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SUPER-HERÓIS E O PERIGO NUCLEAR ANALISE DA MENTALIDADE AMERICANA NA GUERRA FRIA ATRAVÉS DAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS VICTOR HARABURA DE FREITAS RESUMO O presente artigo propõe-se a fazer uma breve análise da história das revistas em quadrinhos de super-heróis norte americanas, relacionando o contexto histórico em que foram criadas, a mentalidade e o cotidiano dos leitores estadunidenses. Examinando com maior atenção à era nuclear, Guerra Fria, período conhecidos como a Era de Prata dos quadrinhos americanos, momento que são criados os super-heróis cientistas. PALAVRAS-CHAVE Super-herói, histórias em quadrinhos, guerra, Guerra Fria, americanos e Estados Unidos. Dentre os procedimentos teórico-metodológicos utilizados para a análise das histórias em quadrinhos de super-heróis criadas no período da Guerra Fria, optamos pela História Social da Linguagem, de Peter Burke (BURKE, 1997). Mesmo que o método de Burke não esteja interessado com imagens ou a articulação entre imagens e texto, a História Social da Linguagem pode nos ser válido ao fornecer instrumentos para trabalhar com as fontes, “desde que sejam feitas as devidas considerações” (RODRIGUES, 2011, p.2). Ao observar alguns conjuntos de linguagem empregados na organização das obras conseguimos adentrar no universo de nosso estudo. Os super-heróis das histórias em quadrinhos não existem fora do universo da linguagem, como Rodrigues demonstra, adquirindo vida através das narrativas, se expressando através das falas, gestos e figuras de pensamento. Desse modo, torna-se indispensável observar como as histórias em quadrinhos se configuram através de suas próprias ferramentas. Mais do que impor conceitos, podemos analisar os quadrinhos como fontes históricas, na tentativa de sinalizar nelas traços que simbolizam o mundo social a que se referem, já que “As Histórias em Quadrinhos, como todas as formas de arte, fazem parte do contexto histórico e social que as cercam. Elas não surgem isoladas e isentas de influências. Na verdade, as ideologias e o momento político moldam, de maneira decisiva, até mesmo o mais descompromissado dos gibis” (DUTRA, 2002 p.8). Portanto, os HQs “podem ser considerados como indicadores de práticas sociais, valores, ideias e distintas formas de percepção de problemas e de encaminhamentos de suas soluções” (RODRIGUES, 2011, p.3). A Guerra Fria, como define Eric Hobsbawn em seu livro Era Dos Extremos, foi um período peculiar na história do século XX, os dois aliados que combateram os nazistas na Segunda Guerra Mundial, Estados Unidos e União Soviética, emergem do conflito como as duas superpotências do mundo, porém não mais aliados, inimigos ideológicos e políticos, o globo terrestre foi dividido entre duas áreas de influência, o lado norte americano que defendia as leis do capitalismo, e o restante do mundo, sobre o domínio do exército vermelho, que pregava o socialismo. As pessoas de ambos os lados viviam sob constante medo de um apocalipse bélico, as duas potências haviam alcançado a capacidade de produzir bombas atômicas, em 1986, entre as duas potências, havia cerca de 70 mil ogivas, quantidade suficiente para destruir o mundo inteiro dezenas de vezes. Um confronto direto nunca existiu, pois ambas sabiam das consequências de uma guerra nuclear, esse mútuo medo de ataque e contra- ataque, ficou conhecido como “equilíbrio do terror”. Contudo algumas guerras aconteceram com a ajuda soviética e participação direta dos EUA, como a da Guerra da Coreia, Guerra do Vietnã e outros conflitos no Oriente Médio. As histórias em quadrinhos norte americanas não estavam isentas da influência ideológica e política, podemos observar como os super-heróis nasceram e carregaram os traços marcantes do período. Para compreendermos como foram criados os super-heróis e as histórias em quadrinhos no momento da Guerra Fria, faz-se necessário, para melhor entendimento das estruturas de criação dos personagens, uma breve