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DIREITOS DA PERSONALIDADE-1

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DIREITOS DA PERSONALIDADE
CF/88, art. 5º, X: 
	São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação. 
CC/2002, arts. 11 a 21
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DIREITOS DA PERSONALIDADE
Conceito: são direitos subjetivos que têm por objetivo os bens e valores essenciais da pessoa, no seu aspecto físico, moral e intelectual (Prof. Francisco Amaral).
	
		São direitos subjetivos da pessoa de defender o que lhe é próprio, ou seja, a sua integridade física (vida, alimentos, próprio corpo vivo ou morto); a sua integridade intelectual (liberdade e pensamento, autoria científica, artística e literária); e a sua integridade moral (honra, recato, segredo profissional e doméstico, identidade pessoal, familiar e social) (Maria Helena Diniz). 
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Características dos direitos da personalidade:
	
ABSOLUTOS
		São absolutos por serem oponíveis erga omnes, por conterem em sim, um dever geral de abstenção, de respeito. 
		São sujeitos passivos todos aqueles que ameacem ou impeçam o livre exercício dos direitos da personalidade.
EXTRAPATRIMONIAIS
		São direitos sem conteúdo econômico. São insuscetíveis de aferição econômica, tanto que, se impossível for a reparação in natura ou a reposição do status quo ante, a indenização pela sua lesão será pelo equivalente. 
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INTRANSMISSÍVEIS
		 Por não poderem ser transferidos à esfera jurídica de outrem. Nascem e extinguem com o seu titular, por serem dele inseparáveis. Ninguém pode usufruir em nome de outra pessoa de bens como a vida, a liberdade, a honra etc. 
ILIMITADOS
		 Não é possível imaginar um rol taxativo de direitos da personalidade.
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INDISPONÍVEIS
		São insuscetíveis de disposição. 
		Porém a indisponibilidade é relativa. 
		A pessoa famosa poderá explorar sua imagem na promoção de venda de produtos, mediante pagamento de uma remuneração convencionada. 
		Em relação ao corpo, nada impede que uma pessoal venha a ceder, gratuitamente, órgão ou tecido. 
		Assim, os direitos da personalidade poderão ser objeto de contrato, como o de concessão para uso de imagem ou de marca etc. 
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IMPRESCRITÍVEIS
		Não se extinguem pelo uso ou pela inércia na pretensão de defendê-los. 
		Mas se a pretensão for a obtenção de uma reparação civil do dano patrimonial ou dano moral indireto, submete-se a prazos prescricionais. Isto porque a prescrição alcança os efeitos patrimoniais de ações imprescritíveis. 
		É diferente a imprescritibilidade do direito com a imprescritibilidade do aspecto patrimonial. 
		Quando se refere que o direito à personalidade é imprescritível, é o direito em si, e não o direito subjetivo que surge da violação do direito da personalidade. 
		Ex. O direito de obter o reconhecimento da ascendência biológica é imprescritível, mas não o é a petição de herança; o direito de alimentos não prescreve, mas uma vez estabelecido o crédito alimentar, submete-se à influência da prescrição. 
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NECESSÁRIOS e INEXPROPRIÁVEIS
		Por serem inatos, adquiridos no instante da concepção, não podem ser retirados da pessoa enquanto ela viver por dizerem respeito à qualidade humana. 
IRRENUNCIÁVEIS
		É a impossibilidade do titular do direito da personalidade renunciar desse seu direito.
VITALÍCIOS
		Terminam em regra, com a morte de seu titular por serem indispensáveis enquanto viver. Mas tal fim não é completo, uma vez que certos direitos sobrevivem. Ex. ao morto é devido respeito; sua imagem, sua honra e seu direito moral de autor são resguardados. 
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Art. 11, CC. Com exceção dos casos previstos em lei, os direitos da personalidade são intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo o seu exercício sofrer limitação voluntária.
 
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DA PROTEÇÃO AOS DIREITOS DA PERSONALIDADE
		O respeito à dignidade humana encontra-se em primeiro plano entre os fundamentos constitucionais pelos quais se orienta o ordenamento na defesa dos direitos da personalidade (art. 1º, III, CF). 
	
		Seguem-se os demais considerados de maior relevância: intimidade, vida privada, honra e imagem das pessoas, assegurando-se o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação (art. 5º, X, CF). 
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		Destinam-se os direitos da personalidade a resguardar a dignidade humana, por meio de medidas judiciais adequadas, que devem ser ajuizadas pelo ofendido, que podem ser de natureza preventiva ou cominatória:
		1) TUTELA INIBITÓRIA (natureza preventiva) – é a tutela de prevenção do ato ilícito. 
		2) TUTELA RESSARCITÓRIA (natureza cominatória) – o ofendido pleiteia a reparação, buscando a compensação do dano sofrido (moral ou material). 
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	Art. 12, CC. Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da personalidade, e reclamar perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções previstas em lei.
	Parágrafo único. Em se tratando de morto, terá legitimação para requerer a medida prevista neste artigo o cônjuge sobrevivente, ou qualquer parente em linha reta, ou colateral até o quarto grau.
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DIREITO AO PRÓPRIO CORPO
		O direito à integridade física compreende a proteção jurídica à vida, ao próprio corpo (vivo ou morto), quer na sua totalidade, quer em relação a tecidos, órgãos e partes suscetíveis de separação e individualização, quer ainda ao direito de alguém submeter-se ou não a exame e tratamento médico. 
		A vida humana é o bem supremo. Preexiste ao direito e deve ser respeitada por todos. 
		A proteção jurídica da vida humana e da integridade física tem como objetivo principal a preservação desses bens jurídicos, que recebem proteção da CF/88, do CC e do CP. 
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		Essa proteção começa desde a concepção (art. 2º, CC) e se estende até a morte (representada pela paralisação da atividade cerebral, circulatória e respiratória). 
		O direito ao próprio corpo abrange tanto a sua integralidade como as partes dele destacáveis e sobre as quais exerce o direito de disposição.
	
Art. 13, CC. Salvo por exigência médica, é defeso o ato de disposição do próprio corpo, quando importar diminuição permanente da integridade física, ou contrariar os bons costumes.
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		De acordo com o enunciado 276 da IV Jornada de Direito Civil, o artigo 13, CC ao permitir a disposição do próprio corpo por exigência médica, autoriza as cirurgias de transgenitalização, em conformidade com os procedimentos estabelecidos pelo Conselho Federal de Medicina, e a consequente alteração do prenome e do sexo no Registro Civil. 
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	Art. 13, parágrafo único, CC:
	“O ato previsto neste artigo será admitido para fins de transplante, na forma estabelecida em lei especial.”
		
	A lei que disciplina os transplantes é a 
Lei n. 9.434, de 04.02.1997. 
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TRANSPLANTES - LEI N. 9.434/97
DA DISPOSIÇÃO DE TECIDOS, ÓRGÃOS E PARTES DO CORPO HUMANO VIVO PARA FINS DE TRANSPLANTE OU TRATAMENTO
	Art. 9o É permitida à pessoa juridicamente capaz dispor gratuitamente de tecidos, órgãos e partes do próprio corpo vivo, para fins terapêuticos ou para transplantes em cônjuge ou parentes consanguíneos até o quarto grau, inclusive, na forma do § 4o deste artigo, ou em qualquer outra pessoa, mediante autorização judicial, dispensada esta em relação à medula óssea. (Redação dada pela Lei nº 10.211, de 23.3.2001)
	
	§ 3º Só é permitida a doação referida neste artigo quando se tratar de órgãos duplos (RINS), de partes de órgãos (FÍGADO), tecidos (PELE, MEDULA ÓSSEA) ou partes do corpo cuja retirada não impeça o organismo do doador de continuar vivendo sem risco para a sua integridade e não represente grave comprometimento de suas aptidões vitais e saúde mental e não cause mutilação ou deformação inaceitável, e corresponda a uma necessidade terapêutica comprovadamente indispensável à pessoa receptora.
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	Art. 9º (...)
AUTORIZAÇÃO DO DOADOR
	§ 4º O doador deverá autorizar, preferencialmente por escrito e diante de testemunhas,
especificamente o tecido, órgão ou parte do corpo objeto da retirada.
REVOGAÇÃO DA AUTORIZAÇÃO
	§ 5º A doação poderá ser revogada pelo doador ou pelos responsáveis legais a qualquer momento antes de sua concretização.
DOADOR INCAPAZ
	§ 6º O indivíduo juridicamente incapaz, com compatibilidade imunológica comprovada, poderá fazer doação nos casos de transplante de medula óssea, desde que haja consentimento de ambos os pais ou seus responsáveis legais e autorização judicial e o ato não oferecer risco para a sua saúde.
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	Art. 9º (...)
GESTANTE
	§ 7º É vedado à gestante dispor de tecidos, órgãos ou partes de seu corpo vivo, exceto quando se tratar de doação de tecido para ser utilizado em transplante de medula óssea e o ato não oferecer risco à sua saúde ou ao feto.
AUTOTRANSPLANTE
	§ 8º O auto-transplante* depende apenas do consentimento do próprio indivíduo, registrado em seu prontuário médico ou, se ele for juridicamente incapaz, de um de seus pais ou responsáveis legais.
	* O autotransplante, ou transplante autogênico, consiste na colheita da medula do próprio paciente, de onde serão retiradas células-tronco que serão congeladas e reimplantadas na medula no dia do transplante.	
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DISPOSIÇÃO POST MORTEM
		O art. 14 do CC trata da disposição post mortem gratuita do próprio corpo, disciplinada na Lei n. 9.434/97. 
	Art. 14, CC. É válida, com objetivo científico, ou altruístico, a disposição gratuita do próprio corpo, no todo ou em parte, para depois da morte.
	Parágrafo único. O ato de disposição pode ser livremente revogado a qualquer tempo.
		
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		Assim, tem-se consagrado o PRINCÍPIO DO CONSENSO AFIRMATIVO, pelo qual cada um deve manifestar sua vontade de doar seus órgãos e tecidos para depois de sua morte, com objetivo científico ou terapêutico, tendo o direito de a qualquer tempo revogar livremente essa doação. 
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LEI N. 9.434/97
DA DISPOSIÇÃO POST MORTEM DE TECIDOS, 
ÓRGÃOS E PARTES DO CORPO HUMANO PARA FINS DE TRANSPLANTE.
DA MORTE
	Art. 3º A retirada post mortem de tecidos, órgãos ou partes do corpo humano destinados a transplante ou tratamento deverá ser precedida de diagnóstico de morte encefálica, constatada e registrada por dois médicos não participantes das equipes de remoção e transplante, mediante a utilização de critérios clínicos e tecnológicos definidos por resolução do Conselho Federal de Medicina.
	(...) 	
	§ 3º Será admitida a presença de médico de confiança da família do falecido no ato da comprovação e atestação da morte encefálica.
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DA DISPOSIÇÃO POST MORTEM DE TECIDOS, 
ÓRGÃOS E PARTES DO CORPO HUMANO PARA FINS DE TRANSPLANTE.
AUTORIZAÇÃO
	Art. 4o A retirada de tecidos, órgãos e partes do corpo de pessoas falecidas para transplantes ou outra finalidade terapêutica, dependerá da autorização do cônjuge ou parente, maior de idade, obedecida a linha sucessória, reta ou colateral, até o segundo grau inclusive, firmada em documento subscrito por duas testemunhas presentes à verificação da morte. (Redação dada pela Lei nº 10.211, de 23.3.2001)
	
	
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DA DISPOSIÇÃO POST MORTEM DE TECIDOS, 
ÓRGÃOS E PARTES DO CORPO HUMANO PARA FINS DE TRANSPLANTE.
AUTORIZAÇÃO DE INCAPAZ
	Art. 5º A remoção post mortem de tecidos, órgãos ou partes do corpo de pessoa juridicamente incapaz poderá ser feita desde que permitida expressamente por ambos os pais, ou por seus responsáveis legais.
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DA DISPOSIÇÃO POST MORTEM DE TECIDOS, 
ÓRGÃOS E PARTES DO CORPO HUMANO PARA FINS DE TRANSPLANTE.
PESSOAS NÃO IDENTIFICADAS
	Art. 6º É vedada a remoção post mortem de tecidos, órgãos ou partes do corpo de pessoas não identificadas.
	
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PESSOAS NÃO IDENTIFICADAS
		A Lei 8.501/92 dispõe sobre a utilização de cadáver não reclamado, para fins de estudos ou pesquisas científica:
  Art. 2° O cadáver não reclamado junto às autoridades públicas, no prazo de trinta dias, poderá ser destinado às escolas de medicina, para fins de ensino e de pesquisa de caráter científico.
    Art. 3° Será destinado para estudo, na forma do artigo anterior, o cadáver:
     I -- sem qualquer documentação;
    II -- identificado, sobre o qual inexistem informações relativas a endereços de parentes ou responsáveis legais.
    
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    § 1° Na hipótese do inciso II deste artigo, a autoridade competente fará publicar, nos principais jornais da cidade, a título de utilidade pública, pelo menos dez dias, a notícia do falecimento.
    § 2° Se a morte resultar de causa não natural, o corpo será, obrigatoriamente, submetido à necropsia no órgão competente.
    § 3° É defeso encaminhar o cadáver para fins de estudo, quando houver indício de que a morte tenha resultado de ação criminosa.
    § 4° Para fins de reconhecimento, a autoridade ou instituição responsável manterá, sobre o falecido:
    a) os dados relativos às características gerais;
    b) a identificação;
    c) as fotos do corpo;
    d) a ficha datiloscópica;
    e) o resultado da necropsia, se efetuada; e
    f) outros dados e documentos julgados pertinentes.
    Art. 4° Cumpridas as exigências estabelecidas nos artigos anteriores, o cadáver poderá ser liberado para fins de estudo.
    Art. 5° A qualquer tempo, os familiares ou representantes legais terão acesso aos elementos de que trata o § 4° do art. 3° desta Lei.
	
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DA DISPOSIÇÃO POST MORTEM DE TECIDOS, 
ÓRGÃOS E PARTES DO CORPO HUMANO PARA FINS DE TRANSPLANTE.
RECOMPOSIÇÃO DO CADÁVER
	Art. 8o Após a retirada de tecidos, órgãos e partes, o cadáver será [...] condignamente recomposto para ser entregue, em seguida, aos parentes do morto ou seus responsáveis legais para sepultamento. (Redação dada pela Lei nº 10.211, de 23.3.2001)
		
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	A comercialização de órgãos do corpo humano é expressamente vedada pela CF/88 - (art. 199, § 4º)
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		A pessoa pode ser compelida a submeter-se a exame contra a sua vontade? O indivíduo pode ser compelido a produzir provas contra si? 
		A legislação concede às pessoas o direito a recusar qualquer tipo de exame que possa produzir provas contra si. 
	Art. 232, CC. A recusa à perícia médica ordenada pelo juiz poderá suprir a prova que se pretendia obter com o exame.
		A jurisprudência já vinha proclamando em ações de investigação de paternidade que “a recusa ilegítima à perícia médica pode suprir a prova que se pretendia lograr com o exame frustrado”. 
	Súmula 301, STJ: Em ação investigatória, a recusa do suposto pai a submeter-se ao exame de DNA induz presunção juris tantum de paternidade. 
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DIREITO À VIDA
	Art. 15. Ninguém pode ser constrangido a submeter-se, com risco de vida, a tratamento médico ou a intervenção cirúrgica.
		Os médicos não podem atuar, nos casos mais graves, sem prévia autorização do paciente, que tem a prerrogativa de se recusar a se submeter a um tratamento perigoso. A sua finalidade é proteger a inviolabilidade do corpo humano. 
		Os médicos devem fornecer informação detalhada ao paciente sobre o seu estado de saúde e o tratamento a ser observado, para que a autorização possa ser concedida com pleno conhecimento dos riscos existentes. 
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		A exigência de fornecer as informações está ligada aos princípios da TRANSPARÊNCIA e do DEVER DE INFORMAR.
PRINCÍPIO DA TRANSPARÊNCIA: art. 4º, caput, Lei 8.078/90: é a obrigação do prestador de serviços de dar ao consumidor a oportunidade de conhecer os produtos e serviços que são oferecidos. 
PRINCÍPIO DO DEVER DE INFORMAR: art. 6º, III, Lei 8.078/90: obriga o fornecedor a prestar todas as informações acerca do produto e do serviço.
	Art. 6º, CDC: São direitos básicos do consumidor:
	III - a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade e preço, bem como sobre os riscos que apresentem;
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DIREITO À VIDA
	
	Na impossibilidade de o doente manifestar a sua vontade, deve-se obter autorização escrita dos
parentes. 
LEI Nº 9.434, DE 4 DE FEVEREIRO DE 1997.
	Art. 4o A retirada de tecidos, órgãos e partes do corpo de pessoas falecidas para transplantes ou outra finalidade terapêutica, dependerá da autorização do cônjuge ou parente, maior de idade, obedecida a linha sucessória, reta ou colateral, até o segundo grau inclusive, firmada em documento subscrito por duas testemunhas presentes à verificação da morte. (Redação dada pela Lei nº 10.211, de 23.3.2001)
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	E se não houver tempo hábil para essas providências?
		
	O profissional tem a obrigação de realizar o tratamento, independentemente de autorização, eximindo-se de qualquer responsabilidade por não tê-la obtido. 
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O médico responderá pelo crime de constrangimento ilegal?
Art. 146, CP - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, ou depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de resistência, a não fazer o que a lei permite, ou a fazer o que ela não manda:
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.
Aumento de pena
§ 3º - Não se compreendem na disposição deste artigo:
I - a intervenção médica ou cirúrgica, sem o consentimento do paciente ou de seu representante legal, se justificada por iminente perigo de vida;
 		Só haverá responsabilidade se a conduta médica mostrar-se inadequada, fruto de imperícia, constituindo-se na causa do dano sofrido pelo paciente ou de seu agravamento. 
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	Pode uma pessoa recusar-se a receber sangue alheio, por motivo de convicção filosófica ou religiosa?
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Colisão entre direitos fundamentais
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		“Como compatibilizar o direito indisponível à vida e à integridade física com a convicção de fé, que sustenta a espiritualidade do ser humano? 
		Como aceitar passivamente ver a vida se esvaindo rapidamente, como grãos de areia na ampulheta do tempo, se o médico tem o dever (e o juramento) de lutar sempre pela vida?”
				(Pablo Stolze)
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	“Nenhum posicionamento que se adotar, agradará a todos, mas parece-nos que, em tais casos, a cautela recomenda que as entidades hospitalares, por intermédio de seus representantes legais, obtenham o suprimento da autorização pela via judicial, cabendo ao magistrado analisar, no caso concreto, qual o valor jurídico a preservar” (Pablo Stolze)
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		Embora a Constituição garanta o direito de culto, não é dado à pessoa o direito de dispor da própria vida, ou seja, de preferir a morte a receber a transfusão de sangue. 
		Os direitos fundamentais só podem ser restringidos quando tal se torne indispensável para salvaguardar outros direitos ou interesses constitucionalmente previstos. 
		
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		Havendo um conflito positivo de normas constitucionais (entre uma norma consagradora de certo direito fundamental e outra norma consagradora de outro direito ou de diferente interesse constitucional), a regra é a da máxima observância dos direitos fundamentais envolvidos e da sua mínima restrição compatível com a salvaguarda adequada do outro direito fundamental ou outro interesse constitucional em causa. 
		A garantia à vida é plena, irrestrita, posto que dela defluem as demais, até mesmo contra a vontade do titular, pois é contrário ao interesse social que alguém disponha da própria vida. 
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Nesse sentido, colaciona-se a lição de Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho:
		“Temos plena convicção de que, no caso da realização de transfusão de sangue em pacientes que não aceitam esse tratamento, o direito à vida se sobrepõe ao direito à liberdade religiosa, uma vez que a vida é o pressuposto da aquisição de todos os outros direitos. Além disso, como já colocado, a manutenção da vida é interesse da sociedade e não só do indivíduo, ou seja, mesmo que, intimamente, por força de seu fervor, ele se sinta violado pela transfusão feita, o interesse social na manutenção de sua vida justificaria a conduta cerceadora de sua opção religiosa.
		Acreditamos, realmente, que o parâmetro a ser tomado é sempre a existência ou não de iminente perigo de vida.”
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		A Resolução n. 1.021/80 do Conselho Federal de Medicina autoriza os médicos a realizar transfusão de sangue em seus pacientes, independentemente de consentimento, se houver iminente perido de vida. 
		A convicção religiosa só deve ser considerada se tal perigo não for iminente e houver outros meios de salvar a vida do doente.
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	“CONCLUSÃO 
	Em caso de haver recusa em permitir a transfusão de sangue, o médico, obedecendo a seu Código de Ética Médica, deverá observar a seguinte conduta:
	1º - Se não houver iminente perigo de vida, o médico respeitará a vontade do paciente ou de seus responsáveis.
	2º - Se houver iminente perigo de vida, o médico praticará a transfusão de sangue, independentemente de consentimento do paciente ou de seus responsáveis.“
(Resolução 1.021/80, CFM)
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Juiz de Altamira autoriza transfusão de
 sangue em criança em estado grave Fonte: IBDFAM (Data: 04/03/2011) 
		O juiz da 1ª vara Cível da comarca de Altamira/PA, Geraldo Neves Leite, autorizou o Hospital Regional da Transamazônica a realizar uma transfusão de sangue no menor P.C.N.L., conforme o pleito da Promotoria de Justiça da Infância e Juventude de Altamira. O menor encontra-se em estado grave, mas o pai da criança se recusava a permitir a transfusão de sangue, em decorrência de questões religiosas.
		A criança está internada na UTI pediátrica do hospital desde o dia 4/2, e caso não faça a transfusão de sangue, poderá vir falecer. Mas o pai da criança, que pertence à religião Testemunha de Jeová, se manteve firme em não permitir a transfusão de sangue no filho.
		Em seu despacho, o juiz explicou que "o direito à vida se sobrepõe ao direito de liberdade de religião, assegurando ao médico proceder a transfusão de sangue". O magistrado também ressaltou que a intervenção da justiça se faz necessária neste caso específico. "Não cabe intervenção judicial em casos dessa natureza, mas tendo em vista que se trata de assegurar o direito à vida de uma criança com quadro grave de anemia e desnutrição, reveladora de iminente perigo de vida do paciente, entendo razoável deferir autorização judicial apenas para este fim", afirmou.
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Juiz autoriza hospital a realizar transfusão em criança Testemunha de Jeová (25/05/2009)
		O juiz da Vara da Infância e Juventude, João Corrêa de Azevedo Neto, atendeu pedido do Ministério Público (MP) e autorizou, o Hospital Materno Infantil a submeter o menor K.Q.D. a toda e qualquer intervenção médica, inclusive transfusão de sangue. A mãe de K., O.C.Q.D., é adepta da religião Testemunhas de Jeová, que proíbe a aplicação desse tipo de procedimento. A criança apresenta quadro anêmico e pneumônico. 
		Em sua decisão, o juiz baseou-se no artigo 5° da Constituição Federal, que, apesar de assegurar o direito à liberdade de crença, prevê que o direito à vida o antecede. Além disso, admitiu que a autorização para transfusão é desnecessária em caso de risco iminente de vida comprovado por laudo médico. A terapia deve ser aplicada, com máxima urgência, independente da vontade do paciente, visando seu restabelecimento.
		Fonte: TJGO
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Hospital é autorizado a fazer transfusão de sangue contra a vontade do paciente 
27 de Fevereiro de 2009
		O Desembargador federal Fagundes de Deus, do TRF da 1.ª Região, assegurou, em sede de liminar, ao Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás, executar o procedimento de transfusão de sangue em paciente que se recusava a sofrê-lo em função de sua crença religiosa, Testemunha de Jeová.
		Narrou a Universidade Federal de Goiás, autarquia responsável daquele Hospital das Clínicas, que o estado do paciente é grave e requer, com urgência, a transfusão de sangue. Explica que o hospital é obrigado a respeitar o direito de autodeterminação da pessoa humana, reconhecido pela ordem jurídica, nada podendo fazer sem a autorização da Justiça. Sustenta que o direito à vida é um bem indisponível,
cuja proteção incumbe ao Estado e que, no caso concreto, a transfusão sanguínea é a única forma de efetivação de tal direito.
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		O Desembargador registrou que no confronto entre os princípios constitucionais do direito à vida e do direito à crença religiosa importa considerar que atitudes de repúdio ao direito à própria vida vão de encontro à ordem constitucional - interpretada na sua visão teleológica. Isso posto, exemplificou o magistrado que a legislação infraconstitucional não admite a prática de eutanásia e reprime o induzimento ou auxílio ao suicídio. 
		Dessa forma, entende o magistrado que deve prevalecer "o direito à vida, porquanto o direito de nascer, crescer e prolongar a sua existência advém do próprio direito natural, inerente aos seres humanos, sendo este, sem sombra de dúvida, primário e antecedente a todos os demais direitos. Inarredável, assim, a meu ver, a conclusão de que se deve impor, na situação em concreto, a prevalência do direito à vida do paciente". 
 
 
 
 
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	JUSTIÇA BRASILEIRA DECIDE: 
 	
	RISCO IMINENTE DE MORTE OBRIGA MÉDICO A FAZER TRANSFUSÃO DE SANGUE EM TESTEMUNHA DE JEOVÁ, MESMO CONTRA A VONTADE DA FAMÍLIA
				12/08/2014
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		A 6a Turma do STJ isentou de responsabilidade pela morte da menina Juliana B. S., de apenas 13 anos, os pais dela, que alegaram motivos religiosos para se opor à realização de uma transfusão sanguínea salvadora. 
		Para o STJ, a responsabilidade pelo trágico desfecho foi exclusivamente dos médicos.
		Os médicos que atenderam Juliana explicaram a gravidade da situação e a necessidade da transfusão sanguínea, mas os pais foram irredutíveis. A mãe chegou a dizer que preferia ter a filha morta a vê-la receber a transfusão. 
		A transfusão não foi feita e a menina morreu.
		Para o ministro Sebastião Reis Júnior, a oposição dos pais à transfusão não deveria ser levada em consideração pelos médicos, que deveriam ter feito o procedimento, mesmo contra a vontade da família.
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		Assim a conduta dos pais não constituiu assassinato, já que não causou a morte da menina.
		Então, quem é o culpado pela morte da menina que poderia ter sido salva mediante a realização da transfusão?
		Resposta: os médicos, que ao respeitar a vontade dos pais, desrespeitaram o Código de Ética Médica:
	“É vedado ao médico:
	Art. 31. Desrespeitar o direito do paciente ou de seu representante legal de decidir livremente sobre a execução de práticas diagnósticas ou terapêuticas, salvo em caso de iminente risco de morte.
	Art. 32. Deixar de usar todos os meios disponíveis de diagnóstico e tratamento, cientificamente reconhecidos e a seu alcance, em favor do paciente.”
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		A decisão do STJ tem menos a ver com a afirmação do direito à liberdade de crença e muito mais a ver com a primazia do direito à vida sobre todos os demais.
		Assim, a mãe poderia até preferir ter a filha morta a vê-la passando por um processo de transfusão. Mas a justiça brasileira não! E o médico também não!
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DIREITO AO NOME
	Art. 16. Toda pessoa tem direito ao nome, nele compreendidos o prenome e o sobrenome.
	Art. 17. O nome da pessoa não pode ser empregado por outrem em publicações ou representações que a exponham ao desprezo público, ainda quando não haja intenção difamatória.
	Art. 18. Sem autorização, não se pode usar o nome alheio em propaganda comercial.
	Art. 19. O pseudônimo adotado para atividades lícitas goza da proteção que se dá ao nome.
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Wonarllevyston Marllon Branddon,13 anos, entra na Justiça para mudar nome 
		A Justiça do Mato Grosso do Sul realizou uma audiência inusitada em junho de 2007. Um menino de 13 anos entrou com uma ação para alterar seu nome e o juiz teve que ouvir sua mãe, a fim de entender porque havia batizado o menino como Wonarllevyston Garlan Marllon Branddon Bruno Paullynelly Mell - havia mais quatro nomes, que foram ocultados pela Justiça para preservar o garoto. 	A mãe, Dalvina Xuxa, disse ao juiz Fernando Paes de Campos, da 5ª Vara de Fazenda e Registros Públicos de Campo Grande, que escolheu o nome para atender às várias sugestões que recebeu, mas admitiu ter exagerado. 	O juiz afirmou que Dalvina passou dos limites ao tentar “enfeitar” e “sofisticar” o nome do filho, mas ressaltou que o “capricho” só aconteceu por negligência do tabelião de registro, já que a legislação não permite situações como essa. 
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		Conhecida como Lei dos Registros Públicos, a Lei nº 6015 de 1973 proíbe que cartórios civis registrem pessoas com nomes considerados vexatórios ou esdrúxulos, medida que já apresentando resultados. 
		Mas o fato de a lei ter feito com que diminuíssem o número de casos como o de Wonarllevyston, não impediu que a Justiça de Mato Grosso recebesse recursos de pessoas que pretendiam alterar suas certidões, a fim de trocar nomes como 
	Altezevelte, Alucinética Honorata, Claysikelle, Frankstefferson, Hedinerge, Hezenclever, Hollylle, Hugney, Khristofer Willian, Maxwelbe, Maxwelson, Mell Kimberly, Necephora Izidoria, Starley, Uallas, Udieslley, Ulisflávio, Venério, Walex Darwin, Wallyston, Waterloo, Wildscley, Wochton, Wolfson, Yonahan Henderson, Locrete.
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Rapaz chamado Elvis Presley consegue autorização para alterar seu nome 
04/05/2009 
		O Tribunal de Justiça do Rio autorizou a mudança do nome de um rapaz de 25 anos, que se chamava Elvis Presley Silveira Ferreira. O nome foi escolhido por seu pai, fã do cantor americano, que faleceu em agosto de 1977, aos 42 anos. Para o rapaz, a homenagem paterna lhe causava constrangimentos e era motivo de chacotas e brincadeiras desde a infância. 
		A decisão é da 2ª Câmara Cível do TJ, que julgou procedente o recurso e reformou, por unanimidade, sentença, onde o pedido foi negado. 
		O autor do processo, que pediu a retirada de Presley do seu nome, passará a se chamar Elvis Silveira Ferreira.
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Cartório se recusa a batizar menina com o nome de Jabulani 
13 de Junho de 2010 
		Um cartório de São Paulo se recusou a registrar uma criança com o nome de "Jabulani", a bola da Copa do Mundo. 
		Ana Maria Machado, de 28 anos, procurou um cartório na Zona Sul junto com a bebê e, na hora do registro, o oficial se recusou a fazer a certidão do nascimento. "Tenho o direito de dar à minha filha o nome que eu quiser, isso é um absurdo.", disse Ana Maria, que acabou deixando a menina sem nome até que encontre um cartório que aceite a escolha da família. 
 
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		O pai, Alexandre Costa, disse que resolveu batizar a filha assim porque ela é gordinha, "como uma bola". "Todo mundo já chama ela de Jabulaninha", disse ele. 
		Os oficiais de cartório temem uma explosão do nome Jabulani, principalmente agora que o quadro "Bola Murcha e Bola Cheia", do Fantástico, passará a se chamar "Jabulani Cheia e Jabulani Murcha" até o fim da Copa. 
		"Não pode. Eles vão se arrepender. Essa moda passa e depois quem sofre é a criança", disse o oficial do cartório, Naranjito Gomes, que foi batizado com esse nome em homenagem ao mascote da copa da Espanha.
 
 
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PROTEÇÃO À PALAVRA E À IMAGEM
	Art. 20. Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da justiça ou à manutenção da ordem pública, a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou a publicação, a exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento e sem prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais.
		A parte lesada pelo uso não autorizado de sua palavra ou voz, ou de seus escritos, bem como de sua imagem, pode obter ordem judicial interditando esse uso e condenando o infrator a reparar os prejuízos causados. 
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Ressalvas do art. 20, CC:
Permite-se o uso se houver autorização, se necessário à administração da justiça ou à manutenção da ordem pública;
A proibição persiste nas hipóteses em que a divulgação da palavra ou da imagem atingem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade
da pessoa, ou se destinar a fins comerciais. 
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HONRA
		É o conjunto de atributos morais, intelectuais e físicos de uma pessoa.
		Honra objetiva: diz respeito ao conceito que os outros fazem de alguém, portanto quem ataca a honra objetiva de outra pessoa, também estará criando uma situação em que poderá acarretar uma mudança de conceito da sociedade em relação a pessoa ofendida, visto que lhe imputando fato seja ele falso ou ofensivo a sua reputação, estará consequentemente dificultando seu convívio social.
		Honra subjetiva: podemos equacionar na forma do sentimento e no juízo que cada um faz de si mesmo, e é dividida em honra-dignidade que diz respeito às qualidades morais da pessoa e honra-decoro que preza pelas qualidades intelectuais e físicas. (Ivan Lorenci)
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FAMA
		Consiste no renome de que desfruta o sujeito, no seio de seu ambiente social. A partir do conceito que alguém tem na sociedade, por causa de seu comportamento pessoal e profissional, são estabelecidos critérios que compõem os caracteres da sua individualidade e fixam nortes para fazê-la reconhecida como tal, nos limites de suas qualidades e deficiências, méritos e deméritos, na exata medida do que se convencionou chamar de fazer e conservar o nome (Rosa Nery).
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Editora Globo S/A continua obrigada a indenizar ator Marcos Pasquim por danos morais - 16/10/2008
 		A Editora Globo S/A é obrigada a pagar uma indenização no valor de R$ 5 mil ao ator Marcos Pasquim, por danos morais decorrentes da publicação em 2006 de uma foto dele beijando uma mulher desconhecida, fato que teria provocado consequências para sua família e abalado seu casamento. 
		A Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ), seguindo o entendimento da ministra Nancy Andrighi, não conheceu do recurso especial interposto pela Editora Globo S/A, mantendo, dessa forma, o acórdão do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJRJ) que condenou a empresa jornalística. 
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 		Segundo os autos, o ator ajuizou uma ação indenizatória por danos materiais e morais contra a editora Globo S/A, responsável pela revista Quem Acontece. Argumentou que as fotografias foram usadas com fins lucrativos e pediu uma indenização no valor de 300 salários mínimos, a devolução do negativo da fotografia e o término da divulgação de imagens, sob pena de multa. 
		Na sua contestação, a editora argumentou que a revista apenas publicou a foto do autor da ação, conhecido ator de televisão. Afirmou que as fotografias ilustravam uma notícia verdadeira e não contestada. 
		A sentença julgou parcialmente procedentes os pedidos, condenando a Editora Globo S/A ao pagamento de R$ 40 mil por danos morais. As duas partes apelaram da sentença, mas o TJRJ deu parcial provimento apenas ao apelo da editora, reduzindo a indenização à quantia de R$ 5 mil por entender que, embora a conduta da editora seja reprovável, ela não pode ser integralmente responsabilizada pelas opções pessoais do ator.
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		A Editora Globo S/A recorreu ao STJ, buscando afastar sua responsabilidade. Segundo afirma, não houve o propósito de ofender o ator com as publicações de suas fotografias na revista; fotos tiradas em local público – estacionamento próximo a restaurante – e que ilustravam notícia verdadeira. A defesa, entre outras coisas, entende pela limitação ao direito à imagem sob o argumento de que ele, como pessoa pública, ator de televisão com participação em inúmeras novelas, estava em um lugar público e assim assumiu o risco de ter sua fotografia publicada. 
		Em seu voto, a ministra Nancy Andrighi afirma que segundo a doutrina e a jurisprudência são pacíficas no sentido de entender que pessoas públicas ou notórias têm seu direito de imagem mais restrito que pessoas que não ostentem tal característica. Em alguns casos essa exposição exagerada chega a beneficiar-lhes. Entretanto, afirma a ministra, neste caso está caracterizado o abuso no uso da reportagem. Se fosse apenas um texto jornalístico relatando o fato verdadeiro ocorrido, desacompanhado de fotografia, desapareceria completamente o abuso de imagem, mas não se pode ignorar que a imagem foi feita com o propósito de incrementar a venda da revista. 
 
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STJ - O Tribunal da Cidadania
Direito à imagem: um direito essencial à pessoa
03/04/2011
		Nos dias de hoje, o direito à imagem possui forte penetração no cotidiano graças, principalmente, à mídia. 	Preocupado com a demanda de recursos nesse sentido, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) editou, em outubro de 2009, uma súmula que trata da indenização pela publicação não autorizada da imagem de alguém. 
		Súmula 403, STJ: “Independe de prova do prejuízo a indenização pela publicação não autorizada da imagem de pessoa com fins econômicos ou comerciais”. 
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		 	Um dos precedentes utilizados para embasar a redação da súmula foi o Recurso Especial 270.730, no qual a atriz Maitê Proença pede indenização por dano moral do jornal carioca Tribuna da Imprensa, devido à publicação não autorizada de uma foto extraída do ensaio fotográfico feito para a revista Playboy, em julho de 1996. 
		A Terceira Turma do STJ, ao garantir a indenização à atriz, afirmou que Maitê Proença foi violentada em seu crédito como pessoa, pois deu o seu direito de imagem a um determinado nível de publicação e poderia não querer que outro grupo da população tivesse acesso a essa imagem. 
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		Em caso semelhante, a Quarta Turma condenou o Grupo de Comunicação Três S/A ao pagamento de R$ 30 mil à atriz Danielle Winits pelo uso sem autorização de sua imagem na Revista Istoé. No recurso (Resp 1.200.482), a atriz informou que fotos suas, sem roupa, foram capturadas de imagem televisiva “congelada” e utilizadas para ilustrar crítica da revista à minissérie “Quintos dos Infernos”, em que atuava. 
		Para o relator, ministro Luis Felipe Salomão, a publicação, sem autorização, causou ofensa à honra subjetiva da autora. “As imagens publicadas em mídia televisa são exibidas durante fração de segundos, em horário restrito e em um contexto peculiarmente criado para aquela obra, bem diverso do que ocorre com a captura de uma cena e sua publicação em meio de comunicação impresso, o qual, pela sua própria natureza, possui a potencialidade de perpetuar a exposição e, por consequência, o constrangimento experimentado”, afirmou. 
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A modelo Daniela Cicarelli foi flagrada por um “paparazzo”, na praia de Cadiz, no sul da Espanha, em momento íntimo, com seu namorado Tato Malzoni. 
As imagens do encontro caliente foram divulgadas na rede mundial de computadores. Cicarelli, então, ingressou na Justiça, requerendo a proibição da exibição do vídeo e indenização por danos morais, alegando o desrespeito ao Princípio constitucional que garante a inviolabilidade à intimidade, à vida privada, à honra e à imagem das pessoas (Art. 5º, X da CF/88). 
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A justiça concedeu uma liminar proibindo a exibição do filme que registrou o namoro do casal, alegando que a intenção do "paparazzo" que filmou foi expor a intimidade do casal, cabendo à Justiça resguardar a vida íntima e a imagem das pessoas, o que – como vimos - é um direito constitucional.
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Porém, quando foram analisar de forma definitiva a ação, o juiz da 23ª Vara Cível de São Paulo, negou a procedência da ação proposta por Cicarelli. 
Segundo o julgador, não houve - por parte do casal - a menor preocupação em preservar o direito de imagem, tendo em vista que ao resolverem agir como agiram, abriram mão da intimidade e da privacidade, afinal sabiam que numa praia, com tanta gente, corriam o risco de não terem a sua imagem preservada.
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	Neste caso, no primeiro momento, o Judiciário entendeu que prevalecia o direito de imagem. Com esta decisão, o vídeo foi retirado do ar. Entretanto, no recurso, o juiz entendeu que venceria a liberdade de expressão. 
	Por ser uma pessoa pública e estar em local público, Daniela Cicarelli não poderia reclamar que sua intimidade fora violada. 
	Sendo
assim, prevaleceu a liberdade de expressão e o direito das pessoas de tomarem conhecimento do que aconteceu com a celebridade, preponderando o interesse público. Ou seja: prevaleceu outro Princípio jurídico, igualmente previsto na Constituição Federal: É assegurado a todos o acesso à informação (Art. 5º, XIV)
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No caso Cicarelli, como vimos, há clara colisão entre princípios, chegando o poder judiciário a impedir, inicialmente, a permanência do vídeo no site YouTube, já que tal divulgação poderia causar danos à modelo.
	Posteriormente, a melhor interpretação para o caso concreto passou necessariamente pela discussão quanto à importância da matéria jornalística, a sua atualidade, e o direito de informação.
	Enfim, para se alcançar uma solução para o caso concreto, o julgador teve que fazer a melhor interpretação, sendo que ao adotar o direito de informação em detrimento do direito de preservação da intimidade de Cicarelli, não significa dizer que houve uma extirpação de um princípio, mas sim uma valoração dos mesmos. Nada impede que, em outra oportunidade, o princípio de maior peso venha a ser este que, nesta oportunidade, foi afastado.
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PROTEÇÃO À PALAVRA E À IMAGEM
	Art. 20, CC. Parágrafo único. Em se tratando de morto ou de ausente, são partes legítimas para requerer essa proteção o cônjuge, os ascendentes ou os descendentes
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Foto sensacionalista de vítima de homicídio gera indenização para a família
21/05/2009
		O jornal "Na polícia e nas ruas" e a L e S Publicidade Ltda foram condenados a pagar 14 mil reais à família de uma vítima de homicídio que teve a imagem exposta em fotos sensacionalistas na reportagem de cobertura do crime (TJDFT) O valor da indenização deverá ser dividido entre os requeridos. 	O homicídio ocorreu em janeiro de 2007 e foi amplamente divulgado na imprensa local: uma jovem de 19 anos brutalmente assassinada com 24 facadas por um suposto traficante. 
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		A família da vítima alega nos autos que embora outros jornais tenham veiculado a notícia, o "Na polícia e nas ruas" extrapolou o direito de informar. O jornal exibiu quatro fotos da jovem morta, focando o local das estocadas e expondo os seios desnudos da jovem sem a autorização da família e sem a cobertura do lençol levado pelo irmão da vítima logo no início da diligência policial. 
		Na contestação invocaram na contestação o direito à liberdade de expressão e o direito à informação, garantidos constitucionalmente. Sustentaram ainda que o homicídio ocorreu em via pública, tornando desnecessária a autorização da família em relação à publicação das fotos. 
 
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		O juiz esclarece na sentença: "O exercício do direito de informação e a liberdade de expressão não podem exceder a via do razoável sob pena de incorrer em abuso de direito configurado pela exploração da imagem além do necessário para se expressar a informação." 
		Foram juntados no processo exemplares de outros jornais que mostram a veiculação da mesma notícia, porém com fotos do corpo da vítima coberto com o lençol trazido pelo irmão. "A ética responsável adotada para a difusão da comunicação, assim como o bom senso, recomenda a criteriosa escolha das imagens que vão ilustrar a notícia, sabendo-se que a escolha deve respeitar a intimidade, a vida privada, a dignidade da pessoa humana e a dor da família", conclui a sentença. 
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PROTEÇÃO À INTIMIDADE
	Art. 21, CC. A vida privada da pessoa natural é inviolável, e o juiz, a requerimento do interessado, adotará as providências necessárias para impedir ou fazer cessar ato contrário a esta norma.
	A Desembargadora ÁUREA PIMENTEL PEREIRA assevera que:
	“ao preservar, de indébita intromissão, a intimidade e a vida privada dos cidadãos, quis o texto constitucional assegurar a cada um, na sociedade, o direito de não ver tornados públicos fatos que só o titular do direito pode ser juiz da oportunidade de sua divulgação, se e quando a sua publicidade não venha a expô-lo a incômodos ou constrangimentos, destarte garantindo-se, a cada um, o direito de não ter sua vida privada devassada, via da publicidade de fatos de sua intimidade, feita por meio de fotografias, filmes ou textos escritos.” (Estudos Constitucionais, Editora Renovar, 2001, 1ª edição, p. 73).
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 	“...São conferidas garantias de preservação do direito à privacidade, que, muitas vezes, é violado quando se traz ao conhecimento público, através de notícia ou divulgação jornalística, fatos relacionados à intimidade de um indivíduo.
		Nesta esteira de raciocínio, podemos aferir que aquele que se interfere de forma arbitrária na intimidade alheia deverá suportar uma indenização, a fim de que sejam reparados os danos materiais e morais sofridos pela vítima.
		Interessante questão que se coloca é a de como se deve conciliar a liberdade de imprensa com o direito de intimidade dos indivíduos, principalmente no que tange a vida privada e intimidade das pessoas famosas, que, comumente, são expostas a todo o tipo de constrangimentos e invasão de privacidade, sendo vítimas constantes dos mais intensos e variados ataques aos bens da personalidade.”
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		“... Em suas defesas, comumente as empresas jornalísticas argumentam que agiram amparadas também por um direito constitucional de liberdade de informação, que vem garantido pelos artigos 5º, inciso IX e 220, §§ 1º e 2º da Carta Magna.
		O que é preciso se ter em mente, contudo, é que uma empresa de jornalismo não pode indiscriminadamente invadir a intimidade alheia, divulgando fatos da vida privada ou até mesmo da vida pública ofensivos, com vista a auferir proveito econômico da notícia, utilizando o princípio constitucional da liberdade de informação como um manto protetivo para a prática de atos ilícitos.”
		
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		“... Não se pode perder de vista que num Estado Democrático de Direito é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, que independe, inclusive, de prévia censura ou licença, na forma dos artigos 5º, inciso IX e 220, §§ 1º e 2º da Constituição da República, mas que a própria Carta Magna também assegura, no inciso X do artigo 5º, a inviolabilidade da intimidade, da vida privada, da honra e da imagem das pessoas, prevendo o direito à indenização por dano material ou moral decorrente de sua violação.
		Assim, sempre que dois ou mais princípios constitucionais são colocados em aparente conflito, é necessário que o intérprete promova uma conciliação adequada.”
		
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		“... De acordo com o princípio da proporcionalidade dos valores contrastantes, nenhuma garantia constitucional possui valor absoluto.
		A nova interpretação constitucional orienta-se por relevantes princípios, que são aplicados através da técnica da ponderação, incumbindo ao intérprete realizar a interação entre o fato e a norma, fazendo escolhas fundamentadas, em observância aos limites ofertados pelo próprio sistema jurídico, na busca da justa solução para a hipótese que se descortina nos autos.
		Obviamente, que a melhor solução dependerá da análise criteriosa das circunstâncias do caso concreto.
		A pessoa publicamente conhecida, principalmente quando exerce vida pública, gera necessariamente notícia, e tem os seus passos acompanhados com atenção pela imprensa e pela sociedade.” 
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Exemplos de ofensa:
Violação de domicílio ou de correspondência;
Uso de drogas ou de outros meios para obrigar a alguém a revelar fatos de sua vida particular ou segredo profissional;
Emprego de binóculos ou câmeras para ter acesso ao interior de uma casa;
Instalação de aparelhos (microfones, gravodores, filmadoras) para captar sub-repticiamente conversas ou imagens ou para copiar documentos, de dentro de uma residência ou repartição;
		“... Ao revés, quando a matéria jornalística não apresenta cunho sensacionalista, não emitindo qualquer juízo valorativo sobre a conduta das pessoas envolvidas na notícia, não há que se falar em dever de indenizar.”
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		Trecho tirado do
artigo “CONFLITOS ENTRE O DIREITO À INTIMIDADE E À VIDA PRIVADA E O DIREITO À INFORMAÇÃO, LIBERDADE DE EXPRESSÃO E DE COMUNICAÇÃO. POSSÍVEIS SOLUÇÕES. UTILIZAÇÃO INDISPENSÁVEL DO PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE, de Alexandre Guimarães Gavião Pinto, do TJRJ. 
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