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Texto 05 - O SIST MON EUR e a União Europeia

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O SISTEMA MONETÁRIO EUROPEU
 – O DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DA INTEGRAÇÃO MONETÁRIA
Antecedentes
Na Europa, a criação da União Monetária Européia tem sido fruto de um longo processo. O objetivo da implantação de uma moeda e de uma política monetária única, já se tinha estudado anteriormente ao Tratado da União Européia, no Tratado de Roma o qual criando a Comunidade Européia instala um Comitê monetário (artigo 105) encarregado de coordenar as políticas monetárias dos Estados membros.
Tratado de Roma (1957)
Decisões das Conferências Européias de Haia (1969) e Paris (1972).
Conclusões da Presidência do Conselho Europeu de Dezembro de 1977.
Objetivos:
O sucesso do mercado comum pressupõe a convergência das políticas monetárias dos Estados-Membros e um mercado interno na plena acepção da palavra inclui a união monetária.
A integração monetária é um fator da coesão econômica e da solidariedade entre os Estados-Membros, constituindo, para a Europa unida, um trunfo face ao mundo exterior.
Realizações 
Primeiro período (1957-1969): inexistência de uma ação monetária européia. O Tratado de Roma limitara-se apenas a prever disposições menores em matéria de cooperação monetária. Os seis Estados fundadores da Comunidade participavam no sistema monetário internacional de Bretton Woods, que se caracterizava por taxas de câmbio fixas entre as moedas com a possibilidade de ajustamento. A criação de um sistema paralelo era inútil.
Segundo período (1969-1979): os primeiros esforços de integração. O desaparecimento do sistema de Bretton Woods, confirmado pela supressão da convertibilidade do dólar em ouro a 15 de Agosto de 1971, foi seguido por uma flutuação generalizada das moedas. A crise do petróleo do princípio dos anos 70 veio depois agravar a pressão sobre as moedas européias. Face a esta instabilidade monetária geral, fonte de graves dificuldades econômicas e sociais, os Estados-Membros procuraram criar um quadro que permitisse um mínimo de estabilidade pelo menos à escala européia e podendo ir até à união monetária:
a. Já em 1969, quando o sistema monetário internacional estava em risco de colapso, os chefes de Estado e de Governo tinham decidido na Conferência de Haia que a Comunidade deveria transformar-se progressivamente numa União Econômica e Monetária.
b. Em Outubro de 1970, o Relatório Werner (então Primeiro-Ministro luxemburguês) veio propor:
num primeiro tempo, a redução das margens de flutuação entre as moedas dos Estados-Membros;
em seguida, a instauração de uma liberdade completa dos movimentos de capitais com integração dos mercados financeiros, particularmente os sistemas bancários;
por último, a fixação irrevogável das taxas de câmbio entre as moedas.
c. Em 1972, o mecanismo da "serpente dentro do túnel" veio reduzir as margens de flutuação entre as moedas comunitárias (a serpente) em relação às margens de flutuação entre as mesmas moedas e o dólar (o túnel). Para garantir o funcionamento deste mecanismo, os Estados-Membros criaram em 1973 o Fundo Europeu de Cooperação Monetária (FECOM), que ficou habilitado a receber uma parte das reservas monetárias nacionais.
d. Este mecanismo teve resultados decepcionantes. Confrontadas com as perturbações provocadas pelo aumento do preço do petróleo, as políticas econômicas dos Estados-Membros durante os anos 70 tiveram reações diversas, tendo como consequência disso as taxas de câmbio sofrido flutuações frequentes e intensas. Verificaram-se entradas e saídas do mecanismo de estabilidade cambial, pelo que a serpente, concebida inicialmente como um acordo de âmbito comunitário, ficou reduzida a uma zona de estabilidade monetária em torno do marco alemão.
e. No final de 1977, só metade dos então nove países membros (RFA, Bélgica, Países Baixos, Luxemburgo e Dinamarca) se mantinha no mecanismo, tendo os demais decidido deixar as suas moedas em completa flutuação. O plano Werner foi abandonado no mesmo ano.
