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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS DEPARTAMENTO DE ADMINISTRAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA BACHARELADO EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA - PNAP Pillar Felipe Hernandez Unidade de Pronto Atendimento (UPA) e a Articulação com os Diversos Níveis de Atenção às Urgências e Emergências Um Estudo de Caso na UPA Tijuca Volta Redonda 2014 Pillar Felipe Hernandez Unidade de Pronto Atendimento (UPA) e a Articulação com os Diversos Níveis de Atenção às Urgências e Emergências Um Estudo de Caso na UPA Tijuca Monografia apresentada ao Curso de Administração Pública, modalidade semipresencial, do Instituto de Ciências Humanas e Sociais da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Administração Pública. Orientadora: Prof. Dra. Tatiana Ramminger Volta Redonda 2014 TERMO DE APROVAÇÃO Pillar Felipe Hernandez Unidade de Pronto Atendimento (UPA) e a Articulação com os diversos níveis de Atenção às Urgências e Emergências Um Estudo de Caso na UPA Tijuca Monografia aprovada pela Banca Examinadora do Curso de Administração Pública PNAP da Universidade Federal Fluminense – UFF. Volta Redonda, .......... de ........................................ de ................. BANCA EXAMINADORA ____________________________________ [Prof. Dr. Julio César de Abreu, Universidade Federal Fluminense] ____________________________________ [Prof. Dra. Tatiana Ramminger, Universidade Federal Fluminense] ____________________________________ [Prof. Dr. Amaro Vianna, Universidade Federal Fluminense] Dedico este trabalho a todos os Administradores Públicos que atuam na área da Saúde Pública e que buscam fazer desta área um espaço realmente democrático. AGRADECIMENTOS Agradeço a minha mãe Lucia Felipe, por estar sempre ao meu lado, por acompanhar minha rotina maluca de sono e por estar sempre preocupada com o meu bem estar, até quando eu mesma não tinha tempo para isso. Quero que saiba que a pessoa que sou hoje é fruto do seu amor, amizade e dedicação incondicional. Sei que tenho em você meu porto seguro e arcabouço em qualquer situação. Obrigada por existir. Eu te amo. Agradeço ao meu pai Paulo Hernandez, por ter possibilitado que eu tenha chegado até aqui. Sua companhia em absolutamente todas as avaliações presenciais deste curso me deu força para seguir adiante e não permitiu que eu fraquejasse. Meu diploma é 50% seu também. Quero que saiba que sou muito grata a todo o investimento educacional que você fez em mim. Espero que eu possa retorná-lo para o mundo de alguma forma produtiva. Obrigada por tudo. Eu te amo. Agradeço a minha orientadora Tatiana Ramminger, por ter aceitado o desafio de me orientar e por ter me acompanhado todo este tempo, sempre respondendo prontamente as minhas mensagens e questionamentos. Obrigada por todas as dicas e pela sua paciência, sem você este trabalho não estaria com a mesma qualidade. Agradeço a todos os profissionais da UPA Tijuca e da Secretaria Estadual de Saúde. Sem vocês a concretização deste trabalho não teria sido possível. Agradeço especialmente a Coodenadora das UPAs/SES, a Coordenadora das UPAs/OSs HTMJ, ao Coordenador Médico da UPA Tijuca, a Gestora da UPA Tijuca, a Enfermeira Rotina da UPA Tijuca e a todos os profissionais da unidade. A hospitalidade, solicitude, respeito, educação e profissionalismo de todos vocês renovam as minhas esperanças no bom funcionalismo público. Agradeço ao Coodenador do Curso Júlio Abreu, por ter sempre disponibilizado seu tempo para me auxiliar com questões da faculdade. Com certeza, a sua atuação sempre presente e apoiadora, tornou menos penoso o desafio de concluir um curso de graduação semipresencial. Obrigada por sempre ter atendido as minhas solicitações com agilidade, grau de prioridade e respeito. Se todos os profissionais da educação fossem dedicados e responsáveis como você, o Brasil seria um país mais justo e desenvolvido. Agradeço ao professor Roberto Biase, por ter aberto espaço em sua palestra para que eu apresentasse os resultados parciais desta pesquisa. Como um profissional com larga experiência na área da saúde e na área da educação, seu aval e reconhecimento foram de extrema importância para renovar minha autoestima e me levar a uma dedicação ainda mais intensa ao trabalho. Pessoas como você, que sabem reconhecer o valor dos demais, valhem muito a pena. Muito obrigada. Agradeço ao Coordenador do meu estágio Thiago de Paula, por sempre ter tido paciência comigo, por compreender este período atribulado da faculdade e por sempre me auxiliar com a formatação deste trabalho, mesmo que tivesse outras coisas muito mais importantes para fazer. Muito obrigada mesmo. Você é um exemplo de profissional e de pessoa pra mim. Agradeço a Amanda Carvalhal por me ajudar na numeração e ordenação da bibliografia deste trabalho e também por ser uma grande amiga e companheira ao longo de quase um ano e meio de estágio. Nossas conversas alegram ainda mais o meu dia. Muito obrigada. Por fim, agradeço ao consórcio CEDERJ e a Universidade Federal Fluminense (UFF) pela oportunidade de cursar uma graduação de excelência, à distância e com acesso irrestrito aos materiais didáticos de forma gratuita. “A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.” Art. 196, Constituição Federal de 1988. RESUMO Este trabalho tem por objetivo analisar como se dá a articulação da UPA (Unidade de Pronto Atendimento) com a rede de Atenção às Urgências e Emergências, partindo-se da hipótese de que a UPA realiza atendimentos que não se relacionam diretamente com a sua proposta de atender apenas urgências e emergências. Com isso, busca-se responder à questão de pesquisa “Quais são os maiores desafios para que haja uma boa articulação da rede de Atenção às Urgências e Emergências e quais as possíveis soluções para esses desafios?”. Para tanto, se elegeu a UPA Tijuca como campo de investigação, dividindo a pesquisa em duas fases: uma quantitativa e outra qualitativa. A realização da primeira fase possibilitou confirmar a hipótese da pesquisa de que a UPA, apesar de possuir um alto grau de resolutividade, atende majoritariamente casos que poderiam ser resolvidos na Atenção Básica. A segunda fase possibilitou constatar que a cobertura da Atenção Básica à Saúde na região para qual a UPA Tijuca é referência (AP 2.2) é insuficiente e identificar alguns desafios à articulação da rede, tais como: o fato da rede ser mista; o fato da UPA estar ocupando atualmente a função de “porta de entrada” para o sistema de saúde; o fato dos sistemas de informação não serem integrados; e a falta de comprometimento de alguns gestores com a boa articulação da rede. Nesse sentido, foram identificadas quatro variáveis que devem ser levadas em consideração como os principais desafios para que haja uma boa articulação na rede de Atenção às Urgências e Emergências, são elas: Gestão, Comunicação, Sistemas de Informação e Recursos Humanos,Físicos e Financeiros. Tais variáveis são de extrema relevância para que haja uma boa articulação da rede e consequentemente, para que sejam oferecidos serviços de melhor qualidade aos cidadãos. Palavras-chave: Unidade de Pronto Atendimento (UPA); Rede de Atenção às Urgências e Emergências; Sistema Único de Saúde (SUS); Unidade Básica de Saúde (UBS); Unidades Hospitalares. ABSTRACT This work aims to analyze how is the articulation of the UPA (Emergency Unit) with network Emergency Care, starting from the hypothesis that UPA realizes medical services that do not directly relate to your proposed, that is realize only emergency care. Thus, we seek to answer the research question “What are the biggest challenges so there is a good articulation of Emergency Care and what are possible solutions to the challenges of network?”. So, we chose the UPA Tijuca as research field, dividing research in two phases: a quantitative and a qualitative. The completion of the first phase enabled this research to confirm the hypothesis that the UPA, despite having a high degree of resolution, caters mostly cases that could be resolved in Primary Care. The second phase allowed to note, that the coverage of primary health care in the region for which the UPA is reference Tijuca (AP 2.2) is insufficient and identify some challenges to the articulation of network, such as the fact that the network is mixed; the fact that the UPA is currently occupying the role of "gateway " to the health care system; the fact that information systems are not integrated; and the lack of commitment of some managers with good articulation of the network. Accordingly, it was found four variables that must be taken into account as the main challenges to have a good articulation in the Emergency Care network, they are: Management; Communication; Information Systems; and Human Resources, Physical Resources and Financial Resources. These variables are very important so that there is good articulation of the network and consequently, to offer better quality services to citizens. Keywords: Emergency Unit; Network Emergency Care; Unified Health System; Basic Health; Hospital units. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1: Mapa das Áreas Programáticas ........................................................................... 45 Figura 2: Distribuição de CAPS na cidade do Rio de Janeiro .............................................. 47 Figura 3: Área de abrangência do CMS Carlos Figueiredo ................................................ 48 Figura 4: Área de abrangência do CMS Casa Branca ......................................................... 49 Figura 5: Área de abrangência do CMS Heitor Beltrão ....................................................... 50 Figura 6: Área de abrangência do CMS Maria Augusta Estrella ........................................ 51 Figura 7: Área de abrangência do CMS Nicola Albano ....................................................... 52 Figura 8: Área de abrangência do CMS Vila Isabel ............................................................. 53 Figura 9: Área de abrangência do CMS Júlio Barbosa ........................................................ 54 LISTA DE TABELAS Tabela 1: Definição dos portes aplicáveis às UPA 24H ....................................................... 20 Tabela 2: 23 principais doenças registradas na UPA Tijuca e seu percentual em relação ao total geral de atendimentos no período de janeiro a agosto de 2013 ................................... 34 Tabela 3: Modelo de Classificação de Risco adotado nas UPA .......................................... 36 Tabela 4:Principais CID atendidos X Classificação de risco na UPA Tijuca ........................ 41 Tabela 5:Principais ocorrências em relação à área física registradas nas UBS da AP 2.2 entre abril e maio de 2012 .................................................................................................. 56 Tabela 6: Dificuldades na realização de exames e procedimentos registrados nas UBS da AP 2.2 entre abril e maio de 2012 ........................................................................................ 58 Tabela 7: Unidades de Pronto Atendimento (UPA) do Rio de Janeiro ................................. 66 LISTA DE GRAFICOS Gráfico 1: Remoções da UPA Tijuca no período de janeiro a agosto de 2013 .................... 44 LISTA DE ANEXOS Anexo 1: Carta de próprio punho: primeira solicitação de informações junto a SES ........... 82 Anexo 2: Carta de recomendação da universidade ............................................................. 83 Anexo 3: Carta de próprio punho: nova solicitação de informações junto a SES ................ 84 Anexo 4: POP (Procedimento Operacional Padrão)............................................................ 85 Anexo 5: CARTA PF/PJ/401/2013 ...................................................................................... 86 Anexo 6: Entrevista com a Coodenadora das UPAs/SES e com a Coordenadora das UPAs/OSs HTMJ ................................................................................................................. 87 Anexo 7: Entrevista com funcionários da UPA Tijuca (Coordenador Médico; Gestora; Coordenadora das UPAs/OSs HTMJ) .................................................................................. 88 Anexo 8: Registro das Observações realizadas na visita à UPA Tijuca .............................. 89 Anexo 9: Relatório da Visita Assistida à UPA Tijuca ........................................................... 90 Anexo 10: Relatório do Programa de Visitas Técnicas às Unidades de Atenção Primária .. 91 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABS – Atenção Básica à Saúde AP2.2 – Área Programática 2.2 CAP 2.2 – Coordenadoria Geral de Saúde da Área Programática 2.2 CAP – Caixas de Aposentadoria e Pensões CAPS – Centro de Atenção Psicosocial CID – Classificação Internacional de Doenças ESF - Equipes de Saúde da Família INPS – Instituto Nacional de Previdência Social OSS – Organização Social de Saúde POP – Procedimento Operaconal Padrão SAMU – Serviço de Atendimento Móvel de Urgência SES – Secretaria Estadual de Saúde SUP/UP – Superintendência das Unidades Próprias SUS – Sistema Único de Saúde UBS – Unidade Básica de Saúde UPA – Unidade de Pronto Atendimento SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 14 2 OBJETIVO ............................................................................................................. 16 2.1 Hipótese .............................................................................................................. 16 2.2 Problema ............................................................................................................. 16 2.3 Justificativa .......................................................................................................... 16 3 REVISÃO DA LITERATURA ................................................................................. 17 3.1 A saúde no Brasil antes do SUS ......................................................................... 17 3.2 A criação do SUS ................................................................................................ 18 3.3 A criação das UPA .............................................................................................. 19 3.4 A Política Nacional das Urgências e Emergências .............................................. 21 3.5 UPA como observatório do sistema de saúde ..................................................... 22 3.6 Os desafios da articulaçãoda UPA com os demais componentes das Urgências e Emergências .......................................................................................................... 24 4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS............................................................... 27 4.1 Processo de coleta das informações ................................................................... 27 4.2 As fases quantitativa e qualitativa da pesquisa ................................................... 28 5 ANÁLISE DOS DADOS ......................................................................................... 31 5.1 UPA Tijuca: conhecendo o território .................................................................... 31 5.2 UPA Tijuca: análise dos atendimentos realizados de janeiro a agosto de 2013 .................................................................................................................................. 33 5.3 UPA Tijuca: análise das remoções realizadas de janeiro a agosto de 2013 ....... 43 5.4 UPA Tijuca: análise das Unidades de Atenção à Saúde em sua área de abrangência ............................................................................................................... 44 5.5 UPA Tijuca: análise das Unidades Hospitalares em sua área de abrangência ... 59 5.6 Os principais desafios de articulação da UPA com a rede de Atenção às Urgências e Emergências segundo os entrevistados ................................................ 61 5.6.1 Rede Mista ............................................................................................. 61 5.6.2 UPA atuando como porta de entrada para o Sistema de Saúde ........... 63 5.6.3 Sistemas de Informação ........................................................................ 65 5.6.4 Comprometimento do gestor da UPA com a boa articulação ................ 65 5.6.5 A Classificação da UPA por Porte ......................................................... 66 5.6.6 A Promoção, Prevenção e Proteção à saúde ........................................ 68 5.6.7 Pequenas e médias complexidades ...................................................... 69 5.6.8 O que falta para superar os desafios ..................................................... 69 5.7 Sugestões para uma melhor articulação da UPA com a rede de Urgências e Emergências ............................................................................................................. 70 6 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 72 7 REFERÊNCIAS ...................................................................................................... 77 8 ANEXOS ................................................................................................................ 82 14 1 INTRODUÇÃO A saúde como direito de todos os cidadãos, é algo bem recente na história brasileira, sendo conquistada apenas a partir da Constituição de 1988, assim como, a consequente criação do Sistema Único de Saúde (SUS), em 1990. O SUS é uma organização em rede, integrada por um conjunto de ações e serviços públicos de saúde que visam realizar a promoção, proteção e recuperação da saúde. Com vistas a atender aos preceitos do SUS de forma mais abrangente, foram criadas as UPA (Unidades de Pronto Atendimento), que tem como objetivo estruturar e organizar a rede de urgências e emergências do país. As UPA estão em conformidade com a Política Nacional de Urgências e Emergências, lançada pelo Ministério da Saúde pela Portaria n° 1.864 de setembro de 2003. No Rio de Janeiro, as UPA começaram a ser implantadas entre os anos de 2007 e 2008 como estratégia para superar problemas apresentados nos demais níveis de Atenção às Urgências e Emergências, tais como a insuficiência da atenção básica e a superlotação das emergências hospitalares. Nesse sentido, este trabalho tem por objetivo analisar como se dá a articulação da UPA (Unidade de Pronto Atendimento) com a rede de Atenção às Urgências e Emergências, partindo-se da hipótese de que a UPA realiza atendimentos que não se relacionam diretamente com sua proposta, que é atender a procedimentos de urgência e emergência que poderiam ser resolvidos na Atenção Básica. 