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1 UMA ANÁLISE CONTEMPORÂNEA DO DIREITO E DA SOCIEDADE POR MEIO DA TEORIA CRÍTICA DO DIREITO: LIMITES E POSSIBILIDADES Bruno Campos Faria RESUMO O presente trabalho procura demonstrar o importante papel que a teoria crítica do direito desempenhou (e desempenha) ao realizar denuncias a respeito da ideologia no direito, principalmente da época moderna (jusnaturalismo e positivismo jurídico) que acabava por ocultar relações de poder. Ressaltando que apesar do pensamento jurídico crítico no Brasil estar assentado sobre diferentes bases (epistemológica, sociológica, semiológica, psicanalítica), há pressupostos comuns que convergem para a edificação de um Direito “novo”, legítimo e capaz de proporcionar avanços e soluções para a sociedade. Outrossim, pelo fato de alguns autores questionarem o grau de efetividade dos objetivos estabelecidos pela teoria em análise, em outras palavras, qual seu alcance pratico, lança-se mão do uso do Direito Alternativo e/ou Pluralismo Jurídico, como uma das formas de concretização (práxis) dos objetivos do movimento crítico jurídico. Assim que, consciente de seus limites (atinentes a qualquer teoria) e visando a concretização do projeto constitucional de 1988, pugna-se, guardado as devidas peculiaridades, pela união dos objetivos do movimento pós-positivista com os da teoria crítica do direito para exatamente construir esse Direito “novo”, não repressivo e emancipatório, que leve em consideração o sujeito histórico, sua vida em concreto com suas necessidades e os valores da pessoa humana. PALAVRAS-CHAVE: Ideologias jurídicas - Teoria Crítica do Direito – Direito Alternativo e Pluralismo Jurídico – Pós-positivismo – Constituição Federal de 1988. INTRODUÇÃO Pretende-se expor e revelar os interesses e contradições que se desencadeiam da estrutura jurídica, os diversos fatores que fazem com que o Direito seja fruto do monopólio de uma classe opressora, determinando e conduzindo ao seu bel prazer toda a sociedade. Mas, a preocupação e interesse, aqui discutidos, vão além da denúncia (para alguns entendida como vazia e descabida), pois, observa-se no Direito e nas forças sociais um meio para solucionar esse impasse. O objetivo é a “desmistificação 2 do sistema jurídico instaurado, permitindo a sua democratização e ampliando o espaço de manifestação social”1 (Pluralismo Jurídico). Todavia, tem-se a consciência dos limites que se impõem à Teoria Crítica do Direito. Nesse viés, é primordial ter em mente três pontos. O primeiro, é que nenhum saber é estanque e acabado, até porque a diversidade social é gigantesca, impossibilitando que possa amparar ou solucionar todos os problemas que daí surge. O segundo, é que os limites que circundam a Teoria em questão, como por exemplo, a epistemológica, não pode ser em hipótese alguma, óbice aos benefícios trazidos por ela e, o último ponto, talvez o mais importante deles, é que o foco aqui trilhado, ou seja, o de denunciar e de romper (se necessário for) com a ordem normativa em vigor, não tem o condão destrutivo, “mas se impõe e adquire legitimidade, por tornar-se o espaço formulador de novos mecanismos implementadores de avanços e soluções para a presente historicidade”.2 Aliás, diferentemente do que afirmam alguns constitucionalistas, a Teoria, aqui evidenciada, pugna pela segurança e concretização de todos Direitos dos cidadãos, não só os positivados, mas, também os que clamam pelo reconhecimento legal, assim, seria injusto dizer que a Teoria Crítica do Direito observa o Direito somente por um ângulo, desmerecendo e desprestigiando a dogmática. Frise-se, que o referencial da pesquisa é constituído, “por um lado, pela sociedade em que vivemos e, por outro, pelo direito positivo enquanto delimitado pela dogmática jurídica, pois desprezar essa realidade é recair no idealismo ingênuo e na utopia inconseqüente”.3 Em outras palavras, respeita e visa-se sempre resguardar e garantir a aplicação da norma superior hierárquica (Constituição Federal), a qual é fruto de validade e eficácia das demais normas jurídicas e o alicerce do Estado Democrático de Direito. A adoção pelo tema (Uma Análise do Fenômeno Jurídico Contemporâneo por meio da Teoria Crítica do Direito: limites e possibilidade) justificar-se-á, pelo fato de 1 WOLKMER, Antonio Carlos. Introdução ao Pensamento Jurídico Crítico. 5. ed. rev. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 19. 2 Ibidem, p. 88. 3 COELHO, Luiz Fernando. Teoria Crítica do Direito. 3. ed. rev., atual. e ampl. Belo Horizonte: Del Rey, 2003, p. 573. 3 que persistem, ainda hoje, resquícios das ideologias (Jusnaturalismo e Positivismo Jurídico) que impedem a inovação do direito e a própria aplicação da Constituição Federal em sua forma plena e eficaz, garantindo a toda sociedade o exercício de seus direitos (formalmente e materialmente), bem como pelo fato de que a Teoria Crítica do Direito reconhece e denuncia essas posturas, permitindo a abertura de um leque de soluções (como o Uso Alternativo do Direito, o Pluralismo Jurídico) para esses impasses. LYRA FILHO, bastante feliz no momento em que determinou seu ponto de partida, a fim de estabelecer que o Direito deva ser considerado com o meio de evolução da sociedade, sem haver o controle e a dominação dos menos favorecidos; ensina-nos que apesar do movimento do idealismo e do realismo já estarem superados, não se pode admitir que a tradicional redução distorcida e ideológica do Direito (jusnaturalismo e positivismo legalista), seja adotada no lugar daqueles. 4 Essa transposição, ou seja, o fim do idealismo, realismo, jusnaturalismo e positivismo legalista, permite o surgimento da concepção dialética da sociedade e do Direito. Esse novo modelo, comprometido com os fatos, com a idéia de mudança constante e com todos os segmentos da sociedade, é essencial para que não se transforme em mais uma concepção ideológica ilusória e corrompida. Desta forma, afirma ele, que esse movimento dialético com base em uma sociologia jurídica crítica resultará na revelação instrumental do Direito, tanto na questão de dominações de determinadas classes sociais, quanto para as mudanças sociais e para a libertação conscientizada.5 1 JUSNATURALISMO E POSITIVISMO JURÍDICO: SURGIMENTO, EVOLUÇÃO E REFLEXOS SOCIAIS 4 LYRA FILHO, Roberto, O Direito que se Ensina Errado. Brasília: Nair,1980 apud WOLKMER, Antonio Carlos. Introdução ao Pensamento Jurídico. 5. ed. rev., São Paulo, 2006, p. 109. 