Buscar

Fichamento O Estado militar na América Latina A modernização através do Exército História das Américas 3

Prévia do material em texto

Fichamento – História das Américas 3
ROUQUIÊ, Alain. O Estado militar na América Latina. São Paulo: Ed. Alfa-Omega, 1964.
Capítulo 3 – A modernização através do Exército
​
a. Biografia do autor e obras:
b. Resumo:
c. Identificar os objetivos principais: listá-los em forma de citação.
d. Identificação do tema: o tema não é o problema ou o objetivo do texto, mas o assunto que está sendo tratado. Por isso é só listar os temas principais abordados pelo (s) autor/es.
e. Tese (s) do autor (es): nem sempre a tese está explicita, nem mesmo no início do texto; ela pode estar nas entrelinhas ou no final do texto.
1)- No começo do século, os exércitos nacionais da maioria dos países do continente efetuam um salto qualitativo. Sob influência de diversos fatores o “velho Exército” cede lugar a um “novo Exército”. A modernização militar global começa pela “profissionalização” dos quadros. Uma fórmula ambígua e encantatória, daqui em diante na boca dos civis confrontados com exércitos insubordinados, porém constitucionalmente “profissionais, apolíticos e não deliberantes” – Pg. 91.
f. Ideias:
1)- Mas esse mal-entendido explica muito das razões políticas dessa mutação que consiste em fazer dos oficiais verdadeiros profissionais das armas, subentendendo-se com isso que eles apenas se preocuparão com sua profissão – Pg. 91.
2)- Essa transformação mais ou menos profunda e dramática, conforme o estado anterior da instituição militar nacional, pode parecer anódina a quem, ignorando o Exército, sua história e suas estruturas, quiser compreender o poder militar. Mas quando desejamos esclarecer o como para só então responder ao porquê, dificilmente poderíamos esquecer a especificidade dos exércitos modernos. Da mesma forma como não poderíamos esquecer as especificidades nacionais – Pg. 91.
3)- Exatamente por isso vamos examinar como são organizadas essas forças armadas que têm um peso tão grande no futuro do continente, assim como o que são esses militares que as compõem e dirigem e, enfim, como militares chegaram até à política; pois o paradoxo desse processo de modernização que, de forma explícita ou não, visava afastar os militares da política, terminou por colocar um fim à hegemonia civil em quase todos os países da região. As medidas destinadas, na ordem defensiva, a estabilizar a vida política e a regulamentar o funcionamento harmonioso do Estado terminam, pelo contrário, provocando rupturas institucionais e desaguam na usurpação militarista. As forças armadas, emancipando-se da sociedade civil e da classe dirigente, voltam a interessar-se pela política, em outras bases, segundo sua própria lógica organizacional – Pg. 92.
Organização militar e “profissionalização”
1)- Todas as forças armadas são organizadas conforme um mesmo modelo, do qual estão mais ou menos próximas. O grau de “militarização” das instituições defensivas varia. Entretanto, é surpreendente constatar como os comportamentos são semelhantes e as “mentalidades” são próximas em militares afastados no tempo e no espaço – Pg. 92.
2)- Organização complexa de um tipo particular, as forças militares, quaisquer que sejam, têm sempre como horizonte, senão como razão de ser, a utilização da violência legítima. Dessa missão que as define, decorre um sistema de organização e algumas normas. Esses valores estão ligados, por um lado, ao funcionamento e, por outro, às funções da instituição, isto é, aos objetivos a que ela se propõe – Pg. 92-93.
3)- As forças armadas diferem, além disso, das outras organizações, pelo fato de serem instituições “totais” ou quase. Mesmo se os militares geralmente são feitos de civis, a profissão das armas não é parecida com as outras profissões. A distinção entre civis e militares, fortemente valorizada no seio da instituição, ultrapassa amplamente o significado discriminatório e unificador do uso do uniforme. Organização coercitiva em que a autoridade repousa sobre uma atitude de força, ao mesmo tempo física e simbólica, as forças armadas são burocracias nas quais não são aplicados os mecanismos formais de contra-poder e de limitação da autoridade central – Pg. 93.
4)- Mesmo se a particularidade desse isolamento voluntário prefigura a autonomia das forças armadas durante as batalhas, ela também tem uma outra função, agora simbólica, que é a de fazer aceitar, através de rituais e mitologias, imagens de procedimentos de identificação, o monopólio da violência e a necessidade de um aparelho defensivo – Pg. 93.
5)- Esses eram, aliás, os valores em vigor nas forças armadas ocidentais quando os países latino-americanos começaram a seguir seus modelos. A importância da formação do caráter para os oficiais e do “treinamento militar” para a tropa, o que, aliás, traduz o abismo existente ente essa mesma tropa (os homens) e o comando (os chefes), decorre da mesma necessidade – Pg. 94.
6)- Esse modelo militar que os países da América Latina vão se esforçar para implantar, ou como dirão os mal-intencionados, macaquear. E tudo isso, ou seja, a despeito de qualquer eventualidade iminente de conflito armado. O que contribuirá para aumentar, ao mesmo tempo, a rigidez institucional e a retórica justificadora dessas singulares burocracias dotadas de valores heroicos – Pg. 94.
