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CRC Antropologia, Ética e Cultura U6

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EA
D
A Bioética e a 
Interdisciplinaridade
6
Prof. Dr. Mariano Antonio Sehnem
1. OBJETIVOS
•	 Identificar	que	o	tema	da	Bioética	ultrapassa	a	sua	dimen-
são	científica	e	médica.
•	 Reconhecer	a	complexidade	que	envolve	Bioética	e	inter-
disciplinaridade	e	procurar	construir	caminhos	de	diálogo	
e	de	convergência.
•	 Analisar	 o	 ponto	 de	 partida	 da	 Bioética	moderna,	 bem	
como	a	Bioética	e	suas	principais	fronteiras	epistemoló-
gicas.
2. CONTEÚDOS
•	 Ponto	de	partida	da	Bioética	moderna.
•	 Bioética	e	interdisciplinaridade.
•	 Bioética	e	suas	fronteiras	epistemológicas.
© Antropologia, Ética e Cultura192
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE
1)	 No	decorrer	do	estudo	desta	unidade	será	apresentado	
a	você,	alguns	filósofos.	Antes	de	iniciar	seus	estudos	é	
interessante	que	 você	 conheça	um	pouco	da	biografia	
desses	pensadores	e	para	saber	mais	acesse	o	site	indi-
cado.
Edgar Morin 
Edgar Morin nasceu em 1921 e, em 1970, fundou, em Paris, o 
Centro Internacional de Pesquisas e Estudos Transdisciplinares. 
Para ele, a concepção holística não é apenas a somatória de to-
das as coisas, mas, mais do que isso, é uma integração, ou seja, 
todas as coisas estão profundamente interligadas entre si (Gran-
de Enciclopédia Larousse Cultural). Edgar Morin: disponível em: 
<http://www.ehess.fr/centres/cetsah/IMAGES/CarolineCuello. 
 jpg>. Acesso em: 4 set. 2010.
Jean Bernard
Jean Bernard é professor da Faculdade de Medicina de Paris, 
Diretor do Instituto Francês de Investigação sobre a Leucemia e 
as doenças de sangue, membro da Academia Francesa, mem-
bro da Academia Nacional de Medicina e Presidente honorário do 
Comitê Consultivo Nacional para as Ciências da Vida e da Saú-
de. Escreveu, dentre inúmeras obras, A Bioética. Lisboa: Institu-
to Piaget, 1993 (Grande Enciclopédia Larousse Cultural). Jean 
Bernard: disponível em: <http://ams.astro.univie.ac.at/~nendwich/Science/SoFi/
portrait.gif>. Acesso em: 4 set. 2010.
Immanuel Kant
Immanuel Kant (1724-1804) foi um importante filósofo alemão. 
Em 1781, publicou Crítica da razão pura; em 1785, Fundamentos 
da metafísica dos costumes, e, em 1788, escreveu Crítica da razão 
prática, obra em que o autor remete a razão ao centro do mundo 
(Grande Enciclopédia Larousse Cultural). Immanuel Kant: dispo-
nível em: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/2/2f/ 
 Immanuel_Kant_2.jpg>. Acesso em: 4 set. 2010.
Baruch Spinoza
Baruch Spinoza (1632-1677) foi um filósofo holandês. Entrou em 
contato com Galileu e o pensamento renascentista de Giordano 
Bruno e, depois, foi influenciado por Descartes. Publicou: Princí-
pios da filosofia de Descartes (1663) e Tratado teológico-político 
em 1670 (Grande Enciclopédia Larousse Cultural). Baruch Spino-
za: disponível em: <http://philosophy.tamu.edu/~sdaniel/Images/
spinoza1.jpg>. Acesso em: 4 set. 2010.
193© A Bioética e a Interdisciplinaridade
Jean Jacques Rousseau 
Jean Jacques Rousseau (1712-1778), filósofo e romancista 
suíço de língua francesa, conheceu Voltaire, Diderot e outros 
filósofos iluministas, tendo colaborado na produção da Enciclo-
pédia. Publicou diversas obras, com destaque para: O contrato 
social e Da educação em que vincula política, moral e educação 
(Grande Enciclopédia Larousse Cultural). Jean Jacques Rousse-
au: disponível em: <http://ebooks.adelaide.edu.au/r/rousseau/
jean_jacques/portrait.jpg>. Acesso em: 4 set. 2010.
Hans Küng
Hans Küng nasceu na Suíça em 1928. Em 1962, foi nomeado 
pelo Papa João XXIII peritus, ou seja, consultor teológico para 
o Concílio Vaticano II. Em 1996, tornou-se presidente da Fun-
dação de Ética Global em Tübengen. Tem uma vasta produção 
com destaque para: Igreja católica (2001), As religiões do mun-
do (2004), Teologia a caminho: fundamentação para o diálo-
go ecumênico (1999), e O princípio de todas as coisas (2007) 
(Grande Enciclopédia Larousse Cultural). Hans Küng: disponível em: <http://
fratresinunum.files.wordpress.com/2009/02/kung.jpg>. Acesso em: 4 set. 2010.
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE 
Vamos	prosseguir	nossa	caminhada	com	relação	ao	estudo	
introdutório	da	Bioética.
Desde	o	início,	deixamos	claro	que	há	uma	relação	estreita	
da	Ética	com	a	sociedade,	e	uma	relação	mais	íntima	da	Ética	com	
a	Bioética,	uma	vez	que	elas	se	complementam.
Em	seguida,	abordamos	alguns	aspectos	históricos	evoluti-
vos	da	Bioética.
