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Material Estrutura de mercado e concorrência

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EMC-http://adm.online.unip.br/ Página 1 
 
 
 
Estrutura de Mercado e 
Concorrência 
Curso: Direito 
 
 
 
 
 
 
 
2017/2 
 
 
 
 
EMC-http://adm.online.unip.br/ Página 2 
 
Estruturas de Mercado I 
De acordo com o Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, “estrutura” seria a “maneira 
como um edifício ou uma coisa qualquer é construída, organizada e disposta”, ou a 
“maneira como as partes de um todo estão dispostas entre si”. 
Porém, numa perspectiva mais econômica, este vocábulo constitui um modelo, ou 
seja, uma simplificação drástica da realidade, da qual se extraem algumas poucas 
variáveis, relevantes para a explicação de um dado fenômeno, com o estabelecimento 
de relações funcionais entre elas. Dentre outros objetivos, os modelos por trás das 
estruturas de mercado buscam entender o fenômeno do poder econômico ou a sua 
ausência. 
Mas o que é o poder econômico? 
O poder econômico pode ser definido como a disposição favorável para decidir sobre 
os assuntos que norteiam o fluxo de mercadorias, moedas e valores. Atualmente, este 
poder representa-se nos mecanismos de livre mercado e concorrência, na flexibilidade 
do sistema produtivo e na negociação das relações de trabalho e consumo. 
Nem sempre o detentor de poder econômico está por trás de formas jurídicas como 
o trust, uma sociedade anônima ou um grupo empresarial. Pode acontecer que uma 
dessas formas seja absolutamente inofensiva, destituída por completo de poder 
econômico. 
Neste sentido, a Resolução CADE n. 2/12 definiu o que se deve entender por grupo 
econômico para fins de defesa da concorrência. Diferentemente do que acontece na 
legislação societária, trabalhista ou tributária, o conceito de grupo econômico é 
distinto. Veja-se o art. 4º da referida Resolução. 
Art. 4º Entende-se como partes da operação as entidades diretamente envolvidas no 
negócio jurídico sendo notificado e os respectivos grupos econômicos. 
§1º Considera-se grupo econômico, para fins de cálculo dos faturamentos constantes 
do art. 88 da Lei 12.529/11 e do preenchimento dos Anexos I e II dessa Resolução, 
cumulativamente: 
I – as empresas que estejam sob controle comum, interno ou externo; e 
II – as empresas nas quais qualquer das empresas do inciso I seja titular, direta ou 
indiretamente, de pelo menos 20% (vinte por cento) do capital social ou votante. 
§2° No caso dos fundos de investimento, são considerados integrantes do mesmo 
grupo econômico, cumulativamente: 
I – os fundos que estejam sob a mesma gestão; 
II – o gestor; 
III – os cotistas que detenham direta ou indiretamente mais de 20% das cotas de pelo 
menos um dos fundos do inciso I; e 
EMC-http://adm.online.unip.br/ Página 3 
 
IV – as empresas integrantes do portfolio dos fundos em que a participação direta ou 
indiretamente detida pelo fundo seja igual ou superior a 20% (vinte por cento) do 
capital social ou votante. 
É possível conceber hipóteses em que há poder econômico sem que estejam, 
necessariamente, presentes quaisquer das formas jurídicas estudadas normalmente 
associadas ao poder econômico. Para superar esse impasse, a análise antitruste 
atenta para a estrutura do mercado relevante e, com base nela, conclui pela existência 
ou não de poder econômico. Basicamente, cinco são as manifestações do poder 
econômico significativas para a defesa da concorrência: o monopólio, o oligopólio, o 
monopsônio, o oligopsônio e o monopólio bilateral. 
Um monopólio, na sua forma pura, existe se uma empresa domina a totalidade da 
produção, detendo pleno controle sobre a oferta do bem ou serviço. O monopólio puro 
é raro, verificando-se o mesmo especialmente em virtude de lei – o exemplo típico são 
as marcas e patentes. Noutros mercados, cuja escala mínima viável para 
funcionamento do agente econômico é alta, pode acontecer de existir espaço somente 
para um atuar, situação essa conhecida como monopólio natural.[1] Às vezes, nos 
monopólios naturais há uma infra-estrutura dificilmente duplicável (essential facility), 
cujo acesso é essencial para o desenvolvimento da concorrência. Os efeitos de 
qualquer ação do monopolista são facilmente percebidos nos preços, razão pela qual 
o detentor de posição dominante pode agir a despeito das regras de oferta e 
demanda.[2] Dentre os malefícios do monopólio, quatro podem ser mencionados. O 
primeiro deles, denominado dead weight loss, corresponde à diminuição do universo 
dos consumidores do produto que sofre a supervalorização do preço. Em segundo 
lugar, o lucro extra obtido pelo monopolista redunda em perdas sociais, pois são 
gastos para manter a posição da empresa e a situação criada no mercado. Haveria, 
também, o desestímulo à inovação e melhoria da eficiência da empresa, pois a 
inexistência de outras companhias leva a monopolista à acomodação. Esse 
comportamento nem sempre ocorre, mas é muito provável. Por fim, a quarta 
consequência impacta a distribuição da renda social, pois todos os efeitos gerados 
tendem a concentrar o capital nas mãos dos monopolistas, tirando dos consumidores 
algo do que deveria ser cobrado pelo bem produzido.[3] 
Nem todos concordam que, no cômputo geral, os monopólios sejam socialmente 
nefastos. No que tange à inovação, o agente econômico só estaria disposto a suportar 
o risco dos investimentos caso houvesse um ambiente que, do ponto de vista 
institucional, lhe assegurasse os riscos, o que aconteceria sob a égide de um 
monopólio. Nesse diapasão, argumenta Schumpeter, o incentivo ao desenvolvimento 
técnico seria mais forte num tal regime e, por desdobramento, os ganhos sociais 
globais seriam superiores aos produzidos num regime de livre 
concorrência.[4] Embora sob algumas circunstâncias essa teoria possa ser 
verdadeira,[5] há dúvidas sobre a possibilidade de generalizar tal afirmação.[6] 
Por trás deste raciocínio, verifica-se a existência de forte componente utilitarista – esta 
doutrina filosófica, desenvolvida fortemente a partir do século XIX, influenciou 
profundamente a economia, na medida em que sua preocupação com a redução da 
escassez encontra fundamento. Para o utilitarismo, o que legitima uma conduta é o 
efeito sobre a geração de utilidade e não a conduta em si: se gerar a utilidade, a 
conduta é legítima; caso contrário, a conduta não é legítima. 
Retomando o tema das estruturas de mercado, análogo ao monopólio, inclusive no 
que tange aos seus efeitos, o monopsônio é a versão do primeiro voltada para os 
consumidores, ou seja, ocorre quando o mercado consumidor é formado por uma 
EMC-http://adm.online.unip.br/ Página 4 
 
única entidade. Em outras palavras, o monopsonista possui controle sobre os 
produtores, visto que é o único demandante dos seus bens e serviços. Assim, sua 
atuação pode redundar na manipulação dos preços, na medida em que, ao se negar a 
adquirir os produtos ou serviços, pode forçar uma baixa. 
Situação que também pode ser comparada ao monopólio é a do oligopólio, verificada 
se algumas empresas dominam a produção e possuem poder para manipular o 
mercado. Os efeitos e consequências são comparáveis aos do monopólio, e o 
tratamento pela legislação é semelhante. Diversamente do monopólio, o qual 
raramente produz benefícios, há mercados oligopolizados, caracterizados por 
competição feroz. Nestes, devido à volatilidade da sua situação do ponto de vista 
estrutural, as empresas podem, em um momento, estar de acordo com a ação em face 
do mercado, mas, no momento seguinte, elas podem discordar e atuar como 
concorrentes. Esse comportamento oportunista de algum dos oligopolistas (free rider), 
que vez por outro teria interesse em se aproveitar do concorrente de modo 
oportunista, oferece vantagens à ruptura do cartel (acordo entre concorrentes) ou da 
conduta paralela, porque, mesmo nessa hipótese de mercado oligopolizado, “a firma 
não pode sensatamenteignorar o preço e as decisões de produção dos 
competidores”[7] – o free-rider é um traidor que só pensa no seu próprio lucro. 
À semelhança do que se verifica com o monopólio, denomina-se oligopsônio a 
estrutura de mercado em que um pequeno grupo de compradores possui poder para 
controlar os preços dos produtos por serem os únicos consumidores dispostos a 
adquirir os bens ou serviços das empresas ofertantes. 
Mais rara é a existência do monopólio bilateral, situação em que existem apenas uma 
unidade vendedora e uma compradora do bem ou serviço. É totalmente oposto à 
concorrência perfeita. É mais frequente nos casos de um processo tecnológico 
absolutamente específico ou de uma matéria-prima bastante escassa. 
Em todas estas estruturas de mercado, em certa medida existem “barreiras à entrada” 
de novos competidores no mercado, evitando que os mecanismos de auto-regulação, 
tal como sugerido pela ideia da mão invisível da Adam Smith, funcionem. Existe uma 
variação: enquanto as barreiras à entrada tendem ao máximo em estruturas 
monopolizadas ou olipolizadas, elas inexistem quanto maior for a concorrência (por 
exemplo, na estrutura da concorrência perfeita). 
Apêndice 
Para aprofundar os estudos, além dos textos sugeridos no programa, sugere-se 
assistir a um vídeo complementar, clicando-se aqui. 
E, para descontrair, que tal assistir a um divertido filme? 
 
