris, da tradução e publicação, em língua portuguesa Título original: Wahrheitsprobleme im Verfassungsstaat Editoração Eletrônica: Formato Artes Gráficas CNPJ: 73.390.007/1000-30 H I I 4 p Hãberle, Peter Os problemas da verdade no estado constitucional / Peter Hãberle; tradução: Urbano Carveili. - Porto Alegre : Sergio Antonio Fabris Ed. , 2008. 142p. ; 15,5x22 cm. Tradução de: Wahrheitsprobleme im Verfassungsstaat. I S B N 978-857525-462-2 1. Filosofia do Direito. 2. Teoria do Estado. 3. Direito Constitu- cional. I. Título. C D U - 3 4 0 . 1 2 Bibliotecária Responsável: Inês P.-.terle, CRB-10/631. Reservados todos os direitos de publicação, total ou parcial, a SERGIO ANTONIO FABRIS EDITOR Rua Riachuelo, 1233-Centro :.ÍjE- Telefone (0xx51) 3227-5435 CEP 90010-273 - Porto Alegre - RS E-mail: fabriseditor@terra.com.br Site: www.fabriseditor.com.br ^ Rua Santo Amaro, 345 - Bela Vista Telefones (Oxxl 1) 3101-5383 CEP ü 1315-001 - São Paulo - SP SUMÁRIO Prefácio à edição brasileira ... Prefácio à edição alemã de 1994 Prólogo do tradutor Vida e obra de Peter Hãberle Abreviaturas alemãs . Equivalência das abreviaturas alemãs \ P r i m e i r a p a r t e P r o b l e m a , questões iniciais I. Atualidade I I . Primeiras indagações às teorias da verdade Segunda p a r t e Elementos de u m a aval iação I. O problema da verdade sob a ótica de textos jurídicos 1. Textos constitucionais ... 2. Textos da legislação ordinária ............. Excurso I: O Codex Iuris Canonici (1983) e a encíclica «veritatis splendor» (1993) Í238S 1 Excurso I I : Direito Internacional (particularmente Hugo Grotius e a positivação de seus textos clássicos) ... ) I I . O problema da verdade sob a ótica de textos clássicos ) das ciências e das artes (uma seleção) „ 56 j 1. Václav Havei 56 2. Outros textos clássicos 58 l 3. Poetas, pintores e músicos ! 69 j 4. Em particular: sentenças de J. W. von Goethe a respeito do conceito da «verdade» 79 \ 5. Em particular: aspectos da verdade («truth») na ) obra de William Shakespeare 85 Incurso I: O problema da verdade sobre a ótica da discussão V e da análise do passado na Alemanha Oriental) . 92 ) Incurso I I : Os novos caminhos e procedimentos da Europa : do Leste na questão da busca pluralista e aberta da verdade 99 \ Terceira parte j Considerações-teórico-constitucionais } I. Princípios, vias e procedimentos do Estado constitucional como fórum para o pluralismo de idéias 105 )- 1. Considerações gerais 105 (; 2. As três liberdades culturais fundamentais 108 3. As questões da verdade numa democracia pluralista 113 DL A proibição constitucional da mentira 118 1. Considerações gerais \\% 2. Ficções jurídicas........ , 121 m. Verdade como «conceito conexo» à liberdade, à eqüidade e ao bem comum no Estado Constitucional 123 1. Considerações gerais . _ 123 2. O debate «autônomo» sobre a verdade dos juristas '. 125 Apêndice - Continuação do ano de 2001 Os problemas da verdade no Estado constitucional - um balanço .... 129 PREFÁCIO À EDIÇÃO BRASILEIRA I « Esse prefácio deve ser iniciado com uma dupla palavra de agra- decimento - uma no sentido especial e outra no sentido geral. O agradecimento especial é endereçado a Editora Fabris e ao seu diretor Sergio Antonio Fabris pela iniciativa de publicação do livro "Wahrheitsprobleme im Verfassungsstaaf (1995 / 2001) na língua portuguesa - aliás, a mesma editora já publicou uma excelente tradu- ção da obra "Offenen Gesellschaft der Verfassungsint°.rpreten" com o título "Hermenêutica Constitucional" realizada pelo Prof. Dr. Gilmar Ferreira Mendes (Brasília) no ano de 1997 e íepublicada no ano de 2002. Além disso, o agradecimento também é devido ao já versado e meticuloso tradutor desta obra: Prof. Urbano Carvelli (Colônia), mes- tre e doutorando em direito pela Universidade de Colônia e ainda de- cente na Faculdade de Direito desta instituição, o qual já é notório tanto pelo profundo conhecimento do direito alemão quanto também através da tradução de outrns obras jurídicas. E uma grande sorte da editora ter encontrado esse jurista e tradutor tão sensível e soberano, o qual domina o idioma alemão como alguns poucos juristas brasileiros. O agradecimento geral é endereçado à comunidade científica brasileira que trata do Estado constitucional. A teoria do direito do Estado alemão já mantém há algum tempo um intercâmbio intensivo de temas e pesquisadores com essa comunidade. Assim, publicou-se no Jahrbuch des öffentlichen Rechts - revista da qual sou editor-chefe - uma tradução da interessante Constituição da República Federativa do Brasil de 19881 coordenada pelo Prof. Dr. Wolf Paul; a tradução do livro "Conversaciones Académicas con Peter Hãberle"2 coordenada pelo Prof Dr. Diego Valadés na língua portuguesa (graças ao empe- nhodo Prof Dr. Gilmar Ferreira Mendes) também já está no prelo e há dois anos uma publicação sobre a dignidade da pessoa humana3 coordenada pelo Prof Dr. Ingo Wolfgang Sarlet comportava um en- saio de minha autoria e ainda outros ensaios de pesquisadores ale- mães. Também gostaria de referenciar a entrevista publicada na re- vista "Consulex"4, a qual foi gentilmente traduzida por Pedro de Mello Aleixo Schrerer e de agradecer a Marcos Augusto Maliska pela exce- lente coordenação dos trabalhos da obra "Estado Constitucional Coo- perativo" publicada no ano de 2007. Ademais, a reputação do Prof Paulo Bonavides no direito constitucional brasileiro é bem conhecida na Ale- manha. Inesquecível também permanece a hospitalidade com a qual fui recebido durante a minha viagem ao Brasil pelas cidades de Fortaleza, Brasília, Porto Alegre, São Paulo e Florianópolis. Traduzir é exercer a "arte de servir". Entretanto, traduzir tam- bém comporta algo de criador, pois exige tanto um elevado poder de compreensão dos idiomas quanto também das linguagens jurídi- cas e científicas. Traduzir é, sem dúvida, uma atividade extenuan- te - todavia não é uma atividade ingrata: o autor gostaria de agrade- cer mais uma vez Prof Urbano Carvelli pelos extensos trabalhos de tradução dessa obra. 1 JÕR38, 1989, p. 462 ff. 2 D. VALADÉS (Hrsg.), Conversaciones Académicas con Peter Hãberle, Universi- dãd Nacional Autônoma de México, 2006. 3 I. WOLFGANG SARLET (Hrsg.), Dimensões da dignidade: ensaios de Filosofia do Direito e Direito Constitucional, 2005, p. 89 ff. 4 P. DE M E L L O ALEIXO SCHRERER, Teoria constitucional jurídico-comparati- va, in: Revista Consulex, Nr.. 232, 15 de setembro de 2006, p. 9 ff. Tendo em vista o "annus mirabilis" de 1989 na questão do Esta- do constitucional, o qual foi quase dialeticamente impedido através do • "annus horribilis" de 2001, necessita-se de^um intercâmbio intensivo entre todas as comunidades científicas que tratam do protótipo do Estado constitucional. Hoje é possível observar recepções e produções em quase todo o mundo na forma do intercâmbio da tríade: textos constitucionais, teorias e praxis (sobretudo dos tribunais constitucio- nais). No entanto, neste processo inexiste uma "via de mão única": a . "velha Europa" também pode aprender de Estados corstitucionais jovens como a Colômbia e o Brasil. As comissões da verdade tratadas nesta obra são um bom exemplo. O "projeto perpétuo" da "paz eterna" no sentido de /. Kant (1795) deve procurar e encontrar o seu ponto crucial na infindável luta pelo Estado constitucional e seus fundamentos. O direito internacio- nal, na qualidade de direito constitucional da humanidade {Peter Hãberle), necessita do Estado constitucional como garantia e do espa- ço público mundial como fórum. O catedrático nacional de direito do Estado consegue oferecer aqui apenas uma pequena contribuição - a qual certamente pode ser intensificada graças ao diálogo com outros catedráticos de direito do Estado doutros confins longínquos desse mundo. Porém, enquanto a América Latina não possuir uni "Alexan- der von Humboldt das ciências jurídicas'*, devj-se avançar passo a passo. A monografia aqui publicada talvez contribua para esse fim. n A seguir comentarei, através de algumas palavras-chave, a per- sistente atualidade temática dos "problemas da verdade no Estado constitucional". Tal persistência se deixa comprovai' em diversos cam- v pos da política, das ciências e da arte. Porém, tendo em vista as pre- - tensões moderadas de um "prefácio", não poderei iniciar aqui uma ampla continuação desse tema. Assim, os novos e os velhos surpreen- dentes âmbitos do problema deixar-se-ão delinear apenas de maneira fragmentar. Detalhadamente: como exemplos relevantes de "grande dimensão política" é interessante citar aqui a controvérsia na Europa em relação à resolução sobre a Armênia do Parlamento francês no ano 9 de 2001, na quai c extermínio em massa dos armênios em 1915 é de- nominado como genocídio - pois aqui se trata de verdade ou mentira5. Também os apontamentos sobre "Katyrí1, ou seja, o extermínio em massa de poloneses pela União Soviética6. Digno de nota para e na Alemanha é a instituição que foi criada para administrar e analisar as injustiças cometidas pelo órgão de proteção do Estado da DDR e do SED - a "Stasi"7. Ademais, uma análise da história contemporânea nos leva até a Rússia. Perante o terror em Beslan (por parte dos guerrilheiros che- chenos) as instituições russas emaranharam-se em mentiras notórias e minimizaram diversos atentados8. Enfim, o Marrocos também merece a nossa atenção. A bem aventurada invenção jurídico-constitucional da comissão da verdade, como uma nova instituição, frutificou por já 9 . A seguir mencionarei os âmbitos dos problemas nas ciências através de palavras-chave. A teologia - e ela não é uma "ciência" apenas na concepção alemã - tem proporcionado textos relevantes sobre esse tema. Isso vale por exemplo para a encíclica "Fides et Ra- tio" proclamada pelo Papa João Paulo II no ano de 1998. Já no prelú- dio (numa forma de preâmbulo) temos: "A fé e a razão (fides et ratio) constituem como que as duas asas pelas quais o espírito humano se eleva para a contemplação da verdade". Nos capítulos e cifras tem-se a verdade como um aspecto central, como por exemplo, na cifra I: "(...) caminho que, ao longo dos séculos, levou a humanidade a en- 3 Da imprensa, por exemplo, C ÖZDEMIR, Lanier Gang am Bosporus - Was gegen eine Armenien-Resolution spricht, in: FAZ de Z c*e abril de 2001, p. 54. 