5 Idem. 4 Relacionada com a sociedade e amalgada a propósitos políticos em que sempre há um falseamento do real; a ideologia representou ao longo da história várias vitórias, como por exemplo, a da burguesia, a qual se apoderou do poder por meio das idéias do jusnaturalismo jurídico e, após tendo obtido, defende-o com outra ideologia, o positivismo jurídico. A respeito do conceito de ideologia recorremos a Marx, por parecer o que mais se identifica com o termo ideologia utilizado neste artigo. Para ele ideologia se liga a uma falsa consciência dos fatos, condicionando o modo de pensar e agir de toda a sociedade, a qual estaria na posição de dominada, pelos interesses de uma classe; ideologia que para ser compreendida mister a tomada de consciência dessa condição do povo explorado. 6 Marilena CHAUÍ a conceitua dizendo que “é um ideário histórico, social e político que oculta a realidade, e que esse ocultamento é uma forma de assegurar e manter a exploração econômica, a desigualdade social e a dominação política”.7Mas frente a essas ideologias verifica-se uma saída ou, dito de outra forma, que sejam desmistificadas, e isso ocorre, por exemplo, quando o Direito não mais fornece respostas eficazes para os novos fatos, ocasionando contradições sociais, e permitindo que a sociedade reflita e questione sobre determinadas normas, estruturas, instituições. Esse quadro de dominação e superação reflete, incontestavelmente, nas ideologias jurídicas (Jusnaturalismo e Positivismo Jurídico). Ideologias estas que marcam, principalmente, o período moderno. A estas duas daremos especial atenção, “porque a maior parte dos juristas, ainda hoje, adota uma ou a outra, como se, fora de ambas, não houvesse maneira de ver o fenômeno jurídico”.8 Pois bem, o jusnaturalismo ou direito natural é uma teoria que procura estabelecer a existência do direito com base em conteúdos provindos da natureza, de 6 LYRA FILHO, Roberto. O que é Direito. 17. ed. reimp. São Paulo: Brasiliense, 1999, p. 14. 7 CHAUI, Marilena. O que é ideologia. São Paulo: Brasiliense, 2006, p. 07. 8 FILHO LYRA, Roberto. Op. cit., p. 25. 5 maneira tal que seria válido e igual no mundo todo (universalismo e imutabilidade). 9 Tal concepção vive em discordância com o direito positivo, o qual às vezes é invocado para afirmar as falhas do direito legal. O jusnaturalismo apresenta-se, fundamentalmente, sob três formas, as quais buscam explicar e estabelecer um pensamento jurídico. Essas formas constituem-se no direito natural cosmológico; no direito natural teológico e no direito natural antropológico. 10 A primeira diz respeito ao universo, a natureza em si; a segunda liga- se a questões divinas; a terceira volta-se para o sujeito. 11 Mister apenas dizer que o direito natural, nas suas três formas aqui descritas, foi sempre uma tentativa de legitimação do poder instaurado, uma ideologia jurídica que procurava manter a margem das decisões políticas, econômicas e sociais todo o povo, sendo através da concepção da natureza, de Deus ou da razão. 12 LYRA FILHO corrobora com essa afirmação quando menciona que a escravidão é um exemplo de justificação da ordem social reinante da época, pois, se considerava como natural (direito natural cosmológico) essa disposição, esse modo de produção que sustentava a economia. 13 De outro lado, faz-se imprescindível mencionar e explicar a manifestação de outra ideologia jurídica, a qual é oposta aos princípios que eram pregados pelo jusnaturalismo, e que influenciou (e influência) grande parte dos juristas e doutrinadores, chamada de positivismo jurídico. Há diversas espécies de positivismo, como o positivismo historicista ou sociologista, o positivista psicologista e o positivismo legalista. 14 Todavia, o qual nos interessa aqui é o positivismo legalista. Nesse sentido, afirma-se que esta espécie de positivismo (legalista) esta marcada pelo excessivo apego ao formalismo, rejeitando qualquer valor axiológico. Em outras palavras, essa corrente concentra-se no estudo puro da lei, concedendo-a 9 MARRAFON, Marco Aurélio. Hermenêutica e Sistema Constitucional: a decisão judicial “entre” o sentido da estrutura e a estrutura do sentido. Florianópolis: Habitus, 2008, p.20. 10 LYRA FILHO, Roberto. Op. cit., p. 38, 39. 11 Ibidem, 40. 12 MARRAFON, Marco Aurélio. Op. cit., p. 21. 13 LYRA FILHO, Roberto. Op. cit., 40. 14 Ibidem, p. 41. 6 poder superior, de modo que haveria uma ordenação harmônica de existência e validade das normas, onde se atribui ao Estado a atividade exclusiva de produção das normas jurídicas. 15 A manifestação pura dessa teoria (legalismo) sobreveio (pelo menos na França), de uma transição de paradigma em que o direito natural foi substituído pelo direito positivo, fruto da evolução da sociedade francesa durante o século XIX. 16 Assim, na França, durante o século XVIII, mas precisamente no ano de 1789 pode verificar claramente esta ruptura; pois, inicialmente o jusnaturalismo representava para a classe social em ascensão (burguesia) uma possibilidade de tomada de poder em detrimento da aristocracia-feudal que arbitrariamente ditava as regras políticas, sociais, econômicas e jurídicas. 17 E exatamente utilizando desses ideais jusracionalista a burguesia tomou a base do poder daqueles e a fim de manter a ordem política conquistada bastava-lhe a utilização do positivismo jurídico, o qual esteve presente no Código de Napoleão. 18 O positivismo jurídico (legalista) estabelece que deva ser o único conhecimento válido, provindo da descrição fiel do seu objeto de investigação, sem nenhuma intervenção valorativa do sujeito que investiga a realidade. “Ao sujeito caberia desempenhar o papel de uma câmara fotográfica: registrar e descrever o objeto tal como ele é”.19 Portanto, para os adeptos dessa teoria, chamado de positivistas, deveria partir- se do direito concreto, daquilo que se pode verificar empiricamente. Desse modo seus estudos concentram-se exclusivamente no direito estabelecido, descartando o direito ideal, o qual, segundo aqueles, faltava-lhe efetividade, em outras palavras, positividade. 20 15 HONESKO, Vitor Hugo Nicastro. A Norma Jurídica e os Direitos Fundamentais: um discurso sobre a crise do positivismo jurídico. São Paulo: RCS, 2006, p. 37. 16 Ibidem, p. 38. 17 Idem. 18 BERBERI, Marco Antonio Lima. Os Princípios na Teoria do Direito. Rio de Janeiro: Renovar, 2003, p. 43. 19 MARQUES NETO, Agostinho Ramalho. A ciência do Direito: conceito, objeto e método, 2. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2001, p. 03. 20 MIAILLE, Michel. Introdução Crítica ao Direito. 2. ed. Lisboa: Estampa, 1994, p. 276. 7 Destarte, algumas características podem ser retiradas dessa teoria, quais sejam, as soluções ou verdades devem ser buscadas no objeto; rejeita qualquer tipo de ingerência axiológica, “restaria puro, incondicionado à apresentação subjetiva daqueles que operam o Direito”21, de tal maneira que a questão da justiça, por exemplo, seria objeto de estudo de outras ciências; possui como método o das ciências exatas; seu objetivo é desenvolver formas de conhecimento científicos; somente ao Estado incumbiria o papel de produção das normas jurídicas. 