[1] A escala mínima viável pode variar ao longo do tempo por várias razões, 
transformando o que era um monópolio puro num mercado potencialmente 
oligopolizado ou mesmo concorrencial; pode ser verdadeiro também o movimento no 
sentido contrário. As inovacões tecnológicas parecem ter reduzido a escala mínima 
viável em uma série de mercados de serviços de telecomunicacões, proporcionando 
alguma concorrência em áreas antes monopolizadas. 
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[2] HOVENKAMP, Herbert. Federal antitrust policy: the law of competition and its 
practice, p. 12. “The monopolist has one power that the perfect competitor does not 
have. If the monopolist reduces output, total market output will decline, for the 
monopolist is the only producer in the market. As total market output goes down, the 
market-clearing price goes up. As a result, the monopolist, unlike the competitor, can 
obtain a higher price per unit of output by producing less.” 
[3] SALOMÃO FILHO, Calixto. Direito concorrencial: as estruturas, p. 132-135. 
[4] SCHUMPETER, Joseph Alois. Capitalismo: socialismo e democracia, p. 103. 
[5] O exemplo a ser dado é o da indústria farmacêutica, na qual um dos padrões de 
concorrência é a inovação dos produtos, que, uma vez desenvolvidos, são protegidos 
por patentes. Se inexistisse tal proteção, os elevadíssimos investimentos para o 
desenvolvimento de um medicamento seriam reduzidos de maneira drástica, afetando 
o ritmo de inovação tecnológica. De fato, com a concessão de monopólio, as 
empresas do setor farmacêutico competem, de modo acentuado, na inovação de 
medicamentos. 
[6] SCHERER, F. M.; ROSS, David. Industrial market structure and economic 
performance, p. 660. “But very high concentration has a positive effect only in rare 
cases, and more often it is apt to retard progress by restricting the number of 
independent sources of initiative and by dampening firms’ incentive to gain market 
position through accelerated R&D.” 
[7] HOVENKAMP, Herbert. Federal antitrust policy: the law of competition and its 
practice, p. 12. “When markets are highly concentrated, because of economies of scale 
or for other reasons, a firm cannot reasonably ignore the price and output decisions of 
competitors.” 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Estruturas de Mercado II 
No Módulo Um, as formas de maior concentração de poder econômico foram 
estudadas. Neste Módulo, a análise aprofundará um pouco mais o tema do oligopólio, 
avançando na direção das estruturas de mercado mais desconcentradas. Ao fim, será 
retomado o tema da identificação do detentor do poder econômico. 
Numa abordagem inicial, a simplificação da ideia do que seria um oligopólio é útil: um 
oligopólio seria uma estrutura de mercado em que poucos agentes econômicos 
deteriam o poder de mercado e, consequentemente, haveria uma aproximação dos 
efeitos desta estrutura do mercado com os do monopólio. 
Todavia, isso corresponde somente a uma parte da realidade sobre os oligopólios. Em 
realidade, há dois tipos de oligopólios: o oligopólio concentrado e o competitivo. 
Enquanto no oligopólio concentrado há um pequeno número de empresas no mercado 
(por exemplo, a indústria automobilística no Brasil nos anos 1980, quando havia 
apenas 4 marcas – Ford, Chevrolet, Volkswagen e Fiat), no oligopólio competitivo é 
ligeiramente diferente. Neste, um pequeno número de empresas domina o mercado: 
veja-se o caso do mercado de supermercados, dominado pelos Grupo Carrefour e Pão 
de Açúcar/Casino, empresas que sofrem concorrência acirrada de um grande número 
de estabelecimento médios (Walmart, GBarbosa) e pequeno (Davó, Pastorinho). 
Embora elas apresentem imperfeições, certamente são em menor grau do que as do 
monopólio. Fica claro que nem todo oligopólio é necessariamente negativo para o 
consumidor– clique aqui para entender o porquê. 
Estas formas de oligopólio permite entender melhor as técnicas empresariais que 
existem na realidade. Outras duas estruturas de mercado merecem atenção: a 
concorrência imperfeita (ou concorrência monopolística) e a concorrência perfeita. 
Antes de adentrar na concorrência perfeita, estude-se o a concorrência imperfeita ou 
monopolística, situação que, na prática, corresponde à maioria dos mercados. 
Caracteriza-se sobretudo pela possibilidade de os vendedores influenciarem a procura 
e os preços por vários meios (diferenciação de produtos, publicidade, 
localização, variações no preço). A variedade de vendedores é relativamente elevada, 
sendo um mercado de acesso fácil, não sendo o produto, contudo, homogêneo. 
Quanto maior a diferenciação do produto mais a empresa, que o produz, pode 
controlar o preço. Um bom exemplo deste mercado é o de vestuário: existe uma 
grande variedade de fabricantes de camisetas e todos tentam se diferenciar um pouco 
dos demais. Pense na famosa marca Lacoste: com base em investimentos pesados 
em marketing, a empresa conseguiu cobrar um valor diferenciado pelo seu produto, 
que confere status ao comprador que a utiliza. Já um fabricante chinês pode até 
mesmo fabricar uma camiseta de igual qualidade, mas dificilmente conseguirá vender 
pelo mesmo preço sem que faça substanciais investimentos em marketing na marca 
própria – não fala-se aqui, certamente, de marcas piratas, cujo uso caracteriza um 
comportamento oportunista 
Por fim, a última estrutura de mercado é a concorrência perfeita. Como o próprio nome 
diz, ela é perfeita e corresponde à situação em que, teoricamente, a geração de 
riqueza para a sociedade é máxima. Porém, não existe nada perfeito e os cenários a 
serem estudados se aproximam dele. Logo, a concorrência perfeita é um modelo 
totalmente livre. As premissas deste modelo dificilmente se encontram na realidade. 
Veja-se apenas algumas destas hipóteses: 
EMC-http://adm.online.unip.br/ Página 7 
 
a) Muitos vendedores e muitos compradores (atomização do mercado ou ausência 
de poder econômico); 
b) Homogeneidade do produto (produto deve ser igual ou muito semelhante); 
c) Mobilidade das empresas (empresas podem entrar e sair do mercado a qualquer 
tempo sem custos irrecuperáveis); 
d) Racionalidade: todos os agentes agem com racionalidade, fazendo uma análise 
custo benefício antes da tomada das decisões; 
e) Transparência do mercado: todos os consumidores possuem acesso a todas as 
informações para tomada desuas decisões; 
f) Inexistência de externalidades; e 
g) Plena mobilidade de bens, ou seja, não há custo de transporte. 
Agora, será analisada com mais atenção a questão da ausência do poder econômico. 
A identificação do detentor do poder econômico não é tarefa simples. Nelas, há muito 
ocorreu o desprendimento da propriedade da riqueza de sua posse ou controle. Assim, 
de um lado, alguém pode ser muito rico, mas não controlar a riqueza; de outro, o 
desprovido de grande riqueza pode, principalmente através de estruturas de direito 
societário, controlar grande riqueza. O estudo de Beans e Means a esse respeito é 
clássico.[1] 
Essa cisão entre propriedade e posse da riqueza, porém, não se verifica em todas as 
regiões do mundo. Particularmente no Brasil, não é uma realidade, pois a formação 
econômica do país teve como mote a concentração do poder econômico. As grandes 
empresas aqui localizadas ou são de controle familiar de capital fechado ou de 
controle a partir do estrangeiro, igualmente fechado. Mesmo assim, Pontes de 
Miranda, já nos anos 1960, observava que 
[...] o simples diretor, ou gerente, ou representante, ou agente, que não pode dispor de 
bens, ou ações, mas pode, com os poderes que tem em mão, atuar na vida 
econômica, está em posição de abusar deles, para dominar os mercados, ou eliminar 
a concorrência, e aumentar, arbitrariamente, os lucros, seus, ou da empresa a que 
serve.[2] 
No Brasil, poucos são os casos em que o capital social de uma empresa se encontra 
disperso e mesmo assim o grupo controlador continua hegemônico na direção por 
meio das já referidas estruturas de direito societário. Dentre as empresas com ações 
negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo (BOVESPA) em setembro de 2004, 
apenas 39 delas obedeciam a regras de governança corporativa que impunham a 
obrigação de manter em circulação parcela mínima de 25% do capital social. 
A concentração do capital, no regime capitalista, assume variadas formas, dificultando 
a mera rotulação dos numerus clausus.[3] O caráter eminentemente fático, 
reconhecível por seus efeitos, do poder econômico faz com que ele apareça de muitos 
modos, jurídicos ou não. Pouco importa se é uma sociedade limitada ou anônima, uma 
pessoa física ou jurídica, um ente personalizado ou não personalizado. O que é 
relevante para a análise antitruste são os efeitos do poder econômico sobre o 
mercado, pois a sua adaptabilidade prescinde de fórmulas jurídicas. 
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Um episódio ajuda a provar essa versatilidade. No período imediatamente posterior à 
promulgação do Sherman Act nos Estados Unidos, em 1890, seguiu-se uma grande 
onda de fusões entre empresas, gerando maior concentração de poder econômico, 
fato contra o qual o diploma antitruste fora concebido. Diversamente do que se 
pretendia, o Sherman Act estimulara a concentração econômica por meio de outros 
mecanismos que não os trustes, ao tornar ilegal a celebração de uma série de acordos 
entre empresas, mas não restringir em absoluto as fusões e aquisições.[4] A brecha 
legal foi aproveitada para acelerar a concentração econômica e mostrou como não se 
deve combater o poder econômico. 
Dessa maneira, uma técnica legislativa com vistas a estabelecer um numerus 
clausus de sujeitos detentores de poder econômico tende a ser inócua do ponto de 
vista de sua eficácia e torna, possivelmente em pouco tempo, letra morta qualquer 
política de defesa da concorrência. Em tese, até mesmo uma única pessoa natural ou 
família podem ser o núcleo de um grande poder econômico, sem que haja 
necessidade da intermediação de uma pessoa jurídica. Por isso, a importância em 
identificar os principais detentores de poder econômico não serve para fundamentar a 
atuação mais específica da análise antitruste em face de determinados sujeitos. 
Focando tais institutos jurídicos, o estudo desse aspecto serve, em realidade, de 
notícia histórica, de ajuda na compreensão da estrutura do poder econômico e de 
orientação da formulação da legislação pertinente. Emblematicamente, Nusdeo 
menciona os trustes, as sociedades holdings, os grupos empresariais, os pools e os 
cartéis. 
É verdade que a atuação dos trustes nos Estados Unidos de fins do século XIX 
estigmatizou o instituto do fideicomisso de tal forma que, além de dar origem à 
denominação inglesa “antitruste”, contribuiu para identificar todo e qualquer truste com 
o poder econômico. Essa redução, por óbvia, é simplista, mas pode ser usada para 
discorrer sobre os modos, jurídicos ou não, pelos quais o poder econômico se revela. 
A origem histórica do instituto jurídico do trust encontra-se no direito de uso (use) da 
Inglaterra medieval, o qual consistia na cessão dos direitos de uso a um terceiro, para 
que este administrasse propriedades em favor do cedente. Com o aprimoramento 
desse mecanismo, é-lhe concedida tutela jurídica, a partir do que ele deixa de basear-
se exclusivamente na mútua confiança (trust) entre as partes. Dessa maneira, surge 
verdadeira possibilidade de dividir o direito de propriedade em dois: uma titularidade 
legal, cabível àquele que administra, e uma titularidade beneficiária, cabível àquele 
que obtinha o gozo da coisa sem figurar formalmente como proprietário.[5] Não se 
confunde o trust com a representação, pois, no trust, o administrador, igualmente, age 
em interesse de outrem, mas também é titular da propriedade. Pressupondo-se a 
existência de uma intenção, de um objeto (um bem ou mesmo um objetivo) e de 
beneficiários, o trust é um mecanismo jurídico importante, incorporado inclusive em 
ordenamentos de origem romanística, possuindo funções, como as já mencionadas na 
esfera empresarial e de investimentos, bem como a proteção de incapazes e pessoas 
inexperientes no trato mercantil.[6] 
Também as sociedades holdings são outra forma bastante acusada de servir de abrigo 
ao poder econômico. Denomina-se holding aquela pessoa jurídica que destina suas 
atividades essencialmente à aquisição de ações e, consequentemente, ao 
gerenciamento de outras empresas. Ocorre geralmente em relação às sociedades 
anônimas, de capital aberto ou fechado, e facilitam o controle sobre as atividades de 
determinado setor. Dessa forma, a holding passa a dominar amplas fatias do mercado 
e tem condições de regular seu funcionamento.[7] Uma vez que ela se dedica à 
aquisição de ações de outras empresas sobre as quais lhe é interessante manter 
controle, sua atuação está relacionada com as sociedades anônimas. Dessa maneira, 
EMC-http://adm.online.unip.br/ Página 9 
 
