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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE SINOP INSTITUTO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E AMBIENTAIS CURSO DE ZOOTECNIA DIETAS DE ALTO GRÃO: LIMITES E POTENCIALIDADES Discente: Kelly Stefani Oliveira de Barros Orientador: Prof. Dr. André Soares de Oliveira SINOP-MT FEVEREIRO DE 2015 UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE SINOP INSTITUTO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E AMBIENTAIS CURSO DE ZOOTECNIA DIETAS DE ALTO GRÃO: LIMITES E POTENCIALIDADES Trabalho de Conclusão apresentado à Universidade Federal de Mato Grosso, Campus Universitário de Sinop, como parte das exigências para obtenção do título de Bacharel em Zootecnia. APROVADA: ___ de_________ de ______________________________ _____________________________ João Rafael de Assis (Zootecnista) Lucas Maciel Gomes Olini (Zootecnista) ___________________________________ Prof. Dr. André Soares de Oliveira (Orientador) III DEDICATÓRIA Gostaria de fazer esta dedicatória de uma maneira um tanto quanto diferente, sem textos planejados ou até mesmo copiados. Então vamos lá... Há aproximadamente seis anos atrás estava eu recebendo a notícia de que havia passado no vestibular (Não, eu não fiquei seis anos na Universidade!). Uma mistura de felicidade e medo tomava conta, mas acho que isso é super normal, afinal, mudanças são necessárias!!!!! Eu tinha apenas 16 anos de idade e não sabia o que me esperava, só tinha a certeza de que enfrentaria essa nova vida de um jeito ou de outro. Obtive todos os não’s possíveis, mas isso não me desanimou! Por obra do destino, ou desejo divino mesmo, resolvi procurar uma pessoa e essa simples visita modificou todos os meus planos e isso me deixou muuuuito feliz! ELE acreditou na minha capacidade, na minha vontade e me deu todos os créditos para isto se tornar realidade. ELE me deu ótimos conselhos, conselhos estes que carregarei para o resto da vida. ELE foi a pessoa responsável por algo que apelidei de MILAGRE, muitos disseram que isso nunca seria possível, mas acho que ele ficaria feliz em saber que conseguiu! Eu lutei, eu sofri, eu questionei, mas não desacreditei! ...e como as respostas vêm com o tempo, hoje eu entendo o sentido do “NÃO DESISTE, VOCÊ TEM MUITO POTENCIAL!”. Em meio as nossas conversas semestrais eu sempre me lastimava do tempo que iria levar para me formar (Ahhh agora falta 4 anos e meio, 4, 3..) e ELE sempre dizia para não me preocupar com o tempo, apenas curtir cada dia e que aproveitasse cada oportunidade. ELE sempre segurava em minhas mãos e me pedia para que eu olhasse nas “bolitas pretas” de seus olhos, para me dar mais um de seus conselhos e em seguida contar as aventuras de mais uma de suas viagens. (“É Kellynha esse mundo é muito grande e você ainda vai viajar muito!”). ELE me dizia que eu encontraria colegas, mas nunca amigos que pudessem ser contabilizados nos dedos de uma mão, e que os meus verdadeiros amigos sempre seriam meus pais, independente das desavenças, e eu acredito nele. IV ELE chegou a dizer que iria comprar uma camisa nova para minha formatura \o/ (mas só ficou dito!). DEUS resolveu levá-lo antes! São coisas da vida e decisões do SER superior e eu não questiono. Dizem que “uma despedida é necessária antes de podermos nos encontrar outra vez”, então que nossas despedidas sejam um eterno reencontro. Esta será a única maneira que terei de homenagear, de deixar gravado e/ou registrado, mesmo não sendo suficiente. Me perdoe por qualquer coisa que tenha te decepcionado, o ser humano tem esse hábito de não ser perfeito. Bom... pode não parecer, mas a cada passo e decisão que tomo, me lembro das “bolitas pretas” me olhando fixamente, e sinto que estou ouvindo ELE me dizer: “Calma, no final tudo vai dar certo!” A ELE dedico este trabalho, minha graduação e meu título! Serei ETERNAMENTE GRATA a este homem: ...Newton Vieira Barbosa! (in memorian) V AGRADECIMENTOS Agradeço a DEUS por ter me proporcionado tantos dons maravilhosos. Alguns dizem que é sorte, eu prefiro acreditar que foram feitos sob medida! Aos meus pais Osmar Leal de Barros e Josemira Oliveira da Silva Rocha, ao meu irmão Igor Oliveira de Barros. Ao meu padrasto Odair José Mussinato. Aos meus colegas e parceiros: Caiom Kauling, Camila Aguirre, Cesar Marcarini, Chayana Dal Conte, Elaine Ribeiro, Euzenei Vasconcelos, Flávio Menezes, Jane Sousa, Jeferson Ferareze, Juliander Cunha, Leandro Lima, Pablo Lucas Galdino, Rafael Albrecht, Rafael Lima, Tatiane Izabel Silva, Thyago Lima e Vinícius Baumann. Com e por vocês, os longos dias da graduação virarão ótimas histórias a serem contadas. A vocês o meu Muitíssimo Obrigado! Agradeço aos meus primos Valdeir Ramos Tavares, Vivian Rocha Malheiro Tavares e Matheus Vinícios Malheiro Tavares por terem me ajudado nos momentos mais difíceis da graduação. Ao professor Dr. André Soares de Oliveira que mesmo contemplado de muitos afazeres, me agraciou com sua orientação neste trabalho. A Universidade Federal de Mato Grosso, pela realização de mais um sonho. Faltam poucos! E a todos que não citei, mas que de alguma forma são parte importantíssima e especial em minha vida. ...um MUITO OBRIGADO! VI LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Composição bromatológica de dieta de alto grão com diferentes níveis de inclusão ................................................................................................................................ 33 Tabela 2 – Eficiência de uso de grãos em dietas de grãos inteiros de baixa fibra em confinamentos de bezerros e novilhos ................................................................................. 36 Tabela 3 – Desempenho em confinamento, características de carcaça e parede ruminal dos novilhos em experimento .................................................................................................... 37 Tabela 4 – Pesos médios (kg), ganho médio diário (kg/dia), conversão alimentar (kg/dia) e eficiência alimentar (kg/dia) de Nelore alimentado com dietas de alta proporção de concentrado .......................................................................................................................... 39 VII LISTA DE ABREVIAÇÕES AGCC: ácidos graxos de cadeia curta; Bras.: brasileiro (a); C: carbono; CA: conversão alimentar; CMSD: consumo de matéria seca diário; CMSP: consumo de matéria seca em relação ao peso vivo; CLA: concentrações de ácido linoléico conjugado; DMS: digestibilidade da matéria seca; DNA: ácido desoxirribonucléico; Ed.: edição; EGS: espessura de gordura subcutânea; EUA: Estados Unidos da América; et al.: entre outros; FDA: fibra em detergente ácido; FDN: fibra em detergente neutro; FDNe: fibra em detergente neutro efetivo; FDNef: fibra em detergente neutro fisicamente efetivo; GPD: ganho de peso diário; g: grama; há -1 : hectare; kg: kilograma; LDL: lipoproteínas de baixa densidade; mm: milímetro; MS: matéria seca; VIII LISTA DE ABREVIAÇÕES N: nitrogênio; n.: número; NO3 - : nitrato; NH4 + : amônio; org.: organizado; p.: página; PB: proteína bruta;PCVZ: peso de corpo vazio; ph: potencial hidrogeniônico; ppm: partes por milhão; RNA: ácido ribonucléico; Rev.: revisto; t: tonelada; T (1, 2, 3...): tratamentos; v.: volume; vs: versos. SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................. 1 2. REVISÃO DE LITERATURA ...................................................................................................... 3 2.1. Crescimento na prática de confinar ......................................................................................... 3 2.2. Importância de uma boa formulação e diferença entre dietas ................................................. 4 2.2.1. Alimentos Volumosos ...................................................................................................... 5 2.2.2. Alimentos Concentrados .................................................................................................. 6 2.3. Grão Inteiro: O uso do Milho .................................................................................................. 8 2.4. Adaptação a Dietas de Alto Grão .......................................................................................... 17 2.5. Distúrbios Metabólicos ......................................................................................................... 19 2.5.1. Morfologia e Saúde Ruminal ......................................................................................... 20 2.5.2. Acidose ruminal ............................................................................................................. 20 2.5.3. Rumenite ........................................................................................................................ 22 2.5.4. Timpanismo .................................................................................................................... 23 2.6. Característica da Carcaça ...................................................................................................... 26 3. DESEMPENHO DE BOVINOS DE CORTE ALIMENTADOS COM DIETAS DE ALTO E 100% CONCENTRADO ................................................................................................................. 30 4. CONCLUSÃO ............................................................................................................................. 