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1 PSICOPEDAGOGIA E EDUCAÇÃO ESPECIAL Prof. Esp. Soraia Barbosa Picanço Barreiros PSICOPEDAGOGIA INTERVENÇÃO E AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL 1 2 MACAPÁ – AP 2018 A Intervenção Psicopedagógica A psicopedagogia vem atuando nas diversas instituições, sejam escolas, hospitais e empresas. Seu papel é analisar os fatores que favorecem, intervém ou prejudicam uma boa aprendizagem em uma instituição. Propõe e ajuda o desenvolvimento dos projetos favoráveis a mudanças. "A psicopedagogia é uma nova área de atuação o profissional que tem, ou melhor, busca uma identidade e que requer uma formação de nível interdisciplinar, o que já é sugerido no próprio termo psicopedagogia (BOSSA, 1995, p. 31). Quem é o psicopedagogo institucional? Esta é uma pergunta que surge em torno da profissão que nasce através de uma proposta de trabalho interdisciplinaridade. A interdisciplinaridade para Fazenda (1979, p.25) Não possui um sentido único e estável. Trata- se de um neologismo cuja significado nem sempre é a mesma e cujo papel nem sempre é compreendido da mesma forma”. Também a interdisciplinaridade apresenta-se em uma nova forma de concepção sobre o saber, assim visando a integração e interdependência e comunicação entre as várias áreas do conhecimento, pois tende a buscar a não fragmentação do saber. Hoje, no contexto educacional brasileiro, busca-se a pluralidade e a diversidade nas propostas pedagógicas do ensino fundamental. Para que isso aconteça são necessárias rápidas e ininterruptas mudanças. Neste sentido o objetivo do psicopedagogo é o de conduzir a criança ou adolescente, o adulto ou a instituição a reinserir-se, reciclar-se numa escolaridade normal e saudável, de acordo com as possibilidades e interesses da sociedade que está inserida. O que é intervenção psicopedagógica? A intervenção psicopedagógica tem como principal meta contribuir para que o aprendiz consiga ser um protagonista não só no espaço educacional, mas na vida em geral. Aqui o sentido para a palavra intervenção é: 2 3 Estar presente: não indica necessariamente uma ação, o que leva a pensar em alguém disponível, que aguarda uma solicitação. Estar presente parece indicar uma posição, alguém a quem se pode recorrer e que está inteiro na situação. Assistir: indica ajuda, cuidados, apoio, (SILVIA ANCONA-LOPEZ 1995:200). Silva Ancona-Lopes (1995), toma como base estas palavras e reflete com vocês o sentido da “Intervenção Psicopedagógica”. Parece claro, que intervir é uma ação que predetermina um movimento. Alguém, numa atitude ativa, estabelece uma ligação, um elo com outro alguém e assim, por estar habilitado, produz alguma transformação que abrirá uma cadeia de ações para novas intervenções. A intervenção psicopedagógica, pressupõe essa ligação com o objetivo, ou seja, com o processo de aprendizagem. Se a psicopedagogia propõe que o próprio sujeito seja autor de sua aprendizagem, intervir nesse processo é criar mecanismo que contribua para que, o aprendido, pelo sujeito da aprendizagem lhe possibilite num processo dialético a transformação da realidade, bem como a transformação de si mesmo. Esse conceito de operatividade nos referencia sobre: A ação interventiva do psicopedagogo, propondo a operatividade com a capacidade de agir por si, sem esperar que aquele que coordena dê os passos e as soluções prontas para realização de uma tarefa, mas, que coordene usando o desenvolvimento da autonomia (PICHON-RIVIÉRE, 1988: 128). Para Pichon-Riviére (1988), na instituição educacional o psicopedagogo intervém a partir de ações que se caracterizem por uma atitude operativa, com o objetivo de provocar no sujeito da aprendizagem a busca da operatividade, da resolução de um problema. Ele cria, mantém e fomenta a comunicação, para que os envolvidos possam desenvolve-se progressivamente a ponto de poderem aproximar-se afetivamente da tarefa e realizá-la. E pode-se entender ainda que: Vivenciar a operatividade como aprendiz e também como possibilitador da aprendizagem deveria fazer parte da formação de todos aqueles que ocupam o lugar de educador, sejam eles professores, pedagogos, psicopedagogos ou quaisquer outros profissionais que possua em sua ação com o objetivo de promover a realização o aprender do outro (BARBOSA, 2000: 217). Segundo Barbosa (2000), neste ângulo, a aprendizagem se completa com a relação entre o sujeito, sua história pessoal e a sua modalidade de aprendizagem. Enfatizando os processos didáticos e metodológicos com todos profissionais nela inseridos. 3 4 Bossa (2000) afirma que a psicopedagogia é um campo de conhecimento que se propõe a integrar, de modo coerente, conhecimentos e princípios de diferentes ciências humanas com a meta de adquirir uma ampla compreensão sobre os variados processos inerentes ao aprender humano. Enquanto área de conhecimento multidisciplinar interessa a psicopedagogia compreender como ocorrem os processos de aprendizagem, e entender as possíveis dificuldades, situadas neste movimento. Para tal, faz uso da integração e síntese de vários campos do conhecimento, tais como Psicologia, Psicanálise, Filosofia, Psicologia Transpessoal, Pedagogia, Neurologia, e outros. Ao psicopedagogo cabe o papel fundamental de ser mediador nos processos de transmissão e apropriação dos conhecimentos. Para Andrade (2002) a psicopedagogia desde suas origens mostrou-se uma área de atuação integrativa, abarcando conhecimentos de diferentes áreas de modo a desenvolver um corpo teórico próprio sobre os problemas na aprendizagem humana. Daí que, ao atuar com especialistas em integração do sujeito humano, na medida em que oportuniza o equilíbrio de suas características se está organizando a relação da aprendizagem dos educandos. Em escolas e/ou em instituições não escolares, como empresas, hospitais, ONG’s e ambientes afins, promovendo processos de aprendizagens, na tentativa de ajudar àqueles que possuem algum tipo de dificuldades para aprender uma nova tarefa, ou mesmo, se adaptarem a outras, quando sua função é alterada. Em clínicas e/ou em consultórios particulares, investigando e promovendo as possibilidades de mudanças sobre os processos cognitivos, emocionais e pedagógicos que porventura possam estar travando a aprendizagem de seus pacientes, individualmente. Na medida em que trata dos processos diagnosticados, também previne seus os pacientes de sofrerem outras dificuldades pessoais decorrentes de tais transtornos de aprendizagem. Como ocorre a intervenção psicopedagógica? A intervenção do psicopedagogo pode se dar de duas formas: De forma preventiva, a qual detecta as dificuldades e promove sugestões metodológicas, orientação vocacional, educacional e ocupacional ou de forma terapêutica. Seja em escolas, identificando alunos com dificuldades ou em hospitais, elaborando diagnósticos das pessoas internadas. Também podetrabalhar em centros comunitários, em consultórios ou orientando pessoas quanto ao processo de aprendizagem. Ademais, áreas como treinamento, educação continuada e acompanhamento de pessoas com deficiência, aumentaram a demanda de psicopedagogo no meio empresarial. Em contrapartida, numa linha terapêutica 4 5 a função é tratar a dificuldade de aprendizagem, diagnosticando e desenvolvendo técnicas remediativas. A partir do estudo da origem da dificuldade em aprender, o psicopedagogo desenvolve atividades que estimulam as funções cognitivas que não estão ativadas no paciente e a questão afetiva e social. O psicopedagogo contribui para a construção da autonomia e independência, através da relação com “como eu aprendo” e “como me relaciono com o saber”. Durante as sessões com o psicopedagogo, os recursos como jogos, livros e computador, tem a finalidade de descobrir os estilos de aprendizagem do paciente: ritmos, hábitos adquiridos, motivações, ansiedades, defesas e conflitos em relação ao aprender. O psicopedagogo tem a função de auxiliar o indivíduo que não aprende a se encontrar nesse processo, além de ajudá-lo a desenvolver habilidades para isso. Quando existe a dificuldade para articular o “eu” e o “outro”, significa falta de autonomia para a aprendizagem, acontece uma discrepância entre o corpo, o pensamento e a emoção. No caso de o indivíduo não ter facilidade de interação ou ter a sensação de estar sendo ameaçado quando está em grupo, necessita-se da intervenção do psicopedagogo. Quando a pessoa se sente excluída, precisa de uma equipe estruturada para ajudá-lo com as questões cognitivas, sócioafetivas e com a autoconfiança. Sequência das queixas, segundo Weiss (2012)... “ a clínica psicopedagógica possui uma sequência, um caminho mais ou menos constante perpassando diversas queixas escolares e familiares, quanto à baixa produção escolar e/ou a dificuldade de aprendizagem escolar”: 1. Grande exigência familiar e/ou escolar em exercícios, provas, jogos livres, atividades esportivas, etc. 2. Impossibilidade de responder à altura do que o próprio aluno espera em relação aquilo que acha que realmente pode produzir, responder, vencer – envolve a questão da autoestima, autoconceito. 