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Superior Tribunal de Justiça EDcl no RECURSO ESPECIAL Nº 1.338.942 - SP (2012/0170967-4) RELATOR : MINISTRO OG FERNANDES EMBARGANTE : CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA VETERINÁRIA DO ESTADO DE SÃO PAULO - CRMV/SP ADVOGADO : FAUSTO PAGIOLI FALEIROS E OUTRO(S) - SP233878 EMBARGADO : AGROPECUÁRIA PEREIRA'S LTDA - MICROEMPRESA E OUTROS ADVOGADO : ANDRÉ GIL GARCIA HIEBRA E OUTRO(S) - SP215702 EMENTA ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM RECURSO ESPECIAL. PEDIDO DE ANULAÇÃO DO ACÓRDÃO RECORRIDO E DE "DESAFETAÇÃO" DA MATÉRIA. DESCABIMENTO. ALEGAÇÃO DE CONTRADIÇÃO E OMISSÃO NO ARESTO EMBARGADO. PONTOS OBSCUROS. VÍCIOS SANADOS. REDAÇÃO ACLARADA DAS TESES FIRMADAS. ACOLHIMENTO PARCIAL DOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO, SEM ATRIBUIÇÃO DE EFEITOS INFRINGENTES. 1. O requerimento formulado pelo Ministério Público Federal de "anulação" do acórdão e de "desafetação" do recurso da sistemática dos repetitivos deve ser indeferido. O feito cumpriu todo o seu trâmite legal, tendo sido afetado por decisão assinada em 8/10/2012 e, somente depois de proferido o aresto, vem o Órgão Ministerial postular a "desafetação" da matéria, em claro confronto com a própria manifestação de mérito do Parquet formulada em 18/3/2013. 2. No trâmite deste feito, o dispositivo do art. 979 do CPC/2015 foi devidamente cumprido, porque tanto o banco eletrônico de dados quanto o registro eletrônico das teses jurídicas firmadas foram devidamente efetivados. Os argumentos das partes foram analisados, sendo que os demais aspectos - que neste momento pretende o embargante sejam examinados - somente agora foram ventilados, muito embora tenha tido tempo mais do que suficiente para trazer tais pontos aos autos para o debate franco. 3. A contradição alegada, no sentido de que o aresto embargado, ainda que tenha reconhecido a dissociação do registro e da anotação de responsabilidade técnica mas, ao mesmo tempo, exigiu sua vinculação quando desobriga a contratação de médicos veterinários como responsáveis técnicos, deve ser analisada como obscuridade efetivamente existente. 4. Dessa forma, resta aclarado que do fato de as empresas estarem desobrigadas de registro perante o Conselho de Fiscalização Profissional não decorre, inevitavelmente, a desnecessidade de contratação de profissionais técnicos. Nesse sentido, a circunstância de que, à míngua da necessidade de registro perante o Conselho Regional de Medicina Veterinária, igualmente descaberia exigir a Documento: 1705890 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 04/05/2018 Página 1 de 21 Superior Tribunal de Justiça contratação de profissionais técnicos, mas desde que a situação particular não se referir à intervenção do médico veterinário. 5. A Lei n. 12.689/2012, justamente por ter tido como finalidade a mera inclusão do denominado medicamento genérico para uso veterinário, para efeito de igual fiscalização como já ocorre quanto aos demais medicamentos veterinários, não teve o condão de alterar o Decreto-Lei n. 467/1969, no sentido da sua aplicação combinada com o disposto pela Lei n. 5.517/1968. Assim, não houve alteração do padrão legislativo - para os fins perseguidos nestes autos pelo embargante -, desde quando, para que assim ocorresse, a alteração deveria ter se processado no âmbito da Lei n. 5.517/1968, uma vez que os seus dispositivos sempre foram interpretados em harmonia com o contido no Decreto-Lei n. 467/1969. 6. O aresto embargado não tratou de nenhuma das atividades reguladas pelo Decreto-Lei n. 467/1969, mesmo com as alterações processadas pela Lei n. 12.689/2012, a saber: registro, fabricação, prescrição, dispensação ou aquisição pelo poder público de medicamentos de uso veterinário, genéricos ou não. O acórdão embargado se reportou, única e exclusivamente, à comercialização de animais e à venda de medicamentos veterinários e sobre tais aspectos, não incluiu registro, fabrico, prescrição ou dispensação do medicamento. 7. O aresto recorrido foi claro quando afirmou que, "no pertinente à comercialização de medicamentos veterinários, o que não abrange, por óbvio, a administração de fármacos no âmbito de um procedimento clínico, também não há respaldo na Lei n. 5.517/68 para exigir-se a submissão dessa atividade ao controle do conselho de medicina veterinária, seja por meio do registro da pessoa jurídica, seja pela contratação de responsável técnico, ainda que essa fiscalização seja desejável". 8. Na categoria de animais vivos não se inclui os denominados "animais silvestres", eis que, para essas espécies, existe um regramento legal específico, inclusive, vedando ou restringindo a própria comercialização, conforme a legislação de regência. Dessa forma, a alegação contida na manifestação do Ministério Público Federal de que o aresto teria sido omisso, nesse particular, será recebida, neste momento, como mera obscuridade, para o fim de se deixar consignado, de forma expressa, que a expressão "animais vivos" não abrange as citadas espécies. No que se refere aos denominados "animais de produção" ou de "interesse econômico", não se olvida que, havendo a prática de ato que exija a intervenção de profissional médico veterinário, obviamente, que tal providência se imporá, mas não pelo só fato de o estabelecimento comercial ou a pessoa física ser detentor de algum animal nessa condição. 9. As alegações contidas nos embargos de declaração e na manifestação do Ministério Público Federal, com a pretensão de que Documento: 1705890 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 04/05/2018 Página 2 de 21 Superior Tribunal de Justiça determinadas regras do Decreto n. 5.053/2004 sejam tomadas como delimitadoras do direito em discussão, não podem ser acolhidas. É que, no caso, trata-se de debate que diz respeito ao livre exercício profissional, sendo certo que qualquer restrição tem que advir de lei em sentido formal. 