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Escola da Defensoria Pública do Estado de São Paulo - EDEPE Rua Boa Vista, 103 - 13º andar CEP 01014-001 - São Paulo-SP Tel.: 11-3101-8455 e-mail: escola@defensoria.sp.gov.br Reflexões dos Defensores Públicos do Estado de São Paulo sobre o Estatuto do Desarmamento São Paulo, 2012 A EDEPE, em suas publicações, respeita a liberdade intelectual dos autores e publica integralmente os originais que lhe são entregues, sem, com isso, concordar, necessariamente, com as opiniões expressas. Defensora Pública - Diretora da EDEPE: Elaine Moraes Ruas Souza Defensores Públicos Assistentes de Direção da EDEPE: Gustavo Augusto Soares dos Reis Bruno Shimizu Defensores(as) Públicos(as) Autores: Filovalter Moreira Danilo Kazuo Machado Miyazaki Luiz Rascovski Paulo Arthur Araujo de Lima Ramos Roberta Marques Benazzi Villaverde Tiragem: 1.500 exemplares Produção Gráfica: Gráfica e Editora Viena Sumário ESTATUTO DO DESARMAMENTO COMENTADO Instituto Sou da Paz Danilo Kazuo Machado Miyazaki ...........................................................05 ABORDAGEM CRÍTICA SOBRE AS FORMAS LEGAIS DE POSSE E PORTE DE ARMA DE FOGO Filovalter Moreira dos Santos Júnior ...................................................... 49 QUESTÕES CRIMINAIS CONTROVERSAS ENVOLVENDO O ESTATUTO DO DESARMAMENTO Paulo Arthur Araujo de Lima Ramos ......................................................63 ASPECTOS SIMBÓLICOS E INTERESSES ECONÔMICOS ENVOLVIDOS NA AQUISIÇÃO DE ARMAS Roberta Marques Benazzi Villaverde .....................................................79 ESTATUTO DO DESARMAMENTO: CONSIDERAÇÕES GERAIS ACERCA DE UM PROBLEMA COMPLEXO Luiz Rascovski........................................................................................93 ESTATUTO DO DESARMAMENTO COMENTADO Instituto Sou da Paz e Danilo Kazuo Machado Miyazaki, Defensor Público do Estado de São Paulo LEI No 10.826, DE 22 DE DEZEMBRO DE 2003. Dispõe sobre registro, posse e comercialização de armas de fogo e munição, sobre o Sistema Nacional de Armas – Sinarm, define crimes e dá outras providências. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: CAPÍTULO I DO SISTEMA NACIONAL DE ARMAS Art. 1o O Sistema Nacional de Armas – Sinarm, instituído no Ministério da Justiça, no âmbito da Polícia Federal, tem circunscrição em todo o território nacional. Comentário: O Sistema Nacional de Armas é um banco de dados do Ministério da Justiça, gerido pela Polícia Federal. Nesse banco de dados são cadastradas as armas de uso permitido e de uso restrito fogo existentes no país, excetuadas as armas institucionais e dos integrantes das Forças Armadas, da Agência Brasileira de Inteligência e do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, que são cadastradas no Sistema de Gerenciamento Militar de Armas – Sigma, gerido pelo Comando do Exército. 6 Defensoria Pública do Estado de São Paulo Art. 2o Ao Sinarm compete: I – identificar as características e a propriedade de armas de fogo, mediante cadastro; II – cadastrar as armas de fogo produzidas, importadas e vendidas no País; III – cadastrar as autorizações de porte de arma de fogo e as renovações expedidas pela Polícia Federal; IV – cadastrar as transferências de propriedade, extravio, furto, roubo e outras ocorrências suscetíveis de alterar os dados cadastrais, inclusive as decorrentes de fechamento de empresas de segurança privada e de transporte de valores; V – identificar as modificações que alterem as características ou o funcionamento de arma de fogo; VI – integrar no cadastro os acervos policiais já existentes; VII – cadastrar as apreensões de armas de fogo, inclusive as vinculadas a procedimentos policiais e judiciais; VIII – cadastrar os armeiros em atividade no País, bem como conceder licença para exercer a atividade; IX – cadastrar mediante registro os produtores, atacadistas, varejistas, exportadores e importadores autorizados de armas de fogo, acessórios e munições; X – cadastrar a identificação do cano da arma, as características das impressões de raiamento e de microestriamento de projétil disparado, conforme marcação e testes obrigatoriamente realizados pelo fabricante; XI – informar às Secretarias de Segurança Pública dos Estados e do Distrito Federal os registros e autorizações de porte de armas de fogo nos respectivos territórios, bem como manter o cadastro atualizado para consulta. Reflexões Sobre o Estatuto do Desarmamento 7 Comentário: No Sinarm são cadastradas as armas de fogo existentes, produzidas, importadas, vendidas, transferidas, subtraídas, extraviadas ou apreendidas em território nacional. O cadastro deve apontar a identificação do cano da arma, o raiamento da alma e o microestriamento de projétil disparado e, se for o caso, seu proprietário. Raiamento é o conjunto de sulcos na parte interna do cano que proporcionam a rotação dos projéteis durante o disparo, a fim de conferir estabilidade em sua trajetória. Os projéteis sofrem microestrias durante a passagem pelo raiamento, as quais permitem associar um projétil disparado a uma arma determinada. Também estão sujeitos a cadastro no Sinarm as autorizações de porte de arma de fogo e os armeiros em atividade, isto é, pessoas especializadas e autorizadas a dar manutenção em armas de fogo. A manutenção de armas de fogo prestada por pessoas não cadastradas e não autorizadas caracteriza, em tese, crime previsto no art. 17 desta lei. Parágrafo único. As disposições deste artigo não alcançam as armas de fogo das Forças Armadas e Auxiliares, bem como as demais que constem dos seus registros próprios. Comentário: Excluem-se do cadastro no Sinarm as armas de fogo das Forças Armadas, da Agência Brasileira de Inteligência e do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, bem como as armas de seus integrantes. Essas armas são cadastradas no Sistema de Gerenciamento Militar de Armas – Sigma, do Ministério da Defesa, que é um banco de dados gerido pelo Comando do Exército. 8 Defensoria Pública do Estado de São Paulo CAPÍTULO II DO REGISTRO Art. 3o É obrigatório o registro de arma de fogo no órgão competente. Comentário: Cadastro e registro são institutos diversos. As armas de fogo devem ser cadastradas no Sistema Nacional de Armas ou no Sistema de Gerenciamento Militar de Armas. O cadastro das armas tem finalidade eminentemente informativa e estatística. Inclusive as armas de procedência ilícita estão sujeitas a cadastro em algum daqueles sistemas. O registro, por outro lado, confere autorização para alguém ser proprietário da arma. Essencialmente, as armas de fogo de uso permitido são registradas na Polícia Federal e as armas de fogo de uso restrito, no Comando do Exército. No entanto, as armas de determinadas instituições e de seus integrantes estão sujeitas a registro na própria instituição ou em órgão vinculado. Parágrafo único. As armas de fogo de uso restrito serão registradas no Comando do Exército, na forma do regulamento desta Lei. Comentário: as armas de fogo diferenciam-se em de uso permitido e de uso restrito em razão de seus recursos, características e eficácia lesiva. As primeiras são conferidas ao uso de pessoas físicas e jurídicas em geral. As segundas, apenas a determinadas pessoas e instituições. O art. 3º, XVII e XVIII, do Regulamento anexo ao Decreto 3.665/00 traz as seguintes definições: “arma de uso permitido é a arma cuja utilização é permitida a pessoas físicas em geral, bem como a pessoas jurídicas, de acordo com a legislação normativa do Exército; arma de uso restrito é a arma que só pode ser utilizada pelas Forças Armadas, por algumas instituições de segurança, e por pessoas físicas e jurídicas habilitadas,devidamente autorizadas pelo Exército, de acordo com legislação específica”. Como já mencionado, em regra as armas de uso permitido são registradas na Reflexões Sobre o Estatuto do Desarmamento 9 Polícia Federal, enquanto as armas de uso restrito são registradas no Comando do Exército, ressalvados os casos em que a legislação determina o registro da arma em órgão próprio (art. 2º, § 1º, I e II, do Decreto 5.123/04. Art. 4o Para adquirir arma de fogo de uso permitido o interessado deverá, além de declarar a efetiva necessidade, atender aos seguintes requisitos: I - comprovação de idoneidade, com a apresentação de certidões negativas de antecedentes criminais fornecidas pela Justiça Federal, Estadual, Militar e Eleitoral e de não estar respondendo a inquérito policial ou a processo criminal, que poderão ser fornecidas por meios eletrônicos; (Redação dada pela Lei nº 11.706, de 2008) II – apresentação de documento comprobatório de ocupação lícita e de residência certa; III – comprovação de capacidade técnica e de aptidão psicológica para o manuseio de arma de fogo, atestadas na forma disposta no regulamento desta Lei. Comentário: aquisição de arma de fogo por pessoas em geral é controlada, devendo ser previamente autorizada. A venda ou compra de armas de fogo, sem prévia autorização, caracteriza, em tese, os crimes previstos no capítulo IV desta lei. A autorização para aquisição de arma de fogo é ato administrativo discricionário, subordinando-se ao juízo de conveniência e oportunidade da autoridade concedente, não bastando, portanto, a apresentação de documentos enumerados no artigo. § 1o O Sinarm expedirá autorização de compra de arma de fogo após atendidos os requisitos anteriormente estabelecidos, em nome do requerente e para a arma indicada, sendo intransferível esta autorização. 