Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
DISCIPLINA DE EXAMES RADIOLÓGICOS CONTRASTADOS 1 AVALIAÇÃO DE FATORES DE RISCOS NA UTILIZAÇÃO DE CONTRASTES IODADOS EM EXAMES DE UROGRAFIA EXCRETORA Mecanismo de Ação do Meio de Contraste O meio de contraste iodado é injetado rapidamente em uma das veias periféricas dos membros superiores (MMSS) e, em casos onde não há possibilidade de realizar punção venosa nestes locais, recorre-se às veias dos membros inferiores (MMII). O contraste é diluído apenas na circulação sanguínea conforme mostra a Figura 1. O trajeto do meio de contraste injetado na veia periférica é o seguinte: circulação venosa, coração direito, artéria pulmonar, veia pulmonar, coração esquerdo, aorta, atingindo a artéria renal em cerca de 15 segundos após sua administração, onde ele é excretado através da filtração glomerular (GUYTON,1988). Deste modo a urina opacificada substitui progressivamente a urina preexistente nas cavidades excretoras (MONNIER et al., 1999). No intervalo de tempo em que o meio de contraste atinge a circulação sanguínea, ele se difunde pelo processo de osmose pelas paredes dos vasos sanguíneos para dentro do espaço extracelular extra vascular do rim (ALBERTS et al., 1997; DURÁN, 2003). A reabsorção tubular e secreção não desempenham papel significativo no mecanismo de ação dos meios de contraste. O contraste não entra no espaço intracelular. Em condições normais a reabsorção de sal e água no túbulo proximal resulta na reabsorção de 80 a 90% da água filtrada. Ocorre que este processo aumenta a concentração dos meios de contraste no túbulo proximal, cerca de até 10 vezes da concentração plasmática. O resultado final é uma concentração relativamente alta dos meios de contraste dentro dos túbulos renais e ductos coletores. A hiperconcentração nos túbulos resulta em uma excelente fase nefrográfica do exame de UGE (KATZBERG, 1992). DISCIPLINA DE EXAMES RADIOLÓGICOS CONTRASTADOS 2 Figura 1 - Representação do início do mecanismo de ação do meio de contraste quando injetado nos vasos sanguíneos (SOVAK, 1984). DISCIPLINA DE EXAMES RADIOLÓGICOS CONTRASTADOS 3 A meia-vida (T1/2) do contraste, tempo necessário para que 50% da dose administrada seja filtrada pelos rins, é de 30 a 60 minutos em adultos normais. E em pacientes idosos ou com disfunção renal é geralmente de 60 a 180 minutos. Após a administração do meio de contraste por via endovenosa, ocorre um equilíbrio entre o soro e o espaço do líquido extracelular. Isto acontece devido à alta quantidade de contraste que permanece no interior do espaço do líquido extracelular. O “clearance” do contraste é dependente da difusão gradual dos meios de contraste a partir do espaço extracelular (DAWSON, 1990; KATZBERG, 1992). O efeito desejado do meio de contraste no organismo é que, nos primeiros 20 minutos após a sua administração, pode-se obter uma excelente imagem do trato urinário. Características Gerais dos Meios de Contraste Os meios de contraste possuem, como estrutura elementar, um anel benzênico, unido a um grupo ácido representado pela fórmula química (COO- H+), em sua posição número 1, agregada aos átomos de iodo e grupamentos complementares, podendo ser ácidos e substitutos orgânicos, representados pelos R1 (posição nº. 3) e R2 (posição nº. 5), conforme mostrado na Figura 2 (SCHERING, 1995; CBR, 2000). Figura 2 - Estrutura básica dos meios de contraste com suas respectivas ligações em cada posição do anel benzeno (SCHERING, 1995). Quando o meio de contraste apresenta um anel benzênico, forma o monômero com três átomos de iodo, representado