abre-se para a holding a possibilidade de penetrar nos mais diferentes setores da 
economia. 
Ao conjunto das empresas controladas normalmente por holdings dá-se o nome de 
conglomerado econômico, o qual compreende um grupo de empresas geridas pelo 
mesmo corpo societário (o da holding).[8] Os conglomerados econômicos foram e, em 
alguma medida, ainda são figuras comuns em todas as economias capitalistas, mas, 
em virtude de particularidades históricas, destacaram-se mais nos Estados Unidos, 
onde são denominados trusts; na Alemanha, conhecidos como Konzern, e no 
Japão, Zaibatsu.[9] 
Por sua vez, os pools e os cartéis são formas próximas, os primeiros apontados como 
estágios preliminares dos segundos, embora não necessariamente conduzam a eles. 
Há pools se “várias empresas decidem manter uma atividade ou serviço comum que 
atenda a todas elas, como por exemplo, um escritório de compras de matéria-prima ou 
de assistência técnica ou, ainda, de promoção de exportações”.[10] Estes não se 
apresentam, em geral, constituídos sob qualquer forma societária, mas isso pode 
acontecer às vezes. Por seu turno, os cartéis são um negócio jurídico ilícito que, na 
maioria dos casos, não é reduzido a escrito e objetiva a “adoção de decisões ou 
políticas comuns quanto a todos ou a determinadoaspecto de suas atividades”.[11] 
Apêndice 
Para aprofundar os estudos, sugere-se a visita assistir a um vídeo complementar, 
clicando aqui. 
Leia também a Lei de Defesa da Concorrência, clicando aqui. Aliás, se quiser saber o 
que mudou com a nova legislação, cliqueaqui (Ver a partir de 0:45) e aqui. 
Cansado de estudar? Não desanime: assista às origens da indústria do petróleo, 
clicando aqui. 
 
 
[1] BERLE, Adolf A.; MEANS, Gardiner C. The modern corporation and private 
property. New York: Macmillan, 1933. p. 47.“Accompanying the concentration of 
economic power, growing out of it, and making it possible, has come an ever wider 
dispersion of stock ownership. This in turn has brought about a fundamental change in 
the character of wealth, in the relation between the individual and his wealth, the value 
of that wealth and the nature of property itself. Dispersion in the ownership of separate 
enterprises appears to be inherent in the corporate system.” 
[2] MIRANDA, Pontes de. Comentários à Constituição de 1946. 2. ed. São Paulo: Max 
Limonad, 1953. v. IV. p. 143 
[3] COMPARATO, Fábio Konder. A reforma da empresa, p. 63. 
[4] HOVENKAMP, Herbert. Federal antitrust policy: the law of competition and its 
practice, p. 51. Interessante observar que: “England was much more tolerant of cartels, 
with the result that British firms lacked the same incentive to merge and remained 
inefficiently small”. 
EMC-http://adm.online.unip.br/ Página 10 
 
[5] SALOMÃO NETO, Eduardo. O trust e o direito brasileiro. São Paulo: LTr, 1996. p. 
9-58. 
[6] BLACK, Henry Campbel. Black’s law dictionary. Saint Paul: Editorial Staff, 1998. p. 
1508-1514. 
[7] BLACK, Henry Campbel. Black’s law dictionary, p. 731. 
[8] SANDRONI, Paulo. Novíssimo dicionário de economia. São Paulo: Best Seller, 
2001. p. 121. 
[9] NUSDEO, Fábio. Curso de economia: introdução ao direito econômico, p. 277. 
[10] Idem, p. 277. 
[11] Idem, p. 276. 
Controle de Estruturas 
Nos módulos anteriores, foi explicado que certas estruturas de mercado possuem 
efeitos negativos para a geração da riqueza na economia – como o objetivo é gerar a 
maior quantidade de riqueza, é do interesse do Estado evitar que tais estruturas de 
mercado se desenvolvam. Por outro lado, há cenários em que certas estruturas de 
mercado mais concentradas são necessárias para permitir o desenvolvimento de 
certos mercados. Além disso, os princípios constitucionais das livre iniciativa e da livre 
concorrência, associados aos da propriedade privada, permitem que as empresas 
realizem os movimentos de concentração. Neste contexto, dá-se a intervenção do 
Estado na economia, de modo a evitar que tais situações negativas surjam – o órgão 
responsável chama-se o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE). 
 
O CADE é uma autarquia federal, vinculada ao Ministério da Justiça, com sede e foro 
no Distrito Federal, que exerce, em todo o Território nacional, as atribuições conferidas 
pela Lei nº 12.529/2011. O CADE tem como dever zelar pela livre concorrência no 
mercado, sendo a entidade responsável, no âmbito do Poder Executivo, não só por 
investigar e decidir, em última instância, sobre a matéria concorrencial, como também 
por fomentar e disseminar a cultura da livre concorrência. Esta entidade exerce três 
funções: 
 
a) Preventiva: Analisar e posteriormente decidir sobre as fusões, aquisições 
de controle, incorporações e outros atos de concentração econômica entre 
grandes empresas que possam colocar em risco a livre concorrência. Alguns 
dos casos mais famosos decididos se referem à criação da AMBEV (fusão 
Antartica/Brahma, Nestlé/Garoto e Sadia/Perdigão) 
 
b) Repressiva: Investigar, em todo o território nacional, e posteriormente 
julgar cartéis e outras condutas nocivas à livre concorrência. 
EMC-http://adm.online.unip.br/ Página 11 
 
 
c) Educacional ou pedagógica ou advocacia da concorrência: Instruir o 
público em geral sobre as diversas condutas que possam prejudicar a livre 
concorrência; incentivar e estimular estudos e pesquisas acadêmicas sobre o 
tema, firmando parcerias com universidades, institutos de pesquisa, 
associações e órgãos do governo; realizar ou apoiar cursos, palestras, 
seminários e eventos relacionados ao assunto; editar publicações, como a 
Revista de Direito da Concorrência e cartilhas. 
 