39 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................................... 40 X BARROS, Kelly Stefani Oliveira de. Universidade Federal de Mato Grosso, Campus Universitário de Sinop – ICAA, Fevereiro 2015. Dietas de Alto Grão: Limites e Potencialidades. Orientador: Prof. Dr. André Soares de Oliveira. Membros: João Rafael de Assis e Lucas Maciel Gomes Olini. RESUMO O Brasil possui o maior rebanho bovino comercial do mundo, com 208 milhões de cabeças em 2014. Apesar dos resultados atraentes publicados em termos de número de rebanho frente ao cenário mundial, tal seguimento do agronegócio brasileiro vem sofrendo graves represálias dado ao avanço das atividades agrícolas nas áreas que até então eram destinadas apenas para pastagem. Diante desse novo cenário faz-se necessário a busca constate por aperfeiçoamento das técnicas de produção bem como sua eficiência, logo se torna necessário lançar mão de novos recursos, destacando-se o confinamento que vem possibilitando um maior giro de produção em menor tempo, melhorando assim a taxa de desfrute dos animais, o que por sua vez agrega ainda mais valor ao produto final. Pesquisas relatam a obtenção de resultados semelhante e em alguns estudos até melhores de dietas concentradas frente às dietas volumosas. Considerando tal premissa, pode-se afirmar que grande parte das dietas concentradas possui como ingrediente principal o milho que por sua vez é rico em amido, que por sua vez condiciona uma melhoria considerável no desempenho dos animais podendo ser esta explicada pelo aumento na produção e proporção de ácidos graxos de cadeia curta. No entanto apesar dos benefícios aqui apresentados, o uso de alimentos concentrados como o milho em dietas de ruminantes requer uma adaptação gradativa da microflora ruminal diante da nova dieta, quando tais vertentes não são observadas e respeitadas, devido a mudança abrupta de substratos que por sua vez favorecem o crescimento de alguns microrganismos e outros não, há o surgimento de distúrbios metabólicos levando a casos de enfermidade como a Acidose, causada pela redução do pH e timpanismo ocasionado pelo excesso de produção de gases nas câmaras fermentativas. Além disso, é necessário cautela com uso de dietas com alto teor de grãos, em razão de maiores custos dietéticos em relação a dietas com mais participação de forragens. Palavras-chave: amido, concentrado, confinamento, milho XI BARROS, Kelly Stefani Oliveira de. Federal University of Mato Grosso, Campus Academic of Sinop – ICAA, February 2015. High Grain Diets: Limits and Possibilities. Adviser: Prof. Dr. André Soares de Oliveira. Members: João Rafael de Assis and Lucas Maciel Gomes Olini. ABSTRACT Brazil has the largest commercial herd in the world, with 208 million head in 2014. Despite the attractive results published in terms of number of cattle across the world stage, such follow-up of Brazilian agribusiness has suffered serious reprisals given to the expansion of farming activities in areas that were previously intended only for grazing, before this new scenario it is necessary to search finds by improving production techniques and efficiency, it soon becomes necessary to use new features, highlighting the feedlot next allowing a larger swivel production in less time, thereby improving the rate of enjoyment of the animal, which in turn adds further value to the final product. Surveys report obtaining similar results and in some studies to better concentrated front bulky diets. Given this premise, it can be said that much of the concentrate diets have as main ingredient maize which in turn is rich in starch, which in turn implies a considerable improvement in animal performance and this may be explained by the increase in production and short chain fatty acids proportions. However despite the benefits presented here, the use of concentrate foods like maize in ruminant diets requires a gradual adaptation of ruminal microflora before the new diet, when such strands are observed and respected, due to abrupt change of substrates which in instead favor the growth of certain microorganisms and not others, there is onset of the disease leading to metabolic disorders such as acidosis cases, caused by a reduction in pH and bloat caused by excessive gas production in fermentation chambers. In addition, caution is needed with the use of diets high in grains, due to higher costs for dietary diets with more participation of fodder. Keywords: starch, concentrate, feedlot, maize 1 1. INTRODUÇÃO O Brasil possui o maior rebanho bovino comercial do mundo, com 208 milhões de cabeças em 2014 (ABIEC, 2014). As condições do país são as responsáveis por essa façanha, com grandes extensões de terra, que permitem a produção de bovinos a baixo custo. Um contraste com outros países, principalmente da Europa, onde, por causa do alto preço da terra, da mão de obra cara, e das condições climáticas adversas, não é possível uma produção a custo competitivo com o Brasil (LAZIA, 2011). Nos últimos anos, a pecuária vem apresentando constantes taxas de crescimento, termos de produção, exportação e consumo. A expansão e consolidação do setor dapecuária de corte podem ser explicadas pela difusão da avançada tecnologia nas áreas de genética, nutrição, manejo e sanidade. Na região Centro Oeste a pecuária de corte é caracterizada por pequenos centros consumidores e grandes produtores de carne. No entanto, a região sul do país lidera na produção de carne (CARVALHO, 2010). Muito se discute, hoje, sobre a viabilidade do confinamento em fazendas de pecuária de corte. Enquanto alguns são entusiastas da técnica, outros dizem se tratar de prejuízo na certa, algo que dificilmente tende a proporcionar resultados positivos em uma empresa rural. De fato o confinamento é uma atividade de alto risco financeiro. Quando o pecuarista fecha o gado no cocho, inicia um processo de alto ganho de peso, quando comparado aos ganhos a pasto. No entanto, chega um momento que não se pode mais “segurar” os animais, pois os custos do ganho de peso passam a ser proibitivos. Isso ocorre à medida que os animais vão atingindo maiores massas. Uma das grandes preocupações da pesquisa é a busca por alternativas de manejo nas diferentes categorias de bovinos de corte que permitam maior desfrute do rebanho, além de maior produção de carne, com o objetivo de aumentar o rendimento econômico do produtor e a produtividade e qualidade da carne. A utilização do confinamento é relacionada mais diretamente à produção de animais para abate na entressafra e à possibilidade de obter melhores preços (COUTINHO FILHO et al., 2006). Conjuntamente, esse sistema proporciona efeitos secundários que beneficiam o sistema de produção como um todo: liberação das pastagens para outras categorias, uso de forragem excedente de verão e outros (WEDEKIN et al., 1994). 2 Os alimentos oferecidos durante a terminação têm efeito significativo nas diferenças observadas no rendimento de carcaça em bovinos, devido às diferenças que ocorrem no desenvolvimento do trato digestório (DI MARCO, 1994). O cenário atual do mercado de carnes pressupõe a evolução dos sistemas de produção no sentido de buscar eficiência e qualidade do produto (BAIÃO et al., 2005). Diante desta realidade, vários estudos estão sendo apresentados com a intenção de atender as exigências do mercado interno e externo. Assim, o pecuarista brasileiro vive em constante expectativa do surgimento de novas alternativas no sistema produtivo intensivo. Com isto, objetiva-se neste contexto ampliar os conhecimentos e embasar discussões sobre o uso e viabilidade de dietas de alto grão de milho na terminação de bovinos de corte em confinamento, fomentando neste, informações de caráter cientifico e técnico que auxiliem na tomada de decisões inerentes ao uso do mesmo na formulação de dietas para sistemas de produção intensivo, observando sempre as premissas inerentes ao seu custo benefício de forma a garantir o mínimo de custo e máximo de produção economicamente viável, explicita-se neste, ainda resultados encontrados em literatura inerentes seu uso nas formulações de dietas correlacionando-o com eficiência no consumo, ganho de peso e conversão alimentar dos animais submetidos ao seu consumo. 