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CURSO DE DIREITO TRIBUTÁRIO 
Direito Tributário - Aula 1 
Eduardo Sabbag 
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Considerações iniciais: 
 
- Princípios tributários: arts. 150, 151 e 152 
da CF; 
- Princípios (conceito) = limitações 
constitucionais ao poder de tributar (os 
princípios são balizamentos à ação 
tributante das entidades impositoras: U, E, M 
e DF). 
(...) 
 
Daí se dizer que a tributação federal, por 
exemplo, que viole determinado princípio 
tributário, será inevitavelmente 
“contaminada” de inconstitucionalidade. O 
mesmo raciocínio vale para a tributação 
estadual ou municipal. 
 
Estudo individualizado dos Princípios 
Tributários: 
 
1. PRINCÍPIO DA LEGALIDADE 
TRIBUTÁRIA (ART. 150, I, CF C/C ART. 
97, I E II, CTN) 
“U, E, M e DF só podem instituir e majorar o 
tributo por meio de lei”. 
Dois verbos: instituir e majorar (lei) 
- Que lei é essa que cria e aumenta o 
tributo? Lei ordinária. 
Pergunta-se, ainda: E a lei complementar? 
Ela está explícita na CF como a lei hábil a 
instituir QUATRO tributos federais: 
1. Imposto sobre grandes fortunas (art. 153, 
VII, CF); 
 
2. Imposto residual (art. 154, I, CF); 
 
3. Empréstimo compulsório (art. 148, 
caput, CF); 
 
4. Contribuições residuais da seguridade 
social (art. 195, §4º, CF c/c art. 154, I, CF). 
 
O Poder Executivo pode, entretanto, ter uma 
atuação mitigada (art. 153, §1º, CF): 
 
QUATRO impostos federais cujas alíquotas 
poderão ser alteradas por ato do Poder 
Executivo (Portaria, Decreto etc.). 
 
Detalhe: esses quatro impostos foram 
criados por meio de lei, cabendo ao 
Executivo uma atuação superveniente. 
LISTA: II, IE, IPI e IOF. 
 
ATENÇÃO: a EC 33/01 ampliou o rol, 
trazendo mais dois tributos – CIDE-
Combustível e o ICMS-Combustível. 
Lógica da mitigação da legalidade tributária: 
trata-se de tributos extrafiscais, ou seja, 
reguladores de mercado. Isso pode ser 
percebido nas reduções de alíquotas de IPI 
para facilitar o acesso das classes menos 
favorecidas a certos produtos; ainda, nos 
aumentos de alíquota de II sobre 
determinados produtos asiáticos, para 
proteger a indústria nacional. 
 
DICAS FINAIS (Princípio da Legalidade 
Tributária): 
 
DICA 1: Ler o art. 97 do CTN e perceber 
que a lei tributária contém “elementos 
estruturantes” indispensáveis: alíquota, base 
de cálculo, sujeito passivo, multa e fato 
gerador. Por essa razão, aqui temos a 
chamada “estrita legalidade” (reserva legal 
ou tipicidade fechada/cerrada/regrada). 
Exemplo de “vício”: criação de uma taxa por 
lei, ficando o sujeito passivo a cargo de 
tratamento ulterior em uma portaria. 
 
DICA 2: Ler o art. 62, §2º, CF (“A MP e o 
Princípio da Legalidade Tributária”) 
Literalidade da CF: “Medida provisória que 
implique instituição ou majoração de 
impostos...” 
 
Portanto: 
“Pode ser aumentado o IR por MP?” 
Resposta: SIM. 
“Pode ser aumentato o ITR por MP?” 
Resposta: SIM. 
 
DICA 3: A ALTERAÇÃO DA BASE DE 
CÁLCULO E A RESERVA LEGAL 
Art. 97. Somente a lei pode estabelecer: (...) 
§ 1º. Equipara-se à majoração do tributo a 
modificação da sua base de cálculo, que 
importe em torná-lo mais oneroso. 
(...) 
§ 2º. Não constitui majoração de tributo, 
para os fins do disposto no inciso II deste 
artigo, a atualização do valor monetário da 
respectiva base de cálculo. 
(...) 
 