Terceiro período (a partir de 1979): o processo de integração é retomado com êxito:
a. Sob a influência do Chanceler alemão Helmut Schmidt e do Presidente francês Valéry Giscard d'Estaing, a Conferência de Bruxelas de Dezembro de 1978 decidia a criação de um Sistema Monetário Europeu (SME). Este sistema visava instaurar uma zona de estabilidade monetária na Europa, reduzindo as flutuações entre as moedas dos países participantes. O sistema entrou em funcionamento em Março de 1979.
b. A instauração do mercado interno levou a que o objetivo da União Monetária fosse retomado. O Conselho Europeu de Hannover (Junho 1988) observou que "ao adotar o Ato Único, os Estados-Membros confirmaram o objetivo de realização progressiva da União Econômica e Monetária". Este Conselho Europeu incumbiu um comitê presidido por Jacques Delors, Presidente da Comissão Européia, e formado por Frans Andriessen, Vice-Presidente da Comissão, pelos governadores dos bancos centrais dos doze Estados-Membros e por três peritos independentes, "da missão de estudar e propor as etapas concretas susceptíveis de conduzir a essa união".
c. Em Abril de 1989, o Relatório do Comitê Delors previu a criação da UEM em três fases: a primeira, entre Junho de 1990 e Janeiro de 1992, tinha como objetivo o reforço da cooperação entre os bancos centrais; a segunda consistia na criação do Sistema Europeu de Bancos Centrais (SEBC), assim como na transferência progressiva do poder de decisão da política monetária para instituições supranacionais; na terceira, por último, as paridades das moedas nacionais seriam irrevogavelmente fixadas e as próprias moedas substituídas pela moeda única européia.
O Conselho Europeu de Madri de Junho de 1989 adotou o plano Delors como base de trabalho e decidiu pôr em marcha a sua primeira fase a partir de 1 de Julho de 1990, data da liberalização completa dos movimentos de capitais na Comunidade. Em Dezembro, o Conselho Europeu decidiu convocar uma Conferência Intergovernamental para elaborar as modificações do Tratado de Roma necessárias para a UEM.
d. As modificações propostas pela Conferência Intergovernamental, aprovadas pelo Conselho Europeu de Dezembro de 1991, foram incorporadas no Tratado da União Européia assinado em Maastricht em 7 de Fevereiro de 1992. O projeto de UEM acolhido no Tratado inspirava-se nas grandes linhas do plano Delors, mas diferia deste em alguns pontos significativos. Em particular, a segunda fase começava apenas a 1 de Janeiro de 1994 e não previa a transferência da competência em matéria de política monetária para um organismo supranacional, mas tão-só o reforço da cooperação entre os bancos centrais, substituindo o antigo Comitê de Governadores pelo Instituto Monetário Europeu, incumbido, conjuntamente com a Comissão, da preparação técnica da UEM. A criação do SEBC era remetida para a terceira fase.
e. Em Dezembro de 1995, o Conselho Europeu de Madri deu um nome à moeda única, o Euro, e a data do início da terceira fase foi fixada para 1 de Janeiro de 1999. Foi igualmente adotado o cenário para a introdução do euro.
f. O Conselho Europeu de Amsterdã de Junho de 1997 adotou o Pacto de Estabilidade e Crescimento, que visa garantir a disciplina orçamental na terceira fase.
g. O mesmo Conselho Europeu estabeleceu os princípios e os elementos fundamentais de um novo mecanismo de câmbios para regular as relações entre o euro e as moedas dos Estados da União que não farão parte da união monetária.
h. Em conformidade com as disposições do Tratado de Maastricht, o Conselho Europeu reunido em Bruxelas em 2 de Maio de 1998 decidiu, seguindo assim a recomendação da Comissão e do Conselho "Economia e Finanças" ("ECOFIN"), bem como o parecer do Parlamento Europeu, que a passagem à terceira fase da UEM se faria com onze países - Alemanha, Bélgica, Espanha, França, Irlanda, Itália, Luxemburgo, Áustria, Países Baixos, Portugal e Finlândia.
i. Em 1 de Janeiro de 1999, os 11 países escolhidos aderiram à União Monetária Européia. Posteriormente, a Grécia candidatou-seà adesão, tendo sido admitida. 
2.0 – O SME E O ECU
SME: Resolução do Conselho Europeu de Bruxelas de Dezembro de 1978.
Objetivos
 
Estabilizar as taxas de câmbio para corrigir a instabilidade existente
Reduzir a inflação
Preparar, por meio da cooperação, a unificação monetária européia
Realizações 
1. Criação
- O Sistema Monetário Europeu foi criado por uma resolução do Conselho Europeu de 5 de Dezembro de 1978.
Foi posto em prática em 13 de Março de 1979, nos termos de um acordo firmado no mesmo dia entre os bancos centrais dos então países membros da Comunidade.
2. Elementos e mecanismos do SME
a. O ECU:
tratava-se de um cesto de moedas composto (ou conjunto de moedas), formado por percentagens determinadas de cada uma das moedas participantes estabelecidas em função da contribuição do respectivo país ao PNB da Comunidade e às trocas comunitárias. O valor do conjunto calculava-se multiplicando o peso atribuído a cada moeda pela sua taxa de cambio em relação ao ecu.