3 2. REVISÃO DE LITERATURA 2.1. Crescimento na prática de confinar O Brasil está se destacando na produção de alimentos, o mundo apresenta um crescimento de demanda favorável nos próximos 40 anos, segundo estudo da FAO. Entretanto estamos sofrendo pressões para os temas: meio ambiente e responsabilidade social, que forçam a produção rural a tomar o seguinte caminho: produção em quantidade e qualidade. Qualidade não apenas nas propriedades intrínsecas do produto, mas na produção ética e moralmente correta. Dessa forma, pecuária e agricultura devem procurar alternativas na tecnificação, produtividade e otimização para obter resultados compatíveis com os anseios da população (ANDRADE, 2014). Como parte de ações para atender a nova necessidade, o confinamento se apresenta como uma ferramenta estratégica. Sua vantagem está em proporcionar redução no custo de produção, uniformidade na terminação dos animais e liberação de espaço nas pastagens durante a entressafra, no período da seca. Benefício que estimula o avanço da prática no Brasil, como mostra o crescimento de 1,4 mil por cento de gado confinado nos últimos anos, saltando de 200 mil para três milhões de cabeças. (BURGI, 2013). Há uma grande variação na forma como é conduzida a atividade de confinamento: pequenos, grandes, estruturas improvisadas, alta tecnologia, baixa mecanização, alta mecanização, todas adaptadas ao ambiente onde o pecuarista se insere. O que se pode dizer é que a maioria dos confinamentos existentes no Brasil está associada com a atividade pecuária: pecuaristas tecnificando a propriedade com aumento da lotação, produzindo mais e melhor. Outra consideração que também se pode fazer é que se tratam, na maior parte, de confinamentos até três mil animais por ano, associado a recria ou ciclo completo. Seguindo as novas tendências de produção atual, a cada dia que passa a tradicional pecuária vem deixando de ser o grande foco na produção de carne bovina, dando a esse setor um caráter mais empresarial e eficiente, permitindo assim o fim da especulação monetária em torno de seu produto final e o início de uma nova era, marcada pela valorização do produto e concomitantemente maior resistência às oscilações do agronegócio a qual encontra-se continuamente exposta. 4 2.2. Importância de uma boa formulação e diferença entre dietas A alimentação representa a maior parte dos recursos para a produção de animais, sua eficiência e custos condicionam de forma correlacionada o êxito da produção destes animais, de forma que todo e qualquer erro nas formulações de dietas e a falta de exatidão na apresentação das necessidades nutricionais contribuem para limitar a produção animal. Desta forma, a necessidade da formulação de dietas obedece a uma série de informações básicas como: necessidades nutricionais do animal, alimentos a serem usados, forma de apresentação da dieta e consumo esperado de alimentos. Tudo deve estar corretamente balanceado de acordo com as respectivas etapas de desenvolvimento do animal e sua produção. Para uma formulação eficiente é necessário o conhecimento das necessidades nutricionais, composição dos ingredientes e níveis de utilização de cada um deles, de acordo com suas características físicoquímicas. É necessário também que se tenham informações sobre a disponibilidade dos alimentos na região, a um custo acessível (MACHADO et al., 2011). Dietas para bovinos em confinamento incluem alimentos volumosos, concentrados e suplementos. São alimentos volumosos aqueles que possuem teor de fibra bruta superior a 18% na matéria seca e alimentos concentrados são aqueles com menos de 18% de fibra bruta na matéria seca e podem ser classificados como proteicos (quando têm mais de 20% de proteína na matéria seca), como é o caso das tortas de algodão, de soja etc., ou energéticos (com menos de 20% de proteína na matéria seca) como é o milho, triguilho, farelo de arroz etc (EMBRAPA, 1996). Uma vez que a porção nutritiva de um alimento está contida na matéria seca e que a capacidade de consumo dos alimentos pelos animais está relacionada, também, à matéria seca, todo cálculo relativo à alimentação (balanceamento de rações, custo de aquisição e transporte de alimentos etc.) deve ser feito com base na matéria seca (ou seja, convertido para equivalência a 100% de matéria seca) (EMBRAPA, 1996). A ração é a quantidade total de alimento que um animal ingere em 24 horas, e ração balanceada é aquela que contém nutrientes em quantidadee proporções adequadas para atender às exigências orgânicas dos animais. Usualmente, as rações são compostas por alimentos volumosos e concentrados (EMBRAPA, 1996). Sendo assim as dietas são divididas em: 5 2.2.1. Alimentos Volumosos As leguminosas e as gramíneas são as principais fontes de forragem para bovinos. Forragens de alta qualidade podem suprir a maioria dos nutrientes a depender da categoria animal que se cultiva, da espécie forrageira, da sua idade, bem como as condições edafoclimáticas da localidade, entre outros. Um dos fatores importantes no tocante a caracterização qualitativa das forragens refere-se a sua idade de corte ou pastejo a qual encontra-se correlacionada ao estágio de maturação de tais, cabendo aqui ressaltar que forrageira com idade avançada reduzem linearmente o seu teor de proteína, energia, cálcio, fósforo e matéria seca digestível, enquanto aumenta a fibra (FDN, FDA e lignina). As pastagens se bem manejadas são boa fonte de nutrientes. Elas têm a vantagem adicional de eliminar a necessidade de manejo manual do material. Adequada fertilização e manejo são necessários para manter uma boa pastagem. Frequente rotação de pequenos lotes reduz perdas, mas requer maior mão de obra. Como a quantidade e qualidade das pastagens mudam durante o inverno, os animais necessitam um manejo diferenciado: pastagem diferida, pastagens armazenadas e outros alimentos (TEIXEIRA, 1997). As pastagens tropicais se caracterizam por altos rendimentos forrageiros quando adubadas, mas o valor nutricional da forragem produzida não é muito alto. Graças ao alto teor de fibra, baixo teor de proteína e baixa digestibilidade das gramíneas tropicais, a produção por animal é inferior àquela realizada em pastagens de azevém e aveia cultivada nas regiões subtropicais. Alguns estudos relatam que o ganho de peso vivo variam na ordem de 0,4 a 0,6kg/dia/novilho criados em condições de em pastagens tropicais, sem suplementação. O manejo da pastagem deve ser conduzido de modo a manter constante a disponibilidade de forragem em torno de 2000 kg de MS/há -1 durante a estação de pastejo, e/ou uma oferta de forragem em torno de 8 a 10% de peso vivo animal. Diferimento de pastagem e uso de feno, silagem, cana+ureia são práticas de manejo para aliviar a falta de pasto na seca, e assim, contornar o problema da estacionalidade da produção de forragens das pastagens (GOMIDE, 1999). 6 2.2.2. Alimentos Concentrados Segundo Teixeira (1998) o milho, dentre os grãos de cereais é o mais largamente empregado, rico em energia e pobre em proteína, principalmente lisina. É rico em provitamina A (betacaroteno) e pigmentantes (xantofila). Baixos teores de triptofano, lisina, cálcio, riboflavina, niacina e vitamina D (LANA, 2000). A parte principal da planta é a espiga composta de 70% de grãos, 20% de sabugo e 10% de palhas. O milho pode ser usado de diversas formas como fonte volumosa ou concentrado energético. É considerado alimento concentrado energético padrão. ROLÃO DO MILHO - é constituída da palhada do milho depois de feita a colheita das espigas. Contudo pode ser feito de toda a planta, incluindo a espiga, tornando-o mais rico em nutriente, usado como fonte volumosa na dieta de ruminantes; SILAGEM DE MILHO - é uma excelente cultura para confecção de silagem por apresentar boa produção forragem por área e boa quantidade de açucares para produção de ácido lático, fundamental para o processo. É fonte volumosa para ruminantes; PALHADAS e SABUGOS - é um resíduo da colheita do grão que pode ser utilizado como fonte de fibra na dieta de ruminantes, é de baixo valor nutritivo; MILHO DESINTEGRADO COM PALHA E SABUGO (MDPS) - é obtido pela moagem das espigas inteiras, é fonte energética na dieta de ruminantes, apresenta menor valor nutritivo do que o milho grão é rico em fibra; MILHO GRÃO - constitui a base energética da dieta de várias espécies animais, deve ser isento de fungos, micotoxinas, pesticidas, sementes tóxicas. É composto de amido (60%), casca (6,5%), glúten (10%), gérmen (8,5%), água (15%). O processamento do grão pode alterar o seu valor nutritivo pela moagem, gelatinização, floculação e laminação, mudando o local e a intensidade de digestão. FARELO DE GLÚTEN DE MILHO - é a parte da membrana externa do grão de milho que fica após a extração da maior parte do amido, do glúten e do gérmen pelo processo empregado na produção do amido, ou do xarope por via úmida. Pode conter extrativos fermentados do milho e/ou farelo de gérmen de milho. É uma boa fonte de proteína (aproximadamente 22%, de alta degradabilidade ruminal) e energia comparável ao do 7 sorgo, tem média palatabilidade (TEIXEIRA, 1997). Como nome comercial é conhecido por promil ou refinazil. 