Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Beck, ST Imunologia Clínica 56 IIMMUUNNOODDEEFFIICCIIÊÊNNCCIIAASS As doenças de imunodeficiência ocorrem quando um ou mais componentes do sistema imunológico estiverem defeituosos. Em todo paciente que tenha infecções recorrentes, persistentes, severas ou incomuns , independente da sua idade, deve ser suspeitada uma deficiência imune subjacente. Os defeitos da imunidade podem ser classificados em primários, devidos a um defeito intrínseco do sistema imune, que poderá ser congênito ou adquirido; ou podem ser secundários a uma condição conhecida. Imunidade defeituosa Primária Secundária (defeito intrínseco) (doença básica) Ausência de enzima malignidade linfóide Ausência do tipo celular Infecção (ex;HIV) Componente não funcionante drogas imunossupressora (congênita/adquirida) (sempre adquirida) IMUNODEFICÊNCIA PRIMÁRIA DESORDENS NA IMUNIDADE INATA A imunidade natural é mediada principalmente pelos fagócitos e pelo complemento, constituindo a primeira linha de defesa contra os microorganismos infecciosos. Portanto, desordens congênitas dos fagocitos e sistema complemento resultam em infecções recorrentes de severidade variável. DEFEITOS NOS COMPONENTES DO SISTEMA COMPLEMENTO Os defeitos imunes causados pelas deficiências do sistema complemento substancialmente se superpõem ao espectro observado em pacientes com deficiências na produção de anticorpos. Beck, ST Imunologia Clínica 57 Alterações da atividade do complemento são em geral secundárias a doenças que consomem complemento pela via clássica ou alternativa. EX: SLE. Deficiências hereditárias dos componentes do complemento estão associadas a síndromes clínicas características. A deficiência de C1,C4 ou C2 provavelmente compromete a capacidade do hospedeiro para eliminar complexos imunes. A deficiência de C3, aumenta a suscetibilidade para infecções bacterianas recorrentes. Indivíduos afetados apresentam tipicamente infecções com risco de vida, tais como pneumonia, septiciemia, meningite. Há nítida associação entre as deficiências de C5,C6,C7,C8 ou properdina com infecções recidivantes por neisserias. DESORDENS FAGOCITÁRIAS CONGÊNITAS Doença Granulomatosa Crônica: A maior parte dos defeitos conhecidos nas células fagocitárias afeta sua capacidade de matar as bactérias intracelulares e/ou ingerir os patógenos extracelulares. Na doença granulomatosa crônica, os fagócitos não podem produzir o radical superóxido, e sua atividade antibacteriana é, pois, seriamente prejudicada. Síndrome de Chediak-Higashi Esta rara desordem recessiva autossômica se caracteriza por infecções recorrentes por bactérias piogênicas, e infiltração de diversos órgãos por linfócitos não neoplásicos. Um defeito desconhecido causa uma falha na fusão apropriada dos lisossomas com fagossomas; nestes pacientes, as células possuem grânulos aumentados e lise intracelular prejudicada. Os neutrófilos, monócitos e linfócitos destes pacientes contém grânulos citoplasmáticos gigantes. Estas células são também defeituosas em termos de quimiotaxia e fagocitose, contribuindo ainda mais para sua atividade microbiocida deficiente. Deficiência da adesão Leucocitária A deficiência da adesão leucocitaria é uma desordem recessiva autossômica rara, caracterizada por infecções bacterianas e fúngicas recorrentes e dificuldade de cicatrização de feridas. As integrinas leucocitárias são importantes para a adesividade da célula fagocitária, para sua migração através das paredes dos vasos sanguineos e para a ingestão de bactérias opsonizadas com fragmentos do sistema complemento. Se essas integrinas Beck, ST Imunologia Clínica 58 estiverem deficientes, os fagócitos não conseguem atingir os locais da infecção, a fim de ingerirem e destruirem os microorganismos. O paciente com deficiência de adesão leucocitária é um candidato à transplantação de medula e ulterior terapia genética específica. Características de defeitos primários da função de neutrófilos que resultam em infecções recorrentes. Síndrome Sinais Clínicos Defeito funcional Doença Granulomatosa crônica Infeccções recorrentes e prolongadas Infecções são: • Pouco responsivas a antibióticos • Comumente estafilocóccica • Envolve pele e mucosa • Complicadas por linfadenopatia supurada. ↓ Metabolismo oxidativo ↓ Atividade microbiocida S. Chediak-Higashi Grânulos lisossômicos gigantes nas células secretoras Albinismo oculocutâneo parcial Quimiotaxia anormal Deficiência de adesão dos leucócitos Demora na queda do cordão umbilical Infecções cutâneas e gengivite Abscessos profundos, peritonite, osteomielite ↓ fagocitose ↓ Aderência DEFICIÊNCIA PRIMÁRIA DE ANTICORPOS