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NEUROLÉPTICOS, ANTIPSICÓTICOS, ANTI-DEPRESSIVOS E LÍTIO– AULA 10 Psicofármacos o Neurolépticos e antipsicóticos, antidepressivos, estabilizadores de humor (Li+) o Fármacos com predomínio de acções sobre o psiquismo, raciocínio, as emoções, as atitudes e o comportamento de doentes com distúrbios psiquiátricos. Sistema Nervoso Central o É o mais complexo dos sistemas fisiológicos, pelo que é difícil conhecer os efeitos das substâncias. o Contrariamente aos outros órgãos, o cérebro é composto por diferentes tipos de células com propriedades fisiológicas, anatómicas e bioquímicas distintas. O seu funcionamento resulta da integração das acçoes das suas células constituintes. o O cérebro não funciona em unidade e os estudos existentes não permitem afirmar com clareza, quais são as células afectadas, mas apenas relacionas o fármaco com o efeito farmacológico final. o As características da organização funcional dos sistemas neuronais permitem que um determinado fármaco possa apresentar em simultâneo acções específicas estimulantes e depressoras. Neurofarmacologia o A acção farmacológica obedece a uma complexidade de interacções neuronais no cérebro – rede eléctrica. o Difícil prever os efeitos da interferência induzida por fármacos: Resposta primária (adaptativa): imediata Resposta secundária (resposta à interacção primária do fármaco): lenta o Frequentemente é a resposta secundária que produz o efeito clínico. Psicose o Incapacidade de distinguir entre a experiência subjectiva e a realidade externa, ou seja, existe uma perda de contacto com a realidade. o Estado mental caracterizado por: Alucinações Delírio Alterações da personalidade Pensamento desorganizado Comportamentos estranhos Isolamento social Humor instável Psicose orgânica Psicose funcional Não é uma disfunção mental Disfunção mental Reversível Irreversível Secundária a uma afecção cerebral primária, doença sistémica ou uso continuado de substâncias tóxicas Ausência de definição causal (factores genéticos, ambientais, biológicos, psicológicos…) Exemplos: demências (senil, Alzheimer, Pick) Exemplos: esquizofrenia, perturbações afectivas ou de humor (doença bipolar) Esquizofrenia o Doença mental grave que afecta cerca de 1% da população mundial, que se manifesta em indivíduos entre os 15 e os 25 anos, sendo crónica e altamente debilitante. o Principais características clínicas Sintomas positivos: Alterações do pensamento Alucinações (sobretudo auditivas) Delírios Sintomas negativos Apatia Embotamento afectivo Défice na linguagem e atenção Adicionalmente, alterações na função cognitiva (atenção, memória), ansiedade e depressão são sintomas frequentes. o Teoria dopaminérgica (níveis elevados de dopamina) Baseada em evidências farmacológicas indirectas Anfetamina e agonistas dopaminérgicos D2 (ex. bromocriptina) crises psicóticas, exacerbação da sintomatologia em indivíduos esquizofrénicos Antagonistas dopaminérgicos, reserpina eficazes no controlo dos sintomas positivos e nas alterações comportamentais induzidas pelas anfetaminas Forte correlação entre a potência anti-psicótica clínica e a extensão do bloqueio dos receptores D2 A eficácia clínica antipsicótica é atingida quando o antipsicótico ocupa cerca de 80% dos receptores da família D2. No entanto Não existem estudos bioquímicos consistentes que mostrem aumento na síntese ou libertação de DA A produção de prolactina não parece estar aumentada Aumento da densidade de receptores dopaminérgicos não é consistente Estudos genéticos falharam na tentativa de estabelecer uma relação entre a esquizofrenia e polimorfismos no receptor D4 (Clonazepina) Antagonista selectivo para os receptores D4 mostrou-se ineficaz nos ensaios clínicos O envolvimento do sistema dopaminérgico na fisiopatologia é evidente; no entanto, os detalhes são ainda desconhecidos. Vias dopaminérgicas Da substância negra (mesencéfalo) para o núcleo estriado = via nigroestriada (modulação da função motora) Do mesencéfalo para o sistema límbico (núcleo accumbens) = via mesolímbica (recompensa, modulação da resposta comportamental) Do núcleo arqueado (hipotálamo) para a hipófise = sistema tuberoinfundibular (controlo neuroendócrino) Do mesencéfalo para os lobos frontais = via mesocortical (funções cognitivas, motivação, resposta emocional) o Teoria glutamatérgica (redução da activação NMDAR) A cetamina, antagonista dos receptores NMDA, induz sintomas psicóticos (alucinações, alterações no pensamento) Redução nas concentrações de glutamato e na densidade dos seus receptores foi observado em cérebros postmorten de indivíduos esquizofrénicos Ratinhos transgénicos que expressam níveis reduzidos de NMDAR apresentam sintomas negativos da esquizofrenia (ausência de interacção social) que