observação da história das revistas de heróis, pois importantes personagens, que combatem os comunistas e a ameaça nuclear, nasceram com outros propósitos, o de levar a “paz” aos confins do espaço sideral e lutar contra os nazis, na Segunda Guerra Mundial. Essa rápida análise nos ajudará a entender melhor os super-heróis. As Histórias em quadrinhos começam surgir no início do século XX1 como uma nova alternativa para comunicação e expressão gráfica e visual. No início os quadrinhos, em sua maioria, eram humorísticos, narrando brincadeiras e travessuras de animais e crianças, por isso até os dias de hoje as histórias em quadrinhos são chamadas em inglês de comics (cômico). Após a Primeira Guerra Mundial o mundo estava em aparente paz política, os Estados Unidos projetava-se como um dos principais centros culturais do mundo ocidente, na década de 1920, ser americano “era ser civilizado, pujante e comprometido” (MARANGONI, 2011, p.2). Porém essa grande virtude estadunidense foi testada com a quebra da bolsa de Nova York em 1929. O crack da bolsa foi um fator importante para as histórias em quadrinhos, os americanos com a moral enfraquecida, decorrente da depressão econômica causadora de inúmeros prejuízos, falências e até suicídios, procuravam ícones para se inspirar, nada melhor que heróis. Na década de 1930 os quadrinhos começaram a invadir o gênero aventura, dá-se a origem dos heróis nas histórias em quadrinhos. Os personagens Flash Gordon, de Alex Raymond, Dick Tracy, de Chester Gould e a adaptação de Hal Foster de o Tarzan (para os quadrinhos) de E.R. Borrougns. Eram heróis que levavam os ideais americanos, de liberdade, democracia, patriotismo engenhosidade e tradição, para os confins da galáxia, no coração da selva africana e no becos das metrópoles. “Esse heróis são conhecidos como o início da Era de Ouro (Golden Age)” (JARCEM, 2007, p.3). Em 1933, surgi o primeiro super-heróis com identidade secreta, Superman de Siegel e Shuster. Publicado somente em 1938, quando a dupla vendeu os direitos autorais para a DC Comics, na revista Action Comics 1. Muitos críticos consideram Superman como “o personagem que marca o inicio da Era de Ouro” (JARCEM, 2007, p.3). Com o surgimento da ameaça nazista, a Era de Ouro tem um impulso considerável com o início da Segunda Guerra Mundial. O nazismo derruba a ilusão de paz política, e transformar em realidade os cenários de guerra e horror que qualquer super-herói queria combater, como ditaduras, dominação mundial, destruição e genocídios, a 2ª Guerra era o palco perfeito da luta do bem contra o mal. Os heróis teriam que se transformar, de militantes pacifistas, em soldados no front de batalha. Antes do ataque a Pearl Harbor em dezembro de 1941, marco que simboliza a início da campanha dos EUA na 2ª Guerra, os heróis dos quadrinhos já combatiam os nazistas na Europa, em uma batalha que os americanos ainda não haviam se envolvidos. 1 Alguns críticos consideram The Yellow Kid escrita por Richard Fenton Outcalt, no ano de 1896, como a primeira história em quadrinhos. Outclat introduz um novo elemento aos desenhos sequenciais: o balão, que é utilizado como espaço para colocar as falas dos personagens. Em 1939 surgiu o personagem Namor, o Príncipe Submarino, criado por Bill Everest, o vilão nasceu para ser o inimigo da humanidade. Para combater o super-vilão foi criado o Tocha Humana, que na verdade era um robô, apareceu pela primeira vez na Marvel Comics 1, historia escrita e desenhada por Carl Burgos. Era a batalha entre água e fogo que o público adorava. Com a popularidade de Namor e Tocha Humana, os comics chamaram a atenção do governo norte americano, que percebe um promissor meio de comunicação de massas. O presidente Franklin Delano Roosevelt“’convocou’ todos os heróis... e super-heróis para o esforço bélico do país” (JARCEM, 2007, p.4). Com isso, os dois personagens passaram a aparecer nas histórias como aliados, passando a lutar juntos contra os nazistas e japoneses. Entre “1940 e 1945 foram criados aproximadamente