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2018 1 O que é Ética e Cidadania:1 Ética e cidadania são dois conceitos fulcrais na sociedade humana. A ética e cidadania estão relacionadas com as atitudes dos indivíduos e a forma como estes interagem uns com os outros na sociedade. Ética é o nome dado ao ramo da filosofia dedicado aos assuntos morais. A palavra ética é derivada do grego, e significa aquilo que pertence ao caráter. A palavra “ética” vem do Grego “ethos” que significa “modo de ser” ou “caráter”. Cidadania significa o conjunto de direitos e deveres pelo qual o cidadão, o indivíduo está sujeito no seu relacionamento com a sociedade em que vive. O termo cidadania vem do latim, civitas que quer dizer “cidade”. Um dos pressupostos da cidadania é a nacionalidade, pois desta forma ele pode cumprir os seus direitos políticos. No Brasil os direitos políticos são orquestrados pela Constituição Federal. O conceito de cidadania tem se tornado mais amplo com o passar do tempo, porque está sempre em construção, já que cada vez mais a cidadania diz respeito a um conjunto de parâmetros sociais. A cidadania pode ser dividida em duas categorias: cidadania formal e substantiva. A cidadania formal é referente à nacionalidade de um indivíduo e ao fato de pertencer a uma determinada nação. A cidadania substantiva é de um caráter mais amplo, estando relacionada com direitos sociais, políticos e civis. O sociólogo britânico T.H. Marshall afirmou que a cidadania só é plena se for dotada de direito civil, político e social. Com o passar dos anos, a cidadania no Brasil sofreu uma evolução no sentido da conquista dos direitos políticos, sociais e civis. No entanto, ainda há um longo caminho a percorrer, tendo em conta os milhões que vivem em situação de pobreza extrema, a taxa de desemprego, um baixo nível de alfabetização e a violência vivida na sociedade. A ética e a moral têm uma grande influência na cidadania, pois dizem respeito à conduta do ser humano. Um país com fortes bases éticas e morais apresenta uma forte cidadania. O que é Democracia:2 Democracia é o regime político em que a soberania é exercida pelo povo. A palavra democracia tem origem no grego demokratía que é composta por demos (que significa povo) e kratos (que significa poder). Neste sistema político, o poder é exercido pelo povo através do sufrágio universal. É um regime de governo em que todas as importantes decisões políticas estão com o povo, que elegem seus representantes por meio do voto. É um regime de governo que pode existir no sistema 1 Extraído de: https://www.significados.com.br/etica-e-cidadania/. Acesso em 17.07.18. 2 Extraído de: https://www.significados.com.br/democracia/. Acesso em 25.07.18. 2 presidencialista, onde o presidente é o maior representante do povo, ou no sistema parlamentarista, onde existe o presidente eleito pelo povo e o primeiro ministro que toma as principais decisões políticas. Democracia é um regime de governo que pode existir também, no sistema republicano, ou no sistema monárquico, onde há a indicação do primeiro ministro que realmente governa. A democracia tem princípios que protegem a liberdade humana e baseia-se no governo da maioria, associado aos direitos individuais e das minorias. Uma das principais funções da democracia é a proteção dos direitos humanos fundamentais, como as liberdades de expressão, de religião, a proteção legal, e as oportunidades de participação na vida política, econômica, e cultural da sociedade. Os cidadãos têm os direitos expressos, e os deveres de participar no sistema político que vai proteger seus direitos e sua liberdade. O conceito de democracia foi evoluindo com o passar do tempo, e a partir de 1688, em Inglaterra, a democracia era baseada na liberdade de discussão dentro do parlamento. De acordo com alguns filósofos e pensadores do século XVIII, a democracia era o direito do povo de escolher e controlar o governo de uma nação. Em alguns países, a evolução da democracia ocorreu de forma muito rápida, como no caso de Portugal e Espanha. Apesar disso, essa rápida evolução criou uma insegurança política. Em países como Inglaterra e França, uma