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DANIELA NOGUEIRA NEVES HELMINTOS PARASITOS DE PEIXES DE IMPORTÂNCIA HIGIÊNICO- SANITÁRIA Orientador: Profº Msc. Raimundo Nonato Moraes Benigno BELÉM 2009 Monografia apresentada ao Curso de Pós- Graduação Latu sensu em Higiene e Inspeção de Produtos de Origem Animal da Universidade Castelo Branco- UCB - HELMINTOS PARASITOS DE PEIXES DE IMPORTÂNCIA HIGIÊNICO- SANITÁRIA Elaborado por Daniela Nogueira Neves Aluna do Curso de Especialização “Lato sensu” em Higiene e Inspeção de Produtos de Origem Animal Foi analisado e aprovado com grau: ............. Belém, ______ de ______________ de _______. __________________________ Membro __________________________ Membro __________________________ Professor Orientador Presidente Dedico este trabalho à minha família pela dedicação, carinho e amor, pois contribuíram com estímulo, apoio e compreensão. AGRADECIMENTOS A Deus, responsável pela vida e sabedoria que possuo. Ao professor Raimundo Nonato Moares Benigno pela orientação na elaboração desta monografia; A todos que, direta ou indiretamente, contribuíram para a realização deste trabalho; Aos amigos que conquistei durante este percurso. SUMÁRIO LISTA DE TABELA VI LISTA DE ILUSTRAÇÕES VII RESUMO IX ABSTRACT X 1 INTRODUÇÃO 1 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 4 2.1 A IMPORTÂNCIA DOS ENDOPARASITAS DE PEIXES 4 2.2 HELMINTOS PARASITOS DE PEIXES DE IMPORTÂNCIA HIGIÊNICO-SANITÁRIA 6 2.2.1 Anisakidae 6 2.2.2 Eustrongylides sp. 13 2.2.3 Ascocotyle (Phagicola) longa 16 2.2.4 Cestódeos 20 2.2.4.1 Diphyllobothrium sp. 20 2.2.4.2 Trypanorhyncha 25 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS 32 REFERÊNCIAS 33 LISTA DE TABELA TABELA 1 - ÁREAS GEOGRÁFICAS COM REGISTROS DE OCORRÊNCIA DE EUSTRONGYLIDES sp. 13 LISTA DE ILUSTRAÇÕES Quadro 1 - Espécies parasitos de peixes segundo classificação zoológica 04 Figura 1 - Larva de Anisakidae encistada na musculatura de peixe 06 Figura 2 - Ciclo de vida de Anisakis simplex 07 Figura 3 - Larvas de Anisakis na cavidade corporal de um arenque 08 Figura 4 – Imagem endoscópica do estômago revelando a presença de múltiplas lesões tumorais erosivas 11 Figura 5 - Larvas de Eustrongylides sp. na serosa intestinal de uma garça branca 14 Figura 6 - Larvas de nematóide Eustrongylides sp. 14 Figura 7 - Ciclo de vida de trematóide Ascocotyle (Phagicola) longa 16 Figura 8 - Fotomicrografia do coração de Mugil platanus parasitado por metacercária de Ascocotyle (Phagicola) longa, aumentada 40x 17 Figura 9 - Imagem das proglotes do Diphyllobothrium sp. no intestino do homem 21 Figura 10 - Ciclo biológico do cestóide Diphyllobothrium latum 21 Figura 11 - Larvas de Diphyllobothrium dendriticum em Salmonídeo. Cistos peroláceos de larvas no estômago (A). Larvas encistadas e livres no estômago (B) 22 Figura 12 - Adulto (A) e ovos (B) de D. latum medindo aproximadamente 64x45Mm 24 Figura 13 - Ciclo evolutivo geral de Trypanorhynca 26 Figura 14 - Blastocistos de Poecilancistrium caryophyllum em musculatura do corpo de Cynoscion acoupa (A) e livre, destacando seu prolongamento caudal (B) 30 Figura 15 - Blastocisto de Pterobothrium heteracanthum em serosa abdominal parietal de Arius proops 30 Figura 16 - Blastocisto de Callitetrarhynchus gracilis em musculatura abdominal de Cynoscion acoupa em formato de vírgula (bv) e saculiforme (bs) 30 Figura 17 - Visualização de blastocisto de Pterobothrium crassicolle em musculatura abdominal de Arius proops com auxílio da mesa de inspeção “candling table” 30 RESUMO Nas últimas décadas têm aumentado consideravelmente a relevância dos estudos relacionados com parasito e outros patógenos de peixes, tendo em vista que estes podem ser portadores de uma enorme quantidade de bioagentes patogênicos ao homem. Alguns bioagentes parasitários são importantes para a saúde coletiva, especialmente aqueles que parasitam o pescado de origem marinha, requerendo levantamento, identificação e diagnóstico preciso para garantir um controle eficaz, visando à segurança do consumidor. Os de maior importância para a inspeção são os nematóides Anisakídeos, o cestóide Diphyllobotrium e o trematóide Ascocolyte (Phagicola) longa que são zoonóticos e o cestóide Trypanorhyncha que confere um aspecto repugnante. Os helmintos zoonóticos transmitidos pelo pescado, estão cada vez mais chamando a atenção de pesquisadores e autoridades sanitárias do mundo inteiro, em função dos riscos decorrentes da globalização do comércio de alimentos e do crescente consumo de alimentos elaborados com peixe cru e daqueles oferecidos em redes “Fast Food”. Neste contexto, as autoridades sanitárias devem implementar ações em toda cadeia produtiva do pescado, especialmente no beneficiamento e comercialização, para garantir a qualidade da matéria-prima, disponibilizando um produto seguro. Este trabalho tem como objetivo expor uma revisão bibliográfica sobre helmintos parasitos de peixes de importância higiênico- sanitária, destacando os nematóides Anisakidae e Eustrongylides sp., cestóides (Diphyllobotrium latum e Trypanorhyncha) e o trematóide A. (P.) longa. Palavras-chave: pescado; helmintos; higiênico-sanitária. ABSTRACT In the last decades have considerably increased the relevance of studies on parasites and other pathogens of fish, in order that they can carry a huge amount of bio-agents pathogenic to man. Some parasitic bio-agents are important for public health, especially those that parasitize fish seafood, requiring survey, identification and accurate diagnosis to ensure effective control, seeking the safety of consumers. The most important for inspection are nematodes Anisakídeos the Diphyllobotrium cestode and trematode Ascocolyte (Phagicola) long that are zoonotic cestode and Trypanorhyncha which gives a look disgusting. The zoonotic helminths transmitted by fish, are increasingly attracting the attention of researchers and health authorities around the world, according to the risks arising from the globalization of food trade and the increasing consumption of foods made with raw fish and those offered in networks "Fast Food”. In this context, health authorities should implement actions in the production chain for fish, especially in the processing and marketing to ensure the quality of raw material, providing a safe product. This paper aims to expose a literature review on helminth parasites of species of sanitary conditions, highlighting the nematodes Anisakidae and Eustrongylides sp. cestodes (Diphyllobotrium latum and Trypanorhyncha) and trematode A. (P.) long. Key words: caught; helminths; sanitary-hygienic. 