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5.desenvolvimento humano

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81 
 
DESENVOLVIMENTO HUMANO Capítulo 5 
 
 
 
 
1  PRIMEIRA SEMANA 
 
1.1  Clivagem 
 
O zigoto, durante o seu transporte pela tuba 
uterina em direção ao útero, sofre a clivagem, que 
consiste em mitoses sucessivas, sem aumento de 
volume (Figuras 5.1 e 5.2A-E). Nos mamíferos, 
comparando-se com outros animais, a clivagem é um 
processo lento, levando praticamente um dia para cada 
divisão mitótica: tem-se um embrião de duas células 
no primeiro dia após a fertilização, de quatro células 
no segundo dia, de seis a 12 células no terceiro, de 16 
células no quarto e de 32 células no quinto dia (Figura 
5.1). 
Os blastômeros de mamíferos não se dividem 
todos ao mesmo tempo, sendo frequente o número 
ímpar de células no embrião. 
O embrião até o estágio de oito células apresenta 
desenvolvimento regulado, isto é, mesmo que alguma 
célula seja perdida, o embrião progride normalmente, 
porque as demais contêm as informações necessárias 
para formar todas as estruturas. Entretanto, a partir 
desse estágio, há uma expressão genética diferenciada, 
e as células, conforme a sua posição, terão destinos 
diferentes. Assim, se alguma célula for perdida, o 
desenvolvimento não será normal. Então, após o 
estágio de oito células, o desenvolvimento é em 
mosaico. 
 
Devido à quantidade limitada de ribossomos e RNA 
armazenados durante a oogênese, o embrião precisa de 
seus próprios produtos gênicos logo no início da 
clivagem. Se a transcrição de RNAm fosse inibida no 
zigoto de camundongo, o desenvolvimento seria 
interrompido no estágio de duas células, enquanto, em 
embriões de anfíbios, um tratamento similar somente o 
perturbaria no fim da clivagem. 
Não há uma transição brusca entre a dependência 
das substâncias armazenadas e o início da transcrição do 
genoma embrionário. Por exemplo, isoformas da -
glicuronidase e 2-microglobulina, que são transcritos 
do material genético de origem paterna, aparecem muito 
cedo no embrião, enquanto os RNAm para actina e 
histona acumulados na oogênese ainda estão sendo 
usados. 
 
No estágio de oito células, formam-se junções 
gap, que permitem a comunicação entre as células, 
junções de adesão, que as unem e, entre os 
blastômeros externos, junções de oclusão, tornando-os 
polarizados. A superfície apical das células fica 
voltada para o exterior, e a basal, para o interior. Cria-
se, em consequência, uma polaridade interno-externa, 
já que os blastômeros da superfície e aqueles internos 
recebem estímulos diferentes e originarão linhagens 
celulares distintas. 
O embrião de 16 células é parecido com uma 
amora e é designado mórula (do latim morus, amora) 
(Figuras 5.1 e 5.2C). Com a aderência promovida 
pelas junções de adesão, os blastômeros externos não 
são mais identificados individualmente quando vistos 
da superfície: um processo denominado compactação 
(Figura 5.2D). 
No embrião com 32 células, os blastômeros 
secretam fluido para os espaços dentro do embrião. O 
líquido concentra-se em uma cavidade, a blastocele, e 
o embrião é chamado de blastocisto (Figuras 5.1 e 
5.2E). 
 
A formação da blastocele depende da existência das 
junções gap e das junções de oclusão. Se o 
estabelecimento das junções comunicantes for inibido, 
não haverá blastocele. O acúmulo de líquido deve-se ao 
transporte passivo de água que acompanha o transporte 
de Na+ pelos canais de Na+ e pelas proteínas 
transportadoras de Na+/glicose e de Na+/H+ da superfície 
 
82 
 
apical e pelas Na+/K+-ATPases situadas na superfície 
basolateral dos blastômeros externos. As junções de 
oclusão impedem o retorno do fluido. 
 
O blastocisto consiste em uma camada superficial, 
o trofoblasto (ou trofoectoderma), e em um pequeno 
grupo interno de células, o embrioblasto (ou massa 
celular interna) (Figura 5.2E). A massa celular interna 
é separada da blastocele por processos celulares que 
se estendem do trofoblasto. O trofoblasto deriva parte 
da placenta (throfe, em grego, significa nutrição), e o 
embrioblasto origina o embrião propriamente dito e 
alguns anexos embrionários. 
 
O destino diferencial em embrioblasto ou trofoblasto 
depende da posição da célula na mórula: os blastômeros 
externos diferenciam-se no trofoblasto, enquanto os 
blastômeros internos formam a massa celular interna. Se 
uma célula interna for retirada e transplantada para a 
superfície de outro embrião, tornar-se-á trofoblasto, e 
algumas células externas, quando implantadas no interior 
do embrião, podem compor a massa celular interna. 
As mudanças no fenótipo das células internas e 
externas são acompanhadas por diferenças moleculares: 
o fator de transcrição Cdx-2 é essencial para a 
diferenciação em trofoblasto, e as moléculas oct-4, 
nanog e Sox-2 são expressas na massa celular interna. 
 
Como os produtos da transcrição são importantes 
para o desenvolvimento, os embriões haploides 
geralmente morrem durante a clivagem ou logo após a 
implantação. Entretanto o controle do início do 
desenvolvimento envolve mais do que a presença de um 
conjunto diploide de cromossomos. O material genético 
de origem materna possui qualidade diferente daquele 
paterno. Essas informações são impressas nas células 
germinativas pelo ambiente diverso das gônadas. 
Metilação do DNA é um dos principais meios de 
imprinting. 
O imprinting paterno desliga alguns genes 
responsáveis pelo desenvolvimento do embrião 
propriamente dito, e o imprinting materno suprime a 
expressão de genes implicados na formação de estruturas 
extraembrionárias, como a placenta. 
Em experimentos com oócitos de camundongos 
recém-fertilizados, foi observado que, quando o 
pronúcleo masculino era substituído por um feminino, 
resultando em um zigoto com dois pronúcleos femininos, 
era gerado um embrião normal, com placenta e saco 
vitelino rudimentares, enquanto, quando o pronúcleo 
feminino era trocado por um masculino, tendo-se um 
zigoto com dois pronúcleos masculinos, era produzido 
um embrião atrofiado, com placenta e saco vitelino 
normais. 
Um exemplo de imprinting paterno no ser humano é 
a mola hidatiforme que se caracteriza pela proliferação 
excessiva de tecidos trofoblásticos e ausência (mola 
completa) ou subdesenvolvimento do embrião (mola 
parcial). As vilosidades coriônicas não são 
vascularizadas e possuem um aspecto intumescido, por 
isso a denominação hidatiforme (do grego hydatos, gota 
d’água). 
A mola hidatiforme completa ocorre devido à 
entrada de dois espermatozoides em um oócito que 
perdeu o seu núcleo ou à duplicação do pronúcleo 
masculino no oócito sem núcleo. Na mola parcial, o 
oócito é inseminado por dois espermatozoides ou por um 
espermatozoide diploide, mas como o núcleo do oócito 
permanece, o embrião é triploide. 
Molas completas geralmente terminam em aborto no 
início da gestação, enquanto, nas molas parciais, o aborto 
ocorre no segundo trimestre. Restos de tecido 
trofoblástico da mola parcial, após o aborto ou a 
curetagem, podem gerar um tumor benigno, em uma 
condição conhecida como doença trofoblástica 
persistente. Restos da mola completa formam um tumor 
maligno, invasivo: o coriocarcinoma. 
Tanto na mola hidatiforme como no coriocarcinoma, 
há secreção de altos níveis de hCG (gonadotrofina 
coriônica humana). 
 
2  SEGUNDA SEMANA 
 
2.1  Implantação 
 
A primeira etapa da implantação é o hatching 
(eclosão), que consiste na ruptura da zona pelúcida 
por enzimas digestivas, permitindo a saída do 
 
83 
 
blastocisto (Figuras 5.1 e 5.2F). As etapas seguintes 
são: aposição, adesão e invasão. 
O blastocisto encostano epitélio uterino pelo polo 
embrionário (aquele com o embrioblasto). A partir 
dessa região do trofoblasto, pela fusão de células, 
surge uma massa celular multinucleada, o 
sinciciotrofoblasto (Figuras 5.1 e 5.3). As células mais 
internas que permanecem uninucleadas constituem o 
citotrofoblasto. 
A aposição e a adesão são promovidas pela 
interdigitação dos microvilos do trofoblasto/ 
sinciciotrofoblasto e do epitélio uterino, pela 
formação de complexos juncionais entre eles e por 
interações entre receptores celulares (por exemplo, as 
integrinas) e componentes da matriz extracelular. 
As células epiteliais sofrem apoptose. O dano do 
tecido uterino estimula a síntese de prostaglandinas, 
que aumentam a permeabilidade vascular e, em 
consequência, há edema do estroma, recrutamento de 
leucócitos e produção de citocinas. 
Na invasão, o sinciciotrofoblasto penetra o 
endométrio com suas projeções e enzimas que 
degradam a matriz extracelular. Em roedores, foi 
observado que o trofoblasto produz espécies reativas 
de oxigênio, como peróxido de hidrogênio (H2O2) e 
radicais livres de oxigênio. Essas substâncias 
inviabilizam as células endometriais ao redor, as quais 
podem ser fagocitadas pelo sinciciotrofoblasto. 
O trofoblasto humano é extremamente invasivo: 
atravessa o endométrio, atingindo glândulas e vasos 
sanguíneos, e alcança o terço interno do miométrio. O 
sangue materno extravasa para dentro de lacunas do 
sinciciotrofoblasto. 
O endométrio está na fase secretora, e o embrião 
capta as substâncias produzidas pelas glândulas, como 
o glicogênio. A fagocitose de células endometriais e 
de eritrócitos também contribui para a sua nutrição. 
 
O sinciciotrofoblasto e o citotrofoblasto secretam 
hCG, que, além de manter a atividade do corpo lúteo, 
contribui para o sucesso da implantação e da 
diferenciação do trofoblasto. No fim da segunda semana, 
os níveis desse hormônio são suficientes para o teste de 
gravidez ser positivo. 
 