na Figura 11(a); quando DISCIPLINA DE EXAMES RADIOLÓGICOS CONTRASTADOS 4 compostos por dois anéis benzênicos, com seis átomos de iodo, dão origem ao dímero mostrado na Figura 11(b) (SCHERING, 1995; CBR, 2000). Os grupamentos COO - H + cedem átomos de hidrogênio, ou seja, doam cargas positivas, sendo assim substituído por um cátion (Na + ou meglumina), originando os meios de contraste denominados iônicos, ou por aminas portadoras de grupos hidroxila (R = radical orgânico), formando os meios de contraste não-iônicos. Nas posições 3 e 5, mostradas na Figura 3(a) e 3(b) da estrutura dos meios de contraste, podem ainda unir-se outros substituintes, sendo estes os responsáveis pelo comportamento do contraste no organismo e por sua toxicidade (CBR, 2000). Figura 3 - Estrutura química dos meios de contraste: a) meio de contraste monômero e b) meio de contraste dímero (SCHERING, 1995). Composição dos Meios de Contraste Quanto à composição, eles podem ser divididos em: a) Iodados: são os meios de contraste que, em sua composição, contêm iodo (I) como elemento radiopaco (NISCHIMURA, POTENZA e CESARETTI, 1999). DISCIPLINA DE EXAMES RADIOLÓGICOS CONTRASTADOS 5 b) Não-iodados: são aqueles meios de contraste que não possuem o iodo, mas outros elementos de interesse radiopaco, por exemplo: bário (Ba) e gadolínio (Gd) (NISCHIMURA, POTENZA e CESARETTI, 1999). Classificação Quanto à Solubilidade No item de solubilidade convém distingui-los em três classes (CORBETT, 1982): a) Hidrossolúveis: são meios de contraste que se diluem em água, como exemplo: contrastes iodados. b) Lipossolúveis: são meios de contraste que se dissolvem em gordura, o lipiodol é o exemplo mais comum deste tipo utilizado atualmente (MINGOIA, 1967). c) Insolúveis: são meios de contraste que não se dissolvem nem na água nem em gorduras, exemplo típico é o sulfato de bário, utilizado amplamente em exames do tubo digestivo (CONTARDO e CHAMPIN, 1988; NISCHIMURA, POTENZA e CESARETTI, 1999). Capacidade de Dissociação Nas particularidades de dissociação dos meios de contraste, são avaliados o seu aspecto, a sua ligação química e o número de partículas presentes em solução (quanto maior o número de partículas em um determinado volume, mais intensos são os efeitos colaterais e mais elevada sua osmolaridade) (SCHERING, 1995). São eles: a) Iônicos: são meios de contraste cuja dissociação apresenta características específicas. Suas moléculas, quando em solução, possuem cargas elétricas e, ao se dissociarem, cada molécula cede seu lugar a duas partículas, ou seja, dissociam-se em íons (cátion e ânion). Um cátion com carga positiva, o sódio (Na+) ou a meglumina (Mgl+) e um ânion carregado negativamente, sendo responsável pelo contraste, DISCIPLINA DE EXAMES RADIOLÓGICOS CONTRASTADOS 6 exemplificado na Figura 4. A ligação química entre eles ocorre por eletrovalência (SCHERING, 1995). b) Não-Iônicos: são meios de contraste que não se dissociam em íons quando em solução, ocorrendo somente interações dos compostos moleculares com a água. Como exemplo, tem-se a animação do radical carboxila (COO-Na+), originando uma amida ou aminoaçúcar (glucamida), cuja dissociação não origina íons (SCHERING, 1995). A Figura 4 apresenta algumas fórmulas químicas desses meios de contraste. Figura 4 - Fórmula química de meios de contraste iônicos. a) estrutura básica do meio de contraste com COO-H+; b) estrutura de meio de contraste iônico com substituição do H+ por Na+ ; c) utilização da Mgl+ na composição do meio de contraste, tornando- se COO-Mgl+( SCHERING, 1995). DISCIPLINA DE EXAMES RADIOLÓGICOS