1 INTRODUÇÃO A piscicultura tem se firmado cada vez como uma exploração economicamente rentável, visto que o capital inicial investido pode retornar até um ano (PÉREZ, 1999), sendo considerada um dos segmentos da produção animal que mais cresce no mundo todo (SOUZA, 2003). Com base neste contexto, nas últimas décadas têm aumentado consideravelmente a relevância dos estudos relacionados com parasito e outros patógenos de peixes, tendo em vista que estes podem ser transmissores de uma enorme quantidade de microrganismos patogênicos ao homem (SOUZA, 2003; LUQUE, 2004). Dentre os microrganismos temos as parasitoses de importância em saúde pública, que constituem fonte de preocupação, especialmenteno pescado de origem marinha e, requerem levantamento, identificação e diagnóstico preciso para garantir um controle eficaz, visando a segurança do consumidor (SOUZA, 2003). O processo de transmissão da maioria dos ictioparasitos realiza-se de forma indireta, evoluindo obrigatoriamente por um ou mais hospedeiros intermediários para completar o seu ciclo evolutivo. É muito comum que algum molusco ou crustáceo esteja envolvido neste ciclo como primeiro hospedeiro intermediário e, o peixe, o segundo hospedeiro intermediário, podendo nesta fase ser consumido como alimento, por peixes maiores, aves e por mamíferos, incluindo o homem, considerados hospedeiros definitivos. Nestes, os parasitos tornam-se adultos e sexualmente maduros e as fêmeas fertilizadas reiniciam o ciclo com a eliminação dos ovos pelas fezes (PÉREZ, 1999). O conhecimento dos parasitos de peixes é fundamental sob o aspecto de produção e para a inspeção sanitária, pois através da ação espoliativa, tóxica ou mecânica, estes bioagentes podem desencadear quadros patológicos que restringem o crescimento e até podem levar à morte de seus hospedeiros (SÃO CLEMENTE et al., 1998; EIRAS, 1994a). Do ponto de vista de saúde coletiva, vários agentes podem interferir na qualidade dos peixes, sendo que os biológicos são mais sérios (ALMEIDA, 1998). Dentre estes agentes, os parasitos zoonóticos transmitidos pelo pescado, estão cada vez mais chamando a atenção de pesquisadores e autoridades sanitárias do mundo inteiro, em função dos riscos decorrentes da globalização do comércio de alimentos e do crescente consumo de alimentos elaborados com peixe cru e daqueles oferecidos em redes “Fast Food”. Dados mundiais indicam que esses parasitos infectam mais de 18 milhões de pessoas, com o número de pessoas em risco em mais de meio bilhão, particularmente em países do sudeste asiático (FAO, 2004). No Brasil, o hábito de ingerir peixes, em especial crus (“sashimi” e “sushi”), é de introdução recente no cardápio de alguns estabelecimentos brasileiros, comuns nos bairros das classes mais elevadas e especializadas para imigrantes asiáticos. Este hábito exige ótima qualidade do pescado, para evitar a ação patogênica de bactérias e helmintos parasitos, que no homem, se forem ingeridos, são responsáveis pelo quadro clínico caracterizado por diarréia, dores abdominais, náuseas, vômitos, emagrecimento e febre (GERMANO; GERMANO; OLIVEIRA, 1998). Considerando a segurança alimentar, González et al. (2001) classificam os parasitos de peixes, em dois grupos: os de interesse em saúde coletiva, já que podem ocasionar doenças nos consumidores e, aqueles que apenas causam lesões na musculatura, alterando as características sensoriais, diminuindo o valor comercial por questões higiênico-sanitárias, ou até mesmo levando a sua condenação em função do aspecto repugnante. No grupo dos helmintos parasitos de peixes de interesse na saúde coletiva, destacam-se os nematóides da família Anisakidae e o Eustrongylus sp., o cestóide Diphyllobothrium sp. e o trematóide digenético Ascocotyle (Phagicola) longa (OKUMURA et al., 1999). Já, no grupo que apenas causam lesões de aspecto repugnante, destaca-se o cestóide da Ordem Trypanorhyncha (SÃO CLEMENTE et al., 1991). Este trabalho tem como objetivo geral expor uma revisão bibliográfica sobre helmintos parasitas de peixes de importância higiênico-sanitária, destacando os nematóides Anisakidae e Eustrongylides sp., os cestóides (Diphyllobotrium latum e Trypanorhyncha) e, o trematóide A. (P.) longa. 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 A IMPORTÂNCIA DOS ENDOPARASITAS DE PEIXES A fauna íctica constitui-se num recurso alimentar importante, sendo uma fonte protéica acessível através da exploração direta das populações naturais e pela cultura artificial de peixes para a população mundial. É necessário considerar que o ambiente aquático é o meio no qual o acesso e a penetração de bioagentes patogênicos tornam-se facilitados e o confinamento dos peixes favorece ainda mais o estabelecimento do parasitismo. Assim, o estudo de parasitos de peixes é um campo de crescente importância em virtude da expansão mundial da piscicultura (THATCHER, 1981; MACHADO et al., 1996). Sindermann (1990) considera vários agentes parasitários com importância em saúde pública, dentre eles, os anisaquídeos, os cestódeos difilobotrídeos e os trematódeos heterofídeos. De acordo com Eiras (1994b) existem cerca de 10.000 espécies de parasitos de peixes, distribuídos em sete grupos zoológicos (Quadro 1). Grupos Zoológicos Nº de espécies Protozoa 1.750 Monogenea 1.500 Digenea 1.700 Cestoda 1.000 Nematoda 700 Acanthocephala 400 Crustácea 2.590 Quadro 1: Espécies parasitos de peixes segundo classificação zoológica. Fonte: Eiras, 1994b. Um outro fator muito importante é o hábito alimentar dos peixes. Os endoparasitas possuem na maioria das vezes um ciclo de vida bastante complexo, utilizando vários hospedeiros intermediários e sua presença no sistema digestório dos peixes pode indicar quais são os itens alimentares destes hospedeiros ou pelo menos qual seu hábito alimentar (PAVANELLI et al., 2001). Segundo Leitão (1983), os animais parasitados não são boas fontes alimentares para as dietas das pessoas, tanto em qualidades como em quantidade, pois as mortes por enfermidades ictioparasitárias podem diminuir muito as quantidades alimentares disponíveis para abastecer uma população. Deste modo, o peixe pode constituir-se uma excelente fonte de proteínas e de outras substâncias, mas estando parasitado, torna-se enfraquecido e com metabolismo alterado reduzindo sua qualidade alimentar, além de poder representar um risco de caráter zoonótico. De acordo com Eiras (1994a), uma outra importante conseqüência de algumas parasitoses é a redução de peso dos peixes, frequentemente acompanhada por uma diminuição do conteúdo lipídico e aumento da quantidade de água no músculo, além de aumentar a susceptibilidade desses animais a infecções por agentes oportunistas, como fungos e bactérias. Em adição aos efeitos sobre a saúde dos peixes, helmintos causam consideráveis perdas econômicas na indústria pesqueira, já que as autoridades sanitárias geralmente proíbem a venda de peixes contendo larvas visíveis (THATCHER; NETO, 1994). Okumura et al. (1999) relataram que esses vermes também podem ser patogênicos para os peixes, pois costumam invadir órgãos como fígado, gônadas, mesentério e musculatura corporal, provocando extensa patologia, principalmente, quando um grande número de parasitas está presente. Estes agentes parasitários causam enfermidades de caráter zoonótico devendo ser alvo de maior preocupação por parte dos serviços de fiscalização sanitária do pescado destinado ao consumo humano. Desta forma, as autoridades sanitárias, piscicultores, e os médicos veterinários devem atentar para o maior controle, desde a produção até a comercialização do pescado, para diminuir as taxas de morbidade e mortalidade das criações, melhorarem cada vez mais a qualidade do pescado destinado ao consumidor e, profilaticamente, evitar a propagação das zoonoses transmissíveis por peixes (LEITÃO, 1983; THATCHER; NETO, 1994). 