 
 
 
 
 
 
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 Súmula n. 160 do STJ: “É defeso, ao 
Município, atualizar o IPTU, mediante 
decreto, em percentual superior ao índice 
oficial de correção monetária”. 
x-x-x-x-x-x-x-x 
 
PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE 
TRIBUTÁRIA (art. 150, III, “b” e “c”, CF) 
Tal princípio já foi considerado “cláusula 
pétrea” pelo STF. 
A anterioridade tributária não se confunde 
com o “princípio da anualidade”. Tal 
postulado já esteve associado à seara 
tributária em texto constitucional pretérito. 
 
Na atual CF/88, isso não ocorre. 
Memorize: 
 
NÃO se aplica o princípio da anualidade 
tributária ao sistema tributário nacional, no 
bojo dos aumentos e instituições de tributos. 
 
A anterioridade, no texto da CF, está ligada 
a dois verbos: INSTITUIR E AUMENTAR. 
Portanto, memorize: o princípio só vale para 
esses casos. 
 
Quando se tem uma redução de tributo (ou 
uma extinção), haverá PRONTA 
INCIDÊNCIA DA NORMA, não se cogitando 
do respeito ao postulado. 
 
ALÍNEAS “B” e “C”: 
Anterioridade ANUAL (alínea “b”): a lei que 
cria/aumenta o tributo vai incidir no primeiro 
dia do ano seguinte ao da criação/aumento; 
Anterioridade NONAGESIMAL (alínea “c”): a 
lei que cria/aumenta o tributo vai incidir no 
nonagésimo primeiro dia a contar da data da 
criação/aumento (veio com a EC 42/03). 
 
IMPORTANTE: devemos aplicar 
cumulativamente as duas anterioridades, na 
detecção da data da incidência da lei 
criadora ou majoradora do tributo. 
 
Casos práticos: 
 
1. Lei aumenta tributo em 10-12-2015. 
Quando incidirá? 
 
CÁLCULO: ANT. ANUAL (01-01-2016) E 
ANT. NONAGESIMAL (“10-03-2016”) 
GABARITO: escolha a data maior...essa 
aí... em meados de março de 2016! 
 
2. Lei aumenta tributo em 10-10-2015. 
Quando incidirá? 
 
CÁLCULO: ANT. ANUAL (01-01-2016) E 
ANT. NONAGESIMAL (“10-01-2016”) 
GABARITO: escolha a data maior...essa 
aí... em meados de janeiro de 2016! 
Casos práticos: 
 
3. Lei aumenta tributo em 10-08-2015. 
Quando incidirá? 
 
CÁLCULO: ANT. ANUAL (01-01-2016) E 
ANT. NONAGESIMAL (“10-11-2015”) 
GABARITO: escolha a data maior...essa aí... 
em 01-01-2016! 
 
REGRA GERAL: se houver aumento ou 
instituição de tributo entre janeiro e 
setembro de um ano (até 2 de outubro, com 
precisão), a incidência da norma 
majoradora/criadora ocorrerá em 01-01-ANO 
SEGUINTE. Por outro lado, se isso se der 
entre outubro e dezembro, bastará computar 
o prazo de 90 dias. 
 
Não obstante a regra acima, existem 
exceções (art. 150, §1º, CF): ressalvas a 
essas duas “esperas”. Vamos analisar o 
dispositivo: 
 
1. TRIBUTOS DE EXIGÊNCIA IMEDIATA 
(fogem às duas anterioridades): II, IE, 
IOF, Imp. Extraordinário e o Emp. Compul// 
(Cala/Pú. e Guerra Externa). 
 
Exemplo importante (de revisão): (...) 
O Decreto é perfeitamente consentâneo com 
a CF, ou seja, é constitucional. Respeita a 
legalidade tributária e a anterioridade 
tributária. 
 