Acabamos	de	analisar,	na	unidade	anterior,	alguns	conceitos	
e	princípios	que	fundamentam	e	dão	sustentação	à	Bioética	como	
um	novo	campo	do	saber.
O	nosso	desafio,	agora,	é	mergulhar	mais	a	fundo	na	Bioética	
propriamente	dita	e	verificar	toda	a	complexidade	que	é	entender	
o	ser	humano	vivendo	em	grupo,	em	sociedade	e	quais	as	dificul-
dades	daí	decorrentes.
© Antropologia, Ética e Cultura194
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
5. PONTO DE PARTIDA DA BIOÉTICA MODERNA
Podemos,	inicialmente,	afirmar	que	a	Bioética	não	pode	ser	
entendida	apenas	como	um	campo	de	saber	específico,	pois	seu	
referencial	teórico	e	metodológico	e	a	sua	prática	cotidiana	no	en-
frentamento	dos	problemas	situam-se	na	intersecção	da	Medicina,	
da	Biologia	com	as	suas	múltiplas	ramificações	e	especializações,	
com	as	ciências	humanas,	como	também	com	a	Ética,	o	Direito,	a	
Filosofia	e	a	Teologia	entre	outros	campos.
Já	vimos	que	Potter,	em	1971,	entendia	a	Bioética	como	uma	
ponte	entre	duas	 culturas:	 a	das	 ciências	 e	 a	das	humanidades,	
que,	ainda	hoje,	aparecem	extremamente	distanciadas.
Mais	que	um	precursor,	Potter	dedicou	sua	vida	 inteira	ao	
fortalecimento	e	à	abertura	de	caminhos	para	que	a	Bioética	se	
incorporasse	às	diferentes	culturas,	para	que	ela	se	transformasse	
num	projeto	de	vida	para	todos	os	seres	humanos	que	habitam	o	
planeta.	
Em	2	de	julho	de	1974,	o	Presidente	norte-americano	assi-
nou	um	Projeto	de	Lei	que	ficou	conhecido	como	a	Lei Nacional 
para a Investigação Científica.	Uma	vez	promulgada	a	 lei,	 criou-
-se,	em	seguida,	uma	Comissão	encarregada	de	estudar	e	apreciar	
os	problemas	éticos	relativos	à	pesquisa	científica	nos	campos	da	
Biomedicina	 e	 das	 ciências	 do	 comportamento.	 A	 criação	 dessa	
Comissão	respondia,	pelo	menos	em	parte,	às	duras	críticas	que	
a	opinião	pública	 fazia	 com	relação	aos	abusos	cometidos	pelos	
pesquisadores	na	manipulação	de	pessoas	e	de	animais	em	suas	
experiências	laboratoriais.	
A	Comissão	tinha	como	compromisso	básico	revisar	as	nor-
mas	do	Governo	Federal	sobre	a	pesquisa	científica,	visando	pro-
teger	os	direitos	e	o	bem-estar	dos	cidadãos	em	geral.
Desde	o	início,	ficou	estabelecido	que	a	Comissão	não	deve-
ria	se	restringir	apenas	à	 identificação	de	possíveis	abusos,	mas,	
em	especial,	deveria	dedicar-se	a	 formular	princípios	gerais	e	os	
195© A Bioética e a Interdisciplinaridade
mais	sólidos	e	abrangentes	que	pudessem	orientar	e	guiar	a	pes-
quisa	futura	em	Biomedicina	e	nas	ciências	de	conduta.
Como	resultado	prático,	a	Comissão,	após	quatro	anos,	di-
vulgou	o	Relatório Belmont,	 já	 estudado	 anteriormente,	 descre-
vendo	e	apontando	os	três	princípios	gerais	e	fundamentais	que	
são:	o	respeito	pelas	pessoas,	a	beneficência	e	a	justiça.
Segundo	esse	 relatório,	o	princípio	do	 respeito	às	pessoas	
apoia-se	em	duas	convicções	morais	fundamentais:	
•	 devem-se	tratar	as	pessoas	sempre	como	agentes	autô-
nomos;	
•	 devem	ser	tutelados	os	direitos	das	pessoas	cuja	autono-
mia	está	diminuída	ou	comprometida.
Isso	quer	dizer	que	o	reconhecimento	da	autonomia	alheia	
implica	sempre	que	as	escolhas	das	pessoas	autônomas	sejam	res-
peitadas	e	que	não	lesem	a	autonomia	e	os	direitos	de	terceiros.
O	princípio	da	beneficência	inclui,	também,	a	obrigação	de	
não	fazer	mal	(a	não	maleficência)	como	dever	moral	de	agir	para	
beneficiar	os	outros.
Já	o	princípio	da	justiça	éentendido	com	base	na	chamada	
justiça	distributiva,	que	tem	a	ver	com	o	que	juridicamente	é	de-
nominado	como	aquilo	que	pertence	às	pessoas	ou	aquilo	que	é	
devido	a	elas.
O	problema	está	no	fato	de	que	cada	país	tem	a	sua	legis-
lação,	a	Constituição,	o	seu	Código	Penal	e	a	formulação	de	suas	
políticas	públicas,	o	que	fornece	e	fundamenta	uma	autonomia	de	
cada	Estado	ou	Nação.
6. BIOÉTICA E INTERDISCIPLINARIDADE
Falar	das	“fronteiras”	da	Bioética	é	uma	tarefa	bastante	com-
plicada,	porque	envolve	a	compreensão	dos	paradigmas	e	das	in-
ter-relações	da	epistemologia,	isto	é,	envolve	o	ser	humano,	que	é	
o	ser	mais	complexo	do	planeta	Terra.	