2.2 HELMINTOS PARASITOS DE PEIXES DE IMPORTÂNCIA HIGIÊNICO- SANITÁRIA 2.2.1 Anisakidae Os nematóides são os parasitos que mais freqüentemente se encontram em vísceras e músculos de pescado. As larvas filiformes também podem se alojar na cavidade abdominal (OGAWA; MAIA, 1999). Para Eiras (1994b) as espécies que apresentam maior risco de infecção são as que penetram na musculatura dos peixes (Figura 1). Figura 1 - Larva de Anisakidae encistadana musculatura de peixe Fonte: QUESADA (2007). Dentro do filo Nematoda, a família Anisakidae, composta por 24 gêneros, vem despertando constante interesse, pois os parasitos pertencentes a este grupo são importantes agentes de zoonoses parasitárias conhecidas como anisakíase (UBEIRA et al., 2000) e talvez este problema não seja alvo de investigação médica mais intensa pela falta de diagnóstico (MCCARTHY; MOORE, 2000). As larvas dos gêneros Anisakis, Pseudoterranova, Belanisakis, Phocanema, Porrocaecum, Cleoascaris, Phocascaris e Contracaecum, podem ser responsáveis pela parasitose no homem, quando hábitos alimentares permitem a ingestão do pescado cru (sushi, sashimi, sunomono, ceviche, etc), mal cozido, defumado a frio, inadequadamente salgado ou resfriado (CHENG, 1982). No ciclo evolutivo dos nematóides, usualmente os peixes atuam apenas como hospedeiros intermediários e, com relação aos hospedeiros definitivos, muitos pontos ainda permanecem obscuros. Já o homem parece ser quase sempre um hospedeiro acidental, dependendo de dois fatores: habilidade das larvas se manterem vivas e capacidade de invadirem tecidos (KATES et al., 1973; OGAWA; MAIA, 1999; EIRAS, 1994 b). A transmissão dos helmintos não é realizada diretamente de um peixe para outro, pois a maioria passa obrigatoriamente por um ou mais hospedeiros intermediários para completar o seu ciclo evolutivo. É muito comum que algum molusco ou crustáceo esteja envolvido neste ciclo como primeiro hospedeiro intermediário e, o peixe, o segundo hospedeiro intermediário, podendo nesta fase ser consumido como alimento por aves e mamíferos, incluindo o homem (PERÉZ, 1999). A infecção do homem pode fazer parte deste ciclo de vida ou constituir uma via paralela, causando ruptura no ciclo (Figura 2). Figura 2 - Ciclo de vida de Anisakis simplex. Fonte: HUSS; ABABOUCH; GRAM (2003). Adapatado. Os peixes teleostéos comercializados no Brasil podem conter larvas de nematódeos anisakídeos, que são infectados de modo natural, pois durante a maturação sexual, algumas espécies retornam aos rios para desovar, podendo ser HOMEM MAMÍFERO MARINHO OVO CAMARÃOARENQUE BACALHAU contaminados por essas larvas. O “esperlán” jovem segue rio abaixo até o mar, ao contrário do adulto que encontra-se a salvo destes parasitas. Somente podem ser infestados nas desembocaduras dos rios adquirindo os parasitos das focas, em cujo intestino existe nematódeos sexualmente maduros (SÃO CLEMENTE, 1993; EIRAS, 1994 b; OGAWA; MAIA, 1999). Os anisakideos podem ser os nematóides mais patogênicos dos peixes marinhos, pois invadem fígado, gônadas, mesentério e musculatura corporal, onde podem resultar em uma extensa patologia. Assim, muitas espécies de peixes marinhos abrigam larvas de anisakídeos, mas apenas algumas têm grande atenção por parte dos pesquisadores, devidos aos efeitos em peixes economicamente importantes, entre eles arenque (Figura 3) e bacalhau, ou em humanos (SINDERMANN, 1990). Figura 3 - Larvas de Anisakis na cavidade corporal de um arenque. Fonte: http://www.terra.es/personal/uscal.le/infovet/anisakis.htm É provável que qualquer espécie de peixe possa ser hospedeiro desses helmintos, caso sejam predadores de um hospedeiro intermediário, ou outro peixe que já albergue o nematóide, sendo que os peixes planctófagos são parasitados principalmente por Anisakis, enquanto que os que se alimentam da fauna bentônica são parasitados por Pseudoterranova, devido a particularidades do ciclo evolutivo destes helmintos. Aqueles que se alimentam de outros peixes albergam muitas vezes os dois agentes (EIRAS, 1994b). O A. simplex é um nematóide cuja forma larvar tem sido encontrada em mais de duas centenas de espécies marinhos, na maioria dos oceanos e mares, principalmente nos arenques (família Clupeidae) e nas merluzas (família Gadidae). Na fase adulta é parasita do estômago e intestino delgado de mamíferos marinhos ictiófagos como baleias, golfinhos, focas, morsas e leões marinhos, particularmente nas águas polares e nas regiões mais frias das zonas temperadas. O Anisakidae P. decipiens tem menor importância em saúde pública do que o A. simplex, contudo, são muitas as espécies de peixes capazes de albergar o parasita, destacando-se entre elas o bacalhau (Gadus morhua) e espécies piscívoras bentônicas de grande porte (GERMANO; GERMANO, 2001). Vicente et al. (1985) e Vicente e Pinto (1999) publicaram detalhados catálogos sobre as espécies de nematóides parasitos de peixes no Brasil, listando a ocorrência das espécies de anisaquídeos e seus respectivos hospedeiros, bem como uma diagnose sucinta para superfamílias, famílias e gêneros. Paraguassú et al. (2000) realizaram um trabalho sobre os aspectos quantitativos do parasitismo por larvas de anisaquídeos do Pagrus pagrus (pargo) e apresentaram uma tabela com os gêneros das larvas de anisaquídeos e seus respectivos hospedeiros registrados para o litoral do Estado do Rio de Janeiro. Luque e Poulin (2004) listaram 44 espécies de peixes marinhos do litoral desse Estado parasitados por larvas de anisaquídeos e apontaram a necessidade do uso de outras ferramentas para o diagnóstico específico de Anisakis. No Rio de Janeiro, Bicudo et al. (2005), identificaram três espécies de Anisakidae, pertencentes aos gêneros Anisakis, Hysterothylacium e Raphidascaris provenientes do fígado e mesentério de cabrinha (Prionotus punctatus). Já, Knoff et al (2007), identificaram nove espécies de Anisakidae parasitando musculatura, mesentério, estômago, intestino e ovário de Genipterus brasiliensis (congro-rosa), distribuídas nos gêneros Anisakis (três espécies), Pseudoterranova (duas espécies), Hysterothylacium, Raphidascaris, Terranova e Contracaecum com prevalências variando de 1,4 a 13,5%. Os parasitos do gênero Anisakis encontram-se na maioria dos oceanos e mares, apesar de algumas espécies terem uma distribuição mais restrita. A espécie Anisakis simplex, na sua forma larvar, é extremamente freqüente nos peixes marinhos, enquanto que os adultos encontram-se em mamíferos marinhos, especialmente nas águas polares e nas regiões mais frias das zonas temperadas (EIRAS, 1994 b). A ocorrência de larvas de Contracaecum sp. parasitando peixes marinhos no litoral do Estado do Rio de Janeiro foram registradas nos trabalhos de Barros (1994), Barros e Amato (1993), Rego e Santos (1983), Rego et al. (1974), São Clemente et al. (1994, 1995) e Silva e São Clemente (2001). No Estado de São Paulo, esse anisakídeo foi registrado em tucunaré, corvina e traíra (Martins et al. 2003) e em espécimes de peixes piscívoros (Madi e Silva, 2005). No Estado do Maranhão, o parasitismo em traíras foi de 100%, com uma intensidade média de infecção de 24,6 parasitas por hospedeiro (Martins et al., 2005). Em Minas Gerais, Carvalho et al. (2006), registraram o parasitismo em traíras capturadas em represa, com alta prevalência e abundância média, que pode ser o resultado do efeito acumulativo via cadeia alimentar. No território brasileiro, de acordo com os dados apresentados por Martins et al. (2005), larvas de Contracaecum sp. já haviam sido registradas em várias espécies de peixes de água doce e marinhos, com maior número de notificações nos Estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul. Segundo Ogawa e Maia (1999), as larvas de terceiro estágio (L3) podem sobreviver muitos anos na musculatura dos peixes, aumentando em número com o tempo de vida do hospedeiro. Dentre as espécies de peixes