15 Para tanto, propõe-se a realizar um estudo de caso na UPA Tijuca dividido em duas fases de pesquisa, uma quantitativa e a outra qualitativa. A fase quantitativa constitui-se do levantamento e análise dos atendimentos e das remoções da unidade Tijuca no período de janeiro a agosto de 2013, sendo esta fase complementada pelo exame de diversos documentos que auxiliarão na apreciação dos resultados. A fase qualitativa é composta por uma série de entrevistas com diversos profissionais de saúde da UPA Tijuca e da Secretaria Estadual de Saúde, responsáveis pela gestão e atividades diárias da Unidade. A partir deste estudo, pretende-se analisar “quais são os maiores desafios para que haja uma boa articulação na rede de atenção às Urgências e Emergências e quais as possíveis soluções para esses desafios?”. Busca-se a partir deste estudo, destacar elementos que possam contribuir para ampliar a integração do sistema, de forma que a UPA cumpra o seu papel de maneira integral, possibilitando assim, um melhor atendimento ao usuário, o que é não apenas direito, mas desejo dos cidadãos brasileiros, tendo em vista as manifestações populares que vem acontecendo no país desde junho de 2013. 16 2 OBJETIVO Este trabalho tem por objetivo analisar como se dá a articulação da UPA (Unidade de Pronto Atendimento) com a rede de Atenção às Urgências e Emergências. 2.1 Hipótese Este trabalho baseia-se na hipótese de que a UPA realiza atendimentos que não se relacionam diretamente com sua proposta de atender a urgências e emergências de baixa e média complexidade. 2.2 Problema Esta pesquisa busca responder a seguinte questão: Quais são os maiores desafios para que haja uma boa articulação na rede de atenção às Urgências e Emergências e quais as possíveis soluções para esses desafios? 2.3 Justificativa Este estudo de caso se faz importante dada a sua atualidade e relevância dentro do contexto da saúde pública no Brasil. Com uma melhor articulação entre os diversos componentes do sistema, há a possibilidade de uma melhor prestação de serviços ao usuário e otimização dos recursos financeiros. 17 3 REVISÃO DE LITERATURA 3.1 A saúde no Brasil antes do SUS (breve histórico)1 Antes da criação do SUS a organização dos serviços de saúde era muito confusa e isso se deu em diversas fases ao longo da história do país desde o Império até parte da República. Ao final do Império as pessoas mais abastadas podiam se consultar com médicos particulares, já os demais ficavam dependentes das Casas de Misericórdia, da caridade e da filantropia. Na República Velha (1889 – 1930) ainda não existia um Ministério da Saúde. O órgão responsável pela saúde pública era o Ministério da Justiça e Negócios Interiores, o que levava a saúde a ser tratada como questão de polícia (“polícia sanitária”) e não como uma questão social. Na segunda metade do século XIX, algumas empresas implantaram serviços médicos para seus trabalhadores, mediante descontos em seus salários. No século seguinte teve início a previdência social no país, por meio da criação das Caixas de Aposentadoria e Pensões (CAP), divididas conforme a categoria de trabalhadores, centralizando a contribuição dos trabalhadores, o acesso à assistência médica e à aposentadoria. Posteriormente, durante o governo militar, as CAPs foram unificadas em um só órgão federal: o InstitutoNacional de Previdência Social, INPS. De forma resumida, pode-se dizer que a organização dos serviços de saúde públicos no Brasil antes do SUS estavam divididos em três sistemas: Saúde 1 Os itens 3.1 e 3.2 estão baseados em PAIM (2009). 18 Pública, Medicina Previdenciária e Medicina do Trabalho. Em paralelo coexistiam, assim como hoje, a medicina liberal, as instituições filantrópicas, a medicina popular e a medicina empresarial. A Saúde Pública era composta basicamente de ações voltadas para a prevenção, o ambiente e a coletividade, como as campanhas de vacinação, por exemplo. A Medicina Previdenciária era composta basicamente de ações curativas e individuais, ligadas ao vínculo de emprego, ou seja, apenas aqueles que possuíam “carteira assinada” tinham direito ao atendimento em saúde. Já a Medicina do Trabalho estava inserida no contexto do Ministério do Trabalho. Como veremos a seguir, a partir da unificação destes três sistemas, nasceu o Sistema Único de Saúde no Brasil. 3.2 A criação do SUS A partir da Constituição da República de 1988 a saúde passou a ser direito de todas as pessoas, sem distinções e com isso, o poder público tem a obrigação de garantir este direito a todos. A Carta Magna faz referência ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para a promoção, proteção e recuperação. Promoção significa fomentar, cultivar e estimular a qualidade de vida das pessoas e das comunidades. Proteção consiste no esforço de se reduzir ou eliminar os riscos. E recuperação consiste no tratamento das enfermidades em si. Esta passagem abriu espaço para que se desenvolvesse o ideal de uma atenção integral à saúde, abrangendo a prevenção, promoção, recuperação, controle e reabilitação da saúde e nesse contexto, foi criado e implementado o SUS 19 (Sistema Único de Saúde). O SUS é uma organização em rede, integrada por um conjunto de ações e serviços públicos de saúde, que funciona de forma regionalizada e hierarquizada. O ideal de rede supõe que haja uma integração e comunicação entre os serviços de saúde. A regionalização é um pressuposto organizativo do SUS que juntamente com a hierarquização, possibilita a distribuição dos estabelecimentos públicos de saúde (pertencentes aos municípios, estados, Distrito Federal e União) em determinado território, de forma que os serviços básicos estejam descentralizados e os especializados mais centralizados. Todos esses pressupostos juntos buscam evitar a fragmentação das ações em saúde. 3.3 A criação das UPA De maneira a atender aos pressupostos do SUS de forma mais abrangente, foi necessária a criação das UPA (Unidades de Pronto Atendimento). Elas foram instituídas pela Portaria n° 1020 de 13 de maio de 2009 e estão em conformidade com a Política Nacional de Atenção às Urgências, lançada pelo Ministério da Saúde pela Portaria n° 1.863 de setembro de 2003. As UPA visam estruturar e organizar a rede de urgências e emergências do país. Elas estão dispostas em pontos estratégicos da cidade, de forma que seja possível configurar a Rede de Atenção às Urgências, conforme previsto na Política Nacional de Atenção às Urgências (BRASIL, 2011). De forma efetiva, o principal papel das UPA é atuar como estrutura de complexidade intermediária entre os serviços prestados pelas Unidades Básicas de Saúde e as urgências hospitalares, absorvendo assim, parte da demanda da população pelas emergências de hospitais públicos (BRASIL, 2011). 20 As UPA devem proporcionar ao cidadão a continuidade do seu tratamento, pois contra referenciam para os demais serviços da Rede de Atenção à Saúde, o que leva a um impacto positivo no quadro de saúde individual e coletivo (SCOFANO, 2012), já que um atendimento articulado em todos os níveis de atenção à saúde permite que o usuário tenha um acompanhamento desde o início, possibilitando atingir um grau de resolutividade satisfatório. De acordo com a portaria n° 2.648 (07 de novembro de 2011) as UPA devem ser classificadas por porte, conforme disposto na tabela abaixo, e de forma compatível a este porte, cada UPA deve deter uma equipe multiprofissional e interdisciplinar preparada para realizar o pronto atendimento de qualidade ao cidadão. Tabela 1: DEFINIÇÃO DOS PORTES APLICÁVEIS ÀS UPA 24H UPA 24H POPULAÇÃO DA ÁREA DE ABRANGÊNCIA DA UPA ÁREA FÍSICAMINÍMA NÚMERO DE ATENDIMENTOS MÉDICOS EM 24 HORAS NÚMERO MÍNIMO DE MÉDICOS POR PLANTÃO NÚMERO MÍNIMO DE LEITOS DE OBSERVAÇÃO PORTE I 50.000 a 100.000 habitantes 700 m² até 150 pacientes 2 médicos 7 leitos PORTE II 100.001 a 200.000 habitantes 1.000 m² até 300 pacientes 4 médicos 11 leitos PORTE III 200.001 a 300.000 habitantes 1.300 m² até 450 pacientes 6 médicos 15 leitos Fonte: Ministério da Saúde No Rio de Janeiro, as UPA começaram a ser implantadas a partir de 2007, como estratégia para superar a insuficiência da atenção básica e a superlotação das 21 emergências hospitalares. Atualmente, o Estado do Rio, tem a maior rede de UPAS do Brasil, totalizando 55 unidades (BRASIL, 2014). As UPA ocupam hoje, um posicionamento de grande relevância e importância na rede de saúde pública do Estado do Rio de Janeiro, visto que possuem um alto grau de resolutividade em seus atendimentos, ultrapassando os 99% (RIO DE JANEIRO, 2012). As UPA no Rio de Janeiro são controladas pela Secretaria Estadual de Saúde, porém, nem todas elas são diretamente geridas pela mesma, isto porque, as UPAs foram incluídas no Programa Nacional de Publicização (Lei n° 9.637, de 15 de maio de 1998) e, portanto, as atividades de algumas UPAs foram absorvidas por Organizações Sociais (OS). O papel das Organizações Sociais em relação às UPA é administrar bens e equipamentos das unidades. Já o papel de controlar, fiscalizar e garantir a eficiência das Políticas Públicas de Saúde permanece sob o controle do Governo do Estado (PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA, 1998). 