10 Defensoria Pública do Estado de São Paulo Comentário: Após a escolha da arma, o interessado deve solicitar autorização para a compra. Concedida a autorização, a compra é feita de comerciante ou de pessoa que tenha arma regularmente registrada. Feita a compra, arma deve ser registrada no órgão competente, em geral, na Polícia Federal. Somente após o registro da arma, o interessado fica autorizado a receber a arma adquirida e é obrigado a mantê-la em sua residência ou local de trabalho caso não seja detentor de porte. § 2o A aquisição de munição somente poderá ser feita no calibre correspondente à arma registrada e na quantidade estabelecida no regulamento desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 11.706, de 2008) Comentário: somente pessoas que tenham armas registradas tem autorização para a aquisição de munição, e apenas de munição correspondente à arma registrada. § 3o A empresa que comercializar arma de fogo em território nacional é obrigada a comunicar a venda à autoridade competente, como também a manter banco de dados com todas as características da arma e cópia dos documentos previstos neste artigo. Comentário: toda venda de arma de fogo de uso permitido e de uso restrito deve ser inscrita, respectivamente, no Sinarm ou no Sigma, que são banco de dados da Polícia Federal e do Comando do Exército. O comerciante também é obrigado a manter banco de dados próprio sobre as vendas de armas de fogo efetuadas. § 4o A empresa que comercializa armas de fogo, acessórios e munições responde legalmente por essas mercadorias, ficando registradas como de sua propriedade enquanto não forem vendidas. Reflexões Sobre o Estatuto do Desarmamento 11 Comentário: as armas de fogo destinadas a venda devem permanecer registradas precariamente em nome do comerciante. § 5o A comercialização de armas de fogo, acessórios e munições entre pessoas físicas somente será efetivada mediante autorização do Sinarm. Comentário: a comercialização de armas de fogo, entendida, no sentido técnico, como uma atividade desenvolvida como habitualidade, profissionalismo e intuito de lucro, é restrita a pessoas jurídicas especialmente autorizadas. No entanto, pessoas físicas podem vender suas armas a terceiros, porém, a lei exige a prévia autorização da Polícia Federal. § 6o A expedição da autorização a que se refere o § 1o será concedida, ou recusada com a devida fundamentação, no prazo de 30 (trinta) dias úteis, a contar da data do requerimento do interessado. Comentário: embora a autorização seja ato discricionário, subordinado, portanto, ao juízo de conveniência e oportunidade da autoridade, a concessão ou denegação da autorização devem ser fundamentadas. Exige-se, pois, que a autoridade explicite os motivos concretos considerados em sua decisão. § 7o O registro precário a que se refere o § 4o prescinde do cumprimento dos requisitos dos incisos I, II e III deste artigo. Comentário: as armas de fogo destinadas à venda devem ser registradas precariamente em nome do comerciante, no entanto, o comerciante está dispensado de comprovar idoneidade moral, 12 Defensoria Pública do Estado de São Paulo residência certa, ocupação lícita, capacidade técnica e aptidão psicológica para o manuseio da arma a cada aquisição de mercadoria. Isso porque o exercício de atividade comercial de armas de fogo depende de prévia autorização, quando são verificados todas as exigências pertinentes. § 8o Estará dispensado das exigências constantes do inciso III do caput deste artigo, na forma do regulamento, o interessado em adquirir arma de fogo de uso permitido que comprove estar autorizado a portar arma com as mesmas características daquela a ser adquirida. (Incluído pela Lei nº 11.706, de 2008) Comentário: a autorização para o porte depende da comprovação de capacidade técnica e aptidão psicológica para o manuseio da arma. Assim, a pessoa que já detenha autorização para portar determinada arma está dispensada de repetir a referida comprovação durante a solicitação de autorização para a aquisição de arma com as mesmas características da arma que está autorizado a portar. Art. 5o O certificado de Registro de Arma de Fogo, com validade em todo o território nacional, autoriza o seu proprietário a manter a arma de fogo exclusivamente no interior de sua residência ou domicílio, ou dependência desses, ou, ainda, no seu local de trabalho, desde que seja ele o titular ou o responsável legal pelo estabelecimento ou empresa. (Redação dada pela Lei nº 10.884, de 2004) Comentário: a pessoa detentora de registro de arma de fogo tem autorização para manter a arma de fogo em sua residência ou em seu local de trabalho, ainda que não possua autorização para porte. Neste caso, qualquer movimentação física da arma deve ser precedida de autorização de trânsito. Reflexões Sobre o Estatuto do Desarmamento 13 § 1o O certificado de registro de arma de fogo será expedido pela Polícia Federal e será precedido de autorização do Sinarm. Comentário: o Sinarm é um sistema de banco de dados gerido pela Polícia Federal. O certificado de registro de arma de fogo é o documento expedido pela Polícia Federal que prova a autorização para a pessoa ser proprietária da arma de fogo. O registro da arma de fogo é precedido pelo cadastro no sistema de banco de dados pertinente. § 2o Os requisitos de que tratam os incisos I, II e III do art. 4o deverão ser comprovados periodicamente, em período não inferior a 3 (três) anos, na conformidade do estabelecido no regulamento desta Lei, para a renovação do Certificado de Registro de Arma de Fogo. Comentário: o registro de armas de fogo deve ser renovado a cada três anos. Ou seja, a autorização para a pessoa ser proprietária de arma de fogo expira em três anos, devendo ser renovada, sob pena de incursão, em tese, no crime previsto no art. 12 desta lei. § 3o O proprietário de arma de fogo com certificados de registro de propriedade expedido por órgão estadual ou do DistritoFederal até a data da publicação desta Lei que não optar pela entrega espontânea prevista no art. 32 desta Lei deverá renová-lo mediante o pertinente registro federal, até o dia 31 de dezembro de 2008, ante a apresentação de documento de identificação pessoal e comprovante de residência fixa, ficando dispensado do pagamento de taxas e do cumprimento das demais exigências constantes dos incisos I a III do caput do art. 4o desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 11.706, de 2008) Comentário: a Lei 10.826/03 estabeleceu, em regra, competência administrativa federal para o registro de armas de fogo. De maneira geral, as armas de fogo são registradas na Polícia Federal ou no 14 Defensoria Pública do Estado de São Paulo Comando do Exército. Há, no entanto, outros órgãos, federais, estaduais e até municipais que contam com registros próprios de armas de fogo: Forças Armadas, Agência Brasileira de Inteligência, Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Polícias Civis, órgãos policiais da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, estabelecimentos prisionais e de escoltas de presos vinculados às Secretarias de Administração Penitenciária ou de Segurança Pública, Guardas Portuárias e Guardas Municipais. Excetuados os casos de registros próprios, os registros anteriormente expedidos por órgãos estaduais expiraram em 31 de dezembro de 2008, devendo ter sido renovados perante os órgãos federais. Em tese, as pessoas obrigadas à renovação do registro estadual perante os órgãos federais que não a procederam estão incorrendo no crime previsto no art. 12 desta lei. § 4oPara fins do cumprimento do disposto no § 3o deste artigo, o proprietário de arma de fogo poderá obter, no Departamento de Polícia Federal, certificado de registro provisório, expedido na rede mundial de computadores - internet, na forma do regulamento e obedecidos os procedimentos a seguir: (Redação dada pela Lei nº 11.706, de 2008) I - emissão de certificado de registro provisório pela internet, com validade inicial de 90 (noventa) dias; e (Incluído pela Lei nº 11.706, de 2008) II - revalidação pela unidade do Departamento de Polícia Federal do certificado de registro provisório pelo prazo que estimar como necessário para a emissão definitiva do certificado de registro de propriedade. (Incluído pela Lei nº 11.706, de 2008) Comentário: o artigo 30 desta lei estabeleceu procedimento simplificado para o registro de armas de uso permitido não registradas até 31 de dezembro de 2008. O registro de armas de fogo realizado na forma prevista naquele artigo teve, inicialmente, prazo de Reflexões Sobre o Estatuto do Desarmamento 15 validade de noventa dias. Ao término desse prazo, a Polícia Federal revalidou os registros por prazo indeterminado. Evidentemente o ato administrativo da Polícia Federal contrariou o § 2º do art. 16 do Regulamento. Entendemos, por isso, que os registros provisórios de armas de fogo, revalidados por prazo indeterminado, deveriam ter sido renovados no prazo de três anos a partir de sua revalidação. Eventual omissão dos proprietários em renovar o registro provisório da arma de fogo no triênio, no entanto, não caracterizaria o crime previsto no art. 12 desta lei em razão de critérios hermenêuticos que proíbem a criminalização de uma conduta autorizada pelo Poder Público, pois a revalidação dos registros provisórios por prazo indeterminado, em tese, isentaria os proprietários de armas de fogo do dever de renovação periódica do certificado de registro. CAPÍTULO III DO PORTE Art. 6o É proibido o porte de arma de fogo em todo o território nacional, salvo para os casos previstos em legislação própria e para: Comentário: em regra, o porte de arma é proibido; excepcionalmente, autorizam-se pessoas e integrantes de determinadas instituições, geralmente ligadas à segurança, à defesa do Estado e à justiça a portar armas. Além das exceções à proibição do porte de arma previstas nesta lei, há outros casos de permissão previstos em legislação própria, como é o caso da Lei Orgânica da Magistratura e da Lei Orgânica do Ministério Público. A proibição do porte impede que pessoas não autorizadas transitem com armas, mas não impede a posse de arma registrada na residência ou local de trabalho do respectivo titular. 