8 2.3. Grão Inteiro: O uso do Milho O milho é considerado um dos principais cereais do segmento agrícola no Brasil, tendo em vista a alta capacidade produtiva e valor nutritivo. A produção da cultura de milho é influenciada, entre outros fatores, pela qualidade das sementes, época e população de plantas estabelecidas na área, preparo correção e adubação do solo e controle de plantas daninhas. Praticamente todos os países produzem milho. Atualmente, os números para essa cultura são ao todo 160 milhões de hectares e 800 milhões de toneladas anuais. Com os Estados Unidos da América, China e Brasil sendo os maiores responsáveis por esses números (GLAT, 2010). No Brasil, o milho exerce um grande papel econômico, social e cultural, representando, no ano agrícola de 2013/14, 15.127,5 mil hectares de área plantada, sendo produzidos 75.183,1 mil toneladas, obtendo uma produtividade média de 4.970 kg ha -1 . A área, produção e a produtividade, no Brasil, podem ser divididas em duas safras anuais (1° Safra e 2° Safra), sendo a segunda safra mais significativa em números que a primeira. Os Estados que mais produzem esse cereal são: Mato Grosso (22,59%), Paraná (20,64%), Mato Grosso do Sul (9,73%), representando juntos, 52,96% da produção nacional (CONAB, 2014). O Estado de Mato Grosso representa 21,30% da área plantada no país, sendo líder isolado em termos de território ocupado por essa cultura (CONAB, 2014). No Estado, a produção está distribuída principalmente no Médio-Norte (47,68%), Sudeste (19,82%), Oeste (13,17%) e Nordeste (8,20%) (IMEA, 2014). Em 2014, as exportações do Estado, de Mato Grosso, foram destinadas principalmente para o Irã (390.500 t), Taiwan (210.013 t), Coréia do Sul (205.438 t), Egito (192.683 t), Marrocos (123.541 t) etc. (IMEA, 2014). O milho é empregado em inúmeros produtos na indústria (por ser uma fonte de baixo custo de aquisição), na alimentação humana (na forma in natura, semi e processada), na alimentação animal (na forma de silagem, grão fragmentado, rações) (GONZALES et al., 1998; PERALES et al., 2005; GARCIA et al., 2013). A cadeia produtiva do milho é uma das mais importantes do agronegócio brasileiro, o qual, considerando apenas a produção primária, responde por 37% da produção nacional de grãos (CALDARELLI & BACCHI, 2012). O sucesso dessa cultura está relacionado à 9 sua ampla adaptação aos solos, e ao clima tropical, através do emprego de diferentes híbridos com características fisiológicas próprias para cada região e que atendem as finalidades do agricultor. O milho (Zea mays L.) é uma planta que pertence à família Gramineae/Poaceae. O caráter monóico e a sua morfologia característica resultam da supressão, condensação e multiplicação de váriaspartes da anatomia básica das gramíneas. Os aspectos vegetativos e reprodutivos da planta de milho podem ser modificados através da interação com os fatores ambientais que afetam o controle da ontogenia do desenvolvimento. Contudo, o resultado geral da seleção natural e da domesticação foi produzir uma planta anual, robusta e ereta, com um a quatro metros de altura, que é esplendidamente “construída” para a produção de grãos (MAGALHÃES et al., 2002). O grão de milho é o fruto de uma semente, ou cariopse característico das gramíneas. O pericarpo (camada externa) é derivado da parede do ovário e pode ser incolor, vermelho, marrom ou variegado. A ponta do grão é a parte remanescente do tecido (pedicelo), que conecta o grão ao sabugo. Dentro do grão estão o endosperma e o embrião. O milho é uma das mais eficientes plantas armazenadoras de energia existentes na natureza. De uma semente que pesa pouco mais de 0,3 g irá surgir uma planta geralmente com mais de 2,0 m de altura, isto dentro de um espaço de tempo de cerca de nove semanas. Nos meses seguintes, essa planta produz cerca de 600 a 1.000 sementes similares àquela da qual se originou (ALDRICH et al., 1982). É uma gramínea mais sensível à variação na densidade de plantas. Para cada sistema de produção, existe uma população que maximiza o rendimento de grãos (CRUZ et al., 2007). A população ideal para maximizar a produtividade de grãos de milho varia de 30 a 90 mil plantas por há -1 , dependendo da disponibilidade hídrica, fertilidade do solo, ciclo da cultivar, época de semeadura e espaçamento entre linhas (FORNASIERI FILHO, 2007). Vários pesquisadores consideram o próprio genótipo como principal determinante da densidade de plantas (SILVA et al., 1999). Na literatura é possível de se encontrar diversas modificações nas características agronômicas das plantas de milho submetidas a diferentes densidades populacionais. (AMARAL FILHO et al., 2005), por exemplo, estudando espaçamentos, densidades e adubações nitrogenadas na cultura de milho, verificaram aumento da massa de grãos, produtividade e teor de proteína com o aumento populacional das plantas de milho, entretanto, obtiveram redução do número de grãos por espiga. 10 Para Tsai (1982), no milho, a eficiência da distribuição de fotoassimilados provoca aumento considerável na produção. Em sistemas de produção de milho tropical, a produção de grãos é menor do que aquela obtida em ambientes temperados devido à ineficiente partição de fotoassimilados. A planta de milho possui elevado potencial produtivo e acentuada habilidade fisiológica na conversão de carbono mineral em compostos orgânicos, particularmente carboidratos. A eficiente conversão da energia radiante em matéria seca deve-se, em parte, ao processo fotossintético tipo “C4”, no qual o gás carbônico é concentrado nas células da bainha vascular das folhas (fonte), e os carboidratos produzidos são translocados para locais onde serão estocados ou metabolizados (dreno) (FANCELLI & DOURADO NETO, 2004; FORNASIERI FILHO, 2007). Durante a fase de crescimento vegetativo, o transporte das substâncias sintetizadas nas folhas, se dá na direção dos órgãos de utilização, identificados pela intensa atividade metabólica, como os meristemas, e que são designados drenos. Ao atingir o estádio reprodutivo, a planta redireciona o fluxo de fotoassimilados, que passa a priorizar as novas estruturas em desenvolvimento (espiga) e, na sequência, os órgãos de armazenamento (grãos). No milho, o processo mais intenso de consumo e acumulação dos fotoassimilados se concentra nos grãos em rápido crescimento (MAGALHÃES, 1995). A atividade das fontes (folhas), durante o período de desenvolvimento vegetativo, além de armazenar os fotoassimilados, também produz material de reserva, que é acumulado temporariamente nas folhas e remobilizado posteriormente para as espigas e os grãos durante a fase reprodutiva (MAGALHÃES, 1995). As relações fonte/dreno nas plantas se alteram continuamente durante o ciclo. As demandas metabólicas dos diferentes órgãos determinam suas atividades como sítios de exportação ou importação de fotoassimilados. Durante o crescimento da folha ocorrem alterações nas funções fisiológicas que levam este órgão a desempenhar, inicialmente, atividades de dreno. A partir de seu completo desenvolvimento, as folhas passam a atuar como fonte (MAGALHÃES, 1995). O endosperma é triplóide, originados da fusão de dois núcleos femininos e um núcleo masculino. Com exceção da sua camada mais externa, constituída por uma (ou raramente algumas) camada de células de aleurona, o endosperma é constituído principalmente de amido. 11 Os embriões dos cereais não armazenam reservas durante o desenvolvimento da semente, a não ser uma pequena quantidade de lipídios no escutelo. Observam-se, entretanto, que as reservas de carboidratos são polimerizadas no endosperma, na forma de amido, e as reservas de proteínas, acumuladas nos corpos proteicos distribuídos em todo o endosperma. No caso de alteração no arranjo populacional de plantas de milho, existem trabalhos recentes demonstrando que o incremento da densidade de plantas reduz a disponibilidade de fotoassimilados para o enchimento dos grãos e a manutenção das demais estruturas do vegetal (SANGOI et al., 2000). No entanto, Tollenaar (1994), por sua vez, afirmam que após a floração, o fluxo de fotoassimilados dentro da planta é direcionado prioritariamente aos grãos. Quando o aparato fotossintético não produz carboidratos em quantidade suficiente para a manutenção de todos os drenos leva os tecidos da raiz e da base do colmo a senescerem precocemente, fragilizando estas regiões. Individualmente, estes assimilados são importantes na participação do crescimento e do desenvolvimento do milho (BELOW, 1995; KOCH, 1996; CAZETTA et al., 1999). A sacarose proveniente dos tecidos-fonte, ao chegar às regiões de utilização, será inicialmente hidrolisada antes de ser utilizados em algum processo metabólico, existindo dois possíveis sítios na célula vegetal para a ocorrência desse evento. Em alguns casos, a sacarose será hidrolisada na região apoplástica das células dos tecidos-dreno numa reação catalisada pela enzima invertase solúvel. O resultado dessa reação é a produção de uma molécula de glicose e uma de frutose, as quais, por sua vez, entram nas células com auxílio de transportadores de hexoses localizados na membrana plasmática (TUBBE & BUCKHOUT, 1992; YLSTRA et al., 1992). Outra possibilidade é a assimilação da sacarose e sua metabolização dentro da célula, pela enzima sacarose sintase, que irá produzir uma molécula de UDP-glicose e uma de frutose. A ocorrência de uma ou outra via, que ainda não está bem definida, parece que será preferência para a hidrólise mediada pela invertase da parede celular em tecidos dreno, nas fases iniciais do seu desenvolvimento (MILLER & CHOUREY, 1992; ROITSH et al., 1995). A sacarose (dissacarídeo não redutor, formado por uma molécula de glicose e uma de frutose), responsável pelo fornecimento de C é um precursor para a produção de amido (polissacarídeo não redutor, formado de muitas moléculas de glicose; e composto por dois polissacarídeos: amilose (fração solúvel, 20%) e amilopectina (fração insolúvel, 80%)), 12 que é usado para a geração de energia. A sacarose que chega ao grão em desenvolvimento, proveniente da parte vegetativa, é a principal matéria prima utilizada para a biossíntese do amido durante o período de crescimento do endosperma (MATHER & GISER, 1951; JENNER & RATHJEN, 1977; OHSHIMA et al., 1990). A sacarose é considerada importante por ser um regulador do gradiente de pressãode translocação entre o tecido-fonte e o dreno (ZINSELMEIER et al., 1995), em razão das enzimas do metabolismo da sacarose, tanto as invertases solúveis e a ligada, como a sacarose sintase (ROITSCH et al., 1995). No entanto, a manifestação e a síntese destas enzimas têm sido apresentadas por serem reguladas pelo fornecimento