3.4 A Política Nacional das Urgências e Emergências A Política Nacional de Urgências e Emergências buscou integrar o sistema de saúde e dividiu a atenção às urgências no SUS em quatro frentes (BRASIL, 2011). A primeira frente consiste na Atenção Básica, composta pelas Equipes de Saúde da Família (ESF) e as Unidades Básicas de Saúde (UBS); elas têm como objetivo acolher as urgências de menor complexidade. 22 A segunda frente é composta pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), que tem por objetivo fazer a estabilização dos pacientes e transportá-los para as unidades de saúde mais indicadas para dar continuidade ao tratamento do usuário. A terceira frente é composta pelas UPA que atuam como um componente pré-hospitalar fixo e têm como objetivo realizar atendimentos 24 horas, todos os dias, inclusive finais de semana, a pacientes que apresentem quadros de pequena e média complexidade. Seu trabalho é realizado conjuntamente com o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) e com as urgências dos hospitais públicos. Por fim, a quarta frente é composta pelo setor de urgência dos hospitais públicos, que realizam o atendimento das urgências de maior complexidade. 3.5 UPA como observatório do sistema de saúde O’dwyer (2009) defende que o SAMU funcione como observatório do sistema de saúde, pois é composto por uma Central de Regulação Médica de Urgências. Esta Central recebe os pedidos de atendimento de urgênciada população ou de profissionais de saúde por meio do telefone 192 e os atende em domicílio ou em qualquer espaço público. Dessa forma, o SAMU registra as ocorrências dos diversos níveis de atenção, o que permitiria uma visão global do sistema de saúde. Em contrapartida, de acordo com a Scofano (2012), as UPA ocupam melhor esta posição de observatório do Sistema de Saúde, já que possuem a capacidade 23 de monitorar todo o funcionamento da rede por intermédio da classificação de risco realizada com os pacientes. Sustentando esta tese e complementando-a, Randow et al (2011) afirma que o estudo da demanda pelos serviços da UPA, através da Classificação de Risco, pode evidenciar possíveis desafios que a rede básica possui, já que a Classificação de Risco permite monitorar de forma dinâmica e sistematizada o funcionamento da rede de saúde como um todo. De forma a reforçar esta afirmativa, Furtado, Araújo Jr. e Cavalcanti (2004), Lovalho (2007) e Costa (2011) realizaram estudos que apontam que a maioria dos atendimentos realizados nas urgências e emergências são de baixa complexidade, o que não condiz com a proposta do sistema. De forma complementar, Randow et al (2011) também afirma que aproximadamente 60% dos atendimentos realizados nas UPA poderia ter sido solucionado nas Unidades Básicas de Saúde (UBS). Isto ocorre por dois principais fatores: culturalmente as pessoas tendem a buscar as UPA porque há uma garantia maior de que seus exames serão realizados no mesmo dia, diferente do que ocorre na atenção básica. Além disso, muitos pacientes buscam a UPA de forma imediatista para resolver os mais diversos tipos de problema, pois não têm informações completas se a UBS será capaz de solucionar de fato sua demanda e duvidam da capacidade resolutiva da mesma. Isto confirma a visão de O´dwyer (2010) de que há uma expectativa da população de que a urgência seria uma “porta de entrada” para o Sistema de Saúde e afirma que a urgência como “porta de entrada” corresponde apenas a uma expectativa da população e por isso, não compete com a Atenção Básica, já que cabe à Atenção Básica receber o paciente por demanda programada ou 24 espontânea. Dessa forma, explicita que a UPA não deve ser a porta de entrada para o SUS e sim a Atenção Básica, embora a expectativa da população não corresponda a essa realidade, considerando décadas de funcionamento de um sistema hospitalocêntrico, ou seja, que tinha o hospital como o centro do sistema de saúde. 3.6 Os desafios da articulação da UPA com os demais componentes da rede de Urgências e Emergências São diversos os desafios para que haja uma boa articulação da UPA com os demais componentes da rede de urgências e emergências. Ao longo desta seção serão elencados alguns dos principais. De acordo com Fleury e Ouverney (2006) a organização de uma rede requer a construção de um valor compartilhado, que vá além dos objetivos particulares. Isto por si só, já é um grande desafio, visto que para construir esse grande objetivo é necessário haver compatibilidade e congruência de valores entre os membros da rede. Este fator é agravado, pois o SUS possui um formato institucional no qual nenhum dos atores do Estado detém os recursos suficientes, nem para prover atenção integral, nem para impor os rumos da política de saúde. Dessa forma os autores argumentam que, para que seja possível superar este desafio, é preciso criar instancias organizacionais de suporte e mediação, que ajam como arenas de barganha, de forma que as percepções, os valores e os interesses dos membros da rede possam ser confrontados e negociados. A criação destes espaços de negociação diz respeito à institucionalização dos padrões de interação, o que é um importante instrumento de gestão da rede, pois possibilita a negociação em torno de objetivos comuns, a pactuação de metas, a resolução 25 mediada de conflitos e uma maior integração entre os membros da rede a partir de pluralidade e autonomia. Além disso, permite deixar claras as posições dos atores na rede, a distribuição de poder, dentre outros aspéctos. Ainda segundo os autores, outro desafio se dá quanto à limitação da participação da sociedade organizada via conferências e conselhos de saúde na definição de prioridades, estratégias e metas da política de saúde nas três esferas da federação. Isto ocorre por diversos motivos, como: falta disponibilidade de recursos para a operação dos conselhos, diferenças na cultura política de cada município, o nível de instrução da população, as relações do executivo com o legislativo, a ação de lideranças, entre outros fatores. Muitas vezes o conselho possui apenas um caráter consultivo, operando apenas sobre a legitimação de decisões já tomadas pelo executivo. No entanto, é necessário consolidar o exercío de controle social através de ações de incentivo a estruturação e consolidação dessas instâncias. Além destes, existem desafios diretamente ligados à questão da equidade. Estes desafios são próprios das disparidades e deficiências de cada região da federação, que enfrentam problemas como concentração de recursos e de infraestrutura produtiva – como hospitais e recursos humanos – nas áreas mais urbanizadas do país. No entanto, além dos desafios, para que as políticas de saúde tenham de fato efetividade, é necessário que o Estado estruture e organize a rede de saúde sob os preceitos do SUS de integração e hierarquização dos serviços. Somente esta coordenação e organização interorganizacional, por meio de mecanismos de referenciamento e contrareferenciamento, gestão conjunta e desenvolvimento de 26 programas multidiciplinares, tornará possível oferecer serviços de qualidade ao cidadão. 