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182 Capítulo 9 – Tolerância Imunológica e Autoimunidade os receptores in ibitórios nas cé lulas B podem estar en volvidos, evitando assim a ativação. A g o r a q u e d e s c r e v e m o s os p r i n c i p a i s mecanismos de t olerância própria, podemos considerar consequências da falha da tolerân- cia própria – cha mada de desenvolvimento de a utoimunidade. Os mecani smos de dano tecidual nessas doenças e as estratégias tera- pêuticas para as desordens autoimunes serão descritos no Capítulo 11. AUTOIMUNIDADE A au toi mun id ad e é de fi nid a c omo u m a resposta imun e con tra os an tígenos próp rios ( au t ó l o g os ) . É u m a i m p o r t a n t e c a u s a d a doença, afetando de 2% a 5% da população 182 Capítulo 9 – Tolerância Imunológica e Autoimunidade os receptores in ibitórios nas cé lulas B podem estar en volvidos, evitando assim a ativação. A g o r a q u e d e s c r e v e m o s os p r i n c i p a i s mecanismos de t olerância própria, podemos considerar consequências da falha da tolerân- cia própria – cha mada de desenvolvimento de a utoimunidade. Os mecani smos de dano tecidual nessas doenças e as estratégias tera- pêuticas para as desordens autoimunes serão descritos no Capítulo 11. AUTOIMUNIDADE A au toi mun id ad e é de fi nid a c omo u m a resposta imun e con tra os an tígenos próp rios ( au t ó l o g os ) . É u m a i m p o r t a n t e c a u s a d a doença, afetando de 2% a 5% da população nos países desenvolvidos, e a prevalên cia de diversas doenças a utoimunes está aum en- tando. É importante observar que em muitos casos as doença s associad as a uma resposta imune descontrolada são chamadas de au- toimunes sem q ualquer evi dência form al de que as respost as sejam d irecionadas con tra os a ntígenos próprios. atogênese Os p r i n c i p a i s f a t o r e s no d e s en v o l v i - mento da autoimunidade são a herança de genes suscetíveis e os estímulos am- bientais, como as infecções (Fig. 9-10). A lesão tecidual nas doen ças autoim unes pode ser ca usada p or anticorpos con tra os antíg e- nos próp rios ou pelas células T rea tivas com 182 Capítulo 9 – Tolerância Imunológica e Autoimunidade os receptores in ibitórios nas cé lulas B podem estar en volvidos, evitando assim a ativação. A g o r a q u e d e s c r e v e m o s os p r i n c i p a i s mecanismos de t olerância própria, podemos considerar consequências da falha da tolerân- cia própria – cha mada de desenvolvimento de a utoimunidade. Os mecani smos de dano tecidual nessas doenças e as estratégias tera- pêuticas para as desordens autoimunes serão descritos no Capítulo 11. AUTOIMUNIDADE A au toi mun id ad e é de fi nid a c omo u m a resposta imun e con tra os an tígenos próp rios ( au t ó l o g os ) . É u m a i m p o r t a n t e c a u s a d a doença, afetando de 2% a 5% da população nos países desenvolvidos, e a prevalên cia de diversas doenças a utoimunes está aum en- tando. É importante observar que em muitos casos as doença s associad as a uma resposta imune descontrolada são chamadas de au- toimunes sem q ualquer evi dência form al de que as respost as sejam d irecionadas con tra os a ntígenos próprios. Patogênese Os p r i n c i p a i s f a t o r e s no d e s en v o l v i - mento da autoimunidade são a herança de genes suscetíveis e os estímulos am- bientais, como as infecções (Fig. 9-10). A lesão tecidual nas doen ças autoim unes pode ser ca usada p or anticorpos con tra os antíg e- nos próp rios ou pelas células T rea tivas com os a nt íge no s p ró pr io s. Mui to se tem apre ndido com os modelo s animais ex - perim entais a respeito de c omo a tolerância nas célu las T e B autorreativ as pode fa lhar e co mo os lin fóc ito s a uto rre a tiv os pod e m ser patog ênicos. Pos tula -se que os gen es da su sc et ibi lid ade po ssam in terf er ir com v ia s da tolerância própria e levar à persistência de linfócito s T e B au torreativos. Os estímu los ambienta is pod em p rovocar lesão celula r e tecidual e inflam ação, re sultando na entrada e ativ a çã o des se s li nf ó cit o s au to r re a t iv o s . Os lin