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1 APOSTILA SOBRE GESTÃO DOCUMENTAL I Compilação e Organização: Edinaldo Medina Batista. 19/06/2016. SUMÁRIO 1. ARQUIVO 4 1.1 O CONCEITO DE ARQUIVO 4 1.2 ARQUIVOS CORRENTES 6 1.3 ARQUIVOS INTERMEDIÁRIOS (PAES, 2004, p. 115) 6 1.4 ARQUIVOS PERMANENTES 7 1.5 TRANSFERÊNCIA, RECOLHIMENTO 7 2. DOCUMENTO 8 2.1 MAS, AFINAL, O QUE É UM DOCUMENTO? (GONÇALVES, 1998, p. 16) 8 2.2 APROFUNDANDO O CONCEITO DE DOCUMENTO ARQUIVÍSTICO 10 3. GESTÃO DOCUMENTAL 13 3.1 DEFINIÇÃO 13 3.2 O VALOR DO DOCUMENTO 14 3.3 NÍVEIS DE APLICAÇÃO 15 3.4 BENEFÍCIOS DA GESTÃO 16 4. CONHECENDO O SUJEITO CRIADOR DE ARQUIVO 17 4.1 A ORGANIZAÇÃO E SUA DIMENSÃO HISTÓRICA 17 2 4.2 A ORGANIZAÇÃO NA SUA INDIVIDUALIDADE: A MISSÃO, A ESTRUTURA, AS FUNÇÕES, AS ATIVIDADES E OS PROCEDIMENTOS FORMAIS E INFORMAIS. 18 4.3 EM BUSCA DE UM INSTRUMENTAL TEÓRICOMETODOLÓGICO 20 4.4 O AMBIENTE ORGANIZACIONAL E SEUS CONCEITOS 21 4.5. A IDENTIFICAÇÃO DO FUNDO 23 5. DIAGNÓSTICO DE ARQUIVO 26 6. AS COMISSÕES DE AVALIAÇÃO DE DOCUMENTOS DE ARQUIVO 30 6.1 AVALIAÇÃO DOCUMENTAL 30 6.2 OBJETIVOS E BENEFÍCIOS DA AVALIAÇÃO DOCUMENTAL 30 6.3 REUNIÕES COM TODOS OS AGENTES ENVOLVIDOS 31 6.4 PROGRAMAÇÃO DAS ATIVIDADES 31 6.5 INSTRUMENTOS DE DESTINAÇÃO 32 7. ANÁLISE DOCUMENTAL: ELEMENTOS CARACTERÍSTICOS 34 7.1 TIPOLOGIAS DOCUMENTAIS 35 8. INTRODUÇÃO GERAL À CLASSIFICAÇÃO 39 8.1 DEFINIÇÃO TÉORICA DO CONCEITO DE CLASSIFICAÇÃO 42 8.2 DEFINIÇÃO OPERACIONAL DA CLASSIFICAÇÃO 43 8.3 MÉTODO FUNCIONAL, ESTRUTURAL OU “POR ASSUNTO” 44 8.4 CLASSIFICAÇÃO OU ARRANJO? 46 8.5 OBJETIVO DA CLASSIFICAÇÃO 47 8.6 BENEFÍCIOS DA CLASSIFICAÇÃO 48 3 9. A ORDENAÇÃO 49 9.1 AS DIVERSAS FORMAS DE ORDENAÇÃO 49 9.2 CLASSIFICAÇÃO E ORDENAÇÃO NOS ARQUIVOS CORRENTES: RELAÇÕES COM O PROTOCOLO E A EXPEDIÇÃO DE DOCUMENTOS 50 9.3 O UNIVERSO DOS DOCUMENTOS A SEREM CLASSIFICADOS E ORDENADOS NOS ARQUIVOS CORRENTES p. 33) 51 9.4 OS ARQUIVOS PERMANENTES E SUAS RELAÇÕES COM OS ARQUIVOS CORRENTES E INTERMEDIÁRIOS 51 9.5 O UNIVERSO DOS DOCUMENTOS A SEREM CLASSIFICADOS E ORDENADOS NOS ARQUIVOS PERMANENTES 52 9.6 É POSSÍVEL CLASSIFICAR SEM ORDENAR? 52 9.7 É POSSÍVEL ORDENAR SEM CLASSIFICAR? 53 10. PLANO DE CLASSIFICAÇÃO 54 11. MÉTODOS DE ARQUIVAMENTO 56 11.1 MÉTODO BÁSICOS 56 11.2 MÉTODOS PADRONIZADOS 62 12. OPERAÇÃO DE ARQUIVAMENTO 63 12.1 PASSOS PARA O ARQUIVAMENTO 64 12.2 ROTINAS 65 12.3 EMPRÉSTIMO E CONSULTA 66 REFERENCIAS 67 4 5 1. ARQUIVO 1.1 O CONCEITO DE ARQUIVO É consenso entre os autores que só podemos falar em arquivo quando o homem passou a produzir registros escritos de seus atos, sentimentos e conhecimentos. A memória individual e coletiva passava a ser materializada. Luciana Duranti cita Sócrates (Platão), quando ele conta como a divindade que inventou a escrita foi repreendida por Tamuz (rei do Egito), para demonstrar o significado dessa nova invenção humana: (SOUZA, 2008, p.95) Se os homens aprenderem isto, estará implantado o esquecimento em suas almas: eles deixarão de exercitar a memória porque confiarão no que está escrito e chamarão as coisas à lembrança não mais de dentro de si, mas por meio de marcas externas; o que descobriste é um remédio não para a memória, mas para a lembrança (PLATÃO apud DURANTI, 1994, p. 50). (SOUZA, 2008, p.9596) O Significado da palavra arquivo, entretanto, só foi aparecer muito tempo depois entre os gregos nos séculos III ou II a.C. “Archeion” era utilizado por aquele povo para designar o palácio do governo, enquanto a palavra arch significava comando, poder, autoridade. Mas é com o sentido de conjunto de documentos que o termo grego será transmitido, posteriormente, aos romanos sob a forma de archivum. (SOUZA, 2008, p. 97) O papel de prova é, também, um traço que pode ser percebido desde os primeiros momentos da história dos arquivos e durante toda a sua trajetória. Os gregos identificavam a autenticidade dos documentos a partir do local onde eles eram guardados (archeion), a tradição observada na Roma Antiga, onde os juristas destacavam o local como relevante para conferir a fé pública aos documentos. Na Idade Média, os diplomas e as cartas eram utilizados para a defesa dos direitos e privilégios da nobreza. E, até hoje, os documentos de arquivo servem para a garantia de direitos e deveres das pessoas e das instituições, mas agora intimamente relacionados com o conceito de cidadania. (SOUZA, 2008, p. 97) Lodolini (1993,p.67) esclarece que o lugar da custódia e a presença de um “responsável”, revestido de fé pública, eram condições para existência do arquivo. (SOUZA, 2008, p.97). É por isso que o cargo de “arquivista”, nos tempos antigos, sempre foi considerado como um cargo de alto nível, próximo 6 da autoridade maior. O uso dos arquivos foi protegido contra toda a indiscrição e contra toda curiosidade hostil. (SOUZA, 2008, p. 98) Mas outras áreas do conhecimento humano também são usuárias das informações contidas nos arquivos para suas pesquisas e investigações. (SOUZA, 2008, p.98) O reconhecimento da importância dos documentos para a sociedade foi uma conquista da Revolução Francesa, que gerou importantes realizações no campo arquivístico: criação de uma administração nacional e independente dos arquivos; proclamação do principio de acesso do público aos arquivos; reconhecimento da responsabilidade do Estado pela conservação dos documentos de valor do passado (DUCHEIN,1983). (SOUZA, 2008, p.99) Atualmente, o conceito de arquivo, difundido nos manuais arquivísticos elaborados em todo o mundo e nos textos legais de vários países, aparece vinculado à noção de cidadania, ao direito à informação, ao apoio à administração, à cultura, ao desenvolvimento científico, e, ainda, como elemento de prova. É o caso brasileiro, por exemplo, em sua “lei dos Arquivos”, a Lei n. 8.159, de 8 de janeiro de 1991. (SOUZA, 2008, p. 100) O Manual de Arranjo e Descrição dos arquivistas holandeses, de 1898, é, sem dúvida, o primeiro trabalho a sistematizar o conceito de arquivo. Entendido como o “conjunto de documentos escritos, desenhos e material impresso recebido ou produzido oficialmente por determinado órgão administrativo ou por um de seus funcionários, na medida em que tais documentos se destinavam a permanecer na custódia desse órgão ou funcionário”. (ASSOCIAÇÃO DOS ARQUIVISTIAS HOLANDESES, 1973, p. 13). (SOUZA, 2008, p. 100) O Arquivista inglês Hilary Jenkinson definiu, em seu manual, arquivo como os “(...) documentos produzidos ou usados no curso de um ato administrativo ouexecutivo (público ou privado) de que são parte constituinte e, subsequentemente, preservados sob a custódia da pessoa ou pessoas responsáveis por aquele ato e por seus legítimos sucessores para sua própria informação” (JENKINSON apud SCHELLEMBERG, 1973, p.1415). (SOUZA, 2008, p.101) O arquivista italiano Eugenio Casanova, em seu manual Archivística, entendia o arquivo como “a acumulação ordenada de documentos criados por uma instituição ou pessoa no curso de sua atividade e preservados para a 7 consecução de seus objetivos políticos, legais e culturais, pela referida instituição ou pessoa”. (CASANOVA apud SCHELLEMBERG, 1973, p.15). Enquanto o alemão Adolf Brenneke o definiu como o “conjunto de papéis e documentos que promanam de atividades legais ou de negócios de uma pessoas física ou jurídica e se destinam à conservação permanente em determinado lugar como fonte e testemunho do passado”. (BRENNEKE apud SCHELLEMBERG, 1973, p.15) (SOUZA, 2008, p. 101). A partir desses três elementos e da influência dos autores citados anteriormente, Schellenberg elabora sua própria concepção de arquivo: são os documentos de qualquer instituição pública ou privada que hajam sido considerados de valor, merecendo preservação permanente para fins de referencia e de pesquisa e que hajam sido depositados ou selecionados para depósito, num arquivo de custódia permanente”. (SCHELLEMBERG, 1973, p. 19) p. (SOUZA, 2008, p.102) 1.2 ARQUIVOS