22 Os teóricos adeptos deste movimento que mais ganham destaque são Hans Kelsen e Norberto Bobbio. Todavia, assim como o jusnaturalismo, o positivismo também sofre profundas críticas, como exemplos têm-se, a idéia de neutralidade do direito; o apego exagerado ao formalismo, em que define o direito apenas em decorrência de sua estrutura formal, descartando seu conteúdo 23 ; a separação absoluta entre o direito e o social, ou seja, as normas eram produzidas sem levar em consideração os valores históricos, sociais, econômicos e políticos da sociedade; a idéia de que o único direito válido é o direito posto pelo Estado. Também se pode dizer que o método estabelecido por KELSEN, é passível de críticas, pois, a norma fundamental por ele criada para justificar a teoria da validade das normas jurídicas 24 , encontra-se em dissonância com seu próprio sistema normativo dinâmico, de modo que nem mesmo KELSEN consegue explicar a fundamentação da norma hipotética fundamental. 25 Talvez o que parece ser ainda mais questionável a respeito dessa teoria é o valor ideológico por ela produzido, de forma que contraria qualquer concepção de legitimidade democrática impedindo a tomada de consciência,como ocorreu na França no século XVIII. 21 BERBERI, Marco Antonio Lima. Op. cit., p. 53. 22 HONESKO, Vitor Hugo Nicastro. Op. cit., 40. 23 BOBBIO, Norberto. O Positivismo Jurídico: Lições de Filosofia do Direito. São Paulo: Ícone, 1995, p. 145. 24 KELSEN, Hans. Teoria Pura do Direito: introdução à problemática científica do direito. Trad.: Agnes Cretella Jr. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001, p. 50. 25 BARZOTTO, Luis Fernando. O Positivismo Jurídico Contemporâneo: uma introdução a Kelsen, Ross e Hart. São Leopoldo: Unisinos, 1999, p. 65. 8 Atualmente, por conta dessa crise de estrutura jurídica (também) que passa a sociedade, acaba por refletir em todos os campos das ciências humanas. Como se expôs, os conhecimentos provindos das formas do jusnaturalismo ou das correntes do positivismo jurídico não mais conseguem amparar as necessidades da sociedade contemporânea. O que se vê é uma limitação e desatualização dos parâmetros científicos, e inclusive jurídicos que foram utilizados para desenvolver o social na época moderna. E exatamente por conta dessa descrença nos modelos passados que abre a possibilidade de se refletir em um novo modelo de referência, de fundamentação. 26 2 A TEORIA CRÍTICA DO DIREITO: UMA PROPOSTA DE SUPERAÇÃO DO JUSNATURALISMO E DO POSITIVISMO JURÍDICO A teoria Crítica possui como base filosófica, principalmente, as contribuições teóricas da Escola de Frankfurt, em que teve como estudiosos de mais destaque, Max Horkheimer, Theodor Adorno, Herbert Marcuse, Jürgen Habermas. 27 Essa teoria crítica fundasse na utilização de um conhecimento que visa demonstrar a sua aceitabilidade quanto as questões por ela trazidas a uma reflexão crítica; não se trata, portanto, de uma obrigatoriedade de ter que ser corroborada por um conhecimento empiricamente constatável. 28 Desse modo, a teoria crítica pugna pela conscientização dos indivíduos, em detrimento de posturas autoritárias e ideológicas. 29 Em síntese a Escola de Frankfurt desempenhou um importante papel no que desrespeita a crítica, pois, demonstrou que ela é o caminho para a transformação social. Os primeiros movimentos que passaram a questionar o Direito remontam-se ao final da década de 60, os quais utilizavam, dentre outras, as idéias da teoria crítica 26 WOLKMER, Antonio Carlos. Op. cit., p. 01; 02. 27 ASSOUN, Paul-Laurente. A Escola de Frankfurt. Trad.: Helena Cardoso. São Paulo: Ática, 1991, 10. 28 Ibidem, p.11. 29 Idem. 9 frankfurtiana. 30 Sobre forte influência neomarxista, passaram a colocar em xeque a estrutura jurídica, como forma de manifestação e perpetuação do poder. 31 Estes movimentos chegaram à América Latina na década de 80, em que se podem identificar como principais autores, dentre muitos outros, Carlos Cárcova (na Argentina), Oscar Correas (no México), Roberto Lyra Filho, Tércio Sampaio Ferraz Jr., Luiz Fernando Coelho e Luis Alberto Warat (no Brasil). 32 O objeto central de suas críticas consistia na análise do fenômeno jurídico tradicionalmente concebido, com a pretensão de revelar como a ideologia da época “encobertava e reforçava as funções do Direito e do Estado na reprodução das sociedades capitalistas”.33 Demonstrado brevemente o espaço inicial em que ocorreu o discurso crítico do Direito, trata-se de expor o conceito de teoria crítica jurídica. WOLKMER conceitua a teoria crítica do direito como “a formulação teórico- prática que se revela sob a forma do exercício reflexivo capaz de questionar e de romper com o que está disciplinarmente ordenado e oficialmente consagrado (no conhecimento, no discurso e no comportamento) em dada formação social e a possibilidade de conceber e operacionalizar outras formas diferenciadas, não repressivas e emancipadoras, de prática jurídica.”34 Neste sentido, necessário demonstrar as causas que propiciaram o surgimento da teoria jurídica crítica; que basicamente decorrem do contexto social, político, e, principalmente, jurídico moderno (contexto já demonstrado linhas acima). Conseqüentemente, com esta teoria ditando as regras, o que se vê é apenas uma troca de poder opressor, pois, se antes caberia ao poder do monarca desempenhar esta função, com o surgimento do legalismo esse papel passa a ser realizado pelo Estado. 30 Idem. 31 WOLKMER, Antonio Carlos. Op. cit., 17. 32 Ibidem, p. 17; 18. 33 WARAT, Luis Alberto; PÊPE, Albano M. Bastos, Filosofia do Direito: uma introdução crítica. São Paulo: Moderna, 1996 apud WOLKMER, Antonio Carlos. Op. cit., p. 18. 34 LUDWIG, Celso Luiz. Para uma Filosofia Jurídica da Libertação: paradigmas da filosofia da libertação e direito alternativo. Florianópolis: Conceito, 2006, p. 19. 