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RESUMO DIREITO PENAL I

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RESUMO DIREITO PENAL I
Gabriela Brasil – T2A
PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO PENAL
RELACIONADOS COM A MISSÃO FUNDAMENTAL DO DIREITO PENAL 
1. EXCLUSIVA PROTEÇÃO DOS BENS JURÍDICOS: o Direito Penal deve servir para proteger bens jurídicos indispensáveis para a vida em sociedade e esses bens podem ser tanto materiais quanto imateriais (a essa proteção dos bens imateriais – aqueles que não são titularizados por um indivíduo especificamente – a doutrina chama de espiritualização do bem jurídico).
2. INTERVENÇÃO MÍNIMA: o Direito Penal deve ser aplicado quando estritamente necessário (ultima ratio), de modo que sua intervenção fica condicionada ao fracasso das demais esferas de controle (caráter subsidiário), observando somente os casos de relevante lesão ou perigo de lesão ao bem juridicamente tutelado (caráter fragmentário). 
3. INSIGNIFICÂNCIA: pode ser entendido como um instrumento de interpretação restritiva do Direito Penal e decorre da ideia de fragmentariedade e, por isso, o Direito Penal só vai até aonde seja necessário para a proteção do bem jurídico (decorre da exclusão da Tipicidade Material).
TIPICIDADE PENAL
É uma adequação de um comportamento humano a descrição normativa – é o encontro do mundo fático com o mundo jurídico. A tipicidade pode ser tanto formal como material. 
TIPICIDADE FORMAL: a adequação do comportamento ao tipo penal. 
TIPICIDADE MATERIAL: é um juízo de adequação que resulta em lesão significativa ao bem jurídico.
Assim, se não há tipicidade material, não há tipicidade penal, portanto, não haverá fato típico, então não haverá crime. 
Os Tribunais Superiores estabelecem alguns requisitos necessários para que se possa alegar a insignificância da conduta:
A mínima ofensividade da conduta do agente;
A ausência de periculosidade da ação social; 
Reduzido grau de reprovabilidade do comportamento;
Inexpressividade da lesão jurídica causada.
Onde se aplica a insignificância de acordo com os Tribunais Superiores?
Deve se levar em consideração a capacidade econômica da vítima;
Prevalece o entendimento (mas não é unânime), ser incabível de insignificância para o agente reincidente, portador de maus antecedentes ou criminoso habitual; 
É admitido nos crimes patrimoniais sem violência ou grave ameaça à pessoa;
Não é admitido quando um bem jurídico tutelado for coletivo ou difuso (exemplo: moeda falsa, drogas);
Enquanto o STF admite a aplicação nos crimes contra a administração pública, o STJ não admite;
O STJ firmou posição admitindo insignificância nos atos infracionais (comportamentos ilícitos regidos pelo ECA, ou seja, menor de 16 não comete homicídio, mas sim, ato infracional de homicídio).
INSIGNIFICÂNCIA x CRIME DE BAGATELA
Não são sinônimos – se há insignificância, não há crime, porque não há tipicidade material. Se há crime de bagatela, existe crime, só que há uma menor reprovação social e existe uma pena que será reduzida.
SE É INSIGNIFICANTE → NÃO É CRIME
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4. ADEQUAÇÃO SOCIAL: nesse princípio a tipicidade material é afastada em razão da aceitação social da conduta. 
RELACIONADOS COM O FATO DO AGENTE
1. MATERIALIZAÇÃO DA CONDUTA: o Estado só pode punir comportamentos humanos voluntários, consagrando o Direito Penal do FATO (o indivíduo deve ser punido pelo comportamento praticado e não pelas condições pessoais).
Valendo ressaltar que em algumas hipóteses admitimos o Direito Penal do AUTOR, especificamente quando da análise da pena (personalidade, antecedentes criminais), corolário do mandamento constitucional da individualização da sanção penal.
2. OFENSIVIDADE (OU LESIVIDADE): do fato praticado deve ocorrer lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado.
SURGE A DISCUSSÃO: existem os chamados crimes de danos (sua ocorrência EXIGE LESÃO AO BEM JURÍDICO, comprovada via perícia) e os crimes de perigo (aqueles em que o PRÓPRIO COMPORTAMENTO, POR SI SÓ, REPRESENTA UM PERIGO DE LESÃO) e pode ser subdividido em abstrato e concreto:
CRIME DE PERIGO CONCRETO: é obrigatório demonstrar a verdadeira existência do perigo, ou seja, ELE NÃO SE PRESUME. Como por exemplo o abandono de incapaz.