fócito s ativad os le sionam os tecid os e provoca m a doenç a. Mes mo assi m, a pe sar de nosso cres ce nte co nh e ci m e nt o da s ano r ma l id ad e s im un o - ló g i c a s que p o d e m r e s u l t a r em au t o i m u - ni d a d e , a i n d a n ã o s a b e m os a e t i ol o g i a d e toda s as do enç as a ut oim une s h um an as. Ess a defi ciên cia na co mpr ee nsã o é r esu ltad o de di v e rs o s fa to r e s: do e n ç a s a u t oi m u n e s e m hu m an o s u su a lm e n te são he te ro g ên e as e multifatoriais; os antígenos próprios, qu e são os indutores e alvos das reações autoimunes, fr e q u e n t e m e n te s ã o d e s c o n h e c i d o s , e a s doen ças po de m ma nife sta r -se cl in icam ent e mui to tem po depoi s de as r eaç ões autoi mu - nes t ere m s id o in icia das . Avanços re ce ntes , incluind o a id entificação de genes associados a doe nça s, melh ore s téc nic as no es tudo da resposta imunológica antígeno-específica em hu m an o s, e a a n ál is e de mo de lo s an i m a is q u e p o d e s e r e x t r a p o l a d a p a r a s i t u a ç õ e s clíni cas , as se gura m um a pr om essa pa ra r es- post as a o e nig ma da au toi mun ida de . Fatores Genéticos O risco hereditá rio para a maioria das d o e n ç a s a u to im u n e s é a t ri b u í d o a o s m ú l t i p l o s l oc i g e n é t i c o s , d o s q u a i s a maior co ntribuição é fei ta pe los genes do MHC. Se um dos irmãos gê meos idênti - cos desenvolvesse uma doença autoimune, seria mais provável que o outro irmão g ê - meo desenvolve sse a mesma doença do qu e um membro não relacionado na população geral. Além disso, o au mento d a in cidência é muito m aior entre gêmeo s monozigó ticos (idêntic os) do que en tre gêmeos diz igóticos. Esses a chados co mprovam a im portânc ia d a genética n a suscetibilidade à autoimunidade. Os estudos d e ass ociação ampla ao g enoma, as aná lises de ligação na s famílias e os estu - dos de c ruzamen tos com an imais revelara m algumas das v ariaçõe s comuns (polimorfis - mos) do s genes que podem con tribuir pa ra dife rente s do enç as aut oim u nes . O s resu lta - dos em erg ent es sug ere m que es sas v ari ant es com uns são mai s fre quen te s ( pre dis pos tas) ou meno s f req ue nt es (pro tetor as ) n os pa - cien tes do que nos contr oles saudá vei s. Sua imp ortâ nci a é re for çada pelo achad o de q ue muitos desses polimorfis mos podem afetar as resp osta s im une s, e os mes mo s p oli mo rfis - mos genét ico s estão a sso cia dos a d ife ren tes doen ças au to imu nes . N o en tant o, ess es po - limo rfis m os estã o pre sente s no s ind iví duo s saud áve is , e a c ont rib uiçã o in divi dua l de ca- da u m d ess es gen es a o dese nv olvi men to da auto imu ni dad e é be m p equ ena . Em alg uns caso s, os g ene s a sso ciad os à a utoi mu ni dad e são vari ant es ( mut aç ões ) q ue são r ara s o u inex iste nte s no s in divíd uo s s audá vei s, e m ve z de p o l im o r f i s m o s c o m u m e n t e d e t e c - ta d o s . E s s a s v a ri a n t e s r a r a s po d e r i a m t e r um gra nde im pac to nodes env olv ime nto da auto i mu ni da d e . Muitas doenças autoimunes em seres humanos e em linhagens de animais es - tão relacionadas com alelos particulares do M H C (F ig . 9 - 11). A a s s o c i a ç ã o ent re os a lelo s d o HL A e as do en ças au toim un es em ser es hu ma nos f oi reco n hec ida há m ui - tos anos , e foi u ma das prim eira s evi dên cias de q ue a s c élu las T p ossu e m u m p ap el im - portante nessas doenças (uma vez que a úni- ca f unç ão c on heci da das m ol écu las do MH C é apre se ntar antí ge nos peptí dico s às c élul as T). A i ncid ênc ia de u ma do enç a au toi mu ne em part icu lar fre que nte me nte é ma ior em indiv ídu os que her da ram u m al elo do H LA em part icu lar do q ue na pop ula ção em geral. Essa i nci dênc ia el eva da é ch am ad a de ín dic e de p roba bi lida des ou ris co r elat ivo de um a associação da doença HLA; a mesma nomen- clatu ra é aplic áv el à asso cia ção de um gene com q ual quer doe nça . Iss o é im po rta nte pa- ra re ssa ltar