parasitados, destacaram a cavala, a merluza e o bacalhau como hospedeiros intermediários.Amato e Barros (1984) fazem referência sobre o grande número de casos de anisaquíase humana, que ocorrem principalmente em países como o Japão, Holanda, Noruega, Estados Unidos, Peru, dentre outros, por apresentarem o hábito de ingerir peixes crus ou mal cozidos, em pratos culinários conhecidos, como o “sushi” e o “sashimi” dos orientais, o “ceviche” dos hispano-americanos, e o “green herring” dos holandeses. No Brasil, o hábito de ingerir peixes crus, é de introdução recente no cardápio dos estabelecimentos de alimentos das grandes cidades, em que lojas especializadas em sashimi e sushi, anteriormente restritas as regiões onde predominavam imigrantes asiáticos, tornaram-se comum nos bairros das classes mais elevadas (GERMANO et al., 2001). Segundo Mercado et al. (2001), Ishikura et al. (1993), Eiras (1994b) e Adams et al. (1997) Anisakis simplex e Pseudoterranova decipiens são as principais espécies envolvidas na infecção humana por nematódeos da família Anisakidae, sendo que a prevalência varia de acordo com a época do ano e conforme o ambiente marinho. As L3 de anisakideos podem produzir cistos nos músculos do hospedeiro, dando um aspecto repugnante para o consumidor e, se ingeridos pelo homem ainda crus ou mal cozidos, podem originar um granuloma eosinofílico gastrointestinal, de interesse médico (MARQUES et al., 1995; NOVAK, 1997; CONNEL, 1998; PERÉZ, 1999). Os sintomas clínicos incluem dor gástrica ou intestinal e, geralmente ocorre uma leucocitose média, embora eosinofilia não seja aparente (CHENG, 1992). Kim et al. (2006) relataram quatro casos suspeitos de anisaquíase crônica em pacientes que apresentavam dor abdominal, náusea e vômito, associado ao histórico de consumo de peixe marinho cru. A imagem do exame endoscópico revelou a presença de fomações tumorais no estômago (Figura 4) e o exame de sangue demonstrou um aumento do número de eosinófilos e de Imunoglobulina E. Figura 4 - Imagem endoscópica do estômago revelando a presença de múltiplas lesões tumorais erosivas. Fonte: KIM et al (2006). Existem relatos de casos de reações alérgicas provocadas pela ingestão de peixes contendo larvas de anisakídeos mortas em sua musculatura. A existência do potencial alergênico de A. simplex fez com que os pesquisadores considerassem esse agente no diagnóstico diferencial de urticária em humanos com relato de ingestão de pescado (DAY, 1997; AUDICANA et al; 2002). Segundo Zuluoga et al. (2004), a lesão geralmente ocorre com a presença de uma única larva no trato digestivo, provocando fenômenos irritativos locais com sintomas como náuseas, vômitos e dor epigástrica que pode ser confundida com apendicite, úlcera, peritonite e enfermidade de Crohn. Estes autores relatam ainda uma segunda forma de apresentação da doença, caracterizada como forma alérgica, decorrente da hipersensibilidade imediata, mediada pela imunoglobulina E. As larvas de espécies de Anisakis podem produzir episódios gástrico e intestinal, enquanto que, a infecção por Pseudoterranova está mais associada com a invasão da parede gástrica. Em alguns casos, após a ingestão das larvas, esses nematóides, simplesmente percorrem todo o trato intestinal e são eliminados nas fezes. As larvas podem ainda serem encontradas, na língua, faringe, pulmões, linfonodos ou pâncreas (ROSALES et al., 1999). As localizações extra-intestinal são causadas por aquelas larvas que conseguem atravessar a parede gastrointestinal, casando lesões na cavidade abdominal, pâncreas, ovário, útero, linfonodos, fígado, pulmões ou tecido subcutâneo (CÉSPEDES et. al., 2000). Na América, a infecção por anisakídeos em humanos foi reportada nos Estados Unidos (LITTLE; MOST, 1973), no Chile (SAPUNAR et al., 1976; MERCADO et al, 2001), no Canadá (KOWALEWSKA-GROCHOWSKA et al., 1989) e no Brasil (ISHIKURA et al., 1993). No homem a prevenção da anisaquíase pode ser feita pela abstinência do consumo de peixe cru ou mal cozido. Outros modos de prevenir estas zoonoses seria eliminar peixes infectados ou fazer a remoção dos parasitos, examinando-o sobre uma mesa iluminada (“candling table”) (OKUMURA et al., 1999). Segundo Ogawa e Maia (1999), à temperatura acima de 60ºC e sob congelamento e estocagem abaixo de -20ºC ocorre à morte do nematódeo. 2.2.2 Eustrongylides sp. As espécies Eustrongylides tubifex, Eustrongylides ignotus e Eustrongylides excisus parasitas de aves aquáticas selvagens, foram reportadas em dez áreas geográficas (Tabela 1). Nas aves jovens, a infecção apresenta alta mortalidade e nas adultas, a tendência é de apresentarem a forma crônica, podendo ser detectada em qualquer época do ano (COLE, 1999). Tabela 1- Áreas geográficas com registros de ocorrência de Eustrongylides sp. Eustrongylides Área Geográfica E. tubifex E. ignotus E. excisus Estados Unidos X X Canadá X Brasil X X Europa X X Rússia X X Oriente Médio X Taiwan X Índia X Austrália X Nova Zelândia X Fonte: COLE, 1999. As larvas ocorrem nos tecidos de peixes, anfíbios e répteis e os adultos habitam tipicamente a mucosa do esôfago, pró-ventrículo ou intestino de aves aquáticas selvagens. O homem se comporta como hospedeiro acidental, infectando- se ao consumir peixes crus (PANESAR; BEAVER, 1979; EBERHARD et. al., 1989; EIRAS, 1994b). As aves recém-infectadas apresentam frequentemente lesões em forma de túneis, tortuosas e elevadas, visíveis na serosa do pró-ventrículo, ventrículo ou intestino. Os nematóides adultos residem nestes túneis, que são frequentemente revestidos com material fibroso e amarelado e, apresentam comunicação com o lume intestinal (Figura 5). Estes animais se infectam ao consumirem peixes infectados com larvas encapsuladas de quarto estágio (COLE, 1999). Figura 5 – Larvas de Eustrongylides sp. na serosa intestinal de uma garça branca. Fonte: COLE (1999). As larvas de Eustrongylides sp. encontradas em peixes são de coloração vermelho castanho (Figura 6), com comprimento variando de 4 a 7,8 cm (CHUNG et al., 1985) sendo comuns nos músculos do tucunaré da Amazônia (Cichla ocellaris) (THATCHER; NETO, 1994). Figura 6 - Larvas do nematóide Eustrongylides sp. Fonte: YANONG (2002). No Brasil, o parasitismo por larvas de Eustrongylides sp. foi relatado na musculatura esquelética, no mesentério e na serosa que reveste o fígado (BARROS et al., 2007); na musculatura e na cavidade geral (MULLER et al., 2004), e apenas na musculatura (EIRAS;REGO, 1989). Em surubins (Pseudoplatystoma coruscans e Pseudoplatystoma fasciatum), foi relatado apenas no mesentério (SANTOS et al., 2003). Os primeiros relatos desse ictioparasito estão exarados nos trabalhos de Travassos (1925), Travassos et al. (1927), Travassos et al. (1928), Travassos & Freitas (1942), Lordello & Monteiro (1959) e Travassos & Kohn (1965). Para Wittner et al. (1989) a infecção humana é incomum após o consumo de “sushi” e “sashimi”. Afirmam também que em função de não serem conhecidas todas as espécies de peixes que servem como hospedeiros intermediários para o Eustrongylides, as pessoas que costumam ingerir peixe cru ou cozido insuficiente, podem estar correndo risco de contrair eustrongilidíase. Eberhard et al. (1989) descreveram o caso de um paciente com intensa dor abdominal no quadrante baixo direto, com histórico de consumo de pequenas carpas não tratadas, do qual, foram removidos dois nematóides identificados como larvas de 4º estágio de Eustrongylides. Wittner et al. (1989) também relataram um caso de eustrongilidíase em um paciente que se queixava de dor no quadrante baixo direito, e foi operado com suspeitade apendicite. Mas, quando a incisão abdominal foi fechada, um parasita avermelhado de 4,2 cm de comprimento surgiu movendo-se nos panos cirúrgicos. O tamanho e a morforlogia do parasita indicou ser uma larva de 4º estágio de Eustrongylides. O paciente adquiriu o parasita pela ingestão de “sushi” e “sashimi” um mês antes de apresentar a sintomatologia clínica. Não existe informação sobre a tolerância térmica do Eustrongylides, entretanto recomenda-se a abstinência de peixe cru ou insuficientemente cozido para a prevenção dessa zoonose. Uma das maneiras de prevenção é manter o pescado no frio ou eviscerá-lo assim que é embarcado, eliminando a ativação das larvas e a subseqüente migração para a musculatura do animal (OKUMURA et al., 1999). 