CRIME DE PERIGO ABSTRATO: há uma PRESUNÇÃO de ameaça, ou seja, não precisa provar nada, basta apenas a conduta. Como por exemplo o delito de embriaguez ao volante (art. 306 do Código de Trânsito Brasileiro).
3. LEGALIDADE: trata-se da real limitação ao poder estatal de interferir na esfera de liberdades individuais (portanto, uma construção racional do homem.
É um princípio expresso no ordenamento jurídico:
Constituição Federal, art. 5º, XXXXIX (o II também aborda, contudo, mais voltado para o Direito Privado);
Código Penal, art. 1º;
Tratados e Convenções Internacionais.
No Brasil, do ponto de vista PENAL, temos uma legalidade baseada nos ideais da Revolução Francesa – verificamos concretamente o limite ao poder de punir. Temos uma conjugação de duas ideias:
RESERVA LEGAL: o conteúdo penal só pode ser tratado com único instrumento: a lei. 
ANTERIORIDADE: essa lei deve ser anterior ao fato.
A legalidade deve ser compreendida sob dois aspectos: o da legalidade formal e o da legalidade material.
	
	LEGALIDADE FORMAL
	LEGALIDADE MATERIAL
	EXIGÊNCIA
	Obediência ao devido processo legislativo
	O conteúdo do tipo deve respeitar o conteúdo da Constituição, bem como dos Tratados Internacionais de Direitos Humanos, observando direitos e garantias do cidadão.
	RESULTADO
	Lei VIGENTE
	Lei VÁLIDA
CONSEQUÊNCIAS
A. NÃO HÁ CRIME (OU CONTRAVENÇÃO PENAL), NEM PENA (OU MEDIDA DE SEGURANÇA) SEM LEI;
Segundo o PRINCÍPIO DA RESERVA LEGAL, a infração penal somente pode ser criada por lei em SENTIDO ESTRITO, ou seja, lei COMPLEMENTAR ou ORDINÁRIA, aprovadas e sancionadas de acordo com o processo legislativo respectivo, previsto na CF/88 e nos regimes internos da Câmara dos Deputados e Senado Federal.
OBS: embora não possam criar infrações penais, as MEDIDAS PROVISÓRIAS podem versar sobre o Direito Penal NÃO INCRIMINADOR – o STF decidiu que a vedação constante do art. 62, §1º, “b”, da CF/88, NÃO ABRANGE AS NORMAS PENAIS BENÉFICAS, assim consideradas “as que abolem crimes ou lhes restringem o alcance, extingam ou abrandem penas ou ampliam os casos de isenção de pena ou de extinção de punibilidade”. 
EXEMPLO: MPs editadas em função do Estatuto do Desarmamento (Lei nº 10.826/2003).
B. NÃO HÁ CRIME (OU CONTRAVENÇÃO PENAL), NEM PENA (OU MEDIDA DE SEGURANÇA) SEM LEI ANTERIOR;
Segundo PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE, a criação de tipos e a cominação de sanções exige lei anterior, proibindo-se a retroatividade maléfica.
C. NÃO HÁ CRIME (OU CONTRAVENÇÃO PENAL), NEM PENA (OU MEDIDA DE SEGURANÇA) SEM LEI ESCRITA;
Só a lei escrita pode criar crimes e sanções penais, excluindo-se o DIREITO CONSUETUDINÁRIO para fundamentação ou agravação de pena – o próprio art. 5º, II, CF/88 exclui essa possibilidade.
D. NÃO HÁ CRIME (OU CONTRAVENÇÃO PENAL), NEM PENA (OU MEDIDA DE SEGURANÇA) SEM LEI ESTRITA;
Proíbe-se a utilização de analogias para criar tipo incriminador, fundamentar ou agravar pena. Contudo, a analogia in bonam partem é possível encontrando justificativa no Princípio da Equidade. 
EXEMPLO: o STF declarou atipicidade da conduta do agente que furta sinal de TV a cabo, asseverando-se impossível a analogia (in malam partem) com o crime de furto de energia elétrica, previsto no art. 155, §3º, Código Penal. 