evolução lenta da democracia teve como consequência o desenvolvimento de estruturas políticas estáveis. Democracia no Brasil A democracia no Brasil sofreu ao longo dos tempos vários ataques e foi instituída ou fortalecida em diversas ocasiões. Existiram duas forças de democratização, uma em 45 e outra em 85. A ditadura militar foi uma das maiores afrontas à democracia, e a consciência democrática foi um forte elemento de oposição à ditadura. >>> Principais diferenças entre democracia e ditadura3 Democracia Ditadura Eleições Diretas Indiretas Estado É democrático É autoritário, antidemocrático Poder Dividido entre Executivo, Legislativo e Judiciário Concentrado em uma pessoa ou um grupo Direitos São respeitados e protegidos Podem ser cancelados 3 Extraído de: https://www.significados.com.br/diferenca-democracia-ditadura/. Acesso em 25.07.18. 3 Democracia Ditadura Manifestações populares São permitidas, é um direito constitucional São proibidas e reprimidas Censura Não existe Existe Participação dos cidadãos nas decisões Existe Não existe Social democracia Social democracia é a designação de partidos e correntes políticas com tendências marxistas e que surgiram antes da I Guerra Mundial. Este tipo de ideologia política tem como fundamento o marxismo e princípios como igualdade e justiça social, solidariedade e liberdade. A social democracia propunha uma mudança da sociedade capitalista, através de métodos graduais e nunca revolucionários, de acordo com normas do sistema parlamentar e democrático. Democracia Ateniense A Grécia Antiga foi o berço da democracia, onde principalmente em Atenas o governo era exercido por todos os homens livres. Naquela época, os indivíduos eram eleitos ou eram feitos sorteios para os diferentes cargos. Na democracia ateniense, existiam assembleias populares, onde eram apresentadas propostas, sendo que os cidadãos livres podiam votar. Democracia racial A democracia racial está diretamente relacionada com a problemática do racismo e discriminação, e sugere que o Brasil conseguiu lidar e resolver esses problemas de uma forma que outros países (como os Estados Unidos) não conseguiram. A democracia racial aborda as relações entre diferentes raças e etnias no Brasil. Democracia direta e representativa A democracia pode ser direta ou democracia pura, quando o povo expressa sua vontade por meio do voto direto. Democracia Representativa ou indireta o povo exprime sua vontade elegendo representantes que tomam as decisões em nome deles. Ética e democracia: exercício da cidadania4 Ética e Democracia O Brasil ainda caminha a passos lentos no que diz respeito à ética, principalmente no cenário político que se revela a cada dia, porém é inegável o fato de que realmente a moralidade tem avançado. 4 Extraído de: https://centraldefavoritos.com.br/2016/08/25/etica-e-democracia-exercicio-da-cidadania/. Acesso em 25.07.18. 4 Vários fatores contribuíram para a formação desse quadro caótico. Entre eles os principais são os golpes deestados – Golpe de 1930 e Golpe de 1964. Durante o período em que o país viveu uma ditadura militar e a democracia foi colocada de lado, tivemos a suspensão do ensino de filosofia e, consequentemente, de ética, nas escolas e universidades. Aliados a isso tivemos os direitos políticos do cidadão suspensos, a liberdade de expressão caçada e o medo da repressão. Como consequência dessa série de medidas arbitrárias e autoritárias, nossos valores morais e sociais foram se perdendo, levando a sociedade a uma “apatia” social, mantendo, assim, os valores que o Estado queria impor ao povo. Nos dias atuais estamos presenciando uma “nova era” em nosso país no que tange à aplicabilidade das leis e da ética no poder: os crimes de corrupção e de desvio de dinheiro estão sendo mais investigados e a polícia tem trabalhado com mais liberdade de atuação em prol da moralidade e do interesse público, o que tem levado os agentes públicos a refletir mais sobre seus atos antes de cometê-los. Essa nova fase se deve principalmente à democracia implantada como regime político com a Constituição de 1988. Etimologicamente, o termo democracia vem do grego demokratía, em