É uma moeda que se utilizava concretamente para especificar o orçamento comunitário, não sendo moeda de curso legal. Servia de meio de pagamento e reserva dos bancos centrais.
b. As taxas centrais e o mecanismo de estabilização monetária:
As taxas centrais. A partir da taxa de câmbio de uma moeda em ecus, era possível deduzir a sua taxa de câmbio em cada uma das outras divisas participantes (taxas de câmbio cruzadas): eram as taxas de câmbio centrais bilaterais. Estas taxas de câmbio podiam sofrer ajustamentos decididos de comum acordo (desvalorização ou revalorização).
As margens máximas de flutuação. As taxas de câmbio centrais serviam de base para o principal constrangimento do SME: a fixação de uma percentagem para lá da qual uma moeda não podia flutuar em relação à sua taxa de câmbio central contra uma outra moeda, tanto para mais como para menos. Tratava-se de uma obrigação para os Estados participantes. Esta percentagem, inicialmente fixada em +2,25%, foi posteriormente modificada.
O mecanismo de intervenção. Sempre que a percentagem máxima era atingida, os dois bancos centrais interessados eram obrigados a intervir para impedir que a percentagem máxima fosse excedida. A intervenção fazia-se sob a forma de compras e de vendas da moeda em causa consoante se tratasse de uma descida ou de uma subida em relação à taxa de câmbio central.
A ação preventiva. Ainda antes de ser atingida a percentagem máxima de flutuação autorizada, o país emissor da moeda tinha de agir. Quando a taxa de câmbio excedia 75% da percentagem máxima ("indicador de divergência"), a moeda era considerada como "divergente" e o país tinha que tomar medidas corretivas: subida das taxas de juro, aperto da política orçamental, apoio à taxa de câmbio, caso se tratasse de uma divergência no sentido da descida; medidas inversas caso se tratasse de uma subida.
c. Os mecanismos de financiamento das intervenções monetárias:
O Fundo Europeu de Cooperação Monetária (FECOM) gere as facilidades de crédito a curto prazo associadas ao SME, as quais se destinam a financiar as operações de apoio às moedas que fazem parte do sistema.
3. Evolução do SME
a. A década de 80:
Na data da criação do SME em 1979, todos os países membros da Comunidade à excepção do Reino Unido entraram para o mecanismo de câmbio, no quadro do qual a margem de flutuação das moedas em relação às suas taxas de câmbio centrais foi fixada em +2,25%, com a ressalva da lira italiana, cuja margem era de +6%.
A Grécia, que entrou para a Comunidade em 1981, não aderiu ao mecanismo de câmbio.
Os países ibéricos, que entraram em 1986, não aderiram de imediato ao mecanismo de câmbio: a Espanha aderiu em 1989 e Portugal em 1992, com margens de flutuação alargadas para +6%.
Em 1987 (reunião de Basiléia-Nyborg de 17 de Setembro), os ministros das Finanças tomaram certas medidas destinadas a reforçar o SME:
melhor coordenação das intervenções preventivas (denominadas "intramarginais": antes de atingidos os limites das margens de flutuação),
aumento do financiamento a curto prazo e utilização das variações das taxas de juro para manter a estabilidade das taxas de câmbio,
maior flexibilidade (sem intervenção dos ministros) do procedimento de realinhamento das paridades.
b. A crise de 1992-93:
O SME foi fortemente perturbado pela violenta tempestade que se abateu sobre os mercados de câmbios europeus em Setembro e Outubro de 1992 causada pelas dificuldades de ratificação do Tratado de Maastricht na Dinamarca e na França e pelos problemas decorridos da reunificação da Alemanha. Em Setembro de 1992, a libra esterlina e a lira foram obrigadas a abandonar o mecanismo de câmbio e em Novembro do mesmo ano a peseta e o escudo foram desvalorizados 6% em relação às outras moedas. Em Janeiro de 1993, a libra irlandesa foi desvalorizada 10%; em Maio, a peseta e o escudo sofreram uma nova desvalorização. Por fim, em Agosto de 1993, os ministros das Finanças tiraram as conclusões desta crise e aumentaram as margens de flutuação para +15%.
c. 1993-1999:
Assistiu-se a um claro regresso à normalidade. Em 1996, todas as moedas participantes (incluindo a lira, reintegrada no mecanismo de câmbio, e as moedas austríaca e finlandesa, que entraram em 1995 e 1996) tinham regressado à margem de flutuação original ( +2,25%).