 
Figura 5.1 - Representação do transporte do embrião pela tuba uterina e da sua implantação no útero. 
E. Leite e T. Montanari 
 
84 
 
 
 
Figura 5.2 - Oócito (A), embrião de duas células (B), mórula (C), mórula compactada (D), blastocisto (E) e blastocisto 
sofrendo hatching (F), obtidos pela lavagem com salina (flushing) dos cornos uterinos de camundonga e fotografados ao 
microscópio de luz. No blastocisto, são indicados o trofoblasto (T) e o embrioblasto (E). 
 
 
Figura 5.3 - Fotomicrografia do útero de camundonga, 
onde observados, na luz, um embrião em estágio inicial, 
ainda em clivagem (três núcleos são vistos) e o 
sinciciotrofoblasto (S) de outro embrião implantando no 
endométrio. 
 
Durante a invasão, o trofoblasto produz proteinases, 
como a gelatinase B (ou metaloproteinase-9 da matriz), 
que degradam a matriz extracelular. Ele ainda modifica a 
expressão de integrinas para favorecer a adesão. 
Inicialmente é sintetizada a integrina ∞6β4, receptor para 
a laminina da lâmina basal do epitélio uterino. Depois 
expressa integrina ∞5β1, receptor para a fibronectina do 
tecido conjuntivo, e posteriormente integrina ∞1β1, 
receptor para a laminina e para o colágeno do tipo IV da 
lâmina basal dos vasos sanguíneos. 
Na pré-eclâmpsia, as células trofoblásticas têm suas 
propriedades invasivas alteradas: não produzem 
gelatinase B, mantêm a expressão de ∞5β1 e não 
expressam a integrina ∞1β1. A invasão é superficial, 
resultando em uma pobre perfusão sanguínea da placenta 
e, consequentemente, retardo do crescimento intrauterino 
e mortalidade perinatal. 
A pré-eclâmpsia afeta 7 a 10% das gestações, sendo 
mais comum na primeira gravidez. No final do segundo 
trimestre ou no terceiro trimestre, a gestante apresenta 
pressão sanguínea aumentada, disfunção renal e edema, 
sintomas que servem de alerta dessa condição. 
C 
D E F
E 
A B 
 
85 
 
Com a implantação, o endométrio sofre a reação 
decidual. Os fibroblastos diferenciam-se nas células 
deciduais. Tornam-se poliploides, com grande 
capacidade de síntese e acumulam glicogênio e 
lipídios (a serem consumidos pelo embrião). 
Adquirem uma forma poliédrica, estabelecem 
comunicação através de junções gap e, pelo 
surgimento de junções de adesão, as células deciduais 
ficam justapostas, circundando o embrião. 
 
A reação decidual restringe a invasão do trofoblasto 
e cria uma barreira inicial à passagem de 
macromoléculas, inclusive IgG, e de células, como 
micro-organismos, macrófagos e vários tipos de 
linfócitos, protegendo o embrião de infecções e contra a 
rejeição pelo organismo materno. 
O trofoblasto também tem um papel nessa proteção 
imunológica, porque suas células praticamente não são 
antigênicas. Expressam antígenos do complexo de 
histocompatibilidade (major histocompatibility complex - 
MHC) da classe I e não os da classe II, que são 
geralmente utilizados pelas células de defesa para 
distinguir antígenos self de nonself. Não expressam 
moléculas MHC da classe Ia comuns em outros tipos 
celulares, como HLA (antígenos dos leucócitos 
humanos)-A, B e C, mas sim uma molécula da classe Ib, 
específica do trofoblasto: HLA-G, que, ao se ligar aos 
linfócitos T killer (ou citotóxicos), tem um efeito 
inibitório e impede a destruição das células fetais. 
Há ainda anticorpos maternos que revestem os 
antígenos MHC de origem paterna, evitando a resposta 
imune celular. A resposta imunológica é também 
suprimida pelas interleucinas secretadas pelo trofoblasto 
e pelos leucócitos que infiltram o estroma endometrial e 
por vários hormônios, como a progesterona, o estrógeno, 
a prolactina e o lactogênio placentário humano. 
 
O epitélio do endométrio está reconstituído no 12º 
dia, cobrindo totalmente o embrião. Então o embrião 
humano não se desenvolve na luz do útero, mas sim 
dentro da sua parede. 
 
Geralmente a implantação acontece na parede 
posterior do útero. No entanto, se for muito próximo ao 
canal cervical (placenta prévia), exige repouso da 
gestante, porque a separação prematura da placenta causa 
hemorragia e morte do feto por falta de oxigenação. 
Quando a implantação se dá fora do útero, como na 
tuba uterina ou na cavidade abdominal, tem-se uma 
gravidez ectópica. A gravidez tubária é o tipo mais 
comum de gravidez ectópica. Ela pode ser decorrente da 
obstrução da tuba por processos inflamatórios, como, por 
exemplo, aqueles causados pela gonorreia e pela bactéria 
clamídia (Chlamydia sp.), responsáveis pela Doença 
Inflamatória Pélvica (DIP), ou ainda por aderências 
devido à endometriose ou à cirurgia anterior. Até a 
oitava semana de gestação, em virtude do crescimento do 
embrião, a tuba rompe-se, o que provoca hemorragia e 
pode ser fatal. 
O local mais frequente de implantação na gravidez 
abdominal é a bolsa retouterina (ou bolsa de Douglas), 
uma prega de peritônio entre o reto e o útero. O 
desenvolvimento pode chegar a termo. Há casos em que 
o feto não retirado se calcifica, formando o litopédio (do 
grego lithos – pedra, paidion – criança). 
A implantação nos órgãos abdominais e no 
mesentério provoca sangramento intraperitoneal, sendo 
alto o risco de morte materna. 
 
Métodos de controle da natalidade interceptivos 
 
Pílula de emergência (ou do dia seguinte): altas doses de 
estrógeno são tomadas até 72h após a relação sexual. Há 
um desequilíbrio nos níveis hormonais, e ocorre 
descamação do endométrio, assim o embrião não tem 
mais onde se implantar; 
DIU (dispositivo intrauterino): é um dispositivo de 
plástico que é inserido pelo médico no útero, podendo 
durar três a cinco anos. Como um agente estranho, irritaa mucosa do útero, impedindo a implantação. Há 
modelos que possuem um fio de cobre. A liberação desse 
íon faz com que a cauda dos espermatozoides enrole-se, 
prejudicando o seu movimento e evitando a concepção. 
O DIU que libera progesterona age suprimindo a 
ovulação e espessando o muco cervical. 
 
2.2  Placentação 
 
 
86 
 
Durante a gravidez, o endométrio é designado 
como decídua (deciduus, uma queda), porque é a 
camada do útero que irá descamar no parto. Conforme 
a sua localização, a decídua pode ser subdividida em: 
decídua basal, que está entre o embrião e o 
miométrio; decídua capsular, que está entre o embrião 
e a luz do útero, e decídua parietal, que é o restante da 
decídua (Figura 5.4). 
Na segunda semana, as projeções do 
sinciciotrofoblasto são invadidas pelo citotrofoblasto, 
formando as vilosidades primárias. Depois, na terceira 
semana, elas são penetradas pelo mesoderma 
extraembrionário, um tecido rico em matriz 
extracelular, originado do embrião. Têm-se as 
vilosidades secundárias. Ainda na terceira semana, 
surgem vasos sanguíneos nesse mesoderma, inclusive 
nas vilosidades, que são então as vilosidades 
terciárias. Essas vilosidades são denominadas 
coriônicas, porque pertencem ao córion, que se refere 
ao conjunto sinciciotrofoblasto, citotrofoblasto e 
mesoderma extraembrionário. 
A partir do segundo mês, as vilosidades coriônicas 
em contato com a decídua capsular regridem, 
enquanto aquelas associadas à decídua basal 
aumentam. A região do córion sem vilosidades é o 
córion liso, e aquela com vilosidades, o córion viloso 
(ou frondoso) (Figura 5.4). 
 
Células do citotrofoblasto migram dos vilos, 
invadem as artérias espiraladas e secretam matriz 
extracelular nas suas paredes, dilatando-as de modo que 
o sangue extravasa com pressão muito menor do que a 
pressão arterial. O desenvolvimento embrionário inicial é 
adaptado para essa baixa tensão de oxigênio (3%). 
Entretanto as artérias espiraladas na região do futuro 
córion liso não são seladas pelo citotrofoblasto como 
aquelas do futuro córion viloso. Isso leva a um aumento 
local na concentração de oxigênio, e esse stress 
oxidativo provoca a degeneração do sinciciotrofoblasto 
que cobre os vilos e a regressão da rede capilar no seu 
interior. 
 
Com o crescimento do embrião, a decídua 
capsular faz saliência na cavidade uterina e funde-se 
com a decídua parietal, obliterando a luz do útero. A 
decídua capsular degenera e desaparece (Figura 5.4). 
A placenta é constituída pela decídua basal e pelo 
córion viloso, portanto, tem um componente materno 
e outro fetal (Figura 5.4). 
 
 
Figura 5.4 - Corte sagital do útero gravídico de quatro e nove semanas e de cinco meses: DB – decídua basal; DC – decídua 
capsular; DP – decídua parietal; SC – saco coriônico; SA – saco amniótico; SV – saco vitelino; CV – córion viloso; CL – 
córion liso. Baseado em Moore, 1984. p.79. 
E. Leite e T. Montanari 
 
87 
 
A forma discoide da placenta (Figura 5.5) é 
determinada pela área circular do córion viloso. O 
termo placenta vem do grego plakous, que significa 
bolo achatado. A partir do quarto mês, o córion viloso 
divide-se em 10 a 38 áreas de grupos de vilosidades, 
chamadas cotilédones. Os sulcos entre eles são 
produzidos pelo tecido da decídua basal interposto, os 
septos placentários (Figura 5.5). No término da 
gestação, a placenta mede cerca de 20cm de diâmetro 
e 3cm de espessura e pesa 500g. 
 
Cerca de 30min após o nascimento, a placenta é 
expulsa. A sua integridade deve ser conferida pelo 
profissional de saúde. A retenção no útero de parte dos 
cotilédones causa infecção e hemorragia. 
 