3. Ansiedade causada pela frustração de não conseguir o que acha que pode, que sabe – ansiedade agravada pela baixa resistência à frustração; 4. Aumento gradativo da ansiedade – envolve o fato de pais e professores não perceberem o que está acontecendo no início do processo; 5. Nível de ansiedade insuportável; 6. Autodefesa em relação a essa grande ansiedade, gerando uma “fuga “da situação ameaçadora pela diminuição do foco de atenção, dispersão, fantasias variadas, agitação, acarretando a saída do próprio lugar ou da aula, mexida com os colegas mais próximos e outros mecanismos de defesa. 5 6 Diagnóstico Psicopedagógico... A compreensão da singularidade da criança é que possibilitará a pais e professores a reflexão sobre como estão agindo com ele, como é importante permanecer com certas condutas que dão certo e mudar totalmente outras que agravam a situação. Pergunta central do Diagnóstico Psicopedagógico ⋅ Pais- Como resolver/eliminar/tratar o problema de aprendizagem do meu filho? ⋅ Psicopedagogo- Por que o sujeito sofre desse problema de aprendizagem? A função fundamental do diagnóstico ⋅ Identificar as causas da dificuldade de aprendizagem em cada caso clínico. ⋅ Identificar os encaminhamentos interventivos mais pertinentes para a resolução da dificuldade de aprendizagem. Objetivo Básico do Diagnóstico Psicopedagógico O objetivo básico do diagnóstico psicopedagógico é identificar os desvios e os obstáculos básicos, no Modelo de Aprendizagem da pessoa, que a impedem de crescer na aprendizagem no nível esperado pelo meio social. Modelo de Aprendizagem Conjunto dinâmico que estrutura os conhecimentos que a pessoa possui, os estilos usados nessa aprendizagem, o ritmo, as áreas de expressão da conduta, a mobilidade e o funcionamento cognitivo, as modalidades de aprendizagem assimilativa e acomodativa e suas distorções. Aprendizagem... Um processo de construção que se dá na interação permanente do sujeito com o meio que o cerca. Meio esse expresso inicialmente pela família, depois pelo acréscimo da escola, ambos permeados pela sociedade em que estão. “Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou a sua construção. Quem ensina, aprende ao ensinar e quem aprende, ensina ao aprender.” Paulo Freire 6 7 Dificuldades de Aprendizagem... As dificuldades de aprendizagem são decorrentes de alterações estruturais, mentais, emocionais ou neurológicas que repercutem nos processos de aquisição, construção e desenvolvimento das funções cognitivas. O fracasso escolar... Resposta insuficiente do aluno a uma exigência ou demanda da escola. Essa questão deve ser analisada e estudada por diferentes perspectivas: a da sociedade, a da escola e a do aluno. Pontuando... O fracasso escolar deve ser levado em conta, não literalmente como fracasso, mas como desafio e ser enfrentado; ao se trabalhar este fracasso, trabalhasse respectivamente as dificuldades inerentes e existentes na vida, dando oportunidade à pessoa de ser independente e de se reconstruir. x A aprendizagem não deve ser imposta, e sim, mediada. ⋅ É necessário levar em conta os efeitos emocionais que o fracasso escolar acarreta. Neste sentido, se faz necessário para a pessoa, um suporte humano e apoiador. ⋅ Deve-se reconhecer que o fracasso escolar faz parte de um sistema. ⋅ Só conseguiremos mediar o fracasso na escola, quando fizermos da aprendizagem um processo significativo, no qual o conhecimento a ser aprendido e apreendido, faça algum sentido para o aluno, não somente para sua existência educacional como também na sua vida cotidiana. ⋅ É consensual a necessidade de se identificar e prevenir o mais precocemente possível, a dificuldade de desenvolvimento cognitivo de uma pessoa, de preferência, ainda na pré-escola. Fracasso Escolar É causado por uma conjugação de fatores interligados que impedem o bom desempenho do aluno. 7 8 Pichon-Rivière... Contribui para a compreensão das dificuldades de aprendizagem resultantes de ansiedades vividas pelo estudante no momento em que se vê colocado em situação de aprendizagem nova . ⋅ Medo à perda – teme perder o equilíbrio emocional obtido com a segurança que possui no domínio dos conhecimentos anteriores, já integrados; ⋅ Medo ao ataque – surge quando não se sente devidamente instrumentado na situação nova que está vivendo. Complementa o conceito desses dois (02) “medos” propondo a análise de três (03) momentos sequenciais: ✓ 1º momento confusional Todo início, desarrumação; ✓ 2º momento de discriminação Separação e procura dos lugares dentro dos conhecimentos já integrados anteriormente para colocar e relacionar o novo conhecimento; ✓ 3º momento de integração Integraçãodo novo conhecimento a tudo o que o sujeito já sabe, a tudo que realmente já aprendeu; Diagnóstico e Intervenção 8 9 Embora o diagnóstico não seja a intervenção propriamente dita, ele tem um efeito interventivo na medida em que influi sobre as dinâmicas de vida do sujeito e da família. Considerações iniciais quanto aos termos ✓ Diagnóstico Psicopedagógico: forte conotação médico - psicológica, centrada na classificação de doenças e no seu tratamento visando à cura. ✓ Devido a essa conotação, muitos autores têm preferido adotar a expressão “avaliação psicopedagógica”. ✓ Deslocamento do enfoque médico para o enfoque educacional. Quando falamos de diagnóstico, referimo-nos a uma atividade limitada à busca de patologias nos indivíduos como causa explicativa de seus desajustes ou dificuldades e, portanto, relacionada com um modelo médico-explicativo de conduta. Se falamos de avaliação, referimo-nos a um tipo de informação muito mais ampla sobre a pessoa, que não fica centrado exclusivamente no indivíduo, mas também no seu ambiente e na interação entre ambos, e que não utiliza como procedimento principal e quase único os testes psicológicos ou a avaliação clínica (SOLÉ, 2001, P.188). AS DUAS DIMENSÕES DO DIAGNÓSTICO 9 10 Dimensão técnica – aspectos gerais ✓ Todo diagnóstico psicopedagógico é, em si, uma investigação, uma pesquisa do que não vai bem como o sujeito em relação ao processo de aprendizagem. Trata-se, portanto, de esclarecer uma queixa.A queixa pode ser formulada: pelo próprio sujeito, pela família, pela escola, por outros profissionais que atendem o sujeito. 10 11 ✓ Podem existir semelhanças e diferenças na formulação da queixa. Isto deve ser levado em conta pelo psicopedagogo que deve delimitá-la com clareza. Dimensão clínica – aspectos gerais ✓ No manejo da relação clínica entre psicopedagogo e sujeito, deve-se levar em consideração: ✓ A especificidade da clínica da criança, do adolescente e do adulto; ✓ A escuta psicopedagógica; ✓ A dimensão do sintoma; ✓ A transferência e a contratransferência; ✓ O desejo de aprender. Aspectos básicos de investigação ✓ Aspectos Orgânicos ✓ Aspectos Cognitivos ✓ Aspectos Emocionais ✓ Aspectos Sociais ✓ Aspectos Pedagógicos Todo Diagnóstico Psicopedagógico é, em si, uma investigação, uma pesquisa do que não vai bem com a pessoa em relação a uma conduta. Portanto é o esclarecimento de uma queixa, do próprio sujeito, da família e na maioria das vezes, da escola. 11 12 E por falar em queixa... No Aurélio a compreensão sobre esse termo corresponde: ● Ato ou efeito de queixar-se; ● Motivo de desprazer, de ressentimento, de mágoas de ofensas, de dor... ● Reclamação, protesto; ● Sintoma relatado pelo doente. ● A queixa é o primeiro passo para o diagnóstico psicopedagógico. Escuta... A escuta de uma queixa requer uma postura responsável, porém descontraída, sem demonstrar surpresa, temor, repulsa ou qualquer outra emoção relacionada à história que está sendo contada. Ao analisar a queixa, segue-se com a formulação de hipóteses denominadas essenciais. Assim o Pp faz algumas suposições da causa do problema para poder traçar um plano investigativo o mais apurado possível que possibilite anunciar com segurança o diagnóstico clínico. 