CORRENTES Onde são guardados os documentos de uso frequente e aqueles em que o ato administrativo ainda não terminou (PAES, 2004, p.111) Os arquivos são constituídos de documentos em curso ou frequentemente consultados como ponto de partida ou prosseguimento de planos, para fins de controle, para tomada de decisões das administrações, etc. (PAES, 2004, p. 54) 1.3 ARQUIVOS INTERMEDIÁRIOS (PAES, 2004, p. 115) Onde são guardados os documentos de menor frequência e uso e que aguardem destinação final. (PAES, 2004, p.111) A principal vantagem desse sistema é a economia considerável de espaço e de recursos material e humano. (PAES, 2004, p.118) O arquivo intermediário assim concebido tem a dupla vantagem de centralizar e de administrar os documentos que perderam sua utilidade corrente para as administrações. Ele evite a eliminação descontrolada e permite uma verdadeira política de conservação dos arquivos. (PAES, 2004, p.118) 8 O arquivo intermediário deverá ser subordinado técnica e administrativamente ao arquivo permanente, a fim de evitar proliferação de depósitos e manter uniforme a política arquivística. Para isso deve ser dirigido por profissionais de arquivo de alto nível, conhecedores dos métodos tradicionais de classificação e elaboração de instrumentos de pesquisa. (PAES, 2004, p.119) 1.4 ARQUIVOS PERMANENTES Onde são guardados os documentos cuja frequência de uso é esporádica e que são conservados em razão de seu valor histórico, probatório ou informativo. (PAES, 2004, 111) 1.5 TRANSFERÊNCIA, RECOLHIMENTO Denominase transferência a passagem dos documentos dos arquivos correntes para os intermediários. Quando a transferência é feita para os arquivos permanentes recebe a denominação recolhimento. (PAES, 2004, p.111) A transferência e o recolhimento são feitos, pois, em razão da frequência de uso e não do valor do documento. Assim, corrente, intermediário e permanente são gradações de frequência de uso e não de valor de documento, embora seja recomendável a pratica da avaliação e seleção nessa oportunidade. (PAES, 2004, p.111) A transferência dos documentos do arquivo corrente para o intermediário e o recolhimento para o permanente objetivam racionalizar os trabalhos – facilita o arquivamento e a localização de documentos, pois libera espaço e economiza recursos materiais. A transferência e o recolhimento de documentos requerem planejamento cuidadoso, com vistas à escolha de método econômico e eficiente. (PAES, 2004, p. 111) Ao se efetuar a transferência ou recolhimento, é recomendável procederse a uma revisão nas pastas para certificarse da não existência de falhas de ordenação ou classificação. Normalmente é nessa ocasião que se promove a desinfestação e a restauração dos documentos. (PAES, 2004, p. 115) 9 2. DOCUMENTO 2.1 MAS, AFINAL, O QUE É UM DOCUMENTO? (GONÇALVES, 1998, p. 16) No senso comum, o documento costuma ser entendido como tudo aquilo que possa, registrar (e atestar) o cumprimento de deveres do indivíduo, enquanto cidadão, ou mesmo servir como garantia de direitos; e, em geral, “documento” também costuma estar identificado a “documento escrito” (GONÇALVES, 1998, p. 16). Para um historiador, praticamente tudo poderá vir a ser considerado “documento”, desde que forneça informação sobre algum problema sujeito à investigação histórica (GONÇALVES, 1998, p. 17). Em Arquivística, a discussão em torno dos valores primários a secundários da documentação está intimamente associada à questão da avaliação de documentos isto é, da determinação de valores (sejam eles administrativos, jurídico legais ou históricoculturais) que permitam estabelecer a destinação ser dada a ales (eliminação, guarda temporária ou guarda permanente). Os valores primários são também chamados de valores imediatos, e os valores secundários,mediatos (GONÇALVES, 1998, p. 17). E, assim, cruzando reflexões historiográficas e inovações tecnológicas, poderemos compreender melhor a tendência de os “profissionais dos documentos” (arquivistas, museólogos, bibliotecários e documentalistas em geral) adotarem uma definição de “documento” que contemple toda esta diversidade entendendoo, muito simplesmente, como todo registro material de informação (GONÇALVES, 1998, p. 18). No entanto, é preciso salientar que, ao menos no caso dos documentos de arquivo, um destes elementos é ainda mais determinante na organização da documentação: o contexto de produção, ou seja, as circunstâncias que fizeram com que o documento existisse e tivesse um suporte, uma forma e um formato específicos, configurando um determinado tipo documental (GONÇALVES, 1998, p. 20). O documento de arquivo é, assim, o documento que um determinado organismo seja ele pessoa física ou jurídica produz no exercício de suas funções e atividades (“produção” que pode significar tanto a elaboração do10 documento pelo próprio organismo, como a recepção e guarda) (GONÇALVES, 1998, p. 20) A localização e a consulta destas fontes de informação devem, em princípio, resultar na reunião substancial de dados que, sistematizados permitirão compreender o contexto geral de produção dos documentos. (GONÇALVES, 1998, p. 21 Na sistematização dos dados levantados, será importante, para a organização dos documentos de arquivo, detectar com clareza as funções primordiais assumidas pelo organismo produtor. O conjunto de funções detectadas envolverá necessariamente, atividades que deve cumprir de forma direta (atividadesfim), bem como atividades que lhe servem como suporte (atividadesmeio). (GONÇALVES, 1998, p. 21 A AtividadeMeio é a ação, encargo ou serviço que um órgão leva a efeito para auxiliar e viabilizar o desempenho de suas atribuições específicas e que resulta na produção e acumulação de documentos comuns nos vários órgãos e entidades, documentos estes de caráter instrumental e acessório. No caso da Administração Paulista, foram identificadas as seguintes funções que agrupam as atividadesmeio: 1. Organização administrativa; 2. Comunicação institucional; 3.Gestão de recursos humanos; 4. Gestão de bens materiais e patrimoniais; 5. Gestão orçamentária e financeira; 6. Gestão de documentos e informações; 7. Gestão de atividades complementares. (BERNARDES, DELATORRE, 2008, p.16) A AtividadeFim é a ação, encargo ou serviço que um órgão leva a efeito para o efetivo desempenho de suas atribuições específicas e que resulta na produção e acumulação de documentos típicos, de caráter substantivo e essencial para o seu funcionamento. Exemplos de funções que agrupam as atividadesfim: Cultura, Educação, Meio Ambiente, Saúde, Segurança Pública, Prestação de Serviços (médico, odontológico, consultoria, consertos...), (BERNARDES, DELATORRE, 2008, p.16) Grosso modo, uma escola terá como função primordial servir como espaço de exercício de práticas pedagógicas que permitam o ensinoaprendizagem. Já 11 uma livraria terá como função primordial o comércio de publicações (especialmente, livros e revistas). (GONÇALVES, 1998, p. 2122) Embora as funções primordiais de ambas sejam distintas e, igualmente, suas atividadesfim, é muito provável que existam atividadesmeio semelhantes (controle de finanças, controle de materiais, manutenção das instalações físicas, contratação de pessoal etc.). (GONÇALVES, 1998, p. 22) Definir atividadesfim e atividadesmeio e relacionálas a funções mais abrangentes já significa reunir elementos para a classificação dos documentos. A reunião lógica de funções e atividades, com a percepção de sua maior ou menor autonomia ou subordinação interna, permitirá a elaboração do plano de classificação. (GONÇALVES, 1998, p. 22) 2.2 APROFUNDANDO O CONCEITO DE DOCUMENTO ARQUIVÍSTICO Independente da tradição e das escolas de pensamento, o arquivo é entendido sempre como um conjunto de documentos. E documento é, de acordo com o Conselho Internacional de Arquivos, um “conjunto constituído por um suporte e pela informação que ele contém”. (SOUZA, 2008, p. 106) O arquivo, durante muitos anos, tem sido visto como fonte para a administração, para a história, para o direito, para a cultura e para a informação. A razão pela qual ele serviu a tão variadas finalidades é entendida por Luciana Duranti a partir do fato de que os materiais arquivísticos, ou melhor, os registros documentais representam um tipo de conhecimento único: produzido ou recebido durante as atividades pessoais ou institucionais. Os documentos são os instrumentos e subprodutos e as provas fundamentais para conclusões e inferências sobre aquelas atividades. E a capacidade que ele tem de registrar e preservar as ações e aos atos dos seus criadores é dada pela relação visceral que existe entre os documentos e a atividade da qual eles resultam. (DURANTI, 1994, p. 5051). (SOUZA, 2008, p. 106107 Duranti (1994, p.5153) privilegiando o caráter contextual do documento arquivístico, aponta as características desse tipo de material. São elas: 1) a imparcialidade: os documentos são inerentemente verdadeiros. 