quatrocentos super-heróis” (JARCEM, 2007, p.4), porém nem todos eles sobreviveram. Dentre os que resistiram podemos citar: Batman, criado por Bob Kane em 1939; Capitão Marvel, de C.C, beck; e o principal super-herói da Segunda Guerra, Capitão América, de Jack Kirby e Joe Simon. O franzino recruta, Steve Rogers, passa por uma experiência do exército, que tenta criar um “supersoldado”, recebe um soro que amplia seus músculos, sua agilidade e reflexos, de um simples recruta, Rogers se transforma no Capitão América. Na capa da primeira edição o herói está dando um soco, “POW!”, no rosto de Adolf Hitler. Após a explosão das duas bombas atômicas, sobre as cidades de Hiroshima e Nagasaki, em setembro de 1945, fato esse representando no mangá2 Gen Pés Descalços escrito por Keiji Nakazawa, os super-heróis vencem as forças do eixo (Roma-Berlim-Tóquio), porém a glória não durou muito, com o fim da guerra o interesse dos jovens em heróis nacionalista diminuiu, o grande “BOOM” que a Segunda Guerra criou de cenários e histórias paras os HQs, o período subsequente é marcado como o pior “refluxo criativo” (MARANGONI, 2011, p.5) dos quadrinhos. A década de 1950, o governo do norte americano começou a caçar “qualquer risco de dissensão cultural e politica” (MARANGONI, 2011, p.5). Os EUA com medo dos malvados comunista, começam a procurar nos mais variados setores da sociedade o menor sinal da ameaça vermelha. A mente indefesa da juventude, era um bom alvo para lavagem cerebral socialista. O psiquiatra Frederic Wertham escreveu o livro A Sedução do Inocente (The Seduction of the Innocente) “onde ele acusava os quadrinhos de corrupção e delinquência 2 Mangá é o termo usado para as histórias em quadrinhos feitas no estilo japonês, os traços mais marcantes do estilo são: a forma de leitura, onde os quadros são lidos no sentido da direita para a esquerda (sentido empregado na escrita japonesa) e os olhos grandes e expressivos (PERCÍLIA, 2012). juvenis” (JARCEM, 2007, págs. 5 e 6), por isso em 1954, editores, escritores e desenhistas de HQs estabeleceram “Código de Ética” (Comics Code) para a produção de quadrinhos. O código impunha, como aponta Gonçalo Junior no livro A Guerra dos Gibis, que o bem sempre deveria vencer o mal, era proibido usar as palavras horror e terror, os crimes deveriam representar atitudes sórdidas, não poderia haver qualquer menção ou insinuação de sexo e os gibis deveriam estimular o respeito as autoridade e a família. A aplicação do Comics Code gerou uma homogeneização nas histórias em quadrinhos de super-heróis na década de 1950, a incapacidade, por parte das editoras, de renovar e criar novas tramas gerou um grande desinteresse em um número elevado de leitores. Porém, anos depois, uma corrida tecnológica capaz de gerar o fim do mundo, seria um rico material que inspiraria os quadrinhos. 1960 a Era de Prata dos HQs começava. A Guerra Fria, como a 2ª Guerra Mundial, proporcionou uma explosão de inúmeros novos super-heróis, porem os heróis na Era de Prata tinha um posicionamento politico mais sutil, mas não deixando de lado os seus traços nacionalistas. Como afirma Adriano Marangoni, a nova geração de heróis, e os sobreviventes da 2ª Guerra, para compensar a “falta” de patriotismo possuíam traços de uma complexa subjetividade. Os super-heróis, pela primeira vez tinha problemas humanos. Um dos personagens mais importantes da Marvel Comics, Hulk criado por Stan Lee, é uma representação direta da Era Nuclear. Dr. Bruce Banner, um brilhante cientista e inventor de uma nova arma, a “Bomba Gama”, foi atingido acidentalmente por raios gama, após salvar um adolescente, que estava próximo à área de testes, Bruce Banner transformava-se no Hulk, uma criatura horrenda, um humanoide gigante, dotado de uma incrível força e o intelecto reduzido, a transformação ocorria toda vez Bruce que sofria um estresse físico ou mental. O super-herói é caçado pelas forças armadas americana, que procuram uma forma de recriar um “supersoldado” a partir do sangue de Banner, durante