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CURSO ON-LINE – ADM PÚBLICA EM EXERCÍCIOS – AFRFB E AFT PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 1 Aula Extra Olá, Pessoal! Foi publicado o edital para o concurso do ISS-SP e o conteúdo de Administração Pública é quase o mesmo do edital de AFRFB/AFT. Foram apenas acrescentados dois itens: 9. Convergências e diferenças entre a gestão pública e a gestão privada. 12. Comunicação na gestão pública e gestão de redes organizacionais. A banca será a FCC. Por isso estou acrescentando esta aula extra, no formato de curso teórico, pois aqueles que fizeram meus cursos de AFRFB/AFT não viram esses itens. Boa aula! Sumário 1 GESTÃO PÚBLICA X GESTÃO PRIVADA ................................................................. 2 1.1 CONCEITOS BÁSICOS ........................................................................................... 2 1.2 PROCESSO ORGANIZACIONAL .................................................................................. 4 1.3 PÚBLICO X PRIVADO .......................................................................................... 14 1.4 PARADIGMA DO CLIENTE NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ................................................... 20 1.5 PRINCÍPIOS ADMINISTRATIVOS .............................................................................. 23 2 COMUNICAÇÃO NA GESTÃO PÚBLICA ................................................................. 31 2.1 COMUNICAÇÃO NAS ORGANIZAÇÕES ........................................................................ 35 3 GESTÃO DE REDES ORGANIZACIONAIS ............................................................. 39 3.1 ORGANIZAÇÕES EM REDE .................................................................................... 41 3.2 REDES DE POLÍTICAS PÚBLICAS ............................................................................. 44 4 QUESTÕES COMENTADAS ................................................................................... 47 4.1 GESTÃO PÚBLICA X GESTÃO PRIVADA ...................................................................... 47 4.2 COMUNICAÇÃO NA GESTÃO PÚBLICA ........................................................................ 55 4.3 GESTÃO DE REDES ORGANIZACIONAIS ..................................................................... 64 4.4 LISTA DAS QUESTÕES ........................................................................................ 70 4.5 GABARITO ...................................................................................................... 80 CURSO ON-LINE – ADM PÚBLICA EM EXERCÍCIOS – AFRFB E AFT PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 2 1 Gestão Pública X Gestão Privada Quando falamos das semelhanças e diferenças entre a gestão pública e a gestão privada, podemos citar inúmeras características que aproximam ou distanciam estes dois tipos de gestão. As questões, então, abordam uma gama enorme de aspectos. Vamos começar com os conceitos básicos. 1.1 CONCEITOS BÁSICOS Vamos ver algumas definições de Administração. Richard Daft: O alcance das metas organizacionais de maneira eficaz e eficiente por meio de planejamento, organização, liderança e controle dos recursos organizacionais. Antonio Maximiano: É o processo de tomar decisões sobre objetivos e utilização de recursos. O processo administrativo abrange cinco tipos principais de decisões, também chamadas de processos ou funções: planejamento, organização, liderança, execução e controle. Chiavenato: Administração é o processo de planejar, organizar, dirigir e controlar o uso de recursos a fim de alcançar objetivos. A tarefa básica da Administração é a de fazer as coisas por meio de pessoas de maneira eficiente e eficaz. James Stoner: A Administração é o processo de planejar, organizar, liderar e controlar os esforços realizados pelos membros da organização e o uso de todos os outros recursos organizacionais para alcançar os objetivos estabelecidos. Podemos notar algumas coisas em comum nessas definições. Elas mencionam recursos e objetivos, os processos organizacionais, pessoas e eficiência e eficácia. Podemos representá-los assim: Objetivos