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Plano de Aula: Temas contemporâneos da Sociologia (III) FUNDAMENTOS DAS CIÊNCIAS SOCIAIS - CCJ0001 Título Temas contemporâneos da Sociologia (III) Número de Aulas por Semana Número de Semana de Aula 15 Tema A vida nas grandes metrópoles: solidão na multidão. Olhares sobre a sociedade: desigualdade social e invisibilidade social. A lógica do consumo, a obsolescência planejada e a problemática socioambiental. Objetivos Compreender as relações sociais nas grandes metrópoles, em especial o processo de produção de invisibilidade social. Entender a importância da questão da sustentabilidade no mundo contemporâneo. Estrutura do Conteúdo 1 - A globalização e a lógica do consumo Embora seja possível afirmar que os primeiros passos, na direção da construção de um mundo globalizado tenham sido dados no início da modernidade, com as grandes navegações, a real sensação do que se compreende como globalização passa a existir, mais exatamente, no final da década de 1980 com o desenvolvimento das chamadas Tecnologias da Informação. A partir daí passa a existir um aumento considerável na velocidade e na intensidade da troca de informações, fazendo com que acontecimentos locais sejam muitas vezes modelados por processos que se desenvolvem a quilômetros de distância. Segundo Anthony Giddens, em As Consequências da Modernidade, a globalização pode ser definida como a intensificação das relações sociais em escala mundial. Neste sentido a globalização do mundo expressaria um novo ciclo de expansão do capitalismo, como modo de produção e processo civilizatório de alcance mundial (in Ianni, Octavio. Globalização e a nova ordem internacional). Ainda segundo Ianni este mundo globalizado seria marcado por diversidades, desigualdades, excl usão, tensões e antagonismos, que se dariam simultaneamente às articulações e integrações regionais, transnacionais, e globais. Consequentemente o mundo globalizado não é um mundo homogêneo, mas sim um espaço marcado por significativas diferenças culturais. Sendo assim é correto afirmar que o capitalismo global seria, na verdade, um processo de ocidentalização caracterizado pela exportação das mercadorias, dos valores, das prioridades, das formas de vida ocidentais (Hall, Stuart. A Identidade Cultural na Pós-Modernidade). Um grande traço comum, para as sociedades inseridas no processo de globalização seria justamente a generalização da dinâmica da sociedade de mercado, o que envolve determinados padrões de produção, associados a práticas de consumo frenético. Esta generalização deste modo de produção e consumo, em função do movimento de globalização do capital estaria na raiz da problemática socioambiental, o que levou Zygmunt Bauman, em seu trabalho intitulado "Globalização, as consequências humanas", a afi rmar que nos tornamos, acima de tudo, uma sociedade de consumidores e acumuladores de sensações. 2 - A vida nas metrópoles e a invisibilidade social Conforme mostrado no capítulo 6 do Livro Didático de Ciências Sociais, um dos mais estudados problemas contemporâneos é a vida nas metrópoles, marcada por uma grande heterogeneidade de tipos que pouco se comunicam, criando uma sensação de "solidão na multidão". Como consequência dessa impessoalidade nas relações, o indivíduo adota uma atitude denominada por Georg Simmel, como atitude blasé, ou seja, a atitude de nos distanciarmos e darmos pouca importância ao outro, que faz parte do mesmo meio social. Desta forma, uma das bases da atitude blasé consiste, portanto, na incapacidade do habitante das grandes cidades de diferenciação das coisas, das pessoas e dos acontecimentos importantes. Eles aparecem de modo uniforme, com um tom fosco e sem hierarquias. Esta incapacidade de distinção dos indivíduos torna- se, então,correspondente àquela que o dinheiro promove nas relações interpessoais. É o reflexo da economia do dinheiro que passa a ser interiorizado pelos sujeitos? Essa atitude de reserva se traduz, recorrentemente, num processo de tornar invisíveis, do ponto de vista social, alguns indivíduos e grupos estigmatizados por diferentes particularidades, sejam elas condições econômicas, hábitos considerados antissociais ou o pertencimento a grupos que são considerados um perigo em potencial para a sociedade. Vale ressaltar que a invisibilidade cultural é um fenômeno que ocorre em todas as sociedades, independente de sua posição no cenário mundial. Contudo, é nos países mais pobres e periféricos que esta questão atinge a sociedade de forma mais aguda, percebendo-se, constantemente, situações em que sentimentos de medo, estranheza e hostilidade se fazem presentes. 