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1 Uma Visão Geral das Células e da Pesquisa
Celular
2 A Química das Células
3 Fundamentos de Biologia Molecular
Parte I Introdução
01-celula-3ed-cap01.p65 9/7/2007, 13:341
A COMPREENSÃO DA BIOLOGIA MOLECULAR DAS CÉLULAS é uma área dinâ-mica de pesquisa que é fundamental para todas as ciências biológicas. Isto éverdade não somente do ponto de vista da pesquisa básica, mas também em
relação a um número crescente de aplicações práticas na medicina, agricultura e
biotecnologia. Especialmente com a conclusão da seqüência do genoma humano, o
progresso na biologia celular e molecular está abrindo novos horizontes na prática da
medicina. Exemplos notáveis incluem o desenvolvimento de novas drogas especifi-
camente direcionadas a interferir no crescimento de células cancerosas e no uso po-
tencial de células-tronco para substituir os tecidos danificados e tratar pacientes que
sofrem de doenças como diabetes, doença de Parkinson, doença de Alzheimer, lesões
na coluna vertebral e doenças cardíacas.
Em virtude de a biologia celular e molecular ser uma área de pesquisa de rápido
desenvolvimento, é relevante compreender sua base experimental, assim como o es-
tado atual do nosso conhecimento. Por essa razão, este capítulo abordará a maneira
como as células são estudadas e revisará algumas das suas propriedades básicas. A
apreciação das semelhanças e diferenças entre as células é de vital importância para a
compreensão da biologia celular. Portanto, a primeira parte deste capítulo discute
tanto a uniformidade quanto a diversidade das células atuais em termos da evolução
a partir de um ancestral comum. Por um lado, todas as células compartilham pro-
priedades fundamentais únicas que têm sido conservadas durante a evolução. Por
exemplo, todas as células utilizam o DNA como material genético, são circundadas
por membranas plasmáticas e usam os mesmos mecanismos básicos para o metabo-
lismo energético. Por outro lado, as células atuais desenvolveram uma grande varie-
dade de modos de vida. Muitos organismos, como bactérias, amebas e leveduras, são
constituídos de células isoladas que são capazes de se replicar independentemente.
Organismos mais complexos são compostos de uma coleção de células que funcio-
nam de uma maneira coordenada, com diferentes células especializadas para realizar
uma função determinada. O corpo humano, por exemplo, é composto por mais de
200 tipos de células diferentes, cada uma especializada para funções distintas, como
memória, visão, movimento e digestão. A diversidade exibida por esses vários dife-
rentes tipos de células é surpreendente; considere, por exemplo, as diferenças entre as
bactérias e as células do cérebro humano.
As semelhanças fundamentais entre diferentes tipos de células fornecem
um tópico único para a biologia celular, permitindo que os princípios básicos
A Origem e a Evolução das
Células 4
Células como Modelos
Experimentais 15
Ferramentas da Biologia
Celular 20
EXPERIMENTO-CHAVE: Cultura de
Células Animais 32
MEDICINA MOLECULAR: Vírus e
Câncer 35
Uma Visão Geral das Células
e da Pesquisa Celular
Capítulo 1
01-celula-3ed-cap01.p65 9/7/2007, 13:343
4 / GEOFFREY M. COOPER • ROBERT E. HAUSMAN
aprendidos a partir de experimentos com um tipo de célula sejam extrapolados e
generalizados para outros tipos de células. Vários tipos de células e organismos
são amplamente usados para estudar diferentes aspectos da biologia celular e
molecular. A segunda parte do capítulo discute algumas das propriedades dessas
células, que as fazem particularmente valiosas como modelos experimentais. Fi-
nalmente, é importante reconhecer que os progressos em biologia celular depen-
dem fortemente da disponibilidade de ferramentas experimentais que permitem
que os cientistas façam novas observações ou conduzam novos tipos de experi-
mentos. Este capítulo introdutório, portanto, é concluído com uma discussão de
alguns métodos experimentais usados para estudar as células, bem como com
uma revisão de alguns dos principais desenvolvimentos históricos que permiti-
ram a compreensão atual da estrutura e função celular.
A Origem e a Evolução das Células
As células são dividas em dois tipos principais, definidos pela presença ou não de
um núcleo. As células procarióticas (bactérias) não apresentam um envelope
nuclear; as células eucarióticas têm um núcleo, no qual o material genético está
separado do citoplasma. As células procarióticas geralmente são menores e mais
simples do que as células eucarióticas; além da ausência de núcleo, seus genomas
são menos complexos e elas não apresentam organelas citoplasmáticas ou um
citoesqueleto (Tabela 1.1). Apesar dessas diferenças, os mesmos mecanismos
moleculares básicos controlam a vida de ambas, procarióticas e eucarióticas, in-
dicando que todas as células atuais descendem de um ancestral primordial co-
mum. Como essa primeira célula se desenvolveu? Como evoluíram a complexi-
dade e a diversidade exibidas pelas células atuais?
A Primeira Célula
Provavelmente, a vida apareceu há pelo menos 3,8 bilhões de anos, aproximadamen-
te 750 milhões de anos após a Terra ter sido formada (Figura 1.1). Como a vida
originou-se e como a primeira célula surgiu são assuntos de especulação, uma vez
que esses eventos não podem ser reproduzidos em laboratório. Contudo, diversos
tipos de experimentos fornecem evidências importantes da direção de algumas eta-
pas do processo.
Foi por volta de 1920 que, pela primeira vez, sugeriu-se que moléculas orgâni-
cas simples, sob as condições que se imagina que existiam na atmosfera da Terra
primitiva, poderiam formar-se e espontaneamente polimerizar-se em macromolécu-
las. Supõe-se que, quando a vida se originou, a atmosfera da Terra tivesse pouco ou
nenhum oxigênio livre e, em vez disso, consistisse principalmente em CO2 e N2 e
quantidades menores de gases como H2, H2S e CO. Semelhante atmosfera fornece
condições redutoras nas quais moléculas orgânicas, dada uma fonte de energia como
TABELA 1.1 Células Procarióticas e Eucarióticas
Característica Procariotos Eucariotos
Núcleo Ausente Presente
Diâmetro de uma célula típica ≅ 1 µm 10-100 µm
Citoesqueleto Ausente Presente
Organelas citoplasmáticas Ausente Presente
Conteúdo de DNA (pares de bases) 1 × 106 a 5 × 106 1,5 × 107 a 5 × 109
Cromossomos Uma única molécula de Múltiplas moléculas de
DNA circular DNA linear
01-celula-3ed-cap01.p65 9/7/2007, 13:344
A CÉLULA / 5
a luz solar ou descargas elétricas, podem ser formadas espontaneamente. A formação
espontânea de moléculas orgânicas foi pela primeira vez demonstrada experimental-
mente na década de 1950, quando Stanley Miller (então um estudante de gradua-
ção) mostrou que a descarga de faíscas elétricas em uma mistura de H2, CH4 e NH3,
na presença de água, levava à formação de uma grande variedade de moléculas
orgânicas, inclusive de vários aminoácidos (Figura 1.2). Embora os experimen-
tos de Miller não tenham repetido precisamente as condições da Terra primitiva,
eles demonstraram claramente a possibilidade da síntese espontânea de molécu-
las orgânicas, fornecendo o material básico a partir do qual se originaram os
primeiros organismos vivos.
A próxima etapa na evolução foi a formação de macromoléculas. Tem sido
demonstrado que, sob as prováveis condições pré-bióticas, os blocos monoméricos
Bilhões de 
anos atrás
4
4,6
3
2
1
0
5
Presente
Organismos multicelulares 
Primeiros eucariotos
Primeiras células
Formação da Terra 
Fotossíntese
Metabolismo oxidativo
Figura 1.1 Escala de tempo da
evolução
A escala indica o tempo aproximado no
qual supõe-se que alguns dos principais
eventos na evolução das células tenham
ocorrido.
Resfria-
mento
Calor
Água
Moléculas 
orgânicas
Alanina
Ácido aspártico
Ácido glutâmico
Glicina
Uréia
Ácido lático
Ácido acético
Ácido fórmico
H2O
H2O
H2H2 CH4
CH4
NH3
NH3
Descarga 
elétrica
Eletrodo
Figura 1.2 Formação espontânea de moléculas orgânicas
O vapor de água circulou através de uma atmosfera composta de CH4, NH3 e H2, dentro da
qual faíscas elétricas foram liberadas. A análise dos produtos da reação revelou a formação de
uma variedade de moléculas orgânicas, incluindo os aminoácidos alanina, ácido aspártico, ácido
glutâmico e glicina.
01-celula-3ed-cap01.p65 9/7/2007, 13:345
6 / GEOFFREY M. COOPER • ROBERT E. HAUSMAN
formam, por polimerização espontânea, as macromoléculas. Por exemplo, o aqueci-
mento de misturas secas de aminoácidos resulta na polimerização para formar poli-
peptídeos. Contudo, a característica essencial da macromolécula a partir da qual a
vida evoluiu deve ter sido a capacidade de auto-replicação. Somente uma macromo-
lécula capaz de controlar a síntese de novas cópias de si própria poderia ser capaz de
reprodução e posterior evolução.
Dos dois tipos principais de macromoléculas informativas presentes atualmen-
te (ácidos nucléicos e proteínas), somente os ácidos nucléicos são capazes de contro-
lar sua auto-replicação. Os ácidos nucléicos podem servir de moldes para sua própria
síntese como resultado do pareamento específico de bases entre nucleotídeos com-
plementares (Figura 1.3). A etapa essencial no entendimento da evolução molecular
foi alcançada no início da década de 1980, quando foi descoberto nos laboratórios
de Sid Altman e Tom Cech que o RNA é capaz de catalisar várias reações químicas,
incluindo a polimerização de nucleotídeos. Estudos mais avançados ampliaram as
atividades catalíticas conhecidas do RNA, incluindo a descrição de moléculas de
RNA que controlam a síntese de uma nova fita de RNA a partir de um RNA-molde.