16 Defensoria Pública do Estado de São Paulo I – os integrantes das Forças Armadas; Comentário: as Forças Armadas são constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica e se destinam à defesa do Estado. II – os integrantes de órgãos referidos nos incisos do caput do art. 144 da Constituição Federal; Comentário: o inciso trata das instituições de segurança pública: polícia federal; polícia rodoviária federal; polícia ferroviária federal; polícias civis; polícias militares e corpos de bombeiros militares. Seus integrantes podem portar arma de fogo particular ou da instituição, mesmo fora de serviço, pois se presume que em razão da função exercida, estão sujeitos a maiores riscos à incolumidade física mesmo fora de serviço. III – os integrantes das guardas municipais das capitais dos Estados e dos Municípios com mais de 500.000 (quinhentos mil) habitantes, nas condições estabelecidas no regulamento desta Lei; IV - os integrantes das guardas municipais dos Municípios com mais de 50.000 (cinqüenta mil) e menos de 500.000 (quinhentos mil) habitantes, quando em serviço; (Redação dada pela Lei nº 10.867, de 2004) Comentário: as guardas municipais são órgãos de proteção dos bens, serviços e instalações dos respectivos municípios. As leis municipais que estabelecem outras atividades de segurança pública às guardas municipais extrapolam a competência administrativa estabelecida pelo art. 144, §8º, da Constituição Federal. A concessão de autorização para porte de arma a guardas municipais depende da criação de ouvidoria externa e de corregedoria própria (art. 44 do Regulamento). Os integrantes de guardas municipais de municípios Reflexões Sobre o Estatuto do Desarmamento 17 com mais de quinhentos mil habitantes podem ser autorizados a portar armas de fogo inclusive fora de serviço. Os de municípios com mais de cinquenta mil e menos de quinhentos mil habitantes podem ser autorizados a portar armas de fogo somente em serviço. Os integrantes de guardas municipais de municípios inseridos em regiões metropolitanas, instituídas nos termos do art. 25, §3º, da Constituição Federal, podem ser autorizados a portar armas quando em serviço, independentemente do número de habitantes. V – os agentes operacionais da Agência Brasileira de Inteligência e os agentes do Departamento de Segurança do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República; Comentário: a Agência Brasileira de Inteligência é órgão de assessoramente da Presidência da República responsável pelo planejamento estratégico e execução de atividades de inteligência nos assuntos de interesse nacional (Lei 9.883/99). O Departamento de Segurança do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República é responsável pela segurança pessoal de autoridades essenciais da Presidência da República, bem como pela segurança nos palácios e residências presidenciais. VI – os integrantes dos órgãos policiais referidos no art. 51, IV, e no art. 52, XIII, da Constituição Federal; Comentário: trata-se da polícia da Câmara dos Deputados e da polícia do Senado VII – os integrantes do quadro efetivo dos agentes e guardas prisionais, os integrantes das escoltas de presos e as guardas portuárias; Comentário: trata-se de servidores públicos integrantes do quadro efetivo de órgãos destinados à vigilância de estabelecimentos prisionais, à movimentação externa de presos e à fiscalização costeira. 18 Defensoria Pública do Estado deSão Paulo VIII – as empresas de segurança privada e de transporte de valores constituídas, nos termos desta Lei; Comentário: os empregados das empresas de segurança privada e de transporte de valores devem atender aos requisitos do art. 4º desta lei. As armas devem ser de propriedade da empresa e somente podem ser usadas em serviço. IX – para os integrantes das entidades de desporto legalmente constituídas, cujas atividades esportivas demandem o uso de armas de fogo, na forma do regulamento desta Lei, observando-se, no que couber, a legislação ambiental. Comentário: as agremiações esportivas e atiradores são registrados no Comando do Exército. A autorização restringe-se ao porte de trânsito, devendo as armas ser transportadas desmuniciadas. X - integrantes das Carreiras de Auditoria da Receita Federal do Brasil e de Auditoria-Fiscal do Trabalho, cargos de Auditor-Fiscal e Analista Tributário. (Redação dada pela Lei nº 11.501, de 2007) § 1oAs pessoas previstas nos incisos I, II, III, V e VI do caput deste artigo terão direito de portar arma de fogo de propriedade particular ou fornecida pela respectiva corporação ou instituição, mesmo fora de serviço, nos termos do regulamento desta Lei, com validade em âmbito nacional para aquelas constantes dos incisos I, II, V e VI. (Redação dada pela Lei nº 11.706, de 2008) Comentário: os integrantes das Forças Armadas, da polícia federal, da polícia rodoviária federal, da polícia ferroviária federal, das polícias civis, das polícias militares e corpos de bombeiros militares, os integrantes das guardas municipais de municípios com mais de quinhentos mil habitantes, os agentes operacionais da Agência Brasileira de Inteligência e os agentes do Departamento de Reflexões Sobre o Estatuto do Desarmamento 19 Segurança do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, os policiais da Câmara dos Deputados e do Senado Federal tem autorização para porte de armas de fogo mesmo fora de serviço. § 2oA autorização para o porte de arma de fogo aos integrantes das instituições descritas nos incisos V, VI, VII e X do caput deste artigo está condicionada à comprovação do requisito a que se refere o inciso III do caput do art. 4o desta Lei nas condições estabelecidas no regulamento desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 11.706, de 2008) Comentários: todas pessoas autorizadas a portar arma devem atender aos requisitos do art.4º desta lei: idoneidade, ocupação lícita, residência certa e capacidade técnica e aptidão psicológica para o manuseio da arma. A menção deste parágrafo a apenas alguns incisos decorre da exigência desses mesmos requisitos para a aprovação em curso de formação e posse nos cargo das demais carreiras mencionadas nos incisos I, II, III e IV. Os empregados das empresas mencionadas no inciso VIII devem atender aos requisitos quando da contratação. O porte previsto no inciso IX restringe- se ao porte de trânsito, em que a arma deve ser transportada desmuniciada. § 3o A autorização para o porte de arma de fogo das guardas municipais está condicionada à formação funcional de seus integrantes em estabelecimentos de ensino de atividade policial, à existência de mecanismos de fiscalização e de controle interno, nas condições estabelecidas no regulamento desta Lei, observada a supervisão do Ministério da Justiça. (Redação dada pela Lei nº 10.884, de 2004) Comentário: o regulamento prevê a realização de convênios entre a Polícia Federal e os órgãos de segurança pública dos municípios para a formação de guardas municipais e a concessão de porte de arma de fogo. 20 Defensoria Pública do Estado de São Paulo § 4o Os integrantes das Forças Armadas, das polícias federais e estaduais e do Distrito Federal, bem como os militares dos Estados e do Distrito Federal, ao exercerem o direito descrito no art. 4o, ficam dispensados do cumprimento do disposto nos incisos I, II e III do mesmo artigo, na forma do regulamento desta Lei. Comentário: os integrantes das instituições referidas estão dispensados da comprovação de idoneidade, ocupação lícita, residência certa e capacidade técnica e aptidão psicológica para o manuseio ao adquirir uma arma de fogo particular, pois tais requisitos devem ter sido atendidos quando da investidura no cargo. § 5o Aos residentes em áreas rurais, maiores de 25 (vinte e cinco) anos que comprovem depender do emprego de arma de fogo para prover sua subsistência alimentar familiar será concedido pela Polícia Federal o porte de arma de fogo, na categoria caçador para subsistência, de uma arma de uso permitido, de tiro simples, com 1 (um) ou 2 (dois) canos, de alma lisa e de calibre igual ou inferior a 16 (dezesseis), desde que o interessado comprove a efetiva necessidade em requerimento ao qual deverão ser anexados os seguintes documentos: (Redação dada pela Lei nº 11.706, de 2008) I - documento de identificação pessoal; (Incluído pela Lei nº 11.706, de 2008) II - comprovante de residência em área rural; e (Incluído pela Lei nº 11.706, de 2008) III - atestado de bons antecedentes. (Incluído pela Lei nº 11.706, de 2008) § 6o O caçador para subsistência que der outro uso à sua arma de fogo, independentemente de outras tipificações penais, responderá, conforme o caso, por porte ilegal ou por disparo de arma de fogo de uso permitido. (Redação dada pela Lei nº 11.706, de 2008) Reflexões Sobre o Estatuto do Desarmamento 21 Comentário: o caçador de subsistência não se confunde com o praticante de tiro desportivo. O porte de arma do caçador de subsistência pode ser concedido a pessoas de populações rurais que usem da caça por necessidade alimentar. O porte de arma do caçador de subsistência, no entanto, não autoriza o abate indiscriminado de animais, devendo ser observada a legislação ambiental