10 Constata-se que a teoria crítica do direito é o modo pelo qual procura demonstrar-se que nenhum conhecimento é absoluto, bem como que o saber jurídico tradicional (reducionista de que todo conhecimento deve ser o científico, de que todo direito deve ser o legal ou estatal e de que todo poder deve ser o estatal), esta assentado sob bases ilegítimas e ideológicas, pois tende a perpetuar o discurso dominante e opressor de uma classe social (a burguesa), e nesta perspectiva, a teoria em questão, objetiva resgatar o papel essencial e condicionador da sociedade, da vida humana em concreto, para explicar que a solução para esse impasse decorre da adoção de uma atitude verdadeiramente dialética, modo que propicia o surgimento de outras formas e alternativas de conhecimento (Pluralismo Jurídico e Direito Alternativo). Segundo LYRA FILHO para que haja uma “concepção dialética do Direito, teremos de rever, antes de tudo, a concepção dialética da sociedade, onde o Estado e o direito estatal são, a bem dizer, um elemento não desprezível, mas secundário”.35 Assim, o que mais se deve levar em consideração nesta busca incessante, por uma ordem jurídica plural e dialética, é o reconhecimento da inerente relação entre Direito e Sociedade, onde esta última é quem deve determinar aquele, sendo seu fruto e produto. Portanto, deve-se resgatar o papel da sociedade como fonte única legitimadora do Direito, servindo da Teoria Crítica do Direito como instrumento, consistindo nisso um de seus maiores objetivos (além das denuncias constantes; da procura de possibilitar um espaço de participação social ou um social-paralelismo estatal e da busca pela emancipação e libertação do ser humano) Desse modo o instituto jurídico ultrapassa (ou deve ultrapassar) a preocupação com os limites impostos pela ordem normativa, pois estará sempre condicionado a um ambiente social específico. 36 Logo, decorre necessariamente a idéia de se analisar o Direito sobre a ótica Transdisciplinar. 37 LYRA FILHO numa feliz frase dá-nos o sentido certo que deve ser recepcionado o fenômeno jurídico: “uma exata concepção do Direito não poderá 35 LYRA FILHO, Roberto. Op. cit., p. 39. 36 WOLKMER, Antonio Carlos. Op. cit., p. 25. 37 Ibidem, p. 26. 11 desprezar todos esses aspectos do processo histórico, em que o círculo da legalidade não coincide, sem mais, com o da legitimidade” 38. Outrossim ressalta-se que o movimento crítico ocorrido em todo o mundo (como na França, Itália, Espanha, Alemanha, Portugal, Argentina e Brasil), apesar de se assentar em bases metodológicas distintas possui pressupostos comuns, queconvergem para o questionamento do normativismo estatal, ou melhor, sua função político-ideológica em favor da perpetuação das contradições e das relações de poder. 39 No Brasil, segundo lições de WOLKMER, encontra-se quatro posturas metodológicas que se insurgem nos dias atuais: a) sistêmica; b) dialética; c) semiológica; d) psicanalítica. 40 Importante apenas frisar, por questões metodológicas, que todos os movimentos decorrentes dessas quatro posturas convergem para o mesmo sentido, qual seja projetam críticas sobre o fenômeno jurídico tradicionalmente concebido e, em contraposição, procuram demonstrar e revelar como a ideologia da época encobertava e reforçava as funções do Direito e do Estado na perpetuação das relações de poder na sociedade. 41 3 UMA ANÁLISE CONTEMPORÂNEA DO DIREITO E DA SOCIEDADE: LIMITES E POSSIBILIDADES “O propósito é, até aqui, descrever o significado e a função que exerce o pensamento crítico no Direito não só no sentido de questionar e desmitificar o que legalmente está posto (o injusto e ineficaz), mas, sobretudo, como instrumento pedagógico que possibilite a construção das premissas fundantes que conduzem a um Direito „novo‟”.42 38 LYRA FILHO, Roberto. p. 43. 39 WOLKMER, Antonio Carlos. Op. cit., p. 150. 40 Ibidem, p. 155. 41 Ibidem, p. 18. 42 Ibidem, p. 152. 12 Tal relação proposta perpassa obrigatoriamente pela demonstração de que o questionamento, talvez o mais persuasivo que repousa sobre o movimento em questão, a saber, o seu alcance prático, deve ser suprido por meio do Direito Alternativo. Assim para a completa realização da teoria Crítica do Direito deve existir não só o trabalho teórico, mas sim a concretização dos seus objetivos; e aqui entra o papel primordial do Direito Alternativo. Para melhor demonstrar esta relação proposta entre Direito Alternativo e Teoria Crítica do Direito, mister entender no que consiste o Direito Alternativo. RODRIGUES ao estudar o Direito Alternativo no ensino jurídico chega à conclusão de que tal movimento ainda não construiu um conceito acabado, assim, aquele autor estabelece o uso de parâmetros. 43 Neste sentido, menciona “a legitimidade como critério de aferição do que é e do que não é jurídico e a justiça social como paradigma básico de medição da própria legitimidade”44; já no que tange à metodologia a ser empregada dispõe a dialética; e por fim, pugna o autor pela análise interdisciplinar, o que viabiliza a relativização do conhecimento unilateral e formalista das ciências jurídicas moderna. 45 Diante da visão CLÈVE o direito alternativo procura explicar o fenômeno jurídico contemporâneo, bem como luta para expandir os aspectos de liberdade encontrados no direito. 46 E com precisão ensina que a teoria do uso alternativo do direito “não diz nessa oportunidade o que deve ser. Afirma, sim, o que é nas sociedades capitalistas. E propugna sua utilização alternativa para, demonstrando suas contradições, denunciando suas lacunas, reafirmando conquistas históricas das classes populares, criando nova cultura jurídica, desmistificando e desconstruindo velhos mitos, adaptá-lo, democratizá-lo, ampliando os espaços de atuação libertária.”47 Mas o autor que mais ganha relevo no ensinamento do respectivo movimento, mais precisamente na Escola da Magistratura do Rio Grande do Sul, é o jurista 43 RODRIGUES, Wanderlei Horácio. Ensino Jurídico e Direito Alternativo. São Paulo: Acadêmica, 1993, p. 168. 44 Idem. 45 Idem. 46 CLÈVE, Clèmerson Merlin. Temas de Direito Constitucional (E de Teoria do Direito). São Paulo: Acadêmica, 1993, p. 225; 227. 47 Ibidem, p. 227. 13 Amilton Bueno de CARVALHO. O qual pelos resultados obtidos, em virtude de uma interpretação mais flexível do sistema jurídico, o movimento em questão acaba repercutindo em todo o país, levando em si a necessidade de utilizar a ordem legal de forma interpretativa em prol dos menos favorecidos, bem como a adoção do pluralismo jurídico. 48 Esse autor propõe uma tipologia para alcançar tal objetivo, qual seja o Uso Alternativo do Direito, o Positivismo de Combate, o qual se manifesta na luta para reivindicar a aplicação dos direitos já positivados que, infelizmente permanece inertes, rigidamente dispostos na estrutura fria da lei 49 e como última ferramenta tem-se o Direito Alternativo em Sentido Estrito. Este último consiste em um “direito paralelo, emergente, insurgente, achado na rua, não-oficial, que co-existe com aquele emergente do Estado. É um direito vivo, atuante, e em permanente formação/transformação.”50 A guisa de conclusão pode-se dizer que o caminho para a efetividade de uma justiça social democrática já foi estabelecido, pois um dos objetivos propostos pela Teoria Crítica do Direito é de abrir espaços e possibilidades do surgimento de estratégias que superem os reducionismos criados pelas teorias jurídicas modernas (estatalidade, unicidade, positividade) e assim construir um Direito “novo” que pode ser, dentre outras possibilidades, a adoção do Direito Alternativo conjuntamente com o Pluralismo Jurídico. 