E. NÃO HÁ CRIME (OU CONTRAVENÇÃO PENAL), NEM PENA (OU MEDIDA DE SEGURANÇA) SEM LEI CERTA;
O PRINCÍPIO DA TAXATIVIDADE ou da DETERMINAÇÃO é dirigido mais diretamente à pessoa do legislador, exigindo dos tipos penais CLAREZA, não devendo deixar margens a dúvidas, de modo a permitir à população em geral o pleno entendimento do tipo criado. 
F. NÃO HÁ CRIME (OU CONTRAVENÇÃO PENAL), NEM PENA (OU MEDIDA DE SEGURANÇA) SEM LEI NECESSÁRIA;
É o desdobramento do PRINCÍPIO DA INTERVENÇÃO MÍNIMA, ou seja, não se admite a criação da infração penal sem necessidade, em especial quando a conduta indesejada pelo meio social pode ser perfeitamente inibida pelos outros ramos doDireito. 
EXEMPLO: revogação do crime de “Sedução” (art. 217 do CP) e adultério (art. 240 do CP).
CLASSIFICAÇÃO DAS LEIS PENAIS
Classificação da lei quanto ao conteúdo:
LEI PENAL COMPLETA
É aquela que dispensa complemento valorativo (dado pelo juiz) ou normativo (dado por outra norma) – ela pode ser aplicada imediatamente.
EXEMPLO: art. 121 do Código Penal.
LEI PENAL INCOMPLETA
Depende de um complemento valorativo (tipo aberto) ou normativo (norma penal em branco).
TIPO ABERTO: depende de um complemento valorativo, a ser conferido pelo julgador no caso concreto. 
EXEMPLO: os crimes culposos uma vez que o legislador não enuncia as formas de negligência, imprudência e imperícia, ficando a critério do magistrado na análise do caso concreto – para não ofender o princípio da legalidade, a redação típica deve trazer o mínimo de determinação. 
NORMA PENAL EM BRANCO: é aquela que seu preceito primário (descrição da conduta proibida) não é completo, dependendo de complementação a ser dada por outra norma.
B.1. NORMA PENAL EM BRANCO PRÓPRIA (OU EM SENTIDO ESTRITO OU HETEROGÊNEA): seu complemento emana de fonte normativa diversa. 
EXEMPLO: a Lei nº 11.343/2006 (editada pelo Poder Legislativo) disciplina os crimes relacionados com o comércio de drogas, porém a aplicabilidade dos tipos penais depende de complemento encontrado em portaria do Ministério da Saúde, a Portaria nº 344/2008 (editada pelo Poder Executivo). 
B.2. NORMA PENAL EM BRANCO IMPRÓPRIA (OU EM SENTIDO AMPLO OU HOMOGÊNEA): o complemento emana do próprio legislador, ou seja, da mesma fonte de produção normativa. Por motivos de técnica legislativa, o complemento poderá ser encontrado no próprio diploma legal ou diploma legal diverso.
	
	NORMA PENAL EM BRANCO IMPRÓPRIA
	ESPÉCIE
	homovitelina 
	heterovitelina 
	COMPLEMENTO
	Lei
	Lei
	INSTÂNCIA LEGISLATIVA
	mesma instância legislativa da norma
	Instância legislativa diversa da norma incompleta
	EXEMPLO
	Art. 312 do CP (norma incompleta) e art. 327 do CP (complemento).
	Art. 236 do CP (norma incompleta) e art. 1.521 do CC (complemento).
RELACIONADOS COM O AGENTE DO FATO
1. RESPONSABILIDADE PESSOAL: ninguém pode ser punido por comportamento de outrem e de igual modo veda-se que terceiro cumpra pena no lugar do autor do fato – não pode passar da pessoa do condenado (PRINCÍPIO DA PESSOALIDADE DA PENA). 
2. RESPONSABILIDADE SUBJETIVA: a responsabilidade penal é condicionada à existência de comportamentos voluntários e o que os caracterizaria é a existência de dolo (o agente tem como vontade produzir um resultado lesivo ao bem jurídico – tem consciência e vontade) ou culpa (tem previsibilidade – ele consegue antever a possibilidade do resultado). 
Mesmo que a RESPONSABILIDADE OBJETIVA esteja proibida, a doutrina identifica duas situações em que a punição é baseada nisso:
EMBRIAGUEZ NO VOLANTE: embriaguez voluntária – a fórmula de evita-la reside na teoria da actio libera in causa. 