respondem à acção de antipsicóticos o Integração da teoria dopaminérgica e glutaminérgica Hipótese associativa da hipofunção cortical (redução dos receptores NMDA) e os sintomas da esquizofrenia Os sintomas positivos estão relacionados com o aumento da actividade dopaminérgica, sendo os sintomas negativos resultantes da redução da actividade dos receptores NMDA. o Dopamina: tipos de receptores e distribuição no SNC Antipsicóticos o Classificação baseada em Perfil do receptor Incidência dos efeitos colaterais extrapiramidais Eficácia no grupo de pacientes resistentes ao tratamento Eficácia contra os sintomas negativos o Antipsicóticos típicos Fenotiazinas Alifática: Clorpromazina Piperina: Tioridazina Piperazina: Flufenazina; Trifluoperazina Tioxanteno Piperazina: Flupentixol; Clopentixol Butirofenona: Haloperidol o Antipsicóticos atípicos Dibenzodiazepina: Clozapina; Quetiapina Banzisoxazole: Risperidona Tienobenzodiazepina o Mecanismo de acção Antipsicóticos típicos Antagonismo dos receptores da família D2 na via mesolímbica Antipsicóticos atípicos Antagonismo misto dos receptores da família D1 e D2 na via mesolímbica Antagonismo dos receptores 5-HT2 Dissociação rápida do receptor da família D2 Efeito terapêutico: ocupação > 90% Efeito extrapiramidal: ocupação > 80% o Efeitos adversos – Antipsicóticos típicos Relacionados com o bloqueio D2 Sem controlo dos sintomas negativos Via mesocortical Efeitos extrapiramidais Hiperprolactinemia Galactorreia Amenorreia Disfunção sexual Ganho de peso Sedação Hipotensão Bloqueio α Visão turva, boca seca, tonturas Bloqueio mAChR Acinésia, bradicinésia, distonias, discinéria, discinésia tardia O balanço entre as influências da via directa e indirecta sobre o pálido é um factor crítico na modulação do movimento. o Vantagens dos antipsicóticos atípicos Hipótese: A activação dos receptores 5-HT2R inibe a libertação de DA. Menos efeitos extrapiramidais o Actividade 5-HT2R reduz libertação de DA o Antagonismo 5-HT2R desloca o antagonismo D2R (indirecto) Controlo dos sintomas negativos e positivos o Densidade 5-HT2R > D2R na via mesocortical Aumento da actividade DA o Densidade 5-HT2R < D2R na via mesolímbica Diminuição da actividade DA Menor hiperprolactinémia o 5-HT2R estimulam a libertação de prolactina Via tuberoinfundibular Antagonismo H1 o Antipsicóticos: uso clínico Esquizofrenia Doença Bipolar Depressao Síndrome de Gilles de la Tourette Coreia de Hutington Antieméticos Antivertiginosos Ansiolíticos o Estratégia terapêutica Utilização racional de antipsicóticos Evitar ou minorar a intensidadee gravidade e a persistência dos efeitos adversos (em particular os efeitos extrapiramidais) Fármaco será escolhido de acordo com a experiencia previa do doente com este tipo de fármacos Preferível usar dosagens divididas ao longo do dia (complicado) Risperidona possui a relação 5-HT/D2 mais elevada e T ½ mais baixo (≠ dos antipsicóticos típico, haloperidol ou cloropromazina) Depressão o Uma das perturbações psiquiátricas mais comuns o Distúrbio mental e afectivo, caracterizado por humor negativo e perda de interessa ou prazer nas actividades diárias normais. o Sintomas emocionais: Apatia, pessimismo Baixa auto-estima, sentimentos de culpa Indecisão, perda da motivação Pensamento suicida Crianças e adolescentes: irritabilidade e agressividade o Sintomas biológicos/manifestações clínicas: Pensamento lento e acção demorada Redução da capacidade de concentração Perda da libido Insónia Alteração do apetite o Teoria monoaminérgica (níveis reduzidos de NA e 5-HT) No entanto, as anfetaminas e a cocaína não apresentam propriedades antidepressivas. o Antidepressivos: classes Inibidores da Monoaminooxidase Inibidores não selectivos A e B Inibidores reversíveis da MAO-A Inibidores da recaptação de NA e/ou 5-HT Inibidores selectivos da recaptação de 5-HT Antidepressivos tricíclicos Inibidores da recaptação NA e 5-HT Outros Inibidores da MAO Moclobemida é o único representante deste grupo em Portugal – Inibidores reversíveis da MAO-A Toxicidade reduzida (menor interacção Tiramina e fármacos) Efeitos adversos o Secura da boca o Vertingens o Cansaço o Sudorese o Náuseas o Vómitos o Taquicardia o Crises hipertensivas Uso clínico o Bulimia stress pós-traumático o Neurose obsessivo-compulsivo Antidepressivos tricíclicos Inibidores da recaptação da NA e 5-HT (efeito terapêutico) Bloqueio dos receptores muscarínicos, da histamina e α1 Uso preferencial nas crianças e adolescentes Efeitos adversos o Tonturas o Sedação o Boca seca o Sudação excessiva o Ganho de peso o Retenção urinária o Tremores e agitação o Cardiotoxicidade o Transição brusca do estado de depressão para o estado de mania em doentes bipolares o Intoxicações agudas frequentes e potencialmente fatais (convulsões