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Relação contratual com terceiros e efeitos contratuais

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RESUMO - AULA DO DIA 18/08/2011 
 
 
 
 
MODULO – TEORIA GERAL DOS CONTRATOS 
(terceira aula) 
 
 
 
 
Professor Humberto Macedo 
 
 
 
Ementa 
 
Relação Contratual com Terceiros 
- Contrato Com Pessoa a Declarar 
- Estipulação Em Favor de Terceiro 
- Promessa de Fato de Terceiro 
Efeitos dos Contratos 
Vício Redibitório 
Evicção 
 
Relação Contratual com Terceiros 
 
O contrato hodiernamente deve respeitar os direitos fundamentais, dada a aplicação 
horizontal dos direitos fundamentais: 
 
Civil. Recurso Especial. Ação de indenização por danos materiais e morais. Embargos de 
declaração. Omissão, contradição ou obscuridade. 
Não indicação. Súmula 284/STF. Inadimplemento de contrato de compra e venda de casa pré-
fabricada. Ausência de mero inadimplemento contratual. Violação ao princípio da dignidade da 
pessoa humana. Danos morais. Ocorrência. 
- A recorrente celebrou com a recorrida contrato de compra e venda de um "kit de casa de 
madeira", pagando-lhe à vista o valor acordado, sendo que, após alguns meses, pouco antes 
da data prevista para a entrega da casa, a recorrente foi informada, por terceiros, que a 
recorrida inadimpliu o contrato. 
- Conquanto a jurisprudência do STJ seja no sentido de que o mero inadimplemento contratual 
não ocasiona danos morais, tal entendimento, todavia, deve ser excepcionado nas hipóteses 
em que da própria descrição das circunstâncias que perfazem o ilícito material é possível 
extrair consequências bastante sérias de cunho psicológico, que são resultado direto do 
inadimplemento culposo. 
- No presente processo, o pedido de compensação por danos morais declinado pela recorrente 
não tem como causa o simples inadimplemento contratual, mas também do fato de a 
recorrida ter fechado suas instalações no local da contratação (Estado do Rio de Janeiro) sem 
lhe dar quaisquer explicações a respeito de seu novo endereço e/ou da não construção do 
imóvel. 
 
- Essa particularidade é relevante, pois, após a recorrente ter frustrado o seu direito de 
moradia, pelo inadimplemento do contrato de compra e venda de casa pré-moldada, o 
descaso da recorrida agravou a situação de angústia da recorrente. 
- A conduta da recorrida violou, portanto, o princípio da dignidade da pessoa humana, pois o 
direito de moradia, entre outros direitos sociais, visa à promoção de cada um dos 
componentes do Estado, com o insigne propósito instrumental de torná-los aptos de realizar 
os atributos de sua personalidade e afirmar a sua dignidade como pessoa humana. 
- Diante dessas circunstâncias que evolveram o inadimplemento contratual, é de se 
reconhecer, excepcionalmente, a ocorrência de danos morais. 
Recurso especial conhecido e parcialmente provido. 
(REsp 1025665/RJ, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 23/03/2010, 
DJe 09/04/2010) 
 
HABEAS CORPUS. Prisão civil. Alienação fiduciária em garantia. Princípio constitucional da 
dignidade da pessoa humana. Direitos fundamentais de igualdade e liberdade. Cláusula geral 
dos bons costumes e regra de interpretação da lei segundo seus fins sociais. Decreto de prisão 
civil da devedora que deixou de pagar dívida bancária assumida com a compra de um 
automóvel-táxi, que se elevou, em menos de 24 meses, de R$ 18.700,00 para R$ 86.858,24, a 
exigir que o total da remuneração da devedora, pelo resto do tempo provável de vida, seja 
consumido com o pagamento dos juros. Ofensa ao princípio constitucional da dignidade da 
pessoa humana, aos direitos de liberdade de locomoção e de igualdade contratual e aos 
dispositivos da LICC sobre o fim social da aplicação da lei e obediência aos bons costumes. 
Arts. 1º, III, 3º, I, e 5º, caput, da CR. Arts. 5º e 17 da LICC. DL 911/67. Ordem deferida. 
(HC 12547/DF, Rel. Ministro RUY ROSADO DE AGUIAR, QUARTA TURMA, julgado em 
01/06/2000, DJ 12/02/2001, p. 115) 
 
O juiz pode interferir na relação contratual, o que se constitui em uma intervenção de terceiro 
nos contratos 
 
“Art. 413 do CC/02 - A penalidade deve ser reduzida eqüitativamente pelo 
juiz se a obrigação principal tiver sido cumprida em parte, ou se o montante 
da penalidade for manifestamente excessivo, tendo-se em vista a natureza 
e a finalidade do negócio”. 
 
Enunciado 356 CJF – Art. 413. Nas hipóteses previstas no art. 413 do Código Civil, o juiz deverá 
reduzir a cláusula penal de ofício. 
 
Teoria da Eficácia Contratual em Relação à Terceiros: possibilidade de terceiros participarem 
da relação contratual. 
 
No caso de uma pessoa que adquire um imóvel da seguradora em que a seguradora o ofereceu 
em hipoteca à instituição financeira. Sum. 308 do STJ – “A hipoteca firmada entre a 
construtora e o agente financeiro, anterior ou posterior à celebração da promessa de compra 
e venda, não tem eficácia perante os adquirentes do imóvel”. 
 
O CC/02 prevê três espécies de intervenção de terceiro: contrato com pessoa a declarar; 
promessa de fato de terceiro e estipulação em favor de terceiro. 
 
- Contrato Com Pessoa a Declarar: Pro Amico Elgendo,trata-se de novidade trazida pelo CC/02 
sendo que o instituto é comum no direito europeu. 
 
 
É a possibilidade de se nomear uma terceira pessoa que fará parte da relação contratual com 
anuência de assumir todas as obrigações que constarem no contrato, isto havendo à aceitação 
do eleito. 
 
É mais verificado nos contratos de compra e venda. 
 
Art. 467 do CC/02 – “No momento da conclusão do contrato, pode uma das 
partes reservar-se a faculdade de indicar a pessoa que deve adquirir os 
direitos e assumir as obrigações dele decorrentes”. 
 
Possui efeitos ex-tunc, de modo que a pessoa que entra posteriormente no contrato assume 
como se o tivesse pactuado originariamente. 
 
Por sua vez, se a pessoa nomeada é insolvente, não possuindo meio para adimplir o contrato, 
o contrato produzirá seus efeitos entre os contratantes originários. 
 
- Estipulação Em Favor de Terceiro: o estipulante contrata com o promitente em benefício de 
um terceiro, a exemplo do seguro de vida. 
 
“Art. 436 do CC/02 O que estipula em favor de terceiro pode exigir o 
cumprimento da obrigação. 
Parágrafo único. Ao terceiro, em favor de quem se estipulou a obrigação, 
também é permitido exigi-la, ficando, todavia, sujeito às condições e 
normas do contrato, se a ele anuir, e o estipulante não o inovar nos termos 
do art. 438”. 
 
O estipulante pode substituir o terceiro, art. 438 do CC/02. 
 
SEGURO OBRIGATÓRIO (DPVAT). RECURSO ESPECIAL. MATÉRIA CONSTITUCIONAL. 
INVIABILIDADE. ACIDENTE OCORRIDO ANTERIORMENTE À VIGÊNCIA DA LEI 8.441/92, QUE 
ALTEROU A REDAÇÃO DOS ARTIGOS 4, 5, 7 E 12 DA LEI 6.194/74. PAGAMENTO DE 50% DA 
INDENIZAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. CORREÇÃO MONETÁRIA. DATA DO ACIDENTE. JUROS DE 
MORA A CONTAR DA CITAÇÃO. 1. 
2. O seguro obrigatório de danos pessoais causados por veículos automotores de via terrestre, 
ou por sua carga, a pessoas transportadas ou não, é seguro com propósito eminentemente 
social, operando "como que uma estipulação em favor de terceiro". (SANTOS, Ricardo Bechara. 
Direito de Seguro no Novo Código Civil. Rio de Janeiro: Forense, 2006, p. 564) 4. 5. 6. 7. 
(REsp 875876/PR, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 
10/05/2011, DJe 27/06/2011) 
 
DIREITO CIVIL. RECURSO ESPECIAL. ADMISSIBILIDADE. RECONHECIMENTO DE CONTRATO DE 
COMPRA E VENDA DE VEÍCULO COM ESTIPULAÇÃO EM FAVOR DE TERCEIRO. OBJETO LÍCITO. 
VALIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO. CONDUTA DE RESERVA MENTAL. IMPOSSIBILIDADE DE 
RECONHECIMENTO. SÚMULA 7/STJ. 
INCIDÊNCIA. 
- (...) 
- Na estipulação em favor de terceiro, tanto o estipulante quanto o beneficiário podem exigir 
do devedor o cumprimento da obrigação (art. 436, par. único, do CC/02 ou art. 1.098, par. 
único, do CC/1916). Com isso, o terceiro, até então estranho à relação obrigacional originária, 
com ela consente e passa efetivamentea ter direito material à prestação que lhe foi 
prometida. Nessas situações nem mesmo o estipulante pode lhe retirar o direito de pleitear a 
execução do contrato (art. 437 do CC/02). 
 
- (...) 
(REsp 1086989/RS, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 23/02/2010, 
DJe 05/03/2010) 
 
- Promessa de Fato de Terceiro: uma parte contrata com a outra uma obrigação que será 
adimplida por um terceiro. Caso o terceiro não cumpra, o contratante responde por perdas e 
danos. Todavia, se o terceiro se comprometer ele responderá. 
 
No caso de a pessoa que prometer o fato de terceiro for casado com este, acaso o terceiro não 
cumpra a obrigação aquele não responderá se, dependendo do regime de bens, a indenização 
vier a recair sobre o terceiro. 
 
Efeitos dos Contratos 
 
Garantia ou princípios da garantia: pacta sunt servanda e boa fé. 
 
Os vícios redibitórios (vício de fato) e a evicção (vício de direito) se originam dos princípios da 
garantia. 
 
Só incidem os vícios redibitórios e a evicção nos contratos onerosos e comutativos. 
 
Vício Redibitório 
 
Art. 441 a 446 do CC/02. 
 
Trata de defeitos ocultos que ensejam o direito de redibir, ou seja, devolver a coisa defeituosa, 
de forma total ou parcial. 
 
Dessa forma, verificando-se o vício oculto a parte poderá requerer a resolução do contrato, 
Ação Redibitória, ou o abatimento do preço, Ação Estimatória “Quanti Minoris”. 
 
Art. 442 – do CC/02 “Em vez de rejeitar a coisa, redibindo o contrato (art. 
441), pode o adquirente reclamar abatimento no preço”. 
 
Por sua vez, no CDC o defeito (vício), não precisa ser oculto. 
 
Art. 443 do CC/02 - Se o alienante conhecia o vício ou defeito da coisa, 
restituirá o que recebeu com perdas e danos; se o não conhecia, tão-
somente restituirá o valor recebido, mais as despesas do contrato. 
 
O adquirente da coisa decaí do direito de redibir no prazo de 30 dias se o bem for móvel ou de 
01 ano se o bem for imóvel contados da tradição, todavia, se o vício só puder ser conhecido 
mais tarde o prazo será contado da ciência deste e será de 180 dias para bens móveis e de 01 
ano para bens imóveis: 
 
Art. 445 do CC/02 - O adquirente decai do direito de obter a redibição ou 
abatimento no preço no prazo de trinta dias se a coisa for móvel, e de um 
ano se for imóvel, contado da entrega efetiva; se já estava na posse, o 
prazo conta-se da alienação, reduzido à metade. 
§ 1° Quando o vício, por sua natureza, só puder ser conhecido mais tarde, o 
prazo contar-se-á do momento em que dele tiver ciência, até o prazo 
 
máximo de cento e oitenta dias, em se tratando de bens móveis; e de um 
ano, para os imóveis. 
§ 2° Tratando-se de venda de animais, os prazos de garantia por vícios 
ocultos serão os estabelecidos em lei especial, ou, na falta desta, pelos usos 
locais, aplicando-se o disposto no parágrafo antecedente se não houver 
regras disciplinando a matéria. 
 
O CDC não classifica entre bens móveis e imóveis, mas sim, entre bens duráveis e não duráveis. 
 
Todavia, os prazos supra não fluirão no caso de haver cláusula de garantia, contudo, o 
adquirente deve informar ao vendedor a existência do defeito no prazo de 30 dias, art. 446 do 
CC/02. 
 
Desse modo, a garantia contratual se soma à garantia legal, o mesmo se dá no CDC, art. 50 Lei 
8.078/90. 
 
Vício no CDC, Lei 8.078/90 – arts. 12; 18 e 26. 
 
Como já dito, o vício não precisa ser oculto, podendo ser, inclusive, vício na informação. 
 
Art. 26 do CDC - O direito de reclamar pelos vícios aparentes ou de fácil 
constatação caduca em: 
I - trinta dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos não 
duráveis; 
II - noventa dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos 
duráveis. 
§ 1° Inicia-se a contagem do prazo decadencial a partir da entrega efetiva 
do produto ou do término da execução dos serviços. 
 
A decadência obsta no caso de reclamação ou instauração de inquérito civil, §2° do art. 26 do 
CDC. 
 
O § 3° do art. 26 do CDC, assenta que se o vício for oculto o prazo só passará a fluir da ciência 
deste. 
 
Art. 18 do CDC, os fornecedores respondem de maneira solidária. 
 
Todavia, antes de devolver a coisa o fornecedor tem o direito de consertar a mesma no prazo 
de 30 dias, entretanto, pode consertar apenas uma vez. 
 
Evicção 
 
É o direito de se cobrar do alienante os prejuízos pela perda da coisa para o verdadeiro titular. 
 
O professor discorda do conceito tradicional de que a evicção se constitui na perda judicial do 
bem, pois pode se dar por processo administrativo. 
 
TJMG - INDENIZAÇÃO. DANO MATERIAL. VEÍCULO FURTADO. CHASSI ADULTERADO. 
LICENCIAMENTO. DETRAN. ESTADO. AUSÊNCIA DE RESPONSABILIDADE. Conforme 
jurisprudência das Cortes Superiores, o Estado não pode ser responsabilizado por ato 
criminoso de terceiro ou pela culpa dos compradores dos veículos cuja procedência seja 
irregular. Desta feita, o Estado não pode ser responsabilizado por ato realizado pelo DETRAN, 
 
no que tange o licenciamento de veículo furtado com chassi adulterado, porque os registros 
expedidos pelo DETRAN são meramente administrativos, devendo o interessado acautelar-se 
no momento da concretização do negócio jurídico. O licenciamento tem como fim precípuo 
verificar as condições técnicas de tráfego, visando a segurança no trânsito, e não como 
garantia de domínio em contrato particular de compra e venda. ALIENANTE. EVICÇÃO. DEVER 
DE INDENIZAR. O alienante de veículo furtado e apreendido pela autoridade policial está 
obrigado a restituir por inteiro ao comprador o preço e os prejuízos sofridos, ressarcindo-o dos 
riscos da evicção. Numeração Única: 0078745-05.2001.8.13.0686. Data da Publicação: 
18/06/2004. Relator: Des.(a) BRANDÃO TEIXEIRA. 
 
O dever de indenização na evicção subsiste inclusive no caso de bem adquirido em hasta 
pública. 
 
A responsabilidade relativa a evicção pode ser reforçada, diminuída ou excluída, desde que 
mediante cláusula expressa. 
 
Art. 456. Para poder exercitar o direito que da evicção lhe resulta, o 
adquirente notificará do litígio o alienante imediato, ou qualquer dos 
anteriores, quando e como lhe determinarem as leis do processo. 
 
A lei que se refere o artigo é o art. 70 do CPC – Denunciação da Lide. 
 
Dessa forma, para poder exercer os direitos decorrentes da evicção o evicto deve promover à 
denunciação da lide, todavia, STJ entende que a denunciação da lide não é obrigatório: 
 
PROCESSO CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR PERDAS E DANOS. 
VEÍCULO IMPORTADO. EVICÇÃO. DENUNCIAÇÃO DA LIDE. AUSÊNCIA DE OBRIGATORIEDADE. 
1. Esta Corte tem entendimento assente no sentido de que "direito que o evicto tem de 
recobrar o preço, que pagou pela coisa evicta, independe, para ser exercitado, de ter ele 
denunciado a lide ao alienante, na ação em que terceiro reivindicara a coisa" (REsp 255639/SP, 
Rel. Min. CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO, Terceira Turma, DJ de 11/06/2001). 
2. Agravo regimental desprovido. 
(AgRg no Ag 917314/PR, Rel. Ministro FERNANDO GONÇALVES, QUARTA TURMA, julgado em 
15/12/2009, DJe 22/02/2010)

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