6 Vgl. S. KARNER, Katyn: Nur einen Teil zugeben - Zum Umgang mit der Wahrheit in der Sowjetunion, in: FAZ de 22 de outubro de 2001, p. 9. 7 Sobre esse assunto vide: P. CARTENS, Der Organisator der Wahrheitsfindung nimmt Abschied von den Akten - Joachim Gauck verläßt seine Behörde, in: FAZ d e 3 0 d e setembro d e 2000, p . 4 . T " ' • 8 Vgl . M. WEHNER, Eine Kette von Lügen im Sommer des Terrors -• Desinfor- mationen aus Moskau, in: FAZ de 10 de setembro de 2004, p. 3. 9 Vgl. L. WTELAND, Marokko steüt sich seinen "bleiernen Jahren" - Mohamed VL reagiert auf den Beruht einer "Wahrheitskommission" und setzt eine vorsichtige Liberalisierung fort, in: FAZ de 13 de fevereiro de 2006 - da literatura sobre a África do Sul: P. K. RAKATE, The Truth and Reconciliation Commission of South África Report: A Review Essay, in: Verfassung und Recht in Übersee 33, 2000, p. 371 ff. contrar-se progressivamente com a verdade (...)"; cifra 2: "diaconia da verdade"; cifra 25: "objeto próprio deste desejo é a verdade"; no sub- título do capítulo Hl : "Os diferentes rostos da verdade do homem"; cifra 29: "A sede de verdade". O novo Papa Bento XVI, na ocasião de sua consagração como bispo na catedral de Munique em 1977, esco- lheu o seguinte lema: "Mitarbeiter der Wahrheit (Colaborador da Verdade). No âmbito da ciência política, o renomado cientista dessa "matéria" em Sankt Gallen, Prof. Dr. Alois RiJdin, dedicou a sua aula de despedida no ano de 2001 ao tema "Wahrhaftigkeit in der Politik (Veracidade na Política). Certamente provocante também é um ensaio como o de Ulrich Greiner com o tema "Macht und Lüge sind unzertrennlich11 (Poder e Mentira são Inseparáveis)10. Na teoria do Estado, Dr. Siegbert Morscher, ex-membro da Corte Constitucional da Áustria, dedicou-se a um tema dentro da obra "Philosophie im Geiste Bolzanos1lU (Filosofia no Espírito de Bolzano), o qual é quase um "tema contemporâneo": "Zu einigen «ewigen Wahrheiten» der Staatsrechtslehre11 (Sobre Algumas «Verdades Eternas» da Teoria Jurídica do Estado). Este tema bncontrou especialmente na Alemanha um âmbito de atuação próprio na questão das sanções contra os comportamentos cientí- ficos incorretos. A deutsche Hochschulverband (Associação dos Profes- sores e Docentes das Universidadesalemãs) proferiu uma resolução a esse respeito no dia 5 de abril de 2000 e promoveu com êxito a imple- mentação de comissões independentes em todas as universidades. Abo- minada é a "desonestidade científica", por exemplo através da falsifica- ção de dados, uso desautorizado da obra intelectual de outrem ou estorvo da atividade de pesquisa alheia12. O autor dessas linhas foi membro de uma tal comissão da Universidade de Bayreuth entre os anos de 2001 e 2006. Em suma, trata-se de uma comissão da verdade especial dedicada apenas à ciência. Em Portngdl^Christina Queiroz tratou recentemente do U. GREINER, Macht und Lüge sind unzertrennlich, in: Die Zeit de 17 de fevereiro de 2000, p.4. J1 A. HIEKE / O. NEUMAIER (Hrsgs.), Philosophie im Geiste Bolzanos, p. 243 ff. 1 2 Vgl . DEUTSCHE HOCHSCHULVERBAND, Zeitschrift Forschung und Lehre, Nr. 6, 2000, p. 292.' 11 tema "A Verdade e as Formas Jurídicas", numa publicação dedicada a Prof. Dra. Isabel de Magalhães Colloco13, Na ciência jurídica, o problema da verdade permanece na ordem do dia - especialmente na Alemanha e sobretudo em relação à punibi- lidade da negação de Auschwitz14. Por fim, citemos publicações jurídi- cas novas e antigas como "Recht und Wahrheif'15 (Direito e Verdade), "Recht und Lüge"16 (Direito e Mentira) e ainda uma publicação cole- tiva do jornalista e jurista Robert Leicht com o título "In Wahrheit frei9 (Livre na Verdade)11. No âmbito europeu da União Européia,, a notícia dejque a Grécia. obteve a sua admissão na zona de implementação monetária do Euro de maneira "fraudulenta"18 - pois o seu déficit orçamentário entre 1997 e 1999 estava acima do limite estabelecido de 3% do produto interno bruto - deveria estarrecer. Tranqüilizador, porém, e o fato de que o Bundesverfassungsgericht (Tribunal Constitucional Federal) estabeleceu em uma decisão recente19 a Gebot der Wahrheit und Vollständigkeit des Haushaltsplanes (máxima da verdade e da inte- gralidade orçamentária)20. Ao rememorarmos o recente reconhecimento feito pelo consa- grado poeta alemão Günter Grass de uma vida em mentira em relação a sua atuação nas fileiras das tropas SS da Alemanha nazista por um 1 3 C. QUEIROZ, A Verdade e as Formas Jurídicas, in: R. M A N U E L DE MOURA RAMOS (Hrsg.), Estudes em homenagem à professora doutora Isabel de Maga- lhães CoLlaço, 2006, Bd.II , p. 921 f f . . : 14 Sobre esse tema consultar T. WANDRES, Die Strafbarkeit des Auschwitz- Leugnens, 2000; veja também A. Koch, Zur Strafbarkeit der „Auschwitzlüge" im Internet: BGHSt 46, 212, in: JuS, 2002, p. 123 ff. . 15 D. PATTERSON, Recht und Wahrheit, 1999. 16 O. DEPENHEUER (Hrsg.), Recht u.zd Lüge^2X)Q5. 1 7 R. LEICHT, In Wahrheit frei, 2006. 18 W. MUSSLER, Griechenland erschwindelte Euro-Beitritt - Haushaltsdefizit lag zynischen 1997 und 1999 über 3 Prozent / Konsequenzen offen, in: FAZ de 16 de novembro de 2004, p. IL 19 BVerfG, 2 BvF 1/04 de 9 de Julho de 2007. J. JAHN / M. SCHAFERS, Karlsruhe für Begrenzung der Staatsverschuldung Verfassungsgericht weist Klage der früheren Opposition zurück / "Pflicht zur Schätzgenauigkeit", in: FAZ de 10 de julho de 2007, p. 1. lado (uma vez que ele foi visto durante vários anos como a "consciên- cia da Nação alemã", tão maior foi a decepção de seus leitores e admi- radores há dois anos - dentre os quais figura também o autor) e o trato dos Estados Unidos da América para com a cultura indígena outrora destruída2" por outro lado, teremos então o seguinte resultado: a ver- dade é um tema da humanidade e ao mesmo tempo um tema de toda e qualquer pessoa na totalidade de sua precária existência individual. Assim, a verdade permanece um tema para todas as ciências - sobre- tudo para umà ciência da cultura compreendida como uma teoria constitucional com "weltbürgerlicher Absicht" (intuito cosmopolita), pela qual o autor luta desde 1982. Bayreuth em agosto de 2007 Peter Hãberle 2 1 A esse respeito veja: H.-P. RIESE, Die große Lüge: Sie dürfen mitbestimmen und \ voll Nostalgie zurückblicken: Ein neues Museum für die Indianer Amerikas in Washington, in: FAZ de 5 de outubro de 2004, p. 36. 13 PREFÁCIO À EDIÇÃO ALEMà DE 1994 A pequena monografia aqui publicada tem por base os trabalhos preparatórios, os quais foram possíveis no decorrer do tempo regala- do ao autor no Colégio Científico em Berlim (1992/93). Agradece-se aqui novamente por esse ano. De volta a Bayreuth e, respectivamente, a Sankt Gallen foram feitos alguns aprimoramentos, os quais se refletem, por exemplo, no artigo sobre as «Perspektiven einer kulturwissenschaftlichen Trans- formationsforschung» {perspectivas de uma pesquisa transformado- ra científico-cuhural)\ O autor agradece aos colegas Michael Sto- lleis e Hans Meyer bem como a Ingolf Pernice em Frankfurt am Main por algumas sugestões posteriores à ocasião do ensaio de uma versão reduzida, na forma de uma preleção, no dia 27 de outubro de 1994 na Faculdade de Direito daquela cidade. Em homenagem a Werner võn Simson, o autor expôs no dia 24.de novembro de 1994 uma variante no seminário de Direito Europeu de Jürgen Schwarze na cidade de Freiburg em Breisgau. Na discussão subseqüente che- 1 P. HABER 1 £, Perspektiven einer hdturwissenschaftlicben Transformationsforschung, in: Europäische Rechtskultur, 1994, p. 149; 161 ff.) 15 gou-se a conversas proveitosas com Werner von Simson, Konrad Hesse, Alexander Hollerbach, Jürgen Schwarze e Wolfgang Graf Vitzthum, aos quais também se agradece. Esse livro é dedicado a Faculdade de Direito da Universidade Aristóteles de Salônica na República Helénica, a qual conferiu ao autor o título de Doutor honoris causa (Dr. h. c ) . Bayreuth, em dezembro de 1994 Peter Hãberle PRÓLOGO DO TRADUTOR O trato do direito pressupõe - ao menos - um domínio intelectual de sua ciência Porém, ao tratarmos do e cem o Direito em um sistema jurí- dico alienígena também é necessário ter uma pequena noção de seus di- tames, de sua funcionalidade e das condições gerais aonde aquilo que se lê maturou. Tais palavras são certamente repetitivas aos olhos do jurista contemporâneo, o qual já está ciente da necessidade de domínio e inser- ção profissional em contextos supranacionais, tanto em