12 2) a autenticidade: os documentos são autênticos porque são criados, mantidos e conservados sob custódia de acordo com procedimentos regulares que podem ser comprovados. 3) a naturalidade: os documentos de arquivos surgem de acordo com o curso dos atos e ações de uma administração. 4) o interrelacionamento: o documento tomado na sua individualidade, não é um testemunho completo dos atos e ações que o geraram, mas é na relação que ele estabelece com outros documentos e com a atividade da qual é resultado que lhe é dado significado e capacidade comprovatória. p.107 MartinPozuelo Campillos, a partir das características de unicidade, integridade e autenticidade defendidas por Vicenta Cortés, propõe cinco traços diferenciadores do documento de arquivo: p.108 1) o contexto em que é criado. 2) sua unicidade 3) sua autenticidade p. 108 4) sua heterogeneidade de seu conteúdo e a multiplicidade da informação nele contida. p.109 5) a necessidade de que cada uma das características esteja sempre presente. A ausência de uma das características invalida o resto. (SOUZA, 2008, p. 109 A partir da década de 1980, a consolidação da microinformática fez aparecer e tornar extremamente comum nas organizações um novo tipo de documento arquivístico: o eletrônico. Não é simplesmente um novo suporte para o registro de informações originadas das funções e atividades das instituições; ele tem características próprias, que impõem a definição de modos específicos de crialo, classificalo, avalialo, descrevêlo e de testar sua autenticidade. (SOUZA, 2008, p.81) A heterogeneidade de seu conteúdo e a multiplicidade da informação também são abordados e destacadas por Miguel Angel Esteban Navarro. Para ele, o documento de arquivo é um tipo concreto capaz de conter toda classe de informação em qualquer tipo de suporte material e mediante as mais variadas formas de representação. (ESTEBAN NAVARRO, 1995, p. 69) (SOUZA, 2008, p. 109 13 Dessa forma, ele (o documento) é, ao mesmo tempo, resultado e prova, testemunho dessa atividade. Lopez resume, de forma muito clara, a contextualização. Para ele: O contexto de produção ligase às condições institucionais sob as quaiso documento foi produzido, para tanto, é preciso indicar: quem o criou, onde e quando isso se deu, porque foi produzido (quais foram as etapas e trâmites necessários). A compreensão desse contexto é fundamental para que se possa perceber os motivos responsáveis pelo arquivamento, isto é, o que o documento pretende provar. (LOPEZ, 2000, p.82). p. 109 É o contexto de produção que permitirá a compreensão da informação contida no documento de arquivo (SOUZA, 2008, p. 110). Belloto (2002, p. 11) defende a análise ou critica diplomática das espécies documentais e o estudo das diferentes tipologias para se ter um entendimento sobre a estrutura e natureza dos documentos arquivísticos. Explica a autora: As análises diplomática e tipológica são aplicações práticas dos estudos teóricos e metodológicos da Diplomática e da Tipologia Documental (...) que se concentram, respectivamente, no estudo formal do documento diplomático, quando considerado individualmente, e no estudo de suas relações com o contexto orgânico de sua produção e de atuação dos enunciados do seu conteúdo, quando considerados dentro dos conjuntos lógicos denominados séries arquivísticas. p. 110 O tipo documental, segundo Belloto, é a configuração que assume a espécie documental de acordo com a atividade que ela representa. A fórmula é: um substantivo (espécie) e uma locução adjetiva (função). Por exemplo: relatório de atividades; plano de ação; projeto de pesquisa etc. (SOUZA, 2008, p. 111. A Arquivística funda a sua razão de ser na simples existência de informação social materializada em suportes físicos e implicadas numa dinâmica, também ela eminentemente social, de comunicação. As informações arquivísticas são, também, extensões do pensamento e da ação humana e social, contendo uma margem variável de imprecisão e de representação subjetiva. (SILVA et al, 1999, p. 37) (SOUZA, 2008, p. 111 Portanto, a metodologia para a classificação de documentos arquivísticos deve assentarse nesses traços e características que distinguem o objeto, não no seu formato (suporte) e nem na multiplicidade do conteúdo informacional (matéria ou assunto) que eles carregam. A partir da apropriação dos pressupostos da Teoria da Classificação, entendemos que os princípios de divisão do conjunto (arquivo) devem ser procurados na própria gênese 14 documental, no processo de criação, nas relações estabelecidas e na reprodução das conexões originais. (SOUZA, 2008, p. 114. 15 3. GESTÃO DOCUMENTAL 3.1 DEFINIÇÃO Entendemos a organização dos documentos de arquivo como parte da função social do arquivista. Organizamos para possibilitar o acesso rápido, seguro e eficiente à informação. Em um primeiro momento, para a tomada segura de decisão, para comprovação, para a garantia de direitos e deveres da instituição ou de pessoas, para um estudo retrospectivo, para manutenção de um estoque informacional que possa servir de ponto de partida para novas atividades e, depois, para preservação do capital informacional, que permitirá um uso além das fronteiras da criação do próprio documento. (SOUZA, 2008, p.159) O principio da proveniência em seus dois graus ou desdobramentos (respeito aos fundos e ordem original) ainda é a base de todo trabalho de classificação em arquivos. E é, também, o nosso ponto de partida, o nosso marco zero. (SOUZA, 2008, p.161) Considerase gestão de documentos o conjunto de procedimentos e operações técnicas referentes à sua produção, tramitação, uso, avaliação e arquivamento em fase corrente e intermediária, visando a sua eliminação ou recolhimento para guarda permanente” (lei federal n. 8159, de 811991) (PAES, 2004, p. 53) A gestão (documental) cobre todo o ciclo da existência dos documentos desde sua produção até serem eliminados ou recolhidos para arquivamento permanente, ou seja, tratase de todas as atividades inerentes às idades corrente e intermediária. (p. 35) A função da gestão de documentos e arquivos nos sistemas nacionais de informação, segundo o qual um programa geral de gestão de documentos, para alcançar economia e eficácia, envolve as seguintes fases: (JARDIM, 1987, p.36) produção: concepção e gestão de formulários, preparação e gestão de correspondência, gestão de informes e diretrizes, fomento de sistemas de gestão da informação e aplicação de tecnologias modernas e esses processos; (JARDIM, 1987, p.36) Referese á elaboração dos documentos em decorrência das atividades de um órgão ou setor. Nesta fase, o arquivista deve contribuir para que sejam criados 16 apenas documentos essenciais à administração da instituição e evitadas duplicação e emissão de vias desnecessárias; (PAES, 2004, p. 54) utilização e conservação: criação e melhoramento dos sistemas de