Buscar

A Ford e a Firestone trocam acusações por acidentes que já mataram mais de uma centena de pessoas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

A Ford e a Firestone trocam acusações por acidentes que já mataram mais de uma centena de pessoas. 
 É um duelo de gigantes: de um lado, a Ford, a segunda maior montadora do planeta. De outro, a Bridgestone/Firestone, portentosa fabricante de pneus, de renome mundial. Parceiros na linha de montagem, os gigantes estão estremecidos. Desde 8 de agosto, quando foi anunciada em Washington uma imensa operação recall — a substituição gratuita de 6,5 milhões de pneus em uso, ao custo de US$ 1 bilhão —, as duas empresas não conseguem administrar a crise que as une e antagoniza. Equipados com pneus Firestone, carros da linha Ford, principalmente a caminhonete Explorer, envolveram-se em acidentes provocando mais de 100 mortes nos Estados Unidos e na Venezuela. No Brasil, há registro de pelo menos um caso. Foi em 1999, na Rodovia dos Bandeirantes, em São Paulo. Não houve mortos. Até hoje, porém, o corpo de Ana Maria Gonçalves, de 20 anos, expele estilhaços de vidro, lembrança de um fatídico 22 de abril.
 Ana Maria viajava de São Paulo para Franca, no interior do Estado. Ao volante, José Alonso Macedo Silva, o motorista da família, seguia tranquilo. Conhecia muito bem o trajeto, um percurso de quatro horas. No Km 79, o pneu traseiro estourou. José Alonso perdeu o controle do veículo. O Ford Explorer 1996, importado dos EUA, capotou cinco vezes e foi parar no canteiro central. O motorista sofreu ferimentos leves. Ana Maria, em compensação, teve cortes no couro cabeludo, no rosto e na mão direita. Sangrou muito.
 Estudante universitária, ela ainda hoje tenta vencer o trauma provocado pelo acidente. Não tem sido fácil. Nos seis meses que se seguiram ao capotamento, não saía da casa em que vive com a família, em Franca. Fez terapia para superar o medo. "Quando o motorista ultrapassa os 100 quilômetros por hora, começo a rezar." A mãe, a advogada Tânia Meireles, decidiu entrar na Justiça com um processo de perdas e danos contra a Firestone. Gerente de assuntos corporativos da empresa no Brasil, José Batista Gusmão soube da ação há um mês. Estranha que a família tenha demorado tanto para agir.
 O acidente que Ana Maria não esquece se repetiu, com as mesmas características, em outros países. Em todos constatou-se o descolamento da banda lateral de três modelos Firestone: o ATX de 15 polegadas, o ATXII e o Wilderness, desenvolvidos para rodar na Explorer, embora também equipem outros modelos da marca. Saíram da fábrica da Bridgestone/Firestone em Decatur, em Illinois. No mundo todo, 1,5 milhão de unidades já foram trocadas. Até o final de 2000, prevê-se que os 5 milhões restantes terão passado pelo recall. Apenas 300 carros Ford Explorer tiveram seus pneus substituídos no Brasil.
 A situação começou a ficar insustentável em maio deste ano, quando o órgão fiscalizador da segurança nas estradas americanas passou a cobrar explicações técnicas das duas empresas. Dossiês sobre acidentes foram confrontados. O primeiro caso data do início dos anos 90 e nem foi a julgamento. A família fez acordo com a Ford. Nos últimos quatro meses, a estatística dos desastres subiu de 300 para 750 e a de vítimas fatais saltou de 46 para 88 só nos Estados Unidos. Denúncias pipocaram no Oriente Médio, na Tailândia, na Malásia e, especialmente, na Venezuela. Uma série de acidentes, a partir de 1998, teria causado a morte de 47 venezuelanos, de acordo com o Instituto de Defesa do Consumidor. Uma das vítimas foi Xiomara Salas, babá dos filhos de Claudia e Eduardo Urdaneta — ela morreu e Eduardo ficou gravemente ferido. O sogro dele, Franklin Hoet, um advogado de prestígio, representava a Ford e a Firestone na Venezuela. Em maio, ao ler um anúncio da Ford local que oferecia a troca de pneus, Hoet rompeu o contrato com as duas empresas e entrou com um processo no Tribunal Federal de Miami.

Outros materiais