pertinente. § 7oAos integrantes das guardas municipais dos Municípios que integram regiões metropolitanas será autorizado porte de arma de fogo, quando em serviço. (Incluído pela Lei nº 11.706, de 2008) Comentário: pode ser concedida autorização para porte de armas aos integrantes de guardas municipais dos municípios de regiões metropolitanas, ainda que o município tenha cinquenta mil habitantes ou menos. Art. 7o As armas de fogo utilizadas pelos empregados das empresas de segurança privada e de transporte de valores, constituídas na forma da lei, serão de propriedade, responsabilidade e guarda das respectivas empresas, somente podendo ser utilizadas quando em serviço, devendo essas observar as condições de uso e de armazenagem estabelecidas pelo órgão competente, sendo o certificado de registro e a autorização de porte expedidos pela Polícia Federal em nome da empresa. Comentário: as armas de fogo de empresas de segurança privada ou de transporte de valores devem ser registradas em nome das respectivas empresas e somente podem ser usadas em serviço e por seus respectivos empregados. § 1o O proprietário ou diretor responsável de empresa de segurança privada e de transporte de valores responderá pelo crime 22 Defensoria Pública do Estado de São Paulo previsto no parágrafo único do art. 13 desta Lei, sem prejuízo das demais sanções administrativas e civis, se deixar de registrar ocorrência policial e de comunicar à Polícia Federal perda, furto, roubo ou outras formas de extravio de armas de fogo, acessórios e munições que estejam sob sua guarda, nas primeiras 24 (vinte e quatro) horas depois de ocorrido o fato. Comentário: o sócio ou diretor responsável pela empresa de segurança privada ou de transporte de valores tem o dever de comunicar qualquer forma de perda da posse ou extravio das armas de fogo. § 2o A empresa de segurança e de transporte de valores deverá apresentar documentação comprobatória do preenchimento dos requisitos constantes do art. 4o desta Leiquanto aos empregados que portarão arma de fogo. § 3o A listagem dos empregados das empresas referidas neste artigo deverá ser atualizada semestralmente junto ao Sinarm. Comentário: os empregados de empresa de segurança privada ou de transporte de valores deverão atender aos requisitos: idoneidade, residência certa e capacidade técnica e aptidão psicológica para o manuseio da arma de fogo. A comprovação do atendimento desses requisitos perante a Polícia Federal cabe à empresa e deve ser renovada semestralmente. Art. 8o As armas de fogo utilizadas em entidades desportivas legalmente constituídas devem obedecer às condições de uso e de armazenagem estabelecidas pelo órgão competente, respondendo o possuidor ou o autorizado a portar a arma pela sua guarda na forma do regulamento desta Lei. Comentário: as armas de fogo de atiradores e caçadores são registradas no Comando do Exército, conforme art. 2º, § 2º, I, Reflexões Sobre o Estatuto do Desarmamento 23 desta lei, assim como as agremiações esportivas, as empresas de instrução de tiro, os atiradores e os caçadores, nos termos do art. 30 do Regulamento. O dispositivo citado remete as condições de segurança dos depósitos de armas, acessórios e munições aos poderes normativo e fiscalizatório do Comando do Exército Art. 9o Compete ao Ministério da Justiça a autorização do porte de arma para os responsáveis pela segurança de cidadãos estrangeiros em visita ou sediados no Brasil e, ao Comando do Exército, nos termos do regulamento desta Lei, o registro e a concessão de porte de trânsito de arma de fogo para colecionadores, atiradores e caçadores e de representantes estrangeiros em competição internacional oficial de tiro realizada no território nacional. Comentário: este artigo trata de duas situações diferentes relacionadas ao ingresso de estrangeiros com armas no país. Os atletas de tiro e colecionadores de armas estrangeiros são autorizados pelo Comando do Exército a ingressarem com as respectivas armas para participação de evento de tiro realizado no país. Trata-se de porte de trânsito, em que a arma deve ser transportada desmuniciada e somente pode ser utilizada no recinto em que estiver ocorrendo o evento. Já os agentes de segurança de autoridades estrangeiras são autorizados pelo Ministério da Justiça a ingressar em território nacional com as respectivas armas, bem como a portá-las. Art. 10. A autorização para o porte de arma de fogo de uso permitido, em todo o território nacional, é de competência da Polícia Federal e somente será concedida após autorização do Sinarm. Comentário: Sinarm não é um órgão, mas um banco de dados do Ministério da Justiça. A autorização para o porte de arma é atribuição da Polícia Federal após a consulta do Sinarm. A autorização para 24 Defensoria Pública do Estado de São Paulo o porte de armas de uso restrito, de maneira geral, decorre da investidura no cargo das carreiras das Forças Armadas e dos órgãos de segurança pública (art. 33 do Decreto 5.123/04). Em alguns casos específicos a Polícia Federal fica incumbida da concessão de autorização para o porte de armas de uso restrito, como no caso de ingresso de agentes de segurança de autoridades estrangeiras (art. 9º desta lei). Os atiradores, caçadores e colecionadores de armas de fogo podem ser autorizados ao porte pelo Comando do Exército. § 1o A autorização prevista neste artigo poderá ser concedida com eficácia temporária e territorial limitada, nos termos de atos regulamentares, e dependerá de o requerente: I – demonstrar a sua efetiva necessidade por exercício de atividade profissional de risco ou de ameaça à sua integridade física; Comentário: este inciso prevê duas hipóteses alternativas como justificativa para a concessão de autorização para o porte de armas: exercício de atividade profissional de risco e ameaças a integridade física. No primeiro caso, o risco a incolumidade física é presumido; no segundo, deve ser demonstrado. II – atender às exigências previstas no art. 4o desta Lei; Comentário: as exigências são: idoneidade, ocupação lícita, residência certa e capacidade técnica e aptidão psicológica para o manuseio da arma. III – apresentar documentação de propriedade de arma de fogo, bem como o seu devido registro no órgão competente. § 2o A autorização de porte de arma de fogo, prevista neste artigo, perderá automaticamente sua eficácia caso o portador dela seja detido ou abordado em estado de embriaguez ou sob efeito de substâncias químicas ou alucinógenas. Reflexões Sobre o Estatuto do Desarmamento 25 Comentário: este parágrafo não se refere a drogas ilícitas; refere- se a drogas em um sentido amplo, no que se incluem drogas lícitas, como medicamentos. O uso de álcool ou outras drogas, isoladamente, não é um problema. O uso de álcool e outras drogas se torna um problema se a pessoa, sob seus efeitos, vem a portar armas de fogo, o que gera risco a incolumidade pública. Portanto, a pessoa autorizada a portar armas de fogo não poderá fazê-lo sem, por exemplo, tiver ingerido medicamentos que provoquem alterações de comportamento ou de percepções, sob pena de revogação imediata da autorização. Art. 11. Fica instituída a cobrança de taxas, nos valores constantes do Anexo desta Lei, pela prestação de serviços relativos: I – ao registro de arma de fogo; II – à renovação de registro de arma de fogo; III – à expedição de segunda via de registro de arma de fogo; IV – à expedição de porte federal de arma de fogo; V – à renovação de porte de arma de fogo; VI – à expedição de segunda via de porte federal de arma de fogo. Comentário: as taxas previstas neste artigo decorrem do exercício do poder de polícia previsto no art. 145, II, da Constituição Federal. Atualmente, as taxas de registro de armas de fogo custam R$ 60,00 e as de expedição e renovação de autorização para o porte, R$ 1.000,00. § 1o Os valores arrecadados destinam-se ao custeio e à manutenção das atividades do Sinarm, da Polícia Federal e do Comando do Exército, no âmbito de suas respectivas responsabilidades. 26 Defensoria Pública do Estado de São Paulo Comentário: a receita das taxas arrecadadas é vinculada à rubrica do orçamento federal atinente à Polícia Federal e ao Comando do Exército. § 2o São isentas do pagamento das taxas previstas neste artigo as pessoas e as instituições a que se referem os incisos I a VII e X e o § 5o do art. 6o desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 11.706, de 2008) Comentário: as instituições públicas previstas no art. 6º desta lei e seus integrantes gozam de isenção do pagamento das taxas de registro de armas de fogo, de autorização para porte e das respectivas renovações. Também goza dessas isenções o caçador de subsistência. Art. 11-A. O Ministério da Justiça disciplinará a forma e as condições do credenciamento de profissionais pela Polícia Federal para comprovação da aptidão psicológica e da capacidade técnica para o manuseio de arma de fogo. (Incluído pela Lei nº 11.706, de 2008) § 1o Na comprovação da aptidão psicológica, o valor cobrado pelo psicólogo não poderá exceder ao valor médio dos honorários profissionais para realização de avaliação psicológica constante do item 1.16 da tabela do Conselho Federal de Psicologia. (Incluído pela Lei nº 11.706, de 2008) § 2o Na comprovação da capacidade técnica, o valor cobrado pelo instrutor de armamento e tiro não poderá exceder R$ 80,00 (oitenta reais), acrescido do custo da munição. (Incluído pela Lei nº 11.706, de 2008) § 3o A cobrança de valores superiores aos previstos nos §§ 1o e 2o deste artigo implicará o descredenciamento do profissional pela Polícia Federal. (Incluído pela Lei nº 11.706, de 