que, ap esa r de um al elo do H LA pod er a um ent ar o ris co de d ese nv olvi me nto de u ma d oen ça a ut oim une em par ticu lar , o alelo do HL A não é, p or el e m esm o , a c au sa da d o e n ç a . N a v e r d a d e , a d o e n ç a n ã o s e desenvol ve na vast a maior ia do s indi víd uos q ue he r d a um a le l o d o HL A q u e c o n f e r e aum ento de ri sco d a do enç a. A pes ar da as - soci ação c lara d os a lel os do MHC a div ersa s doen ças au toi mu nes, o p ap el de ss es a lel os no d e s e n v o lv i m e n t o d as d o e n ç a s p e r m a - nece d es con heci do . Alg um as hi póte se s são de qu e ale los p arti cu lare s d o MH C p od em con tribu ir pa ra o de sen vol vi men to da a u - toim uni da de, pois eles são neces sári os para apresentar os peptídeos próprios p atogênicos 184 Capítulo 9 – Tolerância Imunológica e Autoimunidade FIGURA 9-11 Associações de doenças autoimunes com alelos do locus do complexo principal de histo comp atibili dad e (MHC ). Estu dos de f amília e a ssoc iado s apre sentar am e vidê ncia s de que a quele s i ndiví duos q ue herda ram u m alelo particula r do antí geno de le ucóci to hum ano ( HL A), prova velm en te desen volv em mai s doen ças aut oimu nes do que os indiví duo s que nã o pos suem ess es al elos (índi ce de pr obabili dades ou ri sco relati vo). Os e xem plos s e leci ona dos de a sso ciaçõe s entr e o H LA e as d oença s sã o lista dos . Por exe mp lo, em indi víduo s que pos suem o alel o HLA-B27, o ri sco de de senvo lver esp ondili te anqu ilosa nte, uma doença aut oimu ne da col una, é 90 a 100 veze s maior que nos indiví duo s B27 -nega tivos; out ras doen ças a pre senta m gr aus variad os de a ssocia çã o a ou tro s alel os d o HL A. E studo s e m lin hage ns d e ani mais têm mo stra do que a in cidênc ia de al guma s doe nças aut oim unes es tá f orte men te corr elaci ona da com a her edit arie dade de al elos partic ular es do MHC ( p. ex., d iabet es m elito tipo 1 com o alel o murin o da class e II chama do I-A g7 ). para as células T autorreati vas, ou que são in efi ci ent es na a pre se nta ção de antígenos próprios no tim o, levando à seleção nega- tiva defeituosa das células T, ou porque os peptídeos antigênicos aprese ntados por es ses alelos do M HC podem falhar em estimular as cél ulas T reg uladoras. O s p o l i m o r f i s m o s n o s g e n e s n ã o HLA são as sociados a div ersas doenças au t oi m u n e s e po d em c on tr i b ui r c o m a f alh a de aut oto ler ân ci a ou at iv aç ã o a n o r m a l d os l i n f óc i t o s (F i g . 9 - 12, A) . Muitas dessas variantes associad as à d oen- ça f o r a m d e s c r i t a s . Os p o l i m o r f i s m o s na co d i f i ca ç ã o g en é t ic a da t ir o s in a f o sf a t a s e PTP N 22 ( pro t eín a ti ro s ina fo sfa t as e N2 2 ) podem regular a ati vação d as células T e B e são a ssociados a in úmeras doen ças aut oi- munes, incl uindo art rite reumatoide, lúp us eritematoso sistêmico e dia betes meli to tipo 1. As var iantes genéticas do s ensor micro- bi a n o ci t o p l a sm á t i c o N O D - 2 q u e p od e m oferecer resistên cia reduzida aos microrga- nismos intestinais são a ssociadas a cerca d e 25% do s ca s os de do e nça de Cr o hn , u m a doença intestinal inflam atória, em algumas po pul a çõe s ét ni ca s. O ut ro s pol i mo rf i sm os associados a d iversas d oenças a utoimunes incluem os genes que codificam a cadeia a do rece ptor de IL-2 – CD25, que se acredita que influen ciem o equilíbrio das células T ef e t or a s e r e g u l a d o ra s ; o r e c ep t or p a r a a citocina IL-23, que promov e o desenvolvi - mento das células T H 17 pró-inflama tórias; e CTLA-4, um fundamental receptor inibidor nas cél ulas T discutido anteriorment e. Es- pera-se que a elucidação d essas associações genéticas revel e os m ecanismos patogênicos ou ofereça novas ideias para melhores pre- visão e tratamento. Alguns distúrbios a utoimunes ra ros t êm origem mendeliana, são provocados por mu- tações nos ge nes únicos que têm alta pene- tração e l evam à autoim unidade na maioria ou em to d o s os i n d