Recursos Pessoas Informação e conhecimento Dinheiro Instalações Decisões Planejamento Organização Direção Controle CURSO ON-LINE – ADM PÚBLICA EM EXERCÍCIOS – AFRFB E AFT PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 3 a) Organização O conceito de administração está diretamente relacionado com o de organização: Amitai Etzioni: Unidades socialmente construídas para atingir fins específicos. Richard Daft: Organização é uma entidade social dirigida a metas e deliberadamente estruturada. Entidade social significa ser composta de duas ou mais pessoas. Dirigida a metas significa ser feita para alcançar algum resultado, como obter lucro, ganhar aumento de salário para seus membros, satisfazer as necessidades espirituais ou proporcionar satisfação social. Deliberadamente estruturada significa que as tarefas são divididas e a responsabilidade pelo seu desempenho é atribuída aos membros da organização. Stephen Robbins: A organização é uma unidade social, coordenada conscientemente, composta de uma ou mais pessoas e que funciona numa base relativamente contínua para atingir objetivos”. Antonio Maximiano: Uma organização é um sistema de recursos que procura realizar algum tipo de objetivo (ou conjunto de objetivos). Chester Barnard: A existência de uma organização formal se dá quando (1) há pessoas aptas a se comunicarem entre si; (2) que estão desejando contribuir com sua ação e, (3) para a realização de um propósito comum. Podemos perceber que todas essas definições dizem praticamente a mesma coisa. Temos alguns elementos essenciais nelas: relação social e objetivos. É uma relação social porque é preciso mais de uma pessoa, é preciso algum tipo de interação. E nessa relação, é preciso que existam objetivos comuns, as pessoas se unem para alcançar alguma meta compartilhada. Alguns autores vão além desses dois elementos essenciais e agregam outras questões ao conceito, como Daft, que fala em “deliberadamente estruturada”. Maximiano afirma que, “além de objetivos e recursos, as organizações têm dois outros componentes importantes: processos de transformação e divisão do trabalho”. Objetivos são os resultados que a organização espera alcançar. Recursos são pessoas, instalações físicas, computadores, capital, máquinas, enfim, aquilo de que a organização dispõe para alcançar os objetivos. Processos de transformação são sequências de ações ou eventos que levam a um determinado fim, resultado ou objetivo. Em uma organização, temos processos de trabalho, que são “conjuntos de atividades inter- CURSO ON-LINE – ADM PÚBLICA EM EXERCÍCIOS – AFRFB E AFT PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 4 relacionadas que transformam insumos (entradas) em produtos (saídas)”, temos processos de produção, processos de gestão de pessoas (tais como seleção e recrutamento, desenvolvimento, remunerações e recompensas) e por aí vai. A divisão do trabalho se relaciona com a ideia de especialização. Para que uma organização de grande porte alcance seus objetivos, é necessário que sejam realizadas centenas de atividades diferentes, e uma das maneiras de racionalizar esta realização é por meio da especialização. Diferentes pessoas, áreas ou grupos da organização irão realizar diferentes tipos de tarefas. 1.2 PROCESSO ORGANIZACIONAL Henry Fayol foi um dos primeiros autores a elencar as funções administrativas: Planejamento: tentativa de se avaliar o futuro por meio de um plano e fazer provisões para realizar este plano; Organização: mobilizaçãodos recursos humanos e materiais para transformar o plano em ação; Comando: estabelecimento de orientações para os empregados e obtenção das coisas feitas; Coordenação: obtenção da unificação e harmonia de todas as atividades e esforços; Controle: verificação de que as coisas aconteçam em conformidade com as regras estabelecidas e expressas pelo comando. Luther Gullik, um dos seguidores de Fayol, ampliou os elementos da administração e criou o POSDCORB, que é formado pelas palavras: Planning – planejamento; Organizing – organização; Staffing – assessoria; Directing – direção; Coordinating – coordenação; Reporting – informação; Budgeting – orçamento. CURSO ON-LINE – ADM PÚBLICA EM EXERCÍCIOS – AFRFB E AFT PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 5 Maximiano segue Fayol e também cita essas cinco funções, só altera comando para liderança e coordenação por execução. Chiavenatto fala em quatro funções: planejamento, organização, direção e controle. 