RIXA QUALIFICADA (art. 137, parágrafo único, CP): no caso de morte ou lesão grave agrava a pena de todos os agentes, só pelo fato da participação na rixa, hoje deve ser interpretado em consonância com o princípio da responsabilidade subjetiva, ou seja, só responde por esse resultado agravador quem atuou frente a ele com dolo ou culpa. 
3. CULPABILIDADE: trata-se de postulado limitador do direito de punir, porque o Estado só pode impor uma sanção penal ao agente imputável (penalmente capaz), com potencial consciência da ilicitude (possibilidade de conhecer o caráter ilícito do seu comportamento) quando dele exigível conduta diversa (podendo agir de outra maneira).
OBS: a Pessoa Jurídica pode ser responsabilizada por crime, desde que seja um crime ambiental. 
 
EFICÁCIA DA LEI PENAL NO TEMPO
É saber em que momento ou em que circunstância temporal aplicar-se-ia uma determinada lei penal. Via de regra, a lei aplicada ao caso concreto é aquela vigente ao tempo do crime (tempus regit actum). 
Art. 2º - Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória.
Parágrafo único - A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado.
EXTRA-ATIVIDADE: possibilidade conferida à lei de movimentar-se no tempo (para beneficiar o réu) e pode ser compreendida como gênero do qual são espécies:
a RETROATIVIDADE, capacidade que a lei penal tem de ser aplicada a fatos praticados ANTES da sua vigência. 
A ULTRA-ATIVIDADE, que representa a possibilidade de aplicação da lei penal mesmo após a sua revogação ou cessação de efeitos.
Para que haja a correta e justa aplicação da lei penal, precisa-se definir o tempo do crime (quando o crime se considera praticado) – adotamos a Teoria da Ação (ou da Conduta ou da Atividade).
Art. 4º - Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado. (Princípio da Exteriorização da Conduta) 
EXEMPLO: se ao tempo do disparo da arma de fogo, o agente era menor de 18 anos, terá praticado ato infracional e será sancionado de acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente, ainda que a vítima só venha a óbito quando o agente completar 18 anos. 
SUCESSÃO DE LEIS PENAIS NO TEMPO (DIREITO INTERTEMPORAL)
	TEMPO DA REALIZAÇÃO DO ATO
	LEI POSTERIOR (SUCESSÃO DA LEI PENAL)
	RESULTADO
	FUNDAMENTO LEGAL
	Fato Atípico
a conduta não era proibida.
	Tornou o fato típico – criminalizou a conduta. 
	Irretroatividade – é uma lei mais grave.
	Art. 1º, do Código Penal.
	Fato Típico
	Lei posterior mais grave 
(ex.: aumento de pena).
	Irretroatividade – lei posterior;
Ultra-atividade – lei antiga (porque ao tempo do crime era ela a lei mais benéfica). 
	Art. 5º, XL, Constituição Federal de 1988.
	Fato Típico
	Lei posterior é mais benéfica (ex.: diminuição de pena)
	Retroatividade
	Art. 2º, parágrafo único, do CP.
	Fato Típico
	Lei que descriminaliza a conduto, ou seja, lei posterior transforma em fato atípico. 
	Abolitio criminis – revogação de um tipo penal pela superveniência de uma lei descriminalizadora. É uma causa extintiva da punibilidade.
	Art. 2º, caput, do Código Penal.
	Fato Típico
	Lei posterior que revoga normativamente o dispositivo, sem, contudo, descriminalizar a conduta. 
(ex.: atentado violento ao pudor)
	Continuidade típico-normativo.
	Art. 1º, do Código Penal.
OBSERVAÇÕES
CRIMES PERMANENTES OU CONTINUADOS
Crime permanente é aquele cuja consumação se prolonga no tempo. No crime de sequestro (art. 148, CP), por exemplo, enquanto a vítima não for libertada, a consumação se prolonga. Já o crime continuado é uma ficção jurídica através da qual, por motivos de política criminal, dois ou mais crimes da mesma espécie, praticados nas mesmas condições de tempo, lugar e maneira de execução, devem ser tratados, para fins de pena, como crime único, majorando-se a pena. 
Nessas hipóteses, o STF se posiciona:
“A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência.” (Súmula 711)
COMO FICAM OS EFEITOS DA CONDENAÇÃO NA HIPÓTESE DE “ABOLITIO CRIMINIS”?