O defeito mais comum da imunidade humoral é a deficiência transitória na produção de imunoglobulinas que ocorre nos primeiros 6-12 meses de vida. A criança recém- nascida tem níveis iniciais de anticorpo comparáveis aos da mãe, graça ao transporte, via circulação materno-fetal através da placenta, de IgG materna. Como a IgG transferida é catabolizada, os níveis de anticorpo diminuem gradualmente até que a Beck, ST Imunologia Clínica 59 criança comece a produzir quantidades úteis de sua própria IgG, em torno de 6 meses de idade. As deficiências de anticorpos adquiridas são mais freqüentes que as hereditárias. Em mais de 90% dos pacientes, se apresentam após os 10 anos de idade. Nas formas congênitas, as infecções recorrentes começam em geral entre os 4 meses e dois anos de idade, quando acaba a proteção por transferência de IgG materna. Ocorre também hipogamaglobulinemia transitória quando o neonato é prematuro ou lento sintetizador de IgG. Normalmente os indícios físicos são poucos, necessitando investigação laboratorial para o diagnóstico. Os defeitos da síntese de anticorpos podem envolver um só isotipo de imunoglobulina, como IgA ou grupos de isotipos, muitas vezes IgA e IgG. A capacidade de um paciente produzir anticopos é um guia melhor quanto a suscetibilidade às infecções do que o nível total das imunoglobulinas. Como testes podem ser realizadas pesquisas de anticorpos que ocorrem naturalmente (iso- hemaglutininas do grupo sangüíneo), resposta a imunizações anteriores ( ex: rubéola, sarampo, difteria, pólio) Síndrome de Bruton: A primeira descrição de uma doença de imunodeficiência foi atribuída a Ogden C. Bruton, em 1952. Caracteriza-se pela ausência ou níveis baixíssimos de gamaglobulina no sangue, verificado através de eletroforese. Todos os isotipos da imunoglobulina estão baixos. É uma das imunodeficiências congênitas mais comuns. Estes indivíduos são sensíveis a infecções bacterianas e a algumas virais, enquanto que as respostas às infecções pela maior parte dos fungos são normais, pois o número de células T é normal ou mesmo aumentado. A doença se deve a um bloqueio na maturação dos pré-linfócitos B até linfócitos B positivos para IgM de superfície. O tratamento consiste na administração de imunoglobulina no indivíduo afetado. Deficiências Seletivas de anticorpos: A forma mais comum de imunodeficiência herdada no ramo da imunidade humoral é a deficiência seletiva de IgA, detectada em cerca de uma pessoa para 800. A base genética deste defeito é desconhecida, mas algumas informações Beck, ST Imunologia Clínica 60 sugerem o envolvimento de um gene de função não identificada, mapeado na região MHC de classe III. Em alguns pacientes, a desordem pode não ser herdadas, mas pode ocorrer como uma decorrência da infecção embrionária pela rubéola ou por exposições a medicamentos. Os aspectos clínicos podem também ser extremamentevariáveis. Muitos pacientes são inteiramente normais; outros apresentam infecções respiratórias e diarréias ocasionais, e, raramente, há pacientes com infecções recorrentes severas, levando a danos permanentes intestinais e às vias respiratórias, com desordens auto- imunes associadas. A deficiência de IgA se carateriza por níveis séricos anormalmente baixos de IgA, usualmente abaixo de 50µl, com níveis normais ou de IgM e IgG. A deficiência seletiva de IgM é uma doença recessiva autossômica rara associada a infecções severas, como a meningite bacteriana. Como ocorre na deficiência de IgA, os pacientes portadores de deficiência de IgM apresentam linfócitos B normais que expressam IgD e IgM de membrana, mas estas células não se diferenciam em plasmócitos secretores de anticorpos. O defeito pode ocorrer no fornecimento do auxilio pelos linfócitos T ou nas respostas nas respostas dos linfócitos B aos estímulos dos linfócitos T-auxiliares. As deficiências seletivas de uma ou mais das quatro subclasses de IgG passam facilmente despercebidas, porque a relativamente grande contribuição (aproximadamente 70%) da IgG1 pode manter o nível “normal” da IgG. As deficiências de subclasses podem predispor a infecões em qualquer sítio. Contudo, a IgG2 domina a resposta de anticorpos em crianças maiores e adultos aos antígenos polissacarídeos. A resposta a antígenos protéicos está relacionada com subclasses IgG1 e IgG3. crianças menores de 2 anos de idade não responde a antígenos polissacarídicos (ex: streptococcus pneumoniae e Haemophillus influenza) e têm IgG2 extremamente baixa, estando predispostas a infecções por estes microorganismos. Os níveis de adulto serão atingidos apenas entre os 4-6 anos de idade. Pacientes com deficiência de