relação às noções fundamentais sobre as ordens jurídicas alienígenas quanto em relação à capacidade de avaliação jurídica de assuntos pertinentes que excedam as fronteiras nacionais. Assim, nas próximas páginas, o leitor irá encontrar uma obra nata nas dependências alemãs de um ambiente europeu ime- diatamente posterior à queda do muro de Berlim, o fim da cortina de ferro e à abertura do Leste Europeu. Todavia, se as variáveis da vivência euro- péia e da perspectiva alemã faltam ao âmago do processo cognitivo no dia-a-dia de alguns de nós brasileiros, a dogmática não o faz necessaria- mente. Já em 1997, a Editora Fabris lançava o trabalho do Prof Dr. Dr. h.c. mult. Peter Hãberle no mercado lusófono com o título uHermenêuti- ca constitucional: a sociedade aberta dos intérpretes da constituição: contribuição para a interpretação pluralista e "procedimental" da cons- tituição ". A tradução contou com a pena do Prof Dr. Gilmar Ferreira Mendes então Advogado-Geral da União e atualmente Ministro do Su- premo Tribunal Federal. Hoje, alguns anos mais tarde, a Editora Fabris coloca mais uma ine- xorável obra do Prof. Dr. Dr. Kc. mult. Peter Haberle a disposição do público lusófono: Oz problemas da verdade no Estado constitucional. Assim, este livro é uma tradução literal, com algumas poucas adaptações, da obra alemã do ano de 1994 publicada sob o título "Wahrheitsprobleme im Verfassungsstaaf pela Editora Nomos (Baden-Baden). Contudo, para o deleite da comunidade científica e dos leitores em geral, a obra aqui apresentada pela Editora Fabris apresenta um novum, um diferencialem relação àquela alemã: a continuidade temática se estende dos anos de 1994 a 2007! Seguindo uma solicitação do autor,\acrcscentamos no apên- dice um ensaio publicado no ano de 2001 \ no qual, como uma continua- ção temática, são feitas novas reflexões e um balanço sobre os problemas da verdade no Estado constitucional da nossa atualidade. Ademais, a continuidade do trato temático dos problemas da verdade e, sobretudo, a atualidade temática e o ineditismo científico desta edição brasileira tam- bém podem ser apreciados no Prefácio à Edição Brasileira, preparado especialmente para esta edição. Em nome de Sergio Antônio Fabris Edi- tor gostaria de agradecer o Prof Dr. Dr. kc. mult. Peter Haberle por esta preciosa contribuição. Aliás, o leitor ainda encontrará adiante uma nota denominada "Vida e Obra de Peter Haberle", aonde figura uma apre- sentação da pessoa e do cientista Peter Haberle. Tal apresentação tem, sobretudo, - sem que se sobressalte as dimensões de um prelúdio e se adquira o ca-áter de uma monografia própria - o modesto intuito de acla- rar de antemão as linhas gerais do âmbito do pensamento háberliano a partir de uma perspectiva orbital geoestacionária, a fim de que o leitor brasileiro possa, posteriormente, degustar o espectro da genialidade, da magnitude e da complexidade deste mestre alemão ao se aproximar e ter contato com o teor de sua obra. Tenho certeza que tanto os mais versados quanto os aspirantes acadêmicos irão apreciar o resultado. Ademais, a atual importância da publicação dessa obra no Brasil é mais que evidente. Vinte anos após a reconquista da democracia, as instituições constitucio- 1 P. HÄBERLE, "Wahrheitsprobleme im Verfassungsstaat'.' - eine Zwischenbilanz, . in: J. BOHNERT / C. G R A M M / U. KINDHÄUSER /J . LEGE / A RINKEN / G. ROBBERS (Hrsgs.), Verfassung - Philosophie -Kirche: Festschrift für Alexander Hollerbach zum 70. Geburtstag, 2001, p. 15 ff. 18 nais, a classe política e a sociedade civil brasileiras passam por diversos problemas mediatos e imediatos conexos à (in)verdade no Estado consti- tucional. Uma vez que o Estado laico liberal moderno está fundamentado em pressupostos, os quais ele mesmo não tem como garantir (Der freiheitliche, säkularisierte Staat lebt von Voraussetzungen, die er selbst nicht garantieren kann - Wolf gang Ersnt Böckenforde) nós, Brasileiros, em interesse da constitucionalidade do nosso Estado, deveríamos apro- veitar o ensejo histórico e ponderar urgentemente sobre o quinhão míni- mo de verdade que desejamos estabelecer como futuramente admissível em nosso Estado constitucional. Desta forma, tendo em vista a dimensão da problemática atual, tenho certeza de que este livro poderá proporcionar outros diversos pontos de discussão e reflexão que contribuam tanto para uma vida em verdade quanto para a veracidade do futuro da nossa demo- cracia, do nosso Estado de direito e do nosso Estado constitucional. Por fim gostaria de ressaltar explicitamente os mais sinceros agrade- cimentos ao Prof. Dr. Dr. h.c. mult. Peter Häberle pelo afetuoso convite, pela prazeirosa cordialidade e pela agradável estadia na cidade de Bayreuth e nas dependências de seu Instituto de Direito Europeu e Cultu- ra Jurídica e do Centro de Pesquisas para o Direito Constitucional Euro- peu, ambos alojados nas dependências científicas da Universidade de Bayreuth. Também gostaria de enaltecer o senhor Sergio Antônio Fabris pelo constante enriquecimento da cultura jurídica brasileira através da conseqüente e infatigável publicação da dogmática ultramarina e, espe- cialmente, os clássicos da dogmática alemã. Reitero ainda os meus mais sinceros agradecimentos a senhora Sandra Scholl (Mestre em Ciência Política, História Moderna e Direito Internacional - Universidade de Bonn) pela ajuda no leitorado do manuscrito e a Daniel Loretti SantAnna pelo suporte técnico no Brasil. Köln / Bonn - São Paulo, em setembro de 2007 Prof. Urbano Carvelli, LL.B., LL.M. Professor na Faculdade de Direito da Universidade de Colônia - Alemanha contato@urbano-carvelli.com 19 m VIDA E OBRA DE PETER HÃBERLE Tanto para os mais versados quanto para os aspirantes acadêmicos no mundo lusófono, o trato das questões fundamentais da ciência jurídi- ca conduz a um manancial reservado, aonde a elevada abstração e a lógica meticulosa que repousam nos dogmas desta ciência saciam a sede dos diligentes que procuram a sapiência exclusiva daqueles poucos catedráticos de projeção nacional, regional e mundial. Dentre os deten- tores de uma tal honra, o nome de Peter Hãberle figura como uma cons- tante supranacional, a qual já pertence há mu t^o tempo ao exclusivo rol dos catedráticos alemães do Direito conhecidos e respeitados em todo o mundo. Seu trabalho une de uma forma harmônica alguns paradoxos: ele permanece internacionalmente presente e é, ao mesmo tempo, sím- bolo da interioridade e da reclusão alemã, conecta o universal ao indivi- dual, é periferia e centro. Nos diversos anos em que exerceu o magisté- rio superior - o que no perímetro alemão comporta a Ciência e a Pes- quisa na melhor "acepção das palavras Peter Hãberle sempre procurou proporcionar as várias gerações de estudantes, aquilo que infelizmente aparenta estar perdido nas fileiras de produção em massa da maioria das universidades modernas: unia noção da Ciência como vida e profissão no âmbito de uma pretensão universal. A prontidão edificante, a sapiên- cia paternal e o carisma orientador de Peter Hãberle perante as novas gerações também são evidentes ao ponderarmos a escolha dos temas proferidos nas preleções de despedida das Universidades de Bayreuth e de Sankt Gallen: "Rechtswissenschaft als Lebensform" (Ciência Jurídi- ca Como Forma de Vida) e "Der europäische Jurist" (O Jurista Euro- peu) - os quais evidenciam a atemporalidade de sua cosmovisão. Ao contemplarmos a ressonância de sua vida, o esplendor científíco de sua trajetória e o inigualável reluz de seus passos que já perfazem mais de 70 anos, encontramos diversos títulos de Doutor honoris, inúmeras oarticipações em comissões constitucionais e de estudo do Direito em todo o mundo e, evidentemente, centenas de ensaios mundialmente co- nhecidos, cheios da fantasia e da genialidade que lhe são peculiares, pro- fundos na essência dogmática e de uma digestão complexa, os quais são e foram referenciados, discutidos e traduzidos em todas, as línguas euro- péias e também encontram uma crescente ressonância na dogmática das línguas científicas mundiais relevantes da nossa atualidade. Como orga- nizador e editor de diversas revistas jurídicas, o dinamismo e o cientifi- cismo de Peter Hãberle também são onipresentes. Com a meticulosidade e, sobretudo, a sobriedade científica característica da Alemanha, a mag- nitude de seu trabalho é resultado da eterna busca de uma essência jurídi- ca transfronteiras, do ânimo de uma pretensão universal. O brilhante percurso deste gênio alemão do Direito teve início no dia 13 de maio de 1934 na cidade de Göppingen. Anos mais tarde, freqüentava o curso de ciência jurídica nas universidades de Tübingen, Bonn, Freiburg e Montpellier (França). Na qualidade de discípulo do Prof. Dr. Dr. b.c. mult. Konrad Hesse e nctc acadêmico de Rudoif Smend (do qual Konrad Hesse foi aprendiz), Peter Hãberle obteve aos 27 anos a possibilidade de demonstrar a sua elevada capacidade de dominar as mais complexas variáveis do pensamento científico-jurídi- co. A ampla recepção dogmática da sua tese de doutorado publicada em 1962 sob o título "Die Wesensgehaltgarantie des Art. 19 Abs. 2 Grundgesetz" (A garantia do conteúdo essencial do artigo 19 II da „ Lei Fundamental) e as discussões posteriores já evidenciavam a sua fecundidade dentro do frutífero ambiente acadêmico alemão. Um ou- tro patamar