arquivos e de recuperação de dados, gestão de correio e telecomunicações, seleção e uso de equipamento reprográfico, análise de sistemas, produção e manutenção de programas de documentos vitais e uso da automação e reprografia nestes processos; (JARDIM, 1987, p.36) Esta fase inclui as atividades de protocolo, de expedição, de organização e arquivamento de documentos em fase corrente e intermediária. (PAES, 2004, p. 54) destinação: a identificação e descrição das séries documentais, estabelecimento de programas de avaliação e destinação dos documentos, arquivamento intermediário, eliminação e recolhimento dos documentos de valor permanente às instituições arquivísticas. (JARDIM, 1987, p.36) Esta talvez seja a mais complexa das três fases da gestão de documentos, se desenvolve mediante a análise e avaliação de documentos acumulados nos arquivos, com vista a estabelecer seus prazos de guarda, determinando quais serão objetos de arquivamento permanente e quais deverão ser eliminados por terem perdido seu valor de prova e de informação para a instituição. (PAES, 2004, p. 54) Alguns documentos tem valor temporário e outros têm valor permanente e jamais deverão ser eliminados. Há documentos que frequentemente são usados como referencia, há outros aos quais se faz referencia com menos frequência ou quase não são usados e ainda existem aqueles que, após a conclusão do assunto, não sofrem nenhum uso ou referencia. (PAES, 2004, p. 104) Devidos a essas diferenças relativas ao valor e a frequência de uso dos documentos, a avaliação,a seleção, a eliminação de documentos devem ser cuidadosamente estudadas, planejadas e implantadas. (PAES, 2004, p. 105) 3.2 O VALOR DO DOCUMENTO O valor do documento é determinado em função de todas as suas possíveis finalidades e também do tempo de vigência dessas finalidades. Em relação ao seu valor, os documentos podem ser: 17 Permanentes vitais – Aqueles que devem ser conservados indefinidamente por serem de importância vital para a organização. Permanentes os que, pela informação que contêm, devem ser conservados indefinidamente. Temporários – quando se pode determinar um prazo ou determinada data em que cessa o valor do documento. (PAES, 2004, p. 105) Há que se proceder criteriosamente, estabelecendo prazos sim, mas baseados nos valores atribuídos aos diversos documentos, de acordo com o seu conteúdo, com as informações neles contidas e jamais em razão da espécie documental ou apresentação física. (PAES, 2004, p. 105) 3.3 NÍVEIS DE APLICAÇÃO Segundo a Unesco, conforme o trabalho de James Rhoads, há quatro níveis de aplicação de programas de gestão de documentos: (JARDIM, 1987, p.38) nível mínimo estabelece que o governo deve contar, ao menos, com programas de retenção e eliminação de documentos e procedimentos para recolhimentos ao arquivo nacional de valor permanente; (JARDIM, 1987, p.39) nível mínimo ampliado complementa o primeiro, com a existência de um ou mais centros de arquivamento intermediário; nível intermediário compreende os dois primeiros, bem como a adoção de programas básicos que consistem geralmente, em elaboração e gestão de formulários, elaboração de sistemas de arquivos correntes, gestão de correspondência e documentos vitais, etc. o nível máximo inclui todas as atividades já descritas, complementadas por gestão de diretrizes administrativas, de correspondência e telecomunicações, de máquinas copiadoras, uso de recursos de automação etc. (JARDIM, 1987, p.39) Ao fazer gestão documental não estamos nos preocupando somente em atender aos interesses imediatos do organismo produtor, de seus clientes ou usuários, mas estamos nos assegurando que os documentos indispensáveis à 18 reconstituição do passado sejam definitivamente preservados. Aliado ao direito à informação está o direito à memória. (BERNARDES, DELATORRE, 2008, p.7) 19 3.4 BENEFÍCIOS DA GESTÃO § A aplicação dos instrumentos de gestão na produção atual permite que o documento seja classificado no momento de sua produção, com seus prazos de guarda, destinação e localização física definidos, interrompendo o acúmulo desordenado de documentos nos arquivos. § A aplicação dos instrumentos de gestão na massa documental acumulada permitirá a eliminação critérios a e consequente liberação de espaço físico, garantindo assim uma melhor conservação dos documentos de guarda permanente. (BERNARDES, DELATORRE, 2008, p. 49) Nesse sentido, os responsáveis pela implementação de programas de gestão documental devem demonstrar não apenas que a organização precisa produzir e/ou consolidar um conhecimento sobre sua produção documental, o que envolveria uma área técnica a arquivística, mas também que a integração dos protocolos com os arquivos fazse cada vez mais necessária e que a informática apresentase neste trabalho como uma ferramenta da gestão arquivística de documentos e informações. (BERNARDES, DELATORRE, 2008, p. 50) 20 4. CONHECENDO O SUJEITO CRIADOR DE ARQUIVO 4.1 A ORGANIZAÇÃO E SUA DIMENSÃO HISTÓRICA Parece evidente, por tudo que foi mencionado até agora, a íntima relação entre a organização do arquivo e a história institucional do criador. López Gómez (1994) fala dessa conexão e como uma (a investigação arquivística) leva até a outra (história institucional) inexoravelmente. O arquivista é, para o autor espanhol, um investigador por ofício, não um investigador de qualquer tema, mas das instituições cujos documentos tem sob sua custódia. (SOUZA, 2008, p.140) A literatura pesquisada aponta duas propostas sobre os procedimentos metodológicos para o conhecimento do sujeito criador de arquivo: uma feita por um Grupo de Pesquisa do Arquivo nacional e outra que aparece em um artigo elaborado por Viviane Tessitore, que propõe o universo teóricometodológico da história administrativa instrumental. As duas não são excludentes, muito pelo contrário, elas se complementam. (SOUZA, 2008, p. 141). Tessitore (1996) propõe, concretamente, o uso dos procedimentos metodológicos da história administrativa instrumental. Essa pesquisa histórica de natureza instrumental trabalha com dados qualitativos para chegar à descrição, que “é o resultado da comparação entre fontes diversas e de uma visão crítica delas”. A autora complementa: (SOUZA, 2008, p. 142) sem perder de vista a perspectiva global da área com a qual está trabalhando, valoriza o detalhe e o detalhe preciso, na medida em que, enquanto contexto norteador para a organização e uso dos documentos, enquanto referencia para o desenvolvimento de outras pesquisas, cumprelhe informar sobre datas de criação e extinção de órgãos e funções, sobre mudanças de subordinação, de denominação, de alterações na produção documental etc. (TESSITORE, 1996, p.41) p. 142 Essa primeira abordagem, da dimensão histórica do criador, deve revelar os detalhes da trajetória da instituição. As datas, nesse caso, são muito importantes, pois elas demarcam mudanças e alterações na estrutura e funcionamento. Registrar, também, a evolução da estrutura administrativa com as respectivas atribuições é uma atividade muito importante e necessária. (SOUZA, 2008, p. 144 21 Podemos sintetizar as informações a serem coletadas e analisadas nesse primeiro momento da seguinte forma: ● criação da organização – instrumento legal de criação, data e denominações; ● missão da organização – o objetivo principal ou finalidade. Registrar as alterações quando existirem; ● vinculações administrativas e políticas – localizar a organização dentro de uma estrutura administrativa maior, esclarecendo o tipo de relação existente, inclusive política; ● estrutura organizacional – a forma de estruturação na organização no tempo. reprodução ou elaboração dos organogramas com as atribuições das respectivas unidades organizacionais e possíveis alterações. Criação e extinção das unidades organizacionais e de suas denominações;● funções da organização; ● principais dirigentes que podem ser objeto