É necessário fazer a distinção entre efeitos penais e os efeitos extrapenais da sentença condenatória. Os efeitos extrapenais estão positivados nos arts. 91 e 92 do Código Penal e não serão alcançados pela lei descriminalizadora. 
EXEMPLO: existe a obrigação de indenizar o dano causado, enquanto que os efeitos penais terão que ser extintos, retirando-se o nome do agente do rol de culpados, não podendo a condenação ser considerada, para fins de reincidência ou antecedentes penais. 
LEI PENAL MAIS BENÉFICA
Art. 2º - Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória.  
        Parágrafo único - A lei posterior, que de qualquermodo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado.
EXEMPLO: Lei nº 12.015/2009, que alterou, dentre outros, o art. 229 do CP (manutenção de casa de prostituição) – insiste em punir a manutenção de prostíbulos, mas deu-lhe uma nova configuração: deve haver exploração sexual. Todos os condenados pelo tipo penal antigo, mais amplo, acabaram sendo favorecidos pelo novo texto, que, nessa parte, é retroativo.
Depois do trânsito em julgado, qual o juiz competente para aplicar a lei penal mais benéfica?
	
	LEI PENAL MAIS BENIGNA
	ÉSPECIE
	Que representa mera aplicação matemática
	Que implica juízo de valor
	JUIZ COMPETENTE
	Juízo da execução
	Juízo da revisão criminal
	EXEMPLO
	Cria-se, para um crime patrimonial, uma causa de diminuição de pena quando o dano à vítima for inferior a 1 salário mínimo.
	Cria-se, para um crime patrimonial, uma causa de diminuição quando o dano for de pequeno valor.
OBS: nos casos de ação penal originária, os juízes de execução agem por delegação, por carta de ordem, não possuindo competência para modificar a decisão, porque haveria uma usurpação de hierarquia.
“Transitada em julgado a sentença condenatória, compete ao juízo das execuções a aplicação de lei mais benigna.” (Súmula 611)
PRINCÍPIO DA CONTINUIDADE TÍPICO-NORMATIVA
	ABOLITIO CRIMINIS
	CONTINUIDADE TÍPICO-NORMATIVA
	Supressão da figura criminosa
	Supressão formal do crime
	A conduta não será mais punida (o fato deixa de ser punível)
	O fato permanece punível (a conduta criminosa migra para outro tipo penal)
	A intenção do legislador é não mais considerar o fato criminoso
	A intenção do legislador é manter o caráter criminoso do fato
Para exemplificar temos:
	
	CRIME DE RAPTO
	
	RAPTO CONSENSUAL
	RAPTO VIOLENTO
	ANTES DA LEI Nº 11.106/2005
	Art. 220 do CP
	Art. 219 do CP
	DEPOIS DA LEI Nº 11.106/2005
	abolitio criminis
	Art. 148, §1º, V, do CP (princípio da continuidade típico-normativa)
LEI TEMPORÁRIA E LEI EXEPCIONAL
Art. 3º - A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência. 
LEI TEMPORÁRIA: é editada para ser vigente em um determinado período pré-estabelecido em seu texto (ou seja, já sabemos o dia o qual ela irá cessar).
EXEMPLO: Lei nº 13.284/2016 que criou diversos crimes que buscam proteger o patrimônio material e imaterial das entidades organizadoras dos Jogos Olímpicos de 2016 – infrações penais com vigência até 31 de dezembro de 2016.
LEI EXEPCIONAL: é editada em função de algum evento transitório, como estado de guerra, calamidade ou qualquer outra necessidade estatal – perdura enquanto persistir o estado de emergência. 
Ambas as leis têm duas características essenciais:
AUTORREVOGABILIDADE (OU “LEIS SUICIDAS”): são revogadas independente de lei posterior (a própria lei retira a sua vigência), ou seja, assim que encerrado o prazo fixado ou cessada a situação de anormalidade. 
ULTRA-ATIVIDADE: elas serão sempre aplicadas aos fatos praticados durante a sua vigência, ainda que as circunstâncias de prazo e de emergência tenham se esvaído. Ela é aplicada ainda que maléfica (senão o criminoso seria beneficiado sempre pela cessação).
LEIS INTERMÉDIAS (OU INTERMEDIÁRIAS)
Leis que entram em vigor posteriormente, mas, no momento do julgamento, já não estão mais vigentes. 