12 13 Queixa APRENDIZAGEM COMPORTAMENTO ✓ NÃO APRENDER ✓ APRENDER COM DIFICULDADE ✓ APRENDER COM LENTIDÃO ✓ NÃO REVELAR O QUE APRENDEU ✓ FUGIR EM SITUAÇÕES DE APRENDIZAGEM ✓ ENTRE OUTROS. ✓ AGITAÇÃO ✓ AGRESSIVIDADE ✓ IMPULSIVIDADE ✓ DESINTERESSE ✓ APATIA ✓ TIMIDEZ ✓ FOBIA SOCIAL ✓ ENTRE OUTRAS. ASPECTOS BÁSICOS DE INVESTIGAÇÃO ✓ Sempre “diz alguma coisa”; se comunica e sempre se pode dizer algo; ✓ É o que emerge da personalidade em interação com o sistema social em que a pessoa está inserida; ✓ Refere-se a certo tipo de desvio; ✓ Parâmetros que vão definir a qualidade e a quantidade do desvio e sua importância no desenvolvimento da escolaridade. ASPECTOS BÁSICOS DE INVESTIGAÇÃO PARÂMETROS 13 14 AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA A avaliação psicopedagógica é um dos componentes críticos da intervenção psicopedagógica, pois nela se fundamenta as decisões voltadas à prevenção e solução das possíveis dificuldades dos alunos, promovendo melhores condições para o seu desenvolvimento. Ela é processo compartilhado de coleta e análise de informações relevantes acerca dos vários elementos que intervêm no processo de ensino e aprendizagem, visando identificar as necessidades educativas de determinados alunos ou alunas que apresentem dificuldades em seu desenvolvimento pessoal ou desajustes com respeito ao currículo escolar por causas diversas, e a fundamentar as decisões a respeito da proposta curricular e do tipo de suportes necessários para avançar no desenvolvimento das várias capacidades e para o desenvolvimento da instituição (COLL; MARCHESI; PALACIOS, 2007, p. 279). a) a identificação dos principais fatores responsáveis pelas dificuldades da criança. Precisamos determinar se trata-se de um distúrbio de aprendizagem ou de uma dificuldade provocada por outros fatores (emocionais, cognitivos, sociais...). Isto requerer que sejam coletados dados referentes à natureza da dificuldade apresentada pela criança, bem como que se investigue a existência de quadros neuropsiquiátricos, condições familiares, ambiente escolar e oportunidades de estimulação oferecidas pelo meio a que a criança pertence; b) o levantamento do repertório infantil relativo as habilidades acadêmicas e cognitivas relevantes para a dificuldade de aprendizagem apresentada, o que inclui: conhecimento, pelo profissional, do conteúdo acadêmico e da proposta pedagógica, à qual a criança está submetida; investigação de repertórios relevantes para a aprendizagem, como a atenção, hábitos de estudos, solução de problemas, desenvolvimento psicomotor, linguístico, etc.; avaliação de pré-requisitos e/ou condições que facilitem a aprendizagem dos conteúdos; 14 15 identificação de padrões de raciocínio utilizados pela criança ao abordar situações e tarefas acadêmicas, bem como déficits e preferências nas modalidades percentuais etc; c) a identificação de características emocionais da criança, estímulos e esquemas de reforçamento aos quais responde e sua interação com as exigências escolares propriamente ditas. Ela deve ser um processo dinâmico, pois é nela que são tomadas decisões sobre a necessidade ou não de intervenção psicopedagógica. Ela é a investigação do processo de aprendizagem do indivíduo visando entender a origem da dificuldade e/ou distúrbio apresentado. Inclui entrevista inicial com os pais ou responsáveis pela criança, análise do material escolar, aplicação de diferentes modalidades de atividades e uso de testes para avaliação do desenvolvimento, áreas de competência e dificuldades apresentadas. Durante a avaliação podem ser realizadas atividades matemáticas,provas de avaliação do nível de pensamento e outras funções cognitivas, leitura, escrita, desenhos e jogos. Inicialmente, deve-se perceber, na consulta inicial, que a queixa apontada pelos pais como motivo do encaminhamento para avaliação, muitas vezes pode não só descrever o “sintoma”, mas também traz consigo indícios que indicam o caminho para início da investigação. “A versão que os pais transmitem sobre a problemática e principalmente a forma de descrever o sintoma, dão-nos importantes chaves para nos aproximarmos do significado que a dificuldade de aprender tem na família” (FERNÁNDEZ, 1991, p. 144). Segundo Coll e Martín (2006), avaliar as aprendizagens de um aluno equivale a especificar até que ponto ele desenvolveu determinadas capacidades contempladas nos objetivos gerais da etapa. Para que o aluno possa atribuir sentido às novas aprendizagens propostas, é necessária a identificação de seus conhecimentos prévios, finalidade a que se orienta a avaliação das competências curriculares. Dentre os instrumentos de avaliação também podemos destacar: escrita livre e dirigida, visando avaliar a grafia, ortografia e produção textual (forma e conteúdo); leitura (decodificação e compreensão); provas de avaliação do nível de pensamento e outras funções cognitivas; cálculos; jogos simbólicos e jogos com regras; desenho e análise do grafismo. Conforme Coll; Marchesi; Palacios (2007), a avaliação psicopedagógica irá fornecer informações importantes em relação as necessidades dos seus alunos, bem como de seu contexto escolar, familiar e social, e ainda irá justificar se há ou não necessidade de introduzir mudanças na oferta educacional. 15 16 Depois de coletadas informações que considera importante para a avaliação, o psicopedagogo irá intervir visando à solução de problemas de aprendizagem em seus devidos espaços, uma vez que a avaliação visa reorganizar a vida escolar e doméstica da criança e, somente neste foco ela deve ser encaminhada, vale dizer que fica vazio o pedido de avaliação apenas para justificar um processo que está descomprometido com o aluno e com a sua aprendizagem. “De fato, se pensarmos em termos bem objetivos, a avaliação nada mais é do que localizar necessidades e se comprometer com sua superação” (VASCONCELOS, 2002, p. 83). Início do Diagnóstico Psicopedagógico INÍCIO DO DIAGNÓSTICO PSICOPEDAGÓGICO EIXO HORIZONTAL ✓ Entrevista Familiar Exploratória Situacional – EFES; ✓ Entrevista com toda a família, incluindo o sujeito e os irmãos; ✓ Entrevista Operativa Centrada na Aprendizagem - EOCA; ✓ Sessões Lúdicas Centradas na Aprendizagem; ✓ Provas e testes diversos; ✓ Diagnóstico operatório; ✓ Entrevistas com a equipe da escola e com outros profissionais; ✓ Análise da produção do sujeito fora do setting (provas, desenhos, material escolar...) ✓ Anamnese (realizada com a mãe); ✓ Análise documental (laudos, relatórios escolares, álbuns fotográficos...) 16 17 Diagnóstico Psicopedagógico... Outros aspectos importantes: ✓ Flexibilidade Procedimental ✓ Cada pessoa, em exame/em análise, representa um caminho que deve ser descoberto e respeitado pelo psicopedagogo. Sucesso ✓ Reside na competência e sensibilidade do psicopedagogo em explorar a multiplicidade de aspectos revelados em cada situação e não no grande número de instrumentos utilizados. Etapas da Sequência Diagnóstica Quando o psicopedagogo consegue chegar ao esboço do Modelo de Aprendizagem da pessoa, ele já atingiu um nível de integração dos dados obtidos, que lhe permite refletir e expor hipóteses sobre a causalidade do problema de aprendizagem e/ou fracasso escolar. Etapas da Sequência Diagnóstica Sintetizando... É fundamental, durante a explicitação da queixa, iniciar a reflexão sobre as duas vertentes de problemas escolares: a pessoa e sua família e a própria 17 18 escola em suas múltiplas facetas, para definir a sequência diagnóstica mais adequada bem como as técnicas a serem utilizadas. Sequência Diagnóstica 1. Sequência Weiss ✓ Entrevista Familiar Exploratória Situacional – EFES; ✓ Anamnese; ✓ Sessões Lúdicas Centradas na Aprendizagem; ✓ Complementação com provas e testes diversos (quando for necessário); ✓ Síntese Diagnóstica - Prognóstico ✓ Entrevista de devolução; ✓ Encaminhamento. ✓ Modificações comuns de acontecer: ✓ Com pais separados e incompatibilizados:02 anamneses; ✓ Adolescentes que desejam o primeiro contato sozinhos; Sequência Diagnóstica 2. Sequência Tradicional ⋅ Anamnese; ⋅ Testagem e provas pedagógicas; ⋅ Laudo (síntese das conclusões e prognóstico); ⋅ Devolução (verbalização do laudo) ao sujeito e/ou aos pais. Sequência Diagnóstica 3. Sequência Jorge Visca ⋅ Entrevista Operativa Centrada na Aprendizagem (EOCA) ✓ Levantamento do primeiro sistema de hipóteses com definição de linhas de investigação e escolha de instrumentos. ⋅ Testes ✓ Levantamento do segundo sistema de hipóteses com definição de linhas de investigação. ⋅ Anamnese ✓ Levantamento do segundo sistema de hipóteses com definição de linhas de investigação. ⋅ Elaboração de informe psicopedagógico ✓ Elaboração de uma imagem da pessoa que articula a aprendizagem com os aspectos energéticos e estruturais; formulação escrita de uma hipótese a comprovar. ⋅ Devolução aos pais e/ou paciente 18 19 ✓ E em momento posterior, devolver, de forma