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INSTITUTO DOCTUM DE EDUCAÇÃO E TECNOLOGIA FACULDADES UNIFICADAS DOCTUM DE TEÓFILO OTONI CURSO: DIREITO PERÍODO: 3º SEM/ANO: 2º/2014 DISCIPLINA: DIREITO CIVIL II PROFESSORA: HELEN KARINA AMADOR CAMPOS ________________________________________________ _______________ 1 DIREITO DAS OBRIGAÇÕES Prof.ª Helen Karina Amador Campos helen.karina@hotmail.com TEÓFILO OTONI 2014 INSTITUTO DOCTUM DE EDUCAÇÃO E TECNOLOGIA FACULDADES UNIFICADAS DOCTUM DE TEÓFILO OTONI CURSO: DIREITO PERÍODO: 3º SEM/ANO: 2º/2014 DISCIPLINA: DIREITO CIVIL II PROFESSORA: HELEN KARINA AMADOR CAMPOS ________________________________________________ _______________ 2 UNIDADE I – TEORIA GERAL DAS OBRIGAÇÕES 1. Introdução ao Direito das Obrigações No Código Civil de 2002, o estudo das Obrigações inaugura a Parte Especial, integrando o seu Livro I. Válido consignar que esta mudança não é apenas topográfica; o legislador, ao trazer as Obrigações para inaugurar a parte especial do novo Código buscou ressaltar a importância deste instituto, elemento comum e fundamental de todas as categorias e estruturas jurídicas, pois se espalha pelas mais diferentes situações patrimoniais, como bem destacam Cristiano Chaves e Nelson Rosenvald1: Desde os deveres assumidos por locador e locatário em um contrato de inquilinato até o poder estatal de cobrança de tributos, passando pelo dever de reparar danos causados por um acidente automobilístico, nas mais diferentes situações jurídicas estão presentes os conceitos elementares obrigacionais. Em razão de tudo isso é que o Direito das Obrigações ganha destaque no cenário jurídico, merecendo aprofundamento e discussão, como se buscará fazer neste semestre. 1.1. Conceito de obrigação É uma relação jurídica transitória, estabelecendo vínculos jurídicos entre duas diferentes partes (denominadas credor e devedor, respectivamente), cujo objeto é uma prestação pessoal, positiva ou negativa, garantindo o cumprimento, sob pena de coerção judicial2. Importante destacar neste conceito o fato que a prestação exigível há de ter cunho pecuniário, isto é, caráter patrimonial. relação jurídica caráter transitório (efêmera) Obrigação pessoalidade vínculo prestação cunho pecuniário 1.2. Características essenciais Destacam-se no estudo das obrigações três aspectos fundamentais: a) Determinabilidade dos sujeitos; b) Caráter patrimonial da prestação (objeto); c) Transitoriedade do vínculo. 1 FARIAS, Cristiano Chaves e ROSENVALD, Nelson. Curso de direito civil – obrigações. 6.ed. Salvador: Juspodivm, 2012, p. 52. 2 Ob. cit., pp. 34-35. INSTITUTO DOCTUM DE EDUCAÇÃO E TECNOLOGIA FACULDADES UNIFICADAS DOCTUM DE TEÓFILO OTONI CURSO: DIREITO PERÍODO: 3º SEM/ANO: 2º/2014 DISCIPLINA: DIREITO CIVIL II PROFESSORA: HELEN KARINA AMADOR CAMPOS ________________________________________________ _______________ 3 1.3. Breve historicidade Há algumas características relevantes a destacar na abordagem à historicidade das obrigações, quais sejam: a) Amplitude conceitual; b) Caráter universal; c) Lenta evolução no tempo. 1.3.1. Evolução do Direito das Obrigações Direito Grego: Não firmou bem a conceituação de obrigação, não vislumbrando nitidamente seus elementos componentes. Relações obrigatórias voluntárias e involuntárias – Aristóteles. Direito Romano: Nexum Vínculo obrigacional pessoal Não admitia a transmissibilidade das obrigações Direito Moderno: Vínculo obrigacional psicológico – conteúdo econômico Valoriza a dignidade humana Admite a transmissibilidade das obrigações 1.3.2. Direito das Obrigações no Código Civil de 1916 e no Código Civil de 2002 Código Civil de 1916 Elaborado no final do século XIX (1899) Refletia uma sociedade estável, agrária e conservadora, recém saída de um regime de escravidão As Obrigações eram tratadas no Livro III da Parte Especial Não contemplava aspectos fundamentais da economia neocapitalista. Código Civil de 2002 Projeto definitivo: Projeto de Lei nº. 634, de 1975 Socialidade do direito A consciência ética da realidade socioeconômica norteia a revisão das regras gerais sobre a formação dos contratos e a garantia de sua execução equitativa As Obrigações estão no Livro I da Parte Especial Conservação da sistemática tradicional das modalidades de obrigações, deixando-se de referir o problema das fontes das obrigações, cuja função atribuiu à doutrina INSTITUTO DOCTUM DE EDUCAÇÃO E TECNOLOGIA FACULDADES UNIFICADAS DOCTUM DE TEÓFILO OTONI CURSO: DIREITO PERÍODO: 3º SEM/ANO: 2º/2014 DISCIPLINA: DIREITO CIVIL II PROFESSORA: HELEN KARINA AMADOR CAMPOS ________________________________________________ _______________ 4 Embora sem mudanças substanciais na teoria geral das obrigações, alguns institutos ganharam assento em título específico, a exemplo da cessão de crédito e assunção de dívida. Aceitação da revalorização da moeda nas dívidas de valor: o CC reconheceu a correção monetária como efeito da desvalorização da moeda. 1.4. Elementos constitutivos das obrigações a) Elemento subjetivo: sujeitos (ativo e passivo) b) Elemento objetivo: objeto (direto ou imediato e indireto ou mediato) c) Elemento imaterial (vínculo jurídico) 1.5. Modalidades das obrigações 1.5.1. Obrigações de dar (arts. 233-246) É a obrigação na qual o devedor se compromete a entregar uma coisa móvel ou imóvel ao credor, quer para constituir novo direito, quer para restituir a mesma coisa a seu titular. Importante: o vínculo obrigacional, por si só, não tem o condão de fazer adquirir a propriedade, isto é, a obrigação de dar gera apenas um direito à coisa, um crédito, e não um direito real. 1.5.1.1. Obrigações de dar coisa certa (arts. 233-237) Certa é a coisa determinada, perfeitamente caracterizada e individualizada, diferente de todas as demais da mesma espécie. Regra: somente o que foi objeto da obrigação, a coisa certa, é que servirá para o adimplemento (cumprimento) da obrigação ► art. 313 ► Princípio da Força Obrigatória dos Contratos (Pacta sunt servanda) – hoje mitigado. Exceção: dação em pagamento (arts. 356-359). Acessórios: é preciso esclarecer, antes, que os acessórios de que trata o art. 233 são aqueles já existentes ao tempo da negociação entre as partes, ou seja, da celebração do negócio. Esta observação é importante, porque a regra do art. 233 não conflitacom a do art. 237, que trata dos melhoramentos e acrescidos; esses últimos, embora também considerados acessórios, surgem em momento superveniente àquele, posto que realizados no interregno entre a contratação e o adimplemento da obrigação. Visto isto, é preciso deixar claro quanto ao art. 233 que a regra geral dispõe que os acessórios seguem a sorte do principal (objeto da obrigação); contudo, em se tratando de relação obrigacional, será necessário observar se existe disposição expressa entre as partes versando sobre os acessórios, pois, se houver, esta regra prevalecerá; na sua falta, porém, será preciso analisar as circunstâncias do caso e, INSTITUTO DOCTUM DE EDUCAÇÃO E TECNOLOGIA FACULDADES UNIFICADAS DOCTUM DE TEÓFILO OTONI CURSO: DIREITO PERÍODO: 3º SEM/ANO: 2º/2014 DISCIPLINA: DIREITO CIVIL II PROFESSORA: HELEN KARINA AMADOR CAMPOS ________________________________________________ _______________ 5 apenas em última análise, inexistindo qualquer dos parâmetros anteriores, poder-se-á aplicar a regra geral mencionada inicialmente. Responsabilidade pela PERDA da coisa certa: Antes da tradição ou pendente condição suspensiva (art. 125/CC) Depois da tradição Aplica-se o Princípio res perit domino (a coisa perece para o dono) – art. 237, 1ª parte c/c art. 492. O risco é suportado pelo credor porque a tradição faz cessar a responsabilidade do devedor – res perit domino. Sem culpa do devedor Com culpa do devedor Exceção: fraude ou negligência do devedor: mesmo após a entrega o devedor será responsabilizado. Observações: Mora do credor: art. 492, §2º. Mora do devedor: art. 399. Vícios redibitórios: art. 441 Evicção: art. 447 Art. 234, parte inicial: resolve-se a obrigação para ambas as partes com a devolução de valores eventualmente antecipados. Não há perdas e danos, salvo se o devedor houver se responsabilizado no contrato - 393/CC. Art. 