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AD1 Teoria da Literatura

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Centro de Educação Superior a Distância do Estado do Rio de Janeiro
Universidade Federal Fluminense
Curso de Licenciatura em Letras- UFF / CEDERJ
Disciplina: Teoria da Literatura 1
Coordenador: José Luís Jobim
AD 1 - 2018/2
Aluna: Izabel Santa Cruz Fontes
Polo: Nova Iguaçu
Matrícula: 18113120301
1. Leia, a seguir, as frases que sintetizam opiniões sobre o que é literatura para o senso comum: 
1. Literatura são textos escritos com uma linguagem embelezada. 
2. Literatura é tudo o que está escrito. 
3. Literatura é um texto completo escrito com uma língua qualquer (português, espanhol, inglês, francês etc.) 
4. Literatura consiste em fazer arte com as palavras. 
5. Literatura é a criação de novas possibilidades de uso da palavra. 
6. Literatura é o conjunto de textos escritos para o autor comunicar com suas palavras alguma coisa ao leitor. 
Baseado no que você já tinha em sua cabeça e no que aprendeu nas duas primeiras aulas, comente pelo menos duas das frases acima. Coloque o número da frase comentada. 
a. Número da frase: 1
Comentário: 
Segundo Antoine Compagnon em O demônio da teoria (2010), a associação da literatura ao belo pode ser localizada em meados do século XVIII com o pensamento romântico e a terceira crítica kantiana, A crítica da faculdade do juízo. Enquanto o pensamento romântico defendia a beleza singular da obra literária e o gênio do artista, Kant afirmava que o julgamento estético é o único que pode ser considerado desinteressado, sendo guiado pelo sentimento subjetivo do prazer. A partir de então, a beleza passa a ser perseguida como um fim em si mesma e, ao mesmo tempo, como manifestação da própria singularidade. 
Perseguir o belo ao escrever significa dizer que, diferentemente da linguagem cotidiana que tem um objetivo instrumental de comunicação, o fazer literário se justifica internamente. Escrever literatura passa a ser procurar uma forma de expressão bela e, ao mesmo tempo, singular. Assim, Terry Eagleaton afirma que “o discurso literário torna estranha, aliena a fala comum; ao fazê-lo, porém, paradoxalmente nos leva a vivenciar a experiência de maneira mais íntima, mais intensa” (2006, p. 6).
Esse estranhamento da linguagem que seria inseparável da experiência literária é justamente a base do pensamento formalista. Jakobson afirma que a literatura é marcada pela função poética ou estética, orientada para a mensagem. Neste sentido, a frase de número um relaciona-se intimamente com as frases de número quatro e cinco e as ideias de que o uso literário da língua, além de belo, faz parte de um fazer artístico singular e criador de novas possibilidades.
b. Número da frase: 2
Comentário: 
Literatura tem a sua origem na palavra latina litterae (letra). Etimologicamente, portanto, a literatura está associada à letra, ou seja, à palavra escrita. 
Em um sentido amplo e histórico, podemos dizer que literatura é tudo aquilo que está impresso, a biblioteca de uma sociedade (biblioteca aqui entendida em um sentido figurado que remete à toda a cultura letrada de uma sociedade). Este sentido retoma à concepção clássica de literatura como tudo o que é produzido pela retórica e pela poética, ou seja, não apenas a ficção, mas também a história, a filosofia, os textos científicos. 
A literatura é, em outras palavras, representante do conhecimento cultural de uma sociedade materializado no objeto livro. No entanto, é preciso destacar que a materialização da cultura na forma de um livro possui em si também um elemento valorativo – afinal, somente eram colocadas na forma escrita coisas que tinham em si um valor reconhecido e eram consideradas dignas de eternização e transmissão.
2. Considerando tudo o que você aprendeu na aula 3, diga quais foram os dois mais importantes aspectos sobre a relação entre literatura e linguagem, na sua opinião. Justifique sua resposta. 