© Antropologia, Ética e Cultura196
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
O conceito Paradigma pode ser definido como um modelo, um 
conjunto de ideias e valores capazes de situar os membros de 
uma comunidade em determinado contexto, de maneira a possi-
bilitar a compreensão da realidade e a atuação, com base em va-
lores comuns. Dessa forma, o paradigma engloba todo o referen-
cial teórico-prático, todo um conjunto de saberes e conhecimentos 
produzidos, acumulados e transmitidos de geração para geração, 
mantendo vivas as tradições e costumes de um povo (Thomas 
Kunh).
O	conhecimento,	então,	vai	sendo	construído	com	base	nas	
experiências,	na	 solução	prática	dos	problemas,	arquitetadas	na	
forma	criativa	de	pensar,	discernir,	comparar,	enfim,	de	fazer	esco-
lhas	diante	de	uma	situação	desafiadora.	
Utilizamos	o	termo	“fronteiras”	entre	aspas,	porque	compar-
tilhamos	da	concepção	holística	de	Edgar Morin,	que	se	autodeno-
mina	“sequestrador”	de	saberes	e	de	conhecimentos	e	defende	a	
tese	de	que	não	há,	efetivamente,	fronteiras	reais	entre	as	ciências	
exatas,	biológicas	e	humanas.	Todas	essas	coisas	estão	intimamen-
te	interligadas	entre	si,	de	tal	modo	que	a	fronteira	é	artificial,	exis-
tindo	apenas	na	cabeça	das	pessoas.
As	nossas	Escolas	e	os	Currículos	estão	organizados,	de	um	
modo	geral,	de	forma	estanque	e	fragmentados,	o	que	nos	fornece	
uma	visão	de	mundo	compartimentalizada	com	uma	nítida	sepa-
ração	entre	as	ciências	exatas	(as	que	possuem	leis	universais),	as	
ciências	da	natureza	(que	têm	causa	e	efeito)	e	as	ciências	huma-
nas	ou	sociais	(que	têm	conceitos	e	paradigmas	diferenciados	de	
uma	região	para	a	outra).
Considerando	as	diferenças	e	diversidades	econômicas,	polí-
ticas	e	socioculturais	entre	os	países	do	mundo	e	levando	em	con-
ta	os	limites	que	o	sistema	educacional	nos	apresenta	em	termos	
curriculares,	poderíamos	afirmar	que	não	é	por	acaso	que	há	uma	
“grade”	curricular	nas	Escolas,	em	que	cada	docente	mora	na	sua	
“gaiola	 de	 ouro”,	 ou	 na	 sua	 “torre	 de	marfim”	 sem	 estabelecer	
uma	abordagem	interdisciplinar.
197© A Bioética e a Interdisciplinaridade
Segundo	Morin,	a	transdisciplinaridade	contém	dois	elemen-
tos	básicos:	primeiro,	trata-se	de	algo	mais	que	a	mera	intensifi-
cação	do	necessário	diálogo	entre	as	distintas	áreas	e	disciplinas	
científicas,	porque	a	questão	que	precisa	ser	explicitada	é	a	da	mu-
dança	de	paradigma	epistemológico;	em	segundo	lugar,	o	diálogo	
entre	as	ciências	será	mais	profundo	se	houver	uma	transmigração	
de	 certos	 conceitos	 fundantes	 por	meio	 das	 diversas	 disciplinas	
–	em	especial,	a	junção	dos	conceitos	“complexidade”	e	“auto-or-
ganização”	como	base	e	fundamento	do	enfoque	transdisciplinar.
Portanto,	a	concepção	transdisciplinar	é	uma	nova	postura,	
um	novo	olhar	do	educador	e	do	educando	numa	visão	dinâmica	e	
integradora	dos	fatos	e	dos	conhecimentos	científicos.
A	Bioética,	nesse	sentido,	não	é	uma	metafísica,	mas	é	um	
conhecimento	pragmático	e	processual	resultante	de	quase	todas	
as	áreas	científicas.	O	seu	estudo	e	aprofundamento	podem	trazer	
benefícios	inestimáveis,	salvar	e	prolongar	vidas	humanas.
Em	 contrapartida,	 ela	 precisa	 ser	 tratada	 e	 estudada	 com	
responsabilidade,	porque	tanto	pode	trazer	aplicações	vitoriosas,	
como	também	pode	produzir	resultados	ambíguos	e	perigosos.
7. BIOÉTICA E SUAS FRONTEIRAS EPISTEMOLÓGICAS
Tentar	estabelecer	clara	e	formalmente	as	fronteiras	rigoro-
sas	de	cada	campo	do	saber	é	quase	que	uma	tarefa	desnecessá-
ria,	uma	vez	que	cada	disciplina	ou	área	de	conhecimento	tem	a	
sua	especificidade	e	a	contribuição	a	dar	com	referência	à	explica-
ção	da	vida	humana.
Há	 um	 leque	 para	 tentar	 dividir,	 classificar	 e	 descrever	 as	
fronteiras	dos	diversos	campos	do	conhecimento	da	Bioética	com	
relação	aos	demais	campos	do	conhecimento.	
Contudo,	abordaremos,	nesta	unidade,	a	classificação	utili-
zada	por	Jean Bernard.