2.2.3 Ascocotyle (Phagicola) longa O trematóide digenético A. (P.) longa pertencente a família Heterophyidae, tem ampla distribuição geográfica, abrangendo costas do Mediterrâneo, Atlântico norte, Atlântico sul e Pacífico sul. Apresenta um ciclo biológico heteroxeno (Figura 7), tendo como hospedeiros intermediários o molusco (primeiro) e peixes (segundo) e, como hospedeiros definitivos, mamíferos aquáticos e terrestres ou aves, especialmente as piscívoras (CARNEVIA et al., 2005). Em mamíferos o parasitismo foi descrito em lobos (Arctocephalus australis e Otaria flavescens) (MORGADES et al., 2002) e em cães (COSTA et al., 1984; COSTA et al., 1990; FREITAS et al., 1972; JORDAN; MAPLES, 1966; MANFREDI; ONETO, 1997), sendo que nos três primeiros trabalhos de cães, os autores registram a espécie Phagicola arnaldoi, possível sinônimo de A. (P.) longa. Figura 7 - Ciclo de vida de trematóide Ascocotyle (Phagicola) longa Fonte: HUSS; ABABOUCH; GRAM (2003). (Adapatado) Nos peixes, segundo hospedeiro intermediário, representados por mugilídeos, as cercárias geram formas encistadas denominadas de metacercárias (Figura 8). Na América do Sul, sua ocorrência foi registrada em mugilídeos da Venezuela, Peru e Brasil, parasitando as espécies Mugil cephalus, Mugil liza, Mugil Verme adulto (mamíferos e aves aquáticas) Verme adulto no homem ovo miracidio Metacercária no peixe cercária molusco trichodon e Mugil platanus (ARMAS DE CONROY, 1986; ALMEIDA; WOICEECHOVSKI, 1994; CARNEVIA et al., 2005). Figura 8 - Fotomicrografia do coração de Mugil platanus parasitado por metacercárias de Ascocotyle (Phagicola) longa, aumentada 40x. Fonte: CARNEVIA et al. (2005). Okumura (2001) analisou a eficiência de duas técnicas utilizadas na pesquisa de metacercárias de A. (P.) longa em amostras de “sushi” e “sashimi” comercializados na região metropolitana de São Paulo. Os resultados indicaram que o método de inspeção na a mesa de inspeção (“candling table”) foi ineficiente na detecção do parasitismo, já que na técnica de digestão enzimática comprovou-se positividade em 16,66% das 162 amostras examinadas. Esta ineficiência diagnóstica foi relacionada com o pequeno tamanho do cisto (no máximo 1mm) e sua coloração, que é a mesma da musculatura do peixe. Oliveira et al. (2007) relataram a ineficiência do exame macroscópico no diagnóstico do parasitismo nas vísceras, pois não encontraram nenhuma alteração sugestiva. Entretanto, no exame histopatológico realizado em vários órgãos como rins, fígado, coração e amostras de músculos, a metacercária foi facilmente identificada e as lesões nestes locais foram muito semelhantes. Através dos cortes histológicos do coração, dos rins e do fígado, foi verificado que o maior número de metacercárias foi encontrado no tecido renal, com 58,6%, seguido do fígado e do coração, com, respectivamente, 21,6 e 19,7%. Elevados percentuais de infecção em tainhas foram obtidos no Peru, por Armas de Conroy (1979), sendo que 72,5% das metacercárias foram encontradas no coração, fígado e mesentério de amostras; na Venezuela, por Saraiva (1992) que detectou o parasitismo em 92,5% dos corações examinados; no Brasil, por Antunes e Dias (1994), no litoral de Santos (SP), registrando um índice de 100% de espécimes parasitados, sendo o coração, o fígado e o tecido muscular os mais acometidos. Ainda no Brasil, nas regiões de Cananéia e Registro (SP), Dias e Woiciechovski (1994) também registraram 100% de positividade em amostras de peixes com mais de 4 cm de comprimento total. Trabalhos desenvolvidos com amostras de Mugil sp. de São Paulo (RANZANI-PAIVA,1995) e do Rio de Janeiro (KNOFF et al.,1997), registraram índices de infecção no fígado, de 50% e 35,3%, respectivamente. Oliveira et al. (2007) estudaram a infecção em 100 exemplares de alevinos de M. platanus e não detectaram a infecção. Resultados similares também foram registrados por Almeida Dias (1997) e por Armas de Conroy (1986). Tal comportamento parasitário não foi observado por Carnevia et al. (2005), pois detectaram a infecção em 10,3% dos alevinos capturados no rio da prata (Uruguai). Cheng (1973) comentou que não existem dúvidas de que a transmissão da fagicolose para o ser humano ocorre pelo consumo de tainha crua, na forma de “sushi” e “sashimi”, de modo que esse pescado representa um reservatório da infecção para o homem e para outras espécies animais, já que a A. (P.) longa parece não requerer alta especificidade do hospedeiro. O homem desenvolve sintomas típicos de parasitose, como cólicas, flatulência, diarréia e outros eventos característicos de verminose em geral (OVERSTREET, 1978; CHIEFFI et al; 1990), inclusive emagrecimento (DIAS; WOICIECHOVSKI, 1994). Chieffi et al (1990) relataram a infecção em um paciente com histórico de ingestão de tainha crua na região de Cananéia, SP, que revelou no exame físico, dores no quadrante baixo direito e hipermotilidade intestinal. O exame de fezes acusou presença de ovos de Phagicola (provavelmente A. (P.) longa), com uma carga parasitária de 120 ovos por grama de fezes e no hemograma constatou-se uma discreta eosinofilia. No município de registro, próximo a Cananéia (SP), também foram registrados nove casos de fagicolose em pacientes que tinham ingerido carne de tainha. Clinicamente apresentaram flatulência e diarréia e, no exame laboratorial, uma discreta eosinofilia (CHIEFFI et al; 1992). OKUMURA et al., (2001) ao examinaram 101 peças de pratos de “sashimi” e “sushi” elaborado com tainhas comercializados na grande São Paulo, verificaram que 15 apresentavam-se parasitadas, demonstrando um fator de risco para o consumidor. A principal forma de prevenção é a abstinência de ingestão de carne de tainha crua ou insuficientemente cozida é o principal meio de prevenção. A aclimatação de tainhas em água doce pode atuar como mais um recurso no controle da infecção por Phagicola nos hospedeiros vertebrados, inclusive o homem (CHIEFFI et al.; 1992; DIAS; WOICIECHOVSKI, 1994). Uma outra forma de prevenção que produz a inativação das metacercárias é o tratamento térmico a 100ºC/30 minutos ou 200ºC/15 minutos e, a defumação a 121ºC por três horas. Recomenda-se ainda a eliminação completa das vísceras da tainha antes de cozê-las (SARAIVA, 1991). Antunes et al. (1993) avaliaram os efeitos da ionização gama para controle de P. (A.) longa em tainhas das espécies Mugil curema e M. platanus mantidas em condições de estocagem e no consumo cru. A dose ionizante aplicada variou de 1,0 to 10.0 kGy (2.21 kGy/h). As doses abaixo de 4,0 kGy diminuíram a mobilidade do parasito e aquelas