2008) Comentário: o credenciamento pela Polícia Federal de instrutores de tiro e de psicólogos para a avaliação da capacidadetécnica e Reflexões Sobre o Estatuto do Desarmamento 27 da aptidão psicológica do interessado para o manuseio de arma de fogo deve ser disciplinado pelo Ministério da Justiça. O dispositivo também estabelece limites máximos para as taxas de avaliação de capacidade técnica e de aptidão psicológica. CAPÍTULO IV DOS CRIMES E DAS PENAS Posse irregular de arma de fogo de uso permitido Art. 12. Possuir ou manter sob sua guarda arma de fogo, acessório ou munição, de uso permitido, em desacordo com determinação legal ou regulamentar, no interior de sua residência ou dependência desta, ou, ainda no seu local de trabalho, desde que seja o titular ou o responsável legal do estabelecimento ou empresa: Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. Comentário: para que as pessoas físicas em geral possam ser proprietárias de armas de fogo, devem obter autorização para tanto, atendidos os requisitos previstos no art. 4º desta lei. A autorização para ser proprietário de arma de fogo consubstancia-se no respectivo registro. O tipo incriminador do artigo em comento repete a exigência do registro da arma de fogo para que a pessoa possa ser proprietária de arma de fogo, proibindo a posse e a guarda da arma de fogo não registrada, mesmo no interior da residência ou do local de trabalho de que seja titular. A posse ou guarda de arma de fogo de uso permitido em locais diversos da residência ou do local de trabalho de que seja titular caracteriza, em tese, o crime previsto no art. 14 desta lei. Observa-se, portanto, que o bem jurídico protegido pelo tipo incriminador é a incolumidade pública, na medida em que se proíbe a existência de armas de fogo não registradas. O art. 30 desta lei determinou que as armas até então não registradas que estivessem em poder de pessoas físicas e jurídicas em geral 28 Defensoria Pública do Estado de São Paulo deveriam ser registradas até 31 de dezembro de 2008. Em função disso, formou-se entendimento de que as pessoas encontradas possuindo ou guardando armas de fogo de uso permitido em sua residência ou em seu local de trabalho não incorreriam nas penas previstas no presente art. 12, pois teriam o direito de, até aquela data, solicitar o registro da arma. Por outro lado, o art. 31 desta lei facultou a entrega de armas de fogo adquiridas regularmente, a qualquer tempo, à Polícia Federal, mediante o recebimento de indenização. De igual maneira, pensamos que a pessoa encontrada na posse ou guarda, em sua residência ou local de trabalho, de arma de fogo de uso permitido adquirida regularmente não incorreria nas penas do art. 12, pois teria a faculdade de entregar sua arma a qualquer tempo à Polícia Federal, mediante indenização. O cotejo das normas expressas nos artigos 4º, 12 e 31 desta lei permite concluir que a posse ou guarda de armas de fogo de uso permitido, mesmo no interior da residência ou do local de trabalho do proprietário, são proibidas. As armas hoje encontradas sem registro devem ser apreendidas e encaminhadas ao Comando do Exército. No entanto, sem prejuízo da proibição verificada, critérios hermenêuticos impedem a imposição de pena privativa de liberdade às condutas ilícitas de posse e guarda de arma de fogo não registrada, pois a ‘entrega’ das referidas armas – do que a posse ou guarda são pressupostos e antecedentes lógicos – é incentivada. Como alguém poderia entregar algo de que não tenha a posse ou guarda? Assim, entendemos que a posse ou guarda de armas de fogo de uso permitido não registradas, ainda que no interior da residência ou do local de trabalho de que o possuidor seja titular, é proibida. No entanto, essa proibição não pode estar reforçada pela cominação de pena privativa de liberdade. Outra observação a ser feita é em relação à equiparação de armas, acessórios e munição como objeto material do tipo. O direito penal é balizado pelo princípio da lesividade e da fragmentariedade. Somente ofensas graves ao bem jurídico protegido são dignas de cominação de pena privativa de liberdade. Já se mencionou que o bem jurídico tutelado pela norma do art. 12 desta lei é a incolumidade pública. Faz sentido, portanto que a posse de armas de fogo não registradas seja proibida. As munições, por outro lado, ressalvados os casos Reflexões Sobre o Estatuto do Desarmamento 29 de agentes estrangeiros que sejam autorizados a ingressarem em território nacional com armas e munições, não estão sujeitas a registro. Se a norma proíbe a posse de armas sem registro, o mesmo não se dá com relação às munições e acessórios, que, em regra, não estão sujeitos a registro. Pode-se vislumbrar que a norma proíba a posse de munições e acessórios por quem não seja proprietário de arma de fogo regularmente registrada, mas nesse caso, a míngua de posse de arma de fogo, não há produção de risco a incolumidade pública. Omissão de cautela Art. 13. Deixar de observar as cautelas necessárias para impedir que menor de 18 (dezoito) anos ou pessoa portadora de deficiência mental se apodere de arma de fogo que esteja sob sua posse ou que seja de sua propriedade: Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos, e multa. Parágrafo único. Nas mesmas penas incorrem o proprietário ou diretor responsável de empresa de segurança e transporte de valores que deixarem de registrar ocorrência policial e de comunicar à Polícia Federal perda, furto, roubo ou outras formas de extravio de arma de fogo, acessório ou munição que estejam sob sua guarda, nas primeiras 24 (vinte quatro) horas depois de ocorrido o fato. Comentário: trata-se de crime omissivo: não é necessário que a pessoa permita que menores de dezoito anos ou pessoas com deficiência mental se apoderem de arma de fogo; basta que a pessoa que não impeça a posse de armas de fogo por pessoas naquelas condições para incorrer, em tese, nesse tipo. O uso de armas de fogo é proibido aos menores de dezoito anos, ressalvada a possibilidade de autorização judicial para a prática de tiro desportivo, e às pessoas com deficiência mental, pois, em razão da idade e da deficiência, o uso de armas de fogo proporcionaria risco a incolumidade pública e a integridade física própria e alheia. O parágrafo único contém 30 Defensoria Pública do Estado de São Paulo norma de extensão cominando pena privativa de liberdade ao sócio ou diretor responsável de empresa de segurança privada ou de transporte de valores que tenham perdido a posse de arma de fogo e não tenham comunicado à Polícia Federal. A norma tutela, mais uma vez, o registro de armas de fogo, pois, conforme prevê o art. 2º, IV, desta lei, qualquer alteração na posse da arma de fogo deve ser cadastrada no Sistema Nacional de Armas de Fogo. Porte ilegal de arma de fogo de uso permitido Art. 14. Portar, deter, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou munição, de uso permitido, sem autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. Comentário: o tipo incriminador desse artigo proíbe a circulação com armas de fogo, tutelando, assim, a incolumidade pública. Diferentemente do art. 12, que objetiva o registro de armas de fogo mantidas na residência ou no local de trabalho do titular, o art. 14 objetiva a movimentação e a presença de armas em locais de potencial acesso público. Portanto, a pessoa não autorizada ao porte que mantenha uma arma de fogo de uso permitido em local diverso de sua residência ou do local de trabalho de que seja responsável incorre, em tese, no crime do art. 14, não no do art. 12. Semelhantemente, a pessoa não autorizada ao porte que mantenha arma de fogo de uso permitido em seu local de trabalho, mas que dele não sejao responsável, também incidiria na previsão deste artigo. Observe-se que mesmo que a arma esteja registrada, se a pessoa não for autorizada ao porte, não poderá mantê-la em qualquer lugar diverso de sua residência ou do local de trabalho de que seja responsável ou titular. O registro é a autorização para ser proprietário de arma de fogo e para mantê-la em sua residência ou Reflexões Sobre o Estatuto do Desarmamento 31 no local de trabalho de que seja responsável ou titular. A autorização para o porte permite que a pessoa circule ou permaneça com a respectiva arma, observadas as restrições quanto ao porte ostensivo, dentre outras, em locais diversos de sua residência ou do local de trabalho de que seja titular. Para esse o penal do art. 14 é indiferente se a arma está ou não registrada. Parágrafo único. O crime previsto neste artigo é inafiançável, salvo quando a arma de fogo estiver registrada em nome do agente. (Vide Adin 3.112-1) Comentário: o Supremo Tribunal Federal declarou inconstitucional a vedação abstrata à fiança, entendendo que o crime seria de mera conduta e que não produziria lesão efetiva a vida ou ao patrimônio. Disparo de arma de fogo Art. 15. Disparar arma de fogo ou acionar munição em lugar habitado ou em suas adjacências, em via pública ou em direção a ela, desde que essa conduta não tenha como finalidade a prática de outro crime: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. Comentário: trata-se de crime de perigo. O disparo de arma de fogo em lugar ermo é atípico, pois não proporciona risco a incolumidade pública. O disparo acidental também não caracteriza o crime deste artigo, pois se trata de crime doloso. Se o disparo de arma de fogo constituir meio para a prática de outro crime ocorre a absorção daquele em função do princípio da consunção. O crime de disparo de arma de fogo absorve os eventuais crimes de posse ou porte de arma de fogo previstos nos artigos 