O RNA é, assim, tanto capaz de servir como molde quanto capaz de catalisar sua
própria replicação. Conseqüentemente, em geral é aceito que o RNA tenha sido o
sistema genético inicial, e supõe-se que a fase inicial da evolução química tenha sido
baseada nas moléculas de RNA auto-replicativas – um período da evolução conheci-
do como mundo de RNA. Então, interações ordenadas entre RNA e aminoácidos
evoluíram para o código genético atual, e o DNA finalmente substituiu o RNA
como material genético.
Presume-se que a primeira célula tenha originado-se da inclusão de RNAs auto-
replicativos em uma membrana composta de fosfolipídeos (Figura 1.4). Como dis-
cutido em detalhes no próximo capítulo, os fosfolipídeos são os componentes bási-
cos de todas as membranas biológicas atuais, incluindo as membranas plasmáticas de
células procarióticas e eucarióticas. A característica-chave dos fosfolipídeos que for-
mam as membranas é que eles são moléculas anfipáticas, significando que uma por-
ção da molécula é solúvel em água e a outra porção é insolúvel. Os fosfolipídeos têm
longas caudas de hidrocarbonetos insolúveis em água (hidrofóbica) ligadas a uma
cabeça com grupos fosfato solúvel em água (hidrofílica). Quando colocados na água,
os fosfolipídeos agregam-se espontaneamente em uma bicamada, com suas cabeças
com grupos fosfato na porção exterior em contato com a água e suas caudas de
hidrocarbonetos no interior em contato umas com as outras. Tais bicamadas de fos-
folipídeos formam uma barreira estável entre dois compartimentos aquosos – por
exemplo, separando o interior de uma célula do meio externo.
A inclusão do RNA auto-replicativo e de moléculas associadas em uma mem-
brana de fosfolipídeos poderia tê-los mantido, assim, como uma unidade, capaz de
auto-replicação e posterior evolução. A síntese de proteína controlada por RNA já
A
U
A
A
U
G
C
G
A
G
C
AU
A U
A
U
G C
GC
G C
A
U
G C
G
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C
AU
A U
A U
U A
G C
GC
G C
A U
G C
GC
G
U
G
A
Figura 1.3 Auto-replicação do RNA
O pareamento complementar entre nucleo-
tídeos (adenina [A] com uracil [U] e guani-
na [G] com citosina [C]) permite que uma
fita de RNA sirva como molde para a sínte-
se de uma nova fita com a seqüência com-
plementar.
01-celula-3ed-cap01.p65 9/7/2007, 13:346
A CÉLULA / 7
poderia ter sido desenvolvida neste tempo, no qual a primeira célula poderia ser
constituída de um RNA auto-replicativo e das proteínas por ele codificadas.
A Evolução do Metabolismo
Em razão de as células terem originado-se em um mar de moléculas orgânicas, elas
eram capazes de obter alimento e energia diretamente do ambiente. Todavia, essa
situação é autolimitante, e por isso as células precisaram desenvolver seus próprios
mecanismos para geração de energia e síntese de moléculas necessárias para sua repli-
cação. A geração e a utilização controlada da energia metabólica são essenciais para
todas as atividades celulares, e as principais vias do metabolismo energético (discuti-
do em detalhes no Capítulo 2) são bastante conservadas nas células atuais. Todas as
células usam adenosina 5´-trifosfato (ATP) como fonte de energia metabólica para
controlar a síntese dos constituintes celulares e realizar outras atividades que exigem
energia, como o movimento (por exemplo, contração muscular). Presume-se que o
mecanismo usado pelas células para geração de ATP evoluiu em três etapas, corres-
pondentes à evolução da glicólise, fotossíntese e metabolismo oxidativo (Figura 1.5).
O desenvolvimento dessas vias metabólicas mudou a atmosfera da Terra, dessa forma
alterando o futuro curso da evolução.
Presume-se que na atmosfera anaeróbica da Terra primitiva as primeiras reações
de geração de energia envolviam a quebra de moléculas orgânicas na ausência de
Glicólise
Glicose Ácido lático
C6H12O6 2 C3H6O3 Geração de 2 ATP 
Fotossíntese
Glicose
6 CO2 + 6 H2O
C6H12O6 + 6 O2
C6H12O6 + 6 O2
Metabolismo oxidativo
Glicose
6 CO2 + 6 H2O Geração de 36-38 ATP 
Figura 1.5 Geração do metabolismo
energético
A glicólise é a hidrólise anaeróbica da
glicose para ácido lático. A fotossíntese
utiliza a energia da luz solar para fazer a
síntese de glicose a partir de CO2 e H2O,
com a liberação de O2 como subproduto. O
O2 liberado pela fotossíntese é usado no
metabolismo oxidativo, no qual a glicose é
quebrada em CO2 e H2O, liberando muito
mais energia que a obtida pela glicólise.
RNA
Cauda
hidrofóbica
Cabeça com 
grupo hidrofílico
Molécula de 
fosfolipídeo
Água
Água
Membrana de fosfolipídeo
Figura 1.4 Inclusão do RNA auto-
replicativo em uma membrana de
fosfolipídeos
Supõe-se que a primeira célula tenha sido
criada pela inclusão de RNA auto-replicati-
vo e moléculas associadas em uma membra-
na composta de fosfolipídeos. Cada molécu-
la de fosfolipídeo tem duas longas caudas
hidrofóbicas ligadas a uma cabeça hidrofíli-
ca. As caudas hidrofóbicas estão inseridas na
bicamada lipídica; as cabeças hidrofílicas es-
tão expostas à água em ambos os lados da
membrana.
01-celula-3ed-cap01.p65 9/7/2007, 13:347
8 / GEOFFREY M. COOPER • ROBERT E. HAUSMAN
oxigênio. Essas reações eram provavelmente reações semelhantes à glicólise atual – a
quebra anaeróbica da glicose para ácido lático com o ganho energético líquido de
duas moléculas de ATP. Além do uso do ATP como fonte de energia química intra-
celular, todas as células atuais realizam glicólise, o que é compatível com a noção de
que essas reações surgiram muito cedo na evolução.
A glicólise forneceu o mecanismo pelo qual a energia de moléculas orgânicas
pré-formadas (por exemplo, glicose) poderia ser convertida em ATP, o qual podia
então ser usado como fonte de energia para direcionar outras reações metabólicas.
Presume-se que a seguinte etapa evolutiva importante tenha sido o desenvolvimento
da fotossíntese, que permitiuàs células captar energia da luz solar e forneceu a inde-
pendência da utilização de moléculas orgânicas pré-formadas. A primeira bactéria
fotossintética, que surgiu há mais de 3 bilhões de anos, provavelmente utilizava
H2S para converter CO2 em moléculas orgânicas – uma via de fotossíntese ainda
utilizada por algumas bactérias. O uso de H2O como doador de elétrons e hidro-
gênio para a conversão do CO2 em componentes orgânicos evoluiu mais tarde e
teve a importante conseqüência de mudar a atmosfera da Terra. O uso de H2O
nas reações de fotossíntese origina, como produto secundário, o O2 livre; presu-
me-se que esse mecanismo tenha sido o responsável por tornar o O2 abundante
na atmosfera da Terra.
A liberação do O2, como conseqüência da fotossíntese, mudou o ambiente no
qual as células estavam em desenvolvimento, e presume-se que tenha levado ao de-
senvolvimento do metabolismo oxidativo. Alternativamente, o metabolismo oxida-
tivo pode ter evoluído antes da fotossíntese, com o aumento do O2 atmosférico,
fornecendo, então, uma forte vantagem evolutiva para os organismos capazes de usar
O2 nas reações produtoras de energia. Em ambos os casos, o O2 é uma molécula
altamente reativa, e o metabolismo oxidativo, usando esta reatividade, forneceu um
mecanismo para geração de energia a partir de moléculas orgânicas que é muito mais
eficiente que a glicólise anaeróbica. Por exemplo, a hidrólise completa da glicose em
CO2 e H2O rende energia equivalente a 36-38 moléculas de ATP, em contraste com
as 2 moléculas de ATP formadas pela glicólise anaeróbica. Com poucas exceções, as
células atuais usam reações oxidativas como principal fonte de energia.
Procariotos Atuais
Os procariotos atuais, que incluem todos os diversos tipos de bactérias, são divididos
em dois grupos – as arqueobactérias e as eubactérias – que divergiram precocemente
na evolução. Algumas arqueobactérias vivem em ambientes extremos, que atualmen-
te são raros, mas que poderiam ter sido predominantes na Terra primitiva. Por exem-
plo, os termoacidófilos vivem em fontes térmicas sulfurosas com temperaturas tão
altas quanto 80oC e pH tão baixo quanto 2. As eubactérias incluem as formas co-
muns das bactérias atuais – um grande grupo de organismos que vive em uma ampla
variedade de ambientes, incluindo solo, água e outros organismos (por exemplo,
patógenos humanos).
Muitas células bacterianas são esféricas, em forma de bastonete ou espirais,
com diâmetros de 1 a 10 µm. O conteúdo de DNA varia entre 0,6 milhão e 5
milhões de pares de bases, uma quantidade suficiente para codificar aproximada-
mente 5.000 proteínas diferentes. As cianobactérias são os maiores e mais comple-
xos procariotos, bactérias que desenvolveram a fotossíntese.
A estrutura de uma célula procariótica típica é ilustrada pela Escherichia coli
(E. coli), uma bactéria comum, habitante do trato intestinal dos humanos (Figura
1.6). A célula é um bastonete, com aproximadamente 1 µm de diâmetro e 2 µm de
comprimento. Como a maioria dos outros procariotos, a E. coli é circundada por
uma parede celular rígida composta de polissacarídeos e peptídeos. Dentro da
parede celular está a membrana plasmática, que é uma bicamada de fosfolipíde-
os e proteínas associadas. Enquanto a parede celular é porosa e facilmente pene-
trada por uma variedade de moléculas, a membrana plasmática fornece a separa-
Figura 1.6 Micrografia eletrônica de
E. coli
A célula é circundada pela parede celular,
dentro da qual está a membrana plasmática.