© Antropologia, Ética e Cultura198
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
A Bioética e as fronteiras com a Filosofia
A	Ética	é	um	tema	recorrente	da	Filosofia;	não	é	exclusivo	
dela,	mas	tem	sido	abordado	por	Sócrates,	que	foi	o	pioneiro	em	
criticar	as	regras	da	sociedade	grega	como	injustas	e	ambíguas.	O	
filósofo,	ao	questionar	profundamente	a	ética	das	aparências	na	
estrutura	e	organização	da	sociedade	grega,	foi	condenado	à	mor-
te,	embora	não	tenha	deixado	nada	escrito.
Platão,	por	sua	vez,	possui	uma	vasta	produção	e	o	trabalho	
mais	 importante	é	a	República,	no	qual	expõe	suas	 ideias	políti-
cas,	filosóficas,	estéticas,	éticas	e	jurídicas.	A	sua	filosofia	culmina	
com	a	ética:	a	ideia	do	bem	é,	no	seu	modo	de	entender,	a	ideia	
suprema.	Para	uma	realização,	deve	tender	a	todo	procedimento	
humano,	ou	seja,	o	bem	é	imperativo	moral	para	todos.
Para	Platão,	há	quatro	tipos	fundamentais	de	virtude:	
•	 a	 sabedoria	 ou	 prudência,	 própria	 da	 parte	 racional	 da	
alma;	
•	 a	 coragem,	 virtude	 da	 vontade,	 temperança	 própria	 da	
sensibilidade	humana;
•	 a	 justiça,	nascida	do	equilíbrio,	que	se	deve	estabelecer	
entre	todas	as	disposições	éticas	e	sociais.
Aristóteles	forma	o	tripé	dos	autores	clássicos	que	consegui-
ram	sistematizar,	grosso	modo,	o	pensamento	humano	ocidental.	
Enquanto	Sócrates	e	Platão	construíram	as	bases	filosóficas,	Aris-
tóteles,	as	bases	científicas.
Houve	uma	Filosofia	e	uma	Ciência	antes	deles,	mas	a	orien-
tação	dada	por	eles	fez	toda	a	pesquisa	filosófica	e	científica	pos-
terior	se	basear	nos	resultados	que	eles	nos	deixaram.
Até	 a	 época	 moderna	 de	 Galileu	 Galilei	 (1564-1642),	 que	
introduziu	o	método	científico	propriamente	dito,	toda	a	ciência	
ocidental	era,	 fundamentalmente,	aristotélica.	Ele	produziu	uma	
vasta	literatura	sobre	a	Ética,	que	teve	uma	influência	quase	“bíbli-
ca”	em	toda	a	sociedade	europeia	medieval.
199© A Bioética e a Interdisciplinaridade
Na	era	moderna,	 Immanuel Kant	e	Baruch Spinosa	dedica-
ram-se	mais	a	fundo	na	discussão	do	tema	e,	contemporaneamen-
te,	o	estudo	e	a	discussão	da	Ética	situam-se	em	todos	os	campos	
do	conhecimento.
Segundo	Bernard	 (1993),	os	 filósofos	podem	ser	divididos,	
de	maneira	geral,	em	três	grupos	distintos:	os	indiferentes,	os	arti-
ficiosos	e	os	renovadores.
Os	indiferentes	consideram	os	avanços	da	Medicina	de	for-
ma	emotiva	e	preferem	manter-se	equidistantes	da	agitação	e	da	
polêmica.
Já	 os	 artificiosos	 procuram	 utilizar,	 com	 talento,	 tanto	 os	
progressos	da	Medicina	 como	da	Biologia,	mas,	em	contraparti-
da,	 negligenciam	a	 revolução	 terapêutica.	Dessa	 forma,	 acabam	
esquecendo	que	a	Medicina	alimenta	estudos	e	pesquisas	para	os	
filósofos	e	diminui	o	sofrimento	dos	seres	humanos.
Na	terceira	categoria,	estão	os	renovadores,	que	percebem	
a	importância	das	recentes	descobertas	biológicas	e	médicas,	de-
bruçam-se	 sobre	 a	 tarefa	 nada	 fácil	 de	 analisar	 o	 que	 é	 normal	
e	o	que	é	patológico,	percebendo	que	os	progressos	da	Biologia	
“iluminam”	e	trazem	novas	alternativas	para	temas	e	problemas	
especificamente	filosóficos.
Com	base	nessa	visão	e	concepção	é	que	se	estabeleceram	
intercâmbios	reflexivos,	anteriormente	desconhecidos	ou	 impos-
síveis	de	acontecer.
Portanto,podemos	concluir	que	a	Filosofia	passa	a	ser	uma	
importante	auxiliar	no	estudo,	no	debate	e	na	solução	de	proble-
mas	da	Bioética.
A Bioética e as fronteiras com a Teologia
Os	teólogos	estão	fundamentados	na	sua	fé,	que	é	algo	ínti-
mo,	interior,	e	os	cientistas	estão	embasados	no	empirismo	posi-
tivista;	ambos,	convencidos	da	posse	da	verdade,	assumiram,	du-
rante	séculos,	uma	postura	rígida,	excludente	e	antagônica.
© Antropologia, Ética e Cultura200
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
As	fronteiras	existentes	entre	a	ciência	e	a	Teologia	eram,	na	
verdade,	elevados	muros,	fortificações	e	muralhas.	Por	esses	mo-
tivos,	foram	condenados	Galileu,	Giordano	Bruno	e	tantos	outros,	
por	meio	da	Inquisição,	um	tribunal	eclesiástico	vigente	por	quase	
toda	a	duração	da	Idade	Média.	