de carboidratos (KOCH, 1996). A sacarose pode ser metabolizada tanto pela invertase quanto pela sacarose sintase (PREISS, 1982). Sendo que, numa maneira mais específica, segundo Avigad (1982), a invertase insolúvel, está localizada no citoplasma, com uma máxima atividade em pH 7,0, e a sua isoforma, a invertase solúvel, possui uma máxima atividade ao redor do pH 5,0, sendo encontradas em pelo menos duas regiões sub-celulares: no vacúolo (tonoplasto) e outra, considerada “extracelular”, que estão no apoplasto e uma significante parte na parede celular. A sacarose sintase normalmente está localizada no citoplasma das células. Assim, com esta diferença de distribuição, considera-se que a invertase seja responsável pela manutenção de um gradiente de concentração de sacarose entre o floema e a parte basal do endosperma podendo, portanto, auxiliar na transferência da sacarose do floema para dentro do grão em desenvolvimento (DOEHLERT & FELKER, 1987). A atividade da sacarose sintase, correlacionando com a biossíntese dos grãos, indica que deve ser importante na conversão de sacarose em amido, proteína e lipídeos, porém, a disponibilidade de sacarose parece não ser tão importante no final do processo de maturação do grão, quando o grão já está praticamente cheio, durante a maturação (CHEVALIER & LINGLE, 1983; KUMAR & SINGH, 1984). Segundo Doehlert & Felker (1987), a invertase pode ser encontrada principalmente no pedicelo e na porção inferior do endosperma, enquanto que a sacarose sintase está localizada na parte superior do endosperma. Além do controle exercido pela sacarose, glicose e frutose, sobre o metabolismo e o desenvolvimento dos grãos, como preconizam Doehlert et al. (1988), os metabólitos do nitrogênio parecem também afetar a deposição do amido (MATHER & GISER, 1951; 13 SINGLETARY & BELOW, 1989; SINGLETARY et al., 1990). Suspeita-se que a deficiência de tais metabólitos prejudica a biossíntese de enzimas-chave na síntese do amido, podendo-se destacar a sacarose sintase (SINGLETARY et al., 1990). No desenvolvimento dos grãos, mais especificadamente do endosperma, são consideradas duas fases distintas, quer sejam: a de divisão celular e a de enchimento do grão. A primeira fase tem duração de aproximadamente de 26 dias após a polinização e é caracterizada pelo acúmulo de sais e constituintes solúveis, tais como: aminoácidos, açúcares, nucleotídeos, bem como síntese de proteínas, DNA e RNA. Na segunda fase ocorre por volta de 39 dias após a polinização, os constituintes solúveis são utilizados para a biossíntese de macromoléculas, principalmente o amido, sendo que esta é uma fase de desenvolvimento linear do endosperma, em termos de acúmulo de matéria seca (INGLE et al., 1965). Alguns autores consideraram que a somatória de sais, açúcares e aminoácidos que se acumularam na primeira fase de desenvolvimento dos grãos seria responsável pela determinação de um gradiente osmótico, o qual controlaria o descarregamento do floema para os tecidos adjacentes do endosperma, induzindo a expansão dos grãos (MIFFLIN & SHEWRY, 1981). Dentre os componentes solúveis encontra-se a fração albumina, que contém a maioria das proteínas solúveis, dentre as quais as proteínas enzimáticas (CULLEY et al., 1984). Tal fração atinge a concentração máxima ao redor dos 20 dias após a polinização e diminui nos estágios finais de desenvolvimento do grão (CULLEY et al., 1984). Muitas das enzimas desta fração estão envolvidas no metabolismo de carboidratos, na síntese do amido e no metabolismo do N e têm suas atividades significativamente aumentadas durante o período de granação do grão (SODEX & WILSON, 1977; TSAI et al., 1970; TSAI et al., 1978). Assim sendo, a absorção e assimilação do N pela planta é absolutamente essencial para a biossíntese de proteínas, dentre elas as enzimas, o que explica o fato do N desempenhar papel fundamental na manutenção do metabolismo dos carboidratos (SINGLENTARY et al., 1990; FALEIROS et al., 1996; CAZETTA et al., 1999; FERREIRA et al., 2002), fazendo com que os metabolismos de C e N sejam interligados na determinação da produção de grãos de uma planta individual e da produtividade (SINGLETARY & BELOW, 1989). O nitrogênio, por sua vez, para que entre no metabolismo, precisa ser transportado e distribuído dentro da planta e, dentro das células sofrer os processos de assimilação 14 bioquímica, processos estes cuja eficiência, isoladamente ou no conjunto, controlam a produção de grãos (CAZETTA, 1997). A assimilação do nitrogênio está intimamente relacionada com as reações da fotossíntese e metabolismo de carboidratos, tanto pela necessidade de energia para redução do nitrato a amônio, como também pelo fornecimento de cadeias carbônicas necessárias para a incorporação de amônio na formação dos aminoácidos (BREDEMEIER & MUNDSTOCK, 2000; BELOW, 2002). Segundo Seemann et al. (1987), esses dois processos são estreitamente interligados, pois a energia necessária para a assimilação do nitrogênio deriva direta ou indiretamente da fotossíntese e a capacidade fotossintética, por sua vez, depende do nitrogênio, pois grande parte do nitrogênio das folhas está alocado nas proteínas envolvidas no processo fotossintético. O nitrogênio é o único, entre os nutrientes minerais, que pode ser absorvido pelas plantas em duas formas distintas, tanto na forma de ânion NO3 - , como de cátion NH4 + , sendo incorporado em aminoácidos na própria raiz ou na parte aérea das plantas (BREDEMEIER & MUNDSTOCK, 2000). Sabe-se que o milho utiliza, preferencialmente, nos primeiros estádios de desenvolvimento o íon amônio (NH4 + ) e o íon nitrato (NO3 - ) nos estádios finais (WARNCKE & BARBER, 1973). No entanto a utilização de fontes de N mineral (NO3 - , NH4 + ) pelas plantas é determinada pelas condições ambientais e, particularmente, pelas condições de solo em disponibilizar essas duas formas. Nesse sentido, a NO3 - é a forma de N mais disponível nos solos agrícolas aerados onde a nitrificação não é inibida (WINRÉN et al., 1977). Como a forma mais disponível do N nos solos tropicais é o nitrato, a redutase do nitrato é a primeira enzima envolvida na via de incorporação do nitrato, sendo considerado o passo limitante na incorporação do nitrogênio mineral em compostos orgânicos. Sendo assim, considerada uma enzima chave na regulação do metabolismo do N, já que o nitrato absorvido pelas raízes deve ser reduzido a NH4 + antes de ser incorporado em compostos orgânicos no sistema radicular ou principalmente, na parte aérea (STOLZ & BAZU, 2002; STITT et al., 2002; CAZETTA & VILLELA, 2004). A redutase do nitrato foi considerada enzima chave na regulação do metabolismo de N na década de 70, em razão que o nitrato absorvido pelas raízes deve ser reduzido a amônio antes de ser incorporado em compostos orgânicos, seja no sistema radicular, seja na parte aérea (BEEVERS & HAGEMAN, 1969). Ela é a primeira enzima na cadeia de redução do nitrogênio dentro do processo de assimilação do N nas plantas (PURCINO et 15 al., 1994). Por causa desse seu papel regulador, a atividade da redutase do nitrato poderia estar relacionada, indiretamente, com a produtividade das culturas. Isso com base na pressuposição de que plantas com alta atividade da redutase do nitrato teriam maior capacidade de assimilaro nitrato disponível e, em consequência, maior capacidade em responder à adubação nitrogenada (BEEVERS & HAGEMAN, 1969). Vários trabalhos experimentais foram conduzidos para testar essa hipótese e para avaliar a possibilidade de se utilizar a atividade dessa enzima como ferramenta auxiliar no desenvolvimento de genótipos mais produtivos ou mais eficientes no uso do nitrogênio (HAGEMAN et. al., 1967; HAGEMAN & LAMBERT, 1988; PURCINO et al., 1994). De maneira geral, grãos de cereais, representam a principal fonte de energia em rações de bovinos de corte terminados em confinamento. Rações com teores mais altos de grãos propiciam ganho de peso mais rápido, melhor conversão alimentar, carcaças com melhor acabamento e rendimento e menores custos operacionais no confinamento, o que pode tornar a atividade mais rentável. O uso de grãos de milho inteiro pode ser interessante em determinadas situações, pois permite trabalhar com níveis mínimos de forragem ou sem forragem alguma na dieta total (GOROCICA & LOERCH, 2005). Dietas com milho grão inteiro e sem volumoso são utilizadas na prática desde a década de 70 nos EUA e mais recentemente no Brasil. A adoção de dietas contendo milho grão inteiro sem volumoso tem crescido principalmente no sudeste e centro oeste do país. De acordo com a revisão de Owens et al. (1997), animais alimentados com rações contendo grãos de milho inteiro sem forragem ou com mínimo de forragem, podem apresentar melhor desempenho quando comparados com animais alimentados com dietas contendo milho quebrado, laminado a seco ou moído grosso. O milho utilizado no Brasil é do tipo flint com endosperma vítreo e com amido de menor digestibilidade, diferentemente do milho dentado que é usado nos EUA e que apresenta endosperma farináceo e maior digestibilidade. Assim, a baixa digestibilidade do amido contido em cultivares de milho duro pode limitar a eficiência de uso de dietas com milho inteiro. O principal fator que limita a digestão do amido com grãos inteiros de milho é o tamanho de partícula e presença de matriz proteica intacta revestindo os grânulos de amido. 