tónico-clónicas, coma, depressão respiratória, hipoxia, morte por colapso respiratório) Inibidores selectivos da recaptação da serotonina Ausência de ligação aos receptores de histamina e α1 baixa incidência de efeitos adversos Síndrome da serotonina: hipertensão, tremor, convulsões Inibidores da recaptação de DA Bupropiona o Inibição da recaptaçao das monoaminas como a dopamina e a adrenalina o Tratamento de depressão e deixar de fumar o Efeitos adversos: Tonturas, boca seca, sudorese, tremor, agravamento da psicose, potencial de convulsões com doses elevadas o Contra-indicações: pacientes epilépticos Inibidores da recaptação de 5-HT e NA Venlafaxina o Difere dos antidepressivos tricíclicos, pois não tem afinidade para os receptores muscarínicos, adrenérgicos e menor para a histamina o Maior eficiência eu a fluoxetina e início de acção mais rápido o Efeitos adversos: Náuseas, sonolência, sudorese, tonturas, ansiedade, distrubios sexuais, diarreia, erupções cutâneas Outros Trazodona o Actua por bloqueio da recaptação de 5-HT e dos receptores pós-sinápticos 5-HT2A e histamínicos o Sedação acentuada, por vezes usada no tratamento da insónia o Efeitos adversos: Visão turva, obstipação, hipotensão, hipertensão, fadiga, sonolência, náuseas e vómitos Doença bipolar o Doença psiquiátrica caracterizada pela alternância de episódios de mania, por vezes psicóticos e depressivos; estes episódios são intervalados por períodos de humor normal. o Resulta de oscilações nos níveis de DA, NA e 5-HT o Alteração das sinapses e da organização dos circuitos neuronais o Estabilizador de humor: Li+ Capacidade de tratar quer os sintomas maníacos, quer os depressivos Diminui a recaptação de 5-HT Aumenta a captação de triptofano Aumenta a actividade metabólica das vias de síntese das aminas Desloca o equilíbrio dos 5-HTR para o estado de baixa afinidade Aumenta a recaptação de NA Mecanismos de entrada do lítio no compartimento intracelular Bombas de sódio e potássio (o lítio substitui o potássio e entra dentro da célula) Canais de Ca2+ / Bombas de Na+/Ca2+ Co-transporte Na+ e K+ (monovalência; raio iónico semelhante) Mecanismo de acção Para além da sua acção nos níveis de neurotransmissores e neurorreguladores o Alterações no transporte de electrólitos através da membrana citoplasmática Interacções iónicas O lítio substitui parcialmente o sódio no transporte de cargas, alterando a excitabilidade da membrana O lítio compete com o cálcio e o magnésio para os seus locais, tendo consequentemente influência nas acções estruturais reguladores e de sinalização destes iões o Interacção com os sistemas de 2º mensageiro AMPc e do fosfoinositol Modulação da actividade da AC Mania diminuição AMPc redução da actividade da AC induzida pela NA Depressão aumento AMPc estimulação da actividade da AC induzida pela DA e 5-HT3 o Modificação da expressão génica o Inibição da morte celular apoptótica e necrótica Activação das MAPPK Transcrição do gene antiapoptótico bcl-2 Farmacocinética Absorção: rápida e quase completa no tracto gastrointestinal Via de administração: oral (completa 6-8h após a ingestão) Distribuição: distribuição nos fluidos corporais extra e intracelulares; entrada lenta nos compartimentos intracelulares Proteínas plasmáticas: não se liga a proteínas Metabolismo: nenhum Excreção: renal (~95%) e o restante pela saliva, suor e fezes o Após a suspensão do tratamento, 99% do lítio é eliminado ao fim de 7 a 10 dias Efeitos adversos Gerais: vómitos, diarreia, anorexia, poliúria, polidipsia, tremor das mãos, aumento do peso, edema Toxicidade aguda: fraqueza muscular, hiperactividade dos reflexos tendonais, disartria, sonolência, apoplexia, coma, morte Toxicidade crónica: hipotiroidismo, hiperparatiroidismo, hipercalcemia, hipermagnesemia, nefrite intersticial, atrofia e fibrose renal, diabetes insipidus, problemas dermatológicos Janela terapêutica O lítio possui margem terapêutica reduzida A quantidade de lítio necessária para exercer efeito terapêutico é muito próxima da tóxica O equilíbrio dinâmico entre os níveis de lítio nos tecidos e no soro fazem com que o doseamento sérico deste elemento seja uma boa forma de monitorizar a sua quantidade no organismo. Intoxicação Medidas: lavagem gástrica, carvão activado, hidratação, solução de Ringer, hemodiálise Factores que condicionam a duração da intoxicação o Tolerância inerente a cada indivíduo o Doença concomitante o Fármacos o Desidratação o Dietas pobres em sódio o Ingestão aumenta de lítio Conclusão o Os psicofármacos actuais são bastante eficazes. o No entanto, a variabilidade individual condiciona a sua eficácia. o Apresentam efeitos adversos graves e debilitantes que potenciam a atitude refractária do doente ao tratamento.
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