27 4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 4.1 Processo de coleta das informações Para que fosse possível realizar a pesquisa foram coletadas informações junto a Secretaria Estadual de Saúde (SES), mais especificamente junto a Superintendência das Unidades Próprias (SUP/UP). A primeira solicitação de informações foi realizada junto a SES em fevereiro de 2013 (Anexo 1), sendo que, a resposta só aconteceu três meses depois. A segunda ida a SES, em março, foi para saber como ter acesso a UPA. Nesse momento foi informado que isso teria que ser tratado diretamente com a UPA. Ao ir a UPA foi informado que este assunto precisava ser tratado ou com a Gestora da UPA Tijuca ou com a Enfermeira Rotina. Na semana seguinte foi feito o contato com a Enfermeira Rotina, mas ela informou que este assunto teria que ser tratado com a Gestora da UPA Tijuca. Depois de várias tentativas e desencontro de horários, em meados de abril foi feito o contato com a Gestora, mas ela informou que era necessário abrir um pedido junto a SES e somente com esta autorização institucional, seria possível realizar a entrevista e a visita assistida. Foi realizada uma nova investida na SES, mas não foi permitida a abertura do protocolo, pois era necessária uma carta de recomendação da universidade (Anexo 2). Em agosto, já com a carta em mãos, foi feita uma nova tentativa de abertura de protocolo, mas não foi permitido, pois faltava anexar a revisão biliográfica preliminar do trabalho. Em setembro, já com a revisão bibliográfica preliminar e a carta de recomendação em mãos, foi feita uma nova tentativa de abertura de protocolo anexando a essa documentação uma carta de próprio punho (Anexo 3), mas a 28 documentação não foi aceita, nem sequer protocolada, porque segundo os atendentes, este tipo de solicitação não era naquele local, sendo que, não sabiaminformar o local correto. Depois de muita insistência, nesse mesmo dia, fui orientada a procurar a Assessoria Parlamentar, que não ficava naquele local. Depois de um bom tempo de espera foi realizado o atendimento, onde foi explicado todo o objetivo da pesquisa e apresentados todos os documentos. Após compreenderem que a pesquisa tinha fins acadêmicos, houve a orientação para voltar à Secretaria e procurar a Coordenadora da Superintendência de Unidades Próprias/ SES - RJ, pois somente ela poderia autorizar o acesso às informações e à UPA. No final de setembro, depois de várias tentativas, a Coordenadora da Superintendência de Unidades Próprias/ SES - RJ teve acesso ao pedido e autorizou que a SUP/UP fornecesse os dados solicitados. Para tanto, havia necessidade de formalizar o pedido por intermédio de um email, o que foi prontamente realizado. Em outubro, após conseguir as informações solicitadas, foi realizado um novo pedido, também por email, em relação às entrevistas. Essa solicitação foi encaminhada à Coordenadora Geral das UPA/SES, que por sua vez, encaminhou o pedido à Coordenadora das UPA/OSs/HTMJ – RJ. Em seguida, todas as entrevistas foram agendadas. 4.2 As fases quantitativa e qualitativa da pesquisa Este trabalho teve como proposta realizar uma pesquisa empírica na UPA Tijuca, objetivando identificar possíveis problemas de articulação da mesma com a Rede de Atenção às Urgências e Emergências. 29 Para tanto, essa pesquisa está estruturada em duas fases, uma quantitativa e outra qualitativa, buscando cruzar os dados colhidos em ambas as fases e responder ao problema desta pesquisa. A fase quantitativa visa analisar os atendimentos realizados pela UPA Tijuca no período de seis meses. Para tanto, foi autorizado pela Coordenadora da Superintendência de Unidades Próprias/ SES - RJ, o acesso aos atendimentos por CID (Classificação Internacional de Doenças) realizados no período de janeiro à agosto de 2013, bem como à quantidade de remoções realizadas no mesmo período. Esta fase da pesquisa foi estruturada da seguinte forma: 1° Levantar a quantidade total de atendimentos realizados nesse período 2° Discriminar quais são as principais demandas dos usuários e organizá-las de acordo com o nível de atenção que elas se referem de fato, considerando o Procedimento Operacional Padrão. 3° Considerando o mesmo documento, verificar quais dessas demandas correspondem ou não à proposta de atendimento da UPA. 4° Concluir quantos atendimentos poderiam ter sido evitados caso houvesse uma boa integração entre os diferentes níveis do Sistema. 5° Propor soluções para essa situação (este passo será realizado conjuntamente com a fase qualitativa da pesquisa). Além dos cinco passos descritos acima, a fase quantitativa é complementada pelas seguintes análises e informações: Mapeamento de quais serviços de Atenção primária à Saúde (UBS e Clínicas da Família) estão disponíveis nessa região por intermédio de informações disponíveis na página da web do CAP 2.2; Mapeamento de quais unidades hospitalares estão disponíveis nessa região por intermédio de informações disponíveis na internet; 30 Análise do POP (Procedimento Operacional Padrão) para entender melhor o procedimento de classificação de risco realizado pelas UPA, inclusive, a UPA Tijuca (Anexo 4); Solicitação de informações sobre quais UPA estão sob gestão da SES (Secretaria Estadual de Saúde) e quais UPA sob gestão de OSs, mas são supervisionadas pela SES por intermédio da CARTA PF/PJ/401/2013 (Anexo 5). A fase qualitativa visa analisar, de maneira mais acurada, quais as dificuldades de articulação na Rede de Atenção à Saúde por intermédio dos seguintes instrumentos de pesquisa: Entrevista com a Coordenadora Geral das UPA/ SES; Entrevista com a Coordenadora Geral das UPA/OSs HTMJ; Entrevista com a Coordenadora de enfermagem e Gestora da UPA Tijuca; Entrevista com o Coordenador Médico da UPA Tijuca; Entrevista com a Enfermeira Líder de Rotina da UPA Tijuca; Relatório da visita assistida realizada juntamente com a Enfermeira Rotina da UPA Tijuca Elaboração de um registro das observações realizadas pela autora no percurso da pesquisa (Diário de Campo). Todos os questionários que foram utilizados nas entrevistas dos funcionários da UPA Tijuca, bem como, o registro das observações e o relatório da visita assistida, estão em anexo (Anexo 6, 7, 8 e 9). 31 5 ANÁLISE DOS DADOS 5.1 UPA TIJUCA: conhecendo o território Segundo informações fornecidas pela Superintendência de Unidades Próprias, por intermédio da CARTA PF/PJ/401/2013 (Anexo 5), em resposta a uma solicitação feita pela autora, a Secretaria Estadual de Saúde informou que era responsável pela gestão direta das seguintes UPA: Santa Cruz; Campo Grande, Campo Grande II, Caxias I, Caxias II (Sarapuí) e Campos dos Goytacazes; Além de gerir estas UPA, a Secretaria Estadual de Saúde é também responsável pela supervisão de UPA que estão sob a gestão de Organizações Sociais (OS), são elas: Viva Comunidade: Maré Irajá Ilha do Governador Penha Engenho Novo OS Lagos Rio: Bangu Ricardo de Albuquerque 32 Marechal Hermes Realengo São Gonçalo Niterói OS HMTJ: Tijuca Botafogo Jacarepaguá Copacabana OS IDR: Nova Iguaçu Nova Iguaçu II Queimados A UPA Tijuca, objeto desta pesquisa, foi inaugurada em 15 de maio de 2008 e oficialmente instituída a partir da publicação da portaria nº 881 em agosto de 2012. Atualmente ela é considerada uma referência de qualidade para as demais UPAs do país a partir de pareceres técnicos emitidos pela Coordenação Geral de Urgência e Emergência e pelo Departamento de Atenção Especializada da Secretaria de Atenção à Saúde (COSEMS, 2012). Nesta pesquisa, serão analisados, seus atendimentos no período de janeiro a agosto de 2013, levando-se em consideração a quantidade de remoções realizadas pela Unidade e a hipótese de haver dificuldades de articulação com os demais níveis de atenção à saúde. Os dados referentes aos atendimentos e remoções foram obtidos junto à Superintendência de Unidades Próprias da Secretaria Estadual de Saúde. As 33 demais informações foram levantadas por intermédio de entrevistas com diversos funcionários da UPA Tijuca, cada um descrito e identificado ao longo da análise dos resultados. 5.2 UPA Tijuca: análise dos atendimentos realizados de janeiro a agosto de 2013 No período de janeiro a agosto de 2013 foram realizados 111.071 atendimentos, com uma média de 13.884 atendimentos por mês, referentes a 1.850 CID (Classificação Internacional de Doenças) diferentes. Entre tais doenças, foram consideradas para análise, aquelas com incidência superior a mil ocorrências no período, totalizando 23 principais disgnósticos, dispostos na tabela abaixo em ordem decrescente de ocorrências. 34 Tabela 2: 23 principais doenças registradas na UPA Tijuca e seu percentual em relação ao total geral de atendimentos no período de janeiro a agosto de 2013. Fonte: Elaboração própria baseado nos dados fornecidos pela Secretaria Estadual de Saúde e compilados no sistema SG/ATI/Business Intelligence - Sistema de Gestão Klinikos Estas 23 principais ocorrências totalizam 59.642 atendimentos, o que representa 53,7% do total de atendimentos, ou seja, maisda metade dos atendimentos realizados pela UPA Tijuca no período em questão. Visando compreender se cada uma dessas doenças está englobada na proposta de atendimento da UPA, foi realizada uma análise baseada no Sistema de Classificação de Risco por Cores. Todas as informações relacionadas à Classificação de Risco, bem como a análise de risco das 23 principais doenças identificadas no período, foram baseadas no POP (Procedimento Operacional Padrão – documento que determina como deve ser realizada a Classificação de 35 Risco nas UPA – Anexo 4), que foi fornecido pela Coordenadora Geral das UPAs/OS HTMJ, que é responsável pela coordenação das UPA de Copacabana, Tijuca, Jacarepaguá e Botafogo. O Sistema de Classificação de Risco busca identificar de maneira rápida e científica, de acordo com critérios clínicos, o grau de urgência no atendimento a ser realizado, auxiliando na determinação de quais pacientes devem ser atendidos primeiro (SILVA, 2012). Segundo a Coordenadora Geral das UPA/SES, diferentemente do Protocolo de Manchester, que faz a classificação de risco pelas cores azul, verde, amarelo, laranja e vermelho, a Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro e por conseqüência, as UPA que ela controla, adotam um protocolo único para as UPA do Estado, tal qual disposto na tabela de classificação abaixo. 