A Inquisição nasceu da intenção de combater as heresias popu-
lares que se multiplicavam na Europa a partir do século 12. Ini-
cialmente, foi confiada aos tribunais ordinários, mas, em 1231, 
tornou-se “Tribunal Permanente”, dirigido por um Bispo, encarre-
gado pelo “Papado” de lutar contras heresias. Tanto Galileu como 
Giordano Bruno tiveram de enfrentar a Inquisição, sendo o último 
queimado na fogueira (Grande Enciclopédia Larousse Cultural). 
Precisamos	destacar	que	os	cientistas,	em	geral,	acreditam	
demasiadamente	na	potencialidade	da	 ciência:	 como	 se	 ela	 pu-
desse	trazer	as	soluções	mais	variadas	e	avançadas,	na	tentativa	de	
superar	problemas	e	limites	até	hoje	existentes	e,	portanto,	apos-
tam	todas	as	suas	fichas	nesse	campo.
Em	contrapartida,	os	teólogos	têm	consciência	de	que	o	ser	
humano	não	é	um	ser	pronto	e	acabado,	e	que	ainda	não	se	co-
nhece	o	seu	o	pleno	desenvolvimento	mental	e	espiritual.	Mais	do	
que	nunca,	há	uma	percepção	e	um	certo	consenso	do	exagerado	
expansionismo	material,	econômico	e	 financeiro	e	uma	extrema	
pobreza	espiritual	do	homem	contemporâneo.
Em	outras	palavras,	há,	na	prática,	um	enorme	descompasso	
entre	o	avanço	da	ciência	e	da	tecnologia,	em	detrimento	dos	va-
lores	humanos	e	do	crescimento	interior.	O	diálogo	entre	a	ciência	
e	a	religião	será	objeto	de	estudo	e	aprofundamento	na	próxima	
unidade,	contudo,	será	enfatizado	agora	também.	
Por	inúmeras	vezes,	há	posturas	muito	rígidas	de	ambas	as	
partes	 (ciência	e	 religião)	e,	ao	 reunir	 cientistas	e	 teólogos	para	
discutir	os	temas	atuais	da	Bioética,	a	compreensão	e	um	diálogo	
produtivo	tornam-se	muito	difíceis,	ou	quase	impossíveis.
201© A Bioética e a Interdisciplinaridade
Há,	atualmente,	uma	enorme	lacuna	entre	as	gerações,	na	
qual	o	ser	humano	nunca	viveu	de	forma	tão	solitária,	vazia	e	frus-
trada.	O	uso	intensivo	do	micro-ondas,	do	telefone	celular,	da	TV	
e	 da	 internet	 criou	 uma	distância	mental	 entre	 as	 pessoas.	Nas	
famílias	de	classe	média,	por	exemplo,	há	tantos	aparelhos	de	TV	
quantos	forem	os	moradores.	
Uma	pesquisa	feita	pela	CET	(Companhia	de	Engenharia	de	
Tráfego),	em	novembro	de	2007,	em	São	Paulo,	revelou	que	62%	
dos	automóveis	que	circulam	diariamente	na	cidade	têm	apenas	
um	ocupante,	que	é	o	motorista.
Isso	significa	dizer	que	o	automóvel,	o	micro-ondas,	a	TV	e	a	
internet	são	os	símbolos	máximos	do	individualismo	exacerbado	e	
presente	na	sociedade.
Por	 isso,	o	diálogo	entre	a	ciência	e	a	religião,	no	início	do	
século	21,	busca	um	maior	consenso	para	canalizar	esforços	con-
vergentes	no	sentido	de	elaborar	uma	“agenda	mínima	comum”,	
na	qual	todos	os	seres	humanos	que	estão	descontentes	e	indigna-
dos	com	a	exclusão	social,	a	injustiça	e	a	desumanidade	busquem	
a	construção	de	uma	sociedade	mais	fraterna	e	feliz.
A Bioética e as fronteiras com a Política
A	Ciência	Política	é	a	esfera	do	poder,	 isto	é,	do	poder	de	
decisão	para	adotar	esse	ou	aquele	caminho	a	trilhar.
Platão	foi	o	inventor	da	Política	ao	escrever	o	livro	A Repúbli-
ca,	que	dividiu	em	três	partes:	a	primeira	é	a	exposição	e	proposi-
ção	de	uma	comunidade	ideal	(utópica)	governada	pelos	filósofos;	
na	segunda,	ele	apresenta	o	seu	pensamento	filosófico;	e,	na	ter-
ceira,	expõe	as	várias	formas	de	governo,	decidindo,	no	final,	pela	
aristocracia	como	a	melhor	delas.
Assim	que	os	agregados	humanos	atingiram	um	certo	grau	
de	 desenvolvimento	 da	 cultura,	 passaram	 a	 estabelecer	 hierar-
quias	entre	seus	membros	e	a	adotar	conjuntos	de	normas	regula-
doras	das	relações	entre	grupos.
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 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
A	 principal	 característica	 da	 organização	 política	 da	 Idade	
Média	foi	a	formação	dos	feudos,	entidades	intermediárias	entre	
o	soberano	e	o	cidadão	comum.	Os	senhores	feudais	exerciam	sua	
autoridade	sobre	todos	os	habitantes	de	seus	domínios	e	o	regime	
era	monárquico,	ou	seja,	era	o	rei	quem	representava	a	lei.