Antes de verificar como o CADE exerce sua função preventiva, vamos entender dois 
princípios constitucionais que estão por trás de toda a atividade empresarial, a livre 
concorrência e a livre iniciativa. 
- A livre concorrência 
Iniciativa é sinônimo de empreendimento. Desse modo, livre iniciativa é o mesmo que 
livre empreendimento, ou seja, o empreendimento desembaraçado de quaisquer 
atuações estatais. Uma vez que a atividade voltada para o mercado tem seus 
objetivos próprios, a livre iniciativa atua como meio à disposição do empresário para a 
persecução de tais propósitos (lucro, conquista de clientela, melhorias tecnológicas, 
entre outros) – “trata-se, portanto, de uma liberdade-meio ou liberdade 
condicional”.[1]Consequentemente, a legislação que disciplina, por exemplo, preço e 
qualidade dos produtos e serviços deve limitar-se pelo princípio da livre iniciativa. Grau 
analisa a questão num parecer que trata da imposição a comerciantes, por meio de 
atos administrativos, do dever de etiquetar preços.[2] 
 No passado, em praticamente toda a Europa, a atividade econômica dependia de 
algum tipo de prévia autorização. Mesmo a Inglaterra, avançando na Revolução 
Industrial, possuía semelhantes limitações. Os Estados Unidos da América, 
constituídos em fins do século XVIII, representavam exceção digna de menção, na 
medida em que são um país estabelecido sobre o paradigma da liberdade, no qual 
inexistem as corporações de ofício ou um poder político excessivamente centralizador. 
A França, palco central revolucionário, fornece um quadro bem completo da situação. 
“Sob o Antigo Regime, a organização econômica era dominada por instituições 
excessivamente contrárias à liberdade: de um lado, o célebre regime das corporações; 
de outro, a existência de barreiras aduaneiras não somente nas fronteiras, mas 
também no interior do país.”[3] 
A ruptura desse quadro acontece apenas de modo abrupto. Na França, a primeira 
manifestação expressa de repúdio ao Antigo Regime é dada pelo Decreto d’Allarde, 
em 1791;[4] no mesmo ano, a Lei Le Chapelier condenará e proibirá o regime de 
corporações.[5] Mesmo assim, certas restrições só desaparecerão ao longo dos 
séculos XIX e XX: é o caso das autorizações para constituição de sociedades 
anônimas.[6] Data dessa época o início da profusão de termos para significar algo 
bastante próximo da livre iniciativa. Ao lado desta, a doutrina francesa enumera 
também a liberdade profissional, a liberdade de comércio e indústria e a livre 
concorrência, cada termo apresentando uma justificativa específica para sua 
cunhagem.[7] 
 
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A evolução política do liberalismo mitigou o absenteísmo estatal, verificando-se, ao 
longo da história, uma série de “invasões”, tópicas ou abrangentes conforme o 
momento, do público sobre o privado.[8] Uma vez que a livre iniciativa e a atuação 
estatal são vistas como antitéticas (esta, inclusive, como deturpadora por natureza do 
processo concorrencial), uma das principais preocupações doutrinárias é delimitar o 
campo do público e do privado. 
A posição favorável à livre iniciativa “privada” fundamenta-se no texto constitucional 
brasileiro, uma vez que várias de suas passagens corroborariam essa afirmação. O 
inciso I do artigo 1o elege “os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa” como um 
dos fundamentos da República. O caput e o § 1o do artigo 170 reforçama noção, 
reiterando que a livre iniciativa é fundante da ordem econômica brasileira e que o livre 
exercício de qualquer atividade independe de autorização prévia de órgãos públicos, 
exceto quando a lei assim determinar. Os artigos 199 e 209 reconhecem, 
respectivamente, serem a saúde e o ensino livres à iniciativa privada. Tais 
dispositivos, interpretados em seu conjunto, caracterizariam a livre iniciativa como um 
princípio constitucional. 
Além disso, ela é a “projeção da liberdade individual no plano da produção, circulação 
e distribuição de riquezas”.[9] À semelhança da liberdade, valor tutelado juridicamente, 
a livre iniciativa seria outro valor tutelado juridicamente, aliás, bastante próximo da 
liberdade em si. Por isso, alguns se referem à livre iniciativa como liberdade de 
iniciativa. 
De outra perspectiva, Grau critica as posições que pretendem reduzir a livre iniciativa 
à livre iniciativa empresarial. Aquela seria um desdobramento da liberdade, a qual 
deve ser entendida como “sensibilidade e acessibilidade a alternativas de conduta e 
de resultado”.[10] Assim como a liberdade não se restringiria à liberdade de iniciativa 
econômica, a livre iniciativa não se restringiria à livre iniciativa empresarial. Por 
conseguinte, haveria iniciativas que não a empresarial que também seriam protegidas 
constitucionalmente: a pública, a autogestionária, a cooperativista, entre outras.[11] 
O atendimento das demandas das sociedades (O que produzir? Como produzir? Para 
quem produzir?) pode ser feito através de modelos econômicos assentados nos 
critérios de tradição, autoridade e autonomia.[12] Cada um desses critérios 
psicológico-comportamentais corresponde “a uma atitude mental, uma crença, uma 
adesão a determinados princípios e atitudes, e crenças essas que enquadram todo um 
conjunto supostamente coerente de comportamentos regrados pelas instituições 
próprias a cada sistema”.[13]No caso do sistema baseado na autonomia, também 
denominado descentralizado, os pressupostos são a “crença na capacidade 
ordenadora do mercado e o princípio hedonista”.[14] Para operacionalizar esse 
sistema do ponto de vista ideológico, a concorrência é apresentada como um valor a 
ser tutelado pelo ordenamento jurídico. 
Todavia, é difícil apartar concorrência e liberdade. A concorrência é um processo 
contínuo em que os agentes econômicos interagem livremente no mercado. A tutela 
da livre concorrência visaria à proteção dessa liberdade de ação no bojo do processo 
competitivo, a fim de que não ocorressem limitações ou restrições ilícitas ao longo do 
tempo. É diferente, portanto, da liberdade de iniciativa, na medida em que esta 
objetiva a proteção da entrada no processo competitivo. Sob certo aspecto, a livre 
concorrência engloba a liberdade de iniciativa, na medida em que a primeira ocorre, 
com grande frequência, nos mercados em que a segunda não enfrenta limitações. 
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Outra forma de juridicização do processo competitivo é o princípio da livre 
concorrência, expressamente previsto em duas passagens da Constituição da 
República: no inciso IV do artigo 170, como um dos princípios da ordem econômica, e 
no § 3o do artigo 173. Sua inclusão causa perplexidade, pois, em sua forma mais pura, 
a livre concorrência só poderia existir na ausência de poder econômico, ou seja, num 
mercado perfeitamente competitivo. Ora, a própria Constituição de 1988 reconhece a 
licitude do poder econômico, coibindo apenas seu abuso. Logo, é de indagar a função 
de tal princípio.[15] 
Podem-se identificar três elementos principais da concorrência: a ação dos agentes no 
mercado desligada de qualquer atuação governamental, a livre entrada no mercado e 
a liberdade de escolha dos destinatários finais dos produtos e serviços.[16] Noutras 
palavras, é o ambiente em que o sistema econômico descentralizado funciona, livre de 
restrições decorrentes, quer seja do poder público, quer seja do poder privado. Do 
ponto de vista da ideologia liberal, a livre concorrência se aproxima de livre mercado: 
“tudo contrário” ao livre mercado seria “antinatural”, havendo mesmo certa crença de 
que o livre mercado precede a própria sociedade.[17] 
A aceitação do princípio da livre concorrência fez-se a partir da constatação de que a 
livre iniciativa não era suficiente, por si só, para garantir o perfeito funcionamento do 
mercado. Na teoria econômica clássica, os benefícios da concorrência poderiam ser 
auferidos caso a entrada nos mercados não encontrasse barreiras. Em nome dessa 
ideia, o regime das corporações de ofício e alguns dos impostos foram banidos. 
Entretanto, o livre funcionamento do mercado demonstrou que, ao invés de conduzir a 
benefícios, a concorrência se degenerava e o mercado do Estado liberal acabava por 
resultar nos mesmos caracteres do Antigo Regime. Nesse contexto, a livre 
concorrência surge como um princípio orientador de manutenção do jogo do mercado 
em movimento, não estando inclusa, portanto, no seio da livre iniciativa.[18] Assim, 
coaduna-se com o princípio da livre concorrência o artigo 174 da Constituição, que 
prescreve ser o planejamento meramente indicativo para o setor privado.[19] 
- Da livre concorrência e livre iniciativa ao controle das concentrações no 
mercado relevante 
Apesar de se referir em vários trechos a “mercado relevante de bens e serviços”, a Lei 
n. 12.529/11 é omissa no tratamento do assunto, não fornecendo nenhuma indicação 
sobre como proceder na delimitação. O Conselho Administrativo de Defesa Econômica 
(CADE) sugere que, combinado com o teste do monopolista hipotético, o mercado 
relevante de produto compreende “todos os produtos ou serviços considerados 
substituíveis entre si pelo consumidor devido às suas características, preços e 
utilização”.[20] Para tanto, devem ser analisados os seguintes aspectos: 
[...] a eficácia, a qualidade e a conveniência relativa dos produtos substitutos; a 
evolução dos preços relativos e das quantidades vendidas; os custos de consumir 
produtos substitutos provenientes da mesma ou de outras áreas; o tempo necessário 
para promover a eventual substituição; e evidências de que os consumidores 
desviariam sua demanda ou levariam em conta a possibilidade de desviá-la em função 
de mudança nos preços relativos ou em outras variáveis competitivas.[21] 
 Mas o que é esse lugar chamado mercado relevante? Em poucas palavras, é 
exatamente onde as empresas competem entre si. 
O empresário é motivado, inicialmente, por um instinto de autopreservação: se 
permanecer estático, corre o risco de ser, gradualmente, expulso do mercado. 
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Disso decorre seu móvel para a ação concorrencial. O dinamismo do agente 
econômico não é algo irracional. Pelo contrário, atualmente a maioria dos movimentos 
é planejada em detalhes, a fim de evitar perdas e maximizar os ganhos. Além da 
conformação atual do mercado, leva-se em conta também a situação após a entrada e 
a reação dos demais agentes.[22] Esse tipo de análise pode ser particularmente útil 
para a defesa da concorrência. 
Todavia, nem sempre os agentes econômicos se comportam consoante o esperado, 
ou seja, às vezes agem irracionalmente, perseguindo algo além do que seria o 
maximizador de seu lucro. Assim, eles perseguiriam o seu próprio interesse tomado 
numa acepção mais ampla. Afinal, por trás deles há sempre pessoas naturais, e, como 
afirmam Ross e Scherer, “nesta época de neuroses e psicoses difundidas, a linha 
entre a racionalidade e a irracionalidade não é, em absoluto, fácil de 
traçar”.[23] Mesmo a lógica maximizadora de lucros não reina absoluta, na medida em 
que “os diretores de uma grande empresa podem não achar que obter grandes lucros 
para o acionista seja a consideração mais importante que enfrentam: eles podem estar 
mais interessados em vercrescer o tamanho do seu império empresarial ou entregar-
se à vida calma que os monopolistas podem desfrutar”.[24] 
O primeiro tipo de movimento do agente econômico em face do mercado é voltado 
para si mesmo. Direcionando seus recursos com vistas a atender sua clientela, o 
agente econômico adapta-se às circunstâncias do mercado de forma a conquistar 
mais clientes e/ou maximizar seus lucros. Sem se relacionar com quaisquer 
concorrentes diretos, empresas a jusante ou a montante no processo produtivo ou 
mesmo uma unidade produtiva distante de seu mercado relevante em todos os 
sentidos,[25] o agente econômico desenvolve-se, conseguindo atingir seus objetivos 
racionalmente estabelecidos. Para tanto, ele pode adotar outra linha de ação com 
vistas ao seu sucesso empresarial, agindo de três maneiras distintas consoante as 
peculiaridades dos mercados envolvidos: expandir-se horizontal, vertical ou 
conglomeradamente. Isso não contém, em si mesmo, nenhum ilícito antitruste. 
Nesse sentido, tal movimento pressupõe que um agente econômico ganhe mercado e 
outro perca, seja em termos absolutos ou relativos, se o tamanho do mercado se 
mantiver constante. Semelhante processo, porém, não pode ser chamado de 
concorrência desleal, apesar de ter um reflexo patrimonial aferível no prejudicado, seja 
do ponto de vista qualitativo (diminuição do valor do fundo de comércio), seja do ponto 
de vista quantitativo (perda de receita decorrente de negócios não 
celebrados).[26] Isto ocorre com o crescimento interno, mas o que é infringido ao 
concorrente é lícito, esperado num regime de livre concorrência, havendo “excludente 
de ilicitude” para esse prejuízo.[27] Além disso, a própria ideologia por trás da 
concorrência admite esse tipo de ganho à custa dos competidores. Para o liberalismo, 
a seleção natural dos melhores, meritocracia eliminadora dos agentes econômicos 
menos adaptados, é o melhor mecanismo social para produção e distribuição de 
riquezas entre os diversos grupos no seio de uma sociedade baseada num sistema 
econômico descentralizado. Por essa razão, o protecionismo tarifário é criticado pelos 
liberais, pois afasta essa possibilidade de prejuízo, perfeitamente lícito, que é sofrido 
por empresas localmente estabelecidas em detrimento de outras localizadas no 
exterior. 
Desse modo, a concorrência desleal e o abuso do poder econômico são hipóteses de 
ilícito, reprimidas pelo direito. Ambos sofrem repressão civil e criminal, mas somente o 
segundo, devido aos interesses que tutela, encontra guarida num regime 
administrativo especial. O agente econômico, atuando sem esbarrar num desses 
limites da ilicitude, ainda que cause prejuízo ao concorrente, não pode sofrer nenhum 
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constrangimento do ordenamento jurídico, sob pena de se ofender a livre 
concorrência. Essa permissividade não é ilimitada. Nas palavras de Le Moal, “como 
todo fenômeno socioeconômico, a concorrência está dividida entre uma dupla 
regulação: uma permissiva, que determina os direitos subjetivos, e outra proibitiva, que 
fixa os limites das atividades concorrenciais”.[28] O crescimento interno, assegurado 
pelo princípio constitucional da livre concorrência, é um desses espaços de liberdade 
de ação do agente econômico. Já as concentrações, desconcentrações econômicas e 
as condutas concorrenciais situam-se no viés “proibitivo” dessa regulação. Todas 
demandam, de algum modo, alguma atuação administrativa. 
As desconcentrações econômicas são outra modalidade de movimento do agente 
econômico. Não representam, a priori, uma preocupação antitruste, pois são o 
movimento em sentido contrário à concentração, mas deve-se atentar para o fato de 
que uma desconcentração de agente econômico implica, na maioria das vezes, a 
concentração econômica de outro.[29] Do mesmo modo, uma concentração 
econômica redunda, em grande parte das situações, numa desconcentração 
econômica conforme a perspectiva escolhida. 
Tanto o crescimento interno quanto a desconcentração econômica não despertam 
maiores preocupações concorrenciais nos mercados relevantes. Contudo, o mesmo 
não se pode dizer da concentração econômica e das condutas anticoncorrenciais, as 
quais são a verdadeira razão de ser do direito antitruste. 
O movimento em direção à concentração econômica é uma das preocupações 
decorrentes da ênfase dada pela Tradição de Harvard ao paradigma estrutura-
desempenho-conduta. Embora não exclusivamente assentado nesse paradigma, o 
controle das concentrações decorre da necessidade de prevenir o aparecimento de 
estruturas que aumentem consideravelmente a possibilidade de abuso do poder 
econômico.[30] Assim, num mercado em que um banco detenha o controle de mais de 
50% do mercado de intermediação financeira há grande possibilidade de que o abuso 
efetivamente ocorra. 
Apesar disso, quando ocorre concentração econômica, é possível que não se verifique 
nenhuma alteração no grau de concentração econômica de um mercado relevante, 
caso típico das alterações nas relações verticais e conglomeradas. Mesmo do ponto 
de vista das relações horizontais, esta hipótese não está afastada – é a hipótese 
conhecida como substituição de agentes.[31] A prática revela que a maioria dos casos 
submetidos à aprovação concorrencial não produz impacto nenhum sobre a 
concorrência, constituindo-se a chancela antitruste mero procedimento burocrático.[32] 
Nem sempre é necessário impor limites à atuação dos agentes econômicos, mas, 
quando tal se verifica, as proibições em matéria concorrencial podem ser ou não 
peremptórias, o que é aferido a partir dos danos ou potencialidades de danos 
ocasionados ao mercado. Inexistente essa possibilidade, a concentração econômica e 
a conduta anticoncorrencial são banidas. A concentração econômica sempre se dá a 
partir do estabelecimento de uma relação entre os agentes econômicos, que, como 
visto, pode ser horizontal, vertical ou conglomerada. 
 Há concentração horizontal se os agentes econômicos envolvidos unem seus centros 
decisórios, constatando-se sobreposição em algum dos mercados relevantes. É o tipo 
de concentração econômica que mais atrai a atenção das autoridades concorrenciais, 
porque a mensuração do poder econômico resultante é mais fácil e perceptível, sendo 
os seus efeitos facilmente sentidos pelos consumidores. 
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Já a integração vertical ocorre “quando uma empresa opera como vendedora no 
mercado de insumos de outra, mesmo não havendo uma relação comercial entre 
elas”.[33] Por exemplo, as operações que geram integração vertical possuem 
potencialmente efeitos anticoncorrenciais, quer pela redução da dispersão da 
demanda devido à restrição das compras da empresa a jusante a uma única 
vendedora a montante, quer pela redução da dispersão da oferta devido à restrição 
das vendas da empresa a montante a uma única compradora a jusante. Basicamente, 
reconhecem-se três possibilidades para que ocorra integração vertical:[34] (i) uma 
empresa pode começar a atuar num novo mercado sozinha, v.g., um banco atuante no 
Brasil decide iniciar operações no Japão; (ii) uma empresa pode adquirir outra que 
atue no mercado relacionado, v.g., um banco atuante exclusivamente na 
intermediação financeira ao comprar uma corretora de seguros; e (iii) uma empresa 
pode celebrar contrato com outra, já atuante no mercado relacionado, para que 
coordenem suas ações no longo prazo, v.g., uma instituição financeira ao celebrar 
contrato com o correio para pôr à disposição dos clientes deste os seus serviços 
bancários. 
Independentemente da forma pela qual se opera, a verticalização altera os padrões de 
concorrência ao fim da cadeia produtiva conforme o mercado relevante. A imposição 
de preços uniformes pela empresa detentora da marca a seus distribuidores ou 
franqueados restringe a concorrênciaao fim da cadeia produtiva, deslocando-se todas 
as preocupações para a concorrência em relação às outras marcas (concorrência 
intermarca). Diversamente, a ausência desses preços uniformes produz acirramento 
da concorrência entre os distribuidores ou franqueados (concorrência intramarca).[35] 
Já a integração conglomerada verifica-se quando dois agentes econômicos unem seus 
centros decisórios, sem que haja sobreposição ou relação vertical entre eles. A 
principal preocupação antitruste concerne apenas ao tamanho do conglomerado e às 
ameaças decorrentes desse tamanho. 
Para aprofundar os estudos, além dos textos sugeridos no programa, sugere-se a 
visita assistir a um vídeo complementar, clicando-seaqui. 
Interessado em saber o que acontece depois? Assista aqui. 
- Apêndice 
Leia com atenção o trecho pertinente da Lei n. 12.529/11: 
 