de 4,0 e 10,0 kGy inviabilizaram as metacercárias. Os dados indicam a dose de 4,0 kGy com a de controle do trematóide, sem alterar as características de odor, cor ou aparência dasamostras tratadas. Moraes (2005) estudou a radiossensibilidade das metacercárias de A. (P.) longa, frente ao tratamento com radiação ionizante (raios gama e feixes de elétrons) e à sensibilidade ao congelamento, em peixes artificialmente infectados. Os resultados indicaram uma maior efetividade no tratamento com o acelerador de elétrons bem como, ao congelamento à temperatura de -16°C. 2.2.4 Cestódeos 2.2.4.1 Diphyllobothrium sp. Existem várias espécies pertencentes ao gênero Diphyllobothrium, sendo a nomenclatura do gênero ainda duvidosa, devido ao escasso conhecimento sobre os limites da variação morfológica intraespecifica e os fatores que incidem em tais variações. O D. latum é a espécie mais importante, sendo conhecido como a tênia do peixe, que causa a difilobotriose (OKUMURA et al., 1999; EMMEL et al., 2006). É um cestóide conhecido como um dos maiores parasitas intestinais do homem (Figura 9), apresentando diversas espécies conhecidas por infectar seres humanos, porém a espécie D. latum é a mais freqüentes. Ovos são liberados pelas proglotes e eliminados nas fezes do hospedeiro. Sob condições apropriadas, geram embriões denominados de coracídios, que eclodem e são ingeridos por crustáceos (Cyclops e Diaptomus), transformando-se em larvas procercóides. Os peixes ingerem este crustáceo infectado e as larvas procercóides migram para o músculo do peixe, gerando as larvas plerocercóides. A transmissão pode ocorrer, quando um peixe de maior tamanho se alimenta de um peixe de menor tamanho contaminado. A infecção em humanos ocorre quando são ingeridos peixes crus ou mal cozidos contendo a larva infectante plerocercóide, que fixa-se no intestino e atinge o estágio adulto. Outros mamíferos e aves podem ser infectados (DDTHA, 2009) (Figura 10). Figura 9 - Imagem das proglotes do Diphyllobothrium sp. no intestino do homem. Fonte: www.gastrolab.net/pa-178.htm Figura 10 - Ciclo biológico do cestóide Diphyllobothrium latum. Fonte: DDTH (2009). A liberação de ovos em ambiente aquático (rios, lagos, etc) mantém o ciclo de infecção na natureza, pois propicia em duas semanas a formação do coracídio, que será ingerido por um copépode, geralmente do gênero Cyclops (América), Endiaptomus (Europa e Ásia), Acarethodiaptomus (nos Urais), Eurytemora (América do Norte) e Beckella (na Áustria). Estes serão ingeridos por peixes, que apresentarão as larvas na musculatura, gônodas, celoma, fígado e outros órgãos (BARROS et al., 2002). Os plerocercóides podem parasitar peixes predadores que, ADULTO NO INTESTINO OVOS NAS FEZES CORACÍDIOS ECLODEM E SÃO INGERIDOS POR CRUSTÁCEOS GERAÇÃO DE LARVAS PROCERCÓIDES CRUSTÁCEOS SÃO INGERIDOS POR PEIXES LARVAS PROCERCÓIDES GERAM LARVAS PLEROCERCÓIDES MAMÍFEROS (INCLUSIVE O HOMEM) E AVES SE INFECTAM LARVAS PROCERCÓIDES FIXAM-SE NA MUCOSA DO INTESTINO nesse caso, terão o papel de hospedeiros paratênicos na cadeia biológica (EIRAS, 1994b). As larvas plerocercóides de D. dendriticum, nos peixes, migram através do estômago para as vísceras e superfícies da cavidade corporal, gerando cistos peroláceos (Figura 11 A e B). Já as larvas de D. latum, instalam-se no tecido muscular e não encistam-se (STEWART; BERNIER, 1999). Figura 11 – Larva de Diphyllobothrium dendriticum em Salmonídeo. Cistos peroláceos de larvas no estômago (A). Larvas encistadas (círculo) e livres (seta) no estômago (B). Fonte: STEWART; BERNIER (1999). Os plerocercóides de espécies de tênias pseudofilídeas, dentre as quais o gênero mais importante é Diphyllobothrium, pode alcançar o homem que ingere pescados crus (OKUMURA et al., 1999), sendo uma das antropozoonoses de maior importância sob o ponto de vista de saúde pública, causada por cestóides (BARROS et al., 2002). A difilobotríase é uma endoparasitose humana frequentemente, causada por Diphyllobothrium spp., principalmente em regiões onde diversos peixes, como salmonídeos e trutas, atuam como hospedeiros intermediários. A ocorrência desta zoonose já foi registrada em países como Japão, Canadá, EUA, Chile entre outros (VOIGHT; KLEINE, 1975; EMMEL et al., 2006). As áreas de maior prevalência se encontram na parte oriental e nororiental da Finlândia, norte da Suécia e da Noruega e, principalmente onde existem muitos lagos, como ocorre em Leningrado, karelia e Estônia. Na Sibéria, Europa e África A B também é alta a incidência. No Alasca, verifica-se que 30% dos esquimós estão parasitados (BARROS; MENDES; SANTOS, 2002). Eiras (1994b) cita que D. latum é o maior cestóide que pode parasitar o homem, com os adultos podendo atingir 25m de comprimento e conter mais de 4000 proglotes. O homem também é susceptível ao D. dentriticum, cujo ciclo vital é similar ao de D. latum, o qual pode persistir durante muitos anos no intestino do homem, enquanto que o D. dentriticum é expulso após alguns meses. Na Groelândia e Japão, foram detectados D. cordatum infectando o homem através do consumo de peixes marinhos. Seus hospedeiros definitivos são principalmente as focas marinhas. No Alasca e Canadá é o D. ursi que infecta o homem, devido ao consumo de salmões do gênero Onchorhynchus, tem como principais hospedeiros definitivos os ursos (Ursos arctos e U. americanus) (EIRAS, 1994b). Outros casos humanos no Alasca e Sibéria devem-se a D. dalliae, um difilobotrídeo de cães, raposas e gaivotas, cujos plerocercóides encontram-se no peixe Dallia pectoralis (ACHA; SZYFRES, 1986). O homem infecta-se pelo consumo de pescado, ovas e fígados (de peixes) crus, ligeiramente salgados ou submetidos à defumação sem aquecimento suficiente. Os plerocercóides podem parasitar peixes predadores que, nesse caso, terão o papel de hospedeiros paratênicos na cadeia biológica (EIRAS, 1994b). A infecção humana não se limita às zonas endêmicas, pois pode ser disseminadas pelo transporte e consumo de peixe infectado refrigerado (ACHA; SZYFRES, 1986). Acha e Szyfres (1986) alertam que existem indicativos de que peixes anádromos (que migram anualmente de águas marinhas para águas doces) poderiam ser uma fonte comum de infecção por plerocercóides de diferentes espécies de Diphyllobothrium, tanto para mamíferos terrestres como marinhos. Assim, os peixes de um ecossistema de água doce que se alimentam de peixes anádromos poderiam adquirir larvas de origem marinha e os mamíferos terrestres poderiam infectar-se com elas, ao consumi-los crus. No homem, um ou mais cestódeos, fixados na mucosa do íleo, ou jejuno (menos freqüente), crescem cerca de 5cm/dia, e apresentam condições de produzir ovos num período de 25-30 dias. Em pacientes que albergam grande número de parasitas, pode haver obstrução mecânica do intestino, em outros pode haver transtornos digestivos, apatia e insensibilidade de extremidades, diarréia, fome ou anorexia, vômitos de parasitas, ardor no estômago, tonturas e glossites. A complicação mais grave consiste numa anemia megaloblástica, que ocorre em cerca de 2% das pessoas parasitadas. A sintomatologia é similar à da anemia perniciosa e deve-se ao bloqueio da absorção da vitamina B12 (VOIGHT; KLEINE, 1975; ACHA; SZYFRES, 1986; LEITÃO, 1983; FAUST et al., 1987; EIRAS, 1994b; BARROS et al., 2002), pois o parasita interfere na combinação da vitamina com o fator intrínseco e, deste modo, há uma deficiência em vitamina B12. Frequentemente, os