234, parte final → o devedor responde pelo equivalente (valor da coisa) + perdas e danos (danos emergentes e/ou lucros cessantes). Responsabilidade pela DETERIORAÇÃO da coisa certa: Sem culpa do devedor Com culpa do devedor Deterioração motivada por fortuito ou fato de terceiro – art. 235 (consequência do art. 313). Resolve-se a obrigação e o credor recebe a restituição do preço, se já tiver efetuado o pagamento, OU o credor aceita a coisa no estado em que ficou, abatendo do preço o valor da depreciação. Art. 236: Credor recusa a coisa e exige o equivalente + perdas e danos OU aceita a coisa no estado em que se acha + perdas e danos. Conclusão: a existência ou não de culpa do devedor na perda ou deterioração da coisa será apreciada no exame da sua diligência (cuidado) com relação a ela. Ao mesmo tempo, é preciso frisar que eventual mora do devedor pressupõe culpa, dada à perpetuação da obrigação; neste caso, o devedor somente conseguirá se isentar de responsabilidade demonstrando que mesmo se a entrega fosse tempestiva o evento lesivo ainda assim ocorreria, ou, também, que não teve culpa na mora, como será abordado adiante. MELHORAMENTOS e ACRESCIDOS na obrigação de dar coisa certa: art. 237 (Princípio da Equivalência Material) → pertencem ao devedor, por ser ele o dono da coisa até a tradição, assim, se a coisa vem a apresentar melhoramentos sem qualquer despesa ou dispêndio da sua parte3, ele pode: 3 Este entendimento é CONTROVERSO. Nelson Rosenvald preceitua que a expressão “melhoramentos” tem um significado análogo ao de benfeitorias, e “acrescidos”, por sua INSTITUTO DOCTUM DE EDUCAÇÃO E TECNOLOGIA FACULDADES UNIFICADAS DOCTUM DE TEÓFILO OTONI CURSO: DIREITO PERÍODO: 3º SEM/ANO: 2º/2014 DISCIPLINA: DIREITO CIVIL II PROFESSORA: HELEN KARINA AMADOR CAMPOS ________________________________________________ _______________ 6 a) Exigir aumento no preço; OU b) Resolver da obrigação, se o credor não concordar em pagar o valor apurado em razão da valorização alcançada pelo bem. OBS.: Estas soluções visam evitar o enriquecimento ilícito (sem causa) do credor, uma vez que a coisa passou a apresentar, por causa dos melhoramentos, um valor superior àquele verificado quando firmado o contrato (obrigação). O legislador optou por estabelecer uma regra equânime, uma vez que, por um lado, permite que o devedor exija o aumento do preço, por outro, contudo, não obriga o credor a pagá-lo, exatamente pelo fato de ser superior ao combinado (regra de boa-fé objetiva), assim, se não aceitar o acréscimo, a obrigação ficará extinta. FRUTOS na obrigação de dar coisa certa Regras – art. 237, parágrafo único: a) Devedor: tem direito aos frutos percebidos (colhidos) até a tradição. Justificativa: a condição de proprietário dá ao devedor esse direito de fruição; b) Credor: tem direito aos frutos pendentes (ainda não destacados da coisa principal) ao tempo da tradição. Justificativa: os frutos são acessórios, assim, acompanham o destino da coisa, como regra geral, aplicando-se o princípio da acessoriedade. 1.5.1.2. Obrigações pecuniárias ou de dar dinheiro (arts. 315-318) Objeto = prestação de dinheiro. Importante: na dívida pecuniária, a prestação não é de coisas, diz respeito ao valor nominal da moeda, que é o valor impresso na cédula, consequentemente, o risco de sua perda não se transmite ao credor. Regra: art. 315 → Princípio do nominalismo. Síntese: é obrigatório o pagamento em moeda corrente nacional, que tem curso forçado para as obrigações exequíveis no Brasil. Exceções: relações contratuais de natureza internacional (importação/exportação). 1.5.1.3. Obrigações de restituir (arts. 238-242) Objeto = devolução pelo devedor de coisa certa que, por qualquer título, se encontra em seu poder. Exs.: comodato (empréstimo gratuito de coisas infungíveis – art. 579 e ss), locação, depósito (art. 627 e ss). Importante: o credor dessa obrigação já era proprietário, ou titular de outro direito real (art. 1.225) sobre a coisa em época anterior à criação da obrigação. vez, equivaleria às acessões artificiais. Além disso, citando Caio Mário da Silva Pereira (in Instituições de direito civil, V. II – Teoria geral das obrigações, p. 54), ressalva que a indenização, nestes casos, requer que as benfeitorias sejam necessárias ou úteis e realizadas de boa-fé. Conclui, enfim, que não havendo labor ou despesa do devedor, não fará jus a acréscimo de valor. (ob. cit., p. 198). INSTITUTO DOCTUM DE EDUCAÇÃO E TECNOLOGIA FACULDADES UNIFICADAS DOCTUM DE TEÓFILO OTONI CURSO: DIREITO PERÍODO: 3º SEM/ANO: 2º/2014 DISCIPLINA: DIREITO CIVIL II PROFESSORA: HELEN KARINA AMADOR CAMPOS ________________________________________________ _______________ 7 Responsabilidade pela PERDA da coisa restituível: Antes datradição ou pendente condição suspensiva (art. 125/CC) Depois da tradição Aplica-se o Princípio res perit domino (a coisa perece para o dono), que, no caso da obrigação de restituir, é (e sempre foi) o CREDOR. Também a mesma regra da obrigação de dar → o risco é suportado pelo credor porque a tradição faz cessar a responsabilidade do devedor. Sem culpa Com culpa Exceção: fraude ou negligência do devedor: mesmo após a entrega o devedor será responsabilizado. Observações: Mora do credor: art. 492, §2º. Mora do devedor: art. 399. Art. 238: Resolve-se a obrigação para ambas as partes, com a ressalva de que o credor terá seus direitos, se houver, garantidos até o dia da perda (p.ex. aluguel do período); Não há perdas e danos. Art. 239 → o devedor responde pelo equivalente + perdas e danos. Responsabilidade pela DETERIORAÇÃO4 da coisa restituível: Sem culpa Com culpa Art. 240, 1ª parte. O credor receberá a coisa no estado em que estiver; Não são devidas perdas e danos. Art. 240, 2ª parte. O devedor responderá pelo equivalente + perdas e danos. Obs.: nada impede que o credor aceite a coisa, apesar de deteriorada, e exija perdas e danos do devedor culpado. MELHORAMENTOS e ACRESCIDOS na coisa restituível: Sem concurso de vontade ou despesa para o devedor Art. 241 → lucrará o credor, desobrigado de indenização. Com concurso de vontade ou despesa para o devedor Aplicam-se as regras relativas aos efeitos da posse (art. 1.219 e ss). Para tanto, cumpre averiguar se o devedor procedeu de boa ou má-fé 5 Benfeitorias Devedor de boa-fé Devedor de má-fé Necessárias Direito à indenização + direito de retenção Direito à indenização (ressarcimento) SEM retenção Úteis Direito à indenização + direito de retenção Não será ressarcido Voluptuárias Direito ao valor OU levantamento sem detrimento da coisa Vedado o levantamento 4 Enunciado n.º 15 do CJF – Art. 240: As disposições do art. 236 do novo Código Civil também são aplicáveis à hipótese do art. 240, in fine. 5 O devedor estará de boa-fé enquanto vigente o contrato feito com o credor, portanto, no prazo contratual; se a obrigação não tiver prazo estabelecido para a devolução da coisa, haverá boa-fé do devedor enquanto o credor não exigir a sua restituição. A partir do momento que o prazo para a restituição encerra ou o bem é solicitado pelo credor, caracteriza-se a mora (automática – ex re –, no primeiro caso, e a depender de notificação, citação ou intimação – ex persona –, no segundo) do devedor e, por conseguinte, má-fé. INSTITUTO DOCTUM DE EDUCAÇÃO E TECNOLOGIA FACULDADES UNIFICADAS DOCTUM DE TEÓFILO OTONI CURSO: DIREITO PERÍODO: 3º SEM/ANO: 2º/2014 DISCIPLINA: DIREITO CIVIL II PROFESSORA: HELEN KARINA AMADOR CAMPOS ________________________________________________ _______________ 8 FRUTOS na obrigação de restituir: as regras também são as previstas para os efeitos da posse, arts. 1214 a 1216. Frutos Devedor de boa-fé Devedor de má-fé Percebidos Tem direito Tem que devolver ao credor os frutos ou o equivalente + perdas e danos. Tem direito às despesas de produção e custeio. Pendentes Não tem direito aos frutos, mas pode exigir o ressarcimento das despesas de produção e custeio. Tem que devolver ao credor os frutos ou o equivalente + perdas e danos. Tem direito às despesas de produção e custeio. Colhidos com antecipação Não tem direito aos frutos e pode responder por eventuais prejuízos causados ao credor. Pode, no entanto, exigir o ressarcimento das despesas de produção e custeio. Tem que devolver ao credor os frutos ou o equivalente + perdas e danos. Tem direito às despesas de produção e custeio. Percipiendos Se a boa-fé cessar o devedor deverá ressarcir o credor quanto aos frutos que não foram colhidos a partir da configuração da má-fé. De qualquer forma, neste caso terá direito às despesas de produção e custeio. Responde por eles desde que se constituiu de má-fé. Tem direito às despesas de produção e custeio. 