10. No que se refere ao vício quanto à interpretação da expressão "sempre que possível", contida na Lei n. 5.517/1968, há de se dizer que o exame cabível ao Poder Judiciário é da norma que se contém no texto legal, descabendo perfazer um confronto com o sentido do que deveria ser - ou poderia ter sido -, invocando contexto normativo e situação que teria havido na justificativa tida como idônea do projeto de lei. Assim, o exame se perfaz da lei como ela é, não como poderia ter sido, uma vez que não cabe a este Superior Tribunal de Justiça, como tarefa primária - conforme previsão constitucional -, examinar se a prognose legislativa feita por ocasião da sua edição se mantém válida, ou não, para as situações atualmente reguladas. 11. Essa tarefa compete ao Poder Legislativo, podendo a parte a ele se dirigir para pleitear a atualização do texto legal, mormente quando se trata de legislação que tem por escopo restringir a liberdade de exercício profissional, descabendo ao Poder Judiciário perfazer essa "atualização legislativa", por meio de uma interpretação restritiva de direitos fundamentais (liberdade do trabalho e da livre iniciativa). 12. Redação aclarada das teses firmadas: Não estão sujeitas a registro perante o respectivo Conselho Regional de Medicina Veterinária as pessoas jurídicas que explorem as atividades de venda de medicamentos veterinários e de comercialização de animais, excluídas desse conceito as espécies denominadas legalmente como silvestres. A contratação de profissionais inscritos como responsáveis técnicos somente será exigida, se houver necessidade de intervenção e tratamento médico de animal submetido à comercialização, com ou sem prescrição e dispensação de medicamento veterinário. 13. Acolhimento parcial dos embargos de declaração, sem atribuição de efeitos infringentes. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas,acordam os Ministros da Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, acolher parcialmente os embargos de declaração, sem atribuição de efeitos infringentes, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Benedito Gonçalves, Assusete Magalhães, Sérgio Kukina, Gurgel de Faria, Francisco Falcão e Napoleão Nunes Maia Filho votaram com o Sr. Ministro Relator. Impedida a Sra. Ministra Regina Helena Costa. Documento: 1705890 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 04/05/2018 Página 3 de 21 Superior Tribunal de Justiça Ausente, ocasionalmente, o Sr. Ministro Herman Benjamin. Brasília, 25 de abril de 2018(Data do Julgamento) Ministro Og Fernandes Relator Documento: 1705890 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 04/05/2018 Página 4 de 21 Superior Tribunal de Justiça EDcl no RECURSO ESPECIAL Nº 1.338.942 - SP (2012/0170967-4) EMBARGANTE : CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA VETERINÁRIA DO ESTADO DE SÃO PAULO - CRMV/SP ADVOGADO : FAUSTO PAGIOLI FALEIROS E OUTRO(S) - SP233878 EMBARGADO : AGROPECUÁRIA PEREIRA'S LTDA - MICROEMPRESA E OUTROS ADVOGADO : ANDRÉ GIL GARCIA HIEBRA E OUTRO(S) - SP215702 RELATÓRIO O EXMO. SR. MINISTRO OG FERNANDES: Trata-se de embargos de declaração interpostos por Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo, em demanda na qual contende com Agropecuária Pereira's Ltda. - ME e outros, em oposição a acórdão proferido pela Primeira Seção, assim ementado (e-STJ, fl. 368): ADMINISTRATIVO. CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA VETERINÁRIA. REGISTRO DE PESSOA JURÍDICA. VENDA DE MEDICAMENTOS VETERINÁRIOS E COMERCIALIZAÇÃO DE ANIMAIS VIVOS. DESNECESSIDADE. LEI N. 5.517/68. ATIVIDADE BÁSICA NÃO COMPREENDIDA ENTRE AQUELAS PRIVATIVAMENTE ATRIBUÍDAS AO MÉDICO VETERINÁRIO. RECURSO SUBMETIDO AO RITO DOS RECURSOS REPETITIVOS. 1. O registro da pessoa jurídica no conselho de fiscalização profissional respectivo faz-se necessário quando sua atividade básica, ou o serviço prestado a terceiro, esteja compreendida entre os atos privativos da profissão regulamentada, guardando isonomia com as demais pessoas físicas que também explorem as mesmas atividades. 2. Para os efeitos inerentes ao rito dos recursos repetitivos, deve-se firmar a tese de que, à míngua de previsão contida da Lei n. 5.517/68, a venda de medicamentos veterinários – o que não abrange a administração de fármacos no âmbito de um procedimento clínico – bem como a comercialização de animais vivos são atividades que não se encontram reservadas à atuação exclusiva do médico veterinário. Assim, as pessoas jurídicas que atuam nessas áreas não estão sujeitas ao registro no respectivo Conselho Regional de Medicina Veterinária nem à obrigatoriedade de contratação de profissional habilitado. Precedentes. 3. No caso sob julgamento, o acórdão recorrido promoveu adequada exegese da legislação a respeito do registro de pessoas jurídicas no conselho profissional e da contratação de médico-veterinário, devendo, portanto, ser mantido. 