A barreira placentária é representada pelos 
tecidos das vilosidades coriônicas que separam o 
sangue materno do fetal. Até o quinto mês, são o 
sinciciotrofoblasto, o citotrofoblasto, o mesoderma 
extraembrionário e o endotélio dos vasos sanguíneos 
fetais. Após esse período, fragmentos do 
sinciciotrofoblasto são perdidos, o citotrofoblasto 
degenera e o mesoderma extraembrionário diminui. A 
barreira placentária resume-se ao sinciciotrofoblasto e 
ao endotélio, facilitando as trocas entre a mãe e o filho 
em crescimento. 
Geralmente o sangue materno e o fetal não se 
misturam: embora o sangue materno extravase para os 
espaços intervilosos, o sangue fetal, conduzido por 
duas artérias e uma veia pelo cordão umbilical, fica 
dentro dos vasos no córion (Figura 5.5). Para 
favorecer a passagem de substâncias e gases, os 
capilares das vilosidades são do tipo fenestrado. 
A grande superfície placentária (5m
2
 na 28ª 
semana e quase 11m
2
 a termo), promovida pelas 
vilosidades coriônicas e pelas microvilosidades do 
sinciciotrofoblasto, facilita o transporte de 
substâncias. 
Gases, água, hormônios esteroides e ureia são 
transportados por difusão simples, e a glicose é 
transferida por difusão facilitada. A maioria das 
vitaminas, os aminoácidos e os lipídios é internalizada 
por transporte ativo. 
 
 
Figura 5.5 - Fotografias de placenta humana a termo. Na vista pela face que estava em contato com a decídua basal, é 
possível observar os cotilédones, correspondentes aos grupos de vilosidades coriônicas. Na vista oposta, observa-se o 
revestimento pela membrana amniótica (inclusive no cordão umbilical) devido à expansão do saco amniótico. As duas 
artérias umbilicais (que transportam sangue do feto para a placenta) e a veia umbilical (que leva sangue da placenta para o 
feto) foram coradas artificialmente (cortesia de Nívia Lothhammer). 
 
 
88 
 
Oxigênio e nutrientes são encaminhados da mãe 
para o embrião/feto, enquanto gás carbônico e ureia 
difundem-se no sentido inverso. O gás carbônico é 
trocado por oxigênio nos pulmões da mãe, e a ureia é 
excretada nos rins. 
 
Drogas, como álcool e cocaína; gases tóxicos, como 
o monóxido de carbono e o dióxido de carbono; vírus, 
como o vírus da rubéola e o citomegalovírus; a bactéria 
Treponema pallidum da sífilis, e o protozoário 
Toxoplasma gondii atravessam a placenta e prejudicam o 
desenvolvimento. 
O álcool afeta a formação da face e do sistema 
nervoso, o crescimento e o ganho de peso. A cocaína 
provoca aborto espontâneo, malformações do sistema 
nervoso, retardo no crescimento, parto prematuro e 
distúrbios comportamentais, como déficit de atenção. 
O vírus da rubéola pode causar surdez (pela lesão do 
órgão de Corti, estrutura responsável pela audição, 
presente no ducto coclear), catarata e glaucoma 
congênitos e defeitos cardíacos. A infecção pelo 
citomegalovírus no primeiro trimestre provoca 
frequentemente aborto espontâneo e, no período fetal 
mais avançado, pode resultar em retardo no crescimento 
intrauterino, cegueira, distúrbios de audição, 
neurológicos e neurocomportamentais. O T. pallidum 
causa surdez congênita, defeitos na face e no palato, 
hidrocefalia, anormalidades nos dentes e nos ossos e 
retardo mental. Quando a mãe não é tratada, ocorrem 
natimortos em cerca de um quarto dos casos. A infecção 
pelo T. gondii pode afetar o desenvolvimento do cérebro 
e dos olhos e levar à morte fetal. 
 
Anticorpos maternos, principalmente IgG, são 
transportados para o feto por endocitose, o que protege o 
recém-nascido de algumas doenças comuns na infância, 
como a varíola, a difteria e o sarampo. 
 
A placenta produz hormônios, como hCG, a 
progesterona, o estrógeno e a somatomamotrofina 
coriônica (ou lactogênio placentário humano). A 
síntese de estrógeno, entretanto, envolve enzimas 
presentes também nas adrenais e no fígado do feto. 
A hCG, além de sustentar o corpo lúteo gravídico, 
estimula a secreçãodas células de Leydig no feto do 
sexo masculino de testosterona, o qual promove a 
diferenciação da genitália externa masculina e a 
descida dos testículos para o escroto. 
A progesterona mantém a decídua, inibindo a 
contratilidade do miométrio e desenvolve as glândulas 
mamárias para a lactação. 
O estrógeno aumenta o útero e a genitália externa 
da mãe, estimula o crescimento dos ductos mamários 
e relaxa os ligamentos pélvicos, o que facilita o parto. 
A somatomamotrofina coriônica, que tem uma 
estrutura similar ao hormônio de crescimento, 
influencia o crescimento, a lactação e o metabolismo 
da glicose e dos lipídios da mãe. A mãe utiliza a 
gordura para obter energia, e a glicose fica disponível 
para o filho. 
 
Na maioria dos mamíferos eutérios (placentários 
verdadeiros), a implantação limita-se à adesão do 
embrião ao epitélio uterino, com desenvolvimento na luz 
uterina, mas há aqueles, como os humanos, em que o 
embrião penetra no endométrio e o desenvolvimento 
ocorre dentro da parede do útero. No primeiro caso, na 
ocasião do parto, as vilosidades coriônicas desprendem-
se das pregas da mucosa uterina, sem danificá-la e há um 
parto sem hemorragia. Essa placenta é dita indecídua. No 
segundo caso, há perda de sangue no parto, já que a 
mucosa uterina se rompe com a saída do feto e de suas 
membranas. Essa placenta é denominada decídua. 
Placentas indecíduas: 
- Epiteliocorial, difusa: o contato entre as vilosidades 
coriônicas e o endométrio é superficial, não danificando 
o epitélio deste. Esse tipo de placenta está constituído 
pelo córion, com vilosidades rudimentares, e pelo 
alantoide, bastante vascularizado. É considerado do tipo 
difuso, porque as vilosidades estão distribuídas por toda 
a superfície do córion. A alimentação do embrião é feita 
pelas secreções das glândulas endometriais. Ex: égua, 
porca, paquidermes e cetáceos. 
- Sinepiteliocorial, cotiledonária: há a fusão de células 
trofoblásticas e de células epiteliais uterinas, resultando 
em uma delgada camada epitelial de origem materna e 
fetal. Essas regiões de contato estão distantes umas das 
outras, e as vilosidades coriônicas formam grupos 
 
89 
 
chamados de cotilédones. Ex: ruminantes (vaca, ovelha). 
Placentas decíduas: 
- Endoteliocorial, zonária: o trofoblasto destrói o epitélio 
e o conjuntivo uterino e faz contato com o endotélio dos 
capilares maternos, que conserva sua integridade. As 
vilosidades estão dispostas em uma faixa, 
circunscrevendo o córion. O alantoide, com seus vasos 
sanguíneos, penetra nas vilosidades. Ex: carnívoros 
(gata, cadela). 
- Hemocorial, discoidal: o sinciciotrofoblasto erode o 
epitélio, o conjuntivo e o endotélio dos vasos do 
endométrio, de maneira que o sangue materno extravasa 
para as lacunas do sinciciotrofoblasto. O alantoide é 
pouco desenvolvido e fica incorporado ao cordão 
umbilical, onde se diferencia em vasos que interligam a 
circulação fetal com a placentária. As vilosidades 
coriônicas persistem em uma região em forma de disco, 
que será o componente fetal da placenta. Ex: primatas, 
roedores, insetívoros e quirópteros. 
 
2.3  Formação do embrião didérmico, do saco 
amniótico, do saco vitelino e do alantoide 
 
No sétimo dia de desenvolvimento, por 
delaminação do embrioblasto, forma-se uma fina 
camada celular voltada para a blastocele: é o 
hipoblasto. No dia seguinte, entre as células do 
embrioblasto, acumula-se fluido e cria-se a cavidade 
amniótica. Sob ela, as células do embrioblasto 
arranjam-se em uma camada de células colunares: o 
epiblasto. Então o embrião, na segunda semana, é 
didérmico, ou seja, composto por duas camadas: o 
epiblasto e o hipoblasto (Figura 5.6). Entre o epiblasto 
e o hipoblasto, uma lâmina basal se forma. 
 
Estudos em embriões de camundongo têm mostrado 
que, já no estágio de 64 células, algumas células da 
massa celular interna expressam o fator nanog, enquanto 
outras expressam Gata-6. As células expressando nanog 
representam os precursores do epiblasto, e aquelas 
expressando Gata-6 tornam-se o hipoblasto. 
 
O teto da cavidade amniótica é originado de 
células do epiblasto. O âmnio (membrana amniótica 
ou ectoderma extraembrionário) será o revestimento 
interno do saco amniótico. As células do hipoblasto 
migram e revestem a blastocele, originando a 
membrana de Heuser (ou endoderma 
extraembrionário), que formará o saco vitelino (Figura 
5.6). 
Tão logo o saco vitelino se estabelece, um 
material acelular é secretado entre a membrana de 
Heuser e o citotrofoblasto. Essa matriz extracelular é 
o retículo extraembrionário (Figura 5.6). Ela permite a 
migração de células provenientes do epiblasto, que se 
organizam em duas camadas: o mesoderma 
extraembrionário somático, vizinho ao citotrofoblasto 
e ao âmnio, e o mesoderma extraembrionário 
esplâncnico, que está adjacente à membrana de 
Heuser. O retículo extraembrionário entre as duas 
camadas é substituído por fluido, tendo-se o celoma 
extraembrionário (Figura 5.7). 
O sinciciotrofoblasto, o citotrofoblasto e o 
mesoderma extraembrionário somático compõem o 
córion. O saco coriônico (ou gestacional) consiste no 
córion e no celoma extraembrionário (Figura 5.7). 
A região do mesoderma extraembrionário 
somático acima do âmnio que liga o embrião ao 
citotrofoblasto é o pedúnculo do embrião e será o 
cordão umbilical (Figura 5.7). 
O mesoderma extraembrionário somático também 
fará parte do saco amniótico, e o mesoderma 
extraembrionário esplâncnico, do saco vitelino (Figura 
5.7). A presença de vasos sanguíneos no mesoderma 
extraembrionário sustenta troficamente esses anexos 
embrionários. 
O saco vitelino é estreitado por uma nova 
migração de células do hipoblasto, resultando no saco 
vitelino definitivo (Figura 5.7). O embrião humano 
não tem vitelo, e o aparecimento do saco vitelino é 
uma recapitulação evolutiva. 
O saco amniótico é formado pela membrana 
amniótica (ou ectoderma extraembrionário) e pelo 
mesoderma extraembrionário somático (Figura 5.7). 
 