RETROATIVA
ULTRA-ATIVA
LEIS HÍBRIDAS
São leis que tratam, concomitantemente, de conteúdo material e conteúdo processual. Nesse caso, a parte penal vai RETROAGIR, se for mais benéfica, e, para a parte processual, aplica-se o art. 2º do Código de Processo Penal (não RETROAGE).
Caso não seja possível separar o dispositivo, A NORMA RETROAGE, uma vez que a Constituição está ACIMA do Código. 
HAVERÁ RETROATIVIDADE DA NORMA EM VACATIO LEGIS?
Prevalece o entendimento de que a norma em vacatio legis ela é irretroativa (STJ), uma vez que nesse período a norma pode ser alterada – ela é uma expectativa de lei, portanto, devemos ter certeza do que está sendo aplicado.
Por outro lado, Rogerio Grecco acredita que esse período é para que a norma tenha aceitação social e para que as pessoas possuam conhecimento dela, portanto, para ele, seria possível retroagir.
A JURISPRUDÊNCIA PODE RETROAGIR?
EXEMPLO: um roubo praticado com arma de brinquedo. Antes de outubro de 2001, havia a Súmula do STJ (nº 174) autorizando o aumento de pena mesmo quando cometido o crime com arma de brinquedo. Depois, no julgamento do Recurso Especial (RESP) 213.054, no ano de 2001, o STJ modificou seu entendimento e cancelou a referida Súmula.
Quem foi condenado pelo entendimento anterior, pode requerer recálculo de pena em razão de entendimento mais benéfico da jurisprudência?
Diante disso, o STF e o STJ estabeleceram que o postulado da lei mais benéfica não se aplica à jurisprudência, uma vez que a Constituição fala apenas da RETROATIVIDADE DA LEI. Outra justificativa seria que, se o Tribunal modificou a jurisprudência, é porque a lei estava sendo aplicada de maneira errada e, a partir da nova interpretação, essa lei começa a ser aplicada corretamente. 
EFICÁCIA DA LEI PENAL NO ESPAÇO
Estuda-se porque a aplicação da lei penal é um exercício de soberania e podem existir determinados fatos criminosos em que alcance o interesse de dois Estados igualmente soberanos, portanto, estuda-se para apurar as fronteiras de atuação da lei penal nacional.
TERRITÓRIO NACIONAL: é um espaço físico (ou geográfico) acrescido, conjuntamente, ao chamado espaço jurídico (local em que o Direito, por ficção, considera também como território nacional).
PRINCÍPIO GERAL: aplica-se a ideia do Princípio da Territorialidade. Isso quer dizer que o crime que acontece no território nacional, aplica-se a lei brasileira. Ocorre que o próprio art. 5º, CP, ao considerar esse princípio, estabelece uma restrição à essa territorialidade:
Art. 5º - Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no território nacional.
Se retirar a parte de preto, tem-se efetivamente o Princípio da Territorialidade, contudo, se houver uma convenção, um tratado, uma regra de direito internacional, a lei brasileira poderá ser afastada. Por isso, considera-se um Princípio da Territorialidade Temperada, uma vez que pode haver o afastamento da lei. 
PRINCÍPIOS APLICÁVEIS
Nas possíveis colisões, existem seis princípios que sugerem a solução:
A. TERRITORIALIDADE: aplica-se a lei penal do local do crime, não importando a nacionalidade do agente, da vítima ou do bem jurídico.
B. PRINCÍPIO DA NACIONALIDADE OU PERSONALIDADE ATIVA: aplica-se a lei do país o qual pertence o agente, pouco importando o local do crime, a nacionalidade da vítima ou do bem jurídico violado.
C. PRINCÍPIO DA NACIONALIDADE OU PERSONALIDADE PASSIVA: aplica-se a lei penal da nacionalidade do ofendido. 
D. PRINCÍPIO DA DEFESA OU REAL: aplica-se a lei penal da nacionalidade do bem jurídico lesado (ou colocado em perigo), não importando o local da infração penal ou a nacionalidade do sujeito ativo. 
E. PRINCÍPIO DA JUSTIÇA PENAL UNIVERSAL OU DA JUSTIÇA COSMOPOLITA: o agente fica sujeito à lei do país onde for encontrado, não importando a sua nacionalidade, a do bem jurídico lesado ou do local do crime. Esse princípio está normalmente presente nos Tratados Internacionais de Cooperação de Repressão a determinados delitos de alcance transnacional. 