as perseguições Hulk devastava cidades inteiras para fugir dos seus caçadores, com isso ele é muitas vezes visto como um anti-herói. Porem o personagem, Hulk, foi criado como um super-herói, no meio desse caos, o herói protegia pessoas indefesas de criaturas tão monstruosas quanto ele próprio. A trama principal da história de Hulk é a eterna batalha entre o “médico e o monstro”, a angustia de Bruce Banner, em tentar não se transformar, e quando isso ocorre, a de controlar a criatura bestial Hulk. Outro grande personagem de Stan Lee, e de Steve Ditko nasce em 1962, Homem-Aranha, alter-ego de Peter Parker, surgiu como Hulk, de um acidente, durante uma demonstração de equipamentos emissores de radiação. Peter é picado por uma aranha que foi exposta aos raios radioativos, a picada provocou mutações genéticas, o jovem adquire força sobre humana, a habilidade de pressentir quando coisas ruins vão acontecer, o “sensor aranha”, e a capacidade de escalar paredes. No começo Peter só pensa em fazer dinheiro com os seus superpoderes, mas com a morte de seu tio Ben, que poderia ter sido evitada se Peter não tivesse pensamentos individualistas, os quais deixa escapar um ladrão que depois viria a matar o seu tio, Parker motivado por um sentimento de culpa decide se tornar o super-herói Homem-Aranha. Além de combater o crime, Peter Parker precisa ajudar financeiramente sua tia idosa e viúva, Homem-Aranha é o primeiro super-herói a ter problemas financeiros e ganhar dinheiro com seus poderes, Parker vende as fotos do Homem-Aranha para o jornal Clarim Diário. O personagem com problemas humanos levou a se tornar um dos super-heróis mais populares, alcançando o nível de Superman e Batman. Com a criação da Liga da Justiça da América, da DC Comics, composta por Superman, Batman, Mulher Maravilha, Aquaman e Flash, o homem mais rápido do mundo, que também adquire seus superpoderes em um acidente de laboratório. O diretor da Atlas Comics, convida Jack Kirby e Stan Lee, para criar personagens que pudesse combater os super-heróis concorrentes. Stan Lee e Jack kirby criam o Quarteto Fantástico (Fantastic Four), a equipe de heróis não possuíam identidades secretas e eram uma família. Johnny, o novo Homem Tocha, e Sue Storm eram irmãos, Reed Richard, com o poder de esticar e torcer o corpo, era noivo de Sue, que conseguia ficar invisível e criava campos de força, e Bem Grimm, o Coisa, um humanoide com o corpo rochoso, era amigo da família. Eles representavam os quatro elementos: fogo, ar, água e terra respectivamente. Os heróis adquirem os super poderes através da exposição à radiação cósmica, em uma viagem espacial. O Quarteto Fantástico foi criado no auge da Guerra Fria e a paranoia anticomunista. Em 1961, a União Soviética lança o cosmonauta Yuri Gagarin, que se tornando o primeiro homem a alcançar o espaço. No auge da Guerra Fria, a notícia causa um grande temor nos Estados Unidos, o presidente John Kennedy jura aos americanos que os EUA chegariam a Lua até o fim da década, vencendo a Corrida Espacial. O Quarteto Fantástico foi à resposta dos quadrinhos ao apelo do presidente americano. A equipe era personificação da era espacial, “na qual seus heróis estavam dispostos a arriscar tudo, até a própria vida, para estar um passo adiante da ameaça vermelha” (JARCEM, 2007, p.7). Na primeira edição, Sue ao tentar convencer Ben a pilotar a nave espacial criada por Richards, eladiz: “Ben, nós temos que tentar! A não ser que você queira que os comunistas cheguem na frente”. A Guerra do Vietnã é um dos grandes marcos do período da Guerra Fria, também estaria nas histórias em quadrinhos. O EUA ao ver que o socialismo estava avançando no Extremo Oriente, decide interferir diretamente na guerra civil entre o Vietnã do Norte e Vietnã do Sul, apoiando os sulistas contra o norte socialista, do mesmo modo, anos antes, como havia interferido na Guerra da Coreia. Os Estados Unidos entra na guerra em 1965, porem anos antes, como na 2ª Guerra, os super-heróis já estavam engajados no combate, agora