Para mim, os dois aspectos mais importantes na relação entre literatura e linguagem são a) a criação de novas possibilidades de uso da palavra como projeto sistemático e b) a limitação de que estas inovações estejam circunscritas a uma língua natural. 
É justamente através da criação de novas possibilidades do uso da língua como projeto o que caracteriza a função poética da linguagem, considerada por Jakobson e pelos formalistas russos a característica central da literatura. Ao afastar-se do uso cotidiano da linguagem, o escritor produziria no leitor um estranhamento que o afastaria da anestesia cotidiana, sensibilizando-o através do desfazer das formas automáticas da percepção. Por outro lado, para que o texto possa ser compreendido e apreciado é necessário que estas inovações sejam produzidas dentro de um certo limite, que haja solo em comum entre o autor e o público leitor de sua obra. Essa fronteira deve ser dada, portanto, pelas estruturas sintáticas e morfológicas de uma língua natural, mesmo que elas em alguns momentos pontuais sejam quebradas (como por exemplo em alguns textos ou trechos de obras do alto-modernismo). 
3. Formule, em suas próprias palavras, um sentido para cada um dos termos abaixo:
FICÇÃO
Ao contrário do que pensa o senso comum, ficção não é o oposto de verdade, não é sinônimo de falsidade. Ficção deriva do latim fictio, termo utilizado no direito romano para o processo jurídico onde um escravo era julgado como se fosse um cidadão romano. É também etimologicamente próximo ao verno fingir. Ficção pode ser definido como um mecanismo de organização temporal e de criação de mundos possíveis, onde são feitos discursos acerca de objetos da ordem do possível e não do factual. 
Aristóteles, ao discorrer sobre a lógica ficcional, ressalta a sua superioridade frente ao discurso historiográfico, por conta de sua capacidade de abrir-se em multiplicidade e assim representar o universal. O inglês Frank Kermode, por outro lado, destaca a capacidade da ficção de conferir sentido ao tempo e de abrir os horizontes humanos. Afirmação semelhante encontramos no filósofo Jacques Rancière, que, resgatando o pensamento aristotélico, defende que a História só é possível através de uma lógica ficcional, afinal, sem o sequenciamento, seleção e enquadramento ficcional os acontecimentos históricos nada mais seriam do que fatos perdidos, isolados e confusos. 
REALISMO
O realismo foi um movimento literário surgido na França durante o século XIX e que acreditava que a Literatura deveria representar o mundo real da maneira mais fiel possível, espalhando-o, o que permitiria ao leitor adquirir conhecimento sobre a realidade na qual vivaia. Foi fortemente influenciado pela sociologia e filosofia da época, sobretudo pelo positivismo e darwinismo sociais, e surgiu como uma reação à artificialidade, ao sentimentalismo e aos excessos do romantismo. 
A temática realista era marcada por temas atuais, como a complexidade da psicologia humana, os costumes e problemas da classe média, etc. Os autores realistas não almejavam apenas possibilitar uma experiência estética, mas pensavam seus textos de modo a construir um conhecimento acerca da realidade, sendo vitrines do mundo real. Para alcançar este efeito, faziam uso de longas descrições, com exaustivos detalhes. Apesar de ficcionais, os personagens e as situações deveriam sempre ter correlatos no mundo real.
REFERÊNCIA
Quando falamos em referência, estamos falando da relação entre aquilo produzido pela linguagem e o que se considera como mundo real. O tipo de relação entre a expressão verbal e o objeto – existente ou não existente - aproxima ou afasta um autor ou obra da representação do real. Assim, temos correntes como o realismo, que busca produzir um texto conectado às regras do mundo como o conhecemos, e correntes como o surrealismo ou o fantástico, que constroem mundos e situações que não possuem relações diretas com o real. 