1.5.1.4. Obrigações de dar coisa incerta (arts. 243-246) Objeto = entrega de uma quantidade de certo gênero (espécie). Também chamadas obrigações genéricas → art. 243. Importante: o estado de indeterminação há de ser transitório, sob pena de faltar objeto à prestação → trata-se de prestação determinável – portanto, é uma obrigação válida –, cuja determinação ocorrerá no momento antecedente ao adimplemento, denominado “concretização6” do débito ou da prestação devida. Regra: art. 244, 1ª parte → a concretização do débito (determinação da coisa) efetuar-se-á de acordo com o que dispuser o contrato; somente no caso de omissão contratual a escolha será feita pelo devedor. Regra legal supletiva. Exceção: a escolha só competirá ao credor se o contrato – ou qualquer outro título que represente a obrigação –, assim dispuser. Escolha ou concretização: A liberdade de escolha não é absoluta → art. 244, parte final → critério da qualidade média ou intermediária. Feita a escolha e cientificada a parte contrária → a obrigação de dar coisa incerta se torna obrigação de dar coisa certa art. 245. 6 MIRANDA, Pontes de. Tratado de direito privado, p. 140. Segundo o autor, a expressão “concentração” é mais apropriada para as obrigações alternativas, posto que nas obrigações de dar coisa incerta a escolha é interna, isto é, dentro do gênero, portanto, quem assim o faz não “concentra”, mas, sim, “concretiza”. INSTITUTO DOCTUM DE EDUCAÇÃO E TECNOLOGIA FACULDADES UNIFICADAS DOCTUM DE TEÓFILO OTONI CURSO: DIREITO PERÍODO: 3º SEM/ANO: 2º/2014 DISCIPLINA: DIREITO CIVIL II PROFESSORA: HELEN KARINA AMADOR CAMPOS ________________________________________________ _______________ 9 PERDA ou DETERIORAÇÃO da coisa antes da escolha (concretização): art. 246 → gênero nunca perece (genus nunquam perit). Observações: Gênero ilimitado: não há quaisquer restrições em relação à regra de que o gênero nunca perece. Gênero limitado: a inviabilidade do atendimento da obrigação acarretará a extinção da obrigação; Gênero reduzido a número muito restrito de unidades: obrigação deixará de ser genérica para se tornar alternativa 1.5.2. Obrigações de fazer (arts. 247-249) Prestação = atos ou serviços (fatos), a serem executados pelo devedor, ou seja, qualquer forma de atividade humana, lícita, possível e vantajosa ao credor. São obrigações positivas. Espécies: a) Obrigação de fazer infungível, imaterial ou personalíssima (intuitu personae): art. 247 → natureza da obrigação, contrato ou circunstâncias de cada caso; b) Obrigação de fazer fungível, material ou pessoal: art. 249. OBS.: A REGRA É A FUNGIBILIDADE DA PRESTAÇÃO, somente afastada pelas circunstâncias ou pela convenção (contrato). Descumprimento das obrigações de fazer Quando se trata de descumprimento de obrigações de fazer, é preciso ter em menteque, apesar de a regra contratual impor o pacta sunt servanda, embora hoje de forma mitigada, prevalece o princípio “nemo potest precise cogi ad factum” (“ninguém pode ser diretamente coagido a praticar o ato a que se obrigara”), inclusive, para dar respaldo à proteção constitucional da dignidade da pessoa humana. Desta forma, o legislador optou por distinguir a obrigação de fazer de natureza infungível e a de natureza fungível, impondo ao devedor inadimplente e culpado, no primeiro caso, o pagamento de perdas e danos; e, no segundo, a tutela específica, da forma melhor explicitada adiante: Descumprimento de obrigação de fazer INFUNGÍVEL Sem culpa do devedor Com culpa do devedor Art. 248, 1ª parte RESOLVE-SE A OBRIGAÇÃO Art. 247 e 248, 2ª parte PERDAS E DANOS (inadimplemento absoluto) Obs.: se o credor renunciar à pessoalidade da obrigação pode lançar mão das regras do art. 249. INSTITUTO DOCTUM DE EDUCAÇÃO E TECNOLOGIA FACULDADES UNIFICADAS DOCTUM DE TEÓFILO OTONI CURSO: DIREITO PERÍODO: 3º SEM/ANO: 2º/2014 DISCIPLINA: DIREITO CIVIL II PROFESSORA: HELEN KARINA AMADOR CAMPOS ________________________________________________ _______________ 10 Descumprimento de obrigação de fazer FUNGÍVEL Sem culpa do devedor Com culpa do devedor Art. 248, 1ª parte RESOLVE-SE A OBRIGAÇÃO Art. 248, 2ª parte e art. 249 PERDAS E DANOS (inadimplemento absoluto) ou PERDAS E DANOS + TUTELA ESPECÍFICA (inadimplemento relativo) RECUSA OU MORA DO DEVEDOR Com URGÊNCIA Sem URGÊNCIA AUTOTUTELA Prévia autorização judicial 1.5.3. Obrigações de não fazer (arts. 250 e 251) Prestação = abstenção, permissão ou tolerância quanto a uma atividade determinada. É sempre INFUNGÍVEL, PERSONALÍSSIMA e INSUBSTITUÍVEL. São obrigações negativas. Descumprimento das obrigações de não fazer Sem culpa do devedor Com culpa do devedor Hipóteses: Obrigações instantâneas Obrigações contínuas Vencimento do prazo Perda do objeto Morte ou desaparecimento de uma das INADIMPLEMENTO INADIMPLEMENTO Partes ABSOLUTO SEMPRE RELATIVO Perecimento ou alienação do bem sobre (art. 390/CC) o qual incidia a obrigação Consequência: Perdas e danos Admite purgação da mora se a abstenção ainda for útil para o credor após o descumprimento; sem prejuízo da responsabilidade por eventuais perdas e danos. EXTINGUE-SE A OBRIGAÇÃO Possível execução específica (251/CC) Com URGÊNCIA Sem URGÊNCIA AUTOTUTELA Prévia autorização judicial INSTITUTO DOCTUM DE EDUCAÇÃO E TECNOLOGIA FACULDADES UNIFICADAS DOCTUM DE TEÓFILO OTONI CURSO: DIREITO PERÍODO: 3º SEM/ANO: 2º/2014 DISCIPLINA: DIREITO CIVIL II PROFESSORA: HELEN KARINA AMADOR CAMPOS ________________________________________________ _______________ 11 1.5.4. Obrigações cumulativas Há multiplicidade de prestações e o devedor está obrigado a solver todas, simultânea ou sucessivamente, posto que decorrentes de um único título e fato jurídico. O devedor só se libera se cumprir todas as prestações. É caracterizada pelo uso da conjunção e. 1.5.5. Obrigações alternativas (arts. 252 a 256) Estas obrigações possuem pluralidade (duas ou mais) de prestações possíveis, independentes, distintas (podem, inclusive, ter naturezas diversas) e excludentes, já que uma vez realizada a escolha (concentração) de uma delas pela parte indicada no contrato ou, na sua falta, pelo devedor, e realizada a respectiva entrega ao credor, a obrigação se extingue. É caracterizada pelo uso da conjunção disjuntiva ou. Concentração do débito: art. 252 Impossibilidade das prestações na obrigação alternativa (arts. 253/256) 1) Impossibilidade originária ou ilicitude do objeto = nulidade parcial do negócio (art. 166, II, CC) 2) Impossibilidade superveniente + antes concentração = inadimplemento. Hipóteses7: Ambas as prestações + sem culpa das partes = extingue-se a obrigação (256/CC), salvo se comprovada a mora do devedor; Uma das prestações + sem culpa do devedor = o débito se concentrará automaticamente na prestação remanescente. Obs.: sendo a alternatividade da essência da obrigação, o desaparecimento de uma das alternativas poderá conduzir à resolução do negócio jurídico. Uma das prestações + culpa do devedor + concentração pelo credor = o credor terá o direito potestativo de optar entre a prestação subsistente ou o valor correspondente àquela que pereceu + perdas e danos (255, 1ª parte, CC); Uma das prestações + culpa do devedor + concentração pelo devedor = remanesce o débito sobre a prestação subsistente, sem qualquer acréscimo pecuniário (253/CC); Ambas as prestações sucessivamente + culpa do devedor + concentração pelo devedor = devedor pagará ao credor o valor da que por último se impossibilitou + perdas e danos; 7 FARIAS, Cristiano Chaves e outro. Ob. cit. pp. 274-278. INSTITUTO DOCTUM DE EDUCAÇÃO E TECNOLOGIA FACULDADES UNIFICADAS DOCTUM DE TEÓFILO OTONI CURSO: DIREITO PERÍODO: 3º SEM/ANO: 2º/2014 DISCIPLINA: DIREITO CIVIL II