3 - A perspectiva do desenvolvimento ecologicamente sustentável Como vimos no início do capítulo, a lógica do consumo norteia a sociedade contemporânea. Isto gera graves problemas socioambientais, que suscitaram, nos estudiosos da sociedade, a ideia da necessidade de um desenvolvimento sustentável. Segundo o economista polonês Ignacy Sacs, "crescimento econômico sem distribuição de renda e sustentabilidade ambiental pode ser chamado de qualquer coisa, menos de desenvolvimento?. Nesta perspectiva, desenvolver a sociedade de maneira ambientalmente sustentável significa utilizar os recursos naturais não renováveis, hoje, de um modo que as gerações futuras também possam vir a utilizá-los. Esta afirmação que parece simples, na verdade exige um significativo esforço de mudança de hábitos e valores, para ser colocada em prática. Isto porque ao longo de todo o século XX e até os dias atuais, grande parte das sociedades contemporâneas têm utilizado recursos limitados como a água, por exemplo, como se fossem inesgotáveis. Por este ângulo é falso o discurso que afirma existir uma contradição estrutural entre desenvolvimento e sustentabilidade ambiental, já que as demandas sociais se relacionam, em grande parte dos ca sos, ao fluxo adequado de recursos do meio físico, isto é, da natureza. Tais afirmações se devem a construção de uma visão bastante distorcida, no que se refere às relações entre ambiente e sociedade. É como se fosse possível separar a sociedade humana da natureza, ou seja, agir e pensar como se os seres humanos não dependessem dos recursos da biosfera como todos os demais seres do planeta, o que é um grave equívoco. De um modo diferente daquele que muitas vezes somos influenciados a pensar, por meio das diferentes mídias, os seres humanos não podem salvar ou destruir o planeta. Ele vai continuar existindo e a vida também. O que podem sim fazer, é destruir as condições que dão suporte a própria existência da humanidade, ou seja, o homo sapiens é a espécie mais ameaçada. Na medida em que aumenta o conhecimento sobre parte dos problemas socioambientais, que ameaçam a manutenção do atual modelo civilizatório industrial, como o aquecimento global, o esgotamento dos recursos hídricos ou a drástica redução da diversidade biológica do planeta surge, também, a iniciativa de explicar a história e o desenvolvimento das diferentes práticas culturais, a partir da inclusão de variantes ambientais. As questões ecológicas passaram a adquirir maior importância, tanto ao nível do debate político, quanto com relação às discussões realizadas nos diversos setores da vida acadêmica. Isto somado a importância do desenvolvimento de políticas econômicas sustentáveis, para a manutenção e melhoria da qualidade de vida das sociedades e suas gerações futuras fez com que o enfoque ecológico passasse a ocupar um espaço maior na Sociologia e nas chamadas ciências humanas de um modo geral. Surge, então, uma nova área de abordagem social a ecologia política, que passa a estudar estuda os conflitos ecológicos distributivos. Por distribuição ecológica são entendidos os padrões sociais, espaciais e temporais de acesso aos benefícios obtidos dos recursosnaturais e aos serviços proporcionados pelo ambiente como um sistema de suporte da vida. Os determinantes da distribuição ecológica são em alguns casos naturais, como o clima, topografia, padrões pluviométricos, jazidas de minerais e a qualidade do solo. No entanto, também são claramente sociais, culturais, econômicos, políticos e tecnológicos. Em parte a ecologia política se superpõe à economia política, que na tradição clássica corresponde ao estudo dos conflitos relacionados à distribuição econômica. Por exemplo, existem grupos do meio urbano, tão pobres e detendo tão pouco poder que não dispõem de condições para adquirir ou dispor de água potável em contextos urbanos. Do mesmo modo, muitos outros conflitos ecológicos distributivos situam-se fora da esfera do mercado, levando os economistas ortodoxos a disfarçarem estas situações com o uso de expressões como "externalidades" ou "falhas do mercado" (Alier, Joan Martínez. O ecologismo dos pobres). Aplicação Prática