F. PRINCÍPIO DA REPRESENTAÇÃO, DO PAVILHÃO, DA SUBSTITUIÇÃO OU DA BANDEIRA: a lei penal nacional aplica-se aos crimes cometidos em aeronaves e embarcações provadas quando praticados no estrangeiro e aí não sejam julgados.
EXTENSÃO DO TERRITÓRIO NACIONAL
	EMBARCAÇÕES E AERONAVES
	Será aplicada a lei brasileira
	Públicas ou a serviço do governo brasileiro
	quer se encontrem em território nacional ou estrangeiro, em alto-mar ou espaço aéreo correspondente.
	Mercantesou particulares brasileiras
	se estiverem em território nacional, em alto-mar ou no espaço aéreo correspondente.
	Estrangeiras
	apenas quando privadas em território brasileiro. 
DIREITO DE PASSAGEM INOCENTE: é uma passagem em um determinado território soberano somente como caminho para um destino final. Nesse caso, ocorrendo crime a bordo da embarcação, não se aplicará a lei brasileira, desde que não seja prejudicial à paz, à boa ordem ou à segurança do Brasil, devendo ser contínua e rápida – está previsto na Lei nº 8617/93 (a lei diz respeito à navios, contudo, nada impede que, por analogia, se aplique também a aeronaves). 
LUGAR DO CRIME
Art. 6º - Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado.
De acordo com esse artigo, usamos a Teoria Mista (ou da Ubiquidade) – logo, sempre que por força do critério da ubiquidade o fato se deva considerar praticado tanto no território brasileiro como no estrangeiro, será aplicável a lei brasileira.
OBS: a conduta e o resultado são desvalorados pelo legislador. Se no Brasil ocorre somente o planejamento e/ou preparação do crime, o fato, em regra, não interessará ao Direito Brasileiro, salvo quando a preparação caracterizar, por si só, crime. Somente após o início da execução o comportamento do agente adquire conotação e importância penal. 
EXTRATERRITORIALIDADE
Em casos especiais, a nossa lei poderá extrapolar os limites do território, alcançando crimes cometidos exclusivamente no estrangeiro.
Art. 7º, I, CP – Extraterritorialidade INCONDICIONAL, porque o §1º, estabelece que “nos casos do inciso I, o agente é punido segundo a lei brasileira, ainda que absolvido ou condenado no estrangeiro”. São hipóteses que o ofendido é, de certo modo, a própria soberania do Brasil – então, entende-se que os bens jurídicos violados, são violações atentatórias à própria soberania nacional, por isso, o Brasil tem total interesse, não constituindo na vedação à dupla punição pelo mesmo fato (ninguém pode ser punido duas vezes pelo mesmo fato). 
Portanto, só precisa que o fato aconteça. 
I - os crimes: a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República; b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de Território, de Município, de empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público; c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço; crimes funcionários – crimes praticados por funcionários públicos no estrangeiro, contra o Brasil. d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil; 
Art. 7º, II, CP – Extraterritorialidade CONDICIONADA, porque não basta a ocorrência do fato, é necessário o preenchimento de determinadas condições previstas em lei. 
O parágrafo 2º vai dizer que “a aplicação da lei brasileira depende do concurso das seguintes condições”. 
II - os crimes: a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir; b) praticados por brasileiro; c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados. 
E as condições expressas em lei são (são acumulativos, se faltou um não poderá ser aplicado):
entrar o agente no território nacional;
ser o fato punível também no país em que foi praticado; 
estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição; (sinteticamente, os crimes têm que ser punidos com prisão superior a um ano – art. 77, do Estatuto do Estrangeiro, Lei nº 6.810/80)
não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena; 
não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorável. 
Art. 7º, §3º, CP – Extraterritorialidade HIPERCONDICIONADA, porque “a lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do brasil, se, reunidas as condições previstas no parágrafo anterior” é hipercondicionada, porque além das cinco condições anteriores, existem mais duas:
§ 3º - A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil, se, reunidas as condições previstas no parágrafo anterior: a) não foi pedida ou foi negada a extradição; b) houve requisição do Ministro da Justiça.