PROFESSORA: HELEN KARINA AMADOR CAMPOS _______________________________________________________________ 12 Ambas as prestações simultaneamente + culpa do devedor + concentração pelo devedor = devedor pagará ao credor o valor de qualquer uma das prestações + perdas e danos; Uma das prestações + culpa do credor + concentração pelo credor = será ele responsabilizado por perdas e danos, exceto se escolher a prestação que não se impossibilitou; Uma das prestações + culpa do credor + concentração pelo devedor = o devedor pagará a obrigação com a prestação subsistente e exigirá perdas e danos (no caso de a prestação subsistente ser mais onerosa do que aquela que se impossibilitou); Ambas as prestações + culpa do devedor + culpa do credor = averiguar a precedência de culpas: se do devedor, estará liberado do vínculo, pois o credor fez perecer a prestação na qual ocorreu a concentração na segunda prestação; se do credor, o devedor responderá pelo valor da coisa que fez perecer, mas conservará o direito de exigir do credor o valor da primeira; Ambas as prestações + culpa do devedor + caso fortuito + escolha do credor = o credor poderá reclamar o valor de qualquer das duas, tenha sido o perecimento simultâneo ou sucessivo + perdas e danos; Ambas as prestações + caso fortuito + culpa do devedor + escolha do credor = o fortuito tornou a obrigação simples e o inadimplemento corresponderá à efetiva extensão do dano; Uma ou ambas as prestações + culpa do credor, do devedor ou do terceiro + concentração pelo terceiro: se a impossibilidade for imputável ao devedor, o terceiro pode optar por uma das prestações possíveis ou por uma indenização dos danos resultantes do não cumprimento da prestação que se tornou impossível. Se a impossibilidade da prestação foi determinada pelo credor, considera-se cumprida a obrigação, ressalvada a faculdade de o terceiro optar pela prestação possível, também com indenização dos danos que o devedor tenha sofrido. Sendo a culpa do terceiro arcará ele com todos os prejuízos. Impossibilidade superveniente + depois concentração = regras das obrigações de dar coisa certa. 1.5.6. Obrigações divisíveis e indivisíveis A classificação das obrigações que considera divisibilidade ou indivisibilidade do objeto ganha verdadeiramente relevo quando considerada sob o prisma da pluralidade de sujeitos. INSTITUTO DOCTUM DE EDUCAÇÃO E TECNOLOGIA FACULDADES UNIFICADAS DOCTUM DE TEÓFILO OTONI CURSO: DIREITO PERÍODO: 3º SEM/ANO: 2º/2014 DISCIPLINA: DIREITO CIVIL II PROFESSORA: HELEN KARINA AMADOR CAMPOS ________________________________________________ _______________ 13 Tal se justifica porque existindo na obrigação um só credor e apenas um devedor é irrelevante a natureza divisível ou indivisível do seu objeto, posto que, salvo disposição contratual em contrário, a o cumprimento só se efetiva se for integral, ainda que este objeto admita divisão. Na pluralidade de sujeitos, por outro lado, sobretudo nas obrigações indivisíveis, há algumas peculiaridades interessantes, tanto mais quando comparadas às obrigações solidárias, como se verá oportunamente. 1.5.6.1. Obrigações divisíveis Obrigações divisíveis são aquelas que se fracionam em tantas partes quantos sejam os credores e devedores, sem alteração das qualidades essenciais do todo e sem desvalorização, formando um todo perfeito8. Dada a sua natureza, este tipo de obrigação admite pagamento parcial, sem prejuízo da sua substância e do seu valor. 1.5.6.2. Obrigações indivisíveis As obrigações indivisíveis, por sua vez, só podem ser cumpridas por inteiro, não comportando cisão, seja por sua natureza (indivisibilidade física ou material), por motivo de ordem econômica (indivisibilidade legal ou jurídica), dada a razão determinante do negócio (indivisibilidade convencional ou contratual) ou, ainda, por determinação judicial (indivisibilidade judicial). Se houver pluralidade de devedores na obrigação indivisível, cada um deles será obrigado pela dívida toda, assim como o credor poderá exigir o pagamento por inteiro de qualquer um. Essa situação, contudo, cessa se a coisa se perder, posto que há uma conversão automática da obrigação antes indivisível em obrigação pecuniária, e dinheiro é divisível por natureza. Sendo a pluralidade de credores, por sua vez, qualquer um deles está habilitado a proceder a cobrança da dívida por inteiro do devedor, este, contudo, somente se desobrigará pagando a todos conjuntamente ou àquele que apresente caução de ratificação dos demais habilitando-o ao recebimento. O credor que receber sozinho o objeto indivisível compromete-se a repassar aos outros, em dinheiro, a parte que lhes caiba. A obrigação indivisível com pluralidade de sujeitos, aparentemente, guarda similitude com a obrigação solidária, todavia, são obrigações bem distintas. Na primeira a possibilidade de exigir e pagar a dívida por inteiro de qualquer um dos coobrigados existe porque estes estão presos à indivisibilidade do bem; na segunda, lado outro, o que prende as partes é o vínculo de solidariedade, ou seja, a responsabilidade que 8 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro – teoria geral das obrigações. 26.ed. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 170. INSTITUTO DOCTUM DE EDUCAÇÃO E TECNOLOGIA FACULDADES UNIFICADAS DOCTUM DE TEÓFILO OTONI CURSO: DIREITO PERÍODO: 3º SEM/ANO: 2º/2014 DISCIPLINA: DIREITO CIVIL II PROFESSORA: HELEN KARINA AMADOR CAMPOS ________________________________________________ _______________ 14 cada um assume de pagar (devedores) ou receber (credores) a dívida por inteiro, pouco importando a natureza do objeto, se divisível ou não. 1.5.7. Obrigações solidárias (arts. 264-285) Características: Pluralidade de sujeitos ativos e/ou passivos Corresponsabilidade dos interessados Unidade da prestação Multiplicidade de vínculos – art. 266 Origem: lei ou vontade das partes – art. 265 Espécies: (a) ativa (b) passiva (c) mista ou recíproca 1.5.7.1. Solidariedade ativa (arts. 267-274) Origem: vontade das partes e a lei, como a previsão constante da Lei 209/48, que trata do pagamento relativo a débitos civis e comerciais de pecuaristas; e o art. 2º da L. 8245/91: “havendo mais de um locador ou mais de um locatário, entende-se que são solidários, se o contrário não se estipulou”. Obs.: solidariedade em contratos bancários – cada um dos correntistas, isoladamente, pode sacar todo o numerário depositado, efetuar movimentos livremente e exigir do estabelecimento bancário o cumprimento de todas as obrigações, sem que o depositário possa se opor. Contudo, conforme o entendimento do STJ, o cheque subscrito por um dos correntistas não obriga o outro perante terceiros, pois “a responsabilidade pela emissão de cheque sem provisão de fundos é exclusiva daquele que opôs sua assinatura na cártula; dessa forma, o cotitular de conta-corrente que não emitiu o cheque sem provisão de fundos é estranho ao título, por isso não pode ser penalizado com a negativação, como inadimplente, de seu nome no cadastro de proteção ao crédito”. (Informativo 428, STJ – 02/04/2010, 4ª Turma, REsp nº. 981.081/RS, Rel. Min. NancyAndrighi). Requisitos: pluralidade de credores + único devedor. Falecimento de um dos credores = permanência da solidariedade entre os sobrevivos; não há solidariedade entre os herdeiros → nasce direito à obrigação proporcional às quotas; ressalva quanto à indivisibilidade da prestação → art. 270. Conversão da prestação em perdas e danos = subsistência da solidariedade → art. 271. INSTITUTO DOCTUM DE EDUCAÇÃO E TECNOLOGIA FACULDADES UNIFICADAS DOCTUM DE TEÓFILO OTONI CURSO: DIREITO PERÍODO: 3º SEM/ANO: 2º/2014 DISCIPLINA: DIREITO CIVIL II PROFESSORA: HELEN KARINA AMADOR CAMPOS ________________________________________________ _______________ 15 Direito de regresso: art. 272. Exceções (defesas) pessoais: art. 273. Art. 274: Regras: 1) O JULGAMENTO CONTRÁRIO A UM DOS CREDORES SOLIDÁRIOS – isto é, o julgamento improcedente do pedido feito pelo credor de condenação do devedor comum ao pagamento da dívida –, não atinge os demais, assim: Defesa do devedor de natureza PESSOAL acolhida pelo juiz determina a prolação de uma sentença que só repercutirá para o credor demandante, não prejudicando os demais e, consequentemente, não alterando o vínculo do devedor para com eles. Defesa do devedor de natureza COMUM acolhida pelo juiz: também não atinge os demais credores que não integraram o processo; tal só ocorreria se fosse para lhes conceder benefícios (art. 472, CPC). 