Buscar

Responsabilidade civil Pública

Prévia do material em texto

2.  DO MÉRITO
 
Quanto ao tema responsabilidade civil da administração pública, o Ministro Celso de Mello, no RE, AgR 481110/PE, registra que os elementos que compõem a estrutura e delineiam o perfil da responsabilidade civil objetiva compreendem (a) a alteridade do dano, (b) a causalidade material entre o "eventus damni" e o comportamento positivo (ação) ou negativo (omissão) do agente público, (c) a oficialidade da atividade causal e lesiva imputável a agente do Poder Público que tenha, nessa específica condição, incidido em conduta comissiva ou omissiva, independentemente da licitude, ou não, do comportamento funcional e (d) a ausência de causa excludente da responsabilidade estatal.
 
Entretanto, a omissão do Poder Público, passa a ser encarada, quer pela doutrina e jurisprudência, como responsabilidade civil subjetiva. Ou seja, mister nesse caso a análise da efetiva culpa ou do dolo do agente público.
 
Nesse prisma, Celso Antônio Bandeira de Mello muito bem trata do tema, senão vejamos: “ Quando o dano foi possível em decorrência de uma omissão do Estado (o serviço não funcionou, funcionou tardia ou ineficientemente) é de aplicar-se a teoria da responsabilidade subjetiva. “
 
Com efeito, se o Estado não agiu, não pode, logicamente, ser o autor do dano. E se não foi o autor, só cabe responsabilizá-lo caso esteja obrigado a impedir o dano, ou seja, só faz sentido responsabilizá-lo se descumpriu dever legal que lhe impunha obstar evento lesivo.
 
Caso o Poder Público não estivesse obrigado a impedir o acontecimento danoso, faltaria razão para impor-lhe o encargo de suportar patrimonialmente as consequências da lesão.
 
Assim, a responsabilidade estatal por ato omissivo é sempre responsabilidade por comportamento ilícito. “E sendo responsabilidade por ilícito é necessariamente responsabilidade subjetiva, pois não há conduta ilícita do Estado que não seja proveniente de negligência,  imprudência ou imperícia (culpa)”.
 
A responsabilização de Estado por conduta omissiva é detectável da expressão  "causarem", inserta no parágrafo 6º do art. 37 da Constituição da República Federativa do Brasil, que somente abarca os atos comissivos, e não omissivos, afirmando que estes apenas condicionam o evento danoso, ou seja, são apenas condição - e não causa -, do dano, pois causa é o fato que positivamente gera um resultado e condição é o evento que não ocorreu, mas que, se tivesse ocorrido,  teria impedido o resultado.
 
O STF, ademais, apresentou esse entendimento no voto da lavra do Ministro Celso de Mello, no RE n.º 179.147/SP que, diante a omissão na prestação de serviço público, a culpa fica publicizada, ante a falta na prestação de serviço, ensejando a aplicação da teoria da responsabilidade civil subjetiva, ex vi do art. 36, § 7º, da CRFB.
 
Da ementa, assim colhe-se:
“a responsabilidade civil das pessoas jurídicas de direito público e das pessoas jurídicas de direito privado prestadoras de serviço público, responsabilidade objetiva, com base no risco administrativo, ocorre diante dos seguintes requisitos: a) do dano; b) da ação administrativa; c) e desde que haja nexo causal entre o dano e a ação administrativa. [...] III – Tratando-se de ato omissivo do Poder Público, a responsabilidade civil por tal ato é subjetiva, pelo que exige dolo ou culpa, numa de suas três vertentes, negligência, imperícia ou imprudência, não sendo, entretanto, necessário individualizá-la, dado que pode ser atribuída ao serviço público, de forma genérica, a faute de service dos franceses. IV – Ação julgada procedente, condenando o Estado a indenizar a mãe do presidiário que foi morto por outro presidiário, por dano moral. Ocorrência da faute de service. V – RE não conhecido."
 
Assim, fica claro que, nos casos de omissão por parte do Município, a responsabilidade é considerada subjetiva. Cumpre, portanto, àquele que sofreu os efeitos do fato danoso demonstrar que a Administração, por meio de seus agentes, incorreu em uma das modalidades de culpa: negligência, imprudência ou imperícia.
 
Com efeito, vale recordar que, em qualquer caso de responsabilidade do Município, seja por conduta comissiva, seja por omissiva, haverá sempre os seguintes elementos a serem comprovados: o dano suportado pela vítima, a conduta estatal (comissiva ou omissiva) e onexo de causalidade. Ausentes um desses elementos, não há que falar-se em responsabilização civil por parte da Administração.
 
Conclui-se, portanto, que o Município responde subjetivamente pelos comportamentos omissivos de seus respectivos prepostos, devendo, dessa forma, restar caracterizado, além da omissão, dos danos e do nexo causal, a culpa administrativa.
 
 Ainda que se verifique ação do agente público no caso concreto, no direito pátrio, não é dado ignorar, assenta-se à responsabilidade em três requisitos fundamentais: a) o dano suportado pela vítima; b) o ato culposo do agente; c) o nexo causal entre o dano e a conduta culposa.
 
No tocante a culpa, nos ensina o mestre Fernando Noronha (Direito das Obrigações, Florianópolis, 1997, p. 194. MIMEO) que:
 
Em princípio, só existe obrigação de reparar os danos que tiverem sido causados pelo responsável, ou seja, é pressuposto da obrigação de indenizar a existência de nexo causal entre a conduta do agente e o dano causado.
 
Inexistindo culpa por parte da administração pública, não há como se falar em nexo de causalidade, requisito indispensável para a caracterização da responsabilidade civil.
 
O nobre e renomado Prof. Fernando Noronha comenta ainda:
 
(...) um fato é causa de um dano quando este seja conseqüência normalmente previsível daquele. Para que se possa aferir se um dano é conseqüência normalmente previsível do fato, urge tecer uma "prognose retrospectiva, isto é, o julgador deve-se colocar...” no momento anterior àquele em que o fato ocorreu e tentar prognosticar, de acordo com as regras da experiência comum, se era normalmente previsível que o dano viesse a ocorrer.
 
Anota o brilhante Washington de Barros Monteiro, a respeito da culpabilidade, que “Em princípio, para que haja responsabilidade, é preciso que haja culpa; sem prova desta, inexiste obrigação de reparar o dano” (Curso de Direito Civil, Direito das Coisas, 6ª ed., Saraiva, 1969, pág. 418).
 
Completa Carlos Roberto Gonçalves, sobre a existência da causalidade, “O dano só pode gerar responsabilidade quando seja possível estabelecer um nexo causal entre ele e o seu autor” (Responsabilidade Civil, 9ª ed., Saraiva, 2005, p. 536).
 
 
Não há como lograr êxito a pretensão aduzida pelo Requerente, visto que a culpa do Requerido, requisito indispensável para caracterização da responsabilidade civil, não foi comprovada. Logo, comprovado que não houve a culpa do Requerido no evento danoso e que não existiu nexo de causalidade entre os danos sofridos e a sua conduta, inexiste-lhe obrigação de reparar os danos ocorridos.

Continue navegando