pacientes são subictéricos, têm febre, edemas, hemorragias e parestesias nas pernas, além dos sintomas supracitados (ACHA; SZYFRES, 1986). No Brasil, dois casos foram relatados em 1915, um na Bahia em um marinheiro escandinavo e outro em São Paulo, em uma francesa que residia na Suíça.Recentemente, um brasileiro que residia em Porto Alegre viajou para Europa e New Orleans, tendo consumido, algumas vezes, camarão e peixe (aparentemente não crus). Após alguns meses, relatou dores abdominais leves e azia e, através de suas fezes, foram eliminadas proglotes. No exame parasitológico, comprovou-se que as proglotes peretnciam a espécie D.latum (Figura 12 A e B). A terapia utilizada pelo paciente foi Praziquantel 600mg (EMMEL et al., 2006). A. B. Figura 12 – Adulto (A) e ovos de D.latum medindo aproximadamente 64 x 45μm (B). Fonte: EMMEL et al. (2006). Num período de um ano, de acordo com o Centro de Vigilância Epidemiológica do Estado de São Paulo, foram notificados 23 casos da parasitoses, sendo 11 no primeiro trimestre de 2005, cuja fonte de infecção comum entre eles seria o salmão importado por uns poucos fornecedores. Entretanto, não se pode descartar a possibilidade de que espécies de peixes paulistas ou da costa brasileira, utilizadas no preparo de “sushis” e “sashimis”, estejam contaminadas (EDUARDO et al., 2005). No homem, a prevenção basea-se na educação sanitária da população para que se abstenha de consumir peixes crus ou insuficientemente cozidos, fazer o congelamento do pescado a -18ºC por 48 horas em áreas endêmicas antes do transporte para o mercado e realizar medidas de controle contra a contaminação dos rios e lagos. Uma cozedura de todo o peixe proveniente de regiões endêmicas também é importante para evitar-se a doença e não alimentar os animais domésticos com restos de peixe cru (ACHA; SZYFRES, 1986). 2.2.4.2 Trypanorhyncha Além do Diphyllobothrium, existem outros grupos de cestódeos que são encontrados na forma de estágios larvais nos peixes marinhos e que pertencem à ordem Trypanorhyncha, são considerados poucos patogênicos, porém tem grande importância na inspeção higiênico-sanitária de peixes a serem comercializados (AMATO et al., 1990). A ordem Trypanorhyncha é caracterizada pela presença, no ápice do escólex, de quatro tentáculos eversíveis, que sustentam um complexo de diversos ganchos utilizados para a fixação dos helmintos adultos ao trato gastrointestinal de seus hospedeiros definitivos (peixes teleósteos, elasmobrânquios e uma variedade de invertebrados marinhos). O estágio larval, conhecido como plerocerco ou pós- larva, é encontrado nas cavidades corpóreas de peixes teleósteos, crustáceos ou, raramente, répteis (SÃO CLEMENTE et al., 2004; OLIVEIRA, 2005; SÃO CLEMENTE et al., 2007). De acordo com as publicações disponíveis até o momento sobre a fauna de eucestóides marinhos registrados para o Brasil, a ordem Trypanorhyncha é a que se encontra melhor estudada e está representada por cerca de 20 espécies, incluídas em 8 famílias (BUENO, 1998). Os vermes adultos habitam o intestino de peixes elasmobrânquios (tubarões e raias) e as formas larvares são encontradas na cavidade celômica e nas musculaturas de peixes teleósteos, crustáceos e moluscos cefalópodes (LIMA, 2004). Experimentalmente, Sakanari e Moser (1989) elucidaram o ciclo evolutivo de Lacistorhynchus dollfusi, parasita da válvula espiral de tubarão-leopardo (Triakis semifasciata), conseguindo infectar crustáceos Copepoda Tigriopus californicus como hospedeiros intermediários primários, onde se desenvolveu a larva procercóide, e peixes-mosquito (Gambusia affinis) como hospedeiros intermediários secundários, onde se desenvolveram as larvas plerocercóides infectantes para os tubarões. As larvas plerocercóides típicas são envolvidas por uma espessa cápsula ou vesícula denominada de blastocisto (BUSH et al., 2001). A dinâmica do ciclo evolutivo geral do cestóide Trypanorrhyncha está expressada no trabalho de Grabda (1991) (Figura 13). Figura 13 - Ciclo evolutivo geral de Trypanorrhyncha HOSPEDEIRO DEFINITIVO (ELASMOBRÂNQUIAS) OVOS FÉRTEIS ÁGUA LARVA CORACÍDIO 1º HOSPEDEIRO INTERMEDIÁRIO (MICROCRUSTÁCEO) CORACÍDIO → PROCERCÓIDE MICROCRUSTÁCEO INGERIDO PELO 2º HOSPEDEIRO INTERMEDIÁRIO (PEIXE, CRUSTÁCEO OU MOLUSCO) PROCERCÓIDE → PLEROCERCÓIDE OU PLEROCERCO (BLASTOCISTO) A maioria das espécies desses helmintos foi descrita, tendo como base as formas larvais, formadoras ou não de cistos, coletadas de uma inúmera espécie de peixes teleósteos marinhos de interesse comercial (BUENO, 1998; LIMA, 2004). A falta de conhecimento das formas adultas, alojadas em seus hospedeiros definitivos, está associada aos trabalhos de vigilância sanitária de produtos destinados ao consumo humano (BUENO, 1998), demandando, portanto, publicações que praticamente investigam os cestóides da fauna marinhas brasileiras direcionadas as infrapopulações de parasitos associados a espécies de peixes teleósteos de interesse comercial (SÃO CLEMENTE, 1986a; AMATO et al., 1990, PEREIRA JUNIOR, 1993; TAKEMOTO et al., 1996) e a peixes cartilaginosos (REGO, 1977; SÃO CLEMENTE; GOMES, 1989; SÃO CLEMENTE; GOMES, 1992). Os parasitos desta ordem podem ser considerados muito pouco estudados quando comparados com outros helmintos. O conhecimento obtido sobre estes helmintos apresenta, ainda hoje, muitas lacunas em relação às respectivas biologias e, principalmente, as interações com seus hospedeiros (LIMA, 2004). A prevalência e intensidade de infecções altas em determinadas espécies de peixes, como por exemplo, da garoupa São Tomé (conhecida como garoupa- bichada), levam a diminuição da aceitabilidade desta espécie por parte dos compradores. Em nível internacional, é fato a condenação de partidas de determinadas espécies de peixes, pelos países importadores, devido ao parasitismo muscular por Trypanorhyncha (LIMA, 2004). Segundo Faria e Silva1 (apud Lima, 2004), os registros de parasitismo remontam a 1934, com registros desse grupo de cestóide em 21 espécies de peixes teleósteos e elasmobrânquios desembarcados no antigo Entreposto Federal de Pesca do Rio de Janeiro (CIBRAZEN), mas, denominando-os, genericamente, de Tetrarhynchus sp. Na década de 70, a literatura brasileira registra a contribuição do trabalho de Santos e Zogbi (1971) desenvolvido no município de Rio Grande, no Rio Grande do Sul, que reportaram a presença de Tetrarhyncus fragilis na musculatura de seis, de dez peixes teleósteos avaliados. Outras contribuições registradas foram os trabalhos de REGO et al. (1974), REGO e DIAS (1976) e REGO (1977). _______________________________ 1FARIA, A.; SILVA, A. D. Garoupa Vermelha de Abroulhos e São Tomé “Garoupa Bichada” Tetrarhynchus (Primeira Nota). I Congresso Nacional de Pesca. Rio de Janeiro, 1:237-250, 1934. O aspecto higiênico-sanitário da parasitose passou a ganhar maior importância na década de 80, com os trabalhos de São Clemente (1986a, 1986b, 1987) em Micropogonias furnieri (corvinas). Neste último trabalho, o autor encontrou uma prevalência de 38% (n=1000), assinalando o parasitismo pelos cestóides Trypanorhyncha Callitetrarhynchus gracilis, P. caryophyllum, P. heteracanthum e Pterobothrium sp., que apresentaram comportamentos diferenciados em relação à área corpórea do peixe parasitada. No Pará, Rego (1987) ao examinar blastocistos de Trypanorhyncha colhidos em vísceras dos peixes fluviais Brachyplatytoma flavicans (dourada) e Brachyplatytoma vaillanti (piramutaba) e