i v í d u o s qu e he r d a m essas mut ações. Esses genes, menci onados anteriormente, incluem AIRE, FOXP3 e FAS (Fig. 9-12, B ). As mutações nesses gen es sã o formas valiosas par a identific ar as molécu las fundamentais e as via s envolvidas na auto- tolerância. Contud o, essas formas mendelia- nas d e autoimunidade são excessivament e raras e as doen ças autoimunes comuns nã o são provocadas por mutações em nenhum desses genes conh ecidos. Papel das Infecções e de Outras Influências Ambientais As infecções podem ativar os linfócitos a u t o r r e a t i v o s e l e v ar ao d e s e n v o l v i - mento de doenças a utoimunes. Durante muitos anos os clínicos têm observado que as manifestações clínicas da autoimunidade são frequentem ente p recedidas por pródro- mos infecciosos. A associação entre infecções e lesões teci duais aut oimunes t em sido for- malmente estabelecida em model os animais. As infecções podem contribuir para a autoi- munidade de diversa s man eiras (Fig. 9-13 ). Uma i n f e cç ã o de um t e c id o p ode i nd u z i r uma resp osta l ocal da im unidade inata, que po d e oc a s i on a r o a u m en t o da e x p r e s s ã o de co es ti m ul ad o re s e ci t oc i na s p el as AP C DE 322 FIGURA 9- 10 Me canis mos post ulad os de au toim unida de. Neste m odel o propos to de um a doe nça aut oimu ne órgão-específica mediada pela célula T, vários loci genéticos podem conferir suscetibilidade à au toimunidade, provavelmente pela influência da m anutenção da autotolerância. Estímulos do ambiente, como as infecções e outros estímulos inflamatórios, promovem o influxo dos linfócitos para os tecidos e a ativação das células apresentado ras de antígenos (APC) e, subsequente- mente, das célul as T autorreativas, resultando em lesão tecidual. Tole rân cia i mu noló gic a é a n ão re s - pon sivid ad e e spe cífic a a um antí ge no induzido pela exposição d os linfócitos àqu ele antí ge no. Todos os indi víd uos são tolerantes a os (não responsivos a) seus antígenos(próprios). A tolerância co nt ra an tí g en o s p od e se r i n d uz i d a pela administração deste antígeno por vias particulares, e essa estratégia pode ser ú til par a o trat am ent o de doe nç as imunológicas e para prevenir a rejeição de transplantes. Em linf óci tos B, a to ler ânc ia c ent ral é in duz id a qu an do cél ula s ima tura s reco nhe ce m os an tíg eno s pró prio s na med ula ós sea . M ui tas de ssas cél ul as tr o c a m s e u s r e c e p t o r e s ( e d i ç ã o d e rece ptor ) e ou tra s mo rrem po r a po p - tose (se le ção ne gati va ou de leçã o) . A toler ânci a p eri féric a é in du zida quan - do as célu las B madu ras recon hec em antíg eno s pró pri os s em o au xíli o das célu las T e isso re sul ta e m ane rgia e mor te das célu las B, ou envolvimento dos r ec epto res inib itó rios . ✹ As doenças autoimunes resultam de falha na tolerância própria. M últiplos fatores contribuem para a autoimun i - dade, incluindo a herança de genes de susce tibilidade e gatilho s ambienta is como infecções. ✹ Mu itos ge nes co ntri bu em p ara o de - se n v o l v i m e n t o da a u t o i m u n i d a d e . E xi s te m f o r te s a ss o c i a çõ e s e n tr e os genes do HLA e as várias doenças au- toimunes mediadas pelas células T. ✹ As infecções predispõem à autoimuni- dad e, por ca usa r infl am ação e in du zir a e xp res são d os c oes tim ula dor es o u dev ido à s rea çõe s cru zad as entr e os antíg eno s mic ro bian os e p róp rios . Página deixada intencionalmente em branco Etiologia das Doenças Mediadas por Células T As prin cipais causas de reações de hi - persensibilidade mediadas por células T são autoimunidade e r espostas exa- geradas ou persistentes aos antígenos FIGURA 11-10 Doenças do complexo imune (hipersensibilidade tipo III). A tabela list a exemplos de doenças humanas causad as pelo depósito de complexo s imunes, assim co mo dois mode los experime ntais. Nas doenças, complexos imunes são detectados no s angue ou nos tecidos no local da lesão. Em todas e ssas desordens a lesão é causada por inflamação mediada por complemen to e receptor d e Fc