de entrevistas ● contexto em que se insere a organização – o contexto políticoadministrativo, social e econômico, no limite dos objetivos estabelecidos para a pesquisa; ● extinção da organização (se for ocaso) – data e instrumento legal, as razões da extinção (reforma administrativa, extinção das funções etc). (SOUZA, 2008, p. 144) 4.2 A ORGANIZAÇÃO NA SUA INDIVIDUALIDADE: A MISSÃO, A ESTRUTURA, AS FUNÇÕES, AS ATIVIDADES E OS PROCEDIMENTOS FORMAIS E INFORMAIS. As informações necessárias ao conhecimento das funções, atividades e tarefas de uma organização nem sempre estão sistematizadas. Na verdade, a maioria delas faz parte de conhecimento tácito, ou seja, está na memória dos funcionários. As funções, geralmente, podem ser identificadas nos documentos constitutivos (contrato social, estatuto social, regimento interno, regulamento geral, decreto de criação etc), mas as atividades nem sempre estão registradas, apesar de que em algumas instituições podem ser encontradas nos documentos de direção (organograma, plano de ação, plano estratégico etc). Cabe, portanto, ao arquivista, enquanto pesquisador, lançar mão de um ferramental para buscar essas informações vitais para a compreensão da gênese documental. (SOUZA, 2008, p. 145) Cury (2000, p.273) propõe a análise administrativa como instrumento dinâmico para efetuar diagnósticos situacionais das causas e estudar soluções integradas para problemas administrativos, envolvendo a responsabilidade 22 básica de planejar as mudanças, aperfeiçoando o clima e a estrutura organizacionais, assim como os processos e os métodos de trabalho. (SOUZA, 2008, p. 145) O autor desdobra a análise administrativa em dois momentos: diagnóstico das causas, que busca identificar não só o clima e a estrutura da organização, mas também seus métodos e processos de trabalho; intervenção planejada, que é o estudo das soluções. (SOUZA, 2008, P. 145146) O levantamento propriamente dito é realizado a partir dos seguintes métodos de pesquisa: revisão da literatura; aplicação de questionários; realização de entrevistas; observação pessoal. (SOUZA, 2008, p. 146) A entrevista é um método de pesquisa muito importante, pois ela permite se bem planejada e conduzida, obter informações que fazem parte do conhecimento tácito das organizações, ou seja, aquele que está na memória dos funcionários. É importante ressalvar que as atividades e tarefas, diferentemente das funções, nem sempre estão registradas em um documento. (SOUZA, 2008, p. 147) A partir desses métodos podemos propor uma estratégia de levantamento dos dados. Ela consiste em: ● identificar a missão da organização por meio dos documentos constitutivos e de direção; ● estudar a estrutura organizacional a partir do organograma ● tomar as unidades organizacionais como ponto de partida nas intervenções, isto é, vincular as funções e atividades sempre a uma unidade organizacional ● localizar a unidade organizacional dentro das categorias de atividadesmeio e atividadesfim; ● identificar as atribuições de cada unidade organizacional e, quando necessário, graduar as atribuições. Verificar a complementaridade e similaridade entre as atribuições das unidades organizacionais; ● definir as atividades de cada atribuição da unidade organizacional a partir dos métodos de pesquisa; ● verificar a existência de documentos normativos sobre a atividade. Por exemplo, instruções de serviço, manuais de procedimentos etc. ● identificar e entrevistar os funcionários responsáveis por cada atividade; ● identificar as tarefas de cada atividade a partir do método de pesquisa ● identificar os tipos documentais acumulados a partir da execução da tarefa ● Verificar os métodos de ordenação dos tipos documentais ● validar com os dirigentes das unidades organizacionais as informações obtidas; 23 ● trabalhar somente com casos reais, ou seja, com o que é feito e não com o que se pretende fazer; p. 148 ● utilizar, se possível, um fluxograma para mostrar claramente as etapas de produção dos tipos documentais; ● assegurar que as respostas recebidas dos diferentes empregados concordem com o fluxo geral do trabalho; em caso de dúvida ou omissão, devese lançar mão da observação pessoal. (SOUZA, 2008, p. 149) Podemos, então, indicar um modelo para a análise das funções, atividades e tarefas de uma organização. 1 – contextualização – denominação (nome e sigla), localização, área de atuação, criação, vinculação administrativa e política; 2 – estrutura organizacional – organograma, atribuições, unidades organizacionais da atividademeio e da atividadefim, alterações e modificações; 3 – unidade organizacional – denominação (nome e sigla), localização, responsáveis, vinculação hierárquica (política, administrativa e funcional) e as atribuições; 4 – atribuição – descrição das atividades que compõe a atribuição 5 – atividade – descrição das tarefas que compõe a atividade 6 – tarefa – identificação dos tipos documentais que podem ser resultado das tarefas executadas. Nem todas as tarefas produzem ou recebem, necessariamente, documentos. (SOUZA, 2008, p. 149) 4.3 EM BUSCA DE UM INSTRUMENTAL TEÓRICOMETODOLÓGICO (SOUZA, 2008, P. 133) A literatura aponta, de forma descritiva, as informações necessárias para a organização dos documentos de um fundo de arquivo. Tratase, comumente, da identificação das atividades a serem realizadas, quase nunca de procedimentos metodológicos. De acordo com Belloto (2004, p,141142), essas atividades são as seguintes. (SOUZA, 2008, p. 134) 1 – Levantamento da evolução institucional da entidade produtora dos documentos. 2 – Prospecção arqueológica da documentação – perceber os papeis pertencentes ou não ao fundo, e identificar os “vazios”, lacunas e desfalques de documentação. 24 3 – Estudo institucional das entidades produtoras do material detectado. (SOUZA, 2008, p.135) Podemos afirmar, com segurança, que nessas três atividades apontadas por Belloto encontramse as informações necessárias para a definição do plano de classificação do fundo de arquivo. Escolhemos a proposta da autora por dois motivos: ela é uma síntese das principais indicações encontradas na literatura arquivística e agrega a necessidade de identificação das tipologias documentais. (SOUZA, 2008, p. 135) 4.4 O AMBIENTE ORGANIZACIONAL E SEUS CONCEITOS A razão da existência da organização é conhecida como missão, isto é, a finalidade mais ampla ou objetivomaior que engloba sua contribuição social, a partir das expectativas da sociedade. Ela, a missão, deve ser de conhecimento amplo, tanto interno como externamente. A literatura da área utiliza também os seguintes sinônimos: finalidade, função, propósito e objetivo principal. (SOUZA, 2008, p. 137) E o instrumento utilizado pela organização para atingir seus objetivos é conhecido como estrutura organizacional e decisões das unidades organizacionais de uma empresa (OLIVEIRA, 2007, p. 88). Um dos componentes principais da estrutura organizacional é a departamentalização, ou seja, o processo de institucionalização de unidades organizacionais quaisquer (departamentos, divisões, seções etc) por meio da divisão do trabalho geral em funções componentes, desde as principais às mais especializadas (CURY, 2000, p.183) p.137138 A representação gráfica da estrutura organizacional, que indica a forma como o poder administrativo é dividido, que delimita os níveis de autoridade e a linha de comando em seu sentido vertical, independe do modelo de departamentalização adotado, é conhecida na literatura como organograma. (SOUZA, 2008, p. 138) As unidades organizacionais são estabelecidas por meio das funções desempenhadas pela organização. O nível da unidade depende de sua importância em relação aos objetivos da organização ou do órgão de cuja estrutura interna participa; essa avaliação envolve a complexidade da função e o volume de trabalho. A parcela de poder/autoridade determinada pela 25 organização para a unidade