contra os vietcongues. Tony Stark, gênio da engenharia e da física, é dono de uma empresa multinacional bélica, herdada de seus pais mortos em um acidente de carro. Stark, um playboy arrogante, vive uma vida de luxo e conforto, com muitos momentos de embriaguez. Tony Stark também conhecido como Homem de Ferro, outro personagem de Stan Lee, nasce durante o conflito do Vietnã (1962). Tony é ferido gravemente por estilhaços de uma granada, os quais ficam alojados próximo ai seu coração, o acidente ocorre durante a demonstração de armas produzidas pela sua companhia bélica. O herói é aprisionado por um líder vietcongue, que exige do refém a criação de um arsenal de armas. Debilitado, Stark cria uma poderosa armadura, que serve para mantê-lo vivo e fugir do cativeiro do vilão. O cativeiro desperta a consciência moral do super-herói, Tony Stark toma “para si a responsabilidade de caçar os inimigos da paz e da liberdade” (MARANGONI, 2011, p.9), surgi assim o Homem de Ferro. O personagem é voltado para o público infantil, como um “conselheiro militar” antes do início da guerra, criado em 1962, três anos antes do envolvimento direto dos Estados Unidos na guerra, Homem de Ferro é um registro da especulação popular americana de se envolver no conflito da Indochina. Talvez a história em quadrinhos mais importante do período da Guerra Fria foi criada por Alan Moore, a minissérie Watchmen, publicada em 1986 e 1987, ao mesmo tempo em que Frank Miller publicava pela mesma editora, DC Comics, Batman: The Dark Knight Returns. A história de Watchmen se passa em uma realidade alternativa no outubro de 1985 – em três semanas em que o mundo estaria à beira de uma guerra nuclear. A trama da história começa com a investigação de um assassinato, Edward Blake é atirado do prédio onde morava em Nova York por uma pessoa desconhecida, a polícia não consegui solucionar o caso. Um vigilante mascarado, Rorschach, resolve investigar o mistério e descobre que Blake era na verdade o Comediante, outro vigilante, que havia trabalhado para o governo americano desde a Segunda Guerra Mundial. Rorschach, personagem paranoico, descobre uma rede conspiratória, que pode causar ou impedir diretamente um confronto direto, nuclear, entre as duas superpotências. Durante a minissérie outras conspirações cruzam com a trama principal. Os super-heróis, nessa realidade paralela, existem desde a década de 1930, moldando diretamente a história dos Estados Unidos. O presidente Richard Nixon permanece no poder depois de seu segundo mandado, com a grande popularidade que havia conseguido por ter vencido a Guerra do Vietnã, graças à ajuda de Doutor Manhattan – personagem com tamanho poder, que é considerado Deus - que interfere no conflito. Com o consentimento do povo, Nixon consegue anular a Ementa da constituição americana que limita o presidente a dois mandados de quatro anos. O caso Watergate nem sequer chegou acontecer, pois, a mando do presidente, o Comediante assassinou os dois jornalistas que descobriram o escândalo. O Comediante é responsável por fazer o ““trabalho sujo” do governo norte-americano” (RODRIGUES, 2011, p.5), sendo usado em todos os conflitos internacionais americanos durante o século XX, atuando em operações secretas, que iriam de assassinatos e estabelecer regimes autoritários na América Latina, como Rodrigues afirma, “seria ele a metáfora da postura belicista de EUA” (RODRIGUES, 2011, p.5). Além do assassinato dos dois repórteres, o Comediante estava envolvido na morte do presidente Kennedy. Moore teria usado o episódio sem respostas do assassinato, já que Lee Harvey Oswald, o acusado pelo crime se dizia inocente, gerando lacunas para várias teorias conspiratórias, algumas pessoas acreditavam que a morte teria sido encomendada pela CIA, outros pelo FBI e possivelmente pela KGB, porque Kennedy estaria interessado no fim da Guerra Fria. Alan Moore ao citar tais fatos demonstra, mesmo de forma fantasiosa, que a seleção dos acontecimentos tem uma conotação política. Isso fica claro