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A Petição Inicial no Novo CPC

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PROCEDIMENTO COMUM NO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL
Marcos Paulo Pereira Gomes
Professor da Faculdade da Amazônia Ocidental – Advogado – Professor da Escola Superior da Advocacia da OAB/AC
Petição Inicial
Apontamentos Iniciais
 “ A petição inicial é o primeiro ato do processo pelo qual o autor manifesta formalmente seu intuito de provocar a jurisdição e dar início ao processo” (Fábio Victor da Fonte Monnerat)
Petição Inicial
Funções Básicas
 Provocar a Jurisdição;
 Formalizar o exercício e direito de ação;
 Dar início à relação processual;
 Delimitar o objeto (mérito) do processo.
Petição Inicial
Apontamentos Iniciais no Novo CPC
 Art. 312 “Considera-se proposta a ação quando a petição inicial for protocolada”
 Consequências: perpetuação da competência, prevenção do juízo e interrupção da prescrição.
Petição Inicial
A PI identifica a demanda de tal forma que é a partir dela que o juiz sabe o que o autor quer (o autor se expressa pela PI) e é disso que o réu irá se defender. Portanto, há grande relação com o princípio do contraditório. Se o réu não souber o que o autor quer, como ele irá se defender de maneira adequada?
Petição Inicial
Requisitos
Art. 319.  A petição inicial indicará:
I - o juízo a que é dirigida;
II - os nomes, os prenomes, o estado civil, a existência de união estável, a profissão, o número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas ou no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica, o endereço eletrônico, o domicílio e a residência do autor e do réu;
Petição Inicial
Requisitos
Art. 319.  A petição inicial indicará:
III - o fato e os fundamentos jurídicos do pedido;
IV - o pedido com as suas especificações;
V - o valor da causa;
Petição Inicial
Requisitos
Art. 319.  A petição inicial indicará:
VI - as provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos fatos alegados;
VII - a opção do autor pela realização ou não de audiência de conciliação ou de mediação.
Petição Inicial
Requisitos
Art. 319.  A petição inicial indicará:
§ 1o Caso não disponha das informações previstas no inciso II, poderá o autor, na petição inicial, requerer ao juiz diligências necessárias a sua obtenção.
§ 2o A petição inicial não será indeferida se, a despeito da falta de informações a que se refere o inciso II, for possível a citação do réu.
§ 3o A petição inicial não será indeferida pelo não atendimento ao disposto no inciso II deste artigo se a obtenção de tais informações tornar impossível ou excessivamente oneroso o acesso à justiça.
Petição Inicial
Requisitos
Art. 320.  A petição inicial será instruída com os documentos indispensáveis à propositura da ação.
Petição Inicial 
EMENDA À INICIAL
Art. 321. O juiz, ao verificar que a petição inicial não preenche os requisitos dos arts. 319 e 320 ou que apresenta defeitos e irregularidades capazes de dificultar o julgamento de mérito, determinará que o autor, no prazo de 15 (quinze) dias, a emende ou a complete, indicando com precisão o que deve ser corrigido ou completado.
Do Pedido
Art. 322. O pedido deve ser certo.
Aspectos: todo pedido possui um aspecto processual e um aspecto material.
Aspecto processual: tem-se a espécie de tutela. Ex. autor quer uma tutela constitutiva, executiva, declaratória, etc.
É o pedido imediato, pois vem a tutela jurisdicional vem antes do bem da vida (o reconhecimento do pedido vem antes da pretensão material solicitada).
Do Pedido
Aspecto material: é o bem da vida. Bem da vida deve ser compreendida como a vantagem prática pretendida.
É o pedido mediato.
Todo pedido possui ambos aspectos.
Requisitos formais (art. 322, caput, 324, caput): todo pedido deve ter certeza e determinação (certeza + determinação). 