restrita, o que for de interesse da escola. ✓ Modificações comuns de acontecer: ✓ Pacientes que não aceitam sessões diagnósticas formais – avalia-se ao longo do próprio processo terapêutico; ✓ Caso seja criança – ludodiagnóstico centradas na aprendizagem, objetivando concomitantemente aspectos afetivo-sociais, cognitivos, corporais e pedagógicos; ✓ Pontua-se: não há fronteiras formais entre diagnóstico e tratamento/intervenção, como analisamos. A separação é operacional. Organização dos Dados O desafio... ⋅ Essa organização só é possível mediante a amálgama das teorias que fundamentam a Psicopedagogia; ⋅ Proceder à amarração dos dados numa rede de sentido, de unidade, de integração que nos permita uma Gestalt, uma compreensão global sobre a forma de aprender do sujeito; ⋅ Essa compreensão global sobre a forma de aprender do sujeito não é uma verdade pronta e acabada. É, antes, uma hipótese diagnóstica sempre provisória. Entrevista Familiar Exploratória Situacional A E.F.E.S, como primeira entrevista, visa a compreensão da queixa nas dimensões da escola e da família, a captação das relações e expectativas familiares centradas na aprendizagem escolar, a expectativa em relação à atuação do terapeuta, a aceitação e o engajamento do paciente e de seus pais no processo diagnóstico, a realização do contrato e do enquadramento e o esclarecimento do que é um diagnóstico psicopedagógico. Entrevista Familiar Exploratória Situacional 19 20 5-Se há fantasias de saúde ou de doenças no grupo em que estejam misturadas com a queixa; 6- Qual é o nível deansiedade expresso por meio de dados como: pedido de urgência e solicitação de uma frequência excessiva de sessões ou de horários inadequados; 7- Qual o conhecimento que o paciente tem do motivo do diagnóstico e como lhe foi explicado a ida até ao consultório. 20 21 O que é Anamnese? O termo anamnese vem do grego Anámnesis, onde o prefixo “aná” quer dizer “trazer de novo” e “mnesis” quer dizer “memória”, ou seja, proceder a anamnese é “trazer de novo à memória” importantes e focais informações sobre o histórico de vida do sujeito. Invasiva, pois “revira” a pessoa do avesso e mexe muito com as emoções e sentimentos; por isso, deve ser realizada com muito zelo e perícia. Possibilita dimensionar passado, presente e futuro do sujeito. Como a E.F.E.S, a anamnese também é uma entrevista, com foco mais específico, visando colher dados significativos sobre a história do sujeito, integrando passado, presente e projeções para o futuro, permitindo perceber a inserção deste na sua família e a influências das gerações passadas neste núcleo e no próprio. Na anamnese, são levantados dados das primeiras aprendizagens, evolução geral do sujeito, história clínica, história da família nuclear, história das famílias materna e paterna e história escolar. A anamnese que vai proporcionar dados relevantes na investigação de dificuldades de aprendizagem e comportamento deve ter a seguinte estrutura: ⋅ Queixa principal; ⋅ História do desempenho escolar; ⋅ História familiar; ⋅ Hábitos diários; ⋅ Vida familiar, antecedentes maternos; ⋅ Antecedentes gestacionais; ⋅ Parto, período neonatal; 21 22 ⋅ Desenvolvimento neuropsicomotor; ⋅ Interações sociais. Entrevista Operativa Centrada na Aprendizagem A Entrevista Operativa Centrada na Aprendizagem (EOCA) é um instrumento inspirado na psicologia social de Pichon-Rivière, nos postulados da psicanálise e no método clínico da escola de Genebra foi idealizado por Jorge Visca e é um instrumento de uso simples porém rico em seus resultados. A EOCA consiste em solicitar ao sujeito que mostre ao psicopedagogo, o que ele sabe fazer, o que lhe ensinaram a fazer e o que aprendeu a fazer, utilizando-se de materiais dispostos sobre a mesa. As propostas a serem feitas na E.O.C.A, assim como o material a ser usado, vão variar de acordo com a idade e a escolaridade do sujeito. O material comumente usado para criança é composto numa caixa a onde o paciente encontrará vários objetos, sendo alguns deles relacionados à aprendizagem, tais como, cola, tesoura, papel sulfite branco e colorido, papel crepom e seda, coleção, cola colorida, livros de leituras, revistas para recorte e colagem e diversos outros materiais. O objetivo da caixa é dar ao paciente a oportunidade de explorá-la enquanto o psicopedagogo o observa, nesse momento serão observados alguns aspectos da criança como: a sua reação, organização, apropriação, imaginação, criatividade, preparação, regras utilizadas, etc. De um modo geral, usam-se propostas do tipo: “Gostaria que você me mostrasse o que sabe fazer, o que lhe ensinaram e o que você aprendeu”, “Esse material é para que você o use como quiser”, “Você já me mostrou como lê e desenha, agora eu gostaria que você me mostrasse outra coisa”. Durante a realização da sessão, é necessário observar três aspectos: ⋅ A temática, que envolverá o significado do conteúdo das atividades em seu aspecto manifesto e late ⋅ A dinâmica, que é expressa através da postura corporal, gestos, tom de voz, modo de sentar, e manipular os objetos etc.; ⋅ O produto feito pelo paciente, que será a escrita, o desenho, as contas, a leitura etc., permitindo assim uma primeira avaliação do nível pedagógico. A partir da análise desses três aspectos, o autor propõe que se trace o primeiro sistema de hipóteses para continuação do diagnóstico. Sessões lúdicas centradas na aprendizagem As sessões lúdicas centradas na aprendizagem são fundamentais para a compreensão dos processos cognitivos, afetivos e sociais, e sua relação com o Modelo de Aprendizagem do sujeito. A estrutura intelectual busca um 22 23 equilíbrio para estruturar a realidade e sistematizá-la através de dois movimentos que Piaget definiu como assimilação e acomodação. A aprendizagem é um processo que implica a Modalidade de Inteligência, um organismo, o desejo, articulados em um determinado equilíbrio. Analisando a Modalidade de Inteligência em operação, podemos levantar hipóteses, testar e tirar conclusões sobre a Modalidade de Aprendizagem do sujeito. A atividade lúdica fornece informações sobre os esquemas do sujeito, como organizam e integram o conhecimento em um nível representativo. A observação desses esquemas pode levar à percepção de desequilíbrios entre as atividades assimilativas e acomodativa, apontando para obstáculos no processo de aprendizagem. O desequilíbrio das atividades assimilativas e acomodativa dão lugar nos processos representativos a extremos que podem ser caracterizados como hiperassimilação, hiperacomodação.O que nos interessa chegar a compreender neste ponto é a oportunidade que a criança teve para investigar (aplicar seus esquemas precoces) e para modificar-se (por transformação dos seus esquemas), com implicações posteriores dessas atividades no jogo e na imitação, o que leva à constituição de símbolos e imagens. É no processo lúdico que a criança constrói seu espaço de experimentação, de transição entre o mundo interno e externo. Por este motivo, torna-se tão importante no trabalho psicopedagógico. A avaliação pedagógica pode ocorrer em situações criadas nas sessões lúdicas, observando-se nas brincadeiras como o sujeito faz uso dos conhecimentos adquiridos em diferentes situações escolares e sociais e como os usa no processo de assimilação de novos conhecimentos. Winnicott (1975, p.80) expressa assim sua opinião entre o brincar e a auto descoberta: “É no brincar, e somente no brincar, que o indivíduo, criança ou adulto, pode ser criativo e utilizar sua personalidade integral: e é somente sendo criativo que o indivíduo descobre o eu”. Neste tipo de sessão, observa-se a conduta do sujeito como um todo, devendo-se ter como postulado que sempre estarão implicados o seu funcionamento cognitivo e suas emoções ligadas ao significado dos conteúdos e ações. O BRINCAR COMO PROCESSO DE INTERVENÇÃO Brincar é uma importante forma de comunicação, é por meio deste ato que a criança pode reproduzir o seu cotidiano, num mundo de fantasia e imaginação. O ato de brincar possibilita o processo de aprendizagem da 23 24 criança, pois facilita a construção da reflexão, da autonomia e da criatividade, estabelecendo, desta forma, uma relação estreita entre jogo e aprendizagem. Para definir a brincadeira infantil, ressaltamos a importância do brincar para o desenvolvimento integral do ser humano nos aspectos físico, social, cultural, afetivo, emocional e cognitivo. Para tanto, se faz necessárioconscientizar os pais, educadores e sociedade em geral sobre à ludicidade que deve estar sendo vivenciada na infância, ou seja, de que o brincar faz parte de uma aprendizagem prazerosa não sendo somente lazer, mas sim, um ato de aprendizagem, e ainda a importância desta ludicidade nas intervenções e prevenções de problemas de aprendizagem na visão da psicopedagogia. Neste contexto, o brincar na educação infantil proporciona a criança estabelecer regras constituídas por si e em grupo, contribuindo na integração do indivíduo na sociedade. Deste modo, à criança estará resolvendo conflitos e hipóteses de conhecimento e, ao mesmo tempo, desenvolvendo a capacidade de compreender pontos de vista diferentes, de fazer-se entender e de demonstrar sua opinião em relação aos outros, e ainda e nesse ato que podemos diagnosticar e prevenir futuros problemas de aprendizagem infantil. É importante perceber e incentivar a capacidade criadora das crianças, pois está se constitui numa das formas de relacionamento e recriação do mundo, na perspectiva da lógica infantil. 