digno de nota na vida acadêmica de Peter Hãberle é a publicaçãode sua tese de livre-docência (1969) no ano de 1970 sob o título "Öffentliches Interesse als juristisches Problem" (Interesse pú- blico como problema jurídico). Em 1971, Peter Hãberle traçava com o seu estudo "Grundrechte im Leistungsstaat" (Direitos Fundamentais no Estado de Beneficio) as linhas do entendimento dos pressupostos 22 para a implementação cos direitos fundamentais (status activus pro- cessualis). Ademais, a "interpretação cultural" do Estado e da Consti- tuição é o denominador comum áureo da dogmática hãberliana desen- volvida a partir dos anos setenta. Em seus sucessivos trabalhos de cunho teórico-constitucional, Peter Hãberle analisa os,pressupostos, os elementos e os efeitos culturais no Estado e desenvolve, por fim, a afamada obra "Verfassungslehre als Kulturwissenschaft" (Teoria da Constituição como Ciência da Cultura) publicada no ano de 1982 e reeditada - com uma farta ampliação - no ano de 1998. Ademais, o de- senvolvimento subseqüente da "interpretação cultural" da constituição e dc Estado levou Peter Hãberle a desembocar no manancial do direito comparado e a aclarar a Terra incógnita de uma "interpretação gené- tica" da constituição e do Estado. Nessa linha de pesquisa, seus estudos o levaram a publicar uma série de trabalhos. Entre tantos outros podemos citar aqui o ensaio intitulado "Gemeineuropäisches Verfassungsrechf (Direito Constitucional Comum Europeu) no ano de 1991, o iivro "Eu- ropäische Rechtskultur" (Cultura Jurídica Européia) no ano de 1994 e o livro "Europäische Verfassungslehre" (Teoria Européia da Consti- tuição) no ano 1999 (o qual já apresenta a 5a reedição). Por fim, aô comtemplarmos a totalidade dos trabalhos de Peter Hãberle é possível reconhecer, por um lado, a variável constante em- butida no âmago de seu pensamento: os clássicos europeus, os quais deram substância ao movimento constitucional europeu e ainda impul- sionaram e impulsionam o amplo desenvolvimento constitucional global. Por outro lado, podemos encontrar no ceme de sua proclamação o teor de uma teoria constitucional como ciência da cultura, a qual ectá profunda- mente enraizada na sociedade e no ser humano e que, dentre tantas parti- cularidades genéticas, difunde a premissa de uma constituição dinâmica que impede a acumulação do poder e enfatiza a livre execução tanto das liberdades quanto das igualdades inseridas na força jurídica dos (aplica- ção imediata e vinculação das entidades públicas e privadas aos) direitos fundamentais responsáveis pelo aflorar cultural da sociedade e de todos os cidadãos, os quais em liberdade e igualdade podem se considerar os verdadeiros intérpretes da constituição. Köln / Bonn - São Paulo em agosto de 2007 Prof. Urbano Carvelli, LLB., LL.M. Professor na Faculdade de Direito da Universidade de Colônia - Alemanha 23 ABREVIATURAS ALEMÃS AfP = Archiv für Presserecht AFP = Agence France-Presse AöR = Archiv des öffentlichen Rechts BAGE = Entscheidungen des Bundesarbeitsgerichts BayVBI. = Bayerische Verwaltungsblätter Bay VfGH = Bayerischer Verfassungsgerichtshof BayVGH = Bayerische Verwaltun^sgerichtshof BGB = Bürgerliches Gesetze i£h BGBl = Bundesgesetzblatt BGH = Bundesgerichtshof , BGHSt = Entscheidungen des Bundesgerichtshofes in Strafsache BRD = Bundesrepublik Deutschland BÜNDNIS 90 = BÜNDNIS 90 /Die Grünen BV = Bayerische Verfassung BVerfG = Bundesverfassungsgericht BVerfGE = Entscheidungen des Bundesverfassungsgerichts (amtliche Sammlung) B VerfGG = Bundesverfassungsgerichtgesetz BVerwGE = Entscheidungen des Bundesverwaltungsgerichts (amtliche Sammlung) CDU = Christlich Soziale Union DDR = Deutsche Demokratische Republik DFG = Deutsche Forschungsgemeinschaft DRiZ = Deutsche Richterzeitung EuGRZ = Europäische Grundrechte-Zeitschrift 25 \ f. FAZ ff. FGG FR FS G o HdBStR HGB Hrsg. Hrsgs. JöR Jura JUS JZ KJ KNA NJW NRW NZZ OLG Rdnr. RGBl. SED SPD Stasi StGB StPO SZ Vgl. VVDStRL ZaöRV ZfP ZParl. ZRP ZZP__ Folgende Frankfurter Allgemeine Zeitun? Fortfolgende Gesetz über die Angelegenheiten der freiwilligen Gerichtsbarkeit Frankfurter Rundschau Festschrift Grundgesetz Handbuch des Deutschen Staatsrechts Handelsgesetzbuch Herausgeber Herausgebern Jahrbuch des öffentlichen-Rechts der Gegenwart Juristische Ausbildung Juristische Schulung Juristenzeitung Zeitschrift Kritischer Justiz Katholische Nachrichten-Agentur Neue Juristische Wochenschrift Nordrhein-Westphalia - Neue Zürcher Zeitung Oberlandesgericht Randnummer Reichsgesetzblatt Sozialistische Einheitspartei Deutschlands Sozialdemokratische Partei Deutschlands Ministerium für Staatssicherheit Strafgesetzbuch StPO Strafprozessordnung Süddeutsche Zeitung " :.' 1 Vergleich Veröffentlichungen der Vereinigang der Deutschen Staatsrechtslehrer Zeitschrift für ausländisches öffentliches Recht und Völkerrecht Zeitschrift fur Politik Zeitschrift für Parlamentsfragen •> ' Zeitschrift für Rechtspolitik Zeitschrift für Zivilprozeß . 26 EQUIVALÊNCIA DAS ABREVIATURAS ALEMÃS AfP = Revista Arquivo para o Direito de Imprensa AFP - Agência France-Presse AöR es Revista Arquivo do Direito Público BAGE ' = Decisões do Tribunal Federal do Trabalho BayVBl. = Folhas da Administração da Baviera BayVfGH = Tribunal Constitucional da Baviera BayVGH = Tribunal Administrativoâda Baviera BGB = Código Civil BGBl = Diário (oficial) das Leis Federais BGH m Tribunal Federal BGHSt = Decisões dc Tribunal Federal em matéria criminal BRD = República Federal da Alemanha BÜNDNIS 90 = União 90 / Partido Verde BV « Constituição da Baviera BVerfG = Tribunal Constitucional Federal BVerfGE = Decisões do Tribunal Constitucional Federal (Coletânea Oficial) BVerfGG = Lei Orgânica do Tribunal Constitucional Federal BVerwGE = Decisões do Tribunal Administrativo Federal , (Coletânea Oficial) CDU = União Social-Cristã DDR = República Democrática Alemã (RDA) DFG ' ! — Fundação Alemã de Pesquisas DRiZ = Jornal dos Juízes Alemães EuGRZ = Revista dos Direitos Fundamentais Europeus f = Seguinte PA2 = Jornal Gerai de Frankfurt ff. = Seguintes PQÇJ = Lei Sobre os Assuntos da Jurisdição Voluntária PR = Jornal Panorama de Frankfurt PS = Publicação de Homenagem (a uma pessoa) QQ = Lei Fundamental (Constituição da República v da Alemanha) HdBStR = Manual do Direito do Estado Alemão HGB = Código Comercial Hrsg. = Editor Hrsgs. = Editores jõR = Anuário do Direito Público da Atualidade Jura = Revista de Instrução Jurídica JUS = Revista de Formação Jurídica JZ = Jornal dos Juristas KJ = Revista Justiça Crítica KNA = Agência Católica de Notícias NJW = Nova Revista Semanal Jurídica NRW = Renânia do Norte-Westphalia NZZ = Jornal Nova Zurique OLG = Tribunal do Estado Rdnr. = Número de margem RGB1. = Diário (oficial) das Leis Imperiais SED = Partido Socialista Unitário da Alemanha SPD = Partido Social-Democrata da Alemanha Stasi = Ministério para a Segurança do Estado StGB = Código Penal StPO = Código de Processo Penal SZ \ . = Jornal Sul-Alemão Vgi . = Confira / compare VVDStRL = Publicações da Associação dos Professores Alemães de Direito do Estado ZaÕRV = Revista para o Direito Público Estrangeiro e Direito Internacional ZfP = Revista para Política ZParL = Revista para Questões Parlamentares ZRR = Revista para Política Jurídica ZZP = Revista para o Processo Civil PRIMEIRA PARTE: PROBLEMA, QUESTÕES INICIAIS L Atualidade A atual incidência mundial do protótipo Estado constitucional, possível graças à queda dos Estados totalitários no bloco do leste e visível no processo de transição para democracias pluralistas dos paí- ses em desenvolvimento, coloca um problema na ordem do dia da nossa ciênciaconstitucional, o qual recebeu muito pouca atenção até o momento: a questão da importância dos problemas da verdade. Tem o Estado constitucional competência sobre a verdade no âmbito geral ou parcial, talvez até mesmo pretensões de verdade quando, por exemplo, há necessidade de reforma? Ou apenas nega-se a ele ou, respectiva- mente, aos seus representantes o dizer consciente da inverdade ou o agir fundado na inverdade? Tem o cidadão direito à verdade? Existe um direito humano à verdade? Fundamenta-se o Estado constitucional no plano teórico tão intensivamente sobre a verdade quanto ele é co- nexamente obrigado à eqüidade e ao'bem-comum? Devemos talvez nos restringir também aqui à busca da verdade na tradição de um Gotthold Ephraim Lessingl Existem, eventualmente, verdades relati- vas ou transitórias? Já prima facie é possível reconhecer uma gama de problemas, os quais, inicialmente, podem ser apenas esboçados. : - Que a atual teoria (comparativa) da constituição (sit vénia verbo: com «intuito cosmopolita») necessita se ocupar do problema da ver- 29 dade, não é certamente sua própria culpa. O desmoronamento do sis- tema stalinista na Europa Oriental, como um exemplo do totalitaris- mo, proporciona ao questionamento da verdade uma dimensão de profundidade constitucional e uma urgência política diária. Ao presi- dente Vácíav Havei o qual de prisioneiro político da República So- cialista da Checoslováquia chegou ao cargo de presidente da Repúbli- ca Federativa Tcheca e Eslováquia, deve-se agradecer pela atualidade da temática. Até aonde é perceptível, Havei foi o primeiro a exigir um «direito à verdade». Sensibilizados por Havei também nos deparamos nas democracias ocidentais com o problema da verdade já