16 O uso de dietas contendo milho grão inteiro é uma opção para pecuaristas que utilizam confinamentos estratégicos na fazenda, que não possuem estrutura para produzir volumosos ou processar os grãos, que possuem pequenas operações que não justificam maiores investimentos em infraestrutura, etc. Apesar da utilização de grão inteiro ser uma opção viável nestes casos, a eficiência de uso do amido contido nesses grãos é bastante limitado em comparação com milho processado intensamente seja na forma de silagem de grão úmido ou floculado. 17 2.4. Adaptação a Dietas de Alto Grão Em confinamentos, “tempo é dinheiro”. Logo, existe uma preocupação em se adaptar os animais o mais rápido possível à dieta final, pois uma vez que os animais começam a ser alimentados com a dieta definitiva rica em grãos há aumento no ganho de peso diário (GPD) e melhoria na eficiência alimentar. No entanto, a adaptação dos microrganismos e concomitantemente das papilas ruminais as dietas ricas em concentrado requer tempo, com mudanças graduais e cautelosas. Essas mudanças, quando bruscas, podem causar consequências negativas tanto a curto como a longo prazo podendo até mesmo levar a mortes súbitas no confinamento. O confinador, junto ao seu nutricionista, deve tomar precauções para que os animais sejam adaptados adequadamente, ao mesmo tempo em que o GPD seja adequado durante esse período (VASCONCELOS, 2007). Devido à intensificação dos sistemas de produção, a maior inclusão de alimentos concentrados vem sendo empregada nos confinamentos como estratégia de elevar a energia das dietas. Assim, alimentos ricos em carboidratos não fibrosos, principalmente amido, expõe os animais a riscos associados ao possível comprometimento da saúde ruminal, ocasionando perdas produtivas e econômicas. Distúrbios como acidose, diarreia, timpanismo, abscessos hepáticos e laminite, tornam-se mais comuns (OWENS et al., 1998). Estudos relatam a ocorrência de bovinos capazes de ingerir grandes quantidades de amido quase que imediatamente após a sua disponibilização na dieta sem que apresente quaisquer sintomas indesejáveis. Porém, alterações graduais no rúmen, de um ambiente de digestão de fibra (ou degradação de carboidratos estruturais), para outro de digestão de amido (ou degradação de carboidratos não estruturais), se fazem importantes e indispensáveis para saúde e bom desempenho dos animais em confinamento. Segundo Cervieri et al. (2009) o manejo nutricional dos confinamentos brasileiros no presente se diferencia daquele utilizado nas décadas de 80 e 90 quando era comum, e considerado normal a inclusão de 50 a 80% de alimentos volumosos na matéria seca (MS) total da dieta. Se o animal é alimentado à vontade, poderá comer em excesso, o que causará uma redução no pH ruminal. Quando o pH ruminal é baixo, o consumo é diminuído. A diminuição no consumo possivelmente funciona como um mecanismo interno que tenta limitar a fermentação excessiva, o que consequentemente restaura o pH para níveis 18 “confortáveis”. Uma vez que o pH retorna a níveis adequados, o animal se sente “melhor” e volta a consumir em alta quantidade, o que causa uma nova produção excessiva de ácidos no rúmen, fazendo com que todo o ciclo se repita (SCHWARTZKOPF-GENSWEIN et al., 2003). Os animais confinados devem receber diferentes dietas com diferentes proporções de volumoso e concentrado (níveis crescentes de concentrado) que são distribuídas em um período de 3 a 4 semanas antes do início da dieta definitiva. Normalmente são utilizadas 2 a 4 dietas de adaptação, sendo que cada uma delas é fornecida por 5 a 10 dias. A transição de dietas deve ser feitas de forma gradual, e pode durar de 1 a 3 dias (VASCONCELOS, 2007a). A adaptação adequada às dietas de alto grão é essencial para a saúde ruminal. A acidose, embora não ataque a maioria dos animais de um grupo, definitivamente ocorre em alguns animais. Os programas de adaptação disponíveis atualmente não são capazes de eliminar completamente problemas de acidose, embora reduzam sua incidência (VASCONCELOS, 2007). 19 2.5. Distúrbios Metabólicos Protocolos de adaptação em períodos excessivamente curtos podem permitir a ocorrência de distúrbios ruminais, porém em contrapartida, períodos excessivamente longos comprometem o ganho de peso diário (GPD) e a exploração eficiente por parte do confinamento, do ganho de peso compensatório, além de aumentar o custo da arroba produzida. De acordo com Fernandes (2011) a manutenção da função ruminal é de fundamental importância para bovinos em crescimento e terminação, uma vez que os ácidos graxos de cadeia curta respondem por cerca de 50 a 70% da energia metabolizada por bovinos (KOZLOSKI, 2009). A redução na produção de AGCC pelas bactérias ruminais, bem como a diminuição na absorção ou metabolismo dos AGCC no epitélio ruminal, acarretariam em impacto negativo no desempenho produtivo do animal. Embora cuidados devam ser tomados durante o processo de adaptação para evitar a acidose, o estabelecimento do consumo de MS, e, portanto, calórico, parece ser um dos aspectos mais importantes do período de adaptação, existindo forte correlação entre o consumo de MS e o desempenho produtivo do animal. De acordo com Bevans et al. (2005) indivíduos que apresentam maior variação de pH ruminal consomem menos MS. Em contrapartida, no período de adaptação,aqueles indivíduos com menor variação de pH apresentam constância no consumo de MS. Desta forma, é evidente que há variações entre indivíduos do mesmo lote que chegam ao confinamento no que diz respeito à capacidade de adaptação às dietas. Um dos problemas associados a este fato é a ocorrência de consumo excessivo de MS por alguns animais (podendo culminar em distúrbios metabólicos) e consumo ótimo por outros, comprometendo o ganho de peso. Isto sugere que, mesmo com a adoção de protocolos de adaptação às dietas, alguns animais podem apresentar acidose (BEVANS et al., 2005). De acordo com Paulino et al. (2010) um aspecto importante é que o estresse causado pelo manejo de formação dos lotes, transporte, desidratação e jejum a que os animais são submetidos antes de chegarem ao confinamento, podem afetar de forma marcante o padrão de consumo nos primeiros dias de cocho. Assim sendo se faz necessário que medidas sejam tomadas com o objetivo de se eliminar ou reduzir qualquer estresse adicional para que os animais tenham um comportamento ingestivo normal neste período, 20 sendo sempre monitorados por ferramentas auxiliares como manejo de cocho e escore de fezes. Paulino et al. (2010) diz que uma das principais mudanças que ocorre com o animal ruminante, anteriormente alimentado com dieta rica em forragem e que é submetido à alimentação com dieta rica em concentrado (carboidrato não estrutural), é a alteração do perfil microbiano ruminal. O estabelecimento e a manutenção de uma fermentação ruminal estável em situações nutricionais caracterizadas por alta proporção de carboidratos não fibrosos na dieta dependem do estabelecimento de uma população viável de bactérias utilizadoras de lactato e de protozoários ciliados (COE et al., 1999). Observa-se que há aumento na quantidade de bactérias amilolíticas quando os animais passam a receber a dieta de maior teor de carboidratos não fibrosos. Fernando et al. (2010) sugere uma maior diversidade na população bacteriana nos animais alimentados à base de volumoso comparado aos animais alimentados com dietas concentradas. 2.5.1. Morfologia e Saúde Ruminal O estômago dos ruminantes é constituído por quatro compartimentos morfologicamente distintos. Os três primeiros, rúmen, retículo e omaso, correspondem à parte aglandular, e o abomaso é o compartimento glandular (DELLMANN & BROWN, 1982). O rúmen é marcado externamente por sulcos que correspondem internamente aos pilares, que dividem o órgão em sacos cranial, ventral, dorsal, cego caudo-dorsal e cego caudo-ventral. A extremidade cranial do saco ventral é denominada recesso do rúmen (NICKEL et al., 1981). 