O DNA está localizado no nucleóide.
(Menge and Wurtz/Biozentrum, University
of Basel/Science Photo Library/Photo Rese-
archers, Inc.)
Membrana
plasmática
Parede
celular
Nucleóide
0,5 µ m
01-celula-3ed-cap01.p65 9/7/2007, 13:348
A CÉLULA / 9
ção funcional entre o interior da célula e o ambiente externo. O DNA da E. coli é
uma molécula circular única no nucleóide, o qual, em contraste com o núcleo dos
eucariotos, não é circundado por uma membrana que o separa do citoplasma. O
citoplasma contém aproximadamente 30.000 ribossomos (o local da síntese protéi-
ca), que contribuem para sua aparência granular.
Células Eucarióticas
Como as células procarióticas, todas as células eucarióticas são circundadas pela mem-
brana plasmática e contêm ribossomos. Entretanto, as células eucarióticas são muito
mais complexas e apresentam um núcleo, organelas citoplasmáticas e um citoesque-
leto (Figura 1.7). A maior e mais proeminente organela das células eucarióticas é o
núcleo, com um diâmetro de aproximadamente 5 µm. O núcleo contém a informa-
ção genética da célula, que nos eucariotos é organizada como uma molécula de DNA
linear, em vez de circular. O núcleo é o local da replicação do DNA e da síntese do
RNA; a tradução do RNA em proteínas ocorre em ribossomos no citoplasma.
Além do núcleo, as células eucarióticas apresentam no citoplasma uma varieda-
de de organelas circundadas por membranas. Essas organelas formam compartimen-
tos nos quais se localizam as diferentes atividades metabólicas. Em geral, as células
eucarióticas são muito maiores que as células procarióticas, freqüentemente tendo
um volume celular de, no mínimo, mil vezes maior. A compartimentalização causa-
da pelas organelas citoplasmáticas é que permite o funcionamento eficiente das célu-
las eucarióticas. Duas dessas organelas, as mitocôndrias e os cloroplastos, exercem
papel fundamental no metabolismo energético. As mitocôndrias, que são encontra-
das em quase todas as células eucarióticas, são os locais do metabolismo oxidativo e
são responsáveis pela geração da maior parte do ATP derivado da quebra de molécu-
las orgânicas. Os cloroplastos são os locais da fotossíntese e são encontrados somente
nas células de plantas e algas verdes. Os lisossomos e os peroxissomos também for-
necem compartimentos metabólicos especializados para a digestão de macromolécu-
las e várias reações oxidativas, respectivamente. Além disso, a maioria das células
vegetais contém grandes vacúolos que executam uma variedade de funções, incluin-
do a digestão de macromoléculas e a estocagem de produtos de excreção e nutrientes.
Devido ao tamanho e à complexidade das células eucarióticas, o transporte de
proteínas para seus destinos corretos é uma tarefa extremamente complexa. Duas
organelas citoplasmáticas, o retículo endoplasmático e o complexo de Golgi, são
dedicadas especificamente para a organização e o transporte de proteínas destinadas
à secreção, à incorporação à membrana plasmática e à incorporação aos lisossomos.
O retículo endoplasmático é uma extensa rede de membranas intracelulares, esten-
dendo-se a partir da membrana nuclear por todo o citoplasma. Ele funciona não
somente no processamento e transporte de proteínas, mas também na síntese de
lipídeos. As proteínas são transportadas em pequenas vesículas a partir do retículo
endoplasmático para o complexo de Golgi, onde são processadas e organizadas para
o transporte ao destino final. Além do papel no transporte de proteínas, o complexo
de Golgi serve como local da síntese de lipídeos e (em células vegetais) como local de
síntese de alguns polissacarídeos que formam a parede celular.
As células eucarióticas têm outro nível de organização interna: o citoesqueleto,
uma rede de filamentos protéicos que se estende por todo o citoplasma. O citoesque-
leto fornece a estrutura da célula, determinando o formato celular e gerando a orga-
nização do citoplasma. Além disso, o citoesqueleto é responsável pelos movimentos
da célula inteira (por exemplo, a contração das células musculares), pelo transporte
intracelular e pelo posicionamento das organelas e outras estruturas, incluindo o
movimento dos cromossomos durante a divisão celular.
Os eucariotos surgiram há pelo menos 2,7 bilhões de anos, seguindo em 1 a 1,5
bilhão de anos a evolução dos procariotos. Estudos das seqüências de DNA indicam
que as arqueobactérias e eubactérias são tão diferentesentre si quanto são dos euca-
riotos atuais. Portanto, um evento muito precoce na evolução parece ter sido a diver-
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10 / GEOFFREY M. COOPER • ROBERT E. HAUSMAN
gência dos três grupos de descendentes a partir de um ancestral comum, originando
as atuais arqueobactérias, as eubactérias e os eucariotos. De forma interessante, mui-
tos genes de arqueobactérias são mais parecidos com os de eucariotos que com os de
eubactérias, indicando que as arqueobactérias e os eucariotos compartilham uma
linha evolutiva em comum e são mais proximamente relacionados um ao outro do
que qualquer um dos dois às eubactérias (Figura 1.8).
Uma etapa crítica na evolução das células eucarióticas foi a aquisição das organelas
subcelulares circundadas por membranas, permitindo o desenvolvimento das caracterís-
ticas complexas dessas células. Supõe-se que as organelas tenham sido adquiridas como o
resultado de uma associação de células procarióticas com eucariotos ancestrais.
A hipótese de que células eucarióticas evoluíram a partir de uma associação de sim-
biose com procariotos – endossimbiose – é bem sustentada pelos estudos de mitocôndri-
as e cloroplastos, os quais supõe-se terem evoluído a partir de bactérias que viviam em
células maiores. Ambos, mitocôndrias e cloroplastos, são similares às bactérias em tama-
nho, e como bactérias, reproduzem-se por divisão binária. E o mais importante, ambos,
mitocôndrias e cloroplastos, contêm seu próprio DNA, o qual codifica alguns dos seus
componentes. Os DNAs de mitocôndrias e cloroplastos são replicados cada vez que a
organela se divide, e os genes que eles codificam são transcritos dentro da organela e
traduzidos no ribossomo da organela. A mitocôndria e o cloroplasto contêm seus pró-
prios sistemas genéticos, que são diferentes do usado no genoma nuclear da célula. Além
disso, o ribossomo e o RNA ribossomal dessas organelas são mais proximamente relacio-
nados com os de bactérias do que com os codificados pelo genoma nuclear dos eucariotos.
Retículo 
endoplasmático
liso
Retículo 
endoplasmático
rugoso
Lisossomo
Célula animal
Mitocôndria
Núcleo
Nucléolo
Membrana plasmática
Complexo de Golgi
Centríolo
Citoesqueleto
Peroxissomo
Ribossomos
Figura 1.7 Estruturas das células
animais e vegetais
Tanto as células animais como as vegetais
são circundadas pela membrana plasmática
e contêm um núcleo, um citoesqueleto e
muitas organelas citoplasmáticas. As células
vegetais são também circundadas pela pare-
de celular e contêm cloroplastos e vacúolos
grandes.
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A CÉLULA / 11
Mitocôndrias
Cloroplastos
ArqueobactériasCianobactérias
Outras
eubactérias Plantas Animais Protistas
Fungos
(leveduras)
Figura 1.8 Evolução das células
As células atuais evoluíram de um ancestral procarioto co-
mum por três linhas de descendência, dando origem às ar-
queobactérias, às eubactérias e aos eucariotos. As mitocôn-
drias e os cloroplastos originaram-se da associação por en-
dossimbiose de bactérias aeróbicas e cianobactérias com o
ancestral dos eucariotos, respectivamente.
Célula vegetal
Retículo 
endoplasmático
liso
Ribossomo
Retículo 
endoplasmático
rugoso 
Núcleo
Nucléolo
Mitocôndria
Vacúolo
Citoesqueleto
Peroxissomo
Cloroplastos
Complexo de Golgi
Membrana plasmática
Parede celular
01-celula-3ed-cap01.p65 9/7/2007, 13:3411
12 / GEOFFREY M. COOPER • ROBERT E. HAUSMAN
A origem dessas organelas por endossimbiose é amplamente aceita, e supõe-se
que a mitocôndria tenha evoluído de bactérias aeróbicas e o cloroplasto, de bactérias
fotossintéticas, como as cianobactérias. A aquisição de bactérias aeróbicas poderia ter
fornecido a uma célula anaeróbica a capacidade de realizar reações de metabolismo
oxidativo. A aquisição de bactérias fotossintéticas poderia ter fornecido a indepen-
dência nutricional proporcionada pela habilidade de efetuar a fotossíntese. Dessa
maneira, essas associações por endossimbiose foram altamente vantajosas e foram
positivamente selecionadas pela evolução. Ao longo do tempo, a maioria dos genes
originalmente presentes nas bactérias foi, aparentemente, incorporada no genoma
nuclear da célula, e somente poucos componentes da mitocôndria e do cloroplasto
ainda são codificados pelos genomas das organelas.
O Desenvolvimento dos Organismos Multicelulares
Muitos eucariotos são organismos unicelulares que, como as bactérias, consistem em
somente uma única célula capaz de auto-replicação. Os eucariotos mais simples são as
leveduras. As leveduras são mais complexas que as bactérias, porém menores e mais sim-
ples que as células de animais e plantas. Por exemplo, a comumente estudada levedura
Saccharomyces cerevisiae tem aproximadamente 6 µm de diâmetro e seu DNA contém
12 milhões de pares de bases (Figura 1.9). Entretanto, outros eucariotos unicelulares são
células muito mais complexas, algumas contendo tanto DNA quanto as células humanas
(Tabela 1.2). Eles incluem organismos especializados para realizar uma grande variedade
de ações, incluindo a fotossíntese, o movimento e a captura e ingestão, como alimento, de
outros organismos. Por exemplo, a Amoeba proteus é uma célula grande e complexa. Seu
volume é de mais de 100.000 vezes o de uma E. coli e seu comprimento excede 1 mm,
quando a célula está totalmente estendida (Figura 1.10). As amebas são organismos com
alta mobilidade que usam extensões citoplasmáticas, chamadas de pseudópodos, para
mover e para englobar outros organismos, incluindo bactérias e leveduras, como alimen-
tos. Outros organismos eucariotos unicelulares (como algas verdes) contêm cloroplastos e
são capazes de realizar fotossíntese.