quando o personagem Comediante está conversando com Doutor Manhattan logo após a vitória no Vietnã, o Comediante acredita que se os Estados Unidos perdessem a guerra, os americanos ficariam sem rumo. “Quero dizer, se perdêssemos esta Guerra. Eu não sei. Acho que ficaríamos um Tanto loucos, sabe? Como um país”. Com esta fala irônica, Moore dá sinais de que a derrota dos EUA contribuiu, posteriormente, para uma série de crises, que levariam a população a um descrédito para com o governo. Em Watchmen, o fim das divergências entre União Soviética e os Estados Unidos se dá quando ocorre uma falsa invasão alienígena. Ozzymandias, um dos anti-heróis da HQ, cria um suposto ser extraterrestre e teletransporta a criatura para a cidade de Nova York, o teletransporte em Watchmen não era uma tecnologia perfeita fazendo com que o alienígena exploda matando aproximadamente três milhões de pessoas. Isso faria com que as duas superpotências deixassem de lado as suas desavenças e lutassem juntas contra um inimigo maior. Marcio Rodrigues aponta que o falso alienígena é criado para determinados fins e adquire uma simbologia na narrativa, ele representaria o “mal-estar diante do clima de disputa entre as superpotências e, ao mesmo tempo, assinalando a perspectiva pessimista de que a humanidade precisa encontrar um inimigo para justificar suas disputas” (RODRIGUES, 2011, p.9). Uma possível leitura da Guerra Fria, através da leitura de Watchmen é que o conflito entre União Soviética e Estados Unidos foi na realidade uma disputa bélica e tecnológica, os ideais, capitalistas e comunistas, serviram apenas de justificativa para a ambição da hegemonia do globo. Como vimos os super-heróis nascem a partir da necessidade do público em interagir com os fatos e momentos históricos em que o mundo vive. Desde a origem os heróis são criados com propósitos e justificativas como: após a Primeira Guerra Mundial, levando os ideais americanos para os confins do mundo; no conflito da Segunda Guerra Mundial, heróis tornando-se soldados contra o nazismo; e na Guerra Fria, surgindo de acidentes radioativos e impedindo o avanço comunista. Algumas histórias em quadrinhos são tão bem fundamentadas em uma pesquisa bibliográfica, como no caso de Watchmen, que deveriam receber o titulo de trabalho historiográfico, já que buscam construir um entendimento de períodos da humanidade. VICTOR HARABURA DE FREITAS, SUPER-HEROES AND THE NUCLEAR THREAT - ANALYSIS OF THE AMERICA’S COLD WAR MINDSET THROUGH COMICS RESUME This article intends to give a brief review of the America’s superheroes comic books history, relating the historical context in which they were created, the American readers everyday and mentality. Examining more closely the nuclear age, Cold War, period known as the Silver Age of the American comics, moment when scientist superheroes were created. KEYWORDS Super-heroes, comic books, war, Cold War, American, United States. FONTES E REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BURKE, Peter. História social da linguagem. São Paulo: Fundação Editora da UNESP, 1997. DUTRA, Joaquim Preis. História & História em Quadrinhos – a utilizaçãodas HQs como fonte histórica político-social. Santa Catarina: 2002. HOBSBAWM, Eric, Era Dos Extremos – O breve século XX 1914-1991. São Paulo: Companhia das Letras, 1994. GONÇALO Jr. A Guerra dos Gibis. São Paulo: Companhia das Letras, 2004. JARCEM, René Gomes Rodrigues. História das Histórias em Quadrinhos, 2007, Disponível em <<http://www.historiaimagem.com.br/edicao5setembro2007/06-historia-hq- jarcem.pdf>>, Acessado em 03/11/2012. MARANGONI, Adriano. Super-Heróis e as Guerras do Século XX – uma digressão sobre a mentalidade americana, São Paulo: 2011. PERCÍLIA, Eliene. Mangá. Disponível em: <<http://www.brasilescola.com/artes/o-que-e- manga.htm>>. Acessado em 03/11/2012. RODRIGUES, Márcio dos Santos. Figurações da Guerra Fria – As histórias em quadrinhos de Alan Moore na década de 1980, São Paulo: 2011.
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