Na	era	moderna,	aparece	a	figura	do	Estado	como	uma	ins-
tância	 jurídico-administrativa,	 supraideológica	 e	 suprapartidária	
que	deveria	administrar	toda	a	sociedade.	Afirmamos	que	“deve-
ria	administrar”,	pois	iremos	verificar	que,	na	prática,	não	foi	isso	
o	que	aconteceu.
Thomas	 Hobbes	 (1588-1679),	 como	 vimos	 anteriormente,	
escreveu	o	livro	Leviatã,	obra	em	que	justifica	a	presença	da	mo-
narquia	absoluta	como	o	regime	que	melhor	se	adapta	à	natureza	
humana.
Segundo	ele,	o	Estado	surgiu	e	é	necessário	devido	à	preci-
são	de	controlar	as	violências	dos	homens	entre	si.
Contudo,	é	importante	aqui	destacar	o	pensamento	político	
de	Jean Jacques Rousseau,	autor	do	livro	Contrato Social,	obra	em	
que	aponta	o	regime	democrático	como	aquele	que	melhor	prote-
ge	os	direitos	dos	cidadãos.	
Rousseau	não	admite	que	o	povo	delegue	seus	direitos	nem	
mesmo	a	uma	assembleia	eletiva,	ou	seja,	o	poder	de	participação	
e	de	decisão	deve	pertencer	à	totalidade	dos	cidadãos.	Evidente-
mente,	essas	ideias	e	princípios	inspiraram	os	líderes	da	Revolução	
Francesa	em	1789,	contribuindo	para	a	destruição	da	monarquia	
absoluta,	extinção	gradativa	dos	privilégios	da	nobreza	e	do	clero	
e	a	tomada	do	poder	pela	burguesia.
A	democracia	de	fato	e	de	direito,	na	qual	os	cidadãos	têm	
um	peso	real	na	tomada	de	decisões,	está	ainda	muito	precária	no	
mundo	inteiro:	há	ditaduras	veladas	e	países	nos	quais	a	democra-
cia	ainda	tem	uma	vida	muito	tenra,	como	no	caso	do	Brasil.
203© A Bioética e a Interdisciplinaridade
Não	podemos	ter	uma	visão	ingênua	e	nos	iludir	no	que	se	
refere	à	dimensão	política;	quem	tem	poder	econômico	tem,	tam-
bém,	poder	político	e,	com	certeza,	não	quer	perder	esse	poder.
Quem	trabalha	na	educação,	por	exemplo,	precisa	estudar	
e	analisar	as	ambiguidades	e	contradições	que	contêm	as	institui-
ções,	os	partidos,	os	sindicatos,	as	igrejas	e	as	organizações	sociais	
para	não	se	tornar	presa	fácil	no	jogo	de	interesses	na	esfera	po-
lítica.	
As	 fronteiras	 entre	 a	 Bioética	 e	 a	 Política	 precisam	 conter	
uma	 constante	 vigilância	 e	uma	análise	 crítica	 vigorosa:	 o	 avan-
ço	da	ciência	e	da	tecnologia	pode	abrir	portas	e	gerar	benefícios	
para	toda	a	sociedade,	mas	pode,	também,	trazer	e	produzir	gra-
ves	abusos	e	destruições.
Nessa	direção,	as	campanhas	de	vacinação	obrigatórias	rea-
lizadas	no	Brasil	e	em	outros	países	do	mundo	são	as	responsáveis	
pelo	 quase	 desaparecimento	 de	 doenças	 como	 varíola,	 difteria,	
poliomielite	entre	outras	doenças	e	epidemias.
Em	contrapartida,	as	fábricas	e	indústrias	bélicas,	os	enormes	
investimentos	em	estratégias	de	guerra,	a	medicina	esteticista	e	as	
derrubadas	criminosas	das	florestas	estão,	todos	os	dias,	exibindo	
os	seus	milhões	de	dólares	de	lucros	escandalosos	e	imorais.
A	violação	das	fronteiras	da	Bioética	e	da	Política	é	trágica	
para	a	maioria	da	humanidade,	pois	os	cientistas	(que	não	estão	
neutros	nesse	jogo	de	interesses)	produzem	teorias,	conhecimen-
tos,	paradigmas	que	passam	a	ser	dogmas	científicos	para	pautar	
e	fundamentar	sua	ação	predatória	generalizada.
Nuncaé	 demais	 perguntar	 quais	 são	 as	 políticas	 públicas,	
quanto	de	investimento	é	feito	nos	seres	humanos	e	na	gestão	so-
cial	e	quanto	é	a	fatia	orçamentária	para	a	pesquisa	tecnológica.
É	razoável	aceitar,	por	exemplo,	a	morte	de	um	bebê	que	não	
tem	cérebro,	mas	é	totalmente	inaceitável	que	morram	milhões	de	
crianças	no	mundo	inteiro	pelo	fato	de	não	possuírem	um	prato	de	
comida.
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 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
A Bioética e as fronteiras com o direito
As	fronteiras	entre	duas	propriedades,	entre	municípios	ou	
entre	dois	países	costumam	ser	precisas,	a	não	ser	que	haja	algum	
conflito	entre	as	partes.
As	fronteiras	entre	a	Bioética	e	o	Direito,	no	entanto,	ainda	
são	muito	imprecisas	e	nebulosas.	Nem	todas	as	leis	são	passíveis	
de	interpretação	dúbia	ou	conflituosa	e,	em	se	tratando	de	proble-
mas	novos	da	Bioética,	em	que	não	se	estabeleceu	uma	jurispru-
dência,	torna-se	mais	difícil	um	posicionamento.