4. Recurso especial a que se nega provimento. Acórdão submetido ao rito do art. 543-C do CPC/1973, correspondente ao art. 1.036 e seguintes do CPC/2015. Documento: 1705890 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 04/05/2018 Página 5 de 21 Superior Tribunal de Justiça Alega o embargante a existência de contradição no julgamento recorrido, pois, ao mesmo tempo em que realizou a distinção entre anotação de responsabilidade técnica e registro, consignou ser desnecessária a presença de responsável técnico nos locais que comercializam animais vivos. Argumenta que o voto condutor do aresto impugnado admite a necessidade de que seja prestada assistência técnica e sanitária aos animais expostos à venda. No entanto, de maneira contraditória, afasta a obrigatoriedade da presença de responsável técnico, sob o argumento de que a atividade-fim da sociedade empresária, nesses casos, não é privativa de médicos-veterinários. Aduz o embargante (e-STJ, fl. 396) que "não há como subsistir a contradição aqui presente, porque a conclusão a que chegou o acórdão, de não admitir a anotação de responsabilidade técnica (RT) apenas e tão somente por conta da impossibilidade de registro da empresa, vai DE ENCONTRO COM TODA A NARRATIVA DA DECISÃO que, corretamente, distinguiu o registro da anotação de RT, bem como a sua existência em situações em que apesar de não ser a profissão atividade-fim da empresa, ela é utilizada como atividade-meio, além de que afirmou categoricamente que a assistência técnica e sanitária são atividades demandadas por empresas que vendem animais vivos, como previsto na Lei n. 5.517/68 (ou seja, todo animal exposto à venda deve ter assistência técnica veterinária)". Aponta, ainda, a existência de contradição na assertiva de que não há respaldo legal para a exigência de contratação de responsável técnico pelas pessoas jurídicas que comercializam medicamentos veterinários sem, contudo, ter enfrentado o disposto no Decreto-Lei n. 467/1969, com a redação da Lei n. 12.689/2012, a qual explicita a necessidade de fiscalização da indústria, do comércio e do emprego de produtos de uso veterinário em todo o território nacional. Explicita que o art. 8º do mencionado Decreto-Lei obriga as empresas a ter médico-veterinário como responsável técnicos dos referidos produtos. Indica que o aresto embargado adotou uma análise restritiva da expressão "sempre que Documento: 1705890 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 04/05/2018 Página 6 de 21 Superior Tribunal de Justiça possível", contida no art. 5º, alínea "e", da Lei n. 5.517/1968, pois a própria justificativa para a inclusão da referida escusa normativa envolve os aspectos históricos na qual o diploma legal foi editado, que revelava a escassez de médicos veterinários no país. Requer o acolhimento dos embargos, com efeitos infringentes, para que seja dado provimento ao recurso especial. A parte embargada oferece impugnação (e-STJ, fls. 452-454), alegando que o aresto combatido não padece de quaisquer dos vícios alegados, sendo que os aclaratórios revelam o inconformismo do recorrente com a conclusão do julgamento. Requer o não provimento dos embargos de declaração. O Ministério Público Federal solicita que seja "revista a fundamentação utilizada no julgamento do Recurso Especial 1.338.942/SP", a fim de que seja abrangida "a análise de toda a legislação pertinente ao comércio de medicamentos veterinários, assim como a legislação relativa aos três subtipos de animais vivos", em tudo sendo "reescrito" o enunciado. Em pedido alternativo, postula a anulação do aresto e a desafetação do processo da sistemática dos recursos repetitivos (e-STJ, fls. 459-512). O Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo propõe a juntada de parecer (e-STJ, fls. 516-537). O Ministério Público Federal pleiteia que sejam apreciadas as postulações dos autos, com a atribuição da devida prioridade no seu julgamento (e-STJ, fls. 542-545). O Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo e o Conselho Federal de Medicina Veterinária requerem a prioridade no julgamento dos recursos apresentados (e-STJ, fls. 546-547). É o relatório. Documento: 1705890 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 04/05/2018 Página 7 de 21 Superior Tribunal de Justiça EDcl no RECURSO ESPECIAL Nº 1.338.942 - SP (2012/0170967-4) VOTO O EXMO. SR. MINISTRO OG FERNANDES (Relator): Passo ao exame dos aclaratórios opostos pelo Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo, enfrentando os pontos suscitados pelo embargante em tal recurso, bem como peloMinistério Público Federal, na manifestação acostada aos autos, conforme abaixo. Do pleito para "anulação" do aresto embargado e a consequente desafetação do tema, conforme requerimento do Ministério Público Federal: Trata-se de requerimento formulado pelo Ministério Público Federal, o qual deve ser indeferido, porque a matéria foi afetada por decisão assinada em 8/10/2012, tendo o feito cumprido todo o seu trâmite legal e, somente depois de proferido o aresto, vem o Órgão Ministerial postular a "desafetação" da matéria, em claro confronto com a manifestação de mérito do Parquet , em 18/3/2013 (e-STJ, fls. 299-306), quando propunha o provimento parcial do recurso. Trata-se de pleito extemporâneo, que não guarda qualquer amparo da sistemática processual vigente. Da alegação de necessidade de cumprimento do art. 979 do CPC/2015, no sentido de que "todos os recursos admitidos como repetitivos devem ser divulgados de forma ampla e aceitos todos os argumentos dos interessados, não se restringindo às razões do recurso em julgamento": Tal argumento, longe de demonstrar um suposto vício do aresto, ora embargado, pretende que razões agora expostas nos autos sejam examinadas, em razão da amplitude da questão submetida à apreciação desta Corte Superior. O art. 979 do CPC/2015 assim dispõe: Art. 979. A instauração e o julgamento do incidente serão sucedidos da mais ampla e específica divulgação e publicidade, por meio de registro eletrônico no Conselho Nacional de Justiça. § 1º Os tribunais manterão banco eletrônico de dados atualizados com informações específicas sobre questões de direito submetidas ao incidente, comunicando-o imediatamente ao Conselho Nacional de Documento: 1705890 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 04/05/2018 Página 8 de 21 Superior Tribunal de Justiça Justiça para inclusão no cadastro. § 2º Para possibilitar a identificação dos processos abrangidos pela decisão do incidente, o registro