2.5.2. Acidose ruminal A acidose ruminal é uma doença metabólica de evolução aguda ou crônica, causada pela ingestão abrupta, sem prévia adaptação de alimentos ricos em carboidratos, os quais, fermentados no rúmen, produzem grandes quantidades de ácido lático, provocando inicialmente acidose ruminal e atonia neste órgão, seguida de acidose sistêmica, desidratação, prostração, coma e, frequentemente, morte (MARUTA & ORTOLANI, 2002). Segundo Owens et al. (1998), as alterações nas características físico-químicas do suco ruminal estão relacionadas com a diminuição do pH causada pela excessiva elevação 21 na concentração do ácido lático (rápida proliferação de bactérias Gram-positivas Streptococcus bovis e Lactobacillus sp) no rúmen, que altera a osmolaridade do meio, aumentando-a, tornando o meio hipertônico em relação ao plasma. A acidose é uma enfermidade de grande impacto econômico, pois acomete normalmente os bovinos mantidos em sistemas de confinamento e alimentados com dietas hiperglucídicas com a finalidade de atingirem seu peso e o seu potencial máximo (MILLEO et al., 2006). Segundo Santos (2006), na forma aguda do distúrbio, há um aumento exacerbado na osmolaridade ruminal, assim como acúmulo de glicose e lactato nas suas duas formas estequiométricas, o D-lactato e o L-lactato no líquido ruminal. Na forma subaguda, há um pequeno acúmulo de ácido lático no rúmen, e grande parte da alteração no ambiente ruminal é devida ao acúmulo de grandes concentrações de ácidos graxos voláteis. A quantidade de alimento necessário para produzir a enfermidade aguda depende do gênero do grão, experiências prévias do animal com aquele grão, estado de nutrição do animal e a natureza da microbiota ruminal. Vacas leiteiras acostumadas com alimentação reforçada em grãos podem consumir de 15 a 20 kg de grãos e desenvolver a doença somente sob a forma leve, enquanto que as vacas de corte ou gado confinado podem apresentar a doença de modo agudo ou mesmo morrer comendo 10 kg de grãos (BLOOD et al., 1979). Devido ao fato de que o tipo e o nível de ração consumida pelos ruminantes afeta o número e as espécies de bactérias e protozoários do rúmen, quando ocorre mudança de uma ração para a outra o período de adaptação microbiana se faz com um intervalo de tempo variável antes de ocorrer estabilização. Animais que recebem ração com baixo nível de carboidratos são considerados como mais suscetíveis a uma rápida mudança, já que não pode ocorrer rapidamente adaptação satisfatória, mas em vez disso há uma fermentação anormal rápida (BLOOD et al., 1979). Pode haver um histórico de manejo alimentar precário ou alimentação irregular com concentrado (OGILVIE, 2000). A doença ocorre normalmente pelo consumo acidental de níveis tóxicos de grãos pelo gado que tem acesso a grandes quantidades de grãos armazenados (ex.: animais que arrombam depósito de grãos; auxiliar desinformado que fornece grande quantidade de grãos) (BLOOD et al., 1979). Também ocorre quando os bovinos são colocados em pasto verde, com milho verde deixado no solo, quando recebem restos de grãos perdidos durante a trituração, ou quando ocorre alimentação irregular com grandes quantidades de outros 22 alimentos menos comuns (pão, massa de padaria, resíduos de cervejaria, soluções concentradas de sacarose usadas em apicultura) (BLOOD et al., 1979; HOWARD, 1986; GONZÁLEZ & SILVA, 2006). Em geral os açúcares são mais tóxicos que o amido, devido a sua maior velocidade de fermentação (GONZÁLEZ & SILVA, 2006). Os problemas geralmente se originam com estes alimentos quando uma quantidade maior do que a comum é administrada aos animais, ou pela primeira vez, ou porque a suplementação alimentar comum foi realizada por um período curto (HOWARD, 1986) . A ocorrência de sobrecarga por grãos em gado confinado é considerada com maior atenção, presumivelmente devido ao impacto econômico. A economia da produção de gado de corte confinado determina que os bovinos devessem ganhar peso até o seu potencial máximo e isso implica a administração de grande quantidade de alimento em alta concentração. A economia também é favorável ao processamento dos grãos por um dos vários métodos que aumentam o aproveitamento do amido e consequentemente também aumentam a velocidade de degradação no rúmen. Todos estes fatores implicam a alta incidência de sobrecarga por grãos em gado confinado (BLOOD et al., 1979). 2.5.3. Rumenite A rumenite é o desenvolvimento de alterações inflamatórias no epitélio ruminal e nos tecidos subjacentes, decorrente de dietas ricas em grãos de cereais e com níveis de forragem inadequados. De acordo com Sarti (2010) na maioria dos casos a infecção do epitélio ruminal ocorre após um dano mecânico ou químico. As principais causas de rumenite nos animais são originadas por processos fermentativos inadequados no interior do rúmen, que podem ser ocasionados tanto por quadros graves de acidose lática ruminal aguda, onde o baixo pH, associadoà alta osmolaridade poderá provocar lesões na parede ruminal, principalmente nas suas papilas, quanto por acidose branda provocada por ácidos graxos de cadeia curta, quando a produção excessiva destes ácidos provoca acúmulo nas regiões ventrais do órgão e provoca lesões corrosivas em sua parede (NAGARAJA & CHENGAPPA, 1998; OWENS et al., 1998). Uma vez instalado o quadro de rumenite, as defesas físicas do animal ficam comprometidas devido à lesão originada, abrindo passagem para bactérias ruminais, principalmente Fusobacterium necrophorum, que colonizam o tecido do órgão e atravessando o epitélio ruminal atingem a corrente sanguínea, através do sistema 23 circulatório porta, chegam ao fígado, ocasionando infecção e abscessos hepáticos (NAGARAJA & LECHTENBERG, 2007). De acordo com Coelho (1997) os abscessos são inflamações purulentas circunscritas, com formação de cápsulas de tecido conjuntivo fibroso, causados por bactérias. De acordo com Brown (1975) os animais acometidos de abscessos hepáticos têm sua taxa de crescimento diminuída de 5,85 a 12,7% causando significativa perda produtiva e econômica. De acordo com Lechtenberg et al. (1988) os abscessos hepáticos causam redução de até 11% no ganho médio diário e de 9,7% na eficiência alimentar. Vechiato (2009) estudou através de retrospecção de dados a frequência de rumenites e abscessos hepáticos, e mostrou que os animais confinados com dietas de alto concentrado apresentaram respectivamente índices de 11,88% e 3,25%. Segundo o autor estes índices são responsáveis por grande prejuízo econômico no sistema de produção de bovinos de corte. Fica evidente a importância da fase de adaptação quando da utilização de dietas de alto grão na alimentação dos animais. 2.5.4. Timpanismo O timpanismo é um transtorno digestivo que acomete os ruminantes. É causado por uma excessiva retenção de gases da fermentação microbiana, que provoca uma distensão anormal do retículo-rúmen, causando perdas econômicas significativas já que ocorre perda de produção e elevada mortalidade de animais gravemente afetados (BAVERA & PEÑAFORT, 2007). A etiologia da doença está associada a fatores que impeçam o animal de eliminar gases produzidos durante a fermentação ruminal. O timpanismo pode ser classificado em primário ou secundário. O primário é caracterizado pelo aumento na tensão superficial do líquido ruminal ou de sua viscosidade, que faz com que as bolhas de gases presentes na espuma, persistam por longos períodos dispersos na ingesta e, apesar dos movimentos contínuos do conteúdo ruminal, estas não se desfazem, impossibilitando sua eliminação (BAVERA e PEÑAFORT, 2007). Alterações na quantidade e qualidade da saliva produzida podem também influenciar na formação de bolhas e no desenvolvimento do timpanismo. Isto pode ser devido à ação da saliva sobre o pH do conteúdo ruminal, que tem importante papel na estabilidade da espuma, ou devido ao conteúdo de mucoproteínas da mesma. Animais que produzem menos saliva são mais susceptíveis (CHENG et al., 1998). 24 Acredita-se que a origem da espuma em animais confinados esteja relacionada ao aumento da população de certas bactérias produtoras de muco ou à retenção de gases produzidos pelos alimentos finamente moídos. Já Hironaka & Freeze (1992) relataram que as bactérias e protozoários ruminais respondem a uma alimentação com partículas finas, com a produção de uma secreção viscosa que prende o gás produzido durante o metabolismo normal destes microrganismos, causando o timpanismo. O timpanismo secundário ocorre quando há dificuldade física à eructação. Isto pode ser determinado por uma obstrução do esôfago por corpo estranho, como complicação de doenças que podem levar a enfartamento ganglionar (leucose, tuberculose, actinobacilose, pneumonia etc.) ou por lesão nas vias nervosas responsáveis pelos processos de eructação (indigestão vagal, reticulites etc.). O tétano, devido ao espasmo de musculatura, também pode causar a doença (GEORGE, 1993). A ingestão de grandes quantidades de produtos altamente fermentáveis, em um curto espaço de tempo, leva à formação de grandes volumes de ácidos graxos voláteis resultantes do processo de fermentação pela microflora ruminal. O pH ruminal baixa até seis, fazendo com que a produção de dióxido de carbono e de bicarbonato salivar seja acelerado. Ocorre formação de uma espuma densa, levando à distensão do rúmen até a sua capacidade máxima em função da contínua produção de gases, interferindo mecanicamente com os sistemas respiratório e circulatório do animal (CHENG et al., 1998). A morte provavelmente seja causada pela combinação dos efeitos mecânicos, resultantes da distensão exagerada do rúmen, e dos efeitos bioquímicos, resultantes da absorção de gases tóxicos pela mucosa ruminal, como dióxido de carbono, ácido sulfídrico e amônia. As perdas por timpanismo podem chegar a 2,6% (BAVERA & PEÑAFORT, 2007). A excessiva pressão intra-ruminal leva a uma distensão do flanco esquerdo e causa uma situação de desconforto para o animal, que faz com que o mesmo pare de se alimentar e apresente sintomas de dor abdominal, escoiceando o ventre e emitindo grunhidos. A frequência respiratória aumenta e é acompanhada de respiração oral, protrusão (exteriorização) da língua, salivação, extensão do pescoço e distensão dos membros. Os movimentos ruminais aumentam nas fases iniciais, diminuindo então de intensidade, chegando até a atonia em função da distensão acentuada do rúmen. O quadro evolui para a queda do animal, com a cabeça distendida, boca aberta, língua protrusa e olhos dilatados. A morte ocorre após algumas horas do início dos sintomas (HOWARTH et al., 1986). 