nos aconte- cimentos políticos diários 1: em agosto de 1991, a Itália se utilizou de 1 No publicismo diário, o tema da verdade está em conjuntura, como por exemplo: J. HABERMAS, Die zweite Lebenslüge der Bundesrepublik: Wir sind wieder ganz «normal» geworden, in: Die Zeit Nr. 51 de 11 de dezembro de 1992, p. 48; P. RÜHMKORF, Deutschland - ein Lügenmärchen, in: Die Zeit Nr. 43 de 22 de outubro de 1993, p. 67 f. - discurso na ocasião da entrega do Prêmio Büchner, G. NONNENMACHER, Unklarheiten, Halbwahrheiten über die desaströse UN- Mission in Somalia, in: FAZ de 14 de julho de 1993, p. 1; P. GLOTZ, Der Wahrheit eine Waffe, in: Die Zeit Nr. 37 de 10 de setembro de 1993, p. 57; A. JABLOKOW, Wir wollen nicht länger lügen - entrevista com o conselheiro ' ambiental de Boris Jelzin, in: Die Zeit Nr. 45 de 5 de novembro de 1993, p. 33; H. SCHUELER, Nur die Wahrheit, Die Schüsse von Bad Kleinen, in: Die Zeit Nr. 28 de 9 de julho de 1993, p. 1; D. WENZ, Moderne Wahrheit, Tradition-, Kirchen- und Kulturstreit in der Nordwestschweiz, in: FAZ de 28 de setembro de 1993, p. 7; G. BERTRAM / R. LEICHT, Die Flucht vor der Verantwortung / Die Flucht vor der Wahrheit (em relação ao fracasso europeu nos Balcãs), in: Die Zeit Nr. 49 de 2 de dezembro de 1994, p. I; J. REQUATE, Der Redakteur als Wahrheilssöldner, Die Kommerzialisierung des Zeitungswesens setzte Nachricht und Reportage gegen parteipolitische "Gesinnungsfestigkeit", in: FAZ de 7 de dezembro de 1994, p. N 6; P. KONDYLIS, Ohne Wahrheitsanspruch keine Toleranz, in: FAZ de 21 de dezembro de 1994, p. N 5; M. T H U M A N N , Lügen für Belgrad, in: Die Zeit Nr. 2 de 6 de Janeiro 1995, p. 43; Idem, Wenn Verteidigungsminister lügen, in: FAZ de 13 de Janeiro de 1995, p. 4 (em relação à guerra conduzida por Moscou na Chechênia ); A expressão a verdade é «a primeira vítima de toda guerra» já se tomou quase «proverbial» (Vgl. M. RÜB, Soldatenfreundschaft und Neutralität - Rose geht, Smith kommt/Die Unprofor-Kommandeure haben wenig Spielraum, in: FAZ de 25 de janeiro de 1995, p. 3). Dolorosamente nova é a «morte pela verda- de» dos jornalistas - como no caso do repórter J. Piest em Grosny. Sobre esse epi- sódio consultar, por exemplo, J. BUCHSTEINER, Erschossen, in: Die Zeit Nr. 4 de 20 de janeiro de 1995, p. 9. uma mentira maquiavélica. O seu governo ludibriou algumas centenas de albaneses refugiados na cidade de Bari, ao lhes prometer, ilusoria- mente, asilo ou acolhimento temporário, trunsportando-os, porém, após uma manobra de engodo, em aviões de volta ao seu país de ori- gem, aonde pesadas penas os aguardavam. Para o. Estado constitucio- nal europeu, mais especificamente para o protótipo Estado constitu- cional na Europa e para os seus povos, um tal procedimento estatal, esse trato cínico com a inverdade, deveria ser uma provocação - os periódicos noticiaram sobre a «traição à italiana»; o filme «divórcio à italiana» nos é certamente preferível2! Pode o Estado constitucional ocidental, o qual, sob condições dramáticas, ludibriou_Nos albaneses que queriam ^retornar» à Europa com um tratamento indigno à pessoa humana no estádio de Bari, exigir fidedignamente dos Estados da Eu- ropa Oriental que estes digam a verdade sobre a realidade histórica aos seus povos e que, por exemplo, reanalisem a história da injustiça stali- nista na antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas? Ou cons- tituir o Estado sobre a verdade permanece um belo sonho? Apenas ao cínico recai a reposta facilmente. Depende a sociedade aberta do Esta- do constitucional de «ensaio e erro» porque a própria pessoa humana é um ser enganador? Certamente: todavia, não se fundamenta o Estado constitucional sobre um mínimo de verdades; o que permite a inter- pretação de que a sua tolerância tem certos limites máximos, pois sem uma pretensão de verdade também não há tolerância? II. Primeiras indagações às teorias da verdade E a verdade, por exemplo, uma declaração filosófica a qual pode ser verificada através de critérios lógicos, crítico-lingüísticos, empíri- cos ou outros quaisquer? Denomina-se verdade a conformidade das declarações com o mundo exterior ou interessa o significado (declara- ções como ações compreensíveis), como, por exemplo, na forma das Digno de nota é a insinuação do chefe le Estado italiano Oscar Luigi Scalfaro. de que as mídias invertem a verdade: «Ai de nós» se a crônica jornalística perder o respeito para com a verdade; pois aí se fundamenta a liberdade (H.-J. FISCHER, Achtung der Wahrheit gefordert, in: FAZ de 5 de dezembro de 1994, p. 6). 31 ''posições extremas do positivismo do Círculo de Viena (primado da verdade) ou da teoria dos jogos de linguagem de Ludwig Wittgenstein (primado do significado)? Deve-se pesquisar diferentemente sobre a verdade de acordo com a especialidade da disciplina científica3? A teologia, uma ciência, questiona de acordo com a confissão diferente- mente sobre a verdade em Deus. E, por fim: não existe junto à verdade \ 3 Atualmente, a reflexão sobre a verdade renasce em diversos ramos das ciências sem que, até onde se pode perceber, exista, até o momento, um projeto sistemático. Consultar, por exemplo, E. JÜNGEL. Wertlose Wahrheit, 1990; P. KEMPER (Hrsg.), Opfer der Macht, Müssen Politiker ehrlich sein?, 1993; K. BITTER- M A N N (Hrsg.), Serbien muß sterbien, Wahrheit und Lüge im jugoslawischen Bürgerkrieg, 1994; K. HÜBNER, Die Wahrheit des Mythos, 1985, por exemplo: p. 61 ff., 250 ff., 364 ff.; R. SAFRANSKI, Wie viel Wahrheit braucht der Mensch?, 1993; G. BRENNAN / J. M. B U C H A N A N , Die Begründung von Regeln, Konstitutionelle Politische Ökonomie, 1993, p. 50 ff. («ciência, verdade e- política»); U. K. PREUß, Politische Ordnung und wahrscheinliches Wissen, in; WISSENSCHAFTS KOLLEG JAHRBUCH 1989/90, Die moralische Konstruktion von Wahrheit, Gewissen und Verantwortung, 1991, p. 243 (253 ff .) ; G. MÜLLER, Der Plausibilitätsgedanke in der Rechtsprechung, in: J. HENGSTSCHLÄGER., Für Staat und Recht: Festschrift für Herbert Schambeck, 1994, p. 61 (63 ff . ) ; J. NEEDELMAN, Vom Sinn des Kosmos, Moderne Wissenschaften und alte Wahrheiten,1993; M. FOUCAULT, Sexualität und Wahrheit, 1976; veja também a caracterização do testemunho da vida científica do autor R. HILBERG, Unerbetene Erinnerung, 1994, e ainda E. JÄCKEL, Kampf um die Wahrheit, in: Die Zeit Nr. 41 de 7 outubro de 1994, p. 30; W. BADER (Hrsg.), Und die Wahrheit wurde hinweggefegt: Daniel 8 linguistisch interpretiert, 1994; LOUIS BEGLEY, Lügen in Zeiten des Krieges, 1994; E. EPPLER, Als Wahrheit verordnet wurde, Briefe an meine Enkelin, 1994; M. VARGAS LLOSA, Die Wahrheit der Lügen, 1994; D. NYBERG, Lob der Halbwahrheit, 1994; J. A. BARNES, A Pack oflies, 1994; S. SHAPIN, A Social History ofTruth, Civiliy and Science..,, 1994; HEINRICH SEUSE, Das Buch der Wahrheit (1330), Veritati et Vitae, Eichstätter Festschrift, Vol . I I , 1993 - uma escritura de defesa do padre dominicano do início da Idade Média a favor de seu mestre Eckhart perseguido pela inquisição; JOSEPH K A R D I N A L RATZINGER, Wahrheit, Werte, Macht, Prüfsteine der pluralis- , ^tischen Gesellschaft, 1993. No entanto, até agora, tanto no direito constitucional quanto no direito do Estado, ainda não se questionou em nenhum lugar sobre o problema da verdade (Vgl. , por exejnplo, R. ZIPPELIUS, Im Irrgarten der Ge- rechtigkeit, 1994, p. 17: «em suma, independente da "questão da verdade", o con- senso da maioria pode bastar para que se ofereça uma legitimação prática das nor- mas jurídicas em questões de eqüidade»). 32 das ciências uma outra «possibilidade de verdade» (Hans-Georg Ga- damer) como a poesia ou a arte em geral? Com outras palavras: como definimos .«verdade»? Como uma velha escola através da «cognitio est similitudo rei»4 ou de modo completamente diferente como Arthur Schopenhauer: «O mundo (...) é a minha noção; (...) nenhuma verdade é, portanto, mais certa, so- bretudo mais independente de outras e necessita menos de uma prova do que essa, para a qual tudo aquilo que existe para o conhecimento, ou seja, o mundo inteiro, é somente um objeto em relação ao sujeito; opinião do opinante» 5. Para uma compreensão inicial, nós apontamos aqui para a «teoria da coerência» (sobretudo no positivismo lógico)6, ou seja, verdade como a inserção infrangívei de uma sentença no contexto geral das declarações científicas, assim como a «teoria do consenso» de Jürgen Habermas. Ele compreende verdade como a conformidade de uma alegação ou, respectivamente, como a capaci- dade de consenso no discurso dos participantes, o qual, entretanto, está sob a idéia orientadora de um «diálogo livre» e «universal» 7. 4 A esse respeito, por exemplo, J. DONAT, Die Freiheit der Wissenschaft, 2 a Ed., 1912, p. 37 f. 5 A. SCHOPENHAUER, Die Welt als Wille und Vorstellung, Vol. I, §§1 e 2, apud Haffmans Taschenbuch, 1991, p. 3 1 f f . 6 M. MÜLLER / A. HALDER, Philosophisches V/orterbuch, H'88, p. 339. Sobre as definições de verdade e sobre a «diversidade de significados» do conceito de «ver- dade» com referências bibliográficas consultar: W. BRUGGER (Hrsg.), Philoso- phisches Wörterbuch, 1985, especialmente os termos «verdade» (PUNTEL) e «critério da verdade» (SANTELER). Veja também a exposição das teorias da ver- dade de W. STEGMÜLLER, Hauptströmungen der Gegenwartsphilosophie, Vol. I, 6 a Ed., 1978, por exemplo, F. BRENTANO (p. 6 f f ) , K. JASPERS (p. 222 ff,) , M. S C H U C K (p. 365 f.), L. WITTGENSTEIN (p. 551 ff .) . Sobre a deriva- ção terminológica: «Staatslexikon der Görresgesellschaft», Voi. V, 7 a Ed., 1981, p. 850: «Hebräisch: ermeth^ fest, gültig, verbindlich; spezifische Qualität des Schöpfergottes Jahwe». Adiante, na página 851: «Griechisch: alétheia: Unverborgenheit». 