eletrônico das teses jurídicas constantes do cadastro conterá, no mínimo, os fundamentos determinantes da decisão e os dispositivos normativos a ela relacionados. § 3º Aplica-se o disposto neste artigo ao julgamento de recursos repetitivos e da repercussão geral em recurso extraordinário. Em primeiro lugar, o dispositivo legal do art. 979 do CPC/2015 foi devidamente cumprido, no caso, porque tanto o banco eletrônico de dados quanto o registro eletrônico das teses jurídicas firmadas foram devidamente efetivados. Em segundo lugar, tal dispositivo legal, longe da interpretação "alargada" e absolutamente desconforme com a atribuída pelo embargante, não abrange assertiva de que devem ser "aceitos todos os argumentos dos interessados, não se restringindo às razões do recurso em julgamento". Com efeito, se o Poder Judiciário devesse "aceitar" todos os pressupostos trazidos aos autos, as demandas terminariam "empatadas", já que, como é sabido, os interessados controvertem sobre as teses jurídicas expostas no feito. Demais disso, se o verbo "aceitar", invocado pelo embargante, em verdade, se refere a analisar os argumentos trazidos aos autos, no presente caso, tal assim ocorrera. Aliás, os demais aspectos - que agora pretende o embargante sejam examinados - somente foram ventilados neste momento, muito embora tenha tido tempo mais do que suficiente para aportar tais pontos aos autos para o debate franco. Nada obstante, como se verá abaixo, os pontos suscitados nestes aclaratórios serão examinados. Da alegada contradição existente no aresto embargado quanto ao reconhecimento da dissociação do registro e da anotação de responsabilidade técnica e, ao mesmo tempo, de sua vinculação quando desobriga a contratação de médicos-veterinários como responsáveis técnicos: Nesse particular, a questão foi tratada, de acordo com os seguintes Documento: 1705890 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 04/05/2018 Página 9 de 21 Superior Tribunal de Justiça trechos contidos no aresto impugnado: É muito comum confundir-se a obrigatoriedade do registro no conselho de fiscalização das profissões pelo simples fato de a pessoa jurídica praticar quaisquer das atividades privativas da profissão tutelada. Segundo esse raciocínio, se a pessoa jurídica se valesse, em qualquer etapa de sua atividade ou processo produtivo, de profissional sujeito à inscrição no conselho, também deveria realizar o respectivo registro. Esse entendimento, no entanto, é equivocado, pois a finalidade dos normativos em questão é justamente promover o controle direto da pessoa jurídica pelo respectivo conselho profissional quando sua atividade-fim ou o serviço prestado a terceiro estejam compreendidos entre os atos privativos da profissão regulamentada, guardando isonomia com as demais pessoas físicas que também explorem as mesmas atividades. A esse respeito, é esclarecedora a lição de Luísa Hickel Gamba, contida em produção doutrinária coordenada por Vladimir Passos de Freitas: Em suma, a inscrição da pessoa jurídica em conselho profissional só é devida quando ela é constituída com a finalidade de explorar a profissão, seja praticando atividade fim privativa da profissão, seja prestando serviços profissionais a terceiros. E, nesses casos, a empresa deverá ter um profissional habilitado que responda pelo exercício da profissão em nome da pessoa jurídica. Hipótese diversa é a da empresa que na sua atividade produtiva, como atividade meio, utiliza-se de serviços técnicos ou científicos ligados a determinada profissão. Aqui, a empresa, como pessoa jurídica em si, não está sujeita à inscrição em conselho, mas está obrigada a manter, como empregado ou prestador de serviço, profissional habilitado e inscrito, responsável por aquela atividade meio (Conselhos de Fiscalização Profissional: doutrina e jurisprudência. 2. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, p. 161). A contratação pela pessoa jurídica de profissional inscrito no respectivo conselho, por seu turno, faz-se por meio da anotação de responsabilidade técnica ou anotação de função técnica. Sobre esse tema, Luísa Hickel Gamba assim leciona: Anotação de responsabilidade técnica ou anotação de função técnica é o registro no conselho de fiscalização competente do ato que atribui ao profissional responsabilidade técnica pelo exercício da profissão por pessoa jurídica; pelo exercício de atividade-meio própria da profissão em pessoa jurídica cuja atividade-fim esteja desvinculada da profissão; ou por obra, produto ou simples prestação de serviço profissional, nos casos em que é exigida da pessoa física ou jurídica. A anotação de responsabilidade técnica é ato específico, que, embora exija prévia inscrição do profissional ou da pessoa jurídica no conselho fiscalizador, com ela – inscrição – não se Documento: 1705890 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 04/05/2018 Página 1 0 de 21 Superior Tribunal de Justiça confunde. A inscrição ou registro do profissional ou da pessoa jurídica no conselho autoriza o exercício da profissão, de forma genérica, enquanto a anotação de responsabilidade técnica atribui ao profissional responsabilidade técnica específica em relação a determinada obra, produto, empreendimento ou atividade, ou identifica, para a pessoa jurídica que pratica atividade da profissão, o profissional que para tanto tem habilitação e por ela responde. (Ob. Cit. p. 166) O embargante ressalta que as premissas acima estão de acordo com o entendimento legal e doutrinário sobre a matéria. Contudo, reclama que o aresto em passagem seguinte se contradiz com os pressupostos acima trazidos, quando vincula a desnecessidade de responsáveis técnicos à impossibilidade de registro da empresa. Esse é o excerto, apartir do qual argumenta ter havido contradição, no que se