Os organismos multicelulares evoluíram a partir de eucariotos unicelulares há,
pelo menos, 1,7 bilhão de anos. Alguns eucariotos unicelulares formam agregados
multicelulares que parecem representar uma transição evolutiva entre células indivi-
duais e organismos multicelulares. Por exemplo, as células de muitas algas (como a
alga verde Volvox) associam-se umas com as outras para formarem colônias multice-
TABELA 1.2 Conteúdo de DNA
das Células
Organismo Conteúdo haplóide
de DNA
(milhões de pares de bases)
Bactérias
Mycoplasma 0,6
E. coli 4,6
Eucariotos unicelulares
Saccharomyces cerevisiae 12
(Levedura)
Dictyostelium discoideum 70
Euglena 3.000
Plantas
Arabidopsis thaliana 125
Zea mays (milho) 5.000
Animais
Caenorhabditis elegans 97
(nematóide)
Drosophila melanogaster 180
(mosca-da-fruta)
Galinha 1.200
“Zebrafish”* 1.700
Camundongo 3.000
Humano 3.000
* N. de R.T. Zebrafish é um peixe usado como
modelo experimental e recebe o nome comum
no Brasil de “paulistinha”. Ver página 19.
Figura 1.9 Micrografia eletrônica de varredura do Saccharomyces cerevisiae
Cor artificial foi adicionada à micrografia. (Andrew Syed/Science Photo Library/Photo Researchers, Inc.)
5 µm
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A CÉLULA / 13
Figura 1.10 Micrografia ótica de
Amoeba proteus
(M.I. Walker/Photo Researchers, Inc.)
0,2 mm
lulares (Figura 1.11), que se supõe terem sido os precursores evolutivos das plantas
atuais. O aumento da especialização celular direcionou a transição de agregados co-
loniais para verdadeiros organismos multicelulares. A contínua especialização celular
e a divisão de tarefas entre as células do organismo levaram à complexidade e diver-
sidade observadas entre os diferentes tipos de células que compõem as plantas e os
animais atuais, incluindo os seres humanos.
As plantas são compostas por uma menor variedade de tipos celulares que os
animais, mas cada tipo diferente de célula vegetal é especializado para realizar uma
função específica necessária para o organismo como um todo (Figura 1.12). As célu-
las das plantas são organizadasem três principais sistemas de tecidos: tecido de sus-
tentação, tecido dérmico e tecido vascular. O tecido de sustentação contém as células
do parênquima, que realizam a maioria das reações metabólicas das plantas, incluin-
do a fotossíntese. O tecido de sustentação também contém dois tipos de células
especializadas (célula do colênquima e célula do esclerênquima), que são caracteriza-
das pelas grossas paredes celulares e fornecem o suporte estrutural para a planta. O
tecido dérmico cobre a superfície da planta e é composto de células epidérmicas,
formando uma camada de proteção e permitindo a absorção de nutrientes. Final-
mente, diversos tipos de células alongadas formam o sistema vascular (o xilema e o
floema), que é responsável pelo transporte de água e nutrientes por toda a planta.
As células encontradas nos animais são consideravelmente mais diversificadas
que as das plantas. O corpo humano, por exemplo, é composto por mais de 200
tipos diferentes de células que geralmente são consideradas os componentes de cinco
tipos principais de tecidos: tecido epitelial, tecido conectivo, sangue, tecido nervoso
Figura 1.11 Colônia de alga verde
Células individuais de Volvox formam colô-
nias, nas quais centenas ou milhares de cé-
lulas estão incorporadas em uma matriz ge-
latinosa. (Cabisco/Visuals Unlimited.)
Figura 1.12 Micrografias óticas de
células representativas de plantas
(A) Células do parênquima, que são respon-
sáveis pela fotossíntese e por outras reações
metabólicas. (B) Células do colênquima,
que são responsáveis pela sustentação e
apresentam paredes celulares espessas. (C)
Células da epiderme na superfície de uma
folha. Poros pequenos (estômatos) são flan-
queados por células especializadas chamadas
de células-vigia. (D) Elementos dos vasos e
traqueídeos são células alongadas que são
organizadas uma de ponta para a outra para
formar os vasos do xilema. (A, Jack M.
Bastsack/Visuals Unlimited; B, A. J. Karpo-
ff/Visuals Unlimited; C, Alfred Owczarzak/
Biological Photo Service; D, Biophoto Associ-
ates/Science Source/Photo Researchers Inc.)
(B)(A)
50 mm
(D)(C)
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14 / GEOFFREY M. COOPER • ROBERT E. HAUSMAN
e músculo (Figura 1.13). As células epiteliais formam camadas que cobrem a super-
fície do corpo e recobrem os órgãos internos. Há muitos tipos diferentes de células
epiteliais, cada um especializado para uma função específica, incluindo proteção (a
pele), absorção (por exemplo, as células da mucosa do intestino delgado) e secreção
(por exemplo, as células da glândula salivar). O tecido conectivo inclui ossos, cartila-
gens e tecido adiposo, cada um formado por diferentes tipos de células (respectiva-
mente, osteoblastos, condrócitos e adipócitos). O tecido conectivo frouxo, que intercala
Figura 1.13 Micrografias óticas de
células animais representativas
(A) Células do epitélio da boca (uma grossa
camada multicelular), do ducto biliar e do
intestino. (B) Fibroblastos são células do te-
cido conectivo, caracterizados por sua for-
ma alongada. (C) Eritrócitos, granulócitos,
linfócitos e monócitos no sangue humano.
([A]i e [A]ii, G. W. Willis/Biological Photo
Service; [A]iii, Biophoto Associates/Photo
Researchers, Inc.; B, Don W. Fawcett/Visu-
als Unlimited; C. G. W. Willis/Biological
Photo Service.)
(A)i Boca
Eritrócito
(B)
(A)ii Ducto biliar (A)iii Intestino
(C)
Granulócito
Linfócito Monócito
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A CÉLULA / 15
as camadas epiteliais e preenche os espaços entre órgãos e tecidos do corpo, é forma-
do por outro tipo de célula, o fibroblasto. O sangue contém vários tipos diferentes
de células, que funcionam no transporte do oxigênio (células vermelhas ou eritróci-
tos), nas reações inflamatórias (granulócitos, monócitos e macrófagos) e na resposta
imunológica (linfócitos). O tecido nervoso é composto pelas células nervosas, ou neu-
rônios, que são altamente especializadas para transmitir sinais através do corpo. Vários
tipos de células sensoriais, como as células dos olhos e dos ouvidos, são mais especializa-
dos para receberem sinais externos do ambiente. Finalmente, vários diferentes tipos de
células musculares são responsáveis pela produção da força e do movimento.
Claramente, a evolução dos animais envolveu o desenvolvimento de uma con-
siderável diversidade e especialização no nível celular. A compreensão dos mecanis-
mos de controle do crescimento e de diferenciação em tal grupo complexo de células
especializadas, originadas a partir de um único ovo fertilizado, é um dos principais
desafios que se apresentam à biologia celular e molecular contemporânea.
Células como Modelos Experimentais
A evolução das células atuais a partir de um ancestral comum tem importantes im-
plicações para a biologia celular e molecular como uma ciência experimental. Já que
as propriedades fundamentais de todas as células foram conservadas durante a evolu-
ção, os princípios básicos aprendidos com experimentos feitos com um tipo de célula
são geralmente aplicáveis para outras células. Por outro lado, em razão da diversidade
das células atuais, muitos tipos de experimentos podem ser mais facilmente realiza-
dos em um tipo de célula do que em outro. Vários tipos diferentes de células e
organismos são comumente usados como modelos experimentais para estudar diver-
sos aspectos da biologia celular e molecular. As características de algumas dessas célu-
las que as tornam de particular utilidade como modelos experimentais são discutidas
nas seções seguintes.
E. coli
Em virtude da sua simplicidade relativa, células procarióticas (bactérias) são modelos
ideais para o estudo de diversos aspectos fundamentais da bioquímica e da biologia
molecular. A espécie de bactéria mais amplamente estudada é a E. coli, que tem sido,
há muito tempo, o organismo favorito para pesquisa dos mecanismos básicos da
genética molecular. A maioria dos nossos conceitos atuais de biologia molecular –
incluindo nossa compreensão da replicação do DNA, do código genético, da expres-
são gênica e da síntese protéica – deriva dos estudos com essa modesta bactéria.
A E. coli tem sido especialmente útil para os biólogos moleculares, tanto por
sua relativa simplicidade, como pela facilidade com que pode ser reproduzida e estu-
dada em laboratório. O genoma da E. coli, por exemplo, consiste em aproximada-
mente 4,6 milhões de pares de bases e contém cerca de 4.000 genes. O genoma
humano é quase mil vezes maior (aproximadamente 3 bilhões de pares de bases) e
pensa-se que contenha 30-40.000 genes (ver Tabela 1.2). O pequeno tamanho do
genoma da E. coli (que foi completamente seqüenciado em 1997) fornece óbvia
vantagem para a análise genética.
Experimentos de genética molecular são facilitados pela rápida multiplicação
da E. coli em condições laboratoriais bem definidas. Em condições ótimas de cultu-
ra, a cada 20 minutos a E. coli divide-se. Além disso, uma população clonal de E. coli,
na qual todas as células derivam da multiplicação de uma única célula, pode ser
facilmente isolada como uma colônia crescendo em meio semi-sólido contendo ágar
(Figura 1.14). Uma vez que colônias de bactérias contendo 108 células podem ser
cultivadas em apenas uma noite, a seleção de variantes genéticas de uma cepa de E.
coli – por exemplo, mutantes que são resistentes a um antibiótico como a penicilina – é
fácil e rápida. A facilidade com que esses mutantes podem ser selecionados e analisa-
dos foi essencial para o sucesso dos experimentos que definiram os princípios básicos
da genética molecular, discutidos no Capítulo 3.