1.2.a.1 Planejamento Segundo Maximiano, “o processo de planejamento é a ferramenta para administrar as relações com o futuro. As decisões que procuram, de alguma forma, influenciar o futuro, ou que serão colocadas em prática no futuro, são decisões de planejamento”. Segundo o princípio da precedência do planejamento, esta função administrativa vem antes das outras. Na realidade, é difícil separar e sequenciar as funções administrativas, mas pode-se considerar que, de maneira geral, o planejamento aparece na ponta do processo. Como consequência, ele assume uma situação de maior importância no processo administrativo. Sem o planejamento não há base para a organização e controle. O planejamento é o alicerce sobre o qual operam as demais funções administrativas. Existem três tipos de planejamento: Estratégico, Tático e Operacional. A diferença entre eles se refere ao nível hierárquico em que são elaborados, a abrangência em relação às unidades e o período para o qual se referem, como está resumido na tabela a seguir: Estratégico Tático Operacional Prazo Longo Médio Curto Amplitude Toda a organização Determinado Setor Determinada Atividade Nível Hierárquico Alta Cúpula Gerências Setoriais Operacional Riscos Maiores Intermediários Menores Aqui podemos identificar algumas das características que diferenciam o planejamento estratégico do tático e do operacional: É responsabilidade da cúpula da organização; Envolve a organização como um todo; Planejamento de longo prazo. CURSO ON-LINE – ADM PÚBLICA EM EXERCÍCIOS – AFRFB E AFT PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 6 Já o Planejamento Tático será uma setorização do planejamento estratégico. Se este envolvia a organização como um todo, aquele vai fazer um planejamento para um setor da organização. Ele trabalha com decomposições dos objetivos, estratégias e políticas estabelecidos no planejamento estratégico. Ele é desenvolvido em níveis organizacionais intermediários, como as gerências de recursos humanos, de marketing, financeira, etc., tendo como principal função a utilização eficiente dos recursos disponíveis para a consecução de objetivos previamente fixados. O planejamento tático tipicamente tem um horizonte de tempo mais curto do que o planejamento estratégico. Segundo Chiavenatto, “os planos táticos referem-se a cada departamento ou unidade da organização e seu foco é no médio prazo, isto é, no exercício anual”. O Planejamento Operacional é o desdobramento do planejamento tático. Pode ser considerado como a formalização, principalmente através de documentos escritos, das metodologias de desenvolvimento e implantação estabelecidos. É neste nível que são estabelecidos os objetivos e estratégias operacionais, que definem as ações específicas que permitem realizar os objetivos dos níveis anteriores. São planos desenvolvidos nos níveis mais baixos da organização para especificar as etapas de ação para realização das metas operacionais e para sustentar os planos táticos. O planejamento operacional é a ferramenta do gerente de departamento para as operações diárias e semanais. Seu horizonte de tempo é o curto prazo. 1.2.a.2 Organização A segunda função administrativa elencada por Fayol é Organização. Segundo Maximiano: “organizar é o processo de dispor de qualquer conjunto de recursos em uma estrutura que facilite a realização dos planos”. É praticamente a mesma definição de Daft: “disposição de recursos organizacionais para alcançar as metas estratégicas. A organização está relacionada ao desenho da estrutura organizacional. A disposição dos recursos é refletida na divisão de mão-de-obra da organização em departamentos específicos e empregos, linhas formais de autoridade e mecanismos para coordenar as tarefas organizacionais diversas. CURSO ON-LINE – ADM PÚBLICA EM EXERCÍCIOS – AFRFB E AFT PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 7 1.2.a.3 Direção Vimos que Fayol falava