Num	primeiro	momento,	o	Direito	pode	adotar	uma	atitude	
silenciosa,	isto	é,	enquanto	não	pode	prever	os	progressos	da	ciên-
cia	e	da	tecnologia,	é	razoável	uma	postura	de	cautela.
Contudo,	temos	os	adeptos	progressistas,	de	forma	que	os	
que	estão	mais	abertos	e	dispostos	a	aceitar	as	inovações	estarão	
sujeitos	a	entrar	no	mérito	da	questão	e	a	adotar	posições	mais	
flexíveis.
Há	 uma	 diversidade	 de	 situações	 perante	 os	 avanços	 nas	
pesquisas	e	investigações	que	não	permite	ao	legislador	que	ela-
bore	um	código	completo	e	minucioso	em	que	se	possam	prever	
todas	as	eventualidades.
Como	meio	 termo,	 podemos	 imaginar	 uma	 lei-quadro	 na	
qual	estão	elencados	e	explicitados	os	princípios	básicos,	sem	en-
trar	em	detalhes,	o	que	pode	facilitar	uma	determinada	tomada	
de	posição.
No	entanto,	dependendo	das	situações	prementes,	como	se	
decidir	com	relação	à	eutanásia,	o	aborto,	as	células-troco	embrio-
nárias,	e	que	carecem	de	uma	legislação	mais	rigorosa,	será	difícil	
chegar	a	um	consenso.
As	questões	que	envolvem	a	repetição	de	experiências	e	a	
solidez	das	decisões	poderão	figurar	num	segundo	grupo	no	Direi-
to,	que	terá	mais	tempo	para	a	sua	consolidação.
205© A Bioética e a Interdisciplinaridade
A Bioética e as fronteiras geográficas
Segundo	Bernard	(1993),	as	fronteiras	geográficas,	sem	dú-
vida,	são	fatores	preponderantes	para	se	entender	os	difíceis	con-
tornos	da	Bioética.	Cada	país,	região	e	seu	povo	caracterizam-se	
por	 possuir	 língua,	 costume,	 tradição,	 valores	 próprios	 que	 vão	
imprimir	certa	solidez	organizativa	daquele	grupo	humano	espe-
cífico.
Há,	 hoje,	 uma	 riqueza	 e,	 ao	mesmo	 tempo,	 um	problema	
que	engloba	o	multiculturalismo:	o	pluralismo	e	a	diversidade	cul-
tural	que	geram	preconceitos,	xenofobia	e	discriminações	profun-
das	e	injustas.
No	Japão,	por	exemplo,	é	proibido	por	lei	extrair	um	órgão	
de	uma	pessoa,	logo	após	a	constatação	da	sua	morte;	os	japone-
ses	 ricos,	porém,	atravessam	o	Oceano	Pacífico	para	efetuarem,	
em	São	Francisco,	um	transplante	de	fígado	ou	de	coração.
No	Brasil,	 a	 venda	de	um	 rim	vivo	é	permitida	e	pode	 ser	
averiguada	por	meio	de	pequenos	anúncios	nos	jornais	e	revistas.
A	fecundação	artificial	é	interditada	pela	Igreja	Católica,	mas	
largamente	aceita	e	mesmo	aconselhada	por	diversas	Igrejas	Pro-
testantes.
As	variações	geográficas	podem	ser	entendidas	por	variados	
fatores.	Em	primeiro	lugar,	há,	de	fato,	as	diferenças	culturais,	em	
que	cada	povo	constrói	suas	casas,	tem	sua	própria	arte	culinária,	
suas	festas	que	remontam	a	séculos,	há	milênios	e	que	fazem	par-
te	constitutiva	de	sua	história.	Reside	aí	a	riqueza	incomensurável	
do	multiculturalismo.	
Em	segundo	lugar,	há	as	diferenças	religiosas.	A	doutrina	bu-
dista,	por	exemplo,	é	diferente	da	católica,	do	protestantismo,	do	
islamismo,	do	hinduísmo	e	assim	por	diante.	Não	se	pode,	porém,	
admitir	 atitudes	 fundamentalistas,	 intolerâncias,	 preconceitos	 e	
oposições	 irredutíveis.	Há	a	necessidade	de	se	buscar	os	pontos	
de	convergência,	segundo	Hans Kung ,	em	seu	livro	As religiões do 
mundo:	em busca dos pontos comuns.
© Antropologia, Ética e Cultura206
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
Em	terceiro	lugar,	devem	ser	levados	em	consideração	os	fa-
tores	econômicos:	a	pobreza	é	sempre	um	estímulo	significativo	
para	a	venda	de	bebês,	de	órgãos	humanos,	o	comércio	de	sangue,	
de	fígado,	de	rim	entre	outros.
Destaquem-se,	ainda,	as	diferenças	médicas:	não	 somente	
a	presença	física	da	Medicina,	uma	vez	que	há	 lugares	e	regiões	
onde	ela	inexiste	ou	se	apresenta	totalmente	precária,	mas	aque-
las	aliadas	às	políticas	públicas	de	saúde	de	um	sistema	preven-
tivo,	e	não	apenas	curativo,	como	é	o	caso	do	“Sistema	de	Saúde	
Brasileiro”,	em	que	temos	um	“Ministério	de	Doenças”	e	não	de	
“Saúde”.
A	listagem	das	diferenças	geográficas	poderia	ser	estendida	
e	ampliada,	mas	o	importante	é	que	cada	um	de	nós	tenha	consci-
ência	de	que	essas	diferenças	existem	e	precisam	ser	reconhecidas	
e,	sobretudo,	respeitadas.