Figura 1.14 Colônias de bactérias
Fotografia de colônias de E. coli crescendo
na superfície de um meio contendo ágar.
(A. M. Siegelman/Visuals Unlimited.)
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16 / GEOFFREY M. COOPER • ROBERT E. HAUSMAN
A mistura de nutrientes naqual a E. coli divide-se mais rapidamente inclui
glicose, sais e vários compostos orgânicos, como aminoácidos, vitaminas e precurso-
res de ácidos nucléicos. Entretanto, a E. coli também pode crescer em um meio
muito mais simples, contendo somente sais, uma fonte de nitrogênio (como a amô-
nia) e uma fonte de carbono e energia (como a glicose). Nesse meio, a bactéria cresce
um pouco mais lentamente (com o tempo de divisão de aproximadamente 40 minu-
tos), pois ela deve sintetizar todos os seus aminoácidos, nucleotídeos e outros com-
postos orgânicos. A habilidade da E. coli de realizar estas reações de biossíntese em
um meio definido simples tornou-a extremamente útil para a elucidação das vias
bioquímicas envolvidas nestes processos. Assim, o rápido crescimento e as exigências
nutritivas simples da E. coli têm facilitado muito os experimentos fundamentais em
biologia molecular e bioquímica.
Leveduras
Embora as bactérias sejam um inestimável modelo para o estudo de muitas proprie-
dades conservadas das células, elas, obviamente, não podem ser utilizadas para estu-
dar aspectos da estrutura celular e funções que sejam exclusivas dos eucariotos. As
leveduras, os eucariotos mais simples, apresentam diversas vantagens experimentais
semelhantes às da E. coli. Conseqüentemente, as leveduras têm sido um modelo essencial
para estudos de muitos aspectos fundamentais da biologia celular de eucariotos.
O genoma da levedura mais freqüentemente estudada, Saccharomyces cere-
visiae, consiste em 12 milhões de pares de bases de DNA e contém aproximada-
mente 6.000 genes. Apesar do genoma da levedura ser cerca de três vezes maior
do que o da E. coli, ele é muito mais manejável do que o genoma dos eucariotos
mais complexos, como o dos humanos. Mesmo com sua simplicidade, a célula
da levedura apresenta as características típicas das células eucarióticas (Figura
1.15): ela contém o núcleo isolado pela membrana nuclear, seu DNA genômico
é organizado em 16 cromossomos lineares e seu citoplasma contém um citoes-
queleto e organelas subcelulares.
As leveduras podem ser facilmente cultivadas em laboratório e podem ser estu-
dadas por muitas das técnicas de genética molecular que são utilizadas com a E. coli.
Apesar das leveduras não se replicarem tão rapidamente quanto as bactérias, elas
dividem-se freqüentemente, a cada 2 horas, e podem ser facilmente cultivadas em
colônias a partir de células isoladas. Conseqüentemente, as leveduras podem ser uti-
lizadas para uma variedade de manipulações genéticas semelhantes àquelas que po-
dem ser feitas com bactérias.
Essas características têm feito da célula de levedura a célula eucarionte mais
abordável pelo ponto de vista da biologia molecular. Leveduras mutantes têm sido
importantes para o entendimento de muitos processos fundamentais em eucariotos,
incluindo a replicação do DNA, a transcrição, o processamento do RNA, a organiza-
ção protéica e a regulação da divisão celular, que serão discutidos nos capítulos se-
guintes. A unidade da biologia celular e molecular tem ficado mais clara pelo fato de
que os princípios gerais da estrutura e função celular, que têm sido revelados pelos
estudos das leveduras, aplicam-se a todas as células eucarióticas.
Dictyostelium discoideum
O Dictyostelium discoideum é um fungo aquático que, como as leveduras, é um
eucarionte unicelular relativamente simples. O genoma do Dictyostelium é aproxi-
madamente dez vezes maior que o da E. coli – mais complexo que o genoma das
leveduras, porém consideravelmente mais simples que o genoma dos eucariotos su-
periores. Além disso, o Dictyostelium pode ser facilmente cultivado em laboratório e
é suscetível a uma variedade de manipulações genéticas.
Sob condições de alimentação farta, o Dictyostelium vive como uma ameba
unicelular, alimentando-se de bactérias e leveduras. Ele é uma célula com grande
mobilidade, e essa propriedade tem feito do Dictyostelium um importante modelo
Figura 1.15 Micrografia eletrônica de
Saccharomyces cerevisiae
(David Scharf/Peter Arnold, Inc.)
2 µ m
01-celula-3ed-cap01.p65 9/7/2007, 13:3416
A CÉLULA / 17
para estudos dos mecanismos moleculares responsáveis pelo movimento das células
animais (Figura 1.16). Por exemplo, a introdução no Dictyostelium de mutações es-
pecíficas tem revelado o papel de vários genes envolvidos na mobilidade celular.
Uma característica interessante adicional do Dictyostelium é a habilidade de
células isoladas agregarem-se em estruturas multicelulares. Se um suplemento ade-
quado de alimento não é fornecido, as células associam-se para formar uma estrutura
vermiforme chamada de lesma, cada uma contendo até 100.000 células que funcio-
nam como um indivíduo. Por esse motivo o Dictyostelium parece estar no limite
entre organismos unicelulares e multicelulares, e fornece um importante modelo
para estudos de sinalização celular e interação célula-célula.
Caenorhabditis elegans
Os eucariotos unicelulares Saccharomyces e Dictyostelium são importantes modelos
para estudos de células eucarióticas, mas a compreensão do desenvolvimento de or-
ganismos multicelulares requer a análise experimental de plantas e animais, organis-
mos que são muito mais complexos. O nematóide Caenorhabditis elegans (Figura
1.17) possui várias características importantes que o transformam em um dos mode-
los mais usados para estudos de desenvolvimento e diferenciação celular dos animais.
Embora o genoma do C. elegans (aproximadamente 100 milhões de pares de
bases) seja maior que o dos eucariotos unicelulares, ele é mais simples e mais mani-
pulável que o genoma da maioria dos animais. A seqüência completa já foi determi-
nada, revelando que o genoma do C. elegans contém aproximadamente 19.000 genes
– quase três vezes o número de genes das leveduras, e a metade do número de genes
dos humanos. Biologicamente, o C. elegans é um organismo multicelular relativa-
mente simples: os vermes adultos são compostos de somente 959 células somáticas e
1.000 a 2.000 células germinativas. Além disso, o C. elegans pode ser facilmente
cultivado e submetido a manipulações genéticas em laboratório.
A simplicidade do C. elegans tem permitido que o curso do seu desenvolvimen-
to seja observado em detalhes por observação microscópica. Essas análises definiram
a origem embrionária e a linhagem de todas as células de um verme adulto. Estudos
genéticos também têm identificado várias das mutações responsáveis por anormali-
dades do desenvolvimento, permitindo o isolamento e a caracterização de genes es-
senciais que controlam o desenvolvimento e a diferenciação do nematóide. De gran-
de importância, genes similares também têm sido encontrados em animais comple-
xos (incluindo humanos), fazendo do C. elegans um importante modelo para estudos
do desenvolvimento animal.
Drosophila melanogaster
Como o C. elegans, a mosca-da-fruta Drosophila melanogaster (Figura 1.18) tem sido um
organismo-modelo essencial em biologia do desenvolvimento. O genoma da Drosophila
é de tamanho similar ao do C. elegans, embora o genoma da Drosophila contenha apenas
Intestino
OvosFaringe Reto Ânus
Ovário
Vulva
1 mm
Figura 1.16 Dictyostelium discoideum
Estas fotografias mostram o movimento de
duas amebas durante o tempo de 40 segun-
dos. (Cortesia de David Knecht, University
of Connecticut.)
Figura 1.17 Caenorhabditis elegans
(De J. E. Sulston e H. R. Horvitz, 1977.
Dev. Biol. 56:110.)
10 µm
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18 / GEOFFREY M. COOPER • ROBERT E. HAUSMAN
cerca de 14.000 genes. Além disso, a Drosophila pode ser facilmente mantida e reprodu-
zida em laboratório, e o seu curto ciclo reprodutivo (aproximadamente 2 semanas) a
transformou em um organismo extremamente útil para experimentos genéticos. Muitos
conceitos fundamentais da genética – como a relação entre genes e cromossomos – foram
derivados de estudos com Drosophila no iníciodo século XX (ver Capítulo 3).
Extensas análises genéticas da Drosophila têm revelado muitos genes que con-
trolam o desenvolvimento e a diferenciação, e os atuais métodos de biologia molecu-
lar têm permitido que as funções desses genes sejam analisadas em detalhes. Conse-
qüentemente, os estudos em Drosophila têm levado a surpreendentes avanços na
compreensão dos mecanismos moleculares que controlam o desenvolvimento ani-
mal, particularmente com respeito à formação do plano do corpo de organismos
multicelulares complexos. Como com o C. elegans, existem genes e mecanismos si-
milares em vertebrados, validando o uso da Drosophila como um importante modelo
experimental na biologia do desenvolvimento contemporânea.
Arabidopsis thaliana
O estudo da biologia molecular e do desenvolvimento em plantas é uma área ativa e
em expansão de considerável importância econômica, bem como de interesse inte-
lectual. Uma vez que os genomas de plantas apresentam uma complexidade compa-
rável com a dos genomas dos animais (ver Tabela 1.2), um modelo ideal para estudos
com plantas deveria ser um organismo relativamente simples com algumas das carac-
terísticas vantajosas do C. elegans e da Drosophila. A pequena planta com flor Arabi-
dopsis thaliana (Figura 1.19) atende a esse critério, sendo amplamente usada como
um modelo para o estudo da biologia molecular das plantas.