do peixe estuarino Bagrus marinus (bandeirada), procedentes da região de Belém, Pará, identificou larvas de Pterobothrium crassicolle. Amato et al. (1990) contribuíram com novas pesquisas, estudando o parasitismo no bonito (Katsuwonus pelamis), para atender às reclamações de importadores europeus desse peixe, feitas às autoridades brasileiras, alegando que o produto exportado continha vermes.Após a análise de 28 exemplares, foi observado parasitos apenas na musculatura abdominal, com uma prevalência de 92,7% e intensidade média de 86,3 plerocercos por peixe e, a partir desse resultado, sugeriram a remoção dessa parte do corpo que, freqüentemente, mostrava-se parasitada, como alternativa para a exportação do pescado. São Clemente et al. (1991, 1995, 1997) registraram novos casos em Netuma barba, Balistes vetula e Pomatomus salator, respectivamente. Posteriormente, Silva e São Clemente (2001) registraram novas infecções em Coryphaena hippurus e Lutjanus synagris, todos capturados ao longo do Estado do Rio de Janeiro. Ainda na década de 90, foi realizado o primeiro levantamento de cestóides Trypanorhyncha em elasmobrânquios no litoral do Rio Grande do Sul, sendo registrados índices de prevalência e intensidade parasitária em 154 espécimes, pertencentes a oito espécies diferentes de tubarões (SÃO CLEMENTE et al., 1991). O Estado de São Paulo representa um hiato entre os estados do Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul no que diz respeito ao estudo de eucestóides, tanto os de água doce quanto os marinhos. Isto é, poucos estudos foram realizados em relação a presença destes eucestóides em peixes do litoral paulista, com registros de dois trabalhos sobre estes helmintos, parasitando medusas e peixes teleósteos, provenientes da região de Santos (VANNUCCI MENDES, 1944a; VANNUCCI MENDES, 1944b; BUENO, 1998). Palm (1997) desenvolveu um estudo com o objetivo de pesquisar cestódeos Trypanorhyncha na musculatura e vísceras de peixes explorados comercialmente na costa tropical brasileira, foram analisadas amostras de 798 peixes do nordeste brasileiro, pertencentes a 57 espécies. Foram identificadas 11 espécies de Trypanorhyncha de 15 espécies de peixes, sendo que a maioria dos vermes ocorreu na cavidade corpórea e mesentéria, e em apenas dois casos a musculatura estava parasitada com: C. gracilis em Haemulon aurolineatum (corcoroca) e Pterobothrium kingstoni em Citharichthys spilopterus (linguado). O resultado levou o autor a concluir que a cestodofauna da zona litorânea tropical brasileira é similar a da costa oeste africana, onde estudou a parasitofauna de 45 espécies de peixes do estuário nigeriano. Cinco dos cestódeos encontrados são comuns as 2 costas litorâneas. Quanto à localização das larvas, Overstreet (1977) observou que a presença de plerocercóides de Pterobothrium heteracanthum ocorreu com maior freqüência no centro da musculatura corporal, seguido das áreas adjacentes à coluna vertebral, e em menor intensidade na musculatura abdominal, em peixes Sciaenidae. São Clemente et al. (1991) analisaram espécimes de bagre (Netuma barba), detectando parasitismo por larvas de e Pterobothrium crassiolle localizadas na massa muscular e, por Callitetrarhynchus gracilis e Callitetrarhynchus speciosum na serosa abdominal e vísceras. São Clemente et al. (1993), assinalaram a presença de Dasirhynchus giganteus localizado na musculatura da cabeça de xaréus (Caranx hippos), pescados no litoral do Estado do Pará. Oliveira (2005) pesquisou o parasitismo em espécimes de Arius proops (uritinga), Cynoscion acoupa (pescada amarela), Cynoscion virescens (pescada cambuçú) e Macrodon ancylodon (pescadinha-gó), capturados no litoral norte do Brasil. A biota de Trypanorrhyncha foi representada por blastocistos das espécies Poecilancistrium caryophyllum, (Figura 14), Pterobothrium heteracanthum (Figura 15), Callitetrarhynchus gracilis (Figura 16) e Pterobothrium crassicolle (Figura 17). Entre os peixes parasitados, 85,19% apresentavam parasitismo na região abdominal (serosa e musculatura abdominal) e 81,48% parasitismo muscular (musculatura abdominal e corporal). Figura 14 - Blastocistos de Poecilancistrium caryophyllum em musculatura do corpo de Cynoscion acoupa (A) e livre, destacando seu prolongamento caudal (B). Fonte: OLIVEIRA (2005). bs bv Figura 15 - Blastocisto de Pterobothrium heteracanthum em serosa abdominal parietal de Arius proops. Fonte: OLIVEIRA (2005). Figura 16 - Blastocisto de Callitetrarhynchus gracilis em musculatura abdominal de Cynoscion acoupa. em formato de vírgula (bv) e saculiforme (bs). Fonte: OLIVEIRA (2005). Figura 17 - Visualização de blastocisto de Pterobothrium crassicolle em musculatura abdominal de Arius proops com auxílio da mesa de inspeção “candling table”. Fonte: OLIVEIRA (2005). Mesmo não possuindo potencial zoonótico, os helmintos da ordem Trypanorhyncha adquirem importância higiênica e determinam prejuízos econômicos significativos, porque, a presença das formas larvares na musculatura, peritônio, mesentério e fígado, conferem ao pescado um aspecto repugnante, levando-o a ser rejeitado pelo consumidor, ou descartado pela inspeção sanitária (SÃO CLEMENTE et al., 2004; LIMA, 2004). A presença de larvas de Trypanorrhyncha na musculatura não apresenta risco de infecção para humanos, entretanto afeta a estética do pescado pelo aspecto repugnante, provocando rejeição por parte do consumidor e a comercialização impedida pela fiscalização sanitária (SÃO CLEMENTE et al., 2004). O consumo de peixe cru contendo larvas de Trypanorhyncha pode levar a infecção acidental humana, embora nada tenha sido comprovado neste aspecto. Contudo, no Japão houve um caso de um consumidor que ao se alimentar de um prato contendo pescado cru teve uma larva de Nybelinia surmenicola, da ordem Trypanorhyncha fixada em seu palato mole (KIKUCHI et al., 1981). São Clemente et al. (2001) encontraram dois casos na literatura de Hepatoxylon trichiuri diagnosticados vivos em fezes humanas, um em Johannesburg (África do Sul) e outro em Maputo, Moçambique. A 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS Algumas helmintosede em peixes resultam em perdas econômicas na indústria pesqueira, uma vez que as autoridades sanitárias proíbem a comercialização de peixes com larvas visíveis, em função de riscos para a saúde coletiva, por elas transmitirem doenças ou por conferirem um aspecto repugnante. A cada dia novos casos de infecções humanas por helmintos adquiridos pelo consumo de pescado vêm sendo registrados no mundo inteiro, inclusive no Brasil, em especial, nos consumidores de pratos preparados com peixe cru (“sushi” e “sashimi”). A prevenção baseia-se na abstinência da ingestão de pescado cru ou mal cozido insuficientemente, embora isso seja praticamente impossível em algumas regiões orientais, devido aos fortes hábitos culturais e alimentares da população. É necessário um trabalho de educação sanitária para a conscientização da população sobre os perigos da ingestão de pescado cru ou mal cozido, assim como, desenvolver técnicas eficientes para a localização e inativação completa e segura dos parasitos na carne de pescado e, evitar a importação de peixes provenientes de regiões endêmicas de zoonoses parasitárias. REFERÊNCIAS The Gastrolab Endoscopy Pictures Archives. Diphyllobothrium latum: fish tapeworm, broad tapeworm. Disponível em: www.gastrolab.net/pa-178.htm. 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