refere às premissas acima estabelecidas: Considerando-se que a comercialização de animais não se enquadra entre as atividades privativas do médico-veterinário, as pessoas jurídicas que exploram esse mercado estão desobrigadas de efetivarem o registro perante o conselho profissional respectivo e, como decorrência, de contratarem, como responsáveis técnicos, profissionais nele inscritos. Efetivamente, embora não se trate o vício alegado de contradição, ele pode ser admitido como obscuridade, razão pela qual será examinado com esse aspecto. Dessa forma, fica aclarado que do fato de as empresas estarem desobrigadas de registro perante o Conselho de Fiscalização Profissional não decorre, inevitavelmente, a desnecessidade de contratação de profissionais técnicos. O excerto acima transcrito apenas quis se referir à circunstância de que, à míngua da necessidade de registro perante o Conselho Regional de Medicina Veterinária, igualmente descaberia exigir a contratação de profissionais técnicos, desde que a situação particular, do caso concreto, não se referir à intervenção do médico-veterinário. Da alegada contradição, quando o aresto embargado afirma a ausência de previsão legislativa, sem a análise, contudo, do Decreto-Lei n. Documento: 1705890 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 04/05/2018 Página 1 1 de 21 Superior Tribunal de Justiça 467/1969, com a redação dada pela Lei n. 12.689/2012: A contradição suscitada pelo embargante, nesse particular, explicita uma típica contradição externa, quando assim afirma, a título de requerimento final para sanar o suposto vício: [...] sobre a contradição em relação ao texto legislativo que obriga a presença de médico veterinário em locais que vendem medicamentos veterinários (decreto-lei n.º 467/69). Assim, essa suscitada contradição sequer poderia ser tomada como tal, porque, para efeito de embargos de declaração, não se pode arguir de contraditória uma decisão, porque, supostamente, a interpretação dada, segundo o embargante, seria contrária a determinado texto legal. Trata-se de contradição externa, porque não se refere a um trecho interno do julgado embargado, mas, sim, a um confronto entre um trecho do julgado e uma disposição legal. Não é outro o entendimento sobre a matéria no âmbito deste STJ: PROCESSUAL CIVIL. VIOLAÇÃO DO ART. 1.022 DO CPC/2015. NÃO OCORRÊNCIA. POSSÍVEL CONTRADIÇÃO EXTERNA AO JULGADO. 1. Não merece prosperar a tese de violação do art. 1.022 do CPC/2015, porquanto o acórdão recorrido fundamentou, claramente, o posicionamento por ele assumido, de modo a prestar a jurisdição que lhe foi postulada. 2. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça caminha no sentido de que "a contradição remediável por embargos de declaração, é aquela interna ao julgado embargado, a exemplo da grave desarmonia entre a fundamentação e as conclusões da própria decisão, capaz de evidenciar uma ausência de logicidade no raciocínio desenvolvido pelo julgador, ou seja, o recurso integrativo não se presta a corrigir contradição externa, bem como não se revela instrumento processual vocacionado para sanar eventual error in judicando" (EDcl no HC 290.120/SC, Rel. Ministra Regina Helena Costa, Quinta Turma, julgado em 26/08/2014, DJe 29/08/2014.) 3. Recurso Especial não provido. (REsp 1.654.832/TO, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 6/4/2017, DJe 27/4/2017) ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. ALEGAÇÃO DE CONTRADIÇÃO ENTRE SUCESSIVOS ARESTOS PROFERIDOS NOS AUTOS. AUSÊNCIA DE EFETIVA CONTRADIÇÃO INTERNA NO JULGADO. EMBARGOS REJEITADOS. Documento: 1705890 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 04/05/2018 Página 1 2 de 21 Superior Tribunal de Justiça 1. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça tem asseverado que a contradição sanável por meio dos embargos de declaração é aquela interna ao julgado embargado. Precedente: EDcl nos EDcl no AgRg no REsp 1319666/MG, Rel. Ministra REGINA HELENA COSTA, PRIMEIRA TURMA, DJe 26/2/2016. 2. No caso em exame, pretende a parte embargante sanar alegada contradição entre o acórdão embargado e anterior decisão colegiada proferida no âmbito de agravo regimental, cuja pretensão não se revela passível de acolhimento. 3. Consoante o magistério de BARBOSA MOREIRA, "Não há que cogitar de contradição entre o acórdão e outra decisão porventura anteriormente proferida no mesmo processo, pelo tribunal ou pelo órgão de grau inferior" (Comentários ao Código de Processo Civil. 4. ed., Rio de Janeiro: Forense, 1981, vol. V, p. 623). Da mesma forma, MANOEL CAETANO FERREIRA FILHO leciona que "ficam fora do âmbito deste recurso as contradições externas, assim entendidas aquelas existentes entre duas decisões constantes do mesmo processo" (Comentários ao Código de Processo Civil. São Paulo: RT, 2001, vol. 7, p. 303). 4. Embargos de declaração rejeitados. (EDcl nos EDcl no AgRg no REsp 1.246.894/SP, Rel. Ministro SÉRGIO KUKINA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 26/4/2016, DJe 11/5/2016) Nada obstante de contradição não se trate, o que já revela o equívoco, nesse aspecto, dos presentes embargos de declaração, analisarei a alegação apenas por apreço ao fato de se cuidar de recurso especial submetido à sistemática dos repetitivos. Em primeiro lugar, a Lei n. 12.689/2012 não contém a finalidade que o embargante pretende atribuir, no sentido de uma alteração do regramento aplicável à espécie. Com efeito, a própria ementa da referida lei já bem esclarece, nesse particular: Altera o Decreto-Lei nº 467, de 13 de fevereiro de 1969, para estabelecer o medicamento genérico de uso veterinário; e dispõe sobre o registro, a aquisição pelo poder público, a prescrição, a fabricação, o regime econômico-fiscal, a distribuição e a dispensação de medicamentos