90 
 
 
 
Figura 5.6 - Na segunda semana, o embrião é constituído pelo epiblasto (E) e hipoblasto (H). As células do hipoblasto 
migram e revestem a blastocele (B), originando a membrana de Heuser, revestimento interno do saco vitelino (SV). As 
células do epiblasto originam a membrana amniótica, revestimento interno do saco amniótico (SA). Entre o endoderma 
extraembrionário e o citotrofoblasto, é depositado o retículo extraembrionário (RE). ST – sinciciotrofoblasto; CT – 
citotrofoblasto. 
 
 
Figura 5.7 - Células oriundas do epiblasto migram sobre o retículo extraembrionário e originam o mesoderma 
extraembrionário somático (MS), adjacente ao citotrofoblasto e ao saco amniótico, e o mesoderma extraembrionário 
esplâncnico (ME), adjacente ao saco vitelino. O retículo extraembrionário, entre as duas camadas, é substituído por fluido, 
gerando o celoma extraembrionário (ou cavidade coriônica). Sinciciotrofoblasto, citotrofoblasto e o mesoderma 
extraembrionário somático constituem o córion. O córion e o celoma extraembrionário compõem o saco coriônico (ou 
gestacional). Uma nova migração de células do hipoblasto forma o saco vitelino definitivo. 
 
91 
 
Como a data da concepção pode não ser conhecida 
pela gestante, os obstetras utilizam o primeiro dia do 
último período menstrual (UPM) para estimar o tempo 
de gravidez: é a idade gestacional. A data de nascimento 
é cerca de 280 dias (40 semanas) após o início da UPM. 
Uma regra para calcular a data provável do parto (DPP) é 
a de subtrair três meses a partir do primeiro dia do UPM 
e acrescentar um ano e sete dias. 
Aavaliação pela ultrassonografia do tamanho do 
saco gestacional e do embrião (frequentemente o 
comprimento do topo da cabeça à nádega) (Figura 5.8) 
permite fazer uma previsão confiável da data provável do 
parto. 
São utilizadas ainda como medidas: o maior 
comprimento nos embriões na terceira ou no início da 
quarta semana, que são retos; a circunferência da cabeça 
e do abdômen nos embriões com mais de seis semanas, e 
ainda, após a oitava semana, o comprimento do pé, do 
fêmur e do topo da cabeça ao calcanhar. 
O sistema Carnegie de estagiamento de embriões, 
baseado no comprimento e nas características externas, é 
usado internacionalmente para estimar a idade de 
embriões recuperados após o aborto espontâneo. 
 
 
Figura 5.8 - Sonograma de saco gestacional com 30,1mm, 
contendo embrião com oito semanas gestacionais, medindo 
16,7mm de comprimento cabeça-nádega. * - luz uterina. 
Cortesia de Tamara Montanari. 
 
O líquido amniótico é derivado inicialmente do 
soro do sangue materno. Mais tarde há contribuição 
do transudato do cordão umbilical, da pele (ainda não 
queratinizada), do trato respiratório e do sistema 
digestório. O fluido é deglutido pelo feto e absorvido 
pelo trato gastrointestinal, atingindo a corrente 
sanguínea. A água ingerida pode deixar a circulação 
fetal através da placenta ou ser excretada pelos rins do 
feto, retornando ao líquido amniótico. 
O líquido amniótico é, portanto, urina hipotônica: 
98 a 99% de água e 1 a 2% de solutos, como 
proteínas, enzimas, carboidratos, lipídios, hormônios, 
vitaminas e eletrólitos. 
Com a sua expansão pelo acúmulo de líquido, o 
saco amniótico ocupará toda a cavidade coriônica, e o 
âmnio encosta no mesoderma extraembrionário do 
córion, resultando na membrana amniocoriônica 
(Figura 5.5). 
O líquido amniótico protege o feto do 
dessecamento, de choques mecânicos e de infecções, 
permite a sua movimentação e evita a aderência da 
pele. Ainda ajuda a controlar a temperatura corporal, 
mantendo a temperatura relativamente constante. 
O líquido amniótico também é absorvido pelos 
pulmões e, durante o parto, é eliminado pela boca e 
pelo nariz através da pressão exercida sobre o tórax. 
 
O volume do líquido amniótico alcança, no fim da 
gravidez, cerca de 1L. Um volume muito pequeno de 
líquido amniótico (abaixo de 500mL) constitui um 
oligoidrâmnio e pode ser decorrente de insuficiência 
placentária, da ruptura da membrana amniocoriônica, da 
compressão do cordão umbilical, da obstrução do trato 
urinário ou da ausência dos rins do feto. Pela pressão do 
feto contra a parede uterina, devido a pouca quantidade 
de líquido amniótico, ele pode apresentar hipoplasia 
pulmonar, defeitos na face e nos membros (síndrome de 
Potter). 
O excesso de líquido amniótico (acima de 2L) é 
chamado hidrâmnio e está associado à gravidez múltipla, 
à anencefalia ou a anomalias obstrutivas do trato 
digestório. 
 
O saco vitelino é formado pela membrana de 
Heuser (o endoderma extraembrionário originado pelo 
* 
 
92 
 
hipoblasto) e pelo mesoderma extraembrionário 
esplâncnico (Figura 5.7). 
Nas aves e nos répteis, o saco vitelino armazena 
vitelo, que é usado para a nutrição do embrião em 
desenvolvimento. Nos mamíferos, a presença da 
placenta dispensou a necessidade do vitelo, e o saco 
vitelino não tem mais função de assegurar a nutrição. 
No entanto, antes da circulação placentária ser 
estabelecida, nutrientes, como ácido fólico e vitaminas 
A, B12 e E, são concentrados no saco vitelino e 
absorvidos por endocitose. Ainda nele proliferam dois 
tipos celulares importantes: as células sanguíneas e as 
células germinativas primordiais. 
Na quarta semana, com o dobramento do disco 
embrionário em um tubo, parte do saco vitelino fica 
incorporada como intestino primitivo. O restante fica 
junto ao pedúnculo do embrião e é envolvido pela 
membrana amniótica na sua expansão, o que resulta 
no cordão umbilical (Figuras 5.7 e 5.9). 
 
 
Figura 5.9 - Corte histológico de cordão umbilical, 
mostrando o revestimento epitelial proveniente do âmnio e 
o tecido mucoso, derivado do mesoderma extraembrionário 
somático. 
 
Por volta do 16º dia, o alantoide (do grego allas, 
salsicha) nasce como uma evaginação ventral do 
intestino posterior revestida por endoderma e por 
mesoderma extraembrionário esplâncnico. 
Nos répteis, aves e em alguns mamíferos, é um 
importante órgão respiratório e depósito de excreção 
urinária. No ser humano, é vestigial. Ficará embutido 
no cordão umbilical, e, no seu mesoderma, são 
gerados os vasos umbilicais que ligam os vasos fetais 
àqueles da placenta. Mais tarde no desenvolvimento, a 
parte proximal do alantoide (úraco) será contínua com 
a bexiga em formação. Após o nascimento, ela se 
transformará em um denso cordão fibroso, o 
ligamento umbilical médio, que ligará a bexiga à 
região umbilical. 
 
Os gêmeos monozigóticos (ou idênticos) são 
oriundos do mesmo zigoto, sendo formados pela 
separação dos blastômeros do embrião de dois a três 
dias, pela divisão do embrioblasto na primeira semana ou 
pela divisão do disco embrionário na segunda semana. 
A primeira situação é a mais rara. Cada embrião 
originado pela separação dos blastômeros tem seu saco 
amniótico, seu saco coriônico e sua placenta. Se os dois 
embriões se implantarem próximos, as placentas podem 
estar fusionadas, e alguns vasos podem estabelecer 
comunicações. Se houver uma grande anastomose 
arteriovenosa, ocorrem distúrbios circulatórios que 
beneficiarão um dos gêmeos em detrimento do outro, 
levando a diferenças de tamanho e até a morte de um 
deles. 
Cada embrião proveniente da divisão do 
embrioblasto tem seu saco amniótico, mas os dois estão 
cercados pelo mesmo saco coriônico e, portanto, há uma 
única placenta. 
No caso daqueles produzidos pela divisão do disco 
embrionário, há um saco amniótico comum e, pelo 
mesmo motivo que o anterior, um saco coriônico e uma 
placenta. 
Se a divisão do disco embrionário for parcial, têm-se 
gêmeos xifópagos (ou siameses) (Figuras 5.10 e 5.11). 
Eles podem estar unidos somente pela pele e/ou pelo 
tecido subcutâneo. Entretanto órgãos e parte do esqueleto 
podem ser compartilhados. Inversão da simetria dos 
órgãos de um dos gêmeos é comum. 
Há uma variedade de gêmeos xifópagos, onde um 
deles é bem menor, consistindo geralmente de torso e 
membros e está preso à região oral, ao mediastino ou à 
pelve do outro irmão: são referidos como gêmeo parasita 
e gêmeo hospedeiro. 
 
93 
 
 
Figura 5.10 - Fetos de gêmeos xifópagos, cujo esqueleto 
foi corado pela Alizarina vermelha (Fotografia pertencente 
ao acervo do Departamento de Ciências Morfológicas, 
UFRGS). 
 
Os gêmeos dizigóticos (ou fraternos) são de zigotos 
diferentes. É a situação de gemelidade mais frequente: 
2/3 do total. Há uma tendência para gêmeos dizigóticos, 
e não para monozigóticos, em famílias e com o aumento 
da idade materna. A sua ocorrência também está 
relacionada com a ovulação de vários oócitos provocada 
pela administração exógena de gonadotrofinas ou 
medicamentos, como o clomifeno no tratamento para 
engravidar. 
Como é evidente pela sua formação, cada embrião tem 
seu saco amniótico, seu saco coriônico e, 
consequentemente, sua placenta. Se os embriões se 
implantarem muito próximos, os sacos coriônicos e as 
placentas podem ser fusionados. 
 
Figura 5.11 - Gato natimorto com uma cabeça e dois 
troncos. 
 