Certeza: é um requisito formal que se exige tanto do pedido imediato (a certeza se dá com a indicação da espécie da tutela pretendida – assim, pedido como “requer-se a tutela cabível” é considerado incerto) 
Determinação: significa a quantidade de bem da vida pretendido pelo autor. Assim, pedido determinado é sinônimo de pedido líquido.
IMPORTANTE: tal determinação pode ser excepcionada, surgindo o pedido genérico (art. 324, §1º, NCPC):
Art. 324.  O pedido deve ser determinado.
§ 1o É lícito, porém, formular pedido genérico:
I - nas ações universais, se o autor não puder individuar os bens demandados;
II - quando não for possível determinar, desde logo, as consequências do ato ou do fato;
III - quando a determinação do objeto ou do valor da condenação depender de ato que deva ser praticado pelo réu.
Pedido genérico é o pedido indeterminado (ou ilíquido), que pode ser admitido em três hipóteses:
Ações universais (inciso i): são aquelas ações que tem por objeto uma universalidade de bens. Pode ser tanto uma universalidade fática (acervo de uma biblioteca) quanto jurídica (herança).
Ação indenizatória quando for impossível a fixação do valor do dano: nesse caso, o ato ilícito que dá razão à indenização ainda está gerando efeitos. É por isso que, mesmo que o autor queira especificar o quantum indenizatório, ele não consegue. Ex. impossibilidade de cálculo de lucros cessantes enquanto durar o ato ilícito. OBS: DANO MORAL NÃO ENTRA NESTE ROL
Sempre que o valor depender de ato a ser praticado pelo réu: ex. prestação de contas (que terá um duplo pedido: que o réu preste as contas e que pague o saldo).
DA DECISÃO INTERLOCUTÓRIA
Posturas do juiz diante da Petição Inicial
Emenda da petição inicial (art. 321, NCPC)
	Quando o juiz se deparar com um vício formal sanável, ou seja, um defeito que pode ser corrigido, a emenda da petição inicial é direito do autor (STJ, 1ªT, Resp 812.323/MG). 
Isso significa que se o juiz indeferir a inicial, sem oportunizar a emenda, essa sentença de indeferimento é nula, pelo cerceamento de defesa.
Logo, deve o juiz, ao deparar-se com o vício formal sanável, no prazo de 15 dias, oportunizar ao autor o direito da emenda.
OBS: O prazo da hipótese do art. 106, §1º, NCPC (ausência de endereço do advogado) é de 05 dias.
OBS.2: Esse prazo de 15 dias é dilatório, ou seja, pode ser prorrogado
OBS.3: Esse prazo é impróprio (STJ, 3ª T, Resp. 871.661/RS), ou seja, se a emenda ocorrer depois de decorrido o prazo, ela é admitida (não há preclusão temporal), desde que antes da extinção do processo.
Indeferimento da Petição Inicial
	O indeferimento também tem como objeto vício formal, a diferença é de que, nesse caso, o vício formal é insanável. Assim, a própria lei considera o vício insanável.
O indeferimento é um fenômeno processual necessariamente liminar. Isso quer dizer que só existe indeferimento da petição inicial antes da citação do réu.
Hipóteses de cabimento (art. 330, NCPC)
a) Petição inicial inepta: o § 1º desse artigo traz 04 hipóteses de inépcia:
I) Falta de pedido ou causa de pedir;
II)Pedido genérico, quando a lei exigir pedido determinado (novidade do NCPC);
III) Da narração dos fatos não decorrer logicamente a conclusão (hipótese de peça incompreensível);
IV) Pedidos incompatíveis entre si. Essa será uma causa de inépcia apenas para cumulação própria (lembra-se que na cumulação imprópria, a incompatibilidade não é vício).
b) Manifesta ilegitimidade de parte (condição da ação);
c) Falta de interesse de agir (condição da ação);
d) Não emenda da petição inicial.
Julgamento liminar de improcedência (art. 332, NCPC)
Apontamentos iniciais:
Estar-se-á diante de uma sentença liminar de rejeição do pedido.
Lembra-se que essa sentença se dá antes da citação do réu.
