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Privatização de Presídios e Terceirização

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Há tempos existem penas para os que cometem crimes, inicialmente esta sanção tinha como principal escopo punir as pessoas que cometessem qualquer delito, a fim de resguardar a paz coletiva. Com o passar do tempo foi possível se observar uma importante mudança nesta objetivação da pena, não tendo essa o objetivo simples e vingativo de punir, porém também ressocializar o detento para que esse possa regressar a sociedade. Porém para que este objetivo de ressocializar seja cumprido se faz necessário o uso de uma boa instituição prisional que vise alcançar este objetivo, e que principalmente respeite os direitos dos detentos, o que atualmente não ocorre em nosso país, tendo assim como medida mesmo que de forma paliativa a implantação de presídios privados ou terceirizados.
A privatização ou parcerias público-privadas (PPP´s) ocorre quando a iniciativa privada utilizando de seus próprios recursos sejam esses financiados ou não, constroem a estrutura do presídio e arrendam para o governo; a função de administrar internamente os presos, fazer a vigilância dos mesmos, alimentá-los, oferecer tratamento médicos e os demais serviços fundamentais para a saúde fica a cargo do governo.
A terceirização por sua vez tem como característica o poder misto, ou seja, tanto o estado quanto à empresa privada tem poderes sobre a administração do presídio, a revista Veja em sua edição de número 2101 traz a seguinte definição de terceirização:
A empresa privada recebe do estado a tarefa de administrar o presídio, o que inclui fazer a segurança interna e prestar serviços básicos aos detentos, como alimentação, vestuário e atendimento médico. Ao estado cabe fiscalizar o trabalho da empresa, fazer o policiamento nas muralhas e decidir sobre como lidar com a indisciplina dos detentos.
Não é novidade que o sistema penitenciário brasileiro faliu e que não recupera ninguém. Faltam ali mais de 130 000 vagas – só para aqueles que já estão presos, sem contar os outros 200 000 que deveriam ser presos em face dos mandados de prisão expedidos. Facilmente compreende-se que o Estado não poderá, sozinho, resolver esse problema, que na verdade é de toda a sociedade. Daí surge a tese da privatização dos presídios, tão-somente para chamar a participação da sociedade, da iniciativa privada, que viria a colaborar com o Estado nessa importante e arriscada função de gerir nossas prisões. A vantagem da privatização, na modalidade da terceirização, é que ela faz cumprir a lei, dando efetivas condições de o preso se recuperar, ao contrário do sistema estatal, que só piora o homem preso.
A idéia é nova não só no Brasil, mas no planeta. O mundo conhece os presídios privados há cerca de dez anos, havendo hoje duas formas de privatização. Com o primeiro modelo, o americano, não se pode concordar, diante das nossas restrições constitucionais. Ali, o preso é entregue pelo Estado à iniciativa privada, que o acompanhará até o final de sua pena, ficando o preso inteiramente nas mãos do administrador. No Brasil, é indelegável o poder jurisdicional do Estado, que contempla o tempo que o homem fica encarcerado e suas infrações disciplinares no cárcere.
Já no modelo francês, que preconizo para o Brasil, o Estado permanece junto à iniciativa privada, numa co-gestão. O administrador vai gerir os serviços daquela unidade prisional – alimentação, vestimenta, higiene, lazer etc. –, enquanto o Estado administra a pena, cuidando do homem sob o aspecto jurídico, punindo-o em caso de faltas ou premiando-o quando merecer. É o Estado que, detendo a função jurisdicional, continua a determinar quando o homem vai preso e quando será libertado. Trata-se de uma terceirização, em que a remuneração do empreendedor privado deve ser suportada pelo Estado, jamais pelo preso, que deve trabalhar e, com os recursos recebidos, ressarcir prejuízos causados pelo seu crime, assistir a sua família e poupar para quando for libertado.
Há um único presídio construído no Brasil em sistema de Parceria Público-Privada (PPP). Em seus três anos de existência, nunca houve motim, rebelião ou mortes violentas — e contam-se duas fugas. O complexo, que está localizado em Ribeirão das Neves, Região Metropolitana de Belo Horizonte, em Minas Gerais, abriga hoje 2.016 detentos, distribuídos em três unidades: duas para regime fechado e uma para regime semiaberto.