2) JULGAMENTO FAVORÁVEL AO CREDOR – ou seja, hipótese em que o julgamento do pedido feito pelo credor de condenação do devedor comum ao pagamento da dívida foi procedente: Defesa do devedor de natureza COMUM desacolhida pelo juiz beneficiará a todos os demais credores solidários, ainda que não integrantes do pólo ativo da ação. Defesa do devedor de natureza PESSOAL desacolhida pelo juiz não atingirá os demais credores solidários que não participaram do processo. 1.5.7.2. Solidariedade passiva: arts. 275-285 Origem: lei (exs.: arts. 932/942) ou vontade das partes. Requisitos: pluralidade de devedores + único credor. Importante: externamente o conjunto de devedores se apresenta como se fosse um devedor único porque o credor pode escolher qualquer um para exigir a totalidade do débito. Internamente, porém, cada devedor tem a sua parte definida na dívida, inclusive, nada impede que a divisão de valores entre os devedores seja desigual. Pagamento parcial: embora soe estranho em uma obrigação de natureza solidária, pois ela traz no seu conceito a ideia de pagamento integral, a lei autoriza o pagamento parcial e, ainda, preleciona que INSTITUTO DOCTUM DE EDUCAÇÃO E TECNOLOGIA FACULDADES UNIFICADAS DOCTUM DE TEÓFILO OTONI CURSO: DIREITO PERÍODO: 3º SEM/ANO: 2º/2014 DISCIPLINA: DIREITO CIVIL II PROFESSORA: HELEN KARINA AMADOR CAMPOS ________________________________________________ _______________ 16 neste caso haveria a subsistência da solidariedade para os “demais” devedores. O assunto é POLÊMICO → art. 275, 2ª parte. Renúncia da solidariedade (art. 275, parágrafo único, e art. 282): um aspecto muito importante merece ser destacado sobre a renúncia: a iniciativa SÓ pode ser do credor, o que significa que é liberalidade do credor querer manter um, alguns ou todos os devedores ligados solidariamente ao pagamento da dívida. Assim, se ele pode optar por renunciar à solidariedade, o(s) devedor(es) beneficiado(s) estará liberado do pagamento integral da dívida, contudo, continuará obrigado ao pagamento da parcela da obrigação que já lhe incumbia, isto é, a sua parte. Remissão da dívida: a remissão é o perdão. Diferentemente do que ocorre na renúncia, o devedor remitido estará não apenas completamente desvencilhado da solidariedade, mas, também, isento do pagamento da dívida. A remissão pode ser total ou parcial, o que quer dizer que pode se referir a toda a dívida ou apenas a uma parte dela, assim como pode beneficiar apenas um dos devedores, alguns ou todos. Art. 276: a morte de um dos devedores solidários não extingue a solidariedade. Sistematização do art. 276: (a) Dívida indivisível: qualquer herdeiro, individualmente, ou qualquer codevedor solidário, pode ser compelido a pagar tudo. Ex.: touro reprodutor; (b) Dívida divisível: varia se o herdeiro for acionado individualmente ou com os demais: Acionamento individual: qualquer herdeiro pagará só a sua quota-parte na herança, não pode ser compelido a pagamento que supere sua parte na herança, mesmo que tenha patrimônio pessoal superior. Acionamento coletivo: podem ser compelidos a pagar toda a dívida porque ocupam a posição do devedor falecido, mas, de qualquer forma, não poderá ultrapassar as forças da herança. Os herdeiros do devedor falecido, se reunidos, ocupam exatamente a sua posição na obrigação, razão pela qual este conjunto de herdeiros pode ser tido como solidário. Obs.: 1ª) Enquanto não houver partilha → o crédito pode ser exigido do monte-mor. 2ª) Após a partilha → o credor só poderá pedir a quota de cada herdeiro na dívida, não podendo os coerdeiros serem compelidos a saldar a dívida toda. INSTITUTO DOCTUM DE EDUCAÇÃO E TECNOLOGIA FACULDADES UNIFICADAS DOCTUM DE TEÓFILO OTONI CURSO: DIREITO PERÍODO: 3º SEM/ANO: 2º/2014 DISCIPLINA: DIREITO CIVIL II PROFESSORA: HELEN KARINA AMADOR CAMPOS ________________________________________________ _______________ 17 Síntese: o falecimento de um dos devedores determina a permanência da solidariedade entre os sobrevivos, nesta hipótese não há solidariedade entre os herdeiros, o que nasce é a responsabilidade deles pelo pagamento da obrigação, e sempre proporcional às suas quotas; ressalvas quanto à indivisibilidade da prestação e reunião dos herdeiros para pagamento. Adendo contratual: art. 278 Perda da prestação com culpa de um dos devedores: art. 279 Juros da mora: art. 280 Exceções pessoais e comuns: art. 281 Direito de regresso: art. 283. Atenção para a contribuição dos exonerados da solidariedade no caso de insolvência9 (art. 283, 2ª parte, e art. 284) e a previsão do regresso restrito (art. 285). OBS.: solidariedade passiva e o chamamento ao processo – a repercussão mais importante da solidariedade se dá no chamamento ao processo (art. 77/CPC). O chamamento ao processo é uma das formas de ingresso de terceiro em processo de conhecimento alheio com a finalidade de que o chamado, por meio de manifestação de vontade do réu, originariamente demandado, se coloque ao seu lado como litisconsorte, ficando, assim, no processo, também na condição jurídica de réu do mesmo autor comum. Trata-se de poder outorgado ao réu. Nada obsta que o codevedor não demandado possa intervir no processo como assistente litisconsorcial, mas não poderá invocar o benefício da divisão, visto que cada um deles é devedor da dívida toda. É reservado ao processo de conhecimento, sendo vedado na execução, pois pressupõe a existência de ação condenatória em andamento. No caso da solidariedade passiva, o chamamentoocorre quando o devedor solidário for acionado sozinho para responder pela totalidade do débito, pois, nesse momento, terá a faculdade de eleger qualquer um dos demais devedores solidários para o pagamento mediante ação condenatória secundária. Assim, a sentença será formalmente una e materialmente dúplice, gerando título executivo judicial em prol do réu – nos mesmos autos –, possibilitando o regresso, em face dos demais devedores solidários que ingressaram na lide secundária (80/CPC), pela cota-parte de cada um. Nelson Nery CRITICA o chamamento ao processo na solidariedade. Ele sustenta que não se pode, por intermédio do processo, aniquilar o instituto da solidariedade, criado não em benefício do devedor solidário para resolver as suas pretensões com os demais codevedores solidários, mas em benefício exclusivamente do credor. 9 Enunciado 350 do CJF: “A renúncia à solidariedade diferencia-se da remissão, em que o devedor fica inteiramente liberado do vínculo obrigacional, inclusive no que tange ao rateio da quota do eventual codevedor insolvente, nos termos do art. 284”. INSTITUTO DOCTUM DE EDUCAÇÃO E TECNOLOGIA FACULDADES UNIFICADAS DOCTUM DE TEÓFILO OTONI CURSO: DIREITO PERÍODO: 3º SEM/ANO: 2º/2014 DISCIPLINA: DIREITO CIVIL II PROFESSORA: HELEN KARINA AMADOR CAMPOS ________________________________________________ _______________ 18 Questões: 1) Caso o credor tenha renunciado à solidariedade em prol de um dos devedores, caberá o chamamento ao processo? Resposta: Não. Se o devedor beneficiado pela renúncia já não mais se qualifica como solidário, e sim como devedor fracionário, é lógico que não mais seja legitimado passivo ao ingresso no processo de conhecimento alheio. Enunciado 351, CJF: “a renúncia à solidariedade em favor de determinado devedor afasta a hipótese de seu chamamento ao processo”. 