 
 
 
 
 
 
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TÍTULO VII - DO CONTROLE DE CONCENTRAÇÕES 
CAPÍTULO I - DOS ATOS DE CONCENTRAÇÃO 
Art. 88. Serão submetidos ao Cade pelas partes envolvidas na operação os atos de 
concentração econômica em que, cumulativamente: 
I - pelo menos um dos grupos envolvidos na operação tenha registrado, no último 
balanço, faturamento bruto anual ou volume de negócios total no País, no ano anterior 
à operação, equivalente ou superior a R$ 750.000.000,00 (setecentos e cincoenta 
milhões de reais); e 
II - pelo menos um outro grupo envolvido na operação tenha registrado, no último 
balanço, faturamento bruto anual ou volume de negócios total no País, no ano anterior 
à operação, equivalente ou superior a R$ 75.000.000,00 (setenta e cinco milhões de 
reais). 
§ 1o Os valores mencionados nos incisos I e II do caput deste artigo poderão ser 
adequados, simultânea ou independentemente, por indicação do Plenário do Cade, 
por portaria interministerial dos Ministros de Estado da Fazenda e da Justiça. 
§ 2o O controle dos atos de concentração de que trata o caput deste artigo será 
prévio e realizado em, no máximo, 240 (duzentos e quarenta) dias, a contar do 
protocolo de petição ou de sua emenda. 
§ 3o Os atos que se subsumirem ao disposto no caput deste artigo não podem ser 
consumados antes de apreciados, nos termos deste artigo e do procedimento previsto 
no Capítulo II do Título VI desta Lei, sob pena de nulidade, sendo ainda imposta multa 
pecuniária, de valor não inferior a R$ 60.000,00 (sessenta mil reais) nem superior a R$ 
60.000.000,00 (sessenta milhões de reais), a ser aplicada nos termos da 
regulamentação, sem prejuízo da abertura de processo administrativo, nos termos do 
art. 69 desta Lei. 
§ 4o Até a decisão final sobre a operação, deverão ser preservadas as condições de 
concorrência entre as empresas envolvidas, sob pena de aplicação das sanções 
previstas no § 3o deste artigo. 
§ 5o Serão proibidos os atos de concentração que impliquem eliminação da 
concorrência em parte substancial de mercado relevante, que possam criar ou reforçar 
uma posição dominante ou que possam resultar na dominação de mercado relevante 
de bens ou serviços, ressalvado o disposto no § 6o deste artigo. 
§ 6o Os atos a que se refere o § 5o deste artigo poderão ser autorizados, desde que 
sejam observados os limites estritamente necessários para atingir os seguintes 
objetivos: 
I - cumulada ou alternativamente: 
a) aumentar a produtividade ou a competitividade; 
b) melhorar a qualidade de bens ou serviços; ou 
c) propiciar a eficiência e o desenvolvimento tecnológico ou econômico; e 
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II - sejam repassados aos consumidores parte relevante dos benefícios decorrentes. 
§ 7o É facultado ao Cade, no prazo de 1 (um) ano a contar da respectiva data de 
consumação, requerer a submissão dos atos de concentração que não se enquadrem 
no disposto neste artigo. 
§ 8o As mudanças de controle acionário de companhias abertas e os registros de 
fusão, sem prejuízo da obrigação das partes envolvidas, devem ser comunicados ao 
Cade pela Comissão de Valores Mobiliários - CVM e pelo Departamento Nacional do 
Registro do Comércio do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio 
Exterior, respectivamente, no prazo de 5 (cinco) dias úteis para, se for o caso, ser 
examinados. 
§ 9o O prazo mencionado no § 2o deste artigo somente poderá ser dilatado: 
I - por até 60 (sessenta) dias, improrrogáveis, mediante requisição das partes 
envolvidas na operação; ou 
II - por até 90 (noventa) dias, mediante decisão fundamentada do Tribunal, em que 
sejam especificados as razões para a extensão, o prazo da prorrogação, que será não 
renovável, e as providências cuja realização seja necessária para o julgamento do 
processo. 
Art. 89. Para fins de análise do ato de concentração apresentado, serão obedecidos 
os procedimentos estabelecidos no Capítulo II do Título VI desta Lei. 
Parágrafo único. O Cade regulamentará, por meio de Resolução, a análise prévia de 
atos de concentração realizados com o propósito específico de participação em 
leilões, licitações e operações de aquisição de ações por meio de oferta pública. 
Art. 90. Para os efeitos do art. 88 desta Lei, realiza-se um ato de concentração 
quando: 
I - 2 (duas) ou mais empresas anteriormente independentes se fundem; 
II - 1 (uma) ou mais empresas adquirem, direta ou indiretamente, por compra ou 
permuta de ações, quotas, títulos ou valores mobiliários conversíveis em ações, ou 
ativos, tangíveis ou intangíveis, por via contratual ou por qualquer outro meio ou forma, 
o controle ou partes de uma ou outras empresas; 
III - 1 (uma) ou mais empresas incorporam outra ou outras empresas; ou 
IV - 2 (duas) ou mais empresas celebram contrato associativo, consórcio ou joint 
venture. 
Parágrafo único. Não serão considerados atos de concentração, para os efeitos do 
disposto no art. 88 desta Lei, os descritos no inciso IV do caput, quando destinados às 
licitações promovidas pela administração pública direta e indireta e aos contratos delas 
decorrentes. 
Art. 91. A aprovação de que trata o art. 88 desta Lei poderá ser revista pelo Tribunal, 
de ofício ou mediante provocação da Superintendência-Geral, se a decisão for 
baseada em informações falsas ou enganosas prestadas pelo interessado, se ocorrer 
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o descumprimento de quaisquer das obrigações assumidas ou não forem alcançados 
os benefícios visados. 
Parágrafo único. Na hipótese referida no caput deste artigo, a falsidade ou 
enganosidade será punida com multa pecuniária, de valor não inferior a R$ 60.000,00 
(sessenta mil reais) nem superior a R$ 6.000.000,00 (seis milhões de reais), a ser 
aplicada na forma das normas do Cade, sem prejuízo da abertura de processo 
administrativo, nos termos do art. 67 desta Lei, e da adoção das demais medidas 
cabíveis. 
 