7 J. HABERMAS, Theorie des kommunikativen Handelns, Vol. I e I I , 1981; Idem, Vorstudien und Ergänzungen zur Theorie des kommunikativen Hcndelns, 1984; veja também A. K A U F M A N N , Rechtsphilosophie in der Nach-Neuzeit, 1990, p. 22, 30 f., 35 ff.; ainda a esse respeito consultar M . MÜLLER / A. H A L D ER, Philosophisches Wörterbuch, 1988, p. 339. Veja também G. C. LICHTENBERG em G. C. LICHTENBERG / P. PLETT (Hrsgs.), Werke, 1967, p. 96: «Enunciados, Werner von Simson é provavelmente o único alemão estudioso do direito do Estado ainda vivo, o qual sempre retoma a questão da /erdade para a sua «matéria», mesmo que em um patamar altamente abstrato. Na obra «Die Verteidigung des Friedens» (A Defesa da Liberdade) encontramos o seguinte enunciado: «A relação do Estado para com a verdade, a qual ele necessita, mas, no entanto, perma- nece constantemente irrevelável com os métodos científicos neu- tros de averiguação da verdade, é, por conseguinte, o autêntico critério filosófico da teoria do Estado» 8 . Von Simson diferencia entre «verdade objetiva» e «verdade coletiva» - esta é «a verdade neces- sitada pelo coletivo na sua respectiva forma de manifestação» 9. E com relação aos sistemas socialistas, ele afirma: «Isso explica a menti- ra, a qual todo ser humano que queira governar o mundo em nome da verdade necessita» 1 0. Na publicação comemorativa para Werner Marxn se tratou, conforme as próprias palavras tardias ce Von Si- mson12, do «conceito seguramente suspeito no piano filosófico» da «verdade proveitosa». No apontamento autobiográfico «Der Staat als Erlebnis» (O Estado Como Experiência)12 fala-se sobre «verdades da Revolução Francesa», as quais, primeiramente, resultaram no seu oposto e tiveram que esperar «até que o seu Estado encontrou um terreno frutífero nas progressivas transformações das relações so- sobre os quais as pessoas concordam, são verdadeiros; se eles não são verdadeiros nós não temos uma verdade». Em contraposição C. A. EMGE, Über das Grund- dogma des rechtsphiLoscphisch.cn Relativismus, 192 5, p. 42: «Mesmo quando to- dos têm uma opinião, isso também ainda pode ser enado». Crítico sobre as três teorias populares na questão da verdade, as teorias da coerência, da evidência e a pragmática ou instrumental: K. POPPER, Vermutungen und Widerlegungen, Das Wachstum der wissenschaftlichen Erkenntnis, Vol. I . , 1963 / 1994, p. 327 f. Popper clama por uma teoria da verdade objetiva perante as «teorias subjetivas da verdade». Ibidem, p. 323 ff. e, em especial, p. 328 ff. 8 W. VON SIMSON, Die Verteidigung des Friedens, 1975, p. 21. 9 Ibidem, p. 25. •• ; 1 0-Ibidem, p. 27. 1 1 U. GUZZONI / B. RANG / L. SIEP, Der Idealismus und seine Gegenwart, in: U. GUZZONI, Festschrift für Werner Marx zum 65. Geburtstag, 1975, p. 412 ff. '£ 12 W. VON SIMSON, Der Staat als Teil und als Ganzes, 1993, p. 20. 13 Idem, Der Staat als Erlebnis, in: JöR 32, 1983, p. 31, 40 f. 34 ciais». Na obra «Der Staat ais Teil und ais Ganzes» (O Estado Como Parte e Como Todo)14, uma obra - pode-se dizer? - «tardia», encon- tramos o conhecimento, o qual é uma verdade unicamente absoluta para o Estado liberal, de «que ninguém tem a posse daquela verdade única que determina o todo». No seu debate com Carl Schmitt15, ele critica os intelectuais anglo-saxões e contemporâneos afirmando que lhes falta a «sensibilidade para as verdades reconhecidamente eter- nas». Aqui também encontramos as sentenças dialéticas «hoje, a única verdade absolta é que a compreensão da verdade deve ser relativa» 1 6 e «toda época tem as suas verdades» 1 7. Vamos buscar de antemão exortações filosóficas adicionais: a filosofia da verdade de maior abrangência na nossa atualidade foi apresentada por Gadamer]S. Seu objetivo é buscar a «experiência da verdade que supere a área de controle do método científico por toda a parte, aonde quer que ela esteja, e questionar a sua própria legi- timação. Assim, as ciências humanas avizinham-se àqueles tipos de experiências, as quais estão fora da ciência: como as experiências da filosofia, das artes e da própria história» 1 9. Neste contexto sur- gem expressões «como: «a reconquista da questão da verdade da arte» 2 0 , a qual não se «medecom a verdade do conhecimento de Im- manuel Kant perante o conceito de conhecimento da ciência e o con- ceito de realidade das ciências naturais», mas sim, que o ultrapassa, ou seja, compreende o conceito de experiência em sentido amplo21. Dessa forma, Gadamer também pode postular a «diversidade da pretensão de verdade», a qual é intencionada por diversos textos literários, como por exemplo, por prosas poéticas e científicas2 2. Assim, ele pode cha- mar a atenção para a «possibilidade peculiar da língua de promulgar 14 W. VON SIMSON, Der Staat ais Teil und als Ganzes, 1993, p. 28. 15 Idem, Carl Schmitt und der Staat unserer Tage, in: AöR 114, 1989, p. 185, 193. 1 6 Ibidem, p. 185,211. 1 7 Ibidem, p. 185,216. 1 8 H.-G. GADAMER, Wahrheit und Methode, I a Ed., 1960,4 a Ed., 1975. 1 9 Ibidem, p. 27 f. 2 0 Ibidem, p. 77 ff. 2 1 Ibidem, p. 93. 2 2 Ibidem, p. 155. 35 o certo e o verdadeiro» , podendo falar então do «significado exemplar da hermenêutica jurídica» 2 4 , a qual figura na segunda parte de sua obra como parágrafo: «Ausweitung der Wahrheitsfrage auf das Verstehen in den Geisteswissenschaften» {extensão da questão da verdade sobre a compreensão nas ciências humanas)25. Como crítica a Karl Raimund Popper pode valer a tese de que «a hermenêu- tica também tem relevância teórico-científica desde que desvende, através da reflexão hermenêutica, condições da verdade dentro das ciências, as quais não repousam sobre a lógica da investigação e sim que a precedam» 2 6 . Através disso tudo, o jurista pode se sentir encorajado peio seu intelecto a atuar de maneira extensiva, ou seja, incluindo também no seu horizonte de pesquisa os textos t contextos do problema da verda- de que transgridam a sua «matéria» aparentemente ou realmente. Ten- do em vista o problema da verdade no Estado constitucional, a com- preensão da ciência jurídica como «ciência cultural» é particularmente necessária 2 7. 2 3 Ibidem, p. 389. 2 4 Ibidem, p. 307 ff. 25 Veja também a crítica de Gadamer ao «positivismo legislativo» e a sua rejeição de uma «dogmática ideal», a qual «compreenderia, p^.lo menos, todas as verdades j u - rídicas possíveis em um sistema coerente» (Ibidem„ p. 489). 2 6 Ibidem, p. 514. 2 7 A esse respeito: P. HÄBERLE, Verfassungslehre als Kulturwissenschaft, 1982, e os estudos sucessivos; por último: P. HÄBERLE, Europäische RechtsfcUtur, 1994. Uma tentativa de enriquecer o «racionalismo crítico» (Popper) das artes e da cultu- ara ou, respectivamente, das suas tradições no estudo n. HÄBERLE, Die Freiheit der Kunst, 1985; atualmente: P. HÄBERLE, Rechtsvergleichung im Kraftfeld des Verfassungsstaates, 1992, p. 441 (458 ff.). Vicinal à pretensão da verdade é D. T. TSATSOS, Von der Würde des Staates zur Glaubwürdigkeit der Politik, 1989, p. 41 f.: «sobre o conceito de verossimilidade». SEGUNDA PARTE: ELEMENTOS DE UMA AVALIAÇÃO I. O problema da verdade sob a ótica de textos jurídicos Antes de toda aproximação «especulativa» do problema da ver- dade, necessitamos «examinar» os textos jurídicos. Essa aparente abordagem «positivista», como um primeiro passo de uma avaliação, é tão importante quanto o fato de que as tradições do pensamento filo- sófico do tema podem seduzir a ignorar que o protótipo «Estado cons- titucional» repousa especificamente sobre textos positivos escritos e ineceritos, os quais demandam um «entendimento». Dessa maneira devemos presumir que aspectos relevantes sobre o problema da ver- dade já figuram nestes textos (interpretados simultaneamente nos seus contextos culturaÍ3). 