2) Será possível ao devedor-réu chamar ao processo apenas alguns dos codevedores solidários ou esta modalidade de intervenção de terceiros só se viabiliza se todos os coobrigados ingressarem na lide? Resposta: Alexandre Freitas Câmara aduz que o chamamento de apenas um ou alguns dos codevedores reduziria sensivelmente o pesado ônus que o chamamento impõe ao credor. Por outro lado, o chamamento é faculdade do devedor-réu, não sendo obrigado a ter como litisconsorte alguém que, além de não ter sido originariamente demandado, não quer ao seu lado na relação processual. Enfim, chamar um, alguns ou todos é opção do réu. INSTITUTO DOCTUM DE EDUCAÇÃO E TECNOLOGIA FACULDADES UNIFICADAS DOCTUM DE TEÓFILO OTONI CURSO: DIREITO PERÍODO: 3º SEM/ANO: 2º/2014 DISCIPLINA: DIREITO CIVIL II PROFESSORA: HELEN KARINA AMADOR CAMPOS ________________________________________________ _______________ 19 UNIDADE II – TRANSMISSÃO DAS OBRIGAÇÕES Na transmissão da obrigação o negócio jurídico originário é conservado, ocorrendo apenas a alteração em seus sujeitos. A transmissão possibilita a circulação econômica do crédito. O interregno em que se observa este fenômeno é entre o nascimento da obrigação e antes do momento da sua exigibilidade. O que se transmite são os créditos, as dívidas ou a posição jurídica de qualquer um dos contratantes, determinando o surgimento dos institutos da cessão de crédito, assunção de dívida e cessão de contrato, respectivamente, que serão abordados adiante. 2.1. Cessão de crédito (arts. 286 – 298) Definição: negócio jurídico bilateral pelo qual o credor transfere a terceiro a sua posição patrimonial na relação obrigacional, sem que com isso se crie uma nova relação jurídica10. Figuras jurídicas: a cessão de crédito envolve três personagens e dois consentimentos. Cedente: é o credor originário ou primitivo; aquele que transmite, onerosa ou gratuitamente, o direito ao crédito. Cessionário: é o terceiro, novo credor; o que adquire o direito ao crédito. Cedido: devedor (originário) – parte imutável da relação obrigacional. Particularidade: o consentimento do devedor é prescindível (dispensável). Justificativa: representa promessa de pagamento futuro, embora possa se referir a dívida já vencida ou vincenda. Natureza jurídica: CONTRATUAL → NEGÓCIO JURÍDICO BILATERAL (credor + terceiro ou devedor + terceiro). Requisitos: art. 104 do CC (incs. I – III) + possibilidade jurídica para transmissão do crédito (não contraria a natureza da obrigação, a lei ou a vontade das partes). Objeto Regra: livre transferência dos créditos. Exceções: art. 286, 1ª parte. Fundamentação legal: arts. 286-298 Art. 286 Objeto da cessão: regra/exceções → 1ª parte Cláusula proibitiva da cessão → 2ª parte: 10 Chaves, Cristiano e outro. Ob. cit. p. 378. INSTITUTO DOCTUM DE EDUCAÇÃO E TECNOLOGIA FACULDADES UNIFICADAS DOCTUM DE TEÓFILO OTONI CURSO: DIREITO PERÍODO: 3º SEM/ANO: 2º/2014 DISCIPLINA: DIREITO CIVIL II PROFESSORA: HELEN KARINA AMADOR CAMPOS ________________________________________________ _______________ 20 a) Segundo a lei: deve constar do instrumento da cessão para que possa ser oposta ao cessionário de boa-fé; b) Segundo a doutrina → situações especiais: 1) Cláusula proibitiva expressa + não ciência do cessionário = cessão válida e ineficaz a cláusula proibitiva; 2) Cláusula proibitiva expressa + ciência do cessionário = cessão inválida e eficaz a cláusula proibitiva. Posição do devedor: Desnecessário o consentimento prévio. Não é parte no negócio da cessão. Cessão opera efeitos desde logo entre o cedente e o cessionário, independente da sua anuência. Eficácia da cessão para o devedor (cedido) só ocorre após a notificação ou após a sua eventual declaração de ciência, como faculta o art. 290, 2ª parte. Validade do pagamento ao cedente: a) Antes da notificação da cessão ou comprovada ciência ao devedor: pagamento válido – princípio da boa-fé do devedor (cedido); b) Depois da notificação ou ciência declarada do devedor: pagamento inválido (indevido) – devedor (cedido) pagará duas vezes; caracteriza-se também má-fé do cedente. Notificação → características: a) Idoneidade; b) Pode ser promovida tanto pelo cedente quanto pelo cessionário, ressaltando-se que este último é o maior interessado em cientificar o devedor; c) É conveniente que seja por escrito, caso contrário não valerá com relação a terceiros (arts. 288 e 290). Art. 287 – alcance da cessão: REGRA: verificar a disposição constante do contrato, uma vez que a convenção das partes pode afastar os acessórios do negócio. Ex.: garantias, juros etc. EXCEÇÃO: aplica-se o princípio da acessoriedade. Considerações finais: Arts. 291 e 292: pluralidade de cessões: a quem pagar? a) Primeiro critério: o devedor pagará àquele que detiver o título (documentooriginal que representa o débito, independentemente de averiguação sobre a cronologia das cessões). b) Inexistindo título: devedor pagará a quem primeiro efetivar a notificação. INSTITUTO DOCTUM DE EDUCAÇÃO E TECNOLOGIA FACULDADES UNIFICADAS DOCTUM DE TEÓFILO OTONI CURSO: DIREITO PERÍODO: 3º SEM/ANO: 2º/2014 DISCIPLINA: DIREITO CIVIL II PROFESSORA: HELEN KARINA AMADOR CAMPOS ________________________________________________ _______________ 21 c) Notificações simultâneas: segundo parte da doutrina, rateia-se o valor entre os cessionários. d) Dúvida sobre qual cessão deve prevalecer: consignação em pagamento. e) Crédito constante de escritura pública: prevalecerá a prioridade da notificação. Quando a cessão envolve crédito hipotecário do cedente em face do devedor deverá o cessionário averbar a cessão da escritura pública no registro imobiliário (art. 108/CC), somente assim se sub-roga nos efeitos da hipoteca em face de terceiro, protegido pela necessária publicidade do registro de imóveis. Art. 294: “exceções” (defesas) pelo devedor. a) Pessoais: a.1) Devedor notificado da cessão: deve opor nesse momento todas as exceções pessoais que tiver contra o cedente, sob pena de perder o direito de argui-las. a.2) Devedor não notificado da cessão: poderá opor ao cessionário todas as exceções que tiver contra o cedente antes da transferência do crédito. b) Referentes ao crédito: as defesas relativas ao crédito podem ser invocadas a qualquer tempo, tanto contra o cedente como contra o cessionário. Art. 295: responsabilidade do cedente quanto à existência do crédito. a) Cessão onerosa: cedente sempre será responsável pela existência do crédito ao tempo da cessão. b) Cessão gratuita: cedente só responderá pela existência do crédito se proceder de má-fé. Art. 296 e 297: responsabilidade do cedente quanto à solvência (= possibilidade de pagar) do devedor – só existirá se houver disposição no contrato, caso contrário, não há que se falar nessa espécie de responsabilidade. Síntese: na cessão a título oneroso o cedente sempre será responsável pela existência do crédito; pela solvência do devedor, só o será, se assim se obrigar contratualmente. Na cessão a título gratuito, por sua vez, o cedente só responderá pela existência do crédito, mas, frise-se, apenas se proceder de má-fé. Cessão onerosa Responsabilidade do cedente: Pela existência do crédito: SEMPRE Pela solvência do devedor: só se houver disposição no contrato Cessão gratuita Responsabilidade do cedente: Pela existência do crédito: só se houver má-fé Pela solvência do devedor: NUNCA INSTITUTO DOCTUM DE EDUCAÇÃO E TECNOLOGIA FACULDADES UNIFICADAS DOCTUM DE TEÓFILO OTONI CURSO: DIREITO PERÍODO: 3º SEM/ANO: 2º/2014 DISCIPLINA: DIREITO CIVIL II PROFESSORA: HELEN KARINA AMADOR CAMPOS ________________________________________________ _______________ 22 Art. 298: crédito penhorado – O CC prevê a hipótese de credor originário de determinada obrigação – por assim dizer, um “cedente em potencial” – ser devedor em outra obrigação e, por isso, não realizando o pagamento na forma combinada ao seu “credor”, fica proibido de transmitir o seu direito ao crédito, posto que este passa a ser garantia de pagamento da sua dívida. Assim, se este credor (cedente em potencial): a) For intimado da penhora do crédito: fica impossibilitado de transferi-lo porque, devido à penhora, torna-se inalienável e intransmissível. b) Não estiver ciente da penhora: poderá receber o crédito do seu devedor, vez que a falta de conhecimento sobre a penhora presume a sua boa-fé; ressaltando que para que se caracterize essa boa-fé é preciso que o credor não conheça da penhora e seja solvente para o pagamento da sua dívida. Também importa analisar a posição do devedor nesta situação, desta forma: a) Se a penhora não for notificada ao devedor: caracteriza-se a sua boa-fé e o pagamento realizado ao seu credor (potencial cedente) terá efeito liberatório. Este credor