[1] COMPARATO, Fábio Konder. A reforma da empresa. Revista de Direito Mercantil, 
Industrial, Econômico e Financeiro, n. 50, p. 59 
[2] GRAU, Eros Roberto. Princípio constitucional da livre iniciativa e da legalidade: 
imposição do dever de etiquetar preços. Revista Trimestral de Direito Público, n. 24, 
1998, p. 92-101. Em sentido contrário, o STJ se manifestou pela legalidade da 
exigência, nos acórdãos, dos Mandados de Segurança 5943/DF, 6010/DF e 5896/DF. 
[3] DEVOLVÉ, Pierre Droit publique de l’économie, p. 105-106. “Sous l’Ancien régime, 
l’organisation économique était dominée par des institutions très opposées à la liberté: 
d’une part, le célèbre regime des corporations, d’autres par l’existence de barrières 
douanières seulement aux frontières mais aussi à l’intèrieur du pays.” 
[4] Idem, p. 106. “À compter du 1er avril prochain, il sera libre à toute personne de faire 
tel négoce ou d’exercer telle profession, art ou métier qu’elle trouvera bon maiselle 
sera tenue auparavant de se munir d’une patente.” 
[5] Idem, p. 107. 
[6] RIPERT, Georges. Aspects juridiques du capitalisme moderne, p. 63. 
[7] DEVOLVÉ, Pierre. Op. cit., p. 107-109. Já “la liberté de concurrence a elle-même 
été affirmée comme un prolongement de la liberté du commerce et de l’industrie [...], 
impliquant notamment la non-concurrence des activités privés par des initiatives 
publiques”. Curiosamente, o reconhecimento doutrinário da livre iniciativa foi tardio no 
direito francês, ocorrendo principalmente depois de 1982. A causa disso está no fato 
de a jurisprudência daquele país se referir mais à liberdade de comércio e indústria. O 
mesmo sucede com a liberdade profissional. O autor sintetiza da seguinte forma a 
situação: “Ainsi, à l’image des poupées russes, on est en présence d’une série de 
libertés qui s’emboîtent les unes les autres, de la liberté d’entreprendre jusqu’à la 
liberté de concurrence”. 
[8] Antes da alteração constitucional do artigo 192 da Constituição da República pela 
Emenda Constitucional no 40/03, a livre iniciativa no sistema financeiro possuía um 
tratamento especial no que tange à possibilidade de entrada no mercado. 
[9] REALE, Miguel. A ordem econômica na Constituição. In: De Tancredo a Collor. 2. 
ed. São Paulo: Siciliano, 1992. p. 334. 
[10] GRAU, Eros Roberto. A ordem econômica na Constituição de 1988: interpretação 
e crítica, p. 243. Grifos do autor. 
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[11] Idem, p. 223. “Pois não se pode entender como livre aquele que nem ao menos 
sabe de sua possibilidade de reivindicar alternativas de conduta e de comportamento – 
aí a sensibilidade; e não se pode chamar livre, também, aquele ao qual tal acesso é 
sonegado – aí a acessibilidade.” 
[12] NUSDEO, Fábio Curso de economia: introdução ao direito econômico, p. 98-100. 
[13] Idem, p. 100. 
[14] Idem, p. 122. 
[15] GRAU, Eros Roberto. A ordem econômica na Constituição de 1988: interpretação 
e crítica, p. 230-232. 
[16] PROENÇA, José Marcelo Martins. Concentração empresarial e o direito da 
concorrência. 1999. 194f. Dissertação (mestrado em direito comercial) – Faculdade de 
Direito, Universidade de São Paulo, São Paulo. p. 5. 
[17] RUBIN, E. L. Deregulation, reregulation, and the myth of the market. Washington 
and Lee Law Review. Lexington. v. 45, 1988, p. 1258. “[…] free market is faced as 
natural and thus anything contrary to it would be unnatural. This is a believe of the 
defendants of the free market: it is a natural organization that comes even before the 
society. However, there are studies that demonstrate that before the rise of human 
societies other forms of organization were known.” 
[18] MOURA, Maurício de C. O princípio constitucional de livre concorrência. Revista 
do IBRAC, São Paulo, v. 5, n. 1, 1998, p. 12-14. 
[19] BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, art. 174: “Art. 
174. Como agente normativo e regulador da atividade econômica, o Estado exercerá, 
na forma da lei, as funções de fiscalização, incentivo e planejamento, sendo este 
determinante para o setor público e indicativo para o setor privado.” 
[20] BRASIL. CADE. Resolução n. 20, de 9 de junho de 1999. Anexo II, item 2. 
Publicada no Diário Oficial da União de 28.6.99. No mesmo sentido, a Resolução n. 
15, de 19 de agosto de 1998. Publicada no Diário Oficial da União de 28.8.98. Anexo 
V, item 1.6.1. “Mercado(s) relevante(s) do(s) produto(s). Um mercado relevante do 
produto compreende todos os produtos/serviços considerados substituíveis entre si 
pelo consumidor devido às suas características, preços e utilização. Um mercado 
relevante do produto pode eventualmente ser composto por um certo número de 
produtos/serviços que apresentam características físicas, técnicas ou de 
comercialização que recomendem o agrupamento.” 
[21] BRASIL. CADE. Resolução n. 20, de 9 de junho de 1999. Anexo II, item 2.1.2. 
Publicada no Diário Oficial da União de 28.6.99. A SDE e a SEAE adotaram critérios 
semelhantes. BRASIL. SEAE. SDE Portaria conjunta n. 50, de 1 de agosto de 2001, 
itens 28 a 33.Publicada no Diário Oficial da União de 17.8.01. 
[22] Sobre as possibilidades analíticas abertas pela teoria dos jogos, ver BAIRD, 
Douglas G.; GERTNER, Robert H.; PICKER, Randal C. Game theory and the 
law. Cambridge: Harvard University Press. 5th printing, 2002. 
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[23] SCHERER, F. M.; ROSS, David. Industrial market structure and economic 
performance, p. 29. “And in this age of widespread neuroses and psychoses, the line 
between rationality and irrationality is not at all esasy to draw.” 
[24] WISH, Richard. Competition law, p. 7. “Directors of a company may not think that 
earning large profits for the shareholders is the most important consideration they face: 
they may be more interested to see the size of their business empire to grow or to 
indulge themselves in the quiet life that monopolists may enjoy.” 
[25] Essa ausência de relações com os demais agentes econômicos não significa um 
completo isolamento dos demais, hipótese que resvala na autonomia completa. Pelo 
contrário, há sempre relações numa sociedade baseada na divisão social do trabalho. 
Tais relações, porém, não têm o condão de unir os centros decisórios, fazendo 
desaparecer a autonomia decisória do agente econômico. 
[26] Em que pese essa expansão ser feita via crescimento interno do agente 
econômico, não se exclui a priori a possibilidade de ele ter agido por concorrência 
desleal. Não há nenhuma relação de necessidade ou de imprescindibilidade entre 
abuso do poder econômico e concorrência desleal. 
[27] Essa permissividade decorrente do processo competitivo não significa que os atos 
de concorrência desleal sejam permitidos pelo ordenamento jurídico, pois a lei 
continua a reprimi-los, como ocorre quando um concorrente tenta confundir a clientela. 
Entretanto, a Lei n. 11.529/911 tem por objetivo a prevenção e a repressão às 
infrações da ordem econômica, e não a defesa de interesses essencialmente privados. 
Assim, o conhecimento de questões contratuais por parte dos órgãos de defesa da 
concorrência no Brasil restringe-se a possíveis efeitos lesivos à ordem econômica e à 
livre concorrência como um todo, não abrangendo, portanto, aspectos que produzem 
impacto apenas em agentes econômicos. Esse entendimento é reforçado por uma 
série de decisões proferidas pelo CADE, nas quais este se declara incompetente para 
o exame de questões de direito privado. (Voto do conselheiro-relator Antônio Fonseca 
na Averiguação Preliminar n. 08000.022244/94-36, de 6 de agosto de 1997, tratando 
de rompimento de contrato de distribuição, e de interesse das empresas Bodygard 
Benton Importadora, Exportadora, Representações Ltda. (Representante) e Benton 
Plastic Inc. e outras Representadas: “1. A Representante se diz asfixiada ou alijada 
pelas representadas do mercado de protetores de caçambas de camionetas [...]. A 
queixa se funda no rompimento injustificado de contrato de distribuição do referido 
produto, três anos antes do seu término [...]. 2. Como se esclarece no Relatório, a 
razão do rompimento é que a fornecedora dos bedliners, nos Estados Unidos, foi 
adquirida por uma outra empresa, a Durakon, que preferiu outro distribuidor no Brasil. 
Antes de mais nada a questão é de direito privado, sem reflexo na concorrência; 3. O 
parecer técnico da SEAE/MF não acusa participação de mercado, apontando a 
existência de 15 produtos e/ou distribuidores de protetores de caçamba. Outro fato é 
que a “CK” é a nova distribuidora dos produtos Benton/Durakon; 4. Os consumidores 
continuam tendo acesso ao produto, embora via outro distribuidor. Isso quer dizer que 
o fato, i.e., o encerramento antecipado do contrato se revela neutro do ponto de vista 
do interesse domercado; 5. Se o representante contribuiu para a formação da 
clientela, ele pode até buscar no Judiciário reparação de eventual prejuízo. O sistema 
de defesa da concorrência, contudo, nada pode fazer a respeito à mingua de 
competência”. Pelas mesmas razões, decidiu o CADE pelo arquivamento do Processo 
Administrativo n. 125/92, que tinha como Representante a Cooperativa Agropecuária 
de Brasília Ltda. e como Representadas as empresas Yolat Indústria e Comércio de 
Laticínios Ltda. e Parmalat Indústria e Comércio Ltda (Do voto do conselheiro-relator 
Leônidas Rangel Xausa: Trata-se de Representação instaurada [...] mediante 
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denúncia da Cooperativa Agropecuária de Brasília Ltda., em que relata suposta 
infração promovida pela Parmalat Indústria e Comércio Ltda. e Yolat Idústria e 
Comércio de Laticínios. As alegações produzidas pela Denunciante resumem-se à 
prática de preços de compra superiores aos de mercado por parte da Yolat. O 
mercado de leite sofreu, durante longo tempo, intensa regulamentação por parte do 
Estado, sendo absolutamente controlados os preços praticados ao consumidor. No 
que tange à produção, entretanto, contava-se com produtores pouco especializados, a 
utilizar práticas arcaicas de extração do leite. Estes produtores vendiam sua produção, 