51 Não obstante a essa possibilidade há o movimento pós-positivista que coloca em xeque a necessidade do papel desenvolvido pela Teoria Crítica do Direito na contemporaneidade. Assim, ainda que de forma breve, depara-se com a necessidade de explicar no que consiste o movimento pós-positivista ou não positivismo, para posteriormente, de forma mais clara, demonstrar as similitudes verificadas entre ele e a teoria jurídica crítica, no que se acredita haver a possibilidade de unir estas duas forças, em prol da 48 WOLKMER, Antonio Carlos. Op. cit., p. 154. 49 CARVALHO, Amilton Bueno. Direito Alternativo na Jurisprudência. São Paulo: Acadêmica, 1993, p.13. 50 Ibidem, p. 14. 51 MALISKA, Marcos Augusto. Pluralismo Comunitário participativo. In: ______. Pluralismo Jurídico e Direito Moderno: notas para pensar a racionalidade jurídica na modernidade. Curitiba: Juruá, 2000, p. 63, 64, 65. 14 construção de um Direito “novo”, comprometido de fato com os valores sociais e constitucionais. O pós-positivismo caracteriza-se por procurar estabelecer um novo paradigma face às imprecisões das teorias jurídicas tradicionais (jusnaturalismo e positivismo jurídico); movimento proveniente das influências do século XIX, onde se tinha o Estado de Direito. 52 Essa teoria ainda prematura possui diversos justeóricos, como Dworkin, Alexy, o argentino Carlos Santiago Nino 53 e os brasileiros Paulo R. Schier e Luis R. Barroso, que possuem semelhantes objetivos, que acabam resultando, por assim dizer, numa busca por uma nova concepção do Direito. Suas bases filosóficas são ecléticas 54 , “e remetem a uma constelação de autores que possuem ponto de contato com as idéias do Gustav Radbruch tardio, passando pelos influxos da teoria da justiça de John Raws, incorporando ainda elementos da filosofia hermenêutica, bem como aportes da teoria do discurso de Habermas.” 55 Na pretensão de superar a estrutura formalista proporcionada pelas teorias jurídicas verificadas ao longo do século XX, principalmente a caracterizada pelo positivismo jurídico, observa-se que os pós-positivistas não rompem com a ordem normativa em vigor, mas pelo contrário, procuram dentro do próprio sistema uma solução para o impasse. 56 E em contraposição, de maneira geral, objetivam “oreconhecimento da normatividade dos princípios e a essencialidade dos direito fundamentais.” 57 Outrossim, apesar de ter demonstrado que esse movimento não positivismo constitui-se na contraposição as insuficiências e limites das ideologias da época moderna, percebe-se claramente também que há uma resistência ao papel 52 BARRETTO, Vicente de Paula. Dicionário de Filosofia do Direito. Rio de Janeiro: Renovar, 2006, p. 650. 53 Ibidem, p. 650; 653. 54 Ibidem, p. 650. 55 Idem. 56 Idem. 57 BARROSO, Luis Roberto. Interpretação e Aplicação da Constituição: fundamentos de uma dogmática constitucional transformadora. 6ª ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 342. 15 desempenhado pela Teoria Crítica do Direito quando esta projetou no período moderno denúncias a respeito da ordem normativa, pois entendia-se que essa ordem seria uma forma ideológica de perpetuação das relações de poder. Desse modo procurando demonstrar que, não obstante as repercussões dessa postura crítica, ela proporcionou a abertura do sistema para os diversos movimentos que procuram uma solução alternativa para a ordem jurídica, como por exemplo, o Direito Alternativo e o Pluralismo Jurídico. Bem como objetiva a construção de um Direito “novo” que tenha como premissas o processo histórico, o ser humano concretamente considerado e como base a dialética e os princípios constitucionais. Perceba que dessa maneira seria possível falar em objetivos semelhantes provenientes do movimento pós-positivista e da teoria jurídica crítica. Assim é que os pós-positivistas afirmam que, não obstante ao singular papel desempenhado pela Teoria Jurídica Crítica na época moderna, não se pode aceitá-la como meio capaz e/ou necessário a possibilitar as devidas reformas do Direito, bem como as concretizações dos princípios esculpidos na Constituição Federal 1988. Esse movimento, denominado pós-positivismo, caracterizado pela pretensão de constituir-se um novo paradigma face às imprecisões das teorias jurídicas tradicionais 58 , portanto, contrapõe-se, de certa forma, a teoria crítica do direito, mencionando que esta última observa o Direito somente pela idéia de dominação, ou seja, que o Direito era utilizado por uma classe ou grupo hegemônico para garantir e reproduzir interesses particulares, em detrimento da sociedade. Fato que afirmam ter proporcionado, dentre outras conseqüências, “o desprestígio do discurso jurídico em face de outros saberes, a crença no Direito enquanto mero reflexo das relações de poder dentro da sociedade e um certo esvaziamento da dignidade normativa da ordem jurídica”59. Assim, visando resgatar esta identidade jurídica é que os pós-positivistas lançam mão da busca pela reconstrução dogmática, como “instrumento emancipatório, 58 Ibidem, p. 650. 59 SCHIER, Paulo Ricardo. Filtragem Constitucional: construindo uma nova dogmática jurídica. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris, 1999, p. 34. 16 viabilizador dos projetos democráticos da sociedade”60, sendo o objeto central a força normativa da Constituição, a qual deve vincular todo o sistema jurídico estatal. Pois bem, identificado o projeto pós-positivista face ao movimento crítico jurídico, necessário apontar alguns de seus pressupostos que, em tese, irão conduzi-los à proposta inicial, ou seja, ao resgate da dogmática jurídica. Um dos primeiros pressupostos ou categorias epistemológicas específicas para a reconstrução da ordem jurídica, passa preliminarmente pela análise do fenômeno Constitucional e da própria Constituição de 1988 61 . Neste sentido, buscam precisar a noção da dogmática jurídica. Esta “consiste naquele corpo de saberes, construído pelos juristas no decorrer dos tempos, voltado ao comentário da lei, à exegese do Direito e a sistematização de dispositivos num corpo coerente”.62 Observado a dimensão da dogmática jurídica que querem resgatar; colocam como ponto primordial a análise da Constituição como meio apto, eficaz e legítimo para vincular e intervir juridicamente e politicamente em toda sociedade. 63 É assim, que SCHIER, inicialmente, estabelece duas conclusões, em que “(i) a necessidade de se vislumbrar a Constituição em sentido jurídico, formal dotada de certa normatividade e vinculatividade e (ii) a necessidade de substituir-se as noções de Constituição em sentido formal e material, ambas parciais, pela idéia de sistema constitucional”64. Os pós-positivistas brasileiros, com isso, procuram aplicar estas duas conclusões na Constituição Federal de 1988; à qual reconhecem como “vinculante, compromissória, democrática e dirigente.”65 Exatamente na aplicação das respectivas conclusões que configuram, no seio do próprio fenômeno constitucional, instrumentos que seriam capazes de realizar uma transformação social. 