Há,	atualmente,	uma	tendência	no	sentido	de	se	criar	“Co-
mitês	de	Ética”	nas	instituições,	nas	empresas,	nos	Estados	e	em	
regiões	estratégicas	que	deverão	discutir,	elaborar	e	divulgar,	pela	
mídia,	 suas	 decisões	 e	 posicionamentos,	 tentando	 aproximar	 as	
pessoas	das	organizações	jurídicas	e	civis,	buscando	sempre	ações	
mais	convergentes.
Os	Comitês	locais,	regionais,	nacionais	e	internacionais	têm	
uma	tarefa	premente	e	importante:	promover	encontros,	debates	
e	simpósios	bem	como	a	produção	de	uma	legislação	que	demo-
cratize	os	estudos	e	pesquisas,	as	descobertas	científicas	para	toda	
a	sociedade,	em	especial,	a	adoção	de	medidas	preventivas	quan-
to	à	 saúde	pública,	ao	planejamento	 familiar,	em	relação	a	uma	
alimentação	mais	correta,	à	adoção	de	atividades	físicas	que	pos-
sam	contribuir	para	uma	efetiva	melhoria	da	qualidade	de	vida	de	
todas	as	pessoas,	indistintamente.
Esses	 Comitês,	 num	primeiro	momento,	 podem	desempe-
nhar	um	papel	mais	consultivo	e	informativo	do	que	propriamente	
jurídico	ou	político,	e	o	seu	poder	está,	fundamentalmente,	na	éti-
ca	e	na	preservação	dos	valores	humanos.
207© A Bioética e a Interdisciplinaridade
Leitura Complementar ––––––––––––––––––––––––––––––––
 O global é mais que o contexto, é o conjunto das diversas partes ligadas a ele de 
modo inter-retroativo ou organizacional. Dessa maneira, uma sociedade é mais 
de um contexto: é o todo organizador de que fazemos parte. O planeta Terra é 
mais do que um contexto: é o todo ao mesmo tempo organizador e desorganiza-
dor de que fazemos parte. O todo tem qualidades ou propriedades que não são 
encontradas nas partes, se estas estiverem isoladas umas das outras, e certas 
qualidades ou propriedades das partes podem ser inibidas pelas restrições pro-
venientes do todo. Marcel Mauss dizia: “É preciso recompor o todo”. É preciso 
efetivamente recompor o todo para conhecer as partes (MORIN, 2002, p. 37).
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
8. QUESTÃO AUTOAVALIATIVA
Sugerimos,	 neste	 tópico,	 que	 você	 procure	 responder	 às	
questões	a	seguir,	que	tratam	da	temática	desenvolvida	nesta	uni-
dade,	bem	como	que	as	discuta	e	as	comente.
A	autoavaliação	pode	ser	uma	ferramenta	importante	para	
testar	seu	desempenho.	Se	encontrar	dificuldades	em	responder	
a	 essas	 questões,	 procure	 revisar	 os	 conteúdos	 estudados	 para	
sanar	suas	dúvidas.	Este	é	o	momento	ideal	para	você	fazer	uma	
revisão	do	estudo	desta	unidade.	Lembre-se	de	que,	na	Educação	
a	Distância,	a	construção	do	conhecimento	ocorre	de	forma	coo-
perativa	e	 colaborativa.	 Portanto,	 compartilhe	 com	seus	 colegas	
de	curso	suas	descobertas.
2)	 Potter	dedicou	 sua	 vida	 inteira	para	 fortalecer	 e	 cons-
truir	 caminhos	 para	 que	 a	 Bioética	 se	 transformasse	
num	projeto	de	vida	para	todos	os	seres	humanos	que	
habitam	oplaneta	Terra,	fato	que	ainda	está	muito	dis-
tante	de	acontecer.
Pesquise	na	mídia	uma	matéria	 jornalística	que	conte-
nha	preconceito,	 xenofobia	ou	algum	 tipo	de	discrimi-
nação	religiosa,	sexual,	étnica,	ideológica	ou	de	gênero.
9. CONSIDERAÇÕES
Nesta	unidade,	tivemos	a	oportunidade	de	conhecer	o	pon-
to	de	partida	da	Bioética	moderna,	bem	como	os	temas	relacio-
© Antropologia, Ética e Cultura208
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
nados	à	Bioética	e	à	interdisciplinaridade,	como	às	suas	fronteiras	
epistemológicas.
Já	na	próxima	unidade,	poderemos	estudar	o	processo	de	
secularização	e	o	momento	em	que	a	ciência	encontra	a	religião.	
Até	a	próxima!
10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BERNARD,	J.	A Bioética.	Lisboa:	Instituto	Piaget,	1993.
BRAGA,	K.	S.	Bibliografia sobre Bioética Brasileira:	1990	–	2002.	Brasília:	Letras	Livres,	
2002.
DINIZ,	D.	Conflitos morais e Bioética.	Brasília:	Letras	Livres,	2002.
GARRAFA,	V.	Pesquisas em Bioética no Brasil de hoje.	São	Paulo:	Gaia,	2006.
VIDAL,	M.	Dez palavras chave em moral do futuro.	São	Paulo:	Paulinas,	2003.
VIEIRA,	T.	R.	Bioética e Direito.	São	Paulo:	Jurídica	Brasileira,	2003.	
MORIN,	E.	Os Sete Saberes necessários à Educação do Futuro.	São	Paulo:	Cortez,	2002.

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