2 DEFINIÇÕES SOBRE O ATO DE BRINCAR Ao longo da história da humanidade, foram inúmeros os autores que se interessaram, direta ou indiretamente, pela questão do brincar, do jogo, do brinquedo e da brincadeira. Brincar, segundo o dicionário Ferreira (2003), é “divertir-se, recrear-se, entreter-se, distrair-se, folgar”, também pode ser “entreter-se com jogos infantis”, ou seja, brincar é algo muito presente nas nossas vidas, ou pelo menos deveria ser. Do ponto de vista de Oliveira (2000) o brincar não significa apenas recrear, mas sim desenvolver-se integralmente. Caracterizando-se como uma das formas mais complexas que a criança tem de comunicar-se consigo mesma e com o mundo, ou seja, o desenvolvimento acontece através de trocas recíprocas que se estabelecem durante toda sua vida. Todavia, através do brincar a criança pode desenvolver capacidades importantes como a atenção, a memória, a imitação, a imaginação, ainda propiciando à criança o 24 25 desenvolvimento de áreas da personalidade como afetividade, motricidade, inteligência, sociabilidade e criatividade. O jogo pelo ponto de vista educacional, segundo Antunes (2003) significa divertimento, brincadeira, passatempo, pois em nossa cultura o termo jogo é confundido com competição. Ainda o autor relata que os jogos infantis podem até incluir uma ou outra competição, mas visando sempre a estimular o crescimento e aprendizagem com relação interpessoal, entre duas ou mais pessoas realizadas através de determinadas regras, ainda que jogo seja uma brincadeira que envolve regras. Para Kishimoto (2002) o brinquedo é diferente do jogo. Brinquedo é uma ligação intima com a criança, na ausência de um sistema de regras que organizam sua utilização. Ainda segundo o dicionário Ferreira (2003) brinquedo é “objeto destinado a divertir uma criança, suporte da brincadeira”, sendo assim ele estimula a representação e a expressão de imagens que evocam aspectos da realidade. Vygotsky (1998) relata sobre o papel do brinquedo, sendo um suporte da brincadeira e ainda o brinquedo tendo uma grande influência no desenvolvimento da criança, pois o brinquedo promove uma situação de transição entre a ação da criança com objeto concreto e suas ações com significados, assim veremos ao longo do artigo. Ainda segundo Kishimoto (2002, p. 21) relata que “O vocábulo brinquedo não pode ser reduzido a pluralidade de sentidos do jogo, pois conota criança e tem dimensão material, cultural e técnica.” O objeto brinquedo é um suporte da brincadeira, é a ação que a criança desempenha ao brincar. Assim podemos concluir que brinquedo e brincadeira esta relacionada diretamente com a criança/sujeito e não se confundem com o jogo em si. 2.1 O PAPEL DO BRINCAR NO DESENVOLVIMENTO INFANTIL Vygotsky (1998) acentua o papel ao ato de brincar na constituição do pensamento infantil, pois é brincando, jogando, que a criança revela seu estado cognitivo, visual, auditivo, tátil, motor, seu modo de aprender e entrar em uma relação cognitiva com o mundo de eventos, pessoas, coisas e símbolos. Ainda podemos dizer que o ato de brincar acontece em determinados momentos do cotidiano infantil, neste contexto, Oliveira (2000) aponta o ato de brincar, como sendo um processo de humanização, no qual a criança aprende a conciliar a brincadeira de forma efetiva, criando vínculos mais duradouros. Assim, as crianças desenvolvem sua capacidade de raciocinar, de julgar, de argumentar, 25 26 de como chegar a um consenso, reconhecendo o quanto isto é importante para dar início à atividade em si. O brincar se torna importante no desenvolvimento da criança de maneira que as brincadeiras e jogos que vão surgindo gradativamente na vida da criança desde os mais funcionais até os de regras. Estes são elementos elaborados que proporcionarão experiências, possibilitando a conquista e a formação da sua identidade. Como podemos perceber, os brinquedos e as brincadeiras são fontes inesgotáveis de interação lúdica e afetiva. Para uma aprendizagem eficaz é preciso que o aluno construa o conhecimento, assimile os conteúdos. E o jogo é um excelente recurso para facilitar a aprendizagem, neste sentido, Carvalho (1992 p. 28) afirma que: “[…] o ensino absorvido de maneira lúdica, passa a adquirir um aspecto significativo e afetivo no curso do desenvolvimento da inteligência da criança, já que ela se modifica de ato puramente transmissor a ato transformador em ludicidade, denotando-se, portanto em jogo”. As ações com o jogo devem ser criadas e recriadas, para que sejam sempre uma nova descoberta e sempre se transformem em um novo jogo, em uma nova forma de jogar. Quando a criança brinca, sem saber fornece várias informações ao seu respeito, no entanto, o brincar pode ser útil para estimular seu desenvolvimento integral, tanto no ambiente familiar, quanto no ambiente escolar. É brincando que a criança aprende a respeitar regras, a ampliar o seu relacionamento social e a respeitar a si mesmo e ao outro. Por meio do universo lúdico que a criança começa a expressar-se com maior facilidade, ouvir, respeitar e discordar de opiniões, exercendo sua liderança, e sendo liderados e compartilhando sua alegria de brincar. Em contrapartida, em um ambiente sério e sem motivações, os educandos acabam evitando expressar seus pensamentos e sentimentos e realizar qualquer outra atitude com medo de serem constrangidos. Zanluchi (2005, p. 91) afirma que “A criança brinca daquilo que vive; extrai sua imaginação lúdica de seu dia-a-dia”, portanto, as crianças, tendo a oportunidade de brincar, estarão mais preparadas emocionalmente para controlar suas atitudes e emoções dentro do contexto social, obtendo assim melhores resultados gerais no desenrolar da sua vida. Vygotsky (1998) toma como ponto de partida a existência de uma relação entre um determinado nível de desenvolvimentoe a capacidade potencial de aprendizagem. Defende a ideia de que, para verificar o nível de desenvolvimento da criança, temos que determinar pelo menos, dois níveis de desenvolvimento. O primeiro deles seria o nível de desenvolvimento efetivo, que se faz através dos testes que estabelecem a idade mental, isto é, aqueles 26 27 que a criança é capaz de realizar por si mesma, já o segundo deles se constituiria na área de desenvolvimento potencial, que se refere a tudo aquilo que a criança é capaz de fazer com a ajuda dos demais, seja por imitação, demonstração, entre outros. Assim, significa que a criança pode fazer hoje com a ajuda dos adultos ou dos iguais certamente fará amanhã sozinha. Para Vygotsky, citado por Baquero (1998), a brincadeira, o jogo são atividades específicas da infância, na quais a criança recria a realidade usando sistemas simbólicos, sendo uma atividade com contexto cultural e social. O autor relata sobre a zona de desenvolvimento proximal que é a distância entre o nível atual de desenvolvimento, determinado pela capacidade de resolver, independentemente, um problema, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da resolução de um problema, sob a orientação de um adulto, ou de um companheiro mais capaz. Na visão de Vygotsky (1998) o jogo simbólico é como uma atividade típica da infância e essencial ao desenvolvimento infantil, ocorrendo a partir da aquisição da representação simbólica, impulsionada pela imitação. Desta maneira, o jogo pode ser considerado uma atividade muito importante, pois através dele a criança cria uma zona de desenvolvimento proximal, com funções que ainda não amadureceram, mas que se encontra em processo de maturação, ou seja, o que a criança irá alcançar em um futuro próximo. Aprendizado e desenvolvimento estão inter-relacionados desde o primeiro dia de vida, é fácil concluir que o aprendizado da criança começa muito antes de ela