60 Ibidem, p. 24. 61 Ibidem, p. 63. 62 Ibidem, p. 64. 63 Ibidem, p. 71. 64 Ibidem, p. 75; 76. 65 Ibidem, p. 92. 17 Como exemplo desses instrumentos tem-se a utilização prática da hermenêutica constitucional que ocasionaria na valorização da dialeticidade do Direito – sociedade e fenômeno jurídico, este entendido como espaço de lutas sociais.66 A respeito desse assunto, STRECK explica que a Constituição corresponde à necessidade de realizar, proporcionar algo, de modo que a sociedade também participa dessa criação. 67 Nesse viés, o autor ressalta a importância da Constituição como fator preponderante na atividade hermenêutica, pois a ela incumbe ser paradigma para todo o ordenamento jurídico 68 , conseqüentemente, irá dizer esse estudioso, que os princípios enquanto considerados como valores fundamentais, centros axiológicos dirigem tanto a Constituição como o sistema jurídico por completo. E por este motivo a sua violação ocasionaria na própria transgressão da norma (constitucional ou infraconstitucional). 69 Perceba, portanto que nessa linha de pensamento a hermenêutica constitui-se como instrumento apto a aproximar axiologicamente a sociedade e o Direito, de modo que tornaria possível, de forma mais precisa, captar as transformações sociais que acabam por moldar o fenômeno jurídico. Outro instrumento seria a interpretação conforme a Constituição (ressalvados seus limites), que deriva da análise de que existem tanto normas constitucionais como normas inconstitucionais. 70 . A esse respeito BARROSO ensina que essa interpretação vincula os juízes e tribunais, para que procedam uma melhor adequação aos preceitos constitucionais. 71 Todavia, não obstante ao disciplinado pelo movimento constitucional (pós- positivismo), cabe refletir sobre esse resgate dogmático a luz da contemporaneidade social, jurídica e política. Tal contexto, no que diz respeita ao Brasil, envolve como não poderia deixar de ser, “a Constituição de 1988 e o processo de 66 Ibidem, p. 110; 111. 67 STRECK, Lenio Luiz. Hermenêutica Jurídica e (m) Crise: uma exploração hermenêutica da construção do direito. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2003, p. 240. 68 Ibidem, p. 241. 69 Ibidem, p. 242; 243. 70 Ibidem, p. 132. 71 BARROSO, Luís Roberto. Op. cit., 2004, p. 301. 18 redemocratização.”72 Fato que marcou a transição de um governo autoritário para um Estado democrático de direito. 73 Porém esse contexto, em que leva em consideração a abertura do sistema, verifica-se também o surgimentode formas plurais de manifestação social, realçando a práxis cotidiana. 74 Como afirma HÄBERLE o “povo é também um elemento pluralista para a interpretação que se faz presente de forma legitimadora no processo constitucional.”75 O que se quer ressaltar é que deve existir a discussão sobre formas alternativas sobre as várias possibilidades de superação da ordem normativa tradicional ou adequação desse processo de redemocratização. Nesse viés, colocam-se dois pontos: a) o importante papel desenvolvido pelas Teorias Críticas do Direito, como meio necessário na construção de um Direito “novo”, e o segundo ponto, trata-se de uma questão: b) será que se aliar (ressalvados suas devidas proporções) à busca pela reconstrução da dogmática jurídica constitucional, juntamente com os ideais críticos jurídicos, não se chega a uma maior eficácia e efetividade dos valores constitucionais fundamentais? Inicialmente cabe lembrar-se que toda teoria é de caráter provisório, não podendo ser em hipótese alguma estanque e absoluta, portanto, detentora de limites. Todavia, os limites que circundam a Teoria em questão, não podem ser considerados como um óbice aos benefícios trazidos por ela. Ora, como demonstrado neste artigo, o poder da época moderna era um poder opressor que condicionava e perpetuava as relações de poder, portanto, um poder de dominação. Conseqüentemente o movimento crítico iria assim denunciar, demonstrar as contradições, desta estrutura formalista, ilegítima e ideológica. Fato que como o próprio SCHIER menciona “a referida produção teórica, evidentemente, teve grande importância na medida em que desmascarou o Direito de uma série de mitos 72 BARROSO, Luis Roberto. Curso de Direito Constitucional Contemporâneo: os conceitos e a construção do novo modelo. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 245. 73 Ibidem, p. 246. 74 HÄBERLE, Peter. Hermenêutica Constitucional: a sociedade aberta dos intérpretes da Constituição: contribuição para a interpretação pluralista e “procedimental” da Constituição. Trad.: Gilmar Ferreira Mendes. Porto Alegre: Fabris, 1997, p. 36. 75 Ibidem, p. 37. 19 (neutralidade, imparcialidade, segurança jurídica, etc.) e permitiu aos operadores jurídicos uma nova compreensão de seus papéis.” 76 Outro fator que aqui se pode subsumir, neste ponto, é o referente à proposta pelo um Direito “novo” trazida pelo pensamento jurídico crítico; um Direito que leve em consideração o processo histórico, o ser humano concretamente considerado, suas necessidades, bem como a abertura do sistema jurídico, em prol da efetivação dialética, que, se não romper, que ao menos transponha ao que está oficialmente disciplinado – Pluralismo Jurídico/Direito Alternativo. Note-se que fugir ou não querer enxergar esta realidade de dominação presente (também) na contemporaneidade (que, portanto, deve ser combatida e demonstrada) é fechar os olhos para a abertura do sistema constitucional (e assim, impedir a própria práxis jurídica) e contribuir para a não realização do seu projeto de 1988. Como entende CLÈVE, ao analisar a teoria do uso alternativo do direito, que ainda hoje há resquícios do positivismo, como a “imparcialidade do juiz, cientificidade da aplicação do direito, neutralidade da lei, etc”77, e como tal deve ser combatido. Concluindo este ponto, tem-se que a função dos diversos movimentos críticos do fenômeno jurídico (mas com pressupostos comuns), dar-se-á não só em relação à denúncia de que o Direito representava unicamente o aspecto da dominação 78 - “dominação, alienação, ideologia, castração etc” 79-, mas é que talvez o que parece ser ainda mais questionável a respeito desta estrutura normativa e política, é exatamente o valor ideológico produzido pelas teorias tradicionais, de forma que contraria qualquer concepção de legitimidade democrática impedindo a tomada de consciência – conforme contexto francês no século XVIII. O segundo ponto passa pela análise da possibilidade de aliar na atividade de reconstrução da dogmática jurídica constitucional (pós-positivismo), os ideais críticos jurídicos, pelo que se chegaria a uma maior eficácia e efetividade dos valores constitucionais. 