organizacional específica, segundo sua natureza (funcional ou operativa), é conhecida como atribuição. (SOUZA, 2008, p. 138 Cada função pode dar origem a um departamento, divisão ou seção. Cury (2000. p.193) apresenta um exemplo de graduação da função: suprimento de material (departamento), aquisição de material (divisão) e compras nacionais, importações e diligenciamento de fornecedores (seções). (SOUZA, 2008, p. 138) Função, portanto, corresponde a uma agregação de atividades análogas, interdependentes, que se encadeiam num único campo especializado de trabalho, devendo, consequentemente, uma maior eficácia, ter o desenvolvimento alocado à unidade organizacional (CURY, 2000, p. 192193). Ela tem, geralmente, caráter duradouro e sem término previsto e provê o suporte para viabilização da missão da organização. A função indica “o que” é feito, sem detalhar “como” é feito. Um grupamento de atividades tornase uma função quando seu responsável tiver recebido delegação de autoridade sobre determinada área. A função é caracterizada pela noção de autoridade funcional que ela traz consigo, e não pela importância em si mesma do agrupamento de atividades (SIMERAY, 1997, p.11) (SOUZA, 2008, p. 138139) A atividade compreende um conjunto de tarefas/ações caracterizado pelo consumo de recursos e orientado para um objetivo definido, de caráter global. Em resumo, é um conjunto de procedimentos necessários para execução de uma função. É por meio do exercício de um determinado numero de atividades que uma unidade organizacional desempenha sua função. Por exemplo, a função de comprar decompõese, por hipótese, nas seguintes atividades: pesquisa de mercado, seleção de fornecedores, licitação, julgamento, adjunção, diligenciamento e pagamento dos fornecedores (CURY, 2000, p. 193). (SOUZA, 2008, p. 139) A tarefa é entendida como meio pelo qual se realiza cada atividade da unidade organizacional. Ela é uma sequencia de passos predeterminados, indispensáveis à identificação da continuidade operativa. Portanto, o exercício da atividade implica na execução de tarefas, que são a concretização da atividade a partir de um procedimento determinado. Por exemplo, atividade de licitação envolve tarefas de elaboração do edital, recebimento de propostas, efetivação do mapa comparativo de preços etc (CURY, 2000, p.193) (SOUZA, 2008, p.139) 26 Existem na organização duas categorias de funções: uma vinculada diretamente à missão e outra, indiretamente. A primeira categoria agrupa as funções específicas de cada organização e a segunda, os meios necessários para execução da primeira. Dessa forma, as funções específicas são conhecidas como atividadesfim e as funções de suporte, as atividadesmeio. Lembramos que estas unidades estão presentes em todas as organizações. São em geral, as funções de gestão financeira e orçamentaria, de gestão dos recursos materiais, dos recursos humanos e informacionais. (SOUZA, 2008, p. 139) Quanto aos procedimentos administrativos, Meirelles (2000, p.146) os define como “a sucessão ordenada de operações que propiciam a formação de um ato final objetivado pela Administração. É o iter legal a ser percorrido pelos agentes públicos para obtenção dos efeitos regulares de um ato administrativo principal”. (SOUZA, 2008, p. 140) Em síntese, uma organização é um sistema social criado a partir de uma missão. Para atingila, é necessário que ela possua um conjunto de meios materiais e organizacionais. Os meios materiais são as instalações, os equipamentos e os materiais. Os meios organizacionais são as regras de funcionamento definidas por um conjunto de textos (regulamentos, procedimentos etc.) e de esquemas (de implantação, de circulação, de estrutura etc). 4.5. A IDENTIFICAÇÃO DO FUNDO Os critérios formulados por Duchein (1986, p. 20) para a definição do organismo produtor de fundos de arquivos continuam válidos. São eles: (SOUZA, 2008, p. 123) ● para produzir um fundo de arquivos, no sentido atribuído ao termo pela Arquivística (isto é, um conjunto indivisível de arquivos), um organismo, seja público ou privado, deve assumir denominação e existência jurídica próprias, resultantes de um ato (lei, decreto, resolução etc.) preciso e datado; ● deve possuir atribuições especificas e estáveis, legitimadas por um texto dotado de valor legal ou regulamentar; 27 ● sua posição na hierarquia administrativa deve definida com exatidão pelo ato que lhe deu origem; em especial, sua subordinação a outro organismo de posição hierárquica mais elevada deve estar claramente estabelecida; ● deve ter um chefe responsável, em pleno gozo do poder decisório correspondente a seu nível hierárquico. Ou seja, capaz de tratar os assuntos de sua competência sem precisarsubmetêlos, automaticamente, à decisão de uma autoridade superior. Isto não significa, evidentemente, que ele deva gozar de poder de decisão em relação a todos os assuntos; certos assuntos importantes poder ser submetidos à decisão do escalão superior da hierarquia administrativa. Entretanto, para poder produzir um fundo de arquivos que seja próprio, um organismo deve gozar de poder decisório, pelo menos no que disser respeito a determinados assuntos; ● sua organização interna deve ser, na medida do possível, conhecida e fixada num organograma. (SOUZA, 2008, p. 124) Segundo Duchein (1986, p. 21), aplicação desses critérios acarreta as seguintes consequências: ● as divisões ou seções internas de um organismo não correspondem às condições requeridas para produzir um fundo de arquivos; ● em contrapartida, todo organismo que possuir existência jurídica e nível de competência próprios produz um fundo de arquivos, mesmo estando subordinado a outro organismo de nível superior; ● os órgãos locais dependentes de um organismo central produzem fundos de arquivos próprios; ● a introdução de uma hierarquia de fundos que corresponde à hierarquia dos organismos, acarretando a subordinação de fundos em relação a outros. (SOUZA, 2008, p. 124) A aplicação do conceito de fundo no Canadá representou o abandono do conceito anglosaxão de record group. Lá, a partir dos critérios estabelecidos por Michel Duchein e enriquecidos por um outro relativo à existência de um sistema de registro de dossies, de acordo com a proposta do arquivista australiano Peter Scott e de Terry Cook, foram definidos os elementos para a 28 identificação dos fundos do governo federal canadense, que são os seguintes: (SOUZA, 2008, p.127) ● uma identidade jurídica: o criador de documentos deve possuir sua própria denominação legal e ter uma existência jurídica própria, estabelecida por um texto legal (lei, decreto, etc); ● um mandato oficial: o criador de documentos deve ter um mandato importante claramente definido que deve igualmente ser enunciado em um documento jurídico ou regulamentar; (SOUZA, 2008, p.127) ● uma posição hierárquica definida: o local ocupado pelo criador dos documentos na hierarquia administrativa deve ser claramente estabelecido em uma lei ou um decreto, e suas relações com outros níveis superiores da hierarquia devem ser claramente definidas; (SOUZA, 2008, p.128) ● um vasto grau de autonomia: o criador de documentos deve possuir um órgão executivo que tenha o poder de tomar decisões independentes, de acordo como seu nível hierárquico. Esse ponto deve se refletir em uma legislação. Para ser considerado como independente, um organismo deve ter poder de controlar suas próprias finanças e seu orçamento; ● estrutura: o criador dos documentos deve possuir uma estrutura organizacional interna oficial; ● sistema de gestão dos documentos: o criador dos documentos deve possuir um sistema de gestão de documentos independente. (SOUZA, 2008, p. 128) Nesse momento é que surge o conceito de subfundo, que oferece uma alternativa para classificar e descrever, em um nível apropriado, os arquivos dessas organizações vinculadas a organismos maiores. E esse conceito é um