que demo significa povo e kratía, poder. Logo, a definição de democracia é “poder do povo”. A democracia confere ao povo o poder de influenciar na administração do Estado. Por meio do voto, o povo é que determina quem vai ocupar os cargos de direção do Estado. Logo, insere-se nesse contexto a responsabilidade tanto do povo, que escolhe seus dirigentes, quanto dos escolhidos, que deverão prestar contas de seus atos no poder. A ética tem papel fundamental em todo esse processo, regulamentando e exigindo dos governantes o comportamento adequado à função pública que lhe foi confiada por meio do voto, e conferindo ao povo as noções e os valores necessários para o exercício de seus deveres e cobrança dos seus direitos. E por meio dos valores éticos e morais – determinados pela sociedade – que podemos perceber se os atos cometidos pelos ocupantes de cargos públicos estão visando ao bem comum ou ao interesse público. Exercício da Cidadania Todo cidadão tem direito a exercer a cidadania, isto é, seus direitos de cidadão; direitos esses que são garantidos constitucionalmente nos princípios fundamentais. Exercer os direitos de cidadão, na verdade, está vinculado a exercer também os deveres de cidadão. Por exemplo, uma pessoa que deixa de votar não pode cobrar nada do governante que está no poder, afinal ela se omitiu do dever de participar do processo de escolha dessa pessoa, e com essa atitude abriu mão também dos seus direitos. Direitos e deveres andam juntos no que tange ao exercício da cidadania. Não se pode conceber um direito sem que antes este seja precedido de um dever a ser cumprido; é uma via de mão dupla, seus direitos aumentam na mesma proporção de seus deveres perante a sociedade. 5 Constitucionalmente, os direitos garantidos, tanto individuais quanto coletivos, sociais ou políticos, são precedidos de responsabilidades que o cidadão deve ter perante a sociedade. Por exemplo, a Constituição garante o direito à propriedade privada, mas exige-se que o proprietário seja responsável pelos tributos que o exercício desse direito gera, como o pagamento do IPTU. Exercer a cidadania por consequência é também ser probo, agir com ética assumindo a responsabilidade que advém de seus deveres enquanto cidadão inserido no convívio social. Crise da ética e sociedade brasileira5 Danilo Marcondes* Tem se tornado um lugar comum entre nós a constatação de que vivemos uma crise da ética. Acontecimentos recentes com denúncias de corrupção nos mais altos escalões do governo, do legislativo e do meio empresarial vêm causando perplexidade pelo alcance e a dimensão de casos que, se de um lado, sempre se suspeitou que ocorressem, por outro lado, nunca se pensou que tivessem essa magnitude e que pudessem causar os prejuízos que concretamente causaram. Que desafios trazem para a sociedade brasileira as consequências desses processos que se tornaram parte de nosso dia? Que podemos fazer diante disso? A pergunta sempre feita é: qual a saída? Um ponto positivo é certamente o aumento da consciência ética do cidadão brasileiro, ou seja, a percepção da importância de uma postura mais ética. Além disso, a certeza da impunidade das elites, muito comum em nosso contexto, em grande parte também caiu por terra. Mas, o que significa uma postura mais ética? Corrupção fere os critérios éticos básicos de honestidade e respeito, de transparência e dignidade. Produz ineficiência, causa dano à sociedade, prejudica a coletividade, significa uma ruptura com a cidadania. A corrupção no serviço público viola um dos princípios mais básicos da ética na política, que remonta à “Alegoria da Caverna” de Platão, a distinção entre o público e o privado. Alguém que exerce cargos públicos e que faz negócios com o governo o faz no “interesse público”, qualquer desvio desse princípio produz falta de credibilidade e perda de legitimidade e de autoridade dos que exercem cargos e funções públicas. Os atenienses condenavam à perda da cidadania, o ostracismo, quem fosse culpado desses desvios. Não os julgavam mais dignos de pertencer àquela comunidade. Pessoas que exercem cargos públicos devem ser capazes de prestar contas à sociedade que os elegeu ou a quem devem representar. É nesse sentido que tem sido diagnosticado que vivemos uma crise de representatividade, que só pode ser superada na medida em que o eleitor seja mais consciente e tenha uma noção mais clara do que significa um mandato político, exatamente como um mecanismo de representação. O amadurecimento ético e político de uma sociedade exige isso para que a cidadania possa ser plenamente exercida. Temos em muitos casos uma classe política isolada da sociedade, dos cidadãos que deveria representar, de seus eleitores. 