geralmente por preço irrisório – às vezes mesmo com prejuízo – às cooperativas, que 
promoviam então a revenda ou fabricavam produtos próprios para a venda. Com a 
desregulamentação do setor, foram atraídas outras empresas para atuar na faixa de 
mercado das Cooperativas, dentre elas a Yolat. Ocorre, neste caso específico, que a 
Yolat passou a remunerar melhor os produtores pelo leite que comprava, prejudicando 
a atuação das Cooperativas. Chegou a atuação da Yolat, inclusive, a provocar a 
rescisão de convênio firmado entre a Cooperativa-denunciante e outras cooperativas 
produtoras do leite. Inconformada com esta conduta que reputa anticoncorrencial, a 
Cooperativa Agropecuária de Brasília Ltda. apresentou denúncia, o que ensejou a 
abertura de processo administrativo [...] A matéria [...] é de natureza simples e de fácil 
decisão. Trata-se, predominantemente, de questão contratual, a que se deve acrescer 
a indagação: além das relações particulares discutidas, existem provas ou indícios de 
infração à ordem econômica? Porque, se obtiver resposta negativa, afasta-se a lesão 
ao interesse coletivo, objeto da tutela da lei de defesa da concorrência e da proteção 
deste Conselho. [...] Ao avançar pelo mercado de leite, a PARMALAT desagradou as 
cooperativas por remunerar melhor os produtores. [...] Assim sendo, parece-nos que a 
entrada da PARMALAT nesse segmento de mercado fará com que não só as 
cooperativas tendam a se reestruturar, como também que todos os fabricantes de 
produtos derivados do leite voltem para um aprimoramento tecnológico em curto 
espaço de tempo, como vem fazendo a Cooperativa Central Gaúcha de Laticínios. [...] 
Em nível de concorrência a entrada da PARMALAT no setor foi benéfica, alterando a 
inércia em que se encontravam as empresas concorrentes. [...] Hoje, a situação é de 
intensa rivalidade. Assim sendo, não se pode vislumbrar qualquer natureza ilícita na 
conduta da Yolat, que, ao contrário, promove os mesmos benefícios apontados no 
parecer acima. É esta a melhor resposta à questão anteriormente formulada. E, desta 
forma, não há razão para que se dê prosseguimento ao processo”. 
[28] LE MOAL, Roger. Droit de concurrence, p. 12. “En effet, comme tout phénomène 
socio-économique, la concurrence fut toujours écartelée entre une double 
réglementation: l’une permissive detérminant les droits subjectifs, l’autre prohibitive 
fixant des limites des activités concurrentielles.” 
[29] Por essa razão, muitas desconcentrações econômicas precisam ser submetidas à 
aprovação antitruste. 
[30] HOVENKAMP, Herbert Federal antitrust policy: the law of competition and its 
practice, p. 46. 
[31] A substituição de agentes econômicos se dá quando, através de um movimento 
ou alteração na sua conformação de controle interna, em nada afeta a estrutura de 
mercado, seja do ponto de vista horizontal, seja do ponto de vista vertical. Ela não 
desperta maiores preocupações para a defesa da concorrência. 
[32] OLIVEIRA, Gesner. Concorrência: panorama no Brasil e no mundo, p. 15. Entre 
maio de 1996 e maio de 1998, 95% das concentrações econômicas analisadas foram 
aprovadas sem quaisquer objeções. 
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[33] BRASIL. Resolução CADE no 15/98, Anexo V, item 1.5. 
[34] HOVENKAMP, Herbert. Federal antitrust policy: the law of competition and its 
practice, p. 369-370. 
[35] SALOMÃO FILHO, Calixto. Direito concorrencial: as condutas. São Paulo: 
Malheiros, 2002. p. 306. Ao analisar as vantagens da concorrência intramarca, o autor 
refere-se ao caso Levi Strauss. “Essa empresa manteve durante todos os anos 70 
preços impositivos de revenda de seus jeans para seus revendedores. Em 1976, por 
força de ação promovida pela FTC contra essa prática, Levi Strauss deixou de impor 
os preços. A conseqüência foi não apenas a redução de preços de todos os 
concorrentes (Wranglers e marcas próprias da Sears e Penney), mas o ganho de 
mercado por parte de Levi Strauss. O desmantelamento do cartel (involutário) de 
preços entre os produtores (via eliminação da competição) intramarca resultou em 
benefício àquele produto preferido pelo consumidor.” 
Controle de Estruturas II 
 Subjacente aos movimentos empresariais descritos no Módulo Três está implícito o 
conceito de entrada, o qual deve ser entendido, como o próprio vocábulo indica, como 
a entrada da atuação do agente econômico no mercado. Um agente econômico não 
atuante em dado mercado, mas que em certo tempo pode nele entrar, é considerado 
um entrante potencial. Essa situação, porém, não se confunde com a substitutibilidade 
pelo lado da oferta. Nesta, o agente econômico pode facilmente passar a atuar no 
mercado relevante por meio do simples redirecionamento da sua produção[1]. Assim, 
conforme o tamanho, uma financeira não vinculada à instituição financeira alguma é 
considerada entrante potencial no mercado de intermediação financeira. Por outro 
lado, um banco atuante no mercado de crédito de curto prazo pode, em tese, deslocar 
sua “produção” para os mercados de médio e longo prazo (substitutibilidade pelo lado 
da oferta).[2] 
Correlata a esse conceito e mais importante para a instrumentalização da defesa da 
concorrência, é a noção de barreiras à entrada, que são “algum fator no mercado que 
permite às empresas já atuantes no mercado ter lucros monopolísticos, ao impedir a 
entrada dos que estão de fora”.[3] Exemplos de barreiras à entrada são exigências 
legais, longo prazo para construção de uma unidade produtiva e os investimentos 
necessários. 
Formulada por Bain, um dos representantes da Tradição de Harvard, essa definição é 
mais ampla e tem sido a mais adotada, inclusive pelos órgãos de defesa da 
concorrência dos Estados Unidos. Todavia, ela contrasta com uma mais recente, 
sugerida por Stigler, a qual busca distinguir a entrada desejável da entrada 
indesejável, considerando como barreira à entrada apenas aquele custo que não é 
suportado pelos agentes já atuantes no mercado.[4] As economias de escala, 
portanto, estão excluídas da definição de Stigler, pois todos os agentes econômicos de 
dado mercado já teriam incorrido nelas em algum momento. Nessa linha de raciocínio, 
ainda que na presença de lucros monopolísticos, é socialmente indesejável a entrada 
de empresas incapazes de suportar os investimentos necessários para atingir a escala 
mínima viável, porque conduziria, cedo ou tarde, à saída de um dos agentes. Isso 
ocorreria porque o tamanho do mercado não suportava a manutenção de mais 
empresas do que as já operantes. No Brasil,o CADE adota explicitamente a definição 
de Bain, ao afirmar que, “na acepção pioneira de Bain, as barreiras à entrada dizem 
respeito às condições que permitiriam que as firmas estabelecidas em um 
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determinado mercado relevante pudessem perceber lucros extraordinários sem induzir 
a entrada de novos concorrentes”.[5] 
Via de regra, quanto maiores as barreiras à entrada, mais tempo e investimento serão 
necessários para que a atuação de um concorrente se faça presente, contestando o 
domínio exercido por outro agente ou grupo de agentes econômicos. Os mercados 
podem, em tese, ser excessivamente concentrados, desde que sejam facilmente 
contestáveis, permitindo que agentes econômicos nele entrem com facilidade em 
busca de lucros monopolísticos maiores. Contudo, detentores ou não de poder 
econômico tendem a criar barreiras artificiais à entrada, visando a manipular as 
condições do mercado com maior liberdade de atuação.[6] Bancos, por exemplo, 
precisam atender a uma série de requisitos legais para serem autorizados a operar 
como instituições financeiras. Todavia, se os bancos já estabelecidos operam, 
conjuntamente, algum serviço aos consumidores reconhecido como socialmente 
relevante e não permitem a entrada de novos bancos nesse pool, ainda que mediante 
pagamento, está-se diante de uma barreira artificial à entrada. Se a não-inclusão do 
entrante no pool for injustificada, pode estar caracterizada conduta anticoncorrencial. 
Ligada à noção de entrada do agente econômico num mercado, encontra-se a de sua 
saída. Por essa razão, um agente econômico ponderará, também, quando de sua 
decisão de entrar ou não em dado mercado, sobre a possibilidade de recuperar o 
dinheiro investido. Nesse contexto, os custos irrecuperáveis (sunk costs), em que 
incorre o agente econômico, seriam uma barreira à entrada, ligada especialmente à 
saída da empresa do mercado.[7] Enquanto ativos como imóveis e carteira de clientes 
podem ser vendidos por uma instituição financeira que tenha decidido encerrar suas 
atividades, o mesmo não se pode afirmar do que foi gasto com publicidade.[8] 
Ao lado da concentração econômica, as autoridades concorrenciais têm grande 
interesse na repressão às condutas anticoncorrenciais. A diferenciação entre 
concentração e condutas é encarada como artificial por muitos. Apesar disso, é fácil 
diferenciá-las pelo momento da atuação estatal antitruste: enquanto, nas condutas, a 
atuação estatal será sempre a posteriori por ser impossível punir algo que nem sequer 
aconteceu, nas concentrações, a atuação estatal será, pelo menos, a priori ou, como 
ocorre no Brasil, imediatamente posterior. Vistas atualmente como um dos principais 
problemas do antitruste, especialmente pela Escola de Chicago, que diminuiu 
consideravelmente a ênfase no controle de estruturas, as condutas anticoncorrenciais 
são banidas do mercado, porque, presume-se, são sempre nefastas. Consistem, 
basicamente, em atos ilícitos com vistas à monopolização dos mercados relevantes. 
De modo geral, é a movimentação das posições dos agentes econômicos que detêm 
poder econômico que interessa às autoridades de defesa da concorrência. O 
surgimento de sistemas de controle para tais movimentos é uma tentativa de evitar ou 
reprimir o abuso do poder econômico. 
Curioso para saber como funciona a leniência? Que tal assistir um filme para 
descontrair? Assista aqui o trailer. 
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Vejam aqui. 
Apêndice – Trecho sobre os procedimentos administrativos da Lei N. 12.529/11 
relativos à aprovação de atos de concentração econômica 
 