genéricos de uso veterinário, bem como sobre a promoção de programas de desenvolvimento técnico-científico e de incentivo à cooperação técnica para aferição da qualidade e da eficácia de produtos farmacêuticos de uso veterinário. O Decreto-Lei n. 467/1969, de sua parte, tem como ementa o seguinte: "Dispõe sobre a fiscalização de produtos de uso veterinário, dos estabelecimentos que os fabriquem e dá outras providências". Demais disso, no Documento: 1705890 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 04/05/2018 Página 1 3 de 21 Superior Tribunal de Justiça art. 1º do referido Diploma Legal consta o seguinte: Art. 1º É estabelecida a obrigatoriedade da fiscalização da indústria, do comércio e do emprêgo de produtos de uso veterinário, em todo o território nacional. Por outro lado, a Lei n. 12.689/2012, justamente por ter tido como finalidade a inclusão da fiscalização do denominado medicamento genérico para uso veterinário, não teve o condão de alterar o Decreto-Lei n. 467/1969, no sentido da sua aplicação combinada com o disposto pela Lei n. 5.517/1968. É dizer: se houvesse alteração do padrão legislativo - para os fins perseguidos nestes autos pelo embargante -, a alteração deveria ter se processado no âmbito da Lei n. 5.517/1968, uma vez que os seus dispositivos sempre foram interpretados em harmonia com o contido no Decreto-Lei n. 467/1969. Como dito, a Lei n. 12.689/2012 não perfez qualquer alteração essencial no que já dispunha o Decreto-Lei n. 467/1969, mas, tão somente, incluiu na sua regulação o denominado medicamento genérico para uso veterinário. Nesse particular, o art. 8º do Decreto-Lei n. 467/1969 sempre foi aplicado em conjugação com o disposto pela Lei n. 5.517/1968, descabendo o argumento de que teria havido inovação legislativa apta para impor derrogação eventual seja de regra legal, seja de interpretaçãolevada a efeito em diversos julgados anteriores por este Superior Tribunal de Justiça sobre a matéria. Demais disso, o aresto, ora embargado, não tratou de nenhuma das atividades reguladas pelo Decreto-Lei n. 467/1969, com as alterações processadas pela Lei n. 12.689/2012, a saber: registro, fabricação, prescrição, dispensação ou aquisição pelo poder público de medicamentos de uso veterinário, genéricos ou não. O acórdão embargado se reportou, única e exclusivamente, à comercialização de animais e à venda de medicamentos veterinários. Sobre tais aspectos, não inclui registro e nem fabricação do medicamento. E nem, igualmente, a prescrição ou dispensação do medicamento, porque para isso, como evidente, haverá uma receita anterior passada pelo médico-veterinário. Aliás, nesse particular, o aresto recorrido deixou consignado de forma bem clara: Documento: 1705890 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 04/05/2018 Página 1 4 de 21 Superior Tribunal de Justiça No pertinente à comercialização de medicamentos veterinários, o que não abrange, por óbvio, a administração de fármacos no âmbito de um procedimento clínico, também não há respaldo na Lei n. 5.517/68 para exigir-se a submissão dessa atividade ao controle do conselho de medicina veterinária, seja por meio do registro da pessoa jurídica, seja pela contratação de responsável técnico, ainda que essa fiscalização seja desejável (grifos acrescidos). Assim, a própria decisão deixou assentado que, se a atividade exigir a administração de fármacos e, por decorrência lógica, a prescrição, a dispensação de um medicamento, por certo que caberá ao médico-veterinário essa atribuição. Com maior razão, se se tratar de registro e de fabricação do medicamento de uso veterinário, do tipo genérico ou não. Esclareço, por oportuno, que, na categoria de animais, não se pode incluir os ditos os "animais silvestres", eis que, para essas espécies, existe um regramento legal específico, inclusive, vedando ou restringindo a própria comercialização. Os "animais silvestres" são regulados pela Lei n. 5.197/1967, Lei n. 9.605/1998, pelo Decreto n. 3.179/1999 e demais atos infralegais expedidos pelo Ministério do Meio Ambiente, pelo CONAMA, IBAMA e outros órgãos afetos a essas atribuições. Na tese firmada no âmbito deste recurso especial, julgado sob a sistemática dos repetitivos, não há qualquer referência a essas espécies, visto que a discussão sobre tais animais não integra e nem integrou o objeto desta lide, bem como porque existe regulamentação especial que incide sobre aquelas espécies animais. Dessa forma, a alegação contida na manifestação do Ministério Público Federal (e-STJ, fls. 459-512), de que o aresto teria sido omisso, nesse particular, será recebida, neste momento, como mera obscuridade, para o fim de se deixar consignado, de forma clara, que a expressão "animais vivos" contida na tese firmada não abrange as espécies denominadas como "silvestres". No que se refere aos denominados "animais de produção" ou de "interesse econômico", tem-se que, nesse conceito, são incluídos os mamíferos (bovinos e bubalinos, equídeos, suínos, ovinos, caprinos e coelhos) e aves de Documento: 1705890 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 04/05/2018 Página 1 5 de 21 Superior Tribunal de Justiça produção, conforme disposto no Manual de Preenchimento para Emissão de Guia de Trânsito Animal elaborado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). A sua regulação é determinada pelos seguintes instrumentos normativos: Lei n. 1.283/1950; Decreto n. 9.013/2017; Lei n. 11.794/2008; Instrução Normativa n. 3/2000, Instrução Normativa n. 56/2008, Instrução Normativa n. 13/2010, Instrução Normativa n. 12/2017, todas do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Frise-se que em nenhum desses instrumentos normativos consta exigência de registro das empresas perante o Conselho de Fiscalização Profissional, no