Balanço do SME
a. O objetivo principal do SME, a instauração de uma zona de estabilidade monetária interna e externa assente num mecanismo de câmbio, foi alcançado. A instabilidade que caracterizou o sistema monetário internacional durante a década de 80 foi poupada aos países participantes. A crise de 1992-93 acabou por ser ultrapassada e ao fim de quase 20 anos de esforços foi a estabilidade a prevalecer.
b. A disciplina monetária trouxe a convergência econômica, com a redução das taxas de inflação e a aproximação das taxas de juro.
c. A utilização privada do ecu (por oposição à utilização "oficial", isto é, entre os bancos centrais membros do SME) registou um desenvolvimento considerável. O ecu era cada vez mais utilizado nas emissões internacionais de obrigações pelas instituições comunitárias, os Estados-Membros ou as empresas. Nesta posição de instrumento financeiro internacional de primeiro plano, o ecu suplantou no mercado de capitais a maioria das moedas que o compunham. Observou-se também o desenvolvimento dos depósitos bancários em ecus e o aparecimento de um mercado interbancário dotado de um mecanismo de compensação.
De diversas formas, o SME e o ecu prepararam por conseguinte em muito a instauração da moeda única. Em 1 de Janeiro de 1999, o euro tornou-se a moeda oficial em 11 Estados-Membros.
De diversas formas, o SME e o ecu prepararam por conseguinte em muito a instauração da moeda única.
5. O novo mecanismo de câmbio (SME II)
O Conselho Europeu de Amsterdã, em Junho de 1997, adotou os princípios e os elementos fundamentais do novo mecanismo de câmbio que regula as relações entre a moeda única e as moedas dos Estados-Membros da União Européia que não fazem parte da União Monetária. O sistema foi posto em marcha a 1 de Janeiro de 1999, data do início da terceira fase da UEM. Em oposição ao SME, no qual todas as moedas estabeleciam entre si uma paridade central e uma margem de flutuação em torno da mesma, as paridades e as margens do novo mecanismo de câmbio são agora exclusivamente fixadas em relação ao euro. Entretanto a decisão e a supervisão das paridades centrais serão de caráter multilateral.
Critérios de Convergência do Tratado de Maastricht
Os critérios de convergência são variáveis que servem para expressar, de forma suficiente, o grau de homogeneização das economias.
Para que com a UME o crescimento dos países que a formam seja sustentável, é indispensável que previamente tenha existido um alto grau de homogeneização das suas economias relativamente às principais características e a este procedimento de homogeneização denomina-sede convergência.
O Tratado de Maastricht estabeleceu que a integração da 3ªfase da UME dependia do cumprimento dos critérios de convergência nominal, legal e da própria vontade dos países. Em relação a este ponto, no TCE incluía-se a denominada cláusula em exclusão, pelo que certos países podiam sair da UME se assim decidissem apesar de cumprir os critérios de convergência.
Os critérios de convergência nominal são os seguintes:
Inflação: a taxa de inflação não pode ser maior do que 1.5% sobre a média dos três Estados Membros que tenham melhor comportamento em matéria de preços. 
Taxas de Juro: os países pretendem aceder ao euro não podem ter uma taxa de juro média nominal a longo prazo superior a 2 pontos sobre a média a longo prazo dos três Estados Membros de menor inflação. 
Déficit público: o déficit público não poderá exceder os 3% do seu Produto Interno Bruto (PIB) a preços de mercado. 
Divida pública: os países aspirantes devem ajustar a sua divida pública para que não seja superior a 60% do seu PIB. Se não for assim, podem-se abrir exceções para os países que tenham uma divida decrescente e que se aproximem a um ritmo adequado á percentagem estabelecida. 
Taxas de cambio: as diferentes moedas dos países que aderem ao euro deverão permanecer pelo menos durante dois anos antes da sua admissão, dentro dos limites de flutuação normais do SME. 
Todas as variáveis que servem para expressar de forma suficiente o grau de homogeneização das economias, se bem que o seu cumprimento dentro das margens estabelecidas não implica que haja uma convergência real, deve refletir-se através das taxas de desemprego, rendimento per capita, despesas públicas, etc.
Por convergência legal entendemos a adaptação das legislações nacionais e dos Estatutos dos Bancos centrais dos países membros da UE de forma que sejam compatíveis com o estatuto do SEBC. Em geral, esta convergência engloba questões como a independência dos bancos centrais nacionais e a integração destes no SEBC.
Convergência real seria a relativa à equiparação dos níveis de vida, o que a Comissão chama de "coesão econômica e social". As suas variáveis seriam a taxa de desemprego, a estrutura da balança de pagamentos, o rendimento per capita e a despesa pública. Todas elas necessitam para a sua equiparação muito mais tempo do que as variáveis nominais, cujo cumprimento afeta de forma benéfica as reais , de forma que com a implantação do euro e a existência de uma política monetária comum na União, os níveis de rendimento devem-se ir igualando.
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