3  TERCEIRA SEMANA 
 
3.1  Gastrulação, formação da linha primitiva e do 
embrião tridérmico 
 
O principal evento da terceira semana é a 
gastrulação,um processo que envolve movimentos 
celulares que estabelecem as três camadas 
germinativas no embrião. Apesar do ovo dos 
mamíferos placentários não ter vitelo, a gastrulação é 
semelhante à de répteis e aves por uma conservação 
evolutiva. O embrião desenvolve-se como um disco e 
mais tarde dobra-se e fecha-se em um corpo 
cilíndrico. 
Como detalhado ao descrever a gastrulação em 
aves (Capítulo 4 – Desenvolvimento comparado), 
inicialmente as células do epiblasto formam um 
espessamento em cunha, na região posterior do 
embrião. Nessa região, membros das famílias TGF-β e 
Wnt foram identificados como agentes indutores. O 
 
94 
 
espessamento passa para a forma linear por extensão 
convergente no sentido caudocefálico (Figura 5.12). 
A concentração de células do epiblasto estabelece 
uma linha mediana e caudal, a linha primitiva. Na sua 
extremidade cranial, há um maior acúmulo de células, 
o nó primitivo (ou nó de Hensen) (Figura 5.12). 
 
As células do nó primitivo expressam moléculas 
importantes na organização do eixo embrionário, como 
Foxa-2, goosecoid, cordina (de chord, medula em 
inglês), noguina (de noggin, referência à cabeça em 
inglês coloquial), nodal e ácido retinoico. 
 
Com o aparecimento da linha primitiva, são 
identificados o eixo anteroposterior (craniocaudal) e o 
eixo direito-esquerdo do embrião. 
 
O hipoblasto determina a origem e o direcionamento 
da linha primitiva. Em embriões de aves, a rotação do 
hipoblasto em 90 em relação à orientação do epiblasto 
faz com que a linha primitiva surja 90 da posição 
normal. 
Estudos com embriões de camundongo mostraram 
que a determinação do eixo anteroposterior depende do 
endoderma visceral (assim é denominado o hipoblasto 
em camundongo). Na futura região anterior, há a 
ativação de Dickkopf 1 (Dkk 1), que antagoniza a ação 
de Wnt, e há a expressão de lefty-1 e Cerberus-1 (Cer-1), 
inibidores da nodal. Por outro lado, na futura parte 
posterior, sinais Wnt de fontes extraembrionárias 
induzem a expressão de nodal, levando à formação da 
linha primitiva. 
 
No nó primitivo, há 200 a 300 células monociliadas, 
e o batimento dos cílios resulta em uma corrente de 
fluido para esquerda, que tem por consequência a 
expressão de duas moléculas sinalizadoras da família 
TGF-β, nodal e lefty-1, nesse lado do embrião. Uma 
sequência de interações moleculares desencadeadas pela 
nodal resulta na ativação do gene Pitx2 no lado esquerdo. 
O fator de transcrição Pitx2 promove a formação de 
estruturas assimétricas, como, por exemplo, coração, 
fígado, pulmões, estômago e baço. Lefty-1 é produzido 
por um curto período e posiciona-se ao longo do lado 
esquerdo da linha primitiva, evitando a difusão das 
moléculas que determinam o sinistrismo para o lado 
direito. 
A assimetria esquerda-direita é invertida em cerca de 
1/10.000 indivíduos. Essa condição é denominada situs 
inversus e pode ser decorrente da mutação de genes 
envolvidos no estabelecimento da assimetria ou na 
motilidade dos cílios. Pessoas com síndrome de 
Kartagener podem apresentar situs inversus. 
 
As células do epiblasto apresentam características 
de células epiteliais: são justapostas graças às 
moléculas de adesão celular E-caderinas, sintetizam 
citoqueratina e possuem lâmina basal e polaridade 
(superfícies apical e basal definidas). Aquelas células 
na linha primitiva se alongam, perdem sua lâmina 
basal, deixam de expressar as E-caderinas, 
desprendendo-se das suas vizinhas, adquirem uma 
morfologia em garrafa, já que a parte apical se estreita 
pelo deslizamento dos filamentos de actina, e migram 
(ingressão). Depois de deixar a linha primitiva, 
tornam-se estreladas devido aos pseudópodos e são 
denominadas células mesenquimais. Essa 
transformação está correlacionada com a expressão do 
fator de transcrição snail. A migração é possibilitada 
pelas substâncias da matriz extracelular, como a 
fibronectina e o ácido hialurônico. 
O movimento de células através da linha primitiva 
produz um sulco, o sulco primitivo, e a saída de 
células do nó primitivo forma a fosseta primitiva 
(Figura 5.12). 
As primeiras células a migrarem originam o 
mesoderma extraembrionário. Outras células 
substituem as células do hipoblasto que revestiram a 
blastocele e constituem o endoderma (algumas células 
hipoblásticas originais são incorporadas ao 
endoderma). As células da linha primitiva que se 
espalham lateral e cranialmente entre o epiblasto e o 
endoderma estabelecem o mesoderma. O epiblasto é 
agora chamado de ectoderma. Assim, na terceira 
semana, o embrião é um disco tridérmico, isto é, com 
três camadas germinativas: o ectoderma, o mesoderma 
e o endoderma (Figuras 5.13 e 5.14). Todas essas 
camadas se originaram do epiblasto. 
 
95 
 
 
Figura 5.12 - Vista dorsal de embrião de codorna com 16h 
de incubação, onde são indicados a linha primitiva (LP), o 
sulco primitivo (S), o nó primitivo (N) e a fosseta primitiva 
( ). AP – área pelúcida; AO – área opaca (cortesia de 
Casimiro García Fernández). 
 
O endoderma adjacente ao epiblasto é necessário 
para a diferenciação do mesoderma. Experimentos com 
embriões de anfíbios mostraram que, quando o 
ectoderma é isolado, ele permanece como tal, possuindo 
citoqueratina nas suas células, mas, quando é aposto ao 
endoderma, diferencia-se em mesoderma, como indicado 
pela expressão de -actina, característica de células 
musculares. Membros da família do TGF-β, como TGF-
2, ativina e Vg1, induzem as células do epiblasto a 
formar o mesoderma. 
 
Quando as células migratórias se fixam, elas 
tornam a expressar as moléculas de adesão celular. Há 
tipos diferentes dessas moléculas. Elas são 
responsáveis pela união das células de um mesmo 
tecido e pelo arranjo e pela separação daquelas de 
diferentes tecidos. Por exemplo, quando células do 
ectoderma e do mesoderma são misturadas em uma 
suspensão, elas se reúnem em um agregado com as 
células ectodérmicas na periferia e as células 
mesodérmicas no centro. 
Há duas regiões onde o ectoderma se mantém 
aderido ao endoderma: a membrana bucofaríngea e a 
membrana cloacal. Como não há mesoderma 
interposto, a falta de irrigação sanguínea levará à 
degeneração dessas membranas, resultando na boca e 
no ânus, respectivamente. 
No fim da terceira semana, a linha primitiva 
começa a regredir caudalmente até desaparecer. 
 
Restos da linha primitiva podem gerar grandes 
tumores, denominados teratomas, na região 
sacrococcígea. Eles contêm misturas de tecidos, como 
cartilagem, músculo, adiposo, epitélio glandular e até 
mesmo cabelo e dente. São encontrados também 
teratomas nas gônadas e no mediastino, mas esses são 
provenientes das células germinativas. 
Os teratomas sacrococcígenos são os tumores mais 
comuns em recém-nascidos, ocorrendo um caso a cada 
35.000 nascimentos, com incidência maior no sexo 
feminino. A maioria dos tumores é benigna e é removida 
cirurgicamente. 
 
3.2  Notocorda e neurulação 
 
Células do nó primitivo migram ao nível do 
mesoderma, em sentido cranial e formam uma massa 
compacta de células mesodérmicas, a placa precordal, 
e um bastão oco, o processo notocordal, que logo se 
consolida na notocorda (Figuras 5.13 e 5.14). 
A presença da notocorda reuniu várias espécies 
em um mesmo filo, o Chordata. Ela serve como eixo 
de sustentação no embrião e, em alguns cordados 
inferiores, também no adulto. Nos vertebrados 
superiores, o seu principal papel é o de induzir o 
desenvolvimento do sistema nervoso. 
As células do ectoderma suprajacente à placa 
precordal e à notocorda tornam-se mais altas, mantêma expressão das moléculas de adesão celular neurais 
L P 
 
96 
 
(N-CAM), não sintetizam mais E-caderinas 
(antigamente denominadas L-CAM) e sintetizam N-
caderinas. Essa região é a placa neural. O restante do 
ectoderma continua a produzir E-caderinas, mas não 
N-CAM. A expressão diferencial das moléculas de 
adesão celular permite que a placa neural se destaque 
do restante do ectoderma. 
 
Em 1924, Hilde Mangold e Hans Spemann, através 
de experimentos envolvendo enxertos entre embriões dos 
anfíbios Triturus cristatus (doador não pigmentado) e 
Triturus taeniatus (hospedeiro pigmentado), constataram 
que a diferenciação do ectoderma neural era promovida 
pelo lábio dorsal do blastóporo, cujas células formavam 
o mesoderma dorsal, mais precisamente a notocorda. 
Desde então é intensa a investigação para descobrir quais 
são os mecanismos e as substâncias responsáveis pela 
indução do sistema nervoso. 
Estudos recentes em embriões de Xenopus laevis 
mostraram que células ectodérmicas isoladas 
diferenciam-se em células neurais, concluindo-se que a 
capacidade do ectoderma se transformar em ectoderma 
neural é suprimida por sinais transmitidos pelas células 
vizinhas. Os mediadores desse sinal supressor são as 
proteínas morfogenéticas ósseas (bone morphogenetic 
protein -BMP) da superfamília do TGF-β. A expressão 
de uma versão truncada do receptor de BMP nas células 
ectodérmicas evitou a sua sinalização e houve o destino 
neural. As proteínas folistatina, noguina e cordina, 
secretadas pela notocorda, ligam-se à BMP-4, evitando 
sua ligação ao receptor e, consequentemente, inibindo 
sua atividade. Portanto, a sinalização BMP promove a 
diferenciação do ectoderma em epiderme, e o seu 
bloqueio leva à formação de tecido neural. 
Isso é condizente com a evidência filogenética de 
que os primeiros sistemas nervosos nos metazoários 
tiveram origem em plexos subepidérmicos. O sistema 
nervoso como um cordão dorsal (ou ventral) deve ser 
decorrência da supressão da diferenciação neural no 
resto do ectoderma. 
Em mamíferos, membros da família do TGF-β, sonic 
hedgehog (shh) e BMP são algumas das moléculas 
sinalizadoras envolvidas na indução do sistema nervoso. 
De acordo com um modelo estabelecido em 
camundongos, no início da formação da linha primitiva, 
o precursor do nó primitivo secreta Cer-1, que inibe a 
BMP. Na ausência dessa proteína, o epiblasto anterior 
será tecido neural. Nos estágios subsequentes da 
gastrulação, a determinação do destino anterior do tecido 
neural induzido é promovida pelos sinais do endoderma 
visceral anterior e, posteriormente, da placa precordal e 
da notocorda. Esses sinais são Cer-1 e noguina, que 
inibem a BMP-4, e lefty-1, que inibe a nodal. A 
determinação posterior do tecido neural ocorre pela ação 
da nodal concentrada na extremidade posterior do 
embrião. 
 