4. No ano de sua publicação em livro, as Memórias Póstumas de Brás Cubas receberam uma variedade de críticas. Houve, como seria de se esperar em relação a um autor que também escrevia regularmente em jornais e revistas, observaçõesprotocolares como a publicada na Gazetinha, em 12 de dezembro de 1881: “Recebemos e agradecemos um exemplar do notável romance de Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas, sobre o qual daremos qualquer dia destes um folhetim”. (GUIMARÃES, 2004, 346) Mas mesmo as observações protocolares às vezes incluíam uma certa interrogação relativa àquele texto, que aparentava ter, além do que se supunha ser mais familiar para a época, alguma coisa mais. Talvez seja por isso que, mesmo antes da publicação em livro, Raul Pompéia, na Revista Ilustrada, em abril de 1880, declara sobre o romance: “É ligeiro, alegre, espirituoso, é mesmo mais alguma cousa” (apud Guimarães, 2004, p. 345). 
Capistrano de Abreu, em 1881, parece retomar a fala de Pompéia, considerando que há “alguma cousa” mais naquela obra, e questionando até mesmo o enquadramento das Memórias como romance: “As Memórias póstumas de Brás Cubas serão um romance? Em todo o caso são mais alguma cousa” (apud Guimarães, 2004, p. 347). 
Tendo em vista as informações acima, escolha uma das afirmativas abaixo e faça um comentário sobre como esta afirmativa pode ser relacionada às informações acima: 
a. A obra literária é privilegiada porque tem condição de manter-se tal qual era materialmente no passado, inscrevendo-se todavia no presente, o que não é possível para uma série de outras manifestações históricas. 
b. No entanto, devemos estar atentos para o fato de que o sentido da obra não será o mesmo para os vários e sucessivos públicos leitores, de modo que, mesmo considerando que a obra materialmente pode ser a mesma, ela poderá significar coisas diferentes. 
c. Nossa leitura hoje se dá em um momento, em que outras questões já foram formuladas, reflexões já foram feitas, opiniões já foram emitidas.
Afirmativa c: Mesmo que o livro como mídia se preserve por muitos anos e nos seja possível hoje ter acesso ao mesmo objeto que o leitor das Memórias póstumas de Brás Cubas em 1881, nosso entendimento da obra não será o mesmo que o do público na ocasião de seu lançamento. A recepção de uma obra literária é inseparável de seu tempo, de seu contexto histórico, dos pensamentos e ideias que dominam à época. Por isso, mesmo que tenhamos em mãos uma edição de 1881, não temos em mãos o mesmo livro, porque o livro que temos em mãos é inseparável daquilo que sobre ele se pensou e escreveu. 
As citações de Raul Pompéia e Capistrano de Abreu destacadas aqui fazem parte da primeira recepção do livro, ou seja, remetem a um momento em que ainda não se havia pensado sobre a obra, em que suas inovações estéticas e de conteúdo ainda não tinham sido assimiladas. O que à época era inquietante e novidade, difícil de definir, hoje em dia já foi estudado e analisado à exaustão, tendo em vista que o texto em questão faz parte do cânone da literatura brasileira, talvez um dos mais importantes da nossa literatura. Por mais que tentemos resgatar o contexto histórico e social de lançamento do livro, não nos é possível nos desvencilharmos da nossa época, nossa leitura será necessariamente marcada pelas questões presentes e por toda a fortuna crítica do livro em questão.
Além disso, toda obra é redefinida também por aquilo que se escreveu depois dela, por aquilo que ela influenciou. Tendo sido Memórias póstumas de Brás Cubas um dos livros mais influentes do final do século XIX, ele influenciou vários escritores que vierem depois e com os quais tivemos contato, assim, nossa leitura é marcada também por esses livros que vieram depois, que retomaram e citaram Machado de Assis, seu estilo e seu pensamento. 
Mesmo a noção de gosto literário, que se costuma pensar como individual dentro do senso comum, é uma construção social e histórica, não podendo ser visto como algo construído singularmente. É preciso sempre ter em mente que a construção de valor, o que é visto como alta ou baixa literatura, é indissociável das relações de poder que existem na sociedade e toda leitura é intrinsecamente marcada por essa construção. Portanto, nossa leitura hoje é também influenciada pelo valor e importância conferidos à obra pelo cânone.

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