que recebeu responderá perante o terceiro. d) Se a penhora for notificada ao devedor: se pagar ao seu credor ou, até, eventualmente a um cessionário (se o crédito tiver sido cedido) poderá ser constrangido a pagar de novo. 2.2. Cessão de débito (Assunção de dívida) – arts. 299 – 303 Definição: trata-se de um negócio jurídico convencional pelo qual o devedor, com a aceitação do credor, transfere a um terceiro os encargos obrigacionais. Natureza jurídica: é negócio jurídico bilateral. Características: a) Negócio bilateral; b) O terceiro que se obriga perante o credor a efetuar a prestação devida por outro pode ser pessoa física ou jurídica; c) É necessário o consentimento expresso do credor – exceção art. 303; d) Forma: se o negócio exigir forma especial, assim deverá ser feito, caso contrário, a forma é livre; e) O montante da dívida continua inalterado. f) Pode ter por objeto dívidas presentes e futuras, salvo as que devem ser pessoalmente cumpridas pelo devedor; g) Admite condição; h) Os vícios possíveis são os dos negócios jurídicos em geral; i) As partes devem ter capacidade e legitimação; j) É ato de aquisição e disposição concomitantemente. INSTITUTO DOCTUM DE EDUCAÇÃO E TECNOLOGIA FACULDADES UNIFICADAS DOCTUM DE TEÓFILO OTONI CURSO: DIREITO PERÍODO: 3º SEM/ANO: 2º/2014 DISCIPLINA: DIREITO CIVIL II PROFESSORA: HELEN KARINA AMADOR CAMPOS ________________________________________________ _______________ 23 Espécies: a) Quanto ao pólo passivo ou a responsabilidade do devedor: Privativa ou liberatória: terceiro substitui o devedor primitivo liberando-o da dívida. Este sistema foi adotado pelo novo CC, no art. 299; Cumulativa ou de reforço: terceiro assume a dívida sem excluir o devedor, ocupando posição ao lado deste. Este sistema pode ser adotado pelos interessados através do contrato. Neste caso, só haverá solidariedade entre o devedor e o terceiro se assim dispuser o contrato. Lembrar: a solidariedade não se presume, resulta da lei (que, neste caso, não diz nada) ou do contrato. b) Quanto à participação do credor ou à iniciativa: Expromissão: contrato entre o credor e o terceiro (novo devedor), com ou sem a participação ou anuência do devedor. A iniciativa pode ser do credor ou do terceiro. Pode ser liberatória ou cumulativa. Esta modalidade, embora admitida, é incompatível com a regra do art. 299, que exige o “consentimento do credor” para o aperfeiçoamento da assunção. Delegação: contrato entre o devedor e o terceiro, com a concordância do credor. A doutrina ressalta que esta modalidade de assunção implica negócio jurídico trilateral, eis que inicialmente há um acordo transmissivo entre o antigo e o novo devedor, onde aquele delega a este o débito, e ainda é necessário o expresso consentimento do credor a este acordo, sem o que não se aperfeiçoa a assunção11. Também podeser liberatória (art. 299) ou cumulativa. Efeitos Principal: substituição do devedor na mesma relação obrigacional. A liberação do devedor originário, como dito, pode ou não ocorrer. Arts. 300 e 301: a previsão do art. 300 versa sobre as garantias especiais, estas podem ser entendidas como as reais (hipoteca, penhor) ou pessoais (fiador, avalista) dadas pelo devedor ou por terceiros em prol do credor. Importa frisar que as garantias porventura prestadas por terceiros apenas prosseguirão com a assunção da dívida, se eles com isso concordarem12. Na hipótese do artigo 301, portanto, caso a assunção seja invalidada, o débito retorna à situação primitiva, assumindo o antigo devedor a 11 FARIAS, Cristiano Chaves e outro. Ob. cit. p. 401. 12 Enunciado 352 do Conselho de Justiça Federal (CJF): “Salvo expressa concordância dos terceiros, as garantias especiais por eles prestadas se extinguem com a assunção de dívida; já as garantias prestadas pelo devedor primitivo somente são mantidas no caso em que este concorde com a assunção”. INSTITUTO DOCTUM DE EDUCAÇÃO E TECNOLOGIA FACULDADES UNIFICADAS DOCTUM DE TEÓFILO OTONI CURSO: DIREITO PERÍODO: 3º SEM/ANO: 2º/2014 DISCIPLINA: DIREITO CIVIL II PROFESSORA: HELEN KARINA AMADOR CAMPOS ________________________________________________ _______________ 24 relação obrigacional como ela era, liberando-se apenas os terceiros prestadores de garantia que eventualmente desconhecessem o motivo da invalidação. Art. 302: o novo devedor não pode opor ao credor as exceções pessoais que competiam ao primitivo. Pode, contudo, arguir as suas próprias exceções pessoais e os vícios relativos ao vínculo obrigacional, como pagamento, prescrição etc. Art. 303: regra especial para a assunção de débito garantido por hipoteca. Exceção ao parágrafo único do art. 299: reconhece efeitos positivos ao silêncio do credor. Hipótese de delegação. INSTITUTO DOCTUM DE EDUCAÇÃO E TECNOLOGIA FACULDADES UNIFICADAS DOCTUM DE TEÓFILO OTONI CURSO: DIREITO PERÍODO: 3º SEM/ANO: 2º/2014 DISCIPLINA: DIREITO CIVIL II PROFESSORA: HELEN KARINA AMADOR CAMPOS ________________________________________________ _______________ 25 UNIDADE III – ADIMPLEMENTO E EXTINÇÃO DAS OBRIGAÇÕES 3.1. Pagamento (Disposições gerais) Definição: o pagamento ou adimplemento compreende o cumprimento da obrigação pelo devedor, tal qual foi estabelecido no contrato; a consequência direta e imediata do pagamento é a extinção (normal) da obrigação correlata, liberando o devedor. Natureza jurídica: controversa → ato jurídico / fato jurídico / negócio jurídico (unilateral ou bilateral). Elementos fundamentais a) Vínculo obrigacional válido; b) Intenção de extinguir a obrigação, animus solvendi; c) A pessoa que efetua o pagamento, o solvens; d) A pessoa que recebe o pagamento, o accipiens. Atenção: em matéria de pagamento há uma inversão de elementos, comparativamente com os da obrigação: Obrigação: sujeito passivo (devedor) + sujeito ativo (credor) A → Objeto → B Pagamento: sujeito ativo (devedor – pagador) + sujeito passivo (credor - recebedor) Justificativa: o direito e o dever são correlatos, ou seja, quando o devedor (sujeito passivo da obrigação) dá início à execução obrigacional, demonstra querer pagar, ele passa de sujeito passivo dessa obrigação a ativo do pagamento, iniciando o exercício de um direito, o de pagar. Diferente acontece quando ainda existe somente a obrigação sem o poder de exigibilidade. Condições subjetivas do pagamento De quem deve pagar – o solvens: art. 304 → Regra: qualquer interessado na extinção da dívida: a) Devedor ou representante do devedor; b) Terceiro interessado (art. 304): tem interesse jurídico, ou seja, este terceiro, embora não seja parte na obrigação, pode vir a ser acionado pelo credor para o pagamento da dívida porque, de alguma forma, assumiu a posição de coobrigado, p.ex., o fiador, o avalista, o codevedor etc. c) Terceiro não interessado (art. 304, parágrafo único e art. 305): tem um interesse que não se caracteriza como jurídico. Aquele que paga por “amor ou por ódio”. Ex.: parente, amigo etc. Pode pagar em nome próprio ou em nome do devedor e cada uma das opções gerará consequências jurídicas próprias, na forma da tabela abaixo. INSTITUTO DOCTUM DE EDUCAÇÃO E TECNOLOGIA FACULDADES UNIFICADAS DOCTUM DE TEÓFILO OTONI CURSO: DIREITO PERÍODO: 3º SEM/ANO: 2º/2014 DISCIPLINA: DIREITO CIVIL II PROFESSORA: HELEN KARINA AMADOR CAMPOS ________________________________________________ _______________ 26 Efeitos do pagamento quanto ao credor: Quem paga Credor aceita Credor recusa 1º) Devedor (por si ou por representante) Adimplemento Consignação em pagamento 2º) Terceiro interessado Sub-rogação (art. 304, caput, e art. 346, III) Consignação em pagamento 3º) Terceiro desinteressado em nome do devedor – art. 304, parágrafo único Adimplemento – sem reembolso Consignação em pagamento 4º) Terceiro desinteressado em nome próprio (art. 305) Reembolso (não se sub-roga nos direitos do credor) Não pode consignar o pagamento Observações: Regra: o credor não tem motivo para recusar o pagamento que lhe oferecerem se observadas todas as disposições do contrato (obrigação) firmado com o devedor. Exceção: obrigação de fazer personalíssima. Art. 306: regra relativa à hipótese de pagamento pelo terceiro não interessado em nome próprio, e tal se deduz porque