A Arabidopsis é notável pelo seu genoma de somente cerca de 120 milhões de
pares de bases, que contém aproximadamente 15.000 genes diferentes – uma com-
plexidade semelhante à do C. elegans e da Drosophila. Além disso, a Arabidopsis é
relativamente fácil de ser cultivada em laboratório, e métodos para manipulações
genéticas moleculares dessa planta já foram desenvolvidos. Esses estudos têm permi-
tido a identificação dos genes envolvidos em vários aspectos do desenvolvimento em
plantas, como o desenvolvimento das flores. A análise desses genes aponta para mui-
tas similaridades, mas também diferenças notáveis, entre os mecanismos que contro-
lam o desenvolvimento das plantas e dos animais.
Vertebrados
Os animais mais complexos são os vertebrados, incluindo o homem e outros mamíferos.
O genoma humano tem aproximadamente 3 bilhões de pares de bases – cerca de 30 vezes
maior que o genoma do C. elegans, da Drosophila e da Arabidopsis – e contém 30-40.000
genes. Além disso, o corpo humano é composto de mais de 200 diferentes tipos de células
especializadas. Essa complexidade torna difícil estudar os vertebrados pela perspectiva da
biologia celular e molecular, mas muito do interesse das ciências biológicas origina-se do
desejo da compreensão do organismo humano. Além disso, o entendimento de muitas
questões de importância prática imediata (por exemplo, na medicina) deve ser baseado
diretamente em estudos sobre tipos celulares humanos (ou proximamente relacionados).
Um importante meio de estudar células humanas e de outros mamíferos é cultivar
células isoladas, de forma que possam ser manipuladas em condições laboratoriais contro-
ladas. O uso de cultura celular tem permitido o estudo de muitos aspectos da biologia
celular de mamíferos, incluindo experimentos que têm elucidado os mecanismos da re-
plicação do DNA, da expressão gênica, da síntese e do processamento protéico e da
divisão celular. Além disso, a habilidade de cultivar células em meios quimicamente defi-
nidos tem permitido o estudo dos mecanismos de sinalização que controlam o cresci-
mento e a diferenciação normal dentro do organismo inteiro.
As propriedades especializadas de algumas células altamente diferenciadas têm
feito delas modelos importantes para estudos de aspectos específicos da biologia ce-
lular. Células musculares, por exemplo, são altamente especializadas para suportar
Figura 1.18 Drosophila melanogaster
(Darwin Dale/Photo Researchers, Inc.)
Figura 1.19 Arabidopsis thaliana
(Jeremy Burgess/Photo Researchers, Inc.)
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A CÉLULA / 19
contração, produzindo força e movimento. Em virtude dessa especialização, as célu-
las musculares são um modelo essencial para o estudo de movimento celular no nível
molecular. Outro exemplo é fornecido pelas células nervosas (neurônios), que são
especializadas para conduzir sinais eletroquímicos a grandes distâncias. Em huma-
nos, os axônios das células nervosas podem ter mais de um metro de comprimento,
e alguns invertebrados, como a lula, têm neurônios gigantes com axônios com mais
de 1 mm de diâmetro em largura. Em razão de suas estruturas e funções altamente
especializadas, esses neurônios gigantes têm sido um modelo importante para estu-
dos sobre o transporte de íons através da membrana plasmática e sobre o papel do
citoesqueleto no transporte das organelas citoplasmáticas.
O sapo Xenopus laevis é um modelo importante para estudos do desenvolvi-
mento inicial dos vertebrados. Os ovos do Xenopus são células extraordinariamente
grandes, com o diâmetro de aproximadamente 1 mm (Figura 1.20). Já que os ovos se
desenvolvem fora do corpo materno, todos os estágios do desenvolvimento a partir do
ovo até o girino podem ser facilmente estudados no laboratório. Além disso, os ovos de
Xenopus podem ser obtidos em grande número, facilitando as análises bio-
químicas. Por causa dessas vantagens técnicas, o Xenopus tem sido ampla-
mente utilizado em estudos da biologia do desenvolvimento e tem propor-
cionado descobertas importantes dos mecanismos moleculares que contro-
lam o desenvolvimento, a diferenciação e a divisão celular em embriões.
O “zebrafish” (paulistinha) (Figura 1.21) possui numerosas vanta-
gens para estudos genéticos do desenvolvimento de vertebrados. Esse
pequeno peixe é facilmente mantido em laboratório e reproduz-se rapi-
damente. Além disso, o embrião desenvolve-se fora da mãe e é transpa-
rente, fazendo com que os estágios iniciais do desenvolvimento possam
ser observados facilmente. Métodos poderosos têm sido desenvolvidos
para facilitar o isolamento de mutações que afetem o desenvolvimento
do “zebrafish”, e vários milhares dessas mutações têm sido identificados.
Por ser um vertebrado de fácil estudo, o “zebrafish” é um promissor pon-
to de conexão para a análise das diferenças entre os humanos e os siste-
mas invertebrados mais simples, como o C. elegans e a Drosophila.
Dentre os mamíferos, o camundongo é o mais adequado para análises
genéticas, que serão facilitadas pela conclusão recente da seqüência genômi-
ca deste organismo. Apesar das dificuldades técnicas em estudar a genética do camundon-
go (comparada, por exemplo, com a genética da levedura ou Drosophila) serem grandes,
muitas mutações que afetam o desenvolvimento do camundongo têm sido identifi-
Figura 1.20 Ovos do sapo Xenopus
laevis
(Cortesia de Michael Danilchik e Kimberly
Ray.)
1 mm
(A)
(B)
Figura 1.21 “Zebrafish”
(A) Um embrião com 24 horas. (B) Um
peixe adulto. (A, cortesia de Charles Kim-
mel, University of Oregon; B, cortesia de S.
Kondo.)
01-celula-3ed-cap01.p65 9/7/2007, 13:3419
20 / GEOFFREY M. COOPER • ROBERT E. HAUSMAN
cadas. Mais importante, avanços recentes na biologia molecular têm permitido a
produção de camundongos transgênicos, nos quais genes mutantes específicos são
introduzidos nas linhagens germinativas do camundongo, fazendo com que seus
efeitos no desenvolvimento ou em outros aspectos da função celular possam ser estu-
dados no contexto do animal completo. A adequação do camundongo como modelo
para o estudo do desenvolvimento humano é indicada não apenas pelas similarida-
des dos genomas humanos e de camundongo, mas também pelo fato de que mutações
em genes homólogos resultam em defeitos semelhantes no desenvolvimento de ambas as
espécies (Figura 1.22); um defeito de pigmentação fornece excelente exemplo.
Ferramentas da Biologia Celular
Como em todas as ciências experimentais, a pesquisa em biologia celular depende de
técnicas laboratoriaisque possam ser usadas para estudar a estrutura e a função celular.
Avanços muito importantes na compreensão das células têm sucedido diretamente o
desenvolvimento de novas técnicas, que permitiram novos meios de investigação. O exa-
me das metodologias experimentais disponíveis para a biologia celular é essencial para a
compreensão tanto da situação atual como do direcionamento futuro dessa área de avan-
ço rápido da ciência. Algumas das importantes técnicas de uso comum da biologia celular
são descritas nas seções seguintes. Outros métodos experimentais, incluindo os métodos
bioquímicos e de biologia molecular, serão discutidos em capítulos posteriores.
Microscopia Ótica
Já que a maioria das células é muito pequena para ser vista a olho nu, o estudo das células
depende fortemente do uso de microscópios. Na realidade, a descoberta das células resul-
tou do desenvolvimento do microscópio: Robert Hooke inventou o termo “célula” após
suas observações de um pedaço de cortiça com um microscópio ótico simples, em 1665
(Figura 1.23). Usando um microscópio que aumentava os objetos cerca de 300 vezes seu
tamanho real, Antony van Leeuwenhoek, por volta de 1670, foi capaz de observar uma
grande variedade de tipos celulares diferentes, incluindo espermatozóides, glóbulos ver-
melhos e bactérias. A proposta da teoria celular por Matthias Schleiden e Theodor Schwann,
em 1838, pode ser vista como o nascimento da biologia celular contemporânea. Estudos
microscópicos de tecidos de plantas por Schleiden e de tecidos animais por Schwann
Figura 1.22 O camundongo como
modelo para o desenvolvimento do
homem
Uma criança e um camundongo apresen-
tam defeitos de pigmentação semelhantes
como resultado de mutações no gene neces-
sário para a migração normal dos melanóci-
tos (as células responsáveis pela pigmenta-
ção da pele) durante o desenvolvimento do
embrião. (Cortesia de R. A. Fleischman, Ma-
rkey Cancer Center, University of Kentucky.)
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A CÉLULA / 21
levaram às mesmas conclusões: todos os organismos são compostos por células. Pouco
tempo após, foi reconhecido que as células não são formadas de novo, mas originam-se
somente por divisão de células preexistentes. Conseqüentemente, em razão das observa-
ções feitas com o microscópio ótico, a célula foi reconhecida como a unidade fundamen-
tal de todos os organismos vivos.
O microscópio ótico permanece como um instrumento básico dos biólogos celula-
res, com aperfeiçoamentos técnicos permitindo a crescente visualização de detalhes da
estrutura celular. Os microscópios óticos atuais são capazes de ampliar objetos até mil
vezes. Já que a maioria das células tem entre 1 e 100 µm de diâmetro, elas podem ser
observadas por microscopia ótica, como também o podem algumas das organelas subce-
lulares maiores, como núcleo, cloroplastos e mitocôndrias. Entretanto, o microscópio
ótico não é suficientemente poderoso para revelar detalhes finos da estrutura celular, já
que a resolução – a habilidade de um microscópio de distinguir objetos separados por
distâncias pequenas – é mais importante do que a ampliação. Imagens podem ser amplia-
das tanto quanto desejado (por exemplo, por projeção em uma tela grande), mas a ampli-
ação não aumenta o nível dos detalhes que podem ser observados.