25 O diagnóstico de timpanismo normalmente não é tão simples, pois muitas doenças apresentam sintomas parecidos, principalmente na forma subaguda. Em alguns animais superalimentados, a distensão de fossa para lombar pode não ser tão evidente, fazendo com que a verdadeira causa da morte do animal seja negligenciada. Já a forma aguda da doença pode ser diagnosticada sem problemas através de um exame externo (SPRINKLE, 1999). O tipo de tratamento a ser feito varia de acordo com o tipo de timpanismo e o grau de severidade do caso. Muitas vezes, os sintomas só são observados em condições avançadas, quando se torna necessário o uso de medidas de emergência para que se consiga salvar o animal. A utilização de antibióticos com o objetivo de controlar a atividade bacteriana e a produção de gás no rúmen, tem se mostrado pouco praticável, em função da necessidade de um longo período de proteção. A inclusão de óleos na ração pode apresentar algum efeito profilático, embora apresente algumas desvantagens, tais como dificuldade de administração e curto período de proteção. O uso de ionóforos (monensina, lasalocida) na ração de bovinos confinados tem auxiliado na diminuição da incidência de timpanismo (MACHADO & MADEIRA, 1990). 26 2.6. Característica da Carcaça É de suma importância conhecer com minúcia os processos e fatores que influenciam o crescimento e desenvolvimento dos animais (GRANT & HELFERICH, 1991). Um dos principais fatores envolvidos no processo de produção de carne é a taxa de crescimento animal. Para obtenção de eficiência biológica e econômica nesse processo, torna-se necessário oferecer aos animais condições para que apresentem satisfatório crescimento corporal, desde o nascimento até o momento do abate. O músculo é o tecido mais importante na composição da carcaça, e esta para ser considerada de qualidade superior, adequada para qualquermercado, deve ter quantidade máxima de músculo, mínima de osso e ótima de gordura, que varia de acordo com a preferência do consumidor (BERG & BUTERFIELD, 1976). A gordura subcutânea tem sido enfatizada como um importante indicador de qualidade final, uma vez que afeta a qualidade da carne. Carcaças com espessura de gordura subcutânea (EGS) abaixo de 3,0 mm são penalizadas quanto à classificação e remuneração pelo frigorífico (LUCHIARI FILHO, 1998). A maciez da carne é o fator primário que afeta a aceitabilidade do produto pelos consumidores (MILLER, 2001). O fato de a maciez ser o principal componente de satisfação do consumidor com relação à carne é facilmente confirmado pela positiva relação entre o preço dos cortes e a relativa maciez dos mesmos. Os consumidores dão maior importância, no momento da compra da carne, à cor, gordura visível, ao preço e corte da carne. Entretanto, com relação à satisfação no momento de consumir o produto, as características de maior relevância são a maciez, o sabor e a suculência (SAVELL & SHACKELFORD, 1992). Os componentes físico-químicos do corpo variam durante o crescimento do animal. Fatores como idade, peso, espécie, raça, condição sexual e nível de ingestão de energia influenciam estas variações. Em animais de maturidade fisiológica precoce quando comparados aos animais de maturidade tardia com o mesmo peso vivo, observam-se maiores conteúdos corporais de gordura e menores de proteína (AFRC, 1993). Este fato se deve ao menor potencial dos animais precoces em depositar proteína, aliado à maior propensão em depositar gordura. Para animais castrados de porte médio, observaram-se reduções sucessivas ao longo do tempo no conteúdo de proteína por kg de peso de corpo vazio (PCVZ) e por kg de ganho de PCVZ (ARC, 1980). Véras et al. (2000) 27 verificaram a redução de proteína e aumento na proporção de gordura nas carcaças de bovinos da raça Nelore à medida que sua idade avançava. As principais diferenças em relação a composição da carcaça de bovinos estão condicionadas em grande parte a categoria sexual desses animais das quais influenciam diretamente na quantidade de tecido adiposo depositado sobre a mesma. Estudos considerando animais pertencentes à mesma raça e com PCVZ similar, denotou que as as fêmeas possuem maior quantidade corporal de gordura do que machos castrados, e estes, mais do que os inteiros. Tal observação em termos da composição da carcaça das referidas categorias se reflete nas concentrações de energia corporal e nas respectivas exigências energéticas para ganho. A densidade energética da ração pode direcionar o uso da energia para síntese de proteína ou de gordura, modificando a composição do crescimento (ROBELIN & GEAY, 1984). Jones et al. (1985) observaram que animais alimentados com rações sem volumoso, apresentaram maiores teores de gordura na carcaça que aqueles cujas rações eram à base de volumoso. Animais tardios são considerados ideais em sistemas de nível nutricional elevado, porque podem ser abatidos com pesos maiores, alcançando o máximo desenvolvimento muscular, sem, contudo, depositar gordura em excesso. Já animais precoces apresentam maiores acúmulos de gordura e menores de proteína, mas o abate mais cedo destes animais pode oferecer um produto de melhor qualidade no mercado (BERG & BUTTERFIELD, 1976). Fontes (1995) avaliou dados de vários experimentos com animais castrados e não castrados, e concluiu que os primeiros eram menos exigentes em proteína e mais exigentes em energia para ganho de peso do que os inteiros. A comercialização de bovinos no Brasil baseia-se no rendimento de carcaça, e alguns fatores nutricionais possuem grande influência neste parâmetro, como a ausência ou pequena participação de fibras longas, que certamente altera o peso do conteúdo gastrintestinal (LAWRENCE & FOWLER, 1997). Além disto, rações com elevado teor de concentrados geralmente produzem maior ganho de peso e consequentemente, maior quantidade de gordura na carcaça, pois a composição do ganho em planos nutricionais elevados favorece a deposição de gordura (GRANDINI, 2006). Bartle et al. (1994) constataram que os animais alimentados com ração sem volumoso tiveram melhor eficiência alimentar e qualidade da carcaça em relação ao grupo alimentado com 10% de volumoso, além do que os custos foram diminuídos. (LUCHIARI 28 FILHO & MOURA, 1997) constataram em sua pesquisa que os consumidores percebem a qualidade da carne inicialmente pela cor e quantidade de gordura de cobertura, seguida por fatores perceptíveis no processamento, como perda de líquidos por descongelamento e cocção, e as características de sabor, suculência e maciez, e este último considerado o aspecto mais importante da qualidade da carne. A deposição da gordura intramuscular é influenciada por diversos fatores, entre eles a raça, peso vivo e plano nutricional (FELÍCIO, 1998). A quantidade da gordura intramuscular, conhecida como grau de marmorização, é uma característica importante, pois está intimamente relacionada com a característica sensorial da carne, possível de ser percebida e apreciada pelo consumidor (COSTA et al., 2002). O grau de marmorização tem associação negativa com a quebra de peso da carne durante o descongelamento e positiva com a quebra de peso da carne pela cocção, conforme demonstrado por Costa et al. (2002), indicando que aumentos no grau de marmorização da carne reduzem as perdas durante o descongelamento. Já a relação entre marmoreio e quebra durante a cocção foi positiva indicando que aumentos no grau de marmorização representam acréscimos nas perdas durante a cocção. De modo geral, a carne de animais jovens apresenta textura mais fina do que de animais de idade mais avançada (MÜLLER, 1987), o que neste caso, está associado à maciez da carne. A menor maciez da carne é justificada pela alta correlação positiva entre a idade de abate dos animais e o número de ligações cruzadas termoestáveis do colágeno dos músculos (ALVES et al., 2005). Animais terminados com rações mais ricas em grãos possuem maior porcentagem de gordura intramuscular do que animais terminados com rações à base de forragens (ALVES et al., 2005). A cobertura de gordura na carcaça é fundamental para manutenção da qualidade, pois a quantidade mínima de 3 mm é requerida para que o resfriamento da carcaça ocorra de maneira lenta evitando escurecimento da carne e redução de sua maciez, consequência do encurtamento das fibras musculares. No Brasil são aceitos valores entre 3 a 10 mm. Atualmente, outros aspectos não relacionados à qualidade da carne, mas relacionados à saúde humana, têm sido considerados nos mercados mais exigentes. Em geral, a correlação entre porcentagem de gordura na carcaça e conteúdo de colesterol na carne é positiva e significativa, indicando que carcaças com maior percentual de gordura também contém mais colesterol na carne. 29 Kazana et al. (2008) relataram a crescente associação entre ingestão de gordura e problemas de saúde apresentados pelos consumidores, e entre os tipos de gordura, principalmente a gordura saturada, sobre a concentração plasmática das lipoproteínas de baixa densidade (LDL). No entanto, nem todas as gorduras são maléficas, como por exemplo, os ácidos graxos poliinsaturados de cadeia longa que participam de diversos processos metabólicos benéficos à saúde humana (VARELLA, 2004). A composição de ácidos graxos na carne de bovinos pode ser influenciada por diversos fatores, entre eles a composição da ração (ENSER et al., 1999). Rações com maior participação de forragens apresentam maiores teores de ácidos graxos poliinsaturados (VARELLA, 2004),
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