CONTRASTADOS 7 Figura 5 - Fórmulas químicas de meios de contraste. a) substituição do radical carboxila (COO-Na+) do meio de contraste monômero iônico para a estrutura b) originando um meio de contraste monômero não-iônico e, c) meios de contraste dímeros não-iônicos,onde não ocorre a dissociação do sal (X) (SCHERING, 1995). Características Específicas dos Meios de Contraste As características dos meios de contraste estão relacionadas com as propriedades de segurança, eficácia e estabilidade durante a realização do exame. Alguns fatores interferem no comportamento fisiológico dos meios de contraste, tais como: densidade, lipofilia, concentração em quantidade de matéria e viscosidade (SCHERING, 1995; CBR, 2000). Densidade É definida como a divisão da massa específica pelo seu volume, conforme a equação: 𝜌 = 𝑚 𝑉 A densidade depende: do material considerado e da temperatura (um aquecimento provoca aumento de volume, interferindo no valor da densidade) (PERUZZO e CANTO, 2002). DISCIPLINA DE EXAMES RADIOLÓGICOS CONTRASTADOS 8 Quanto maior a densidade dos meios de contraste mais difícil sua administração e, consequentemente maior a probabilidade de reações adversas. Torna-se imprescindível o aquecimento dos meios de contraste para reduzir a sua densidade e os seus efeitos adversos. Viscosidade É o atrito interno de um fluido. Devido à viscosidade, deve-se exercer uma força para fazer uma camada de fluido deslizar sobre a outra, ou uma superfície escorregar sobre a outra, se entre ambas houver uma camada de fluido. O fluido é uma substância que pode escoar, o termo inclui líquido e gases, que diferem notavelmente em suas compressibilidades (SEARS, ZEMANSKY e YOUNG, 1984). O coeficiente de viscosidade depende de maneira acentuada da temperatura. Para os gases, a viscosidade aumenta com a temperatura, enquanto que, para os líquidos, a viscosidade diminui com o aumento da temperatura (FOX e MCDONALD, 2001). A viscosidade é uma propriedade física importante aos meios de contraste, influenciando na facilidade com que o mesmo é injetado. Meios de contraste com viscosidade elevada requerem cuidados especiais, como: calibre da agulha ou do cateter maior, ou seja, quanto maior a viscosidade, mais difícil sua administração endovenosa. Assim, a viscosidade dos meios de contraste aumenta quando (SCHERING, 1995): a) Aumenta a concentração do agente de contraste no recipiente a ser injetado; b) As moléculas do meio de contraste aumentam de peso e tamanho; c) Diminui a temperatura da substância. Aspectos Quantitativos das Soluções A quantidade de matéria é expressa pela unidade de mol. Torna-se necessário conhecer a quantidade em mol de uma substância, pois ela está diretamente relacionada à quantidade de partículas em nível microscópico (átomos, íons, etc.) (PERUZZO e CANTO, 2002). DISCIPLINA DE EXAMES RADIOLÓGICOS CONTRASTADOS 9 Pressão Osmótica X Concentração das Soluções de Contraste A pressão exercida sobre o solvente para evitar que o mesmo passe do lado menos concentrado para o mais concentrado é chamada de pressão osmótica (DURÁN, 2003). A concentração das soluções é a maneira de expressar a proporção existente entre as quantidades de soluto e de solvente, ou então, as quantidades de soluto e de solução (FELTRE, 1982). Concentração em Quantidade de Matéria de Soluto e Volume da Solução, Concentração Molar ou Molaridade (M) É a relação entre a quantidade de matéria do soluto (n soluto) e o volume (V solução), em litros, ou seja, indica quantos mols de soluto estão presentes num determinado volume de solução em litros (SARDELLA e MATEUS, 