O limite da resolução do microscópio ótico é de aproximadamente 0,2 µm;
dois objetos separados por uma distância menor que essa aparecem como uma única
imagem, em vez de serem distinguidos um do outro. Esse limite teórico da microsco-
pia ótica é determinado por dois fatores – o comprimento de onda (λ) da luz visível
e a convergência ótica das lentes microscópicas (abertura numérica, NA) – de acordo
com a seguinte equação:
Resolução = 0,61λ
 NA
O comprimento de onda da luz visível é de 0,4 a 0,7 µm, de modo que o valor de λ
é fixado em aproximadamente 0,5 µm para o microscópio ótico. A abertura numéri-
ca pode ser considerada como o tamanho do cone de luz que entra nas lentes do
microscópio após passar através da amostra (Figura 1.24). Isto é dado pela equação:
NA= η sen α
onde η é o índice de refração do meio através do qual a luz passa entre a amostra e a
lente. O valor de η para o ar é de 1,0, mas pode ser aumentado para um máximo de
Figura 1.23 A estrutura celular da
cortiça
Uma reprodução do desenho de Robert
Hooke de uma fina lâmina de cortiça obser-
vada em um microscópio ótico. As “células”
que Hooke observou eram na verdade so-
mente as paredes celulares remanescentes
das células que já tinham morrido.
Figura 1.24 Abertura numérica
A luz é focalizada na amostra pelas lentes do
condensador e então coletada pelas lentes
da objetiva do microscópio. A abertura nu-
mérica é determinada pelo ângulo do cone de
luz que entra nas lentes da objetiva (α) e pelo
índice de refração do meio (geralmente ar ou
óleo) entre as lentes e a amostra.
Amostraα
Luz 
Lentes do condensador
Lentes da 
objetiva
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22 / GEOFFREY M. COOPER • ROBERT E. HAUSMAN
aproximadamente 1,4 pelo uso de uma lente para óleo de imersão, quando a amostra
é vista através de uma gota de óleo. O ângulo α corresponde à metade do compri-
mento do cone de luz recebido pela lente. O valor máximo de α é 90o, sendo seno
α = 1, de modo que o maior valor possível para a abertura numérica é 1,4.
Portanto, o limite teórico para a resolução do microscópio ótico pode ser calcu-
lado como segue:
Resolução = 0,61 x 0,5 = 0,22 µm
 1,4
Microscópios capazes de atingir esse nível de resolução já podiam ser feitos no
fim do século XIX; portanto, aprimoramentos nesse aspecto da microscopia ótica
não devem ser esperados.
Vários tipos diferentes de microscopia ótica são rotineiramente usados para
o estudo de vários aspectos da estrutura celular. O mais simples é a microscopia
de campo claro, no qual a luz passa diretamente através da célula e a capacidade
de distinguir diferentes partes da célula depende do contraste resultante da ab-
sorção da luz visível pelos componentes celulares. Em muitos casos, células são
coradas com corantes que reagem com proteínas e ácidos nucléicos com o obje-
tivo de aumentar o contraste entre as diferentes partes da célula. Antes da colo-
ração, as amostras em geral são tratadas com fixadores (como álcool, ácido acéti-
co ou formaldeído) para estabilizar e preservar suas estruturas. A análise de teci-
dos fixados e corados pela microscopia de campo claro é o método-padrão para a
análise de amostras de tecidos em laboratórios de histologia (Figura 1.25). En-
tretanto, esses procedimentos de coloração matam as células e, portanto, não são
adequados para muitos experimentos, nos quais a observação de células vivas é
desejável.
Sem coloração, a passagem direta da luz não fornece contraste suficiente
para distinguir muitas partes da célula, limitando a utilização da microscopia de
campo claro. Entretanto, variações do microscópio ótico podem ser usadas para
aumentar o contraste entre as ondas de luz que passam através de regiões da
célula de densidades diferentes. Dois dos métodos mais comuns para visualiza-
ção de células vivas são a microscopia de contraste de fase e a microscopia de
contraste de interferência diferencial (Figura 1.26). Ambos os tipos de micros-
copia usam sistemas óticos que convertem variações de densidade ou espessura
Figura 1.25 Micrografia de campo
claro de tecido corado
Secção de um tumor benigno de rim. (G.
W. Willis/Biological Photo Service.)
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A CÉLULA / 23
entre partes diferentes da célula em diferenças no contraste que podem ser vistas
na imagem final. Na microscopia de campo claro, estruturas transparentes (como
o núcleo) têm pouco contraste porque absorvem pouca luz. Entretanto, a luz
tem a velocidade reduzida pela passagem nessas estruturas de tal forma que sua
faseé alterada, comparada à luz que passa através do citoplasma que circunda o
núcleo. A microscopia de contraste de fase e a de contraste de interferência dife-
rencial convertem essas diferenças na fase para diferenças no contraste, desse
modo produzindo melhores imagens de células vivas não-coradas.
O poder do microscópio ótico foi consideravelmente expandido pelo uso
de câmaras digitais e computadores para análise e processamento das imagens.
Os sistemas eletrônicos de análise e processamento de imagens podem melhorar
substancialmente o contraste das imagens obtidas com o microscópio ótico, per-
mitindo a visualização de pequenos objetos que de outro modo não seriam de-
tectados. Por exemplo, a microscopia de contraste de interferência diferencial
intensificada por vídeo permite a visualização do movimento das organelas atra-
vés dos microtúbulos, que são filamentos protéicos do citoesqueleto com um
diâmetro de apenas 0,025 µm (Figura 1.27). Entretanto, esta amplificação não
ultrapassa o limite teórico da resolução do microscópio ótico, de aproximada-
mente 0,2 µm. Então, embora o realce pelo vídeo permita a visualização dos
microtúbulos, eles aparecem como imagens borradas de pelo menos 0,2 µm de
diâmetro e um microtúbulo individual não pode ser distinguido de um feixe de
estruturas adjacentes.
A microscopia ótica tem sido usada no nível de análise molecular por méto-
dos de marcação de moléculas específicas, e assim elas podem ser visualizadas no
interior das células. Genes ou RNA transcritos específicos podem ser detectados
por hibridização com sondas de ácidos nucléicos com seqüências complementa-
res, e proteínas podem ser detectadas pelo uso de anticorpos apropriados (ver
Capítulo 3). Tanto sondas de ácidos nucléicos como anticorpos podem ser mar-
cados com uma variedade de substâncias que permitem sua visualização no mi-
croscópio ótico, tornando possível determinar a localização de moléculas especí-
ficas dentro de células individuais.
A microscopia de fluorescência é um método muito sensível e amplamente
usado para o estudo da distribuição intracelular de moléculas (Figura 1.28). Um
corante fluorescente é usado para marcar a molécula de interesse dentro de células
fixadas ou vivas. O corante fluorescente é uma molécula que absorve luz em um
comprimento de onda e emite luz em um segundo comprimento de onda. Essa
fluorescência é detectada pela iluminação da amostra com luz no comprimento de
onda que excita o corante fluorescente, seguida do uso de filtros adequados para
detectar o comprimento de onda específico que o corante emite. A microscopia de
fluorescência pode ser usada para estudar diferentes moléculas dentro das células.
Uma aplicação freqüente é a marcação direta de anticorpos contra uma proteína
específica com corante fluorescente, fazendo com que a distribuição intracelular da
proteína possa ser determinada.
Um avanço importante e recente na microscopia de fluorescência foi o uso da
proteína fluorescente verde (GFP), do inglês Green Fluorescent Protein, de uma me-
dusa para visualizar proteínas dentro de células vivas. A GFP pode ser fusionada a
2,5 µm
Figura 1.26 Observação microscópica de células vivas
Micrografias de células humanas obtidas com microscopia de (A) campo claro, (B) contraste de fase e (C)
contraste de interferência diferencial. (Cortesia de Mort Abramowitz, Olympus, America, Inc.)
Figura 1.27 Microscopia de contraste de interferência diferencial intensificada por vídeo
O processamento eletrônico de imagem permite a visualização de microtúbulos individuais. (Corte-
sia de E. D. Salmon, University of North Carolina, Chapel Hill.)
50 µm
(A)
(B)
(C)
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24 / GEOFFREY M. COOPER • ROBERT E. HAUSMAN
qualquer proteína de interesse, pelo uso de técnicas-padrão de DNA recombinante,
e então a proteína ligada à GFP pode ser introduzida nas células e detectada por
microscopia de fluorescência, sem necessidade de fixar e corar a célula, como seria
preciso para a detecção de proteínas com anticorpos. Devido à sua versatilidade, o
uso de GFP se tornou extremamente difundido em biologia celular e tem sido em-
pregado para acompanhar a localização e os movimentos de uma ampla variedade de
proteínas dentro de células vivas (Figura 1.29).
A microscopia confocal combina a microscopia de fluorescência com a aná-
lise eletrônica de imagens para obter imagens com contraste e detalhes aumenta-
dos. Um pequeno ponto de luz, usualmente emitido por um laser, é focado na
amostra, em uma profundidade específica. A luz fluorescente emitida é coletada
por um detector com uma câmera de vídeo. Entretanto, antes da luz emitida
alcançar o detector, ela deve passar através de uma abertura capilar (chamada de
abertura confocal) precisamente colocada no ponto onde a luz emitida, a partir
da profundidade escolhida na amostra, aproxima-se do foco (Figura 1.30). Con-
seqüentemente, somente a luz emitida a partir do plano de foco é capaz de atin-
gir o detector. Uma varredura da amostra gera uma imagem bidimensional do
Figura 1.28 Microscopia de
fluorescência
(A) A luz passa através de um filtro excita-
tório para selecionar o comprimento de
onda da luz (por exemplo, azul) que excita
o corante fluorescente. Um espelho dicróico
reflete a luz excitada para baixo para atingir
a amostra. A luz fluorescente emitida pela
amostra (por exemplo, verde) passa através
do espelho dicróico e por um segundo filtro
(o filtro barreira) para selecionar o compri-
mento de onda da luz emitida pelo corante.
(B) Microscopia fluorescente de uma célula
de pulmão na qual o DNA é corado em
azul e os microtúbulos no citoplasma são
corados em verde. (Conly S. Rieder/Biolo-
gical Photo Service.)