76 SCHIER, Paulo Ricardo. Op. cit., p. 139. 77 CLÈVE, Clèmerson Merlin. Temas de Direito Constitucional (E de Teoria do Direito). São Paulo: Acadêmica, 199, p. 226. 78 SCHIER, Paulo Ricardo. Op. cit., p. 23. 79 Ibidem, p. 123. 20 Neste sentido verifica-se que, de certa forma, os objetivos da Teoria Crítica do Direito se aproximam aos propostos pelo movimento pós-positivista. Como por exemplo, quando WOLKMER diz que “a intenção da teoria crítica é definir um projeto que possibilite a mudança da sociedade em função do novo tipo de homem. Trata-se da emancipação do homem de sua condição de alienado, da sua reconciliação com a natureza não repressora e com o processo histórico por ela moldado” 80; ou quando LYRA FILHO pugna pela adoção de “um modelo sociológico dialético” 81, ou seja, que o Direito deve surgir da dialética social e do processo histórico, está de certa forma expressando objetivos também cunhados pelo pós- positivismo. Pois, os pós-positivistas entendem que o sistema, além de ser composto de elementos como a ordenação e unidade, deve ser também aberto, desta maneira sua estrutura deve ser dialética (assim como a teoria crítica jurídica – modelo sociológico dialético), forma que possibilitaria às normas constitucionais uma maior captação das mudanças ocorridas na realidade (portanto, processo histórico), bem como proporcionaria acompanhar a evolução dos conceitos da verdade e da justiça (também remete a idéia de processo histórico) 82 . Aliás, quando SCHIER menciona que a Constituição Federal de 1988 deve ser concebida especificamente “como uma Carta Jurídica vinculante, compromissória, democrática, dirigente e normativa, apontando para valores que expressam uma idéia de Justiça que, historicamente, deve-se buscar em nossa sociedade”83, é a mesma coisa que dizer que se deve ter como referência o homem concreto, historicamente considerado, razão, portanto, pela qual alia-se às prescrições da Teoria Jurídica Crítica. Outro objetivo (talvez mais persuasivo) que se faz crer que as duas teorias se assemelham é quando se considera que um dos objetivos propostos pela Teoria Crítica do Direito é de abrir espaços e possibilidades para o surgimento de estratégias que superem os reducionismos criados pelas teorias jurídicas modernas (estatalidade, 80 WOLKMER, Antonio Carlos. Op. cit., p.09. 81 LYRA FILHO, Roberto, Op. cit., p. 65. 82 SCHIER, Paulo Ricardo. Op. cit., p. 145. 83 Idem. 21 unicidade, positividade), e assim construir um Direito “novo” que pode ser, dentre outras possibilidades, a adoção do Direito Alternativo conjuntamente com o Pluralismo Jurídico 84 . Ora, os pós-positivistas também caminham neste mesmo sentido, quando afirmam que o resgate normativo do Direito só foi (ou será) possível, além de outros fatores, pela “emergência de uma produção teórica comprometida com a própria democracia e os valores da pessoa humana e a insurgência de movimentos que clamam por uma nova práxis jurídica (como o Movimento do Direito Alternativo)”.85 Ou também, de forma mais clara, quando BARROSO dispõe que um dos componentes da reelaboração desse novo movimento constitucional, é o reconhecimento de outras formas de saber, como o pluralismo político e jurídico. 86 Enfim,guardado as devidas proporções e diferenças que merecem as duas teorias, verifica-se que, de maneira geral, ambas objetivam estabelecer um Direito “novo” não repressivo e emancipatório, em que leve em consideração o sujeito histórico, sua vida em concreto com suas necessidades ou “os valores da pessoa humana”87, para tanto se fará presente obrigatoriamente a dialética, buscada no processo histórico-social; mas como bem observou LYRA FILHO, “isto não importa em identificar, simplesmente, Direito e processo histórico e, sim, procurar neste o aspecto peculiar da práxis jurídica, como algo que surge na vida social e fora dela não tem qualquer fundamento ou sentido”88. Acrescente-se que, assim, possibilitaria efetivamente a captação das mudanças ocorridas na realidade e, como se disse, a práxis jurídica, a qual resultaria da abertura do sistema e, conseqüentemente, a abertura de espaços para a manifestação de estratégias sociais emancipadoras, concretizadas, por exemplo, pelo movimento do Direito Alternativo e/ou pelo Pluralismo Jurídico. 84 MALISKA, Marcos Augusto. Pluralismo Comunitário Participativo. In: ______. Pluralismo Jurídico e Direito Moderno: notas para pensar a racionalidade jurídica na modernidade. Curitiba: Juruá, 2000, p. 63, 64, 65. 85 SCHIER, Paulo Ricardo. Op. cit., p. 140. 86 BARROSO, Luís Roberto. Interpretação..., p. 342. 87 SCHIER, Paulo Ricardo. Op. cit., p. 140. 88 LYRA FILHO, Roberto. Op. cit., p. 49; 50. 22 Nesse sentido, a proposta de aliar na atividade de reconstrução da dogmática jurídica constitucional (pós-positivismo) os ideais críticos jurídicos, deve ser encarado não apenas como uma possibilidade, e sim, como uma necessidade para a efetivação de um Direito “novo”, aqui invocado. Maneira tal que se pontua os principais objetivos ou fundamentos da Teoria Crítica do Direto que se entende importante nesta construção. Como bem interpreta LUDWIG dizendo que os princípios fundamentais da Teoria Crítica (e que, portanto, se entende como imprescindíveis na elaboração de um Direito “novo” ou, como estabelecem os pós-positivistas, a reconstrução da dogmática jurídica ou resgate da dignidade normativa) consistem: “1º A teoria é crítica quando contém uma orientação para a emancipação da sociedade. Nesse sentido, a teoria tem o importante papel de mostrar as possibilidades melhores do mundo; 2º A teoria crítica exige que se mantenha um comportamento crítico em relação ao que existe, para sempre identificar os novos obstáculos que impedem a sempre nova realização das potencialidades ainda não realizadas”.89 Esses princípios fundamentais elencados ganham relevo no momento em que se considerar que, além da teoria em questão desempenhar um importante papel no século passado, com suas denuncias certas, dentre outras, sobre a ordem jurídica ideológica, exige-se também, na contemporaneidade, o exercício de sua atividade como indispensável na busca pela construção de um Direito “novo”. O que se sustenta sobre dois argumentos: a) primeiro (o que é de ser considerado inquestionável), é que o “Direito não é; ele vem a ser”90, sempre está num processo de reconstrução, não fosse isso, estar-se- á negando que o Direito é produto da sociedade, pois, perceba que com as novas 89 LUDWIG, Celso Luiz. Op. cit., p. 193. 