5 Extraído de: https://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/crise-da-etica-e-sociedade-brasileira/. Acesso em 25.07.18. 6 A filosofia, à qual pertence tradicionalmente a área da ética, nos ensina que uma sociedade não sobrevive e muito menos se desenvolve sem uma consciência mais clara e um maior reconhecimento dos valores que considera fundamentais. Valores consistem exatamente naquilo que a sociedade valoriza, que tem como ideais. Justiça, solidariedade, honestidade, bem-estar são exemplos de valores, admitidamente de caráter muito geral. Mas o caráter geral capta exatamente a ideia que esses valores são contextualizados, históricos e mudam de sociedade para sociedade e dentro de uma mesma sociedade com o tempo. Além disso, em uma sociedade complexa como temos contemporaneamente diferentes grupos podem ter diferentes valores, portanto, a aceitação da diversidade e o respeito mútuo devem ser centrais em uma sociedade, permitindo a convivência, a inclusão, o pluralismo. Mas, valores não são dados, precisam ser construídos, reconhecidos, assumidos, defendidos e, principalmente, postos em prática. Não começamos éticos, a ética não é ponto de partida, mas ponto de chegada. Se não começamos éticos, vivemos crises, dificuldades e impasses, é preciso que enquanto coletividade tenhamos ideais e lutemos para coloca-los em prática. A ética deve nos fornecer, portanto, o que o grande filósofo alemão Immanuel Kant denominou “ideais regulativos”, ou seja, um rumo, uma direção, referências em termos das quais guiamos as nossas ações, pelas quais nos orientamos, mesmo que não as tenhamos atingido. Esse deve ser o sentido de “construção de valores”. Trata-sesempre de um processo e também de um progresso em direção a fins, a ideais que reconhecemos como válidos e pelos quais lutamos. Esse o pressuposto para sairmos de um impasse em direção a uma real transformação na sociedade. Mudanças duradouras não são feitas de imediato, nem sem debate e discussão, exigem aprofundamento e perspectiva a longo prazo. Crises podem abrir esses caminhos difíceis, mas inevitáveis em momentos como o que vivemos. Uma das principais características dessa luta pela ética deve ser a preocupação com uma melhor qualidade de vida não só individual como coletiva, incluindo nossa comunidade e nosso meio ambiente. Se vivemos uma crise da ética no meio político e empresarial, vemos também uma ampliação da discussão sobre ética e a efetiva tomada de medidas que contribuem para esse aperfeiçoamento. Mudanças recentes e posturas inovadoras em campos como Bioética, Ética Ambiental, Ética na Pesquisa, Ética nos Meios de Comunicação, Ética e Igualdade de Gênero e Raça são exemplos disso, de que em muitos aspectos estamos vivendo uma “virada” em direção a conquistas éticas. Embora estejamos ainda muito distantes do que almejamos esses são campos em que surgem novos valores, em que se combatem preconceitos, em que se ampliam direitos e em que a sociedade brasileira efetivamente se transformou e vem dando exemplos de que mudanças em um sentido positivo são possíveis. Temos tido grandes avanços e a sociedade tem se beneficiado disso. Esses são importantes exemplos de boas práticas e de bons resultados que podem servir de modelo para a ética na política e nos negócios, mostrando assim que podemos caminhar na direção de uma sociedade mais ética, desde que efetivamente caminhemos enquanto coletividade. *Danilo Marcondes é professor e coordenador do projeto Ética e Realidade Atual (ERA) do IAG – Escola de Negócios da PUC-Rio
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