12, 14 ou 16 desta lei. 32 Defensoria Pública do Estado de São Paulo Parágrafo único. O crime previsto neste artigo é inafiançável. (Vide Adin 3.112-1) Comentário: o Supremo Tribunal Federal declarou inconstitucional a vedação abstrata à fiança, entendendo que o crime seria de mera conduta e que não produziria lesão efetiva a vida ou ao patrimônio. Posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito Art. 16. Possuir, deter, portar, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob sua guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou munição de uso proibido ou restrito, sem autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa. Comentário: este artigo tem como objeto material a arma de uso restrito não registrada e o porte não autorizado de arma de fogo de uso restrito, ainda que registrada. Grosso modo, contempla as condutas previstas nos artigos 12 e 14 desta lei, com a diferença que, neste, trata de arma de uso restrito, enquanto naqueles, de arma de uso permitido. As observações sobre a desproporcionalidade da equiparação de armas, acessórios e munições como objeto material do crime feitas no comentário ao art. 12 são aplicáveis também a este artigo. Enquanto o art. 31 desta lei prevê a possibilidade de entrega de armas de fogo não registradas adquiridas regularmente à Polícia Federal, o art. 32 prevê a possibilidade de entrega de armas de fogo, seja de uso permitido, seja de uso restrito, independentemente da regularidade ou não de sua aquisição, à Polícia Federal, estabelecendo, ainda, a possibilidade de indenização no caso de boa-fé do possuidor ou proprietário. Reflexões Sobre o Estatuto do Desarmamento 33 Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem: Comentário: aparentemente, o parágrafo único veicularia normas de extensão equiparando outras condutas às previstas no caput. No entanto, observamos que as condutas previstas neste parágrafo único não guardam relação com os tipos objetivos, nem com o objeto material contemplado pelo caput. Trata-se, portanto, verdadeiramente de outros tipos incriminadores a que se comina pena de reclusão de três a seis anos e multa. I – suprimir ou alterar marca, numeração ou qualquer sinal de identificação de arma de fogo ou artefato; Comentário: incorre, em tese, neste crime, a pessoa que altera ou suprime os sinais identificadores da arma de fogo ou artefato de arma de fogo, não sendo necessariamente quem os possua. Artefato, neste contexto, é alguma peça de arma de fogo. Pode ser arma de uso restrito ou arma de uso permitido. Esse tipo incriminador tutela o controle do Estado sobre as armas de fogo e, apenas indiretamente, a incolumidade pública. II – modificar as características de arma de fogo, de forma a torná- la equivalente a arma de fogo de uso proibido ou restrito ou para fins de dificultar ou de qualquer modo induzir a erro autoridade policial, perito ou juiz; Comentário: tal como o inciso anterior, este trata de crime instantâneo, imputável a quem promova as modificações e não necessariamente ao proprietário ou a quem possua a arma. O inciso trata de duas hipóteses de modificações: a primeira, para tornar a arma equivalente a arma de fogo de uso exclusivo – o e não de uso proibido – ou de uso restrito; e a segunda, para dissimular a arma. O objeto jurídico da primeira figura é a incolumidade pública agravada pelo aumento da potencialidade lesiva da arma em razão 34 Defensoria Pública do Estado de São Paulo da modificação e o da segunda figura é o controle do Estado sobre as armas de fogo. Esta segunda figura pode ter como objeto material tanto arma de uso permitido quanto arma de uso restrito. III – possuir, detiver, fabricar ou empregar artefato explosivo ou incendiário, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar; Comentário: o Código Penal dispõe: “art. 253 - Fabricar, fornecer, adquirir, possuir ou transportar, sem licença da autoridade, substância ou engenho explosivo, gás tóxico ou asfixiante, ou material destinado à sua fabricação: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa.” O inciso III do parágrafo único do art. 16 da Lei 10.826/03 derrogou esse dispositivo do Código Penal. Ocorrendo explosão ou incêndio as condutas previstas nesse inciso são absorvidas pelos crimes previstos nos artigos 250 e 251 do Código Penal IV – portar, possuir, adquirir, transportar ou fornecer arma de fogo com numeração, marca ou qualquer outro sinal de identificação raspado, suprimido ou adulterado; Comentário: diferentemente dos crimes previstos nos incisos I e II, esses crimes são permanentes, não importando se o possuidor da arma foi ou não o responsável pela supressão ou adulteração do sinal de identificação. Não importa se a arma seja de uso restrito ou de uso permitido. V – vender, entregar ou fornecer, ainda que gratuitamente, arma de fogo, acessório, munição ou explosivo a criança ou adolescente; e Comentário: o comércio ilegal de armas de fogo encontra-se previsto no art. 17 desta lei. O inciso em comento, diferentemente, Reflexões Sobre o Estatuto do Desarmamento 35 trata de venda, entrega ou fornecimento de arma de fogo ocasionais a crianças e adolescentes, sem que constituam objetos de atividade empresarial. O art. 14 do Estatuto da Criança e do Adolescente proíbe a venda de armas, munições e exposivos a crianças e adolescentes. As condutas previstas nesse inciso já constavam do Estatuto da Criança e do Adolescente: “Art. 242. Vender, fornecer ainda que gratuitamente ou entregar, de qualquer forma, a criança ou adolescente arma, munição ou explosivo: Pena - reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos.” O inciso em comento, portanto, derrogou esse dispositivo. Tratando-se de armade fogo de uso restrito, o inciso repete condutas já previstas no caput, sem agravar ou qualificar o crime; tratando-se de arma de uso permitido, o inciso funciona como um tipo qualificado das condutas previstas no art. 14 em razão do envolvimento de criança ou adolescente. VI – produzir, recarregar ou reciclar, sem autorização legal, ou adulterar, de qualquer forma, munição ou explosivo. Comentário: somente pessoas ou empresas autorizadas pelo Comando do Exército podem produzir, recarregar ou reciclar munições. A produção de explosivos é ainda mais restrita. Evidentemente, as pessoas e empresas autorizadas não incidem esta figura penal ao exercerem a atividade nos limites da autorização concedida. Comércio ilegal de arma de fogo Art. 17. Adquirir, alugar, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito, desmontar, montar, remontar, adulterar, vender, expor à venda, ou de qualquer forma utilizar, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, arma de fogo, acessório ou munição, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa. 36 Defensoria Pública do Estado de São Paulo Parágrafo único. Equipara-se à atividade comercial ou industrial, para efeito deste artigo, qualquer forma de prestação de serviços, fabricação ou comércio irregular ou clandestino, inclusive o exercido em residência. Comentário: o objeto material do crime é a incolumidade pública, que é exposta a risco com a circulação e aumento do número não autorizados de armas de fogo. Trata-se de crime próprio, praticável por quem exerça habitualmente atividade comercial ou industrial ou prestação de serviços, ainda que irregular ou clandestinamente. A prestação irregular de serviços de segurança privada também se enquadra, em tese, na previsão do caput deste artigo. O art. 19 considera causa de aumento de pena a circunstância de a arma ser de uso restrito. Tráfico internacional de arma de fogo Art. 18. Importar, exportar, favorecer a entrada ou saída do território nacional, a qualquer título, de arma de fogo, acessório ou munição, sem autorização da autoridade competente: Pena – reclusão de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa. Comentário: a criminalização do tráfico internacional de armas pela legislação interna está em consonância com a Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional, promulgada pelo Decreto 5.015/04, e com seu respectivo Protocolo, promulgado pelo Decreto 5.941/06. O artigo em comento derrogou o art. 334 do Código Penal, que prevê como crime de contrabando a importação ou exportação de mercadoria proibida, por ser posterior e especial em relação àquele. Art. 19. Nos crimes previstos nos arts. 17 e 18, a pena é aumentada da metade se a arma de fogo, acessório ou munição forem de uso proibido ou restrito. Reflexões Sobre o Estatuto do Desarmamento 37 Comentário: embora o dispositivo mencione arma de “uso proibido”, trata-se de arma de uso exclusivo das Forças Armadas. Portanto, caso as condutas previstas.nos artigos 17 e 18 desta lei tenham como objeto material armas de uso restrito ou de uso exclusivo, ocorre a incidência da causa de aumento prevista neste artigo. O aumento da pena está relacionado com o maior potencial ofensivo das armas de uso restrito ou de uso exclusivo das Forças Armadas. Art. 20. Nos crimes previstos nos arts. 14, 15, 16, 17 e 18, a pena é aumentada da metade se forem praticados por integrante dos órgãos e empresas referidas nos arts. 6o, 7o e 8o desta Lei. Comentário: a causa de aumento prevista neste artigo está relacionada com condições pessoais do agente que, em virtude do cargo ou ocupação, tem autorização para o porte de armas de fogo. Havendo abuso do direito previsto no art. 6º, que é conferido em função do cargo ou emprego, caso se configurem os crimes previstos nos artigos 14, 15, 16, 17 e 18, incide a causa de aumento. Art. 21. Os crimes previstos nos arts. 16, 17 e 18 são insuscetíveis de liberdade provisória. (Vide Adin 3.112-1) Comentário: o Supremo Tribunal Federal declarou inconstitucional a vedação abstrata à liberdade provisória entendendo que a imposição de prisão ex lege viola o princípio de presunção de inocência e o princípio da motivação das decisões judiciais. 