em comando, enquanto Maximiano usou liderança. Portanto, os diversos autores dão nomes diferentes, mas que na realidade é a mesma coisa. Chiavenatto conceitua direção como “a função administrativa que se refere ao relacionamento interpessoal do administrador com seus subordinados. Para que o planejamento e organização possam ser eficazes, eles precisam ser complementados pela orientação e apoio às pessoas, através de uma adequada comunicação, liderança e motivação”. Para McGregor, “toda decisão administrativa tem consequências sobre o comportamento dos indivíduos. A administração bem-sucedida depende – não só, mas bastante – da capacidade para predizer e controlar o comportamento humano”. O autor diferenciou dois estilos extremos de direção: a Teoria X e a Teoria Y. A Teoria X é uma teoria tradicional, mecanicista e pragmática, segundo a qual: O ser humano médio tem um desgaste inerente pelo trabalho e o evitará, se possível; Por causa da característica humana de desgosto pelo trabalho, a maioria das pessoas precisa ser coagida, controlada, dirigida ou ameaçada com punição para que se esforcem para o alcance dos objetivos organizacionais; O ser humano médio prefere ser controlado, deseja evitar a responsabilidade, tem relativamente pouca ambição e quer, acima de tudo, segurança. McGregor propôs a Teoria Y como uma nova visão mais realista dos trabalhadores para direcionar o pensamento administrativo. Segundo esta teoria: O desgaste de esforço físico e mental é tão natural quanto brinca ou descansar. O desgosto pelo trabalho não é uma coisa inerente do ser humano médio; O controle externo e a ameaça de punição não são os únicos meios de realizar os esforços para atingir os objetivos organizacionais. Uma pessoa exercerá autodireção e autocontrole a serviço dos objetivos com os quais ela está comprometida; CURSO ON-LINE – ADM PÚBLICA EM EXERCÍCIOS – AFRFB E AFT PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 8 O ser humano médio aprende, sob condições adequadas, não apenas a aceitar, mas a buscar responsabilidade; A capacidade de exercitar um grau relativamente alto de imaginação, engenhosidade e criatividade na solução de problemas organizacionais é largamente, não estreitamente, distribuída na população; Sob condições da vida industrial moderna, as potencialidades intelectuais do ser humano médio são apenas parcialmente usadas. Com base nestas suposições, são defendidas medidas como: descentralização e delegação, diminuindo o controle excessivo e transferindo responsabilidades; ampliação do cargo e maior significação do trabalho, encorajando a inovação e a aceitação de responsabilidades; participaçãoe administração consultiva, permitindo maior participação nas decisões; auto-avaliação de desempenho, em que os funcionários estabelecem seus “alvos” e “objetivos” e controlam seu desempenho. A liderança é definida como a “habilidade de influenciar pessoas no sentido da realização das metas organizacionais”. 1.2.a.4 Comunicação Um professor em Harvard uma vez pediu à classe que, por meio de desenhos, definisse comunicação. A maioria dos alunos desenhou um gerente falando ou escrevendo. Alguns colocaram balões de fala perto de seus personagens; outros mostraram páginas voando de uma impressora a laser. “Não”, disse o professor, “nenhum de vocês conseguiu captar a essência da comunicação”. Ele continuou a explicar que comunicação significa “compartilhar” – não “falar” ou “escrever”. Richard Daft define comunicação como: Processo pelo qual as informações são transmitidas ou entendidas por duas ou mais pessoas, geralmente com a intenção de motivar ou influenciar o comportamento. O CESPE já apresentou a seguinte definição: “O processo de comunicação é a base do atendimento. A comunicação pode ser definida como o processo de passar informação e compreensão de uma pessoa para outra. Toda comunicação envolve pelo menos duas pessoas: a que envia e a que recebe. Para que haja comunicação utiliza-se um processo que contém no mínimo quatro elementos: CURSO ON-LINE – ADM PÚBLICA EM EXERCÍCIOS – AFRFB E AFT PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 9 emissor ou fonte de comunicação – pessoa que elabora