7)- As forças armadas são exércitos estatais que asseguram a ordem interna e permitem a exploração sem sobressaltos das riquezas minerais e agrícolas de que a Europa tem necessidade – Pg. 94.
8)- A França, em compensação, que divide com a Alemanha o monopólio quase total da exportação da tecnologia militar, ocupa, excetuando-se as vendas de armas, apenas um lugar modesto no comércio exterior das nações latino-americanas – Pg. 95.
9)- O Exército moderno, símbolo do progresso, é um instrumento de centralização e de reforço, enfim, de construção do Estado. Enquanto Exército nacional, seu aperfeiçoamento e sua expansão pressupõem a unificação da classe dirigente. Assim, quanto mais tardia foi a unificação, mais o processo de profissionalização demorou, seja em benefício de um poder civil instável, seja para abrir espaço a um poder ditatorial de fato – Pg. 95.
10)- O prestígio do Exército bem organizado e bem preparado reflete-se sobre o próprio Estado, e não é de espantar que nações extrovertidas tenham apelado aos instrutores das duas forças armadas mais prestigiosas da época (de 1880 a 1920), a francesa e a alemã. Esses dois países inimigos, por sua vez vencidos e vencedores em duas guerras sucessivas, ofereciam seus serviços a todas as nações que desejassem organizar seu aparelho defensivo – Pg. 95.
11)- A luta pela preponderância e influência militar coloca os países latino-americanos em uma situação privilegiada que eles utilizam em função dos dados geoestratégicos que lhes são próprios – Pg. 96.
Uma modernização vinda de fora
1)- Em 1885, o governo chileno decidiu contratar uma missão alemã para “profissionalizar” seu Exército. A guerra vitoriosa mostrou as fraquezas do aparelho militar nacional e os perigos continuavam aparentes. O Chile sente-se rodeado de inimigos. O irredentismo do Peru e da Bolívia inquieta Santiago – Pg. 97.
2)- O Peru, quase à mesma época e, sem dúvida, em resposta ao desafio chileno, contrata uma missão militar francesa. A primeira equipe, sob o comando do capitão Paulo Clément, chega em Lima em 1896 – Pg. 98.
3)- A Bolívia, que somente mais tarde se recuperou do impacto da guerra, foi mais eclética na sua escolha. Em 1905 uma missão francesa privada reforma os programas da Escola militar e da Escola de guerra. Mas, a partir de 1910, La Paz imita Santiago e convida instrutores alemães – Pg. 98.
4)- No Brasil são os oficiais que desejam o reforço das forças armadas nacionais. Alguns civis não compartilham dos temores das oligarquias com relação às forças armadas mais fortes, instrumentos do Estado Federal. O mau desempenho delas diante dos camponeses revoltados em Canudos, assim como a desconfiança com relação à Argentina – rival hereditário sobre o subcontinente– falam a favor de uma reorganização e de um esforço de modernização do equipamento militar. Para isso, é conveniente fazer um apelo à Europa. Os alemães e franceses não desejam outra coisa – Pg. 100.
5)- As aquisições de armas (francesas, evidentemente) permitirão, antes de tudo, acabar com a distância até então enorme entre as forças armadas brasileiras e a dos países industrializados. Mas é no domínio da organização, do treinamento e das carreiras que a influência francesa será particularmente marcante – Pg. 101.
6)- É evidente que nem todos os países contratam custosas missões europeias. É, inclusive, preciso assinalar o curioso fenômeno de germanização de “segunda mão” que as forças armadas chilenas provocaram em vários países do continente – Pg. 103.
7)- Esse desdobramento da presença estrangeira apresentará alguns problemas para as forças armadas receptoras. No começo, as missões europeias suscitaram verdadeiras resistências – Pg. 103.
8)- É verdade que as tarefas de uma missão estrangeira não se limitam à transferência de tecnologia e à consultoria de especialistas. A preparação da defesa nacional e a elaboração de uma “doutrina de guerra” atingem o domínio político – Pg. 104.
Recrutamento e formação dos quadros
1)- A reforma do método de recrutamento dos oficiais está no centro da modernização militar. Trata-se evidentemente de formar oficiais mais instruídos e de elevar o nível profissional e tecnológico do conjunto dos graduados. Para isso, na maioria dos casos é prevista uma única fonte de recrutamento. A passagem pela Escola Militar torna-se obrigatória para a obtenção da patente de oficial ou, pelo menos, esse é o ideal que todas as forças armadas pretendem atingir, mesmo quando algumas não o conseguem – Pg. 104.
2)- Entretanto, essas reformas, qualquer que seja o grau de rigidez, têm também uma outra consequência. À nova coesão adquirida por um corpo de oficiais que passa por uma mesma escola, acrescenta-se uma autonomia no recrutamento que o coloca, em princípio, ao abrigo de pressões políticas diretas – Pg. 105.
3)- A força de socialização ou de ressocialização específica dispensada pela instituição aumenta não apenas o espírito de corporação dos quadros, mas também seu sentimento de pertencer ao ramo militar do Estado. A influência dessa formação é tanto mais absoluta nesse contexto do que em outros, porque é vivenciada em um relativo isolamento e em uma idade mais maleável e permanece por mais tempo – Pg. 106.
4)- Logo, as classes populares dificilmente estão representadas nas Escolas militares, e isso sobretudo nas sociedades em que aquelas são mais marginalizadas. Entretanto, também não deixa de ser verdade que muitos são os oficiais que escolhem a profissão das armas por razões econômicas, porque os estudos militares são curtos e, na maior parte do tempo, gratuitos – Pg. 107.
5)- No Brasil, onde as guarnições estão distribuídas de forma desigual e essencialmente concentradas nas fronteiras, principalmente na fronteira meridional, e nas cidades costeiras, não é surpreendente que sejam numerosos os oficiais provenientes do estado do Rio Grande do Sul, que tem fronteira com o Uruguai, enquanto que São Paulo, a capital econômica, forneça muito poucos militares – Pg. 109.
6)- No Nordeste, que foi o centro de gravidade econômica do país quando o açúcar era rei, são as famílias da aristocracia rural arruinada que enviam seus filhos para as forças armadas, para escaparem à derrocada. Dessa forma o menino de engenho, neto ou bisneto do barão do açúcar, para o qual não há meios de se pagar os estudos, entra na Escola Militar. Pois o leque de profissões aceitáveis não é muito aberto – Pg. 110.
7)- De uma forma geral, as classes populares não estão apresentadas nos corpos de oficiais por razões que já apresentamos anteriormente; entretanto, essas classes também não estão totalmente ausentes. O lugar que os oficiais se autodesignam oficialmente na sociedade, varia em função do papel político e do prestígio social das forças armadas, mas na maior parte dos casos eles identificam-se com as camadas superiores – Pg. 111.
8)- Em compensação, o auto-recrutamento e o aumento do número de filhos de militares são um fenômeno mundial, que também é perceptível na América Latina. A pré-socialização familiar aparece nesse contexto como um fator que facilita a escolha de uma profissão cujas “sujeições” e valores apresentam-se em contradição com a evolução da sociedade global – Pg. 113.
9)- Se fosse preciso resumir em poucas palavras o recrutamento social dos oficiais na América Latina, diríamos que além dos países onde o prestígio militar está no mais baixo nível, em consequência de vicissitudes históricas das quais falaremos mais tarde [...] os oficiais provêm em essência das camadas intermediárias mais abastadas da sociedade, de classes médias baixas ascendentes ou de classes superiores decadentes, embora as classes superiores e baixas não estejam ausentes do processo, ainda que as primeiras deem a impressão de ascender mais facilmente aos graus superiores do que as segundas. Alguns perfis são suficientes para ilustrar essas origens sociais – Pg. 115.
A instauração do serviço militar obrigatório
1)- Foi preciso que uma campanha intensa fosse organizada por oficias e civis com prestígio, diante da conjuntura favorável da Primeira Guerra Mundial, para que o serviço obrigatório fosse imposto e também para que a guarda nacional, destinada ao serviço militar de alguns privilegiados, fosse suprimida em 1918 – Pg. 118.
2)- Bilac considera que “a militarização de todos os cidadãos” será a salvação do Brasil, que o recrutamento trará o “triunfo completo da democracia, o nivelamento das classes sociais”, constituirá uma “escola de ordem, de disciplina [...] o laboratório da dignidade individual e do patriotismo”. O serviço militar, segundo nossa bardo, “é a educação cívica obrigatória, a limpeza obrigatória, a higiene obrigatória, a regeneração física e muscular. As cidades estão cheias de vagabundos, com pés descalços e andrajos, inimigos do alfabeto e do banho, animais que têm apenas aparência e a maldade do homem. Para essa ralé da sociedade, a caserna será a salvação” – Pg. 118.
3)- A partir dessas definições é possível ver que os oficiais sentem-se investidos de direitos particulares diante da comunidade nacional: a função de controle social do serviço militar é elevada até o mais amplo sendo político – Pg. 119.
4)- A introdução do serviço militar obrigatório, mesmo quando combinada com o sorteio e várias outras exceções, provoca um crescimento rápido dos efetivos em todos os países – Pg. 119.
5)- Esse sistema socialmente seletivo está dentro da lógica de suas funções morais e cívicas: são as classes desfavorecidas que precisam ser educadas, não os filhos dos ricos – Pg. 119.
6)- Tudo isso leva a um considerável afastamento entre a tropa e os oficiais que, acrescido dos objetivos manifestos do serviço militar, não consegue suplantar recaídas políticas e consequências sociais, sobretudo nas sociedades multiétnicas – Pg. 120.
7)- Os oficiais conservam um inegável sentimento de superioridade paternal diante do povo, decorrente desse contato com o contingente, o que os leva a se inclinarem para o lado das classes dirigentes e dos elementos hostis à igualdade política e à democracia representativa – Pg. 120.
g. Problematizações principais
h. Listar as fontes e os principais autores (historiografia) mencionados no texto
i. síntese crítica do texto:

Continue navegando