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Capítulo XI – Plano de Existência Do Negócio Jurídico - Stolze e Pamplona

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Flávia Argôlo França
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Novo Curso de Direito Civil - Parte Geral
Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona
Capítulo XI – Plano de Existência Do Negócio Jurídico
A CONCEPÇÃO DO PLANO DE EXISTÊNCIA
“No plano da existência não se cogita de invalidade ou eficácia do fato jurídico, importa, apenas, a realidade da existência. Tudo, aqui, fica circunscrito a se saber se o suporte fáctico suficiente se compôs, dando ensejo à incidência”. E exemplifica: “o casamento realizado perante quem não tenha autoridade para casar, um delegado de polícia, por exemplo, não configura fato jurídico, e, simplesmente, não existe. Não há se discutir, assim, se é nulo ou ineficaz, nem se precisa de ser desconstituído judicialmente, como costumam fazer os franceses, porque a inexistência é o não ser que, portanto, não pode ser qualificado”
ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DO NEGÓCIO JURÍDICO
São elementos constitutivos os seguintes: manifestação de vontade, agente emissor da vontade, objeto e forma.
2.1. Manifestação de vontade
A manifestação ou declaração de vontade poderá ser expressa — através da palavra escrita ou falada, gestos ou sinais — ou tácita — aquela que resulta de um comportamento do agente.
Note-se que o emprego de meios que neutralizem a manifestação volitiva, como a violência física (vis absoluta), estupefacientes ou, até mesmo, a hipnose, tornam inexistente o negócio jurídico.
“Normalmente”, adverte CAIO MÁRIO, “o silêncio é nada, e significa a abstenção de pronunciamento da pessoa em face de uma solicitação do ambiente. Via de regra, o silêncio é a ausência de manifestação de vontade, e, como tal, não produz efeitos.”
No caso do mandato, por exemplo, o silêncio implicará aceitação, quando o negócio é daqueles que diz respeito à profissão do mandatário (art. 1.193 do CC-16), resultando do começo de execução (art. 659 do CC-02). Também na doação pura, o silêncio no prazo fixado significa aceitação (arts. 1.166 do CC-16 e 539 do CC-02).
“Art. 111. O silêncio importa anuência, quando as circunstâncias ou os usos o autorizarem, e não for necessária a declaração de vontade expressa”.
Em cada caso, deverá o juiz examinar as circunstâncias do silêncio.
“Art. 147. Nos negócios jurídicos bilaterais, o silêncio intencional de uma das partes a respeito de fato ou qualidade que a outra parte haja ignorado, constitui omissão dolosa, provando-se que sem ela o negócio não se teria celebrado”.
2.2. Agente emissor da vontade
Ora, sem o sujeito, não poderá falar-se em ato, mas, tão somente, em fato jurídico em sentido estrito. A participação do sujeito de direito (pessoa natural ou jurídica) é indispensável para a configuração existencial do negócio jurídico.
2.3. Objeto
Da mesma maneira, todo negócio jurídico pressupõe a existência de um objeto — utilidade física ou ideal —, em razão do qual giram os interesses das partes. Assim, se a intenção é celebrar um contrato de mútuo, a manifestação da vontade deverá recair sobre coisa fungível, sem a qual o negócio, simplesmente, não se concretizará. Da mesma forma, em um contrato de prestação de serviços, a atividade do devedor em benefício
do tomador (prestação) é o objeto da avença.
2.4. Forma
Nessa linha de raciocínio, tem-se, ainda, como elemento constitutivo, a forma, entendida como meio pelo qual a declaração se exterioriza, ou, em outras palavras, o tipo de manifestação através do qual a vontade chega ao mundo exterior (forma escrita, oral, silêncio, sinais9 etc.). Sem uma forma pela qual se manifeste a vontade, por óbvio, o negócio jurídico inexiste, uma vez que a simples intenção encerrada na mente do agente (cogitatio) não interessa para o direito.
Mas não há que se confundir a forma — elemento existencial do negócio, com a forma legalmente prescrita — pressuposto de validade do ato negocial.
2.5. Algumas palavras sobre a causa nos negócios jurídicos
Posto isso, interessa indagar se a causa é elemento constitutivo (Plano de Existência) ou pressuposto de validade (Plano de Validade) do negócio jurídico.
Analisando os termos do Novo Código Civil, percebe-se que, se por um lado o tratamento dispensado à causa ainda é tímido, por outro não se pode dizer que a nova lei codificada deixa de admiti-la. Sem dúvida, reconhece a causa como pressuposto de validade do negócio jurídico. Chega-se a tal conclusão analisando-se o seu art. 166, III, que transcrevemos, in verbis: “Art. 166. É nulo o negócio jurídico quando: (...) III — o motivo determinante, comum a ambas as partes, for ilícito” (grifamos).
Ora, considerando-se que as razões interiores (motivos de ordem psicológica) pouco interessam ao direito, senão à moral, é correto afirmar-se que a expressão “motivo determinante” diz respeito à causa, segundo a noção subjetivista de “motivação típica do ato”, consoante acima se mencionou.

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