Como se refere à rejeição do pedido, é uma sentença de mérito (art. 487, I, NCPC). Por isso não se confunde com o indeferimento da inicial (que não é de mérito, embora seja liminar).
Possui um requisito fixo (art. 332, caput): causas que dispensem a instrução probatória.
Além do requisito fixo, há requisitos alternativos (art. 332, incisos e §1º):
A) Pedido contrariar súmula do STJ ou do STF (inc. I);
B) Pedido contrariar precedente criado no julgamento de RE e Resp repetitivos (inc. II);
C) Pedidocontrariar precedente criado em IRDR (Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas – TJ/TRF que só chega ao STJ/STF através de Resp/RE) e IAC (Incidente de Assunção de Competências – TJ/TRF que só chega ao STJ/STF através de Resp/RE) (inc. III);
D) Pedido que contrariar súmula de TJ sobre direito local – estadual ou municipal (pois não cabe Resp/RE) (inc. IV).
E) Prescrição e decadência (§ 1º). O juiz declara de ofício.
Decisão Interlocutória – Determinar a Citação
Ato pelo qual o demandado é chamado para integrar a relação processual.
É um ato de integração coercitivo ao processo, porque não há opção do réu – logo, ele não é simplesmente chamado ao processo, ele é integrado ao processo.
Ademais, pode-se ter uma integração espontânea, isto é, o réu, sem ser citado, pode ser integrado ao processo (dispensa da citação).
CITAÇÃO
Art. 240.  A citação válida, ainda quando ordenada por juízo incompetente, induz litispendência, torna litigiosa a coisa e constitui em mora o devedor, ressalvado o disposto nos arts. 397 e 398 do Código Civil.
DA AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO OU DE MEDIAÇÃO
Art. 334. Se a petição inicial preencher os requisitos essenciais e não for o caso de improcedência liminar do pedido, o juiz designará audiência de conciliação ou de mediação com antecedência mínima de 30 (trinta) dias, devendo ser citado o réu com pelo menos 20 (vinte) dias de antecedência.
§ 4o A audiência não será realizada:
I - se ambas as partes manifestarem, expressamente, desinteresse na composição consensual;
II - quando não se admitir a autocomposição.
§ 5o O autor deverá indicar, na petição inicial, seu desinteresse na autocomposição, e o réu deverá fazê-lo, por petição, apresentada com 10 (dez) dias de antecedência, contados da data da audiência.
RESPOSTAS DO RÉU
Contestação
No CPC/73, haviam diferentes respostas do réu (além da contestação) e estas eram, em alguns casos, exigidas em peça autônoma e, em outras hipóteses, eram exigidas em tópico dentro da própria contestação.
Art. 341
“Incumbe também ao réu manifestar-se precisamente sobre as alegações de fato constantes da petição inicial, presumindo-se verdadeiras as não impugnadas(...)”
Com o advento do NCPC, há a manutenção de todas essas diferentes respostas do réu (com exceção da Ação Declaratória Incidental, que foi deixada de fora), todavia, todas elas são agora elaboradas dentro da própria contestação (não há mais peça autônoma), ora como preliminares, tal como ocorre com a impugnação ao valor da causa; impugnação à concessão de gratuidade de justiça e a arguição de incompetência relativa (não existe mais a “exceção de incompetência”), ora como tópicos, como a reconvenção.
Termo inicial da contagem (art. 335):
Inc. I. Audiência do art. 334 frustrada: desta audiência, o réu sai intimado para contestar em 15 dias 
Inc. II. Data do protocolo da petição do réu afirmando seu desinteresse na realização da audiência do art. 334. Nota-se que para que isso ocorra, deve o autor, primeiramente, manifestar o desinteresse pela audiência de mediação/conciliação.
Defesas processuais
	Comumente denominadas de preliminares da contestação, porque antecedem logicamente a defesa de mérito.
Previsão normativa: art. 337.
Defesas processuais dilatórias: o acolhimento desse tipo de defesa aumenta o tempo de duração do processo. Não levam o processo à extinção. 