desdobramento lógico daquele que a tradição anglosaxônica chamou de subgrupo, sem, contudo, precisar a natureza e a validade teórica. p. 128 Para serem reconhecidos como criadores de subfundo, os organismos governamentais devem respeitar seis dos oito critérios seguintes: um estatuto autônomo, uma alocação financeira não transferível, uma posição hierárquica específica, um nome oficial, um sistema de classificação distinto, uma individualidade funcional e operacional, uma continuidade estrutural e uma distinção geográfica. (SOUZA, 2008, p. 128129) A aplicação da proveniência, que se materializa na identificação do criador de arquivo, é de certa forma, bem explicada pelos critérios propostos por Michel Duchein (existência jurídica, posição na hierarquia administrativa, autoridade com poder de decisão e organização interna conhecida), por Peter Scott (existência de um sistema de arquivos) e pelos canadenses 9existencia de um orçamento próprio). (SOUZA, 2008, p. 130) 29 30 5. DIAGNÓSTICO DE ARQUIVO O diagnóstico é um método de intervenção aos problemas gerados pelas informações de caráter orgânico, produzidas por uma instituição e deve partir de uma visão minimalista, priorizando os estudos de problemas específicos, de casos particulares, para se chegar às questões mais gerais, segundo Lopes (1997). (CORNELSEN, Julce Mary. NELLI, 2006, p.75) Um roteiro de entrevista pode ser elaborado, com os resultados desse levantamento, composto dos seguintes campos de informação: identificação do órgão/setor visitado; atividades de protocolo e de arquivo corrente desenvolvidas e suas respectivas normas reguladoras; organização do acervo; instrumentos de pesquisa disponíveis; processos de transferência e eliminação e seus critérios reguladores; uso de tecnologias para recuperação da informação; microfilmagem e sua organização; quantificação, dataslimite e descrição dos documentos escritos; guarda de documentos especiais; descrição de material e mobiliário; e perfil das pessoas envolvidas com as atividades de protocolo e arquivo. (CORNELSEN, Julce Mary. NELLI, 2006, p.74) Um dos pontos de destaque de Lopes (1997), para o diagnóstico de arquivos, é o levantamento das atividades da organização e a relação dessas com o fluxo de informações. Outro ponto é a análise da situação dos acervos existentes. O autor argumenta ser indispensável a elaboração de projetos de intervenção aos problemas encontrados, logo após a conclusão do diagnóstico (CORNELSEN, Julce Mary. NELLI, 2006, p.76). O estudo e a comparação das propostas mencionadas permitem identificar as possíveis etapas que o arquivista deve percorrer para elaborar um diagnóstico de arquivo. (CORNELSEN, Julce Mary. NELLI, 2006, p.78) 1) Podese verificar que as propostas de Evans e Ketelaar (1983), Lopes (1997), Moneda Corrochano (1995) e Campos et al (1986) sugerem a identificação da organização como componente do diagnóstico. Essa etapa, para os autores, é denominada como “prédiagnóstico”, uma vez que é indispensável ao levantamento da situação arquivística de qualquer instituição, seja ela pública ou privada. 2) A pesquisaem legislação é indicada por Evans e Ketelaar (1983), Moneda Corrochano (1995), Rousseau e Couture (1998) e Campos et al (1986). Em organizações públicas, esse levantamento possibilita, entre outras coisas, 31 identificar as estruturas, funções e atividades, sendo que essas estão descritas em leis, resoluções e portarias. Recomendase ao arquivista, portanto, que realize a pesquisa em legislação federal, estadual e municipal sobre arquivística, contabilidade e direito entre outras, e em normas internacionais (ISO, CIA, por exemplo) e normas nacionais (Conselho Nacional de Arquivos – CONARQ). 3) A identificação da estrutura, das funções e das atividades subsidia o quadro preliminar de classificação proposto no programa de gestão da informação de Rousseau e Couture (1998) e também por Lopes (1997). (CORNELSEN, Julce Mary. NELLI, 2006, p.7879) 4) Outro fator evidenciado nas propostas de diagnóstico de Lopes (1997) e Moneda Corrochano (1995) é a análise do fluxo de informações. Através dessa análise, poderseá identificar os processos de criação, acesso e difusão da informação, os quais têm similaridade com o programa de gestão da informação proposto por Rousseau e Couture (1998). O levantamento dos fluxos de informações, portanto, é um outro item indispensável ao levantamento da situação arquivística na organização. No entanto, é necessário analisar o processo como um todo e não o estudo do fluxo de cada documento (Lopes, 1997). (CORNELSEN, Julce Mary. NELLI, 2006, p.79) 5) Outro item obrigatório no diagnóstico de arquivo é a análise da situação dos acervos existentes apontados por Evans e Ketelaar (1983), Lopes (1997), Moneda Corrochano (1995) e Campos et al. (1986). Para essa análise situacional recomendase o uso dos itens propostos por Lopes (1997) e complementado pelo item “Análise dos instrumentos de trabalho existentes” de Moneda Corrochano (1995). (CORNELSEN, Julce Mary. NELLI, 2006, p.79) 6) Evans e Ketelaar (1983), Lopes (1997), Moneda Corrochano (1995) e Campos et al. (1986) incluem em suas propostas o levantamento dos dados referente aos recursos de infraestrutura, ou seja, edifício, mobiliário, e equipamentos. Esses itens vêm corroborar a importância de proteção e conservação da informação abordada no Programa de Rousseau e Couture (1998). A (re)união de itens de tal assunto apontados por Evans e Ketelaar (1983), Lopes (1997) e Moneda Corrochano (1995) são indicados para a elaboração do diagnóstico de arquivo. (CORNELSEN, Julce Mary. NELLI, 2006, p.79) 32 7) O levantamento de dados a respeito dos recursos humanos é apresentado nos trabalhos de Evans e Ketelaar (1983), Campos et al. (1986), Moneda Corrochano (1995) e Lopes (1997), constatandose que este tipo de dado é importante para qualquer tipo de diagnóstico. Recomendase, para tanto, a adoção do conjunto de dados dos grupos “Recursos Humanos” e “Análise dos recursos de infraestrutura, recursos humanos e financeiros disponíveis”, propostos, respectivamente, por Evans e Ketelaar (1983) e por Moneda Corrochano (1995). (CORNELSEN, Julce Mary. NELLI, 2006, p.79) 8) Evans e Ketelaar (1983) e Moneda Corrochano (1995) enfocam ainda o levantamento dos recursos financeiros disponíveis. Esse item é pertinente à análise da situação arquivística na organização, pois o prognóstico apresenta os problemas e os recursos necessários à solução dos mesmos. 9) A proposta de Moneda Corrochano (1995) contempla um item sobre a relação do arquivo com os sistemas de arquivos, e Lopes (1997) aborda o diagnóstico baseado nessas teorias, técnicas e experiências. Dessa forma, observar a realidade encontrada e buscar a solução nos procedimentos já padronizados, é uma atividade determinante no resultado final do levantamento da situação das informações arquivísticas. (CORNELSEN, Julce Mary. NELLI, 2006, p.80) 10 ) A elaboração de projetos de trabalho para solucionar os problemas detectados nos arquivos das organizações é condição obrigatória ressaltada por Rousseau e Couture (1998), Moneda Corrochano (1995) e Lopes (1997), de forma que a gestão da informação venha a ocupar uma posição de destaque nas organizações. (CORNELSEN, Julce Mary. NELLI, 2006, p.80) 11) Percebese que, Lopes (1997) e Moneda Corrochano (1995) utilizam métodos científicos na elaboração do diagnóstico, fato que auxilia no conhecimento eficaz dos fluxos informacionais e documentais. É inconteste que a complexidade crescente das relações concorrenciais requer das empresas e dos administradores, ações efetivas para uma gestão informacional/documental. Nessa abordagem, o diagnóstico é condição sine qua non para essa gestão, pois reflete a situação dos arquivos e fornece dados concretos para uma proposta de intervenção. (CORNELSEN, Julce Mary. NELLI, 2006, p 82) 33 Os principais dados a serem coletados no