caso, de Medicina Veterinária, e nem a contratação de profissionais inscritos como responsáveis técnicos, pelo só fato o interessado ser detentor de tais animais. Não se olvida que, havendo a prática de ato que exija a intervenção de profissional médico veterinário, obviamente, que tal providência se imporá, mas não pelo só fato de o estabelecimento comercial ou a pessoa física ser possuidor de algum dito "animal de produção" ou de "interesse econômico". Os instrumentos normativos acima citados se dirigem, sim, à possibilidade de fiscalização da defesa sanitária, uso científico dos animais, abate humanitário, exportação de ruminantes vivos para o abate, práticas de bem-estar desses animais, dentre outras providências que o legislador entendeu pertinente que fossem reguladas. Não se encontra, entretanto, a necessidade de contratação de médico veterinário e nem o registro da empresa perante conselhos de fiscalização profissional, desde quando não esteja em pauta a prática de qualquer ato médico veterinário, para o qual já é exigida a contratação do profissional inscrito como responsável técnico. Por fim, não podem ser acolhidas as alegações contidas nos embargos de declaração e na manifestação do Ministério Público Federal, com a pretensão de que determinadas regras do Decreto n. 5.053/2004 sejam tomadas como delimitadoras primárias do direito em discussão. Documento: 1705890 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 04/05/2018 Página 1 6 de 21 Superior Tribunal de Justiça É que, no caso, trata-se de debate que diz respeito ao livre exercício profissional, sendo certo que qualquer restrição tem que advir de lei em sentido formal, como assentado no aresto embargado. Assim, o Decreto n. 5.053/2004 não pode ser invocado como regra primária, para o efeito de atribuir restrição à atividade comercial reportada nos autos, já que tais restrições não tenham sido expressas no texto legal. Da alegada contradição sobre o uso da expressão "sempre que possível" e a interpretação dada pelo aresto embargado: A contradição suscitada pelo embargante, nesse particular, explicita uma típica contradição externa, quando assim afirma, a título de requerimento final para sanar o suposto vício: [...] a contradição sobre a interpretação da expressão “sempre que possível”, totalmente dissociada das exposições de motivos da lei e também afrontosa ao art. 5º, inciso XIII da Constituição Federal, bem como afrontando o próprio processo legislativo. Assim, a alegada contradição sequer poderia ser tomada como tal, porque, para efeito de embargos de declaração, não se pode arguir de contraditória uma decisão, porque, supostamente, a interpretação dada, segundo a embargante, seria contrária a determinado texto legal. Trata-se de contradição externa, porque não se refere a um trecho interno do julgado embargado, mas, sim, a um confronto entre um trecho do julgado e uma disposição legal. Não é outro o entendimento sobre a matéria no âmbito deste STJ: PROCESSUAL CIVIL. VIOLAÇÃO DO ART. 1.022 DO CPC/2015. NÃO OCORRÊNCIA. POSSÍVEL CONTRADIÇÃO EXTERNA AO JULGADO. 1. Não merece prosperar a tese de violação do art. 1.022 do CPC/2015, porquanto o acórdão recorrido fundamentou, claramente, o posicionamento por ele assumido, de modo a prestar a jurisdição que lhe foi postulada. 2. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça caminha no sentido de que "a contradição remediável por embargos de declaração, é aquela interna ao julgado embargado, a exemplo da grave desarmonia entre a fundamentação e as conclusões da própria decisão, capaz de evidenciar uma ausência de logicidade no raciocínio desenvolvido pelo julgador, ou seja, o recurso integrativo nãose presta a corrigir Documento: 1705890 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 04/05/2018 Página 1 7 de 21 Superior Tribunal de Justiça contradição externa, bem como não se revela instrumento processual vocacionado para sanar eventual error in judicando" (EDcl no HC 290.120/SC, Rel. Ministra Regina Helena Costa, Quinta Turma, julgado em 26/08/2014, DJe 29/08/2014.) 3. Recurso Especial não provido. (REsp 1.654.832/TO, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 6/4/2017, DJe 27/4/2017) ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. ALEGAÇÃO DE CONTRADIÇÃO ENTRE SUCESSIVOS ARESTOS PROFERIDOS NOS AUTOS. AUSÊNCIA DE EFETIVA CONTRADIÇÃO INTERNA NO JULGADO. EMBARGOS REJEITADOS. 1. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça tem asseverado que a contradição sanável por meio dos embargos de declaração é aquela interna ao julgado embargado. Precedente: EDcl nos EDcl no AgRg no REsp 1319666/MG, Rel. Ministra REGINA HELENA COSTA, PRIMEIRA TURMA, DJe 26/2/2016. 2. No caso em exame, pretende a parte embargante sanar alegada contradição entre o acórdão embargado e anterior decisão colegiada proferida no âmbito de agravo regimental, cuja pretensão não se revela passível de acolhimento. 3. Consoante o magistério de BARBOSA MOREIRA, "Não há que cogitar de contradição entre o acórdão e outra decisão porventura anteriormente proferida no mesmo processo, pelo tribunal ou pelo órgão de grau inferior" (Comentários ao Código de Processo Civil. 4. ed., Rio de Janeiro: Forense, 1981, vol. V, p. 623). Da mesma forma, MANOEL CAETANO FERREIRA FILHO leciona que "ficam fora do âmbito deste recurso as contradições externas, assim entendidas aquelas existentes entre duas decisões constantes do mesmo processo" (Comentários ao Código de Processo Civil. São Paulo: RT, 2001, vol. 7, p. 303). 4. Embargos de declaração rejeitados. (EDcl nos EDcl no AgRg no REsp 1.246.894/SP, Rel. Ministro SÉRGIO KUKINA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 26/4/2016, DJe 11/5/2016) Nada obstante de contradição não se trate, o que já revela o equívoco, igualmente nesse aspecto, dos presentes embargos de declaração, analisarei a alegação apenas por apreço ao fato de se tratar de recurso especial submetido à sistemática dos repetitivos. A parte embargante, sobre esse ponto, assim argumenta: [...] 