A placa neural sofre um alongamento e um 
estreitamento por extensão convergente e dobra-se por 
invaginação. A elevação das bordas laterais (pregas 
neurais) ao longo do seu eixo longitudinal e mediano 
(sulco neural) decorre da mudança na forma das 
células de colunar para a piramidal, com a constrição 
do ápice pelo deslizamento dos filamentos de actina. 
Como as células estão unidas por junções de adesão, a 
placa curva-se (Figuras 5.13 a 5.18). O alongamento 
do embrião força as extremidades da placa neural no 
sentido longitudinal, o que impulsiona o seu 
dobramento. 
As pregas neurais encontram-se e fundem-se no 
tubo neural, que se separa da lâmina ectodérmica. O 
ectoderma de revestimento é refeito sobre o tubo 
neural, internalizando-o. A neurulação (o fechamento 
da placa neural em tubo neural) ocorre do meio para 
as extremidades, como se houvesse dois zíperes 
fechando em sentidos opostos. Entretanto, na região 
cranial, há geralmente dois sítios adicionais de 
fechamento. Por último, são fechadas as 
extremidades. As extremidades abertas do tubo neural 
são denominadas neuróporos. O neuróporo anterior 
fecha-se no 25º dia, e o posterior, no 27º dia (Figuras 
5.15 e 5.18). 
A neurulação descrita é a neurulação primária. 
Caudal ao neuróporo posterior, ocorre a neurulação 
secundária. Sob o ectoderma do broto da cauda, há a 
condensação de células mesenquimais em um bastão 
(cordão medular) e depois há a cavitação no seu 
interior, resultando um canal central contínuo ao tubo 
neural. Em humanos, por causa do pequeno 
desenvolvimento do broto da cauda, a neurulação 
secundária não é acentuada. 
 
97 
 
O tubo neural originará o sistema nervoso central: 
o encéfalo e a medula espinhal. 
 
 
Figura 5.13 - Corte transversal de embrião de galinha com 
40h, onde são indicados os folhetos embrionários: 
ectoderma (EC), mesoderma (M) e endoderma (EN). Notar 
o ectoderma espessado da placa neural, cuja diferenciação 
foi induzida pela notocorda (N). 
 
 
 
Figura 5.14 - Corte transversal de embrião do quelônio 
Phrinops hilari (correspondente ao embrião humano no 
início da terceira semana), apresentando os três folhetos 
embrionários: ectoderma (EC), mesoderma (M) e 
endoderma (EN); a notocorda (N), e o fechamento da placa 
neural em tubo neural. C – ectoderma extraembrionário do 
córion (ou serosa), membrana extraembrionária presente 
nos répteis e nas aves. 
 
 
 
 
 
Figura 5.15 - Representação da neurulação: fechamento da placa neural em tubo neural. As extremidades ainda abertas são 
os neuróporos anterior e posterior. Baseado em Carlson, 2014. p.93. 
 
20 dias 22 dias 23 dias 18 dias 
E. Leite e T. Montanari 
EC 
EN 
M 
N 
C 
N EN 
EC 
M 
 
98 
 
 
Figura 5.16 - Embrião de codorna com 22h de incubação. 
São observadas a placa neural (P) iniciando o dobramento 
( ) e a linha primitiva (L), com o sulco primitivo no 
interior e o nó primitivo e a fosseta primitiva na 
extremidade cranial (cortesia de Nívia Lothhammer). 
 
 
Figura 5.18 - Embrião de galinha in toto sofrendo a 
neurulação. Os neuróporos são indicados (N). 
 
Figura 5.17 - Embrião de codorna com 25h de incubação, 
mostrando o fechamento da placa neural em tubo neural, o 
surgimento de somitos e a regressão da linha primitiva 
(cortesia de Casimiro García Fernández). 
 
O não fechamento do neuróporo anterior leva à 
anencefalia (ou craniosquise). Ocorre em 0,1% das 
gestações. O desenvolvimento do cérebro anterior é 
interrompido, e a abóboda craniana não se forma (Figura 
5.19). A porção do encéfalo que controla a respiração e 
os batimentos cardíacos é formada, o que permite a 
sobrevivência até o final do período fetal ou alguns dias 
após o parto. Como há a formação do tronco encefálico, 
o termo meroanencefalia é mais apropriado do que 
anencefalia. 
A falha no fechamento da placa neural em tubo 
neural na região da medula espinhal é a mielosquise (ou 
raquisquise). Ela afeta a indução dos arcos vertebrais, de 
maneira que são hipoplásicos e não se fundem. 
 N 
N 
N 
 
99 
 
 
Figura 5.19 - Natimorto com anencefalia (cortesia de Nívia 
Lothhammer). 
 
A alfa-fetoproteína é uma glicoproteína sintetizada 
pelo fígado fetal, pelo saco vitelino e pelo intestino. Está 
presente em alta concentração no soro, mas em pequena 
quantidade no líquido amniótico. Em fetos com defeitos 
no fechamento do tubo neural ou da parede abdominal, 
grande quantidade dessa substância escapa da circulação 
para o líquido amniótico, de modo que a sua dosagem no 
líquido amniótico ou no soro materno pode ser utilizada 
para o diagnóstico pré-natal. 
 
Estudos epidemiológicos constataram uma alta 
correlação entre a deficiênciaem ácido fólico e a 
incidência de anencefalia e outros defeitos no 
fechamento do tubo neural. O ácido fólico é uma 
vitamina hidrossolúvel do complexo B, necessário para a 
síntese de ácidos nucleicos e proteínas. É encontrado em 
vegetais, principalmente aqueles com folhas verdes 
escuras, frutas e cereais. Entretanto é recomendada a 
suplementação para mulheres em idade reprodutiva, por 
isso a sua adição a alimentos, como a farinha de trigo e 
seus derivados. Pode ser também administrada em 
comprimidos, um mês antes da concepção até o primeiro 
trimestre de gestação. 
 
Das pregas neurais, no momento em que elas se 
fundem, saem células, que formam as cristas neurais . 
Assim como na transformação de células da linha 
primitiva em células mesenquimais, o fator de 
transcrição snail está envolvido na diferenciação das 
células da crista neural. Essas células migram para 
vários pontos do corpo, originando estruturas 
diferentes, como os gânglios sensitivos e os nervos 
raquidianos do sistema nervoso periférico; as 
meninges do sistema nervoso central; os melanócitos; 
a medula da adrenal, e os músculos e os ossos da 
cabeça. 
 
A placa precordal é uma fonte de sinais importantes 
para a sobrevivência de células da crista neural que 
emigram da região cranial do tubo neural. 
 
A notocorda também é um agente indutor da 
coluna vertebral a partir do mesoderma vizinho. Ela 
desaparece durante o período fetal, mas persiste entre 
as vértebras como núcleo pulposo dos discos 
intervertebrais. Mais tarde, na infância, esse núcleo 
pulposo é substituído. 
 
3.3  Diferenciação do mesoderma 
 
O mesoderma diferencia-se em: paraxial (ao lado 
do eixo do embrião, ou seja, do tubo neural e da 
notocorda), intermediário e lateral (Figura 5.20). 
O mesoderma paraxial parece uma faixa 
homogênea de células, mas o exame de 
eletromicrografias de varredura com técnicas 
estereoscópicas 3-D revelou uma série de pares 
regulares de segmentos, os somitômeros. Quando 20 
somitômeros estão estabelecidos, o aumento da 
adesão entre as células do oitavo par em diante 
gera blocos denominados somitos (Figuras 5.17, 
5.18 e 5.21). Em embriões humanos, os somitos 
são formados do 20º ao 30º dia de gestação, cerca 
de três por dia. 
 
 
100 
 
Ao contrário dos somitômeros, que só foram 
identificados em 1979, os somitos são conhecidos desde 
o século XVI. 
 
Por possuírem propriedades celulares e 
moleculares diferentes do restante do mesoderma 
paraxial, os sete primeiros pares de somitômeros não 
se segmentam e derivarão os músculos da face e da 
mastigação. 
Os somitos regionalizam-se em: esclerótomo 
(ventral) e dermomiótomo (dorsal) (Figura 5.22). 
As células do esclerótomo diferenciam-se pela 
indução da notocorda e da parede ventral do tubo 
neural. Elas perdem as moléculas de adesão celular N-
caderinas e a lâmina basal. Secretam proteoglicanas 
com sulfato de condroitina e outros componentes da 
matriz cartilaginosa. Migram e envolvem a notocorda 
e o tubo neural para constituir as vértebras, as 
costelas, o esterno e a base do crânio, o osso occipital. 
O dermomiótomo separa-se em duas camadas: a 
dorsal é o dermátomo, responsável pela derme do 
dorso do corpo, e a ventral é o miótomo, cujas células 
originam a musculatura do dorso do tronco e dos 
membros. 
 