38 Defensoria Pública do Estado de São Paulo CAPÍTULO V DISPOSIÇÕES GERAIS Art. 22. O Ministério da Justiça poderá celebrar convênios com os Estados e o Distrito Federal para o cumprimento do disposto nesta Lei. Comentário: esse artigo prevê a celebração de convênios para, entre outras finalidades, viabilizar a integração de acervos de armas de fogo e dos banco de dados sobre armas de fogo dos Estados e do Distrito Federal com o Sistema Nacional de Armas. O artigo 40 do Regulamento prevê também a celebração de convênios do Ministério da Justiça com os Municípios para a formação de guardas municipais. Art. 23.A classificação legal, técnica e geral bem como a definição das armas de fogo e demais produtos controlados, de usos proibidos, restritos, permitidos ou obsoletos e de valor histórico serão disciplinadas em ato do chefe do Poder Executivo Federal, mediante proposta do Comando do Exército. (Redação dada pela Lei nº 11.706, de 2008) § 1o Todas as munições comercializadas no País deverão estar acondicionadas em embalagens com sistema de código de barras, gravado na caixa, visando possibilitar a identificação do fabricante e do adquirente, entre outras informações definidas pelo regulamento desta Lei. § 2o Para os órgãos referidos no art. 6o, somente serão expedidas autorizações de compra de munição com identificação do lote e do adquirente no culote dos projéteis, na forma do regulamento desta Lei. § 3o As armas de fogo fabricadas a partir de 1 (um) ano da data de publicação desta Lei conterão dispositivo intrínseco de segurança e de identificação, gravado no corpo da arma, definido pelo regulamento desta Lei, exclusive para os órgãos previstos no art. 6o. § 4o As instituições deensino policial e as guardas municipais referidas nos incisos III e IV do caput do art. 6o desta Lei e no seu § Reflexões Sobre o Estatuto do Desarmamento 39 7o poderão adquirir insumos e máquinas de recarga de munição para o fim exclusivo de suprimento de suas atividades, mediante autorização concedida nos termos definidos em regulamento. (Incluído pela Lei nº 11.706, de 2008) Comentário: O Decreto 3.665/00 aprovou o Regulamento para a Fiscalização de Produtos Controlados. Art. 24. Excetuadas as atribuições a que se refere o art. 2º desta Lei, compete ao Comando do Exército autorizar e fiscalizar a produção, exportação, importação, desembaraço alfandegário e o comércio de armas de fogo e demais produtos controlados, inclusive o registro e o porte de trânsito de arma de fogo de colecionadores, atiradores e caçadores. Comentário: o cadastramento de armas de fogo produzidas, importadas, comercializadas, vendidas devem ser cadastradas perante a Polícia Federal, no Sinarm. A autorização e a fiscalização dos processos de produção, exportação, importação e comércio de armas de fogo é atribuição do Comando do Exército. Art. 25.As armas de fogo apreendidas, após a elaboração do laudo pericial e sua juntada aos autos, quando não mais interessarem à persecução penal serão encaminhadas pelo juiz competente ao Comando do Exército, no prazo máximo de 48 (quarenta e oito) horas, para destruição ou doação aos órgãos de segurança pública ou às Forças Armadas, na forma do regulamento desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 11.706, de 2008) § 1oAs armas de fogo encaminhadas ao Comando do Exército que receberem parecer favorável à doação, obedecidos o padrão e a dotação de cada Força Armada ou órgão de segurança pública,atendidos os critérios de prioridade estabelecidos pelo Ministério da Justiça e ouvido o Comando do Exército, serão arroladas em relatório reservado trimestral a ser encaminhado àquelas instituições, abrindo-se-lhes prazo para manifestação de interesse. (Incluído pela Lei nº 11.706, de 2008) 40 Defensoria Pública do Estado de São Paulo § 2oO Comando do Exército encaminhará a relação das armas a serem doadas ao juiz competente, que determinará o seu perdimento em favor da instituição beneficiada. (Incluído pela Lei nº 11.706, de 2008) § 3oO transporte dasarmas de fogo doadas será de responsabilidade da instituição beneficiada, que procederá ao seu cadastramento no Sinarm ou no Sigma. (Incluído pela Lei nº 11.706, de 2008) § 4o(VETADO) (Incluído pela Lei nº 11.706, de 2008) § 5oO Poder Judiciário instituirá instrumentos para o encaminhamento ao Sinarm ou ao Sigma, conforme se trate de arma de uso permitido ou de uso restrito, semestralmente, da relação de armas acauteladas em juízo, mencionando suas características e o local onde se encontram. (Incluído pela Lei nº 11.706, de 2008) Comentário: as armas apreendidas em processos penais devem ser cadastradas no Sinarm e encaminhadas para o Comando do Exército. Essas armas devem ser destruídas ou doadas a órgãos de segurança pública ou às Forças Armadas. Sendo doadas às Forças Armadas, devem ser cadastradas no Sigma; sendo doadas a órgão de segurança pública, a doação deve ser registrada no Sinarm. As armas apreendidas não podem ser utilizadas ou cedidas antes de realizado o procedimento de doação e cadastramento. Art. 26. São vedadas a fabricação, a venda, a comercialização e a importação de brinquedos, réplicas e simulacros de armas de fogo, que com estas se possam confundir. Parágrafo único. Excetuam-se da proibição as réplicas e os simulacros destinados à instrução, ao adestramento, ou à coleção de usuário autorizado, nas condições fixadas pelo Comando do Exército. Comentário: a proibição de fabricação, venda, comercialização e importação de simulacros de armas de fogo já existia na Lei 9.437/97. No entanto, a posse de arma de brinquedo não é proibida por esse artigo. Tampouco o uso ou porte de arma de brinquedo caracteriza Reflexões Sobre o Estatuto do Desarmamento 41 os crimes previstos nesta lei. A lei revogada, diferentemente, previa como crime autônomo a prática de crimes com simulacros de arma de fogo, mas não houve previsão desse tipo incriminador na Lei 10.826/03. A proibição de fabricação, venda, e importação de simulacros de armas também objetiva a retirada das armas de fogo do contexto lúdico e cultural da sociedade. Art. 27. Caberá ao Comando do Exército autorizar, excepcionalmente, a aquisição de armas de fogo de uso restrito. Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica às aquisições dos Comandos Militares. Comentário: as armas de uso restrito são registradas no Comando do Exército ou nos registro próprios das instituições enumeradas no art. 2º, §1º, I, do Decreto 5.123/04. A aquisição dessas armas deve ser precedida de autorização do Comando do Exército. A autorização para a aquisição de armas de fogo de uso restrito é dada em razão da função de segurança que as instituições enumeradas no art. 6º desta lei e seus integrantes desempenham. Também podem obter autorização para a aquisição de armas de fogo de uso restrito os caçadores, atiradores e colecionadores. Art. 28.É vedado ao menor de 25 (vinte e cinco) anos adquirir arma de fogo, ressalvados os integrantes das entidades constantes dos incisos I, II, III, V, VI, VII e X do caput do art. 6o desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 11.706, de 2008) Comentário: em regra, a idade mínima para a aquisição de arma de fogo é vinte e cinco anos. No entanto, os integrantes das Forças Amadas, dos órgãos de segurança pública, das guardas municipais de municípios com mais de cinquenta mil habitantes, da Agência Brasileira de Inteligência, do Departamento de Segurança do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, 42 Defensoria Pública do Estado de São Paulo das polícias da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, do quadro efetivo dos agentes e guardas prisionais, os integrantes das escoltas de presos e as guardas portuárias, das empresas de segurança privada ou de transporte de valores, e das carreiras de Auditoria da Receita Federal do Brasil e de Auditoria-Fiscal do Trabalho, cargos de Auditor-Fiscal e Analista Tributário, que podem ser autorizados a portar armas institucionais ou particulares, inclusive fora de serviço, podem ser autorizados a adquirirem armas de fogo, mesmo que tenham entre dezoito e vinte e cinco anos. Art. 29. As autorizações de porte de armas de fogo já concedidas expirar-se-ão 90 (noventa) dias após a publicação desta Lei. (Vide Lei nº 10.884, de 2004) Parágrafo único. O detentor de autorização com prazo de validade superior a 90 (noventa) dias poderá renová-la, perante a Polícia Federal, nas condições dos arts. 4o, 6o e 10 desta Lei, no prazo de 90 (noventa) dias após sua publicação, sem ônus para o requerente. Comentário: a lei operou a revogação de todas autorizações de porte de armas de fogo até então expedidas, impondo a renovação no prazo de noventa dias. A lei cuidou de isentar as pessoas com autorizações que vigeriam por tempo superior do pagamento das taxas de renovação. Art. 30. Os possuidores e proprietários de arma de fogo de uso permitido ainda não registrada deverão solicitar seu registro até o dia 31 de dezembro de 2008, mediante apresentação de documento de identificação pessoal e comprovante de residência fixa, acompanhados de nota fiscal de compra ou comprovação da origem lícita da posse, pelos meios de prova admitidos em direito, ou declaração firmada na qual constem as características da arma e a sua condição de proprietário, ficando este dispensado do pagamento de taxas e do