O complexo é regido pela Lei das PPPs. O modelo é um tipo de privatização e não uma cogestão, como em Manaus, onde os serviços foram terceirizados para uma empresa, pela Lei das Licitações. Em Minas, os parceiros privados são responsáveis por todas as obras e melhorias no complexo — estão construindo, por exemplo, mais duas unidades, previstas para serem entregues em dezembro de 2018 —, pela prestação de serviços e pelo trato direto com os usuários do sistema.
Desvantagens da privatização/terceirização.
Araújo Junior traz três principais obstáculos para a ótica da privatização: o primeiro seria um obstáculo ético onde por adotar a teoria personalista o estado não se da ao luxo de ceder a outrem o poder de se impor aos detentos de forma que haja coação moral, ou seja, “de um ponto de vista ético é intolerável que um indivíduo, ademais de exercer domínio sobre outro aufira vantagem econômica, do trabalho carcerário.” 
Outro empecilho seria o ponto de vista constitucional que se confunde com o ético, pelo fato da constituição brasileira defender a teoria da personalidade, por fim o doutrinador traz como obstáculo a política. Outro ponto que preocupa os estudiosos é o fato de que possa ocorrer massiva corrupção entre empresas e milícias pelo fato das empresas visaram o lucro e não combater a criminalidade, ponto discutido pelo ministro Evandro Lins e Silva onde o mesmo salienta:
(...) a privatização é temerária pois as empresas que irão administrar as prisões poderão cair em mãos do crime organizado, estabelecendo-se um fenômeno de “confusão” entre administradores e administrados.
Vantagens da privatização/terceirização.
O maior trunfo defensivo na privatização é que o estado não necessitaria fazer um grande investimento inicial na construção dos presídios assim poupando verba, outro ponto vantajoso é a diminuição de burocracia e preços mais razoáveis no que tange a construção da obra, o lucro da empresa privada se da de forma lenta, pois os investimentos na obra serão ressarcidos aos poucos com as mensalidades que o governo pagara ao alugar a estrutura.
D´Urso defende a tese da privatização de presídios como forma redutora dos malefícios causados pelas prisões brasileiras modernas. Para o atual presidente da Ordem dos Advogados do Brasil paulista, o preso custa ao Estado 50 dólares por dia, enquanto que para a administração privada este valor cairia para 25 dólares. Os modelos brasileiros de privatização se baseiam nos americanos visando um menor custo para manter os presos assim diminuindo os gastos públicos e o incentivo as empresas privadas.
Porém não se verifica apenas um lado econômico vantajoso, até hoje nem um país julgou como inconstitucional as prisões privadas, e que há tempos o setor prisional brasileiro vem sendo tratada com desdenho resultando em inoperância e incompetência na maioria em suas administrações.
Destarte é importante ressaltar que a melhoria dos presídios através de privatização ou terceirização dos mesmos não deve buscar de forma exacerbada o lucro ou a economia e sim primeiramente a melhoria para com a dignidade e reabilitação social dos detentos.
BIBLIOGRAFIA
https://gercijr.jusbrasil.com.br/artigos/141496246/privatizacao-e-terceirizacao-do-sistema-penitenciario
https://brasil.elpais.com/brasil/2017/01/05/opinion/1483625278_386473.html
https://super.abril.com.br/ciencia/a-privatizacao-dos- presidios/ 
Revista Veja edição nº 2101, p. 85.
EVANDRO LINS E SILVA,Formado pela Faculdade de Direito do Rio de Janeiro, ocupou importantes cargos como Procurador Geral da Republica de 1961 a 1963, Ministro do STF de 1963 a 1969 e também ministro das Relações Exteriores. 
Luiz Flavio Borges D´Urso atualpresidente da OAB de São Paulo, especialista na área criminal pela Faculdade de Direito Castilla-La Mancha na Espanha e mestrado e doutorado em Direito Penal na Faculdade de Direito da USP.
ARAÚJO JÚNIOR, João Marcelo de. Privatização nas prisões. 1 Ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1995. 
D´URSO, Luiz Flávio Borges. Palestra proferida por ocasião do Seminário TEMAS DE DIREITO E PROCESSO PENAL, coordenado pelo expositor, promovida pela Ordem dos Advogados do Brasil- Secção de São Paulo, em 12 de junho de 1996. Disponível em <http://conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.26556>. Acesso em: 25/10/2011.

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