a mensagem, tendo como objetivo atingir o receptor; mensagem – o que se quer transmitir; canal – meio utilizado para transmitir a mensagem; receptor ou destino da mensagem – pessoa para quem é enviada a mensagem”. No entanto, estes quatro componentes não são os únicos no processo de comunicação. O processo de Comunicação ocorre quando o emissor (ou codificador) emite uma mensagem (ou sinal) ao receptor (ou decodificador), através de um canal (ou meio). O receptor interpretará a mensagem que pode ter chegado até ele com algum tipo de barreira (ruído, bloqueio, filtragem) e, a partir daí, dará o feedback ou resposta, completando o processo de comunicação. 1.2.a.5 Controle e Avaliação O controle está ligado à realização dos objetivos. Para alcançá-los, é preciso dispor de informações sobre os próprios objetivos e sobre as atividades que procuram realizá-lo. Controlar é um processo de tomar decisões que tem por finalidade manter um sistema na direção de um objetivo. Para Chiavenatto “representa o acompanhamento, a monitoração e a avaliação do desempenho organizacional para verificar se tudo está acontecendo de acordo com o planejado”. Podemos resumir como “Monitorar as atividades e corrigir os desvios”. Para Richard Daft, controle é “a função administrativa que envolve monitorar as atividades dos funcionários, mantendo a organização no trilho, em direção Às suas metas, e fazer as correções necessárias”. Ainda segundo o autor: Controle organizacional é o processo sistemático pelo qual os gerentes regulam as atividades organizacionais para torná-las consistentes com as expectativas estabelecidas nos planos, metas e padrões de desempenho. Maximiano define controle como: Um processo de tomar decisões que tem por finalidade manter um sistema na direção de um objetivo, com base em informações contínuas sobre as atividades do próprio sistema e sobre o objetivo. O objetivo torna-se o critério ou padrão de avaliação do desempenho do sistema, ou seja, o objetivo torna-se o padrão de controle. Assim, o processo de controle informa: Quais os objetivos devem ser atingidos; CURSO ON-LINE – ADM PÚBLICA EM EXERCÍCIOS – AFRFB E AFT PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 10 O desempenho da organização em comparação com os objetivos; O que deve ser feito para assegurar a realização dos objetivos. Djalma de Oliveira afirma que “controlar é comparar o resultado das ações com padrões previamente estabelecidos, com a finalidade de corrigi-las se necessário”. A comparação é um termo muito importante dentro do conceito de controle. É preciso que haja um padrão a ser seguido para que possa haver controle. b) Eficiência, Eficácia e Efetividade Para Maximiano: Eficácia é a palavra usada para indicar que a organização realiza seus objetivos. Quanto mais alto o grau de realização dos objetivos, mais a organização é eficaz. Eficiência é a palavra usada para indicar que a organização utiliza produtivamente, ou de maneira econômica, seus recursos. Isso significa uma menor quantidade de recursos para produzir mais A eficácia sempre está associada com o alcance de metas, com o alcance de objetivos. Para Richard Daft: A eficácia organizacional é o grau no qual a administração alcança uma meta declarada. Isso significa que a organização tem sucesso em alcançar o que ela tenta fazer. Eficácia organizacional significa proporcionar um produto que os clientes valorizem. Eficiência organizacional se refere à quantidade de recursos usados para alcançar a meta organizacional. Pode ser calculada como a quantia de recursos usados para produzir um produto ou serviço. Essas foram definições mais usadas no setor privado. Vamos ver agora sua aplicação na gestão pública. Segundo o Ministério do Planejamento: Eficiência: uso otimizado, com economia e qualidade, dos bens e recursos empregados na implementação das ações. Eficácia: capacidade de alcance das metas previstas; Efetividade: correspondência entre os resultados da implantação de um programa e o alcance dos seus objetivos, tendo como referência os impactos na sociedade; CURSO ON-LINE – ADM PÚBLICA EM EXERCÍCIOS – AFRFB E AFT PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 11 Assim, