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Identidade cultural do Guerreiro e da Cativa

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Identidade cultural do Guerreiro e da Cativa
No conto “História do Guerreiro e da Cativa” de Jorge Luis Borges, as duas histórias que são apresentadas, nos mostram dois aspectos similares que são de estrema importância a partir de uma análise com vínculos antropológicos e sociais. Na primeira história, lida pelo narrador no livro chamado La Poesia (Bari, 1942), o guerreiro bárbaro, Droctulft, deixa sua cidade de origem na Alemanha e conduzido pela guerra e pelas belezas de Ravena, na Itália, o guerreiro abandona aos seus e começa a viver em sua nova cidade italiana. 
Podemos, a partir de teorias da identidade cultural e natural, apresentar uma análise, em que o guerreiro bárbaro Droctulft, quando abandona a cidade Alemã e começa viver em Ravena, o personagem começa a se definir pelo conjunto de papéis que lhe será desempenhado, neste caso, como o guerreiro passa a lutar em nome dos romanos, ele acaba se tornando parte inerente da nação romana; essa ação refere-se à identidade cultural, ao sentimento de pertencimento a uma cultura nacional, ou seja, aquela cultura que absorvemos ao longo de nossas vidas; postulamos essa hipótese a partir da teoria apresentada por Stuart Hall (1932 — 2014) que foi um teórico cultural e sociólogo que viveu e atuou no Reino Unido a partir de 1951; Hall define que “[...] uma cultura nacional é um modo de construir sentidos que influência e organiza tanto nossas ações, quanto a concepção que temos de nós mesmos”. (HALL, 1999 apud PATRIOTA, 2002), assim a partir do momento que o guerreiro entende essas mudanças como novas a as valoriza como verdadeiras, elas se tornam legítimas, essa perspectiva é exemplificada no trecho do conto, página 36 e 37, onde o personagem legítima sua mudança:
“Sabe que nela será um cão, ou uma criança, e que não começará sequer a entendê-la, mas sabe também que ela vale mais que seus deuses e que a fé jurada e que todos os lodaçais da Alemanha.” 
Levando, ainda, em consideração as teorias postuladas por Stuart Hall, em que a identidade muda de acordo com a forma como o sujeito é interpelado ou representado, podemos analisar a personagem da segunda história. Cativa é uma mulher indiana, proveniente de Yorkshire e que viera a Buenos Aires quando seus pais emigraram para lá, quando chegou à Argentina, perdeu seus pais durante um ataque e posteriormente começou a viver com um capitão e tivera dois filhos. 
Um fato marcante no conto situa-se no trecho que diz: “Minha avó fez qualquer pergunta; a outra respondeu com dificuldade, buscando as palavras e repetindo-as, como que assombrada por algum antigo sabor.” (pg. 38), neste trecho podemos apontar que mesmo a cativa tendo mudado completamente de cultura e nacionalidade, ela ainda sente alguns fragmentos de sua cultura de origem, assim, neste caso, podemos entender a cultura como “o complexo de valores, costumes, crenças e práticas que constituem o modo de vida de um grupo específico” (EAGLETON, 2005 apud COELHO, L. P.; MESQUITA, D. P. C., 2013), e é notável que a cativa passou por um processo de identificação com este novo complexo de cultura e valores deixando de lado sua identidade natural que tivera abandonado a quase 15 anos. 
Contudo, é evidente a relação de ambos os personagens com suas identidades natural e cultural, mesmo que tenham vividos em épocas diferentes, ambos absorveram novos modelos de culturas e valores que passaram a ser considerados legítimos, ora por vontade própria, como no caso do guerreiro bárbaro Droctulft, que deslumbrara as paisagens de Ravena, ora por forças maiores, como a perda de seus pais e a criação por índios, como no caso da Cativa; assim como finaliza o próprio conto de Jorge Luis Borges, os dois personagens acataram um ímpeto mais fundo que a razão, a mudança na identidade cultural dos personagens foi tão prestigioso que os mesmo quase foram postos ao esquecimento total de suas origens. 
COELHO, Lidiane Pereira; MESQUITA, Diana Pereira Coelho de. Língua, cultura e identidade. CONCEITOS INTRÍNSECOS E INTERDEPENDENTES. ENTRELETRAS, Araguaína/TO, v. 4, n. 1, p. 24-34, jan./jul. 2013 
PATRIOTA, Lúcia Maria. Cultura, identidade cultural e globalização. CAOS - Revista Eletrônica de Ciências Sociais. João Pessoa - Número Quatro - Agosto de 2002

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