diagnóstico se referem à estrutura, às funções e às atividades e, por conseguinte, ao fluxo de informações que permeiam a organização, identificando o momento em que o documento é produzido, como é utilizado, por quais setores tramita e qual sua real necessidade. Não existe, no entanto, um único “modelo” de diagnóstico na literatura especializada capaz de absorver a complexidade e a diversidade de documentos e de informações das organizações. (CORNELSEN, Julce Mary. NELLI, 2006, p.82) 34 6. AS COMISSÕES DE AVALIAÇÃO DE DOCUMENTOS DE ARQUIVO As Comissões de Avaliação de Documentos de Arquivo são grupos permanentes e multidisciplinares responsáveis pela elaboração e aplicação, em suas respectivas áreas de atuação, de Planos de Classificação e de Tabelas de Temporalidade de Documentos. (BERNARDES, DELATORRE, 2008, p. 37) Assim, os estudos para determinação da caducidade devem ser feitos por comissão idônea, usualmente denominada Comissão de Análise de Documentos, constituídas por membros efetivos e eventuais. Os efetivos são o chefe do Arquivo e representantes dos órgãos administrativo, financeiro e jurídico. Os membros eventuais são os representantes do órgãofim, os quais só serão convocados à medida que forem analisados os documentos relativos às suas atividades. (PAES, 2004, p. 105 Os princípios básicos que deverão nortear o trabalho de análise da comissão consistem em verificar: ●importância do documento com relação aos valores administrativo, probatório ou histórico; ● possibilidade e custo de reprodução (microfilmagem) ● espaço, equipamento utilizado e custo do arquivamento ● prazos de prescrição e decadência de direitos (legislação vigente) ● numero de cópias existentes e locais onde os dados são anotados (PAES, 2004, p. 106 6.1 AVALIAÇÃO DOCUMENTAL Assim, a avaliação consiste fundamentalmente em identificar valores e definir prazos de guarda para os documentos de arquivo, independentemente de seu suporte material ser o papel, o filme, a fita magnética, o disquete, o disco ótico ou qualquer outro. Assim como a classificação, a avaliação deve ser realizada no momento da produção do documento, para evitar a produção e acumulação desordenadas, segundo critérios temáticos, numéricas ou cronológicas. (BERNARDES, DELATORRE, 2008, p.35) 6.2 OBJETIVOS E BENEFÍCIOS DA AVALIAÇÃO DOCUMENTAL 35 ∙Identificar os valores imediatos e mediatos dos documentos ∙Definir os prazos de guarda e a destinação dos documentos ∙Elaborar a Tabela de Temporalidade de Documentos ∙Agilizar a recuperação dos documentos e das informações ∙Reduzir a massa documental acumulada ∙Liberar espaço físico ∙Dar visibilidade e preservar os documentos de guarda permanente ∙Autorizar a eliminação criteriosa de documentos ∙Estimular a pesquisa e uso de dados retrospectivos (BERNARDES, DELATORRE, 2008, p. 35) 6.3 REUNIÕES COM TODOS OS AGENTES ENVOLVIDOS Realizar reuniões com os profissionais das áreas que produzem documentos relativos às atividadesmeio e atividadesfim para divulgar a legislação que dispõe sobre documentos públicos e privados, oferecer informações a respeito da importância da gestão documental e a metodologia a ser adotada pela Comissão de Avaliação de Documentos para a execução do trabalho. (BERNARDES, DELATORRE, 2008, p. 48) 6.4 PROGRAMAÇÃO DAS ATIVIDADES Elaborar a programação com todas as atividades necessárias para o desenvolvimento do trabalho, tais como: §Estudo da estrutura administrativa do órgão para identificar as competências, funções se atividades de cada uma de suas unidades por meio da legislação que dispõe sobre sua organização e funcionamento; para gerar o quadro de atribuições de cada área meio e/ou de cada área fim. §Levantamento de toda a produção documental. §Elaboração do Plano de Classificação com as funções, subfunções e atividades para a inclusão dos documentos identificados. §Padronização na nomeação das tipologias documentais geradas no exercício da mesma função; §Atribuição de códigos de classificação aos documentos. 36 §Estudo de atos legais ou de razões de natureza administrativa que fundamentam, para cada tipo de documento, a indicação da temporalidade e da destinação proposta. §Definição dos prazos de guarda em cada local de arquivamento, bem como sua destinação final: guarda definitiva ou eliminação dos documentos de arquivo, em conformidade com a legislação em vigor, respeitados os prazos de vigência, prescrição e precaução. §Elaboração da Tabela de Temporalidade dos Documentos a partir do Plano de Classificação, para inserir os valores indicados para os documentos de acordo com sua idade: administrativo, legal, fiscal, técnico, histórico, fundamentando com a legislação específica, quando houver. §Consistência técnica arquivística do Plano de Classificação e a Tabela de Temporalidade e análise da Consultoria/Assessoria Jurídica. §Oficialização dos instrumentos de gestão documental (BERNARDES, DELATORRE, 2008, p. 48) 6.5 INSTRUMENTOS DE DESTINAÇÃO São atos normativos elaborados pelas comissões de análise, nos quais são fixadas as diretrizes quanto ao tempo e local de guarda dos documentos. Há dois instrumentos básicos: tabela de temporalidade e lista de eliminação. (PAES, 2004, p.106) TABELA DE TEMPORALIDADE A Tabela de Temporalidade de Documentos de Arquivo é o instrumento de gestão, resultante da avaliação documental, aprovado por autoridade competente, que define prazos de guarda e a destinação de cada série documental, determinando sua preservação ou autorizando a sua eliminação. (BERNARDES, DELATORRE, 2008, p.36) Ela resulta da atividade de avaliação, que define prazos de guarda para os documentos em razão de seus valores administrativo, fiscal, jurídicolegal, técnico, histórico, autoriza a sua eliminação ou determina a sua guarda permanente. (BERNARDES, DELATORRE, 2008, p.36) 37 Tabela de Temporalidade: É o instrumento de destinação que determina os prazos em que os documentos devem ser mantidos nos arquivos correntes e/ou intermediários, ou recolhidos aos arquivos permanentes, estabelecendo critérios para microfilmagem e eliminação. A tabela de temporalidade só deve ser aplicada após sua aprovação pela autoridade competente. Nela os documentos são descritos de forma clara para se evitar interpretações erradas, especialmente quando se tratar de sua eliminação (PAES, 2004, p.106) LISTA DE ELIMINAÇÃO: É uma relação específica de documentos a serem eliminados numa única operação e que necessita ser aprovada pela autoridade competente. (PAES, 2004, p.108) 38 7. ANÁLISE DOCUMENTAL: ELEMENTOS CARACTERÍSTICOS A identificação dos documentos de arquivo é o primeiro passo para sua organização e guarda adequadas. Na identificação, é fundamental que tenhamos como referência os elementos característicos dos documentos. (GONÇALVES, 1998, p. 15) Nessa tarefa, conviria aproximar os documentos segundo as espécies e, sobretudo, segundo os tipos documentais. Pois os tipos documentais estão intimamente relacionados às atividades que os geraram, e oferecem pistas significativas, consequentemente, sobre suas condições de produção. (GONÇALVES, 1998, p. 15) Numa situação como a apresentada acima, a espécie, o tipo, a forma, o formato e o próprio conteúdo do documento são muito importantes para a sua identificação e para a sua caracterização como documento de arquivo. (GONÇALVES, 1998, p. 16) Na análise documental podem ser identificados os elementos característicos de cada documento, individualmente, conforme quadro abaixo: (cf. BERNARDES, DELATORRE, 2008, p. 16 e GONÇALVES, 1998, p. 19) Suporte: Material sobre o qual as informações são registradas (papel, disco magnético, fita magnética, filme de nitrato, papiro, pergaminho, argila) Forma: Estágio de preparação e transmissão dos documentos (original, cópia, minuta, rascunho) Formato: Configuração física que assume um documento, de acordo com a natureza do
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