(A) (B)
Amostra 10 µm
Lentes da objetivaFiltro excitatório
Ocular
Filtro barreira
Espelho dicróico
Luz fluorescente
Figura 1.29 Microscopia de
fluorescência de uma proteína
marcada com GFP
Uma proteína mitocondrial fusionada à
GFP foi introduzida em células humanas
em cultura e visualizada por meio da mi-
croscopia de fluorescência. (Courtesy of BD
Biosciences Clontech.)
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A CÉLULA / 25
plano de foco, uma imagem muito mais precisa que a obtida com a microscopia de
fluorescência padrão (Figura 1.31). Além do mais, uma série de imagens obtidas de
diferentes profundidades pode ser usada para a construção de uma imagem tridi-
mensional da amostra.
A microscopia de excitação multifóton é uma alternativa para a microscopia
confocal que pode ser usada em células vivas. A amostra é iluminada com um com-
primento de onda de luz que, para excitar o corante fluorescente, necessita da absor-
ção simultânea de dois ou mais fótons (Figura 1.32). A probabilidade de dois ou
mais fótons simultaneamente excitarem o corante fluorescente só é significativa no
ponto da amostra acima do qual o feixe do laser é focado, de modo que a fluorescên-
cia só é emitida a partir do plano de foco da luz emitida. Essa excitação altamente
localizada fornece automaticamente uma resolução tridimensional, sem a necessida-
de da passagem da luz emitida através de uma abertura capilar, como na microscopia
confocal. Além do mais, a excitação localizada minimiza os danos à amostra, permi-
tindo imagens tridimensionais de células vivas.
Microscopia Eletrônica
Em razão do limite da resolução do microscópio ótico, a análise de detalhes da estru-
tura celular requer o uso de técnicas microscópicas mais potentes – por exemplo, a
microscopia eletrônica, que foi desenvolvida na década de 1930 e foi usada pela
primeira vez para análise de amostras biológicas por Albert Claude, Keith Porter e
George Palade durante os anos de 1940 e 1950. O microscópio eletrônico pode
Figura 1.31 Micrografia confocal de
células humanas
Microtúbulos e filamentos de actina são co-
rados com corantes fluorescentes vermelho
e verde,respectivamente. (K.G Murti/Vi-
suals Unlimited.)
Detector
Em foco
Amostra
Fora de foco
Luz fora de
foco é impe-
dida de al-
cançar o
detector
Luz 
fluorescente
emitida
Luz em foco
alcança o
detector
Abertura
confocal
Figura 1.30 Microscopia confocal
Um fino feixe de luz é focado na amostra em uma profundidade específica, e a luz fluorescente emi-
tida é coletada por um detector. Antes de atingir o detector, a luz fluorescente emitida pela amostra
passa através de uma abertura confocal colocada no ponto onde a luz emitida a partir da profundi-
dade escolhida da amostra entra em foco. Como resultado, somente a luz emitida no foco da pro-
fundidade escolhida da amostra é detectada.
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26 / GEOFFREY M. COOPER • ROBERT E. HAUSMAN
alcançar uma resolução muito maior que a obtida pelo microscópio ótico porque o
comprimento de ondas dos elétrons é menor do que o da luz. O comprimento de
onda dos elétrons em um microscópio eletrônico pode ser tão curto quanto 0,004
nm – cerca de 100.000 vezes menor que o comprimento de onda da luz visível.
Teoricamente, esse comprimento de onda poderia permitir uma resolução de 0,002
nm, mas tal resolução não pode ser obtida na prática, porque a resolução é determi-
nada não somente pelo comprimento de onda, mas também pela abertura numérica
das lentes microscópicas. A abertura numérica é um fator limitante para a microsco-
pia eletrônica porque as propriedades inerentes das lentes eletromagnéticas limitam
seu ângulo de abertura em cerca de 0,5 grau, correspondente a aberturas numéricas
de cerca de 0,01. Então, sob condições ótimas, a capacidade de resolução do micros-
cópio eletrônico é de aproximadamente 0,2 nm. Além do mais, a resolução que pode
ser obtida com amostras biológicas é também limitada pela perda inerente de con-
traste da amostra. Conseqüentemente, para amostras biológicas, o limite prático da
resolução do microscópio eletrônico é de 1 a 2 nm. Embora essa resolução seja muito
menor que a predita simplesmente pelo comprimento de onda dos elétrons, ela represen-
ta um aumento de mais cem vezes na capacidade de resolução do microscópio ótico.
Dois tipos de microscopia eletrônica – transmissão e varredura – são amplamente
utilizados para estudar as células. Em princípio, a microscopia eletrônica de transmissão
é similar à observação de células coradas com o microscópio de campo claro. As amostras
são fixadas e coradas com sais de metais pesados, que fornecem contraste através da dis-
persão de elétrons. Um feixe de elétrons é passado através da amostra e focado para formar
uma imagem em uma tela fluorescente. Elétrons que encontram um íon de metal pesado
quando passam através da amostra são defletidos e não contribuem para a imagem final,
de maneira que áreas coradas da amostra aparecem escuras.
Amostras para serem examinadas por microscopia eletrônica de transmissão
podem ser preparadas por coloração negativa ou positiva. Na coloração positiva, os
tecidos da amostra são cortados em secções finas e corados com sais de metais pesa-
dos (como tetraóxido de ósmio, acetato de urânio e citrato de chumbo) que reagem
com lipídeos, proteínas e ácidos nucléicos. Esses íons de metais pesados ligam-se a
uma variedade de estruturas celulares, que conseqüentemente aparecem escuras na
imagem final (Figura 1.33). Um procedimento alternativo da coloração positiva pode
ser usado também para identificar macromoléculas específicas dentro da célula. Por
exemplo, anticorpos marcados com metais pesados eletrodensos (como partículas de
ouro) são freqüentemente usados para determinar a localização subcelular de proteí-
nas específicas com o microscópio eletrônico. Esse método é similar ao uso de anti-
corpos marcados com corantes fluorescentes na microscopia de fluorescência.
A coloração negativa é útil para a visualização de estruturas biológicas intactas,
como uma bactéria, organelas subcelulares isoladas e macromoléculas (Figura 1.34).
Nesse método, a amostra biológica é depositada sobre um filme de suporte, e um
Excitação de dois fótons Fóton
Amostra
contendo
fluoróforos
Fluoróforo
Fluoróforo
excitado
Pulso de laser
Figura 1.32 Microscopia de excitação
de dois fótons
A absorção simultânea de dois fótons é ne-
cessária para excitar o corante fluorescente.
Isso somente ocorre no ponto da amostra
no qual a luz é focada, de modo que a luz
fluorescente é emitida apenas a partir de
uma profundidade escolhida da amostra.
5 µm
Figura 1.33 Coloração positiva
Micrografia eletrônica de transmissão de
um polimorfonuclear corado positivamen-
te. (Don W. Fawcett/Visuals Unlimited.)
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A CÉLULA / 27
corante de metal pesado é seco ao redor da sua superfície. A amostra não-corada é
coberta por um filme de corante eletrodenso, produzindo uma imagem na qual a
amostra aparece clara contra um fundo escuro corado.
O sombreamento metálico é outra técnica usada para visualizar a superfície de
estruturas subcelulares isoladas ou macromoléculas com o microscópio eletrônico de
transmissão (Figura 1.35). A amostra é coberta com uma fina camada de um metal
vaporizado, como a platina. O metal é borrifado sobre a amostra em um ângulo tal que
as superfícies da amostra em frente da fonte das moléculas de metal vaporizado são mais
cobertas do que as outras. Esse revestimento diferencial cria um efeito de sombra,
dando à amostra uma aparência tridimensional nas micrografias eletrônicas.
A preparação de amostras por criofratura, em combinação com o sombrea-
mento metálico, tem sido particularmente importante nos estudos da estrutura de
membranas. Amostras são congeladas em nitrogênio líquido (a -196ºC) e então que-
bradas com uma lâmina não-cortante. Freqüentemente, esse processo divide a bica-
mada de lipídeos, revelando a face interior da membrana celular (Figura 1.36). A
amostra é então recoberta com platina, e o material biológico é dissolvido com áci-
do, produzindo uma réplica metálica da superfície da amostra. O exame dessas répli-
cas no microscópio eletrônico revela muitas alterações na superfície, corresponden-
do às proteínas que atravessam a bicamada de lipídeos. Uma variação da criofratura
é chamada de esboço por congelamento, que permite, além das faces internas, a
visualização das superfícies externas das membranas celulares.
O segundo tipo de microscopia eletrônica, a microscopia eletrônica de varredura,
é usado para dar uma imagem tridimensional das células (Figura 1.37). Na microscopia
eletrônica de varredura, o feixe de elétrons não passa através da amostra. Em vez disso, a
Figura 1.34 Coloração negativa
Micrografia eletrônica de transmissão de fi-
lamentos de actina corados negativamente.
(Cortesia de Roger Craig, University of
Massachusetts Medical Center.)
Figura 1.35 Sombreamento metálico
Micrografia eletrônica de filamentos de ac-
tina/miosina do citoesqueleto preparados
por sombreamento metálico. (Don W. Fa-
wcett, J. Heuser/Photo Researchers, Inc.)
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28 / GEOFFREY M. COOPER • ROBERT E. HAUSMAN
Fosfolipídeos
Proteínas
(A) (B)
superfície da célula é coberta com um metal pesado, e um feixe de elétrons é usado para
varrer a superfície da amostra. Elétrons que são dispersos ou emitidos a partir da superfí-
cie da amostra são detectados para gerarem uma imagem tridimensional conforme o feixe
de elétrons move-se através da célula. Uma vez que a resolução da microscopia eletrônica
de varredura é de somente 10 nm, seu uso é geralmente restrito ao estudo de células
inteiras em vez de organelas subcelulares ou macromoléculas.
Fracionamento Subcelular
Embora o microscópio eletrônico permita visualização detalhada da estrutura celular, a
microscopia sozinha não é suficiente para definir as funções dos vários componentes de
células eucarióticas. Para responder

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