cumprimento das demais exigências constantes dos incisos I a III do caput do art. 4o desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 11.706, de 2008) (Prorrogação de prazo) Reflexões Sobre o Estatuto do Desarmamento 43 Comentário: o artigo 30 desta lei estabeleceu procedimento simplificado para o registro de armas de uso permitido não registradas até 31 de dezembro de 2008. Essa possibilidade de registro simplificado não existe mais. No entanto, os possuidores e proprietários de armas de fogo, seja de uso permitido ou não, podem entregar as armas a Polícia Federal, nos termos dos artigos seguintes. Parágrafo único. Para fins do cumprimento do disposto no caput deste artigo, o proprietário de arma de fogo poderá obter, no Departamento de Polícia Federal, certificado de registro provisório, expedido na forma do § 4o do art. 5o desta Lei. (Incluído pela Lei nº 11.706, de 2008) Comentário: o registro provisório teve prazo de validade inicial de noventa dias, dentro do qual a Polícia Federal deveria expedir os registros definitivos. No entanto, ao invés disso, a Polícia Federal revalidou os registros provisórios por prazo indeterminado, extrapolando o limite temporal de três anos da autorização, previsto no §2º do art. 16 do Decreto 5.123/04. Art. 31. Os possuidores e proprietários de armas de fogo adquiridas regularmente poderão, a qualquer tempo, entregá-las à Polícia Federal, mediante recibo e indenização, nos termos do regulamento desta Lei. Comentário: as armas de fogo adquiridas regularmente, antes ou depois da promulgação desta lei, que não tenham sido registradas, ou cujo registro tenha expirado e não tenha sido renovado, ou cujo registro ainda esteja válido, podem ser entregues por seus proprietários ou possuidores à Polícia Federal. Trata-se de medida tendente a redução do número de armas de fogo regulares em poder da população. A efetiva entrega da arma deve serprecedida de autorização de trânsito, sob pena de o agente incorrer, em tese, no crime do art. 14 desta lei. 44 Defensoria Pública do Estado de São Paulo Art. 32. Os possuidores e proprietários de arma de fogo poderão entregá-la, espontaneamente, mediante recibo, e, presumindo-se de boa-fé, serão indenizados, na forma do regulamento, ficando extinta a punibilidade de eventual posse irregular da referida arma. (Redação dada pela Lei nº 11.706, de 2008) Comentário: as armas de fogo referidas neste artigo podem ser de uso restrito ou de uso permitido, podem ter sido adquiridas regularmente ou não. Trata-se de medida tendente a redução do número de quaisquer armas de fogo em poder da população. A efetiva entrega da arma deve ser precedida de autorização de trânsito, sob pena de o agente incorrer, em tese, nos crimes dos artigos 14 ou 16 desta lei. Art. 33. Será aplicada multa de R$ 100.000,00 (cem mil reais) a R$ 300.000,00 (trezentos mil reais), conforme especificar o regulamento desta Lei: I – à empresa de transporte aéreo, rodoviário, ferroviário, marítimo, fluvial ou lacustre que deliberadamente, por qualquer meio, faça, promova, facilite ou permita o transporte de arma ou munição sem a devida autorização ou com inobservância das normas de segurança; Comentário: o artigo comina pena de multa, de caráter administrativo, à empresa que promova o transporte de terceira pessoa portando arma de fogo sem autorização. Caso o transporte da arma seja feito em nome próprio pela empresa ou por seus funcionários, o responsável pelo transporte incorre, em tese, nos crimes previstos no art. 14, 16, 17 ou 18 desta lei, conforme o caso. II – à empresa de produção ou comércio de armamentos que realize publicidade para venda, estimulando o uso indiscriminado de armas de fogo, exceto nas publicações especializadas. Reflexões Sobre o Estatuto do Desarmamento 45 Comentário: o dispositivo proíbe a publicidade que estimule o uso de armas de fogo ao público em geral, cominando pena de multa. A publicidade de armas de fogo somente pode ser veiculada em canais adstritos ao público praticante de tiro desportivo ou colecionador de armas, ou instituições ou integrantes de instituições que desempenhem funções para as quais seja inerente o uso de arma. Art. 34. Os promotores de eventos em locais fechados, com aglomeração superior a 1000 (um mil) pessoas, adotarão, sob pena de responsabilidade, as providências necessárias para evitar o ingresso de pessoas armadas, ressalvados os eventos garantidos pelo inciso VI do art. 5o da Constituição Federal. Comentário: os promotores de eventos que reúnam aglomerações tem o dever de evitar o ingresso de pessoas armadas e, por isso, podem ser responsabilizados pelo porte de armas de terceiros, conforme dispõe a norma de extensão prevista no art. 29 do Código Penal: “Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade”. Para cumprir evitar que as pessoas ingressem no local do evento, seus promotores podem lançar mão de equipamentos eletrônicos de detectores de metais e de vistoria pessoal. Esse dispositivo não se aplica a locais reservados a cultos religiosos. Parágrafo único. As empresas responsáveis pela prestação dos serviços de transporte internacional e interestadual de passageiros adotarão as providências necessárias para evitar o embarque de passageiros armados. Comentários: as empresas de transporte internacional e interestadual tem o dever de evitar o embarque de passageiros com armas à pronta disposição. Para que as pessoas autorizadas ao porte de armas de fogo embarquem em meios de transporte público 46 Defensoria Pública do Estado de São Paulo com suas armas, devem transportá-las desmuniciadas e em local fora de seu alcance e indisponíveis para o imediato municiamento. Evidentemente, o parágrafo em comento não alcança profissionais de segurança pública ou privada que estejam no veículo desempenhando suas funções. CAPÍTULO VI DISPOSIÇÕES FINAIS Art. 35. É proibida a comercialização de arma de fogo e munição em todo o território nacional, salvo para as entidades previstas no art. 6o desta Lei. § 1o Este dispositivo, para entrar em vigor, dependerá de aprovação mediante referendo popular, a ser realizado em outubro de 2005. § 2o Em caso de aprovação do referendo popular, o disposto neste artigo entrará em vigor na data de publicação de seu resultado pelo Tribunal Superior Eleitoral. Comentário: O dispositivo foi rejeitado no referendo realizado em 23 de outubro de 2005. A comercialização de armas de fogo e munição continua a ser permitida, embora sob intensa regulação. Art. 36. É revogada a Lei no 9.437, de 20 de fevereiro de 1997. Comentário: a Lei 9.437/97 definia como crime autônomo o uso de arma de brinquedo e de simulacro de arma para o cometimento de outros crimes. A Lei 10.826/03 não contém semelhante previsão. Reflexões Sobre o Estatuto do Desarmamento 47 Art. 37. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. Brasília, 22 de dezembro de 2003; 182o da Independência e 115o da República. LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA Márcio Thomaz Bastos José Viegas Filho Marina Silva ABORDAGEM CRÍTICA SOBRE AS FORMAS LEGAIS DE POSSE E PORTE DE ARMA DE FOGO Filovalter Moreira dos Santos Júnior Defensor Público do Estado de São Paulo DO PROCEDIMENTO PARA AQUISIÇÃO DE PORTE E POSSE DE ARMA DE FOGO Até 1997 o porte ilegal de armas de fogo no Brasil era uma mera contravenção penal. Devido à grande intranquilidade social que as armas de fogo provocaram, especialmente em razão do crescente número de homicídios, entrou em vigência a Lei n.º 9.437/97, considerando o porte ilegal de arma de fogo um crime e sancionando mais severamente as condutas. Desde então, cresceram os movimentos de entidades e da população em favor do desarmamento no país. Diversas organizações realizaram passeatas e eventos chamando a atenção da população brasileira. Um dos propulsores desse pensamento contra o armamento da população foi o Instituto Sou da Paz. No entanto, as pesquisas apontavam a relação direta entre o aumento do número de homicídios praticados com arma de fogo e a facilidade de se adquirir armas de fogo no Brasil. Foi realizado, em 2003, um ato público de grande repercussão, nas portas do Congresso Nacional, chamado “Marcha Silenciosa”, onde foram colocados sapatos de vítimas de armas de fogo em frente ao Congresso 50 Defensoria Pública do Estado de São Paulo Nacional, que foi palco para a promulgação da Lei n.º 10.826/03, denominada Estatuto do Desarmamento. Em 2005 foi organizado um referendo popular que buscou colher da população sua opinião acerca da proibição de comercialização de armas de fogo e munições em todo o território nacional. A pergunta feita para a população foi: "O comércio de armas de fogo e munição deve ser proibido no Brasil?". Entre a entrada em vigor da Lei n.º 10.826/02 e a data do referendo popular, acirrou-se a discussão acerca do tema. Entidades não governamentais posicionaram-se contra o comércio de armas, sob o argumento de que os dados e pesquisas demonstravam que as mortes violentas em sua maioria têm como causa uma arma de fogo, ao passo que o lado oposto defendia o direito à legítima defesa, defesa da propriedade de armas e, notadamente, porque não seria possível associar a redução do número de mortes por armas de fogo à proibição da comercialização das armas e munições. Enfim, os cidadãos decidiram pela não proibição da comercialização das armas de fogo no Brasil. Não obstante tenha sido permitido o comércio de armas de fogo no Brasil, a ideia fundamental do Estatuto do Desarmamento é preservar a integridade física e a propriedade privada, na medida em que o Estado
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