EFICÁCIA DA LEI PENAL EM RELAÇÃO ÀS PESSOAS
A lei penal é aplicada à todas as pessoas por igual, não existindo privilégios pessoais. No entanto, existem pessoas que, em virtude de suas funções ou em razão de regras de Direito Internacional, desfrutam de imunidades. Portanto, não caracteriza um privilégio pessoal, mas sim uma necessidade em decorrência da FUNÇÃO desempenhada pela pessoa.
IMUNIDADES DIPLOMÁTICAS
É uma prerrogativa do Direito Internacional Público. E quem a possui são:
Chefes de governo ou de Estado estrangeiro, sua família e membros da comitiva;
Embaixadores e sua família;
Funcionários do corpo diplomático e família;
Funcionários das organizações internacionais quando em serviço.
PREVISÃO: Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas – recepcionada pelo Brasil por meio do Decreto nº 56.435/65.
Essa imunidade é em relação à LEI BRASILEIRA, ou seja, estarão submetidos às leis estrangeiras as quais estão vinculados – por consequência, se o fato não for crime no país de origem, o agente não será responsabilizado. 
Tem natureza jurídica de causa pessoal de isenção de pena, aplicando-se a qualquer crime – e não só aos praticados no exercício da função. 
AGENTE DIPLOMÁTICO ≠ AGENTE CONSULAR
Os agentes consulares é a representação ECONÔMICA, COMERCIAL, do país – e não uma representação política. Por causa dessa função meramente administrativa, eles desfrutam de uma imunidade funcional RELATIVA – só terão imunidade quando os fatos forem praticados em relação às suas FUNÇÕES. 
A imunidade diplomática é IRRENUNCIÁVEL – é vedado ao seu destinatário abdicar da prerrogativa. Isso porque essa é uma imunidade ao CARGO e não da pessoa. Entretanto, o PAÍS detentor da imunidade poderá renunciá-la, sendo que deve ser EXPRESSO. 
IMUNIDADES PARLAMENTARES
Trata-se de prerrogativa necessária ao desempenho independente da atividade parlamentar, de igual modo, não é pessoal, mas sim DO CARGO – cargo este que tem como função representar a própria cidadania. Essa imunidade é dividida em duas:
A. ABSOLUTA (OU MATERIAL): trata-se da inviolabilidade penal no exercício da atividade parlamentar (através de votos, opiniões, discursos, gestos, etc.). É uma causa pessoal de atipicidade da conduta – não há incidência da norma à conduta. 
OBS: não protege o discurso ou a manifestação de ódio.
O STF tem um entendimento bastante seguro acerca dessa imunidade, ela pode ser:
REALMENTE ABSOLUTA, que é quando a manifestação ocorre dentro da Casa Legislativa, ou seja, há uma presunção ABSOLUTA de que ele está se manifestando no exercício da atividade parlamentar, logo, é inviolável; ou pode ser
RELATIVA, caso a manifestação ocorra fora da Casa Legislativa, portanto, precisa-se mostrar o nexo com a atividade parlamentar
B. RELATIVA (OU FORMAL OU PROCESSUAL): é chamada de Prerrogativa de Foro (ou Foro Privilegiado), no qual deputados e senadores serão processados e julgados pelo Supremo Tribunal Federal; os deputados estaduais pelos Tribunais de Justiça ou Tribunais Regionais Federais; os vereadores não têm imunidade relativa, salvo que tal previsão se encontre nas Constituições Estaduais.
Quando for testemunha – tem prerrogativa de indicar dia, hora e local para prestar o depoimento (caso seja réu não tem nada). Relativo à prisão, só podem ser presos em flagrante de crime inafiançável e compete à Casa respectiva julgar. 
	DEPUTADOS FEDERAIS E SENADORES DA REPÚBLICA
	DEPUTADO ESTADUAL
	VEREADOR
	Imunidade absoluta em âmbito nacional.
	Imunidade absoluta em âmbito nacional.
	Imunidade absoluta pelas palavras proferidas no exercício do mandato erestrita à circunscrição do município em que exercem a vereança.
	Imunidade relativa.
	Imunidade relativa.
	Não possui imunidade relativa, podendo sua prerrogativa de foro ser instituída pela Constituição estadual.
	Julgamento pelo STF
	Julgamento pelo TJ/TRF/TRE
	Em regra, julgamento pelo órgão de primeiro grau.
Excepcionalmente, pelo Tribunal respectivo competente.

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