Podem ser:
Inc. I. Inexistência ou nulidade da citação: se ela for acolhida, a consequência é a devolução do prazo de resposta do réu, sob a alegação de que o réu já se integrou ao processo.
Inc. II. Incompetência absoluta ou relativa: se acolhidas, haverá a remessa do processo ao juízo competente.
Inc. III. Conexão: o réu alega a conexão como preliminar de contestação, havendo a reunião dos processos perante o juízo prevento.
OBS: continência pode ser incluída nessa previsão, porque a continência é uma espécie qualificada de conexão (art. 55, §3º).
Defesas processuais peremptórias: defesas cujo acolhimento gera a extinção terminativa do processo.
Podem ser:
Inc. IV. Inépcia da Petição Inicial;
Inc. V. Perempção;
Inc. VI. Litispendência;
Inc. VII. Coisa julgada material;
Inc. X. Convenção de arbitragem (cláusula compromissória ou compromisso arbitral);
Inc. XI. Carência de ação (falta de interesse; ilegitimidade).
DEFESA DE MÉRITO
Caberá ao réu na contestação também elaborar a defesa de mérito.
	Defesa de mérito funciona como uma impugnação ao conteúdo da pretensão do autor. Logo, ela não se confunde com a defesa processual porque esta só impugnará vícios formais.
Há duas espécies:
Defesa de mérito direta: é uma impugnação da causa de pedir, por isso ela pode ser uma defesa de mérito:
Fática: onde se tenta demonstrar a falsidade dos fatos alegados pelo autor;
Jurídica: onde se alega a inadequação da fundamentação jurídica do autor.
Defesa de mérito indireta: nessa defesa, não há impugnação à causa de pedir (o réu não contraria as alegações do autor), mas sim alegação de um fato novo impeditivo (ex. incapacidade da parte), modificativo (ex. alegação de dívidas mútuas entre réu e autor, que mudará o valor da causa) ou extintivo (ex. prescrição e decadência) do direito do autor.
RECONVENÇÃO
Possui natureza jurídica de ação, por isso não se confunde com a contestação.
É considerada um contra-ataque do réu.
O processo que há reconvenção é considerado um processo objetivamente complexo porque terá duas ações (ação principal do autor e ação reconvencional do réu contra o autor).
Pressupostos processuais
Litispendência: é necessário que haja um processo em trâmite. 
Identidade processual: devem seguir o mesmo procedimento.
Competência: 
Competência funcional (absoluta): quem é competente para julgar o juízo da ação principal é absolutamente competente para julgar a reconvenção.
Procedimento
Pelo Novo Código, o réu deve, por meio de uma só peça (na própria contestação), apresentar a reconvenção.
OBS: art. 343, §6º: reconvenção sem contestação. É a possibilidade do réu elaborar sua reconvenção sem a contestação, em uma petição inicial.
Há a intimação do réu (autor-reconvindo, ou seja, autor da ação principal), na pessoa do advogado (art. 343, §1º).
Abre-se um prazo de 15 dias para a contestação.
OBS: nessa contestação, cabe reconvenção. Logo, é possível haver reconvenção da reconvenção.
REVELIA
É um estado de fato gerado pela ausência jurídica de contestação.
OBS: para evitar a revelia, não basta a contestação. É necessária uma contestação admissível, ou seja, a contestação intempestiva não impede a revelia.
OBS. 2: o réu pode reconvir sem contestar. Como visto, é possível, mas o réu é ainda é revel. Por isso, revelia (estado de fato) não se confunde com os efeitos da revelia. 
EFEITOS DA REVELIA
Presunção de veracidade dos fatos alegados pelo autor: não há presunção de direito. Aplica-se o “iura novit curia”, ou seja, “o juiz conhece o direito”. É por isso que tem réu revel que ganha o processo pela improcedência do pedido do autor.
É uma presunção relativa (STJ, 1ª T, Resp 984.897/PR).

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