Teórica Questão discursiva: Leia o texto abaixo e responda as questões propostas: Jovens aprendem a "viração" R. C. R., de oito anos, acorda todas as manhãs quando o policial o derruba do banco da Praça da Sé. Nesse momento começa, como em todos os dias, a luta para se adaptar ao ambiente adverso da rua, conseguir comida, sustento e até diversão". O que você quer dizer com problemas? Nunca tive grandes problemas, sempre me viro", afirma L. A. S., menino de rua que tem nove anos. Marcos Lima Araújo diz: "Tenho 18 anos, não estudei, passo o dia todo andando aqui pelo centro. Não tenho a mínima ideia de como mudar. Acho que daqui a cinco anos, vou estar na mesma." Para ele, apanhar de policiais, roubar, cheirar cola, fumar maconha e crack não são problemas. Nem a violência do 'Testa de Amolar Faca', jovem de 22 anos que espanca os meninos todas as vezes que encontra. "Ele chama a gente de irmãos mais novos", diz o amigo R.C. R. Eles ficam um pouco mais bravos quando contam que a colega "Babi" teve que rolar no lixo "para se lembrar de onde veio", porque o policial "Bigode Cara de Bode" estava nervoso. Ou como pularam do primeiro andar de um prédio quando o guarda não deixou eles descerem as escadas."Se vocês vieram para roubar, vão sair pela janela", gritou o vigia, segundo um menino. Durante passeio dos meninos pelo centro, chegou uma senhora, de mais de 50 anos, e começou a atazaná-los. "Não enche, velha pinguça", gritou W.S.C, que estava com os outros dois. A senhora retrucou com uma ofensa e agarrou o mais novo pelo braço. Os dois chutaram a mulher e derrubaram a bituca do cigarro que fumavam no copo de pinga. A senhora saiu esbravejando. "Tem muita gente folgada aqui na rua", disse L.A.S. Mesmo assim L.A.S. nem percebeu que havia sofrido e praticado violência. Saiu de casa porque apanhava dos pais e não passa mais um dia sendo respeitado. Para M.S.S., de 18 anos, é pior quando os pedestres passam longe dele na calçada ou fecham o vidro dos carros ao verem ele na rua. "Poxa, não estou nem assaltando. Eu sei que todo mundo está com medo, mas...". M.S.S não tem argumentos, ainda assim, sabe que merece mais respeito. "Viração" é a categoria utilizada pela autora para expressar a habilidade que os meninos de rua desenvolveram para contornar as situações adversas. (GREGORI, Maria. Filomena. Viração - Experiências de meninos nas ruas. São Paulo: Companhia das Letras, 2000). I - Explique os conceitos de atitude blasé e invisibilidade social estudados nesta aula. II - Identifique, no texto acima, situações que revelam os fenômenos acima citados. Questão de múltipla escolha: (ENADE 2011) A definição de desenvolvimento sustentável mais usualmente utilizada é a que procura atender às necessidades atuais sem comprometer a capacidade das gerações futuras. O mundo assiste a um questionamento crescente de paradigmas estabelecidos na economia e também na cultura política. A crise ambiental no planeta, quando traduzida na mudança climática, é uma ameaça real ao pleno desenvolvimento das potencialidades dos países. O Brasil está em uma posição privilegiada para enfrentar os enormes desafios que se acumulam. Abriga elementos fundamentais para o desenvolvimento: parte significativa da biodiversidade e da água doce existentes no planeta; grande extensão de terras cultiváveis; diversidade étnica e cultural e rica variedade de reservas naturais. O campo do desenvolvimento sustentável pode ser conceitualmente dividido em três componentes: sustentabilidade ambiental, sustentabilidade econômica e sustentabilidade sociopolítica. Nesse contexto, o desenvolvimento sustentável pressupõe: a) a preservação do equilíbrio global e do valor das reservas de capital natural, o que não justifica a mudança no padrão do crescimento e do modelo econômico das sociedades. b) a redefinição de critérios e instrumentos de avaliação de custo-benefício que reflitam os efeitos socioeconômicos e os valores reais do consumo e da preservação. c) o reconhecimento de que, apesar de os recursos naturais serem ilimitados, deve ser traçado um novo modelo de desenvolvimento econômico para a humanidade. d) a redução do consumo das reservas naturais com a consequente estagnação do desenvolvimento econômico e tecnológico. e) a distribuição homogênea das reservas naturais entre as nações e as regiões em nível global e regional.
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