1991; SARDELLA, 1997; PERUZZO e CANTO, 1997; USBERCO e SALVADOR, 2002): 𝑀 = 𝑛𝑠𝑜𝑙𝑢𝑡𝑜 𝑉𝑠𝑜𝑙𝑢çã𝑜 Utiliza-se a unidade de M, ou mol/ L. Nas soluções iônicas torna-se possível determinar a molaridade do soluto e a molaridade dos íons provenientes de sua dissociação ou ionização (USBERCO e SALVADOR, 2002). Nas reações químicas a molaridade é importante, pois sempre há uma proporção entre o número de mols dos reagentes e o dos produtos (PERUZZO e CANTO, 1997). Quantidade de Matéria do Soluto e Massa do Solvente, Concentração Molal ou Molalidade (ml ou W) É a relação entre a quantidade de matéria do soluto (ou seja, número de moles de moléculas do soluto) e a massa do solvente em quilograma (FELTRE, 1982; SARDELLA, 1991; PERUZZO e CANTO, 1993; CARVALHO, 1995). DISCIPLINA DE EXAMES RADIOLÓGICOS CONTRASTADOS 10 Quando há uma solução com molalidade = x (mol/kg), isto representa que a solução é x molal, e contém x mol de soluto dissolvido em cada kg de solvente (CARVALHO,1995). 𝑤 = 𝑛𝑠𝑜𝑙𝑢𝑡𝑜 𝑚𝑠𝑜𝑙𝑣𝑒𝑛𝑡𝑒 Utiliza-se a unidade de mol/kg A molalidade é somente utilizada para experiências onde são efetuadas medidas físicas, como determinados pontos de fusão, ebulição, vapor e outros (PERUZZO e CANTO, 1993). Como definição um osmol de um soluto não dissociável é equivalente a 1 mol deste soluto; assim 1 mol de NaCl será igual a 2 osmol, porque cada molécula de NaCl produz duas partículas, uma de Na+ e outra de Cl-(DURÁN, 2003). Em soluções extremamente diluídas, no caso dos meios de contraste, é possível medir a concentração de partículas em termos de: • Osmolaridade: uma osmolaridade igual a 1 significa que a solução consiste de 1 osmol por litro de solução (DURÁN, 2003). Para os meios de contraste, a osmolaridade representa a concentração da solução e depende da temperatura da substância. • Osmolalidade: uma substância com osmolalidade igual a 1 significa que a solução terá 1 osmol por kg de solvente (DURÁN, 2003). Para os meios de contraste, a osmolalidade é o número de partículas por quilograma de solvente, determinando assim a aceitabilidade da solução no organismo, pois ajudam a diagnosticar desordens de fluidos do corpo (ROSSETTI, 2005). A osmolalidade é influenciada pela concentração, peso molecular, formas de associação e dissociação da substância química utilizada, e representa o poder osmótico que a solução exerce sobre as moléculas de água (CBR, 2000). Se a solução apresentar a mesma osmolalidade do plasma sanguíneo (em torno de 300 mOsm/kg), será denominada isotônica; se for maior, hipertônica, se menor, hipotônica (SCHERING, 1995). Autora: KÁTIA ELISA PRUS PINHO DISCIPLINA DE EXAMES RADIOLÓGICOS CONTRASTADOS 11 Questionário a ser entregue na próxima aula (29/08/2014) 1. Qual o tempo para o contraste iodado alcançar a artéria renal? 2. O que é fase nefrográfica? 3. O que é e qual a meia-vida do contraste Iodado em paciente normal, em idoso e paciente com disfunção renal? 4. Qual o mecanismo responsável pela toxicidade do meio de contraste? 5. Qual a diferença entre o contraste iodado iônico do não iônico do ponto de vista químico? 6. Quais fatores interferem na densidade do contraste? Quais problemas relacionados a densidade? 7. O que é viscosidade em contraste, quais problemas relacionados a viscosidade? 8. O que é osmolaridade e osmolalidade em contraste? 9. Qual a faixa de osmolalidade mais segura para o paciente? 10. Pesquise as marcas mais comuns no mercado, característica e preço de contraste iodado (iônico e não iônico). http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0066-782X2004000700001&script=sci_arttext
Compartilhar