freqüentar a escola. Todas as situações de aprendizado que são interpretadas pelas crianças na escola já têm uma história prévia, isto é, a criança já se deparou com algo relacionado do qual pode tirar experiências. Vygotsky (1998), ao discutir o papel do brinquedo, refere-se especificamente à brincadeira de faz-de-conta, como brincar de casinha, brincar de escolinha, brincar com um cabo de vassoura como se fosse um cavalo. Faz referência a outros tipos de brinquedo, mas a brincadeira faz-de-conta é privilegiada em sua discussão sobre o papel do brinquedo no desenvolvimento. No brinquedo, a criança sempre se comporta além do comportamento habitual, o mesmo contém todas as tendências do desenvolvimento sob forma condensada, sendo ele mesmo uma grande fonte de desenvolvimento. A criança se torna menos dependente da sua percepção e da situação que a afeta de imediato, passando a dirigir seu comportamento também por meio do significado dessa situação, Vygotsky (1998, p. 127) relata que “No brinquedo, no entanto, os objetos perdem sua força determinadora. A criança vê um objeto, mas age de maneira diferente em relação àquilo que vê. Assim, é 27 28 alcançada uma condição em que a criança começa a agir independentemente daquilo que vê.” No brincar, a criança consegue separar pensamento, ou seja, significado de uma palavra de objetos, e a ação surge das idéias, não das coisas. Segundo Craidy e Kaercher (2001), Vygotsky relata novamente que quando uma criança coloca várias cadeiras uma através da outra e diz que é um trem, percebe-se que ela já é capaz de simbolizar, esta capacidade representa um passo importante para o desenvolvimento do pensamento da criança. Brincando, a criança exercita suas potencialidades e se desenvolve, pois há todo um desafio, contido nas situações lúdicas, que provoca o pensamento e leva as crianças a alcançarem níveis de desenvolvimento que só às ações por motivações essenciais conseguem. Elas passam a agir e esforça-se sem sentir cansaço, não ficam estressadas porque estão livres de cobranças, avançam, ousam, descobrem, realizam com alegria, sentindo-se mais capazes e, portanto, mais confiantes em si mesmas e dispostas a aprender. Assim, seguindo este estudo os processos de desenvolvimento infantil apontam que o brincar é um importante processo psicológico, fonte de desenvolvimento e aprendizagem. De acordo com Vygotsky (1998), um dos principais representantes dessa visão, o brincar é uma atividade humana criadora, na qual imaginação, fantasia e realidade interagem na produção de novas formas de construir relações sociais com outros sujeitos, crianças e/ou adultos. Tal concepção se afasta da visão predominante da brincadeira como atividade restrita à assimilação de códigos e papéis sociais e culturais, cuja função principal seria facilitar o processo de socialização da criança e a sua integração à sociedade. Vygotsky deixa claro que o tema brincar na educação infantil tem sua origem naquilo que à criança vive no seu dia a dia, nas relações com seus pares e principalmente, nas relações com adultos. É uma situação imaginária, um faz de conta criada pela criança, mas que só pode ser criada por ela graças ao material abstraído nas interações. EDUCAÇÃO E LUDICIDADE Na educação de modo geral, e principalmente na Educação Infantil o brincar é um potente veículo de aprendizagem experiencial, visto que permite, através do lúdico, vivenciar a aprendizagem como processo social. A proposta do lúdico é promover uma alfabetização significativa na prática educacional, é incorporar o conhecimento através das características do conhecimento do 28 29 mundo. O lúdico promove o rendimento escolar além do conhecimento, oralidade, pensamento e o sentido. Entretanto, compreender a relevância do brincar possibilita aos professores intervir de maneira apropriada, não interferindo e descaracterizando o prazer que o lúdico proporciona. Portanto, o brincar utilizado como recurso pedagógico não deve ser dissociado da atividade lúdica que o compõe, sob o risco de descaracterizar-se, afinal, a vida escolar regida por normas e tempos determinados, por si só já favorece este mesmo processo, fazendo do brincar na escola um brincar diferente das outras ocasiões. A incorporação de brincadeiras, jogos e brinquedos na prática pedagógica podem desenvolver diferentes atividades que contribuem para inúmeras aprendizagens e para a ampliação da rede de significados construtivos tanto para crianças como para os jovens. Para Vygotsky (1998), o educador poderá fazer o uso de jogos, brincadeiras, histórias e outros, para que de forma lúdica a criança seja desafiada a pensar e resolver situações problemáticas, para que imite e recrie regras utilizadas pelo adulto. O lúdico pode ser utilizado como uma estratégia de ensino e aprendizagem, assim o ato de brincar na escola sob a perspectiva de Santos (2002) está relacionada ao professor que deve apropriar-se de subsídiosteóricos que consigam convencê-lo e sensibilizá-lo sobre a importância dessa atividade para aprendizagem e para o desenvolvimento da criança. Com isso, é possível entender que o brincar auxilia a criança no processo de aprendizagem. Ele vai proporcionar situações imaginárias em que ocorrerá no desenvolvimento cognitivo, facilitando a interação com pessoas as quais contribuirão para um acréscimo de conhecimento. A essas ideias associamos nossas convicções sobre o brincar como prática pedagógica, sendo um recurso que pode contribuir não só para o desenvolvimento infantil, como também para o cultural. Brincar não é apenas ter um momento reservado para deixar a criança à vontade em um espaço com ou sem brinquedos e sim um momento que podemos ensinar e aprender muito com elas. A atividade lúdica permite que a criança se prepare para a vida, entre o mundo físico e social. Observamos, deste modo que a vida da criança gira em torno do brincar, é por essa razão que pedagogos têm utilizado a brincadeira na educação, por ser uma peça importante na formação da personalidade, tornando-se uma forma de construção de conhecimento. Importante para o desenvolvimento, físico, intelectual e social, o jogo vem ampliando sua importância deixando de ser um simples divertimento e tornando-se ponte entre a infância e a vida adulta. Vygotsky (1998) afirma que o jogo infantil transforma a criança, graças à imaginação, os objetivos 29 30 produzidos socialmente. Assim, seu uso é favorecido pelo contexto lúdico, oferecendo à criança a oportunidade de utilizar a criatividade, o domínio de si, à firmação da personalidade, e o imprevisível. De acordo com Kishimoto (2002) o jogo é considerado uma atividade lúdica que tem valor educacional, a utilização do mesmo no ambiente escolar traz muitas vantagens para o processo de ensino aprendizagem, o jogo é um impulso natural da criança funcionando, como um grande motivador, é através do jogo obtém prazer e realiza um esforço espontâneo e voluntário para atingir o objetivo, o jogo mobiliza esquemas mentais, e estimula o pensamento, a ordenação de tempo e espaço, integra várias dimensões da personalidade, afetiva, social, motora e cognitiva. O desenvolvimento da criança e seu consequente aprendizado ocorrem quando participa ativamente, seja discutindo as regras do jogo, seja propondo soluções para resolvê-los. É de extrema importância que o professor também participe e que proponha desafios em busca de uma solução e de participação coletiva, o papel do educador neste caso será de incentivador da atividade. A intervenção do professor é necessária e conveniente no processo de ensino-aprendizagem, além da interação social, ser indispensável para o desenvolvimento do conhecimento. De acordo com o Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil (BRASIL, 1998, p. 23): Educar significa, portanto, propiciar situações de cuidado, brincadeiras e aprendizagem orientadas de forma integrada e que possam contribuir para o desenvolvimento das capacidades infantis de relação interpessoal de ser e estar com os outros em uma atitude básica de aceitação, respeito e confiança, e o acesso, pelas crianças aos conhecimentos mais amplos da realidade social e cultural. Por isso o educador é a peça fundamental nesse processo, devendo ser um elemento essencial. Educar não se limita em repassar informações ou mostrar apenas um caminho, mas ajudar a criança a tomar consciência de si mesmo, e da sociedade. É oferecer várias ferramentas para que a pessoa possa escolher caminhos, aquele que for compatível com seus valores, sua visão de mundo e com as circunstâncias adversas que cada um irá encontrar. Nessa perspectiva, segundo o Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil (BRASIL, 1998, p. 30): 30 31 O professor é mediador entre as crianças e os objetos de conhecimento, organizando e propiciando espaços e situações de aprendizagens que articulem os recursos e capacidades afetivas, emocionais, sociais e cognitivas de cada criança aos seus conhecimentos prévios e aos conteúdos referentes aos diferentes campos de conhecimento humano. Educar é acima de tudo a inter-relação entre os sentimentos, os afetos e a construção do conhecimento. Segundo este processo educativo, a afetividade ganha destaque, pois acreditamos que a interação afetiva ajuda mais a compreender e modificar o raciocínio do aluno. E muitos educadores têm a concepção que se aprende através da repetição, não tendo criatividade e nem vontade de tornar a aula mais alegre e interessante, fazendo com que os alunos mantenham distantes, perdendo com isso a afetividade e o carinho que são necessários para a educação. Santos (2002) acrescenta que educar não se limita a repassar informações ou até mesmo mostrar um caminho que o educador considera o mais certo, mas sim em ajudar a pessoa a tomar consciência de si mesma, dos outros e da sociedade. Ainda, é oferecer várias ferramentas para que a pessoa possa escolher entre muitos caminhos, aquele que for compatível com seus valores, sua visão de mundo e com as circunstâncias adversas que cada um irá encontrar. A criança necessita de estabilidade emocional para se envolver com a aprendizagem. O afeto pode ser uma maneira eficaz de aproximar o sujeito e a ludicidade em parceria com professor-aluno, ajuda a enriquecer o processo de ensino-aprendizagem. E quando o educador dá ênfase às metodologias que alicerçam as atividades lúdicas, percebe-se um maior encantamento do aluno, pois se aprende brincando. Santos (2002) refere-se ao significado da palavra ludicidade que vem do latim ludus e significa brincar. Onde neste brincar estão incluídos os jogos, brinquedos e brincadeiras, tendo como função educativa do jogo o aperfeiçoamento da aprendizagem do indivíduo. De acordo com o Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil (1998) a partir da importância da ludicidade que o professor deverá contemplar jogos, brinquedos e brincadeiras, como princípio norteador das atividades didático-pedagógicas, possibilitando à criança uma aprendizagem prazerosa. Assim, a ludicidade tem conquistado um espaço na educação infantil. 31 32 O brinquedo é a essência da infância e permite um trabalho pedagógico que possibilita a produção de conhecimento da criança. Ela estabelece com o brinquedo uma relação natural e consegue extravasar suas angústias e entusiasmos, suas alegrias e tristezas, suas agressividades e passividades. Ao assumir a função lúdica e educativa, a brincadeira propicia diversão, prazer, potencializa a exploração, a criação, a imaginação e a construção do conhecimento. Brincar é uma experiência fundamental para qualquer idade, principalmente para as crianças da Educação Infantil. Dessa forma, a brincadeira já não deve ser mais atividade utilizada pelo professor apenas para recrear as crianças, mas como atividade em si mesma, que faça parte do plano de aula da escola.Portanto, cabe ao educador criar um ambiente que reúna os elementos de motivação para as crianças. Criar atividades que proporcionam conceitos que preparam para a leitura, para os números, conceitos de lógica que envolve classificação, ordenação, dentre outros. Motivar os alunos a trabalhar em equipe na resolução de problemas, aprendendo assim expressar seus próprios pontos de vista em relação ao outro. O processo de ensino e aprendizagem na escola deve ser construído, então, tomando como ponto de partida o nível de desenvolvimento real da criança, num dado momento e com sua relação a um determinado conteúdo a ser desenvolvido, e como ponto de chegada os objetivos estabelecidos pela escola, supostamente adequados à faixa etária e ao nível de conhecimentos e habilidades de cada grupo de crianças. O percurso a ser seguido nesse processo estará demarcado pelas possibilidades das crianças, isto é, pelo seu nível de desenvolvimento potencial. Enfim, estar ao lado do aluno, acompanhando seu desenvolvimento, para levantar problemas que o leve a formular hipóteses. Brinquedos adequados para idade, com objetivo de proporcionar o desenvolvimento infantil e a aquisição de conhecimentos em todos os aspectos. A partir da leitura desses autores podemos verificar que a ludicidade, as brincadeiras, os brinquedos e os jogos são meios que a criança utiliza para se relacionar com o ambiente físico e social de onde vive, despertando sua curiosidade e ampliando seus conhecimentos e suas habilidades, nos aspectos físico, social, cultural, afetivo, emocional e cognitivo, e assim, temos os fundamentos teóricos para deduzirmos a importância que deve ser dada à experiência da educação infantil. A PSICOPEDAGOGIA E O ATO DE BRINCAR 32 33 A Psicopedagogia tem se constituído no espaço privilegiado para pensar sobre as questões de ensino-aprendizagem. Sendo assim, está intimamente ligada ao ato de brincar, como fonte de conhecimento. Por meio de técnicas e métodos próprios o psicopedagogo possibilita uma intervenção psicopedagógica visando à solução de problemas de aprendizagem. O processo de aprendizagem da criança é compreendido como um processo mais abrangente, implicando componentes de vários eixos de estruturação como afetividade, cognitivo, social, cultural, entre outros. O processo de aprendizagem, bem como suas dificuldades, deixa de focalizar somente o aluno e o professor isoladamente e passa a ser visto como um processo de interações entre ambas as partes com inúmeras variações que precisam ser apreendidas com bastante cuidado pelo professor e psicopedagogo. Sendo assim, é possível constatar que uma das formas de trabalho psicopedagógico é fazendo uso do lúdico, quer seja no diagnóstico, ou no tratamento. Pois bem, segundo Bossa (2007, p. 31) “nesse trabalho de ensinar a aprender, o psicopedagogo recorre a critérios diagnósticos no sentido de compreender a falha na aprendizagem […]” este sendo um trabalho clínico com o seu objetivo de prevenção dos problemas de aprendizagem, assim no diagnóstico, a atividade lúdica é um rico instrumento de investigação clínica, pois permite ao sujeito expressar-se livremente, através da ação do ato de brincar, a criança constrói um espaço entre a realidade e a imaginação. Sendo assim é nas atividades lúdicas, que aprende a lidar com o mundo real, desenvolvendo suas potencialidades, incorporando valores, conceitos e conteúdo. A utilização de brinquedos e jogos educativos como materiais pedagógicos, do ponto de vista da psicopedagogia, necessita da percepção do contexto em que se encontram inseridos, ou seja, estes instrumentos não são objetos comuns e sim objetos que trazem um saber em potencial que pode ser ou não ativado pelo aluno. Assim, são através do ato de brincar que observamos prazeres, frustrações, desejos, enfim, podemos trabalhar na construção do conhecimento. E ainda, o material pedagógico não deve ser visto como um objeto estático sempre igual para todas as crianças, pois, trata-se de um instrumento dinâmico que se altera de acordo com a imaginação do indivíduo, pois pode ocorrer uma reinterpretação do mundo, abrindo lugar para invenção e a produção de novos significados, saberes e práticas. A psicopedagogia, no âmbito institucional tem sua atuação preventiva, na relação de problemas de aprendizagem, preocupando-se especialmente com a instituição educacional. Porto (2007) relata que a psicopedagogia institucional dedica-se a áreas relacionadas ao planejamento educacional e assessoramento pedagógico, tendo sua colaboração com os planos 33 34 educacionais e sanitários no âmbito das organizações, e ainda auxilia no resgate da identidade da instituição com o saber mediando e resgatando o processo do ensino-aprendizagem. Portanto, inserida a esta realidade, cabe ao educador definir quais objetivos pretende alcançar, utilizando uma metodologia adequada, onde estará selecionando jogos, brincadeiras e brinquedos coerentes, buscando explorar ao máximo os conhecimentos da criança. INFLUÊNCIAS DO JOGO NO DESENVOLVIMENTO DAS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLA Lima (2003), fundamentado em Huizinga (1990), Callois (1990) e rougère (1998), afirma que o jogo é elemento da cultura, e sua existência depende da aprendizagem e da transmissão social. As relações interpessoais e as interferências educacionais são indispensáveis para a divulgação, socialização, aprendizagem, preservação