Acompanhando o crescimento do embrião, o 
mesoderma paraxial alonga-se caudalmente, sendo que a 
proliferação das células mesenquimais é estimulada pelo 
FGF-8. A segmentação ocorre no sentido anteroposterior 
e está relacionada com a regressão da linha primitiva. 
Novos pares de somitômeros surgem próximo ao nó 
primitivo à medida que ele regride. Uma vez completada 
a regressão do nó primitivo, nenhum outro somitômero 
se forma. Em dada posição, as células mesenquimais são 
expostas a uma concentração equilibrada de FGF-8 e de 
ácido retinoico que faz com que elas formem os somitos. 
O futuro somito expressa o fator de transcrição Mesp-2. 
Permanece uma distância constante entre o último par de 
somitos gerados e o último par de somitômeros: por um 
período, o número de somitômeros caudais ao último 
somito é de 10 ou 11. 
A via Notch estimula a expressão de lunatic fringe, 
que se torna concentrado na futura borda anterior do 
somito, e c-hairy, na futura borda posterior. As células 
na borda posterior do somito expressam efrina B, mas as 
células na borda anterior expressam o receptor para 
efrina EphA. Então as células dos dois somitos 
adjacentes não se misturam, e uma fissura abre-se entre 
os dois somitos. A ação de Wnt-6 do ectoderma 
suprajacente estimula a expressão do fator de transcrição 
paraxis no somito recém-criado. A sua atividade e a 
supressão de snail resultam na transformação das células 
mesenquimais em um fenótipo epitelioide. 
Shh e noguina, provenientes da notocorda e da 
parede ventral do tubo neural, estimulam a expressão de 
Pax-1 e Pax-9 na metade ventral do somito 
(esclerótomo). Isso provoca intensa atividade mitótica, a 
perda de N-caderinas, a desintegração da lâmina basal e 
o retorno das células à morfologia mesenquimal. Essas 
células migram, envolvendo a notocorda e secretam 
sulfato de condroitina e outros componentes da matriz 
cartilaginosa. 
Sob a influência de produtos secretados dos genes 
Wnt presentes na parede dorsal do tubo neural e no 
ectoderma superficial, a metade dorsal do somito 
transforma-se no dermomiótomo e expressa Pax-3, Pax-7 
e paraxis. Células mesenquimais surgem da região 
ventral do dermomiótomo, formando uma camada 
separada, o miótomo, enquanto a camada dorsal é o 
dermátomo. 
Além da sinalização Wnt, Shh proveniente da 
notocorda torna as células do miótomo comprometidas 
com a linhagem miogênica. A inibição da BMP-4 pela 
noguina faz com que as células da região dorsomedial do 
miótomo expressem moléculas reguladoras da 
miogênese, como MyoD, Myf-5, Mef-2 e desmina. Essas 
células derivarão a musculatura do dorso (epaxial). 
Antes mesmo do miótomo se destacar, sob a 
influência de BMP-4 produzido pelo mesoderma lateral 
somático, a expressão de fatores miogênicos na região 
ventrolateral do dermomiótomo é suprimida, e essas 
células continuam a expressar Pax-3. Elas também 
produzem o receptor c-met. O fator de crescimento 
scatter factor, secretado nos brotos dos membros, liga-se 
ao receptor c-met. Isso estimula a migração de 30 a 100 
dessas células por somito para os brotos dos membros. 
Enquanto migram, as células expressam N-caderina e 
continuam a expressar Pax-3. 
Sinais FGF do miótomo em desenvolvimento 
induzem células localizadas na borda lateral do 
esclerótomo a produzir o fator de transcrição scleraxis. 
Essas células formam uma estreita camada denominada 
syndetome e são os precursores dos tendões que 
 
101 
 
conectam os músculos epaxiais ao esqueleto. 
Quase todos os componentes dos somitos são 
capazes de dar surgimento a vasos sanguíneos que 
nutrem as estruturas provenientes do mesoderma 
paraxial. 
As características dos derivados do mesoderma 
paraxial são especificadas pelo padrão de expressão do 
gene Hox (os produtos proteicos dos genes homeobox 
ligam-se ao DNA e formam fatores de transcrição que 
regulam a expressão gênica), primeiro no epiblasto e 
depois no próprio mesoderma. 
 
No mesoderma intermediário, são encontrados os 
túbulos nefrogênicos, precursores do sistema urinário 
e do sistema reprodutor (Figura 5.22). 
 
O mesoderma intermediário parece surgir induzido 
pela BMP do ectoderma e pela ativina e outros sinais do 
mesoderma paraxial. A resposta a esses sinais é aexpressão de Pax-2. A extensão cranial e caudal do 
mesoderma intermediário é definida pela expressão de 
membros do Hox-4 cranialmente e Hox-11 caudalmente. 
 
O mesoderma lateral delamina-se em somático 
(ou parietal) e esplâncnico (ou visceral) (Figuras 5.20 
e 5.22). 
O mesoderma lateral somático é adjacente ao 
ectoderma e é contínuo com o mesoderma 
extraembrionário somático (Figuras 5.20). Originará o 
tecido conjuntivo (inclusive os tipos especiais, como 
cartilagem, osso e sangue) dos membros e das paredes 
laterais e ventral do corpo. 
O mesoderma lateral esplâncnico é vizinho ao 
endoderma e continua-se com o mesoderma 
extraembrionário esplâncnico (Figuras 5.20). Derivará 
o conjuntivo e os músculos do sistema cardiovascular, 
do sistema respiratório e do sistema digestório. 
O espaço entre o mesoderma lateral somático e o 
esplâncnico é o celoma, que, neste momento, é 
contínuo com o celoma extraembrionário (Figura 
5.20). Com o posterior fechamento do embrião em 
disco para uma forma tubular, o celoma 
intraembrionário dará as futuras cavidades corporais: 
a cavidade pericárdica, a cavidade pleural e a cavidade 
peritoneal. 
 
 
Figura 5.20 - Corte transversal de embrião de galinha no 
estágio tridérmico, onde há a diferenciação do mesoderma 
em paraxial (P), intermediário (I) e lateral (L). Note a 
delaminação do mesoderma lateral em somático (S) e 
esplâncnico (E). 
 
 
Figura 5.21 - Corte longitudinal de parte do embrião de 
galinha, onde é possível identificar os somitos ao lado do 
tubo neural. 
 
O mesoderma lateral é induzido pela BMP-4 do 
ectoderma suprajacente, depois ele próprio passa a 
produzir BMP-4. O mesoderma lateral esplâncnico é 
especificado pelo fator de transcrição Foxf-1. 
 
P I 
LS 
LE 
 
102 
 
 
Figura 5.22 - Embrião de galinha, onde os somitos 
diferenciaram-se em dermomiótomo (DM) e esclerótomo 
(E). Túbulos nefrogênicos são reconhecidos no mesoderma 
intermediário (MI). O mesoderma lateral somático (MS) 
origina o tecido conjuntivo dos membros. Vasos sanguíneos 
são observados no mesoderma lateral esplâncnico (ME). 
Acima do ectoderma (EC), visualiza-se o saco amniótico, 
constituído por duas camadas: o âmnio (ou ectoderma 
extraembrionário) e o mesoderma extraembrionário 
somático. Subjacente ao tubo neural, há a notocorda (N). 
São ainda indicados o endoderma (EN) e a aorta dorsal 
(AD). 
 
 
Semelhante ao que ocorre no mesoderma 
extraembrionário, vasos sanguíneos formam-se no 
mesoderma do embrião a partir de agrupamentos 
angiogênicos, cujas células centrais se tornam as 
células sanguíneas primitivas, e as células periféricas, 
o endotélio. Os agrupamentos confluem e são 
canalizados por fendas intercelulares. 
 
4  QUARTA A OITAVA SEMANAS 
 
4.1  Dobramento do embrião 
 
Na quarta semana, o embrião dobra-se nos planos 
longitudinal e transversal, tornando-se curvado e 
tubular, com o ectoderma revestindo a superfície 
externa, e o endoderma, a superfície interna. 
O dobramento no plano longitudinal do corpo faz 
com que a porção mais cranial do tubo neural projete-
se para frente e para baixo, ultrapassando a membrana 
bucofaríngea e a área cardiogênica. Assim, o encéfalo 
será a estrutura mais cranial do embrião, e as áreas 
que originarão a boca e o coração são trazidas 
ventralmente, passando a ocupar a posição que 
possuem no adulto. 
Com o dobramento, parte do saco vitelino fica 
incluída na porção anterior do embrião e origina o 
intestino anterior, e parte do saco vitelino fica retida 
na porção caudal, constituindo o intestino posterior. 
Entretanto o intestino médio fica ainda aberto, 
fazendo contato com o resto do saco vitelino. 
O dobramento do embrião é acompanhado pela 
expansão do saco amniótico, que passa a envolver 
todo o embrião, como um balão. 
A expansão do saco amniótico contribui para que 
as extremidades dos folhetos embrionários fusionem-
se na linha média, o que encerra mais uma parte do 
saco vitelino, formando o intestino médio. O restante 
do saco vitelino atrofia e é incorporado ao pedúnculo 
do embrião, o qual será o cordão umbilical. 
 
4.2  Organogênese 
 
103 
 
Entre a quarta e a oitava semanas, a maioria dos 
órgãos se estabelece. 
 
Cabeça e pescoço: 
 
Na quarta semana, a faringe primitiva é delimitada 
pelo aparelho branquial (ou faríngeo), o conjunto dos 
arcos branquiais, sulcos (ou fendas) branquiais (entre 
os arcos externamente) e bolsas faríngeas (entre os 
arcos, internamente) (Figuras 5.23, 5.24 e 5.25). 
Nos peixes e nas larvas de anfíbios, há seis pares 
de arcos branquiais, que dão origem às guelras ou 
brânquias (do grego branchia, que significa guelra), 
envolvidas nas trocas gasosas entre o sangue e a água. 
No embrião de aves e de mamíferos, há cinco 
pares de arcos branquiais (o quinto par dos 
vertebrados primitivos não se forma). No humano, o 
sexto par é maldefinido morfologicamente. Os sulcos 
e as bolsas sucedem-se aos arcos, mas não ocorrem 
após o sexto par de arcos branquiais (Figuras 5.23 e 
5.24). Ao invés de um sistema de guelras, o aparelho 
branquial origina as estruturas da cabeça e do 
pescoço. 
Os arcos branquiais são revestidos externamente 
pelo ectoderma e internamente pelo endoderma e 
possuem um centro de mesênquima, que é derivado 
do mesoderma paraxial e das cristas neurais. Cada 
arco contém um eixo cartilaginoso, um componente 
muscular, um nervo associado e uma artéria, 
denominada arco aórtico (Figuras 5.23 e 5.25). 
 
 
Figura 5.23 - Esquema do aparelho branquial. Em mamíferos, há cinco pares de arcos branquiais, sendo o quinto ausente e 
o sexto rudimentar. Eles são revestidos externamente pelo ectoderma e internamente pelo endoderma e são preenchidos pelo 
mesênquima, onde há um componente cartilaginoso e outro muscular, uma artéria e um nervo. Entre os arcos, há 
externamente os sulcos branquiais ( ) e internamente as bolsas faríngeas ( ). 
 