36 Tabela 3:Modelo de Classificação de Risco adotado pelas UPAs Fonte: Elaboração própria baseada nos dados contidos no POP. Conforme se pode observar na tabela acima, o objetivo de atendimento da UPA engloba parte do “Amarelo Observação”, todos os “Amarelo Consultório” e uma pequena parte da “Urgência Relativa”, portanto todos os demais atendimentos que não se enquadram nestas classificações não são objeto de atendimento da UPA. Segundo o POP esse modelo de Classificação de Risco tem como objetivos principais: avaliar o paciente logo na sua chegada à UPA, humanizando o atendimento; reduzir o tempo para o atendimento médico, fazendo com que o paciente seja visto precocemente de acordo com a sua gravidade; determinar a S ig n if ic a d o d o r is c o p a ra a U P A EMERGÊNCIA AMARELO OBSERVAÇÃO AMARELO CONSULTÓRIO URGÊNCIA RELATIVA NÃO URGENTE Para a UPA o paciente que está em situação de emergência é aquele que possui eminência de morte Urgência Maior para a UPA é quando o usuário precisa fazer uso de um Leito Casos que precisam ser tratados com mais atenção e rapidez, mas que não precisam ocupar um leito (urgência menor) Casos não graves Não é foco de atendimento da UPA L o c a l p ró p ri o p a ra a te n d im e n to d a d e m a n d a Estabilização na UPA a partir do encaminhamento imediato à Sala Vermelha e posterior encaminhamento para as Emergências Hospitalares Os casos menos graves devem ser tratados na própria UPA Tratamento na própria UPA Alguns casos são foco da UPA outros da ABS Tratamento e Acompanhamento por parte da ABS e Clínicas da Família, mas muitas vezes a UPA atende essas demandas E s c a la d e P ri o ri d a d e Prioridade Zero - Atendimento Imediato Prioridade 1 - Atendimento o mais rápido possível Prioridade 1 - Atendimento em no máximo 1 hora Prioridade 2 - Atendimento em no máximo 2 horas Prioridade 3 - Atendimento por ordem de chegada 37 área de atendimento primário, devendo o paciente ser encaminhado diretamente às especialidades conforme o protocolo; informar o tempo de espera para cada especialidade; promover ampla informação sobre o serviço aos usuários; e retornar informações aos familiares. De acordo com informações obtidas a partir da entrevista com a Coordenadora Geral das UPA/ SES (Anexo 6) e com a visita assistida (Anexo 9) realizada juntamente com a Enfermeira Rotina da UPA Tijuca, assim que o usuário chega a UPA, ele percorre o seguinte trajeto: Acolhimento: nesse primeiro momento, faz-se um pequeno registro do paciente (apenas nome e idade). Esta ação tem como objetivo fazer um breve apanhado do que o paciente está sentindo. Isto é feito logo na entrada e são verificados os sinais vitais, pressão e temperatura. Caso haja risco (por exemplo: pressão alta), o paciente já é colocado com um risco maior no formulário, o que sinaliza que ele deve ser atendido com uma breviedade maior em relação aos demais. Além disso, pacientes idosos, deficientes físicos e gestantes são considerados grupos de risco e por isso, possuem uma classificação de risco mais prioritária do que os demais. Caso o paciente seja menor de idade e não esteja acompanhado é feito o acolhimento, a classificação de risco e esse paciente é encaminhado para a assistente social para que ela entre em contato com os familiares antes do atendimento médico. Ao lado do acolhimento tem um painel, com dois quadros, em um dos quadros aparece o nome do paciente e no outro o tipo de especialidade que o 38 paciente foi encaixado, que pode ser: classificação com risco, clínica médica, odontologia ou pediatria. Registro: o paciente que não tem muito risco é orientado a esperar acomodado em cadeiras durante um tempo até aparecer um número do seu registro no visor. Quando o paciente é chamado, ele se encaminha até uma mesa com profissionais encarregados de colher outros dados, como o nome da mãe, data de nascimento, endereço, etc., deixando a ficha do paciente mais completa. Já o paciente com muito risco (classificação de risco vermelha) é levado imediatamente para a sala Vermelha, onde são feitos todos os procedimentos de caráter emergencial (como reanimação, por exemplo), podendo ficar internado até que seja encaminhado para alguma unidade hospitalar. Classificação de risco: Após acabar de completar a ficha, o paciente volta novamente para a cadeira, para esperar um novo chamado, só que desta vez para classificação de risco, feita por duas enfermeiras. O paciente pode ser classificado em: classificação de risco 1 ou a classificação de risco 2, seja verde, azul ou amarelo, pois o paciente de classificação vermelha já teve atendimento imediato. Consultório: Depois que o paciente é chamado pela classificação ele vai para o consultório. Os consultórios 3, 4, 5 e 6 são consultórios de clínica médica e os consultórios 1 e 2 são de pediatria. Nesses consultórios o paciente é avaliado e, caso ele precise de internação, ele vai para a sala 39 vermelha. Caso ele precise de alguma medicação, vai para a sala de hipodermia. Quando o paciente vai para a sala de hipodermia, dependendo da situação, o médico pode dar a medicação para o paciente e em seguida dar alta, ou fazer uma medicação que seja preciso retornar depois para ver se ele melhorou (por exemplo: o paciente hipertenso), logo, é feita a medicação e pede-se para o paciente aguardar pelo menos 40 minutos e voltar no médico para ser avaliado novamente. Feito isso, ou o médico dá alta para o paciente com a receita ou o paciente é internado. O paciente pode ser internado na observação adulto, se for um paciente que merece observação, mas não é tão grave para ir para a sala vermelha; ou pode ser internado na observação pediátrica (crianças até 12 anos). A princípio os pacientesinternados podem ficar até 48h na observação e na sala vermelha podem ficar até 24h, porém, a demora costuma ser maior devido ao fluxo intenso. Segundo a Gestora da UPA Tijuca e a Enfermeira Rotina, os pacientes ficam até uma semana, no máximo, dependendo da situação clínica do paciente. Todos os pacientes que vão para a sala de internação, passam pela regulação, ou seja, o sistema de regulação de leitos hospitalares municipal. A transferência para outros hospitais é realizada através deste sistema de regulação e do auxílio da assistente social. Segundo as entrevistadas esse processo de transferência poderia demorar menos para que fosse possível uma melhor assistência. O transporte desse paciente até outra unidade de saúde é realizada com o auxílio das ambulâncias da UPA Tijuca. O paciente só vai por meios próprios 40 quando ele tem alta, ou seja, quando ele não tem um prognóstico de piora do quadro. Segundo o POP (Anexo 4), a Classificação de Risco costuma ser realizada a partir da situação e da queixa do usuário em relação à sua saúde, bem como a partir da avaliação do profissional de saúde. De maneira a facilitar ao máximo a visualização da Classificação do Risco, o protocolo apresenta alguns exemplos, um conjunto de situações e queixas e as relaciona com a possível Classificação de Risco. De acordo com essa listagem, foi realizada uma correlação entre os atendimentos efetivamente realizados pela UPA Tijuca no período em análise e as suas respectivas classificações de risco, de forma a deixar mais visível a adequação ou não adequação dos atendimentos em relação à proposta de atendimento das UPA, que é atender as urgências e emergências de pequenas e médias complexidades. 41 Tabela 4: Principais CID atendidos X Classificação de risco na UPA Tijuca Fonte: Elaboração própria baseado nos dados fornecidos pela Secretaria Estadual de Saúde e compilados no sistema SG/ATI/Business Intelligence - Sistema de Gestão Klinikos CID EMERGÊNCIA OBSERVAÇÃO CONSULTÓRIO URGÊNCIA RELATIVA NÃO URGENTE 1 Dengue [dengue clássico] X X X 2 Infecção viral não especificada X X 3 Nasofaringite aguda [resfriado comum] X X 4 Tosse X X 5 Amigdaliteaguda não especificada X X 6 Não administração de cuidado médico e cirúrgico X X 7 (*) Não Informado _ _ _ _ _ 8 Mialgia X X 9 Infecção do trato urinário de localização não especificada X X 10 Diarréia e gastroenteritede origem infecciosa presumível X X 11 Febrerecorrente não especificada X X X 12 Dor lombarbaixa X 13 Dor em membro X X 14 Alergianão especificada X 15 Cefaléia tensional X X 16 Sinusite aguda não especificada X 17 Gastroenterite e colite não- infecciosas, não especificadas X 18 Dor articular X 19 Infecção aguda das vias aéreas superioresnão especificada X 20 Pulpite X X X 21 Dor localizada no abdome superior X X X 22 Asmanão especificada X X 23 Náusea e vômitos X X 42 Como pode se observar na tabela acima, existem doenças que foram selecionadas em mais de uma categoria de classificação de risco. Isto foi realizado com o objetivo de considerar a característica contingencial que a doença pode assumir em cada paciente diferentemente. Tendo em vista que os casos não urgentes devem ser encaminhados e tratados pela UBS e que os casos de urgência relativa poderiam ter sido evitados se houvesse um prévio acompanhamento da UBS ao usuário, conclui-se que praticamente 100% dos principais atendimentos realizados na UPA Tijuca poderiam ter sido evitados, o que reduziria a quantidade de usuários na unidade e assim, favoreceria o melhor atendimento daqueles que de fato necessitam de atendimento prioritário pela UPA. Sendo assim, os dados coletados confirmam a hipótese deste estudo de que a UPA realiza atendimentos que não se relacionam diretamente com sua proposta e paralelamente, confirma as pesquisas realizadas por Lovalho (2007), Furtado (2004) e Costa, Wong e Barbosa (2012), que apontam que a maioria dos atendimentos realizados são de baixa complexidade, o que não condiz com a proposta do sistema. Além disso, sustenta a tese apresentada na Revista de Atenção às Urgências e Emergências, de que a UPA ocupa uma posição de observatório do sistema, já que a análise de demanda através da classificação de risco, tal qual realizada acima, possibilita verificar possíveis desafios que a rede básica possui (RANDOW ET AL, 2011). 