somente nesta situação fala-se em reembolso. É preciso firmar, ainda, que são duas as hipóteses em que, apesar do pagamento pelo terceiro, não terá direito ao reembolso: 1ª) O devedor desconhece a iniciativa do terceiro de proceder ao pagamento e possui (o devedor) meios para impedir (ilidir/afastar) a ação (a cobrança) do credor (p.ex.: já ter efetuado o pagamento, ter sido perdoado pelo credor, a prescrição da dívida etc); 2ª) O devedor se opõe à iniciativa do terceiro de proceder ao pagamento e possui (o devedor) meios para impedir (ilidir/afastar) a ação (a cobrança) do credor. Art. 307: trata de hipótese de pagamento de obrigação de dar coisa certa. Neste caso, exige-se que a pessoa que procede ao pagamento (devedor/representante/terceiro interessado/terceiro não interessado), isto é, à entrega da coisa ao credor, seja verdadeiramente a dona (proprietária) dela, sob pena de este pagamento não surtir efeitos; por outro lado, se o objeto da obrigação for coisa fungível, o pagamento poderá ter eficácia, ainda que não tenha sido entregue pelo dono, desde de que a coisa seja recebida pelo credor de boa-fé (ou seja, sem saber que aquele que entrega não é o verdadeiro dono) e consumida. O consumo de boa-fé pelo credor extingue a propriedade de terceiro efaz do consumidor (credor), proprietário irrevogável. Neste caso, caberá ao verdadeiro dono reclamar indenização do devedor ou de quem pagou por ele. INSTITUTO DOCTUM DE EDUCAÇÃO E TECNOLOGIA FACULDADES UNIFICADAS DOCTUM DE TEÓFILO OTONI CURSO: DIREITO PERÍODO: 3º SEM/ANO: 2º/2014 DISCIPLINA: DIREITO CIVIL II PROFESSORA: HELEN KARINA AMADOR CAMPOS ________________________________________________ _______________ 27 A quem se deve pagar – ao accipiens: art. 308 → Regra: credor ou quem o represente. Exceção: terceiro (art. 311 c/c art. 310) – nas hipóteses em que a lei autoriza. Quando o pagamento a terceiro desqualificado será válido: (a) Art. 308: ratificação/benefício credor (b) Art. 309: pagamento ao credor putativo (c) Se o terceiro vem a suceder ao credor, isto é, assume sua posição a título singular (transmissão de crédito – cessão) ou universal (herança) Credor aparente ou putativo (art. 309): é aquele que aos olhos de todos se faz passar pelo verdadeiro credor. Exs.: herdeiro ou legatário aparente. Requisitos para validade do pagamento ao credor aparente: a) Boa-fé do solvens; b) Escusabilidade de seu erro. Art. 310: o pagamento ciente feito a um credor incapaz de quitar não surte efeitos, gerando hipótese de repetição (“quem paga mal, paga duas vezes”); contudo, se se provar ter revertido em benefício do credor, o pagamento será tido como regular. Condições objetivas do pagamento: a) Objeto do pagamento e sua prova (arts. 313 a 326) Art. 313: invalidade do pagamento realizado com prestação diversa da acordada. Art. 314: prestação divisível Art. 315: dívidas em dinheiro Art. 316 – possibilidade de as partes estipularem cláusula de escala móvel (indexação) para evitar o enriquecimento sem causa daquele que paga. Art. 317: POSSIBILIDADE DE REVISÃO DO CONTRATO. A interpretação da expressão “motivos imprevisíveis” deve abarcar tanto causas de desproporção não previsíveis como também causas previsíveis, mas de resultados imprevisíveis. Art. 318: nulidade das convenções de pagamento em ouro ou moeda estrangeira. Arts. 319 e 320: o recibo da quitação é um meio que comprova o pagamento da obrigação. Melhor seria que diante da recusa do credor em dar quitação, o devedor não apenas retivesse o pagamento, mas garantisse a satisfação da dívida pela consignação. Art. 321: perda do título. Arts. 322 e 324: presunção juris tantum. Art. 323: quitação presumida dos juros. Art. 325: despesas do pagamento e da quitação. Art. 326: pagamento por medida ou peso. INSTITUTO DOCTUM DE EDUCAÇÃO E TECNOLOGIA FACULDADES UNIFICADAS DOCTUM DE TEÓFILO OTONI CURSO: DIREITO PERÍODO: 3º SEM/ANO: 2º/2014 DISCIPLINA: DIREITO CIVIL II PROFESSORA: HELEN KARINA AMADOR CAMPOS ________________________________________________ _______________ 28 b) Lugar do pagamento (arts. 327 a 330) Regra: art. 327, 2ª parte – disposição contratual, lei, natureza da obrigação ou circunstâncias. Domicílio do credor = dívida portable (portável). Exceção: art. 327, 1ª parte → domicílio do devedor = dívida quérable (quesível) – regra aplicável se não ocorrer nenhuma das hipóteses da 2ª parte do art. 327. Art. 327, parágrafo único: dois ou mais lugares de pagamento – escolha do credor. Art. 328: pagamento relacionado a imóvel. Art. 329: mudança do lugar do pagamento por motivo grave. Art. 330: presunção de renúncia do credor. c) Tempo do pagamento (arts. 331 – 333) Regra: vencimento, se houver, na forma preceituada no contrato; ou disposição legal. Exceção: na falta de especificação do vencimento no contrato ou na lei, o pagamento deve ser feito imediatamente (arts. 331, 2ª parte, c/c 134), segundo a lei; esta expressão, contudo, é melhor compreendida se se entender que, neste contexto, o devedor deverá ser notificado para pagar, assim, findo o prazo da notificação, poderia ser considerado inadimplente. Art. 332 – condição suspensiva (art. 876) Art. 333, caput e incisos: situações (rol taxativo) em que é facultado ao credor cobrar a dívida antes de vencido o prazo. Parágrafo único: solidariedade passiva. 3.2. Formas especiais de pagamento 3.2.1. Pagamento em Consignação Referência legislativa: CC, arts. 334/345; CPC, arts, 890/900 Definição: pode ser conceituado como o depósito feito pelo devedor, da coisa devida, para liberar-se de uma obrigação assumida em face de um credor determinado, todas as vezes que encontrar dificuldades para proceder ao pagamento direto, como prevê o art. 334/CC (rol exemplificativo). Para tanto, poderá o devedor se valer da esfera judicial ou extrajudicial (art. 890/CPC), a depender do caso. Natureza jurídica: mista ou híbrida, pois é instituto de direito e processo civil. Objeto: em princípio, qualquer coisa que seja objeto da obrigação pode ser consignada, móvel ou imóvel. Exceções: obrigações ilíquidas e obrigações puramente de fazer ou não fazer. INSTITUTO DOCTUM DE EDUCAÇÃO E TECNOLOGIA FACULDADES UNIFICADAS DOCTUM DE TEÓFILO OTONI CURSO: DIREITO PERÍODO: 3º SEM/ANO: 2º/2014 DISCIPLINA: DIREITO CIVIL II PROFESSORA: HELEN KARINA AMADOR CAMPOS ________________________________________________ _______________ 29 Hipóteses de ocorrência – art. 335 (rol exemplificativo): a) Inc. I: Mora do credor (mora accipiendi) verificada pela sua recusa em receber a prestação, sem justa causa –– dívida portable. Ônus da prova: do devedor; terá que provar que efetuou a oferta efetiva e que, diante desta, houve recusa injustificada do credor. b) Inc. II: dívida quérable. Ônus da prova: credor; deverá provar que ao tentar receber o débito, o devedor se recusou a pagá-lo. c) Inc. III: Incapaz: incapacidade civil + falta de representante legal; Ausente: deixou procurador sem poderes para dar quitação; Lugar incerto ou de acesso perigoso ou difícil. d) Inc. IV: dúvida quanto a quem seja o credor legítimo. e) Inc. V c/c art. 344: litígio sobre o objeto do pagamento entre credor e terceiro. Atenção: o art. 345/CC traz uma hipótese excepcional de iniciativa da consignação pelo credor. Trata-se, em verdade, de pedido do credor ao juiz, para que este expeça ordem ao devedor, determinando-lhe que consigne em juízo a coisa objeto da obrigação. Neste caso, o pedido do credor se justifica, pois o devedor não procedeu espontaneamente à consignação; busca-se, portanto, evitar a frustração do credor que sair vencedor do litígio. Segundo o art. 336/CC – a consignação deve ser: a) Livre: o devedor decide espontaneamente por consignar o pagamento, salvo o disposto no art. 345; b) Completa: a consignação deve versar sobre o objeto da obrigação, isto é, o combinado, salvo as exceções consideradas para fins de ações revisionais de contratos. c) Real: o depósito deve se concretizar, ser efetivo. Requisitos de validade: 1) Subjetivos: a) A consignação deverá ser feita pelo devedor, por quem o represente, ou pelos terceiros (interessado e não interessado, este último
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