47. Hoje há veterinários para esse trabalho, nos termos da Lei n.º 5.517/68, e essa é a interpretação que não contraria o espírito da lei e muito menos as regras constitucionais. 48. Sendo assim, a afirmação do D. Relator sobre a alínea “e” do art. 5º da Lei n.º 5.517/68 está em total contradição com a própria Documento: 1705890 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 04/05/2018 Página 1 8 de 21 Superior Tribunal de Justiça exposição de motivos da citada lei e a interpretação da expressão “sempre que possível” desse artigo nunca poderia ser extensiva, mas também não haveria de ser restritiva da atividade profissional. 49. A interpretação histórica, teleológica, em companhia dos dispositivos constitucionais seria o melhor caminho para compatibilizar o texto legal, a exposição de motivos da lei e a Constituição Federal e o livre exercício das profissões, que deve guardar relação com as limitações legais (art. 5º XIII). Com efeito, o exame cabível ao Poder Judiciário é do texto que se contém na norma legal, descabendo perfazer um confronto com o sentido do que deveria ser - ou poderia ter sido -, invocando contexto normativo e situação que teria havido na justificativa tida como idônea do projeto de lei. Demais disso, o exame se perfaz da lei como ela é, não como poderia ter sido, visto que não cabe a este Superior Tribunal de Justiça, como tarefa primária - conforme previsão constitucional -, examinar se a prognose legislativa feita por ocasião da sua edição se mantém válida, ou não, para as situações atualmente reguladas. Essa tarefa compete ao Poder Legislativo, podendo a parte a ele se dirigir para pleitear a atualização do texto legal, mormente quando se trata de legislação que tem por escopo restringir a liberdade de exercício profissional, descabendo ao Poder Judiciário perfazer essa "atualização legislativa", por meio de mera interpretação restritiva de direitos fundamentais (liberdade do trabalho e da livre iniciativa). Da redação aclarada das teses jurídicas firmadas, após exame dos embargos de declaração, em face das questões jurídicas tratadas nos Temas 616 e 617: Diante da fundamentação externada acima, restam firmadas as seguintes teses jurídicas, aclarando-se o conteúdo daquela estabelecida no aresto anterior: Não estão sujeitas a registro perante o respectivo Conselho Regional de Medicina Veterinária as pessoas jurídicas que explorem as atividades de venda de medicamentos veterinários e de comercialização de animais, excluídas desse conceito as espécies denominadas legalmente Documento: 1705890 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 04/05/2018 Página 1 9 de 21 Superior Tribunal de Justiça como silvestres. A contratação de profissionais inscritos como responsáveis técnicos somente será exigida, se houver necessidade de intervenção e tratamento médico de animal submetido à comercialização, com ou sem prescrição e dispensação de medicamento veterinário. No caso, nada obstante tenham sido aclarados os termos da tese firmada, o resultado do presente julgamento não é passível de alteração, diante da fundamentação acima elucidada. Ante o exposto, dou provimento parcial aos embargos de declaração, para aclarar a tese firmada, sem alteração, contudo, do resultado do julgamento e sem atribuição de efeitos infringentes. É como voto. Documento: 1705890 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 04/05/2018 Página 2 0 de 21 Superior Tribunal de Justiça CERTIDÃO DE JULGAMENTO PRIMEIRA SEÇÃO EDcl no Número Registro: 2012/0170967-4 PROCESSO ELETRÔNICO REsp 1.338.942 / SP Números Origem: 00198152120054036100 198152120054036100 200561000198157 PAUTA: 25/04/2018 JULGADO: 25/04/2018 Relator Exmo. Sr. Ministro OG FERNANDES Ministra Impedida Exma. Sra. Ministra : REGINA HELENA COSTA Presidente da Sessão Exmo. Sr. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES Subprocurador-Geral da República Exmo. Sr. Dr. MOACIR GUIMARÃES MORAES FILHO Secretária Bela. Carolina Véras AUTUAÇÃO RECORRENTE : CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA VETERINÁRIA DO ESTADO DE SÃO PAULO - CRMV/SP ADVOGADO : FAUSTO PAGIOLI FALEIROS E OUTRO(S) - SP233878 RECORRIDO : AGROPECUÁRIA PEREIRA'S LTDA - MICROEMPRESA E OUTROS ADVOGADO : ANDRÉ GIL GARCIA HIEBRA E OUTRO(S) - SP215702 ASSUNTO: DIREITO ADMINISTRATIVO E OUTRAS MATÉRIAS DE DIREITO PÚBLICO - Organização Político-administrativa / Administração Pública - Conselhos Regionais de Fiscalização Profissional e Afins - Registro Profissional EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EMBARGANTE : CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA VETERINÁRIA DO ESTADO DE SÃO PAULO - CRMV/SP ADVOGADO : FAUSTO PAGIOLI FALEIROS E OUTRO(S) - SP233878 EMBARGADO : AGROPECUÁRIA PEREIRA'S LTDA - MICROEMPRESA E OUTROS ADVOGADO : ANDRÉ GIL GARCIA HIEBRA E OUTRO(S) - SP215702 CERTIDÃO Certifico que a egrégia PRIMEIRA SEÇÃO, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão: "A Seção, por unanimidade, acolheu parcialmente os embargos de declaração, sem atribuição de efeitos infringentes, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator." Os Srs. Ministros Benedito Gonçalves, Assusete Magalhães, Sérgio Kukina, Gurgel de Faria, Francisco Falcão e Napoleão Nunes Maia Filho votaram com o Sr. Ministro Relator. Impedida a Sra. Ministra Regina Helena Costa. Ausente, ocasionalmente, o Sr. Ministro Herman Benjamin.Documento: 1705890 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 04/05/2018 Página 2 1 de 21
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