anticorpos sofrem de complicações como sepse crônica dos tratos respiratórios superior e inferior, doença gastrointestinal leve, diarréia por infestação pela Giárdia lamblia, por proliferação bacteriana do intestino delgado, ou infecções persistentes por rotavírus ou enterovíus e artropatia. Beck, ST Imunologia Clínica 61 Imunodeficiência Variável comum (CVID). A maioria dos pacientes com CVID apresenta níveis séricos de IgG e IgA muito baixos, com IgM normal ou levemente reduzida. Aproximadamente um terço apresenta algum grau de anormalidade da imunidade mediada por célula. Desde que recebam terapia de reposição de imunoglobulinas, a maioria dos pacientes leva uma vida normal. Esta deficiência costuma aparecer a partir da terceira década de vida. IMUNODEFICIÊNCIA COMBINADA ( T e B) A expressão “ doença da imunodeficiência combinada severa” (SCID) é emprestada a um grupo heterogêneo de desordens caracterizadas pelo desenvolvimento defeituoso dos linfócitos T e B, linfopenia profunda e imunidades humoral e mediadas por células deficientes. A depressão da imunidade por células T é geralmente acompanhada de anormalidades variáveis da função das células B, refletindo a necessidade de cooperação entre as células T e B para a síntese de anticorpos contra a maioria dos antígenos. Cerca de 20% de todos os casos se deve a deficiência da enzima denominada adenosina desaminase (ADA). A enzima está amplamente distribuida, mas é particularmente abundante e ativa nos linfócitos. Sua deficiência leva à acumulo de desoxiadenosina e desoxi-ATP nas células, particularmente nos linfócitos T em desenvolvimento. Isto leva a redução nas quantidades de linfócitos, especialmente lilnfócitos T maduros, com imunodeficiência resultante. A ADA é um candidato importante para o tratamento por transferência genica. Algumas deficiências imunes combinadas afetam também outros sistemas tanto quanto o sistema imune, e portanto a significância clínica, é variável de um paciente para outro Sindrome de DiGeorge (hipoplasia tímica) A hipoplasia do timo leva a uma maturação defeituosa de todos os linfócitos T e por isso os linfócitos T do sangue periférico estão ausentes ou presentes em quantidades reduzidas. Os níveis de anticorpos estão usualmente normais, mas podem estar reduzidos nos pacientes severamente afetados. Beck, ST Imunologia Clínica 62 IMUNODEFICIÊNCIA SECUNDÁRIA ↓ PRODUÇÃO ↑ PERDA Desnutrição Síndrome nefrótica Doenças linfoproliferativas Enteropatia com perda de proteínas Drogas Queimaduras Infecções (HIV) Imunossenescencia A perda de proteínas bastante severa que causa hipogamaglobulinemia e hipoproteínemia ocorre principalmente pela via renal (síndrome nefrótica –perda de IgG e albumina) ou através do intestino. A dificuldade na síntese pode ser exemplificada pela desnutrição. Em muitas infecções, os microorganismos paradoxalmente suprimem em vez de estimular o sistema imune. Em muitas doenças virais, particularmente na citomegalovirose, no sarampo, na rubéola, na mononucleose e na hepatite viral, assim como na tuberculose, lepra e sífilis, tem sido observada uma perturbação severa, embora transitória da imunidade meidada por células, entretanto, o melhor exemplo é o HIV. Beck, ST Imunologia Clínica 63 Características das clínicas das IMUNODEFICIÈNCIAS PRIMÁRIAS Características Defeito predominante de célula T Defeito predominante de célula B Defeito de Fagócito Defeito de Complemento Idade de início Precoce: 2-6 meses Precoce, após os anticorpos maternos serem catabolizados: 5- 12 meses, final da infância ou adulto precoce Qualquer idade Patógenos mais freqüentes Micobactérias, Pseudomonas, CMV, EBV, varicela, enterovírus, Candida, P.carinii S.pneumoniae, Hib, S.aureus, Campylobacter Enterovírus, Gardia, criptosporidium S.aureus, Pseudomonas, Serratia, Klebsiella, Candida, Nocardia, Aspergillus Neisseria. E.coli Órgãos mais afetados Crescimento inadequado, diarréia, candidíase Infecções sino- pulmonares, sintomas grastro- intestinais, malabsorção, artrites, meningoencefalite Celulite, abscessos, adenite, periodontite, osteomielite Meningite, artrite, septicemia, infecções sino- pulmonares Características especiais Doença enxerto- versus-hospedeiro causada pelas células maternas, ou transfusão de sangue não irradiado, BCGíte, tetania hipocalcêmica Autoimunidade, linfoma, timoma, paralisia pela vacina da pólio Retardo na queda do coto umbilical, dificuldade de cicatrização Vasculites, LES, dermatomiosite, glomerulonefrite, angioedema Adaptado: Woroniecka M, Ballow M. Office evaluation of children with recurrent infection. Pediatr Clin North Am 2000; 47(6): 1211-24.
Compartilhar