e criação de jogos. Nessa perspectiva, levando em conta a vida e a existência humana, no contexto atual, que se caracterizam pela intensificação do processo de privatização das relações sociais, pelo crescente isolamento da criança do mundo adulto e pela exacerbação da produção e da competição, as instituições educacionais e os professores exercem um papel essencial na preservação e valorização dos jogos. É possível que, para muitas crianças, o contexto educacional seja o espaço mais apropriado e NUANCES: estudos sobre educação – ano IX, v.09, nºs 9/10, jan./jun. e jul./dez. 2003 116 adequado para a aprendizagem, evolução, apreciação e vivência de atividades lúdicas significativas e diversificadas. Na opinião de Gardner (1994, p. 75), a fase de dois aos 7 anos “abriga mais poderes e segredos sobre o crescimento humano que qualquer outra fase comparável do desenvolvimento”. Esse período é crucial para o desenvolvimento humano, pois nele se inicia o manejo da capacidade simbólica, estabelecem-se os hábitos corporais e mentais, a criatividade e a arte podem ser favorecidas ou até mesmo bloqueadas. Conclui o autor que a criança sucessora do período sensório-motor busca, nesta etapa, ampliar a sua compreensão do mundo pelo domínio simbólico. Respeitar esse modo básico de compreender e dar sentido ao mundo e não sobrecarregar a criança com ações secundárias são fatores decisivos para que ela possa construir os conhecimentos necessários para o seu sucesso nas etapas posteriores de desenvolvimento. Os jogos que aparecem, nesse estágio, resultantesde aprendizagem social, são de caráter simbólico e colaboram para o desenvolvimento de todas as competências do educando. A inteligência cinestésico-corporal é influenciada de maneira privilegiada pelos jogos. Esta inteligência, segundo Gardner (1995a,1995b), está presente em pessoas que exibem um elevado domínio da cultura corporal, comunicam-se e se expressam por intermédio da linguagem corporal e demonstram grande habilidade em trabalhar e lidar com os objetos e instrumentos. Antunes (1998b,p.3) destaca o período que vai do nascimento até os 06 anos como o mais propício para estimular a inteligência corporal. Essa competência relaciona-se, em especial, com as inteligências verbal e espacial, e todos os jogos a estimulam. 34 35 Dependendo do nível de desenvolvimento da criança e do seu interesse, o educador pode privilegiar, nas propostas de jogos, a imaginação ou a regra. Uma situação contraditória pode aparecer no final do período da Educação Infantil ou no início das séries iniciais do Ensino Fundamental: numa mesma turma, aparecem crianças que preferem atividades lúdicas em diferentes graus de complexidade, com o predomínio da imaginação ou da regra. Atento a esse aspecto, o educador oferecerá oportunidades diversificadas, atendendo às necessidades e às possibilidades das crianças. Esse contexto é muito propício para que uma criança aprenda com a outra e passe de um determinado nível de desenvolvimento para um outro mais elevado. Como exemplos de atividades lúdicas que contribuem para o desenvolvimento da inteligência cinestésico-corporal, destacam-se: as brincadeiras de imitação, dramatização, imaginação, interpretação, mímicas, danças, trabalhos manuais, atividades artísticas e os jogos que envolvem as diferentes habilidades motoras de andar, correr, saltar, arremessar, receber, quicar, chutar, rebater, equilibrar, os jogos de pega-pega, amarelinha, pular corda, queimada, jogos adaptados do futebol, basquete e voleibol. Os jogos não interferem apenas no desenvolvimento da inteligência cinestésico-corporal, mas influem no avanço de todas as outras inteligências, inclusive a verbal ou linguística. O que caracteriza a inteligência verbal ou linguística, segundo Gardner (1995a), é a sensibilidade da pessoa aos significados e empregos das palavras. O indivíduo que teve oportunidades e desenvolveu essa inteligência demonstra capacidade de comunicação, emprega a linguagem de forma coerente, processa, ordena e dá sentido às informações ou mensagens escritas ou verbais. A inteligência linguística aparece em nossa cultura como uma das mais valorizadas. Antunes (1998b, p. 111) afirma que essa competência relaciona-se com todas e, em especial, com a lógico-matemática e a cinestésico-corporal. Desde o seu nascimento, a criança pode ser estimulada para o desenvolvimento da inteligência linguística. A “janela de oportunidades”, definida, segundo Antunes (1998b, p. 22), como o momento mais fértil e rico para apresentação de estímulos que promovam o desenvolvimento de uma competência, no caso inteligência verbal, ocorre do nascimento até os 10 anos de dade. Isso, porém, não significa que depois desse período não acontecerá mais a aprendizagem, mas sim que alcançá-la será mais difícil. Venguer (1986, p. 142) afirma que as atividades lúdicas são situações especiais para o desenvolvimento da linguagem, pois exigem, da criança participante, um determinado nível de desenvolvimento de comunicação verbal. Caso a criança não esteja apta para expressar, de forma compreensível, seus desejos e intenções, terá dificuldades de estabelecer uma interação lúdica com os outros. A necessidade de comunicação e de se fazer compreender estimula o exercício e o desenvolvimento coerente da linguagem. O educador pode, então, propor diferentes atividades que exercitem e influenciem o desenvolvimento dessa competência, tais como: conversar com a criança, apresentar palavras novas, relatar histórias e contos, propiciar oportunidades para ouvir e cantar músicas, motivar e criar oportunidades para que a criança, de maneira verbal ou gráfica, possa expressar seus sentimentos, emoções, ações, conhecimentos e criações. Como exemplos de 35 36 algumas atividades lúdicas que podem ser propostas, visando ao desenvolvimento da inteligência verbal, estão as parlendas, rimas, trovas, fórmulas de escolha, trava-línguas, histórias infantis, adivinhações, atividades rítmicas, histórias coletivas, imitação de ruídos onomatopaicos, dramatizações, brincadeiras de imaginação. A inteligência lógico-matemática é também exercitada nas atividades lúdicas. Gardner (1995a, 1995b) afirma que essas inteligências se estabelecem principalmente no conhecimento e nas relações de exploração, ordenação e avaliação que o indivíduo realiza com as situações e os objetos. O prazer na solução de problemas significativos, a paixão pela abstração, a facilidade para o cálculo, o gosto pelas ciências exatas, as competências em lidar com conceitos e resolver problemas matemáticos são características de pessoas que desenvolveram essa capacidade. A inteligência lógico-matemática relaciona-se, predominantemente, com a verbal, espacial, corporal e, em especial, com a musical. O período mais fértil para os estímulos está localizado entre o primeiro e o décimo ano de vida da criança (ANTUNES, 1998b, p. 23). O desenvolvimento da representação, da imaginação, o conhecimento das propriedades e o estabelecimento de comparações entre os objetos, as operações de classificação e a seriação são algumas atividades que desenvolvem essa competência. Venguer (1986, p. 142) destaca que na brincadeira se evidencia de forma mais clara a função simbólica da consciência, pois, quando brinca, a criança aprende a separar o significado do objeto, lida com imagens, representa papéis e situações e esses aspectos são de grande importância para o desenvolvimento do pensamento abstrato. Atenção, concentração, memória, organização, persistência são capacidades e comportamentos exercitados e aprendidos nas situações lúdicas. As brincadeiras de imaginação, os jogos de memória, bingos, ludos, dominós, jogos de tabuleiros, jogos com cartas, jogos de arremessos, de pular corda e jogos de pega-pega são sugestões de atividades lúdicas para o desenvolvimento da inteligência lógico-matemática. A inteligência visual ou espacial, por sua vez, caracteriza-se, segundo Gardner (1995a, 1995b), pela capacidade da pessoa em perceber formas, objetos e espaços com precisão. O indivíduo demonstra capacidade em memorizar e recriar aspectos captados pela memória visual, consegue enxergar detalhes que ninguém percebe e demonstra uma observação bastante apurada. Essa inteligência relaciona-se com todas e, em especial, com a corporal e a verbal. O período considerado de maior abertura de “janelas”, segundo Antunes (1998b, p. 23), é o que vai dos 05 aos 10 anos. Os jogos e as brincadeiras que contemplam as noções de direção, localização e orientação espaço-temporal, esquema corporal e dominância
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