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CAPÍTULO II 
DO PROCESSO ADMINISTRATIVO NO CONTROLE DE ATOS DE 
CONCENTRAÇÃO ECONÔMICA 
Seção I - Do Processo Administrativo na Superintendência-Geral 
Art. 53. O pedido de aprovação dos atos de concentração econômica a que se refere 
o art. 88 desta Lei deverá ser endereçado ao Cade e instruído com as informações e 
documentos indispensáveis à instauração do processo administrativo, definidos em 
resolução do Cade, além do comprovante de recolhimento da taxa respectiva. 
§ 1o Ao verificar que a petição não preenche os requisitos exigidos no caput deste 
artigo ou apresenta defeitos e irregularidades capazes de dificultar o julgamento de 
mérito, a Superintendência-Geral determinará, uma única vez, que os requerentes a 
emendem, sob pena de arquivamento. 
§ 2o Após o protocolo da apresentação do ato de concentração, ou de sua emenda, a 
Superintendência-Geral fará publicar edital, indicando o nome dos requerentes, a 
natureza da operação e os setores econômicos envolvidos. 
Art. 54. Após cumpridas as providências indicadas no art. 53, a Superintendência-
Geral: 
I - conhecerá diretamente do pedido, proferindo decisão terminativa, quando o 
processo dispensar novas diligências ou nos casos de menor potencial ofensivo à 
concorrência, assim definidos em resolução do Cade; ou 
II - determinará a realização da instrução complementar, especificando as diligências a 
serem produzidas. 
Art. 55. Concluída a instrução complementar determinada na forma do inciso II do 
caput do art. 54 desta Lei, a Superintendência-Geral deverá manifestar-se sobre seu 
satisfatório cumprimento, recebendo-a como adequada ao exame de mérito ou 
determinando que seja refeita, por estar incompleta. 
Art. 56. A Superintendência-Geral poderá, por meio de decisão fundamentada, 
declarar a operação como complexa e determinar a realização de nova instrução 
complementar, especificando as diligências a serem produzidas. 
Parágrafo único. Declarada a operação como complexa, poderá a Superintendência-
Geral requerer ao Tribunal a prorrogação do prazo de que trata o § 2o do art. 88 desta 
Lei. 
Art. 57. Concluídas as instruções complementares de que tratam o inciso II do art. 54 
e o art. 56 desta Lei, a Superintendência-Geral: 
I - proferirá decisão aprovando o ato sem restrições; 
II - oferecerá impugnação perante o Tribunal, caso entenda que o ato deva ser 
rejeitado, aprovado com restrições ou que não existam elementos conclusivos quanto 
aos seus efeitos no mercado. 
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Parágrafo único. Na impugnação do ato perante o Tribunal, deverão ser 
demonstrados, de forma circunstanciada, o potencial lesivo do ato à concorrência e as 
razões pelas quais não deve ser aprovado integralmente ou rejeitado. 
Seção II - Do Processo Administrativo no Tribunal 
Art. 58. O requerente poderá oferecer, no prazo de 30 (trinta) dias da data de 
impugnação da Superintendência-Geral, em petição escrita, dirigida ao Presidente do 
Tribunal, manifestação expondo as razões de fato e de direito com que se opõe à 
impugnação do ato de concentração da Superintendência-Geral e juntando todas as 
provas, estudos e pareceres que corroboram seu pedido. 
Parágrafo único. Em até 48 (quarenta e oito) horas da decisão de que trata a 
impugnação pela Superintendência-Geral, disposta no inciso II do caput do art. 57 
desta Lei e na hipótese do inciso I do art. 65 desta Lei, o processo será distribuído, por 
sorteio, a um Conselheiro-Relator. 
Art. 59. Após a manifestação do requerente, o Conselheiro-Relator: 
I - proferirá decisão determinando a inclusão do processo em pauta para julgamento, 
caso entenda que se encontre suficientemente instruído; 
II - determinará a realização de instrução complementar, se necessário, podendo, a 
seu critério, solicitar que a Superintendência-Geral a realize, declarando os pontos 
controversos e especificando as diligências a serem produzidas. 
§ 1o O Conselheiro-Relator poderá autorizar, conforme o caso, precária e 
liminarmente, a realização do ato de concentração econômica, impondo as condições 
que

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