2. TRIBUTOS QUE FOGEM À 
ANTERIORIDADE ANUAL, MAS 
RESPEITAM A ANTERIORIDADE 
NONAGESIMAL: IPI, CIDE-Combustível e o 
ICMS-Combustível. 
 
Exemplo importante (de revisão): (...) 
 
 
 
 
 
 
 
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Com relação ao aumento por Decreto, tudo 
ok!!! Por outro lado, quanto à anterioridade, 
desponta a INCONSTITUCIONALIDADE, 
porquanto o IPI majorado só poderá incidir 
após 90 dias. 
 
DICA FINAL: 
O tributo que não for “exceção” será “regra”! 
Por exemplo, são tributos que obedecem à 
regra: taxas, contribuições de melhoria, ISS, 
ITR, IPVA(alíquotas), ICMS, 
IPTU(alíquotas), entre vários outros. 
Exemplo: taxa criada em 12-11-2015 só 
poderá ser exigida a partir de “12-02-2016” 
(= 90 dias após). 
x-x-x-x-x-x-x-x 
 
PRINCÍPIO DA IRRETROATIVIDADE 
TRIBUTÁRIA (art. 150, III, “a”, CF) 
Irretroatividade significa “não retroatividade” 
ou “não retroação” da lei. Vale dizer que se 
veda a vigência retrospectiva da lei, ou seja, 
esta deve “viger para frente”. 
 
O fundamento vai ao encontro do art. 5º, 
XXXVI, CF, o qual proíbe que a lei retroaja e 
atinja o ato jurídico perfeito, o direito 
adquirido e a coisa julgada. Desse modo, a 
lei tributária deverá atingir fatos que lhe são 
subsequentes ou subsecutivos. E que fatos 
são esses? São os fatos geradores! 
 
Exemplo de vício: lei publicada em 12-11-
2015 institui uma taxa e acaba por abranger 
fatos geradores ocorridosem março de 
2015. 
 
ANÁLISE: Tal lei é inconstitucional por 
violação ao princípio da irretroatividade 
tributária. 
 
MEMORIZE: 
No CTN, o art. 106 traz dois casos de LEIS 
PRODUTORAS DE EFEITOS JURÍDICOS 
PRETÉRITOS, em seus dois incisos. 
 
Inciso I: lei interpretativa (deve ser 
expressamente interpretativa). Além disso, 
memorize que só retroagirá a lei 
interpretativa que for verdadeiramente 
interpretativa. (...) 
 
Vale dizer que, se a lei, a pretexto de 
interpretar, infligir penalidade, só poderá ter 
vigência prospectiva. 
 
Inciso II: lei mais benéfica para o 
contribuinte, NO CAMPO DAS INFRAÇÕES. 
Isso significa que a “lex mitior” retroagirá 
para beneficiar apenas no campo diverso do 
tributo (multas, infrações etc.). Tal retroação 
benéfica não poderá ocorrer no campo das 
alíquotas, do valor do tributo etc. 
(...) Art. 106, II, CTN: 
 
CUIDADO!!!! Há uma CONDIÇÃO!!! 
Só ocorrerá a retroação da norma mais 
benéfica no campo das infrações SE O ATO 
NÃO ESTIVER DEFINITIVAMENTE 
JULGADO. Isso significa haver pendência 
de julgamento. Enquanto esta houver, 
sobrevindo uma lei mais benéfica para 
multa, por exemplo, a multa benéfica deverá 
retroagir. 
x-x-x-x-x-x-x-x 
 
OUTROS PRINCÍPIOS TRIBUTÁRIOS: 
PRINCÍPIO DA VEDAÇÃO DO TRIBUTO 
COM EFEITO DE CONFISCO: 
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias 
asseguradas ao contribuinte, é vedado à 
União, aos Estados, ao Distrito Federal e 
aos Municípios: 
IV - utilizar tributo com efeito de confisco; 
 
Certas súmulas editadas pelo STF 
exteriorizam essa visão protetiva, conforme 
se nota no teor dos enunciados adiante 
reproduzidos: 
 
Súmula n. 70: “É inadmissível a interdição 
de estabelecimento como meio coercitivo 
para cobrança de tributo”; 
Súmula n. 323: “É inadmissível a apreensão 
de mercadorias como meio coercitivo para 
pagamento de tributos”; 
Súmula n. 547: “Não é lícito a autoridade 
proibir que o contribuinte em débito adquira 
estampilhas, despache mercadorias nas 
alfândegas e exerça suas atividades 
profissionais”. 
x-x-x-x-x-x-x 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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PRINCÍPIO DA LIBERDADE AO TRÁFEGO 
DE PESSOAS E BENS: 
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias 
asseguradas ao contribuinte, é vedado à 
União, aos Estados, ao Distrito Federal e 
aos Municípios: 
V - estabelecer limitações ao tráfego de 
pessoas ou bens, por meio de tributos 
interestaduais ou intermunicipais, ressalvada 
a cobrança de pedágio pela utilização de 
vias conservadas pelo Poder Público; 
x-x-x-x-x-x-x 
 
PRINCÍPIO DA UNIFORMIDADE 
GEOGRÁFICA (OU TRIBUTÁRIA): 
Art. 151. É vedado à União: 
I - instituir tributo que não seja uniforme em 
todo o território nacional ou que implique 
distinção ou preferência em relação a 
Estado, ao Distrito Federal ou a Município, 
em detrimento de outro, admitida a 
concessão de incentivos fiscais destinados a 
promover o equilíbrio do desenvolvimento 
socioeconômico entre as diferentes regiões 
do País; 
x-x-x-x-x-x-x 
 
PRINCÍPIO DA VEDAÇÃO DAS ISENÇÕES 
HETERÔNOMAS: 
Art. 151. É vedado à União: (...) 
III - instituir isenções de tributos da 
competência dos Estados, do Distrito 
Federal ou dos Municípios. 
 
A HETERONOMIA (Próximos slides: trechos 
extraídos de SABBAG, Eduardo de Moraes. 
Manual de Direito Tributário. 7. ed. São 
Paulo: Saraiva, p. 281) 
(...) 
 
A HETERONOMIA... 
 
O ISS: 
1. Art. 156, § 3º, II, CF: trata da possibilidade 
de concessão pela União, por lei 
complementar (art. 2º, I, da LC n. 116/03), 
de isenção heterônoma do ISS nas 
exportações de serviços. O entendimento 
majoritário é o de que se trata de exceção à 
regra da vedação de prática de isenção 
heterônoma. 
 
A nosso sentir, é um bom exemplo, se não 
for o único, de heteronomia expressa no 
texto constitucional. 
A HETERONOMIA E OS TRATADOS... 
PERGUNTA-SE: pode haver a concessão 
de isenção de tributos estaduais e 
municipais pela via do tratado internacional? 
(...) 
 
A União, ao celebrar o tratado, não se 
mostra como pessoa política de Direito 
Público Interno, mas como pessoa política 
internacional, ou sujeito de direito na ordem 
internacional, passando ao largo da restrição 
constitucional. 
 
Em tempo, o Presidente da República firma 
tais acordos à frente dos interesses 
soberanos da nação, e não na defesa de 
seus restritos propósitos como entidade 
federada. Daí se assegurar que a concessão 
da isenção na via do tratado não se sujeita à 
proibição da concessão de isenção 
heterônoma, prevista na CF. 
 
Aliás, em 2007, o STF ratificou que “o 
Presidente da República não subscreve 
tratados como Chefe de Governo, mas como 
Chefe de Estado, o que descaracteriza a 
existência de uma isenção heterônoma, 
vedada pelo art. 151, inc. III, da 
Constituição”. (RE 229.096/RS, Pleno, rel. 
Min. Ilmar Galvão, rel. p/ o acórdão Min. 
Cármen Lúcia, j. 16-08-2007) 
 
 
Muito obrigado! 
#EstudeMais #EstudeSempre 
Prof. Sabbag

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