90 LYRA FILHO, Roberto. Op. cit., p. 82 – o autor coloca um exemplo para ilustrar, que vale ser transcrito: Como classe ascendente, quando estava na vanguarda, enriqueceu o patrimônio jurídico da humanidade. Quando chegou ao poder deu a “coisa” por finda, isto é, quis deter o processo para gozar os benefícios e se recusou a extrair as conseqüências de sua revolta contra a aristocracia e o feudalismo. Ficou, portanto, uma contradição entre a libertação parcial, que favoreceu os burgueses, e o prosseguimento da libertação, que daria vez aos trabalhadores. A burguesia saiu com o povo à rua, contra os aristocratas; mas, depois de tomar o lugar destes, achou gostoso e mandou prender o povo, a fim de curtir uma boa, que é o poder. Como o povo se recusava a parar e, cada vez que era enxotado, teimava em reaparecer, a burguesia baixou o pau (...) 23 tecnologias, a globalização, produziram novas relações que ainda não (ou mal) tuteladas pelo direito e, nem poderiam ser, em virtude da irrestrita dimensão social alcançada. Fato corroborado por BARROSO quando expressamente diz que “o direito constitucional, como o direito em geral, tem possibilidades e limites.”91 Como meio alternativo (e entende-se como democrático e legítimo) tem-se a experiência dos novos movimentos sociais, como por exemplo, o Direito Alternativo e o Pluralismo Jurídico. Este último, em linhas gerais, é um movimento dotado de força social paralelo ao poder estatal, que oferece a uma determinada comunidade social soluções para algumas de suas necessidades, como educação e rede de esgoto, realizadas pelos próprios moradores daquela. b) segundo porque a Teoria Crítica do Direito (não só a do Direito), busca efetivar todos os direitos do ser humano (não só os positivados) – um Direito “novo”-, não só através de denúncias (não como falam alguns pós-positivistas: vazia e descabida), mas também através da reflexão e da formulação de espaços emancipatórios, seja no interior da própria dogmática jurídica, seja paralela ao poder estatal. Perceba que também é como objetivam os pós-positivistas, é a busca pela justiça real que se encontra “no processo histórico de que é resultante, no sentido de que é nele que se realiza progressivamente.”92 Portanto, se reconhecido o singular papel desempenhado pela Teoria Crítica do Direito, em especial, a desmistificação do fenômeno jurídico tradicional (valor ideológico produzido pelas teorias tradicionais, de forma que contrariava qualquer concepção de legitimidade democrática impedindo a tomada de consciência) e, neste sentido, reconhecer que ainda hoje persiste resquícios dessas ideologias (dentre outras imprecisões), que impedem a inovação do direito e a própria aplicação da Constituição Federal de 1988 de forma plena e eficaz, se admitir também que ela é uma teoria e como tal não tem a pretensão de ser estanque e permanente, mas pelo contrário, ciente de seu caráter provisório e de seus limites. Bem como se reconhecer que esse pensamente jurídico crítico não tem o condão destrutivo e que pugna (e pugnou 91 BARROSO, Luís Roberto. Interpretação..., p. 343. 92 Ibidem, p. 86. 24 sempre) pelo resgate dos imprescindíveis preceitos constitucionais fundamentais, visando sempre a busca da legitimidade e a construção de um “espaço formulador de novos mecanismos implementadores de avanços e soluções para a presente historicidade”93, de tal forma que alia-se a idéia central dos pós-positivistas; é que não se vê então razão de não se querer unir essas duas forças em prol da construção efetiva de uma sociedade igualitária ou, de outra maneira, a realização do projeto constitucional. Vale ressaltar, como estabelecido na introdução dessa monografia, que o referencial aqui trabalhado é constituído, “por um lado, pela sociedade em que vivemos e, por outro, pelo direito positivo enquanto delimitado pela dogmática jurídica, pois desprezar essa realidade é recair no idealismo ingênuo e na utopia inconseqüente”.94 Assim, preocupa e visa-se sempre resguardar e garantir a aplicação da norma superior hierárquica (Constituição Federal), a qual é fruto de validade e eficácia das demais normas jurídicase o alicerce do Estado Democrático de Direito. CONCLUSÃO A Teoria Crítica do Direito (não obstante as diferentes linhas teóricas como a epistemológica, sociológica, semiológica e psicanalítica) além de realizar importantes denúncias quanto às imprecisões e ideologias preceituadas pelo movimento jusnaturalista e positivista, bem como por constatar que seria impossível ser aplicados no mundo contemporâneo, também se percebe que ela representa uma solução para a presente historicidade. Verifica-se que ela (teoria crítica) busca a introdução de um Direito “novo”, por meio (sempre) de uma reflexão crítica do fenômeno jurídico, pela adoção da interdisciplinaridade, pela demonstração que o Direito não é um fenômeno acabado e que muito menos está (e nunca poderá estar) integralmente contido na lei, também pela idéia de que a sociedade é quem deve moldar o direito – dialética e legitimidade, 93 WOLKMER, Antonio Carlos. Op. cit., p.88. 94 COELHO, Luiz Fernando. Op. cit., p. 573. 25 permitindo desse modo a formulação ou abertura de novos espaços de libertação e emancipação. E como demonstrado, percebe-se que de maneira semelhante é para onde convergem os objetivos do movimento pós-positivista. Assim na pretensão de ver unidos os objetivos de ambos os movimentos (logicamente ressalvados suas peculiaridades) Teoria Crítica do Direito e Pós- Positivismo, observe-se a possibilidade efetiva de captação das mudanças ocorridas na realidade e, como se disse, a práxis jurídica, a qual resultaria da abertura do sistema e, conseqüentemente, a abertura de espaços para a manifestação de estratégias sociais emancipadoras, concretizadas, por exemplo, pelo movimento do Direito Alternativo e/ou pelo Pluralismo Jurídico. Portanto, a proposta de aliar na atividade de reconstrução da dogmática jurídica constitucional, os ideais críticos jurídicos, deve ser encarada não apenas como uma possibilidade, e sim, como uma necessidade para a efetivação de um Direito “novo”, aqui invocado, bem como para a completa realização da teoria Crítica do Direito. 26 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ASSOUN, Paul-Laurente. A Escola de Frankfurt. Trad. Dra. Helena Cardoso. São Paulo: Ática, 1991. BARRETO, Vicente de Paulo. Dicionário de Filosofia do Direito. Rio de Janeiro: Renovar, 2006. BARROSO, Luís Roberto. Curso de Direito Constitucional Contemporâneo: os conceitos fundamentais e a construção do novo modelo. São Paulo: Saraiva, 2009. BARROSO, Luís Roberto. Interpretação e Aplicação da Constituição: fundamentos de uma dogmática constitucional transformadora. 6ª ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2004. BARZOTTO, Luis Fernando. O Positivismo Jurídico Contemporâneo: uma introdução a Kelsen, Ross e Hart. 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