43 5.3 UPA Tijuca: análise das remoções realizadas de janeiro a agosto de 2013 Remoção, segundo a Coordenadora Geral das UPA/SES, consiste na não resolutividade da demanda do paciente dentro da própria UPA e, portanto, a consequente transferência do paciente para uma unidade hospitalar. Sendo assim, o encaminhamento para ambulatório não é considerado remoção. No período de janeiro a agosto de 2013 foram realizadas 362 remoções, com uma média de 45 remoções por dia, dentro de um universo de 111.071 atendimentos. Logo, pode-se concluir que a resolutividade da UPA Tijuca neste período foi bastante alta (99,7%). Isto confirma a informação divulgada pela Secretaria do Estado e da Saúde e confirmada pela Coordenadora Geral das UPA/SES em entrevista, que afirma que as UPA do Rio, no geral, possuem um alto grau de resolutividade, ultrapassando os 99%. Além disso, pode-se considerar que a UPA Tijuca manteve uma regularidade na quantidade de remoções realizadas ao longo deste período, tendo os menores números de remoções nos meses de fevereiro (24 remoções, o que representa 6,6% do total de remoções realizadas) e março (28 remoções, o que representa 7,7% do total de remoções realizadas). Tais informações podem ser mais bem observadas no gráfico disposto abaixo. 44 Gráfico 1: Remoções da UPA Tijuca em porcentagem no período janeiro a agosto de 2013 Fonte: Elaboração própria baseado nos dados fornecidos pela Secretaria Estadual de Saúde e compilados no sistema SG/ATI/Business Intelligence - Sistema de Gestão Klinikos Porém, é importante ressaltar, que este alto nível de resolutividade está pautado sobre a realização de atendimentos de baixa complexidade, tal qual apresentado no item anterior, o que não é o objetivo de atendimento das UPA. 5.4 UPA Tijuca: análise das Unidades de Atenção à Saúde em sua área de abrangência As Unidades de Atenção à Saúde estão divididas geograficamente em Áreas Programáticas (AP) por município, tal qual informado pela Gestora da UPA Tijuca em entrevista. Esta divisão está disponível na ilustração abaixo, para melhor visualização. Além disso, cada uma das AP está sob controle de uma Coordenadoria Geral de Saúde específica. 45 Figura 1: Mapa das Áreas Programáticas Fonte: http://cvasrio.blogspot.com.br/2012/02/areas-programaticas-bairros.html A UPA Tijuca está localizada dentro da Área Programática 2.2 (AP 2.2), pintada de lilás na figura acima. Ela compreende sete bairros: Praça da Bandeira, Tijuca, Alto da Boa Vista, Maracanã, Vila Isabel, Andaraí e Grajaú. Segundo dados do IBGE de 2010, estes sete bairros constituem uma área de 55,2 Km2 e possuem uma densidade demográfica de 6.727,33 habitantes/Km2, com destaque para mulheres (47,7%, entre 15 e 49 anos) e idosos (22,1%, de 60 anos ou mais).A AP 2.2 está sob controle da Coordenadoria Geral de Saúde da Área Programática 2.2 (CAP 2.2), que é composta por profissionais de saúde responsáveis por coordenar, apoiar, analisar, promover e executar ações de saúde nestes sete bairros. As unidades de saúde sob controle da CAP 2.2 são da esfera administrativa Municipal. Parte delas está sob gestão da Administração Direta da Saúde 46 (Secretaria Municipal de Saúde - SMS) e outra parte está sob gestão de Organizações Sociais, conforme é melhor explicitado adiante. As unidades de saúde da CAP 2.2 constituem ao todo dez unidades: um CAPS (Centro de Atenção Psicosocial), um CMR (Centro de Referência em Medicina Física e Reabilitação), sete CMS (Centro Médico de Saúde/Unidade Básica de Saúde/ Posto de Saúde) e uma Policlínica. São elas: Policlínica (Unidade de Saúde) Policlínica Hélio Peregrino Consiste em um Posto de Assistência Médica localizado na Praça da Bandeira que tem como objetivo atender a especialidades médicas e de apoio diagnóstico. Centro de Atenção Psicosocial – CAPS CAPS Ad Mané Garrincha Consiste no Centro de Atenção Psicosocial (CAPS). Podem ser de três tipos: CAPS para adultos com sofrimento mental (CAPS I, II ou III), CAPS infantil (CAPSi), para crianças e adolescentes que possuem sofrimento mental e CAPS álcool e drogas (CAPSad), para crianças, adolescentes e adultos com problemas de sofrimento mental relacionados ao álcool e outras drogas. O CAPS Mané Garrincha é um CAPSad, tal qual pode ser melhor visualizado no mapa de distribuição de CAPS no Rio de Janeiro, disposto abaixo. 47 Figura 2: Distribuição de CAPS na cidade do Rio de Janeiro Fonte: http://redecapsdoriodejaneiro.blogspot.com.br/ Centro Municipal de Reabilitação – CMR CMR Oskar Clark É o Centro de Referência em Medicina Física e Reabilitação. Ele tem como objetivo auxiliar na recuperação do deficiente físico de maneira digna e humanizada. Atualmente o Oscar Clark conta com duas unidades, a unidade mãe no Maracanã e a unidade filha no centro do Rio. 48 Centros Municipais de Saúde (Unidades Básicas) CMS Carlos Figueiredo É um Posto de Saúde da Família que atende as comunidades do Borel, Indiana e parte da Rua São Miguel, no bairro da Tijuca, tal qual apresentado no mapa de abrangência de atuação disposto abaixo. Figura 3: Área de abrangência do CMS Carlos Figueiredo Fonte: http://smsdc-cmscarlosfigueiredofilho.blogspot.com.br/p/territorio-onde- atuamos.html Para tanto, possui três equipes (“Equipe Semente”, “Equipe Terreirão” e “Equipe Ladeira do Moreira”) que possuem um médico, um técnico de enfermagem, um técnico em saúde bucal, um auxiliar de saúde bucal, um cirurgião dentista, e agentes comunitários de saúde. 49 CMS Casa Branca É um Posto de Saúde da Família que tem sua atuação dividida em sete micro áreas de abrangência, atendidas por duas equipes (“Equipe Acolhimento” e “Equipe Vita Care”), tal qual disposto no mapa de abrangência de atuação disposto abaixo. Figura 4: Área de abrangência do CMS Casa Branca Fonte: http://institutofibra.org.br/nossos-projetos/localize-nos-mapas-as-unidades-do- esf-sob-a-gestao-do-instituto-social-fibra/ CMS Heitor Beltrão Ela conta com três Equipes de Estratégia de Saúde da Família, que atendem ao bairro da Tijuca, Comunidade Salgueiro, parte do Alto da Boa Vista e da Praça da Bandeira. 50 Figura 5: Área de abrangência do CMS Heitor Beltrão Fonte: http://institutofibra.org.br/nossos-projetos/localize-nos-mapas-as-unidades-do- esf-sob-a-gestao-do-instituto-social-fibra/ CMS Maria Augusta Estrella O Centro Municipal de Saúde Maria Augusta Estrella possui três equipes de saúde da família (“Equipe Senador”, “Equipe Conselheiro” e “Equipe de Saúde Bucal”) que atua nas áreas de Vila Isabel, Andaraí, Grajaú e Maracanã, tal qual é apontado no mapa de abrangência abaixo. 51 Figura 6: Área de abrangência do CMS Maria Augusta Estrella Fonte: http://smsdc-cmsmaestrella.blogspot.com.br/p/quem-somos.html CMS Nicola Albano O Posto de Saúde Nicola Albano conta com duas equipes (“Equipe Boa Vista” e “Equipe Floresta da Tijuca”) compostas por um Enfermeiro, dois Médicos Residentes e um Técnico em Enfermagem. Ela atua nas áreas do Alto da Boa Vista e da Floresta da Tijuca. 52 Figura 7: Área de abrangência do CMS Nicola Albano Fonte: http://smsdc-cmsnicolaalbano.blogspot.com.br/p/territorio-onde-atuamos.html CMS Parque Vila Isabel O Posto de Saúde da Família Parque Vila Isabel conta com três equipes (“Equipe Noel Rosa”, “Equipe Popular” e “Equipe Martinho da Vila”) e atua na área de Vila Isabel. 53 Figura 8: Área de abrangência do CMS Vila Isabel Fonte: http://institutofibra.org.br/nossos-projetos/localize-nos-mapas-as-unidades-do- esf-sob-a-gestao-do-instituto-social-fibra/ CMS Professor Júlio Barbosa O Posto de Saúde da Família Júlio Barbosa atua no Morro da Formiga, onde fica localizado, e para tanto, possui duas equipes (“Equipe Raia” e “Equipe Cascata”), além de profissionais que realizam apoio à atuação dessas equipes. 54 Figura 9: Área de abrangência do CMS Júlio Barbosa Fonte: http://smsdc-esfjuliobarbosa.blogspot.com.br/p/onde-atuamos.html É importante salientar que todas as Unidades Básicas da CAP 2.2, citadas acima, estão sob gestão da Organização Social “FIBRA – Instituto de Gestão e Saúde”. Além disso, todas elas realizam atendimentos domiciliares e de acordo com o CEP do local, tal qual foi informado pela Gestora da UPA Tijuca em entrevista. Conforme foi exposto acima, a AP 2.2 possui uma densidade demográfica de 6.727,33 habitantes/Km2 em uma área de 55,2 Km2 (Blog CAP 2.2), ou seja, a AP 2.2 possui ao todo 371.349 habitantes. Segundo o Ministério da Saúde, cada Equipe de Saúde da Família deve se responsabilizar pelo acompanhamento de, no máximo, quatro mil habitantes, sendo que a média recomendada é de três mil habitantes em uma determinada área. De acordo com os dados apresentados acima, as Unidades Básicas da AP 2.2 possuem, ao todo, 18 Equipes de Saúde da Família. Logo, há uma média de 55 20.631 habitantes por equipe, o que demonstra que a cobertura da Atenção Básica de Saúde na AP 2.2 é insuficiente. De forma complementar, segundo o Coordenador Médico da UPA Tijuca, as UBS da CAP 2.2 só conseguem dar assistência a 40% da população. Isto demonstra que as Unidades Básicas da AP 2.2 funcionam, porém atendem a uma demanda dez vezes superior ao que é previsto para haver um atendimento de qualidade. Seriam necessárias, ao menos, mais 93 Equipes de Saúde da Família para conseguir se adequar a estimativa do Ministério da Saúde, atingindo neste caso, a média de 3.345 habitantes por equipe. Esta adequação é ideal para que seja possível atender aos moradores desta área de abrangência com melhor qualidade. O atendimento de melhor qualidade e com cobertura adequada, diminuiria consideravelmente o número de atendimentos na UPA Tijuca, já que grande parte deles, conforme foi constatado, são de baixa complexidade, o que é objetivo de atendimento das UBS. Além de não possuírem cobertura adequada, todas estas UBS da AP 2.2 não possuem instalações físicas adequadas às suas necessidades, tal qual éapresentado no relatório proveniente do Programa de Visitas Técnicas às Unidades de Atenção Primária, realizado pelo Tribunal de Contas do Município do Rio de Janeiro (Anexo 10). Este relatório elenca os principais problemas verificados nas instalações físicas das UBS da CAP 2.2, no período de abril e maio de 2012. Foram feitas análises quanto à conservação dos ambientes interno e externo destas instituições, setor de documentação médica, setor de esterelização, sala de curativos, sala de vacinação, posto de coleta de exames, sistemas de informática, sistema de combate à incêncio, ambiente de espera, consultórios, equipamentos e 56 estrutura física. Com isso, foram elencadas, principalmente, as ocorrências listadas na tabela abaixo. Tabela 5: Principais ocorrências em relação à área física registradas nas UBS da AP 2.2 entre abril e maio de 2012 Unidade Básica Ocorrência CMS Nicola Albano Área externa suja ou mal conservada Estruturas externas mal conservadas Áreas sujas Tanque de lavagem inadequado ou inexistente Teto mal conservado Inexistência de geladeira Falta de sinalização para equipamentos de combate à incêndio Equipamentos de combate à incêndio fora do local sinalizado Insuficiência de assentos ou assentos inadequados Sanitários sujos ou mal conservados Lixeiras abertas CMS Maria Augusta Estrella Lixo armazenado de forma inadequada Teto mal conservado Sanitários sujos ou mal conservados Sanitários sem sabão líquido, ou sem papel toalha, ou sem papel higiênico CMS Parque Vila Isabel Lixo armazenado de forma inadequada Dificuldade de acesso para deficientes físicos Não há setor de esterelização Inexistência de fonte alternativa de energia para o refrigerador As instalações da área de coleta de exames são utilizadas para outras atividades Falta de sinalização para equipamentos de combate à incêndio Área de espera não oferece conforto aos pacientes Insuficiência de assentos ou assentos inadequados Sanitários sujos ou mal conservados Inexistência de recipientes para o lixo Iluminação insuficiente na unidade CMS Casa Branca Lixo armazenado de forma inadequada Não há setor de esterelização 57 Tanque de lavagem inadequado ou inexistente Inexistência de fonte alternativa de energia para o refrigerador Inexistência de recipiente para o descarte de material perfuro cortante As instalações da área de coleta de exames são utilizadas para outras atividades Insuficiência de assentos ou assentos inadequados Sanitários sujos ou mal conservados CMS Heitor Beltrão Teto mal conservado Paredes Mal conservadas Arquivos insuficientes, danificados e em mal estado de conservação Fichas fora dos arquivos Insuficiência de Espaço nos arquivos Tanque de lavagem inadequado ou inexistente Insuficiência de Espaço Equipamentos de informática defeituosos ou ultrapassados Falta de operadores (pessoal administrativo) Equipamentos de combate à incêndio fora do local sinalizado Sanitários sujos ou mal conservados CMS Carlos Figueredo Filho Teto mal conservado Paredes mal conservadas Falta de sinalização para equipamentos de combate à incêndio Insuficiência de assentos ou assentos inadequados Inexistência de recipientes para o lixo Iluminação insuficiente na unidade CMS Professor Júlio Barbosa Treinamento insuficiente para manuseio dos sistemas Inexistência de equipamentos de combate à incêndio Falta de sinalização para equipamentos de combate à incêndio Equipamentos de combate à incêndio fora do local sinalizado Área de espera não oferece conforto aos pacientes Insuficiência de assentos ou assentos inadequados Sanitários sujos ou mal conservados Fonte: Elaboração própria baseado nos dados presentes no relatório proveniente do Programa de Visitas Técnicas às Unidades de Atenção Primária (TRIBUNAL DE CONTAS DO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO, 2012) 58 Conforme se pode obsevar na tabela acima, todas as UBS da AP 2.2 apresentaram algum tipo de ocorrência. As unidades Heitor Beltrão, Nicola Albano e Parque Vila Isabel apresentaram o maior número de ocorrências (mais de dez). Já as unidades com menor número de ocorrências foram: Professor Carlos Figueredo Filho e Maria Augusta Estrella. No entanto, apesar de terem sido as unidades com menores ocorrências, elas são graves, tendo em vista problemas básicos, como a falta de recipientes para lixo, no caso da unidade Professor Carlos Figueredo Filho. Além destas ocorrências, foram registradas dificuldades como a falta de equipamentos ou equipamentos necessitando de manutenção, o que dificulta a realização de diversos exames e procedimentos, conforme elencado na tabela abaixo. Tabela 6: Dificuldades na realização de exames e procedimentos registradas nas UBS da AP 2.2 entre abril e maio de 2012 Unidade Básica Exames / Procedimentos CMS Nicola Albano Ultrassonografia Mamografia Oftalmologia Consultas de Neurologia CMS Maria Augusta Estrella Mamografia Oftalmologia Consultas de Cirurgia Geral Consultas de Urologia Consultas de Neurologia CMS Parque Vila Isabel Oftalmologia Consultas de Cirurgia Geral Consultas de Neurologia Consultas de Urologia CMS Casa Branca Oftalmologia Consultas de Dermatologia Consultas de Gastroenterologia Consultas de Neurologia 59 CMS Heitor Beltrão Mamografia Oftalmologia Consultas de Cirurgia Geral Consultas de Gastroenterologia Consultas de Neurologia CMS Carlos Figueredo Filho Oftalmologia Consultas de Gastroenterologia Consultas de Neurologia CMS Professor Júlio Barbosa Oftalmologia Consultas de Neurologia Consultas de Otorrino Consultas de Urologia Fonte: Elaboração própria baseado nos dados presentes no relatório proveniente do Programa de Visitas Técnicas às Unidades de Atenção Primária (TRIBUNAL DE CONTAS DO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO, 2012) Desta forma, pode-se concluir que os problemas nas instalações físicas, as dificuldades de realização de diversos exames e procedimentos e a insuficiência de cobertura por parte das UBS da AP 2.2, acabam por fazer com que a demanda da UPA Tijuca se sobrecarregue, pois esta população desassistida acaba procurando seus serviços. 5.5 UPA Tijuca: análise das Unidades Hospitalares em sua área de abrangência Dentro da Área Programática (AP) coexistem unidades de saúde das três esferas (Municipal, Estadual e Federal), tal qual informado pelo Coordenador Médico da UPA Tijuca. Nesse sentido, além daquelas unidades de saúde controladas pela CAP 2.2, a AP 2.2, onde está localizada a UPA Tijuca, também possui unidades hospitalares. 60 A inclusão de hospitais na ánalise é importante, pois além da rede básica, eles também interagem fortemente com a UPA Tijuca na organização em rede. Os hospitais públicos presentes na AP 2.2 são: Hospital Municipal Jesus (Vila Isabel) Consiste em um Hospital Especializado em pediatria (até 17 anos) e é voltado para atendimentos de média e alta complexidade. Possui uma média de cento e vinte leitos para internação e realiza entre cinco e sete mil consultas ambulatoriais por mês. A média de internações por mês é de 400. Hospital Federal do Andaraí Consiste em um Hospital Geral que possui capacidade de atendimento a diversas especialidades clínicas e cirúrgicas de urgência
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