 A padronização do aparelho branquial é 
determinada pelo endoderma faríngeo, pelo ectoderma 
cranial e pelas cristas neurais que constituem o 
mesênquima dos arcos branquiais. 
Os sinais do endoderma faríngeo padronizam os 
arcos branquiais antes mesmo das cristas neurais 
entrarem. A expressão de Tbx-1 no endoderma faríngeo 
inicial influencia a sinalização de FGF-8. Na ausência 
 
104 
 
deste, as bolsas faríngeas não se estabelecem 
normalmente, levando a malformações relacionadas. O 
FGF-8 determina o ectoderma dos arcos, os quais, por 
sua vez, emitem sinais que influenciam a diferenciação 
das células da crista neural em seus derivados. 
A padronização do endoderma faríngeo é baseada na 
exposição ao ácido retinoico: a formação do primeiro par 
de bolsas faríngeas não requer ácido retinoico, mas a 
formação do segundo par precisa de alguma exposição e 
a do terceiro e do quarto par, de muita exposição. Sob a 
influência de diferentes concentrações de ácido retinoico, 
combinações dos genes Hox determinam a identidade 
craniocaudal dos arcos branquiais. 
 As células da crista neural que ocupam o 
mesênquima do primeiro par de arcos branquiais são 
provenientes de uma região do tubo neural anterior à 
expressão dos genes Hox e também não os expressam. A 
ausência de Hox associada à presença de Otx-2 é a base 
molecular para o desenvolvimento desse par de arcos 
branquiais. Hoxb-2, Hoxb-3 e Hoxb-4 são expressos em 
uma sequência regular no tubo neural e no mesênquima 
derivado das cristas neurais do segundo, terceiro e quarto 
pares de arcos branquiais. Somente depois dos arcos 
branquiais serem preenchidos com a crista neural,o 
ectoderma dos arcos expressa um padrão similar dos 
produtos dos genes Hoxb. 
 
O primeiro par de arcos branquiais (também 
denominado arcos mandibulares), graças à migração 
das células da crista neural, forma os processos 
mandibulares e, da sua porção dorsal, crescendo em 
sentido cranial, os processos maxilares (Figura 5.24). 
A cartilagem do processo mandibular (cartilagem 
de Meckel) é o molde da mandíbula até ocorrer a sua 
ossificação do mesênquima ao redor (ossificação 
intramembranosa). O posterior crescimento da 
mandíbula, que ocorre até os 10 anos, é em virtude da 
ossificação endocondral a partir de um centro de 
cartilagem estabelecido no mesênquima do côndilo 
mandibular, no quinto mês. 
Nas extremidades dorsais da cartilagem de Meckel 
(portanto, por ossificação endocondral), forma-se o 
ossículo da orelha média martelo. A porção 
intermediária da cartilagem de Meckel regride, e seu 
pericôndrio resulta nos ligamentos anterior do martelo 
e esfenomandibular. 
 
Figura 5.24 - Embrião de codorna (72h de incubação): 
notar os arcos branquiais (numerados) e os sulcos 
branquiais entre eles. O primeiro par de arcos branquiais 
forma os processos mandibulares e, da sua porção dorsal, 
em sentido cranial, os processos maxilares ( ) (cortesia 
de Nívia Lothhammer). 
 
A maxila, os ossos zigomáticos da face e a parte 
escamosa dos ossos temporais desenvolvem-se do 
mesênquima dos processos maxilares. O esfenoide 
(um pequeno osso localizado na parede orbital) e a 
bigorna ossificam-se das extremidades dorsais da sua 
cartilagem. 
 
A padronização dorsoventral de cada arco branquial 
envolve os genes Dlx e a endotelina (End-1). Dlx-1 e 
Dlx-2 são expressos dorsalmente; Dlx-5 e Dlx-6 em 
posição intermediária, e Dlx-3 e Dlx-7 (Dlx-4), mais 
ventralmente. A End-1 é secretada pelo ectoderma dos 
 
105 
 
arcos e combina-se com o seu receptor Ednr nas células 
da crista neural em migração. 
No primeiro arco branquial, a End-1 é expressa na 
extremidade ventral, onde reprime a expressão local de 
genes como Dlx-1 e Dlx-2, envolvidos na formação da 
maxila, e promove a expressão de Dlx-5 e Dlx-6, que 
determinam a mandíbula. Em nível dorsoventral 
intermediário dentro do primeiro arco, a End-1 estimula 
a expressão de Barx-1, levando ao estabelecimento da 
articulação mandibular. Na parte dorsal, a sua influência 
é reduzida, e os genes Dlx-1 e Dlx-2 ativos conduzem à 
formação da maxila e dos ossos da orelha média. 
 
 
Figura 5.25 - Corte de embrião de galinha, onde é visível o 
aparelho branquial (A – arco branquial) nas paredes laterais 
da faringe (F). O arco aórtico é apontado. 
O outro ossículo da orelha média, o estribo, e o 
processo estiloide do osso temporal ossificam-se das 
extremidades dorsais da cartilagem do segundo par de 
arcos branquiais. Da porção ventral dessa cartilagem, 
formam-se o corno menor e a parte superior do osso 
hioide (por isso, esses arcos são também denominados 
arcos hióideos). A cartilagem entre o processo 
estiloide e o osso hioide regride, e o pericôndrio forma 
o ligamento estilo-hióideo. 
O corno maior e a parte inferior do osso hioide são 
da cartilagem do terceiro par de arcos. 
Do quarto e sexto pares de arcos, originam-se as 
cartilagens da laringe: a epiglote e as cartilagens 
tireoide, aritenoides, cricoide, cuneiforme e 
corniculata. 
A epiglote é derivada da eminência hipobranquial, 
uma região resultante da proliferação do mesênquima 
do terceiro e do quarto pares de arcos branquiais. A 
porção originada do quarto par de arcos branquiais é 
responsável pela epiglote, enquanto aquela do terceiro 
par resulta na parte faríngea da língua. 
As demais cartilagens da laringe surgem dos 
moldes cartilaginosos dos arcos branquiais. Diferente 
da cartilagem dos arcos anteriores, que se 
desenvolvem da crista neural, esses moldes são 
formados a partir do mesoderma lateral esplâncnico. 
Esse folheto deriva ainda o endotélio e o músculo liso. 
O componente muscular dos arcos branquiais é 
proveniente dos sete pares de somitômeros e dos 
primeiros somitos. O tecido muscular do primeiro par 
de arcos branquiais origina, entre outros, os músculos 
da mastigação e o tensor do tímpano; o do segundo 
par, os músculos da expressão facial; o do terceiro 
par, o estilofaríngeo, e os do quarto e sexto arcos, os 
músculos da faringe e os da laringe (Quadro 6.1). 
Os nervos que estão nos arcos branquiais provêm 
do encéfalo e inervam a pele, a mucosa e os músculos 
derivados dos arcos. São eles: o V nervo craniano 
(trigêmeo) no primeiro par de arcos; o VII nervo 
craniano (nervo facial) no segundo arco; o IX nervo 
craniano (nervo glossofaríngeo) no terceiro arco, e o 
X nervo craniano (nervo vago) nos demais arcos. 
 
106 
 
Cada arco branquial contém uma artéria, o arco 
aórtico, que se estende da aorta ventral para a aorta 
dorsal. Seus derivados são citados no Quadro 6.1. 
O primeiro par de sulcos branquiais invagina-se, 
formando os meatos acústicos externos. Os demais 
sulcos são obliterados pelo crescimento do segundo 
par de arcos branquiais sobre eles. Assim, o pescoço 
adquire um aspecto liso e é revestido por epiderme 
proveniente apenas do segundo par de arcos. 
 
O aumento do segundo par de arcos branquiais sobre 
os sulcos é causado pela presença de um centro de 
sinalização no ectoderma, que produz shh, FGF-8 e 
BMP-7, os quais estimulam a proliferação celular no 
mesênquima subjacente. Esse centro não existe em 
outros arcos. 
 
O espaço temporário criado entre as fendas 
branquiais pela sobreposição do segundo par de arcos é 
chamado seio cervical. A sua persistência é um evento 
raro. Devido ao acúmulo de líquido e fragmentos 
celulares, cistos podem ser produzidos. Pelo lento 
aumento no seu volume, os cistos cervicais geralmente 
são percebidos após o final da infância. Pode ocorrer 
também a abertura do seio cervical na superfície do 
pescoço (fístula cervical externa) ou na faringe (fístula 
cervical interna), com liberação de muco. 
 
O primeiro par de bolsas faríngeas aprofunda-se e 
origina as tubas auditivas e as cavidades timpânicas. 
A membrana timpânica é derivada da camada de 
endoderma da bolsa faríngea e de ectoderma do sulco 
branquial, com o mesênquima interposto. 
 O endoderma do segundo par de bolsas faríngeas 
deriva o epitélio das tonsilas palatinas, enquanto o 
mesoderma diferencia-se no tecido linfoide. 
A parte dorsal das terceiras bolsas faríngeas 
origina as glândulas paratireoides inferiores, e a parte 
ventral, o timo, sendo que, neste último, as células 
reticulares epiteliais surgem do endoderma, e o tecido 
linfoide e a cápsula formam-se do mesênquima. 
As paratireoides e o timo migram. As 
paratireoides inferiores passam a se situar dorsalmente 
à tireoide, e o timo, no mediastino anterior do tórax, 
atrás da parte superior do esterno. Durante o 
desenvolvimento fetal, linfócitos imaturos migram da 
medula óssea para o timo, onde sofrem maturação nos 
linfócitos T. 
 
O endoderma do terceiro par de bolsas faríngeas 
diferencia-se na paratireoide ou no timo por influência 
do shh e da BMP-4, respectivamente. As células da 
paratireoide expressam o fator de transcrição Gcm-2 
(Glial cells missing), enquanto as do timo, Foxn-1. 
 
A parte dorsal das quartas bolsas faríngeas deriva 
as glândulas paratireoides superiores, e a parte ventral, 
as células parafoliculares (ou células C) da glândula 
tireoide, que produzem calcitonina. Essas células se 
diferenciam da crista neural. As glândulas 
paratireoides superiores localizam-se na parte dorsal 
da tireoide, em posição

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