1. TEXTOS CONSTITUCIONAIS O texto clássico sobre a verdade, talvez o mais antigo e primigê- nio na história constitucional, poderia ser o grande enunciado da de- claração de independência norte-americana de 1776: «We hold these truths to be self-evident (...)». Entre os textos constitucionais mais importantes com conteúdos diretamente relacionados à verdade figuram os catálogos dos objetivos educacionais na República Federal da Alemanha. Tais objetivos, es- sências das constituições do Estado constitucional, fixam os valores básicos na profundidade28 e representam, como «soft law», elementos teóricos consensuais. Eles não normatizam apenas os temas clássicos como «tolerância», «respeito perante a dignidade da pessoa humana» e, recentemente, o «senso de responsabilidade para com a natureza e o meio ambiente», mas também o tema da verdade. Art. 131 II da Constituição da Baviera de 1946 menciona como «objetivos educa- cionais supremos», entre outros, a «abertura para todo o verdadeiro, bom e belo»; art. 26 Nr. 3 da Constituição de Bremen de 1947 exige «a educação para um pensamento autônomo, para o respeito perante a verdade, para a coragem de reconhecer a verdade e fazer aquilo que tenha sido reconhecido como certo e necessário»; art. 56 IV da Cons- tituição de Hesse de 1946 formula o objetivo educacional «servir ao povo e à humanidade através de mesura e caridade, respeito e tolerân- cia, legalidade e veracidade» e o art. 131 da Constituição da Renânia- Palatinado de 1947 determina os objetivos educacionais «temor a Deus e caridade, respeito e tolerância, legalidade e veracidade». O amor à verdade ou, respectivamente, à veracidade figura aqui como elemento da imagem da pessoa humana no Estado constitucional.29 Já agora podemos supor que estes objetivos educacionais (humanistas) para os jovens estãc em relação interna com a obrigação para com a verdade das testemunhas ou dos juramentados e nos outros campos problemáticos nos quais se apresenta a questão da verdade para o Es- tado constitucional-50, como, por exemplo, em relação à tarefa da im- A esse respeito consultar P. HÄBERLE, Erziehungsziele und Orientierungswerte im Verfassungsstaat, 1981. Veja também as palestras de M. Bothe• e A. Dittmann em M. BOTHE I A. D I T T M A N N / W r - M A N T L / Y. HANGARTNER, Erziehungsauftrag und Erziehungsmaßstab der Schule im freiheitlichen Verfassungsstaat, in: VVDStRL 54, 1995. A esse respeito vide P. HÄBERLE, Das Menschenbild im Verfassungsstaat, 1988. O art. 98 II da Constituição de Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental de 1947 exige «educação no espírito de uma democracia autêntica para o humanitarismo verda- deiro»; art. 72 II da Constituição da Turingia de 1946 fala, de forma análoga, da «humanidade verdadeira». prensa de «informar a serviço do pensamento democrático sobre acontecimentos- condições, instituições e personalidades da vida pú- blica de acordo com a verdade» 3 1. Por fim, devemos mencionar o art. 42 IH da Lei Fundamental, importante no seu aspecto teórico- democrático: «os relatos verídicos spbre as sessões públicas do Parla- mento Federal e das suas comissões permanecem livres de toda e qualquer responsabilidade» 3 2. Desta forma, o princípio da democracia é fartamente citado, pois a democracia pluralista é a forma de Estado das «verdades relativas». Isso a diferencia toto coelo do protótipo do Estado totalitário. Assim não é nenhuma coincidência que os objetivos educacionais das jovens constituições estaduais alemãs após 1945 acolheram sucintamente a democracia nos seus cânones pedagógicos. Dessa forma, o art. 131 I I I da Constituição da Baviera de 1946 requer que os alunos «sejam edu- Vgl. art. 11 I 1 da Constituição da Baviera de 1946. Interessante é o antigo projeto constitucional da Saxonia de 1990 (apud S. HEITMANN / A. VAATZ, Verfassung dzs Landes Sachsen {Gohrischer Entwurf), in: JöR 39, 1990, p. 439 ff.), art. 19 I I I ß: «Ela (silicet, a radiodifusão) deve noticiar de acordo com a ver- dade e de maneira adequada e exprimir a multiplicidade de opiniões de forma inalterada e apropriada». Vide a controvérsia sobre o conceito de «verdade» no Conselho Parlamen'war em K.~B. VON DOEMM-NG / R. W. FÜSSLEIN / W. MATZ, Entstehungsgeschichte der Artikel des Grundgesetzes,in: JöR 1, 1951, p. 365: verdade como conceito «relativo» ou «subjetivo» (deputados A. SCHÖNFELDER e H. RENNER) ou «objetivo» (deputado DR. C. SCHMID). Ademais, da literatura: H.-P. SCHNEIDER, in: Alternative Kommentar zum Grundgesetz für die Bundesrepublik Deutschland, 2" Ed., 1989, art. 42 Rdnr. 17; T. MA'JNZ, in: T. M A U N Z / G. DÜRIG / R. HERZOG, Grundgesetz Kommentar, Vol. I I , 4 a Ed., 1960, art. 42, Rdnr. 33: «portanto, art. 42 I I I utiliza o conceito de verdade em sen- tido objetivo». Clássico é o comentário do art. 30 do projeto da constituição de Weimar através de G. ANSCHÜTZ, Die Verfassung des Deutschen Reiches, 14a Ed., 1933, art. 30 Nr. 3: «conceitualmente importante é, sobretudo, a rigorosa materialidade, a objetividade»; art. 30 Nr. 4: «a crônica é fidedigna à verdade quando reproduz os debates de modo correto e integral». Outras referências: N. ACHTERBERG / M. SCHULTE, in: H. VON MANGOLDT / F. KLEIN, Grundgesetz, Alternativ-Kommentar, ?a Ed., 1991, art. 42 Rdnr. 55: Art. 42 Ol como «privilégio parlamentar», dedutível do «principio da publicidade dos debates parlamentares» do art. 42 I. Da praxis, por exemplo: Hanseatisches OLG Ham- burg, in: AfP, 1977, p. 397 ff. 39 cados no espírito da democracia (...) e no sentido da reconciliação entre os povos»; c art. 56 IV da Constituição de Hesse de 1946 requer que as pessoas jovens sejam preparadas para «responsabilidade políti- ca»; o art. 33 da Constituição da Renânia-Palatinado de 1947 fixa o objetivo educacional «livre convicção democrática no espírito da reconciliação entre os povos» e o art. 30 da Constituição do Sarre de 1947 trata do «espírito liberal democrático». O desaparecimento do \ segundo Estado totalitário na Alemanha, da ditadura do Partido So- cialista Unitário da Alemanha - SED e as juas «pretensões de ver- dade», também se deixa espelhar perfeitamente nos objetivos edu- cacionais das novas constituições estaduais da Alemanha Oriental. Como um objetivo educacional figura no art. 101 da Constituição da Saxônia de 1992 a «postura liberal democrática»; no art. 28 da Constituição de Brandemburgo de 1992 o «reconhecimento da de- mocracia e da liberdade». Por fim, o art. 27 da Constituição da Tu- ríngia de 1993 exige uma «apresentação verdadeira do passado» no ensino da história. As cláusulas de verdade também alcançam as «camadas mais .profundas» do Estado constitucional através das fórmulas de jura- mento. Conhecida é a afirmação religiosa: «Tanto é verdade que Deus me ajude» (por exemplo, no juramento aos cargos de Primeiro- Ministro e de Ministro 3 3). Ap contemplarmos o grau hierárquico infe- rior das leis ordinárias, o espírito do Estado constitucional inspira o art. 7 I da Lei Orgânica da Corte Constitucional do Estado da Baviera de 1962 / 1990, o qual determina como fórmula de juramento para os membros deste corte: «Eu juro, (...) julgar com o melhor conheci- mento e consciência, sem consideração da pessoa e servir apenas à verdade e à eqüidade, tanto é verdade que Deus me ajude». Um exem- plo particular de um texto «vicinal à verdade» está presente, atual- mente, na fórmula de juramento do juiz constitucional na República Tcheca. A sua nova constituição de 1992 determina: «Eu presto jura- mento perante a minha honra e a minha consciência de que irei prote- ger a inviolabilidade dos direitos humanos inatos e dos direitos fun- Vgl. art. 100 da Cons t i tu ição da Renân ia -Pa la t inado de 1947, art. 89 da Cons t i tu ição do Sarre de 1947. damentais do cidadão (...) e decidirei de modo independente e impar- cial de acordo com a minha melhor convicção» 3 4. De outros textos constitucionais sobre questões Eelativas à verdade são mencionáveis, a partir do direito parlamentar dos Estados-membros alemães, por exemplo, o art 15 II da Constituição da Schleswig-Holstein de 1990: «Ninguém deve ser chamado a responder pelos relatos verídicos sobre as sessões públicas do parlamento estadual ou de suas comissões». Art. 64 m da Constituição de Brandemburgo de 1992: «os relatos verídicos sobre as sessões públicas do parlamento estadual e as suas comissões per- manecem livres de toda e qualquer responsabilidade». Semelhante também é o enunciado do art. 48 IV da Constituição da Saxônia de 1992. Esse princípio já se encontra no art. 22 II da Constituição da Baviera de 1946 e também no art. 90 da Constituição de Hesse de 1946. Trata-se aqui de um princípio comum ao direito parlamentar alemão, o qual tem a função de manter o processo de formação da vontade da democracia parlamentar livre e aberto35. Um acontecimento notável ocorreu em San Salvador no ano de 1992. Lá, a «comissão da verdade», criada pelo Secretário-Geral das Nações Unidas com base no acordo de paz entre os partidos salvado- rianos envolvidos na guerra civil, iniciou as suas atividades no verão de 199236. A essa comissão pertencem três notáveis estrangeiros, 3 4 Vgl. art. 85 II da Cons t i tu ição da Repúbl ica Tcheca de 1992. 3 5 i Da literatura: N. ACHTERBERG, Parlamentsrecht, 1984, p. 240 f.; H. K. KLEIN, Indemnität und Immunität, in: H.-P. SCHNEIDER / W. ZEH (Hrsgs.), Parlamentsrecht und Parlamentspraxis, 1989, p. 555 f f ; T. MEDER, Die Verfassung des Freistaates Bayern, 4* Ed., 1992, p. 133 e nota 4. No direito orça- mentário vale o princípio da «transparência e verdade». A esse respeito: G. KISKER, Staatshaushalt, in: HdBStR, Vol. IV, 1990, p, 235, 266. Exatamente por causa dessa pretensão da verdade ou, respectivamente, de sua função, o Tribunal de Contas da Uni- \ ão tem, conseqüentemente, uma independência de seus juízes. Na opinião do autor, a máxima da verdade orçamentária está ancorada a nível constitucional. 36 NZZ de 18 - 19 de Julho de 1992, p. 3. Ademais, a resolução do Parlamento Euro- peu de 22 de abril de 1993 em relação ao relatório da comissão da verdade sobre as violações dos direitos humanos em El Salvador: EUROPÄISCHES PARLA- MENT, Zum Bericht der Wahrheitskommir.sion über Meschenrechtsv er letzungen in El Salvador, in: EuGRZ, 1993, p. 227 f. Aqui também pertence a tese de M. GESTER, Die Frage nach der Wahrheit ist in Chile noch nicht beantwortet, behut- sam sucht Aylwin den Ausgleich mit dem Militär, in: FAZ de 12 de agosto de 1993, como, por exemplo, um ex-presidente colombiano e o ex-presidente da Corte Interamericana de Direitos Humanos - Thomas Buergenthal (Estados Unidos da América). A comissão deve investigar os graves crimes contra a humanidade ocorridos durante a guerra civil. A lei de anistia promulgada anteriormente não abrange aquelas pessoas, as quais tenham participado de graves atos de violência, «dos quais as feridas na sociedade clamam rapidamente pelo conhecimento público da verdade». Com isso, San Salvador constituiu uma espécie de «comissão da verda- de», a qual, com a ajuda de uma anistia, procura coordenar a transição da guerra civil e da ditadura para um Estado constitucional - taivez-também pelo fato de que os tribunais nacionais (ainda) estavam sobrecarregados. O caráter modelar para a Europa Oriental é evidente - desde que a comis- são comprove a sua competência nos resultados práticos. Na história constitucional textual do direito parlamentar de in- quérito, o conceito de «investigação ca verdade», até aonde podemos constatar, não figura literalmente a nível imperial ou, respectivamente, federal. Conforme a construção textual, o art 34 da Constituição de Weimar e c art. 44 da Lei Fundamental tratam das investigações, do levantamento de provas e etecetera37. Apenas em alguns poucos textos constitucionais dos Estados-Membros, o legislador constitucional se p, 3. A República da Africa do Sul também instalou uma «comissão da verdade» no verão de 1994, a qual deveria tratar de superar o passado e esclarecer os crimes da era do apartheid (Vgl. SZ de 8 de junho de 1994, p. 9); veja também:R. V O N LUCIUS, Mandela wül einen "Wahrheitsausschufi'\ in: FAZ de 19 de agosto de Í994, p. 6. Essa comissão deve controlar o processo de anistia para crimes políti- cos nos anos do apartheid e da resistência armada, desde que os autures tenham relatados os seus atos anteriormente. A comisão ainda deve contribuir para que a dignidade das vítimas seja reestabelecida e para que elas recebam um certo ressar- cimento. Na Guatemala também se planeja uma «comissão da verdade» (E.-M. BADER, Hoffhung fur Guatemala, in: FAZ de 31 de março de 1994, p. 14). Ela deve se empenhar no esclarecimento dos crimes. Enfim, uma «comissão da verda- de» também foi instituída no Haiti (AFP, "Wahrheitsausschufl" in Haiti eingesetzt, in: FAZ de 22 de dezembro de 1994, p. 4). 37 Comparável é a situação nas constituições estrangeiras: §51 da Constituição da Dinamarca de 1953: «insvestigação d.is situações de importância geral», art. 82 I da Constituição da Itália de 1947, art. 70 da Constituição da Holanda de 1983: «di- reito de inquirição», art. 76 I da Constituição da Espanha de 19 78: «Comisior.es de investigación sobre cualquier asunto de interés público». 42 aproxima da instrução de regulamentar o descobrimento da verdade graças ao conceito de «fiabilidade»38. Esse cuidado não é nenhum acaso. Embora os legisladores constitucionais se esforcem em trazer as comissões de inquérito aos arredores do levantamento de provas judicial 3 9 , eles deixam reconhecer textualmente que a força de investi- gação das comissões não é comparável às forças dos tribunais inde- pendentes40. As comissões parlamentares de inquérito permanecem na composição e na função como parte do primeiro poder. O fato de que elas consideram os acontecimentos apreciados como «carentes de esclarecimento» 4 1, propõem-se ao «esclarecimento da situação»4 2 prestam ao «escurecimento dos acontecimentos ocorridos dentro do âm- bito de responsabilidade do governo, os quais indicam irregularidades»43, não deve iludir quanto ao seu dilema: são elas o «fórum da apuração da verdade ou da luta política»4 4? 38 Assim afirma o §38 II da Constituição de Baden de 1919: «O Parlamento Estadual tem o Direito (. . .) de criar comissões para a investigação de fatos, quando a legali- dade e a fiabilidade dos atos do governo sejam questionados». A formulação «le- galidade ou fiabilidade» dos atos oficiais também pode ser encontrada no §46 II da Constituição de Oldenburgo de 1919, §23 I da Constituição da Turingia de 1921 e no art. 19 ü da Constituição de Danzig de 1922,tepud O. RUTHENBERG (Hrsg.), Verfassungsgesetze des deutschen Reichs und der deutschen Länder, 1926. 39 Vgl. art. 41 II da Lei Fundamental, art. 82 II 2 da Constituição da Itália, art. 181 V da Constituição de Portugal. 40 Por exemplo, art. 76 I 2 da Constituição da Espanha: «Sus conclusiones no serán , vineulantes para los Tribunales»; art. 44 IV GG. ..y* Vgl. BVerfGE 49, 70, 85. 4 2 Vgl. BVerfGE 76, 363, 384. 4 3 Vgl. BVerfGE 77, 1,43. 44 Vgl. R. KTPKE, Die Untersuchungsausschusse des deutschen Bundestages, 1985, p. 82 ff.; Ibidem, p. 89 com referências de que na prática do Parlamento Federal, as mais importantes inquirições estavam tão arraigadas aos interesses políticos dos partidos que acabam agindo «constantemente contra a pretenção da investigação objetiva da verdade». Veja também F. SCHÄFER, Parlamentarische Untersu- chungs-ausschüsse - Eine Zwischenbilanz nach den Erfahrungen des „Steiner- Ausschusses": Der Untersuchungs-ausschuß (I): Kampfstätte oder Gericht?, in: ZParl 4, 1974, p. 497 ff., e a discusão sobre o conceito «aura da semelhança juris- dicional» de F. VOGEL (p. 510) assim como a questão se as comissões deveriam ser integradas por uma «facção neutra» (p. 519 f f ) . 43 Direito e praxis das comissões parlamentares de inquérito fonnam assim um campo temático, sobre o qual a questão da verdade sempre é juridicamente reexaminada. A possibilidade de votos especiais já de- monstra certamente o quão difícil isso também e exatamente é para as comissões de inquérito: inspirada na busca da verdade, pesquisar a «ver- dade material» com os meios do direito processual penal45. Recentemente os direitos das minorias estão sendo conscientemente reforçados nas co- missões de inquérito - isso sobretudo nas novas constituições no leste da Alemanha46. No entanto, na praxis federal alemã, muitas comissões par- lamentares de inquérito comprovaram-se menos como «comissões da verdade» do que meio da luta política4 7. Uma verdade forçada com a maioria certamente não é sempre a verdade «final». E, freqüentemente, as comissões de inquérito estão e permanecem («atoladas») sobre um cami- nho muito longo na busca da verdade48. Recentemente se chegou na Alemanha a uma vitória espetacular do pensamento da verdade no âmbito parlamentar. Ern maio de 1993, o pre- sidente do Partido Social-Democrata da Alemanha - SPD e candidato ao cargo de Primeiro-Ministro Björn Engholm foi obrigado a renunciar, porque ele, anos atrás (1987), tinha omitido conscientemente a verdade perante uma comissão parlamentar de inquérito em Schleswig-Holstein no escândalo Barschel-Pfeifer. Essa vitória da verdade em um caso isola- do pode ser qualificada como um esperançoso êxito dc Estado constitu- cional e de seus procedimentos obrigados à verdade na esfera pública. Que a mentira de Engholm (como outrora Franz Josef Strauß no escân- dalo Spiegel de 1962) perante o parlamente tenha sido qualificada como uma falta especialmente grave de um político, honorifica a Alemanha 4 5 Vgl. art. 44 I I GG. \ : ; r 46 Vgl. art. 73 da Constiturçãcfde Brandemburgo de 1992; art. 54 da Constituição da Saxonia de 1992. 4 7 Da literatura a esse respeito: N. ACHTERBERG, Parlamentsrecht, 1984, p. 455 ff. __e p. 697 48 Característico sobre o trabalho das comissões de investigação: C. RICHTER, Eine I Wahrheit entsprechend dem Fraktionsverhältnis?', in: FA2 de 13 de junho de I 1994, p. 5; V. ZUSTROW, Mit der Wahrheit kämpft in Kiel ein jeglicher nach I seiner Art. N. Gansei enthüllt vor dem Untersuchungsausschuß, warum Enghalm gehen mußte, in: FAZ de 29 de setembro de 1993, p. 5. 44 unifi^da. O parlamento representa o povo. Considerando a inexistência de sanções jurídicas nesses casos, a renúncia política é indispensável49. Nos Estados Unidos da América o escândalo «Watergate» levou o presi- dente Richard Nixon a renunciar em 1974 e fez com que um processo de «impeachment» fosse desnecessário. A nível internacional, um exame de direito comparado de outros textos que tratam da verdade conduz ao §16 da antiga Constitmção da Suécia (1809 - 197150): «O Rei deve salvaguardar e promover eqüidade e verdade assim como impedir e proibir coerção e injustiça (...)». O art 39 da Constituição da Turquia de 198251 estabelece um «direito a prova da verdade»: «Nos processos dos crimes contra a honra, nos quais as decla-, rações se referem ao exercício das tarefas e dos serviços daquelas pessoas encarregadas de tarefas e serviços públicos, o réu tem o direito de apre- sentar a comprovação da verdade para as suas declarações. Em todos os outros casos, a prova da verdade só é admissível, quando existir um inte- resse público se o fato declarado é verdade ou inverdade (,..)»52. 49 Recentemente,*Bärbel Bohley, ex-militante dos direitos civis na antiga República Democrática Alemã, exigiu uma verificação dos trabalhos da comissão de investi- gação sobre o passado do ministro Stolpe em Brandemburgo, tendo em vista a par- ticipação da proeminente senhora Fuchs e o seuj envolvimento em diversos escân- dalos. A ex-militante expressou a sua satisfação ao afirmar «que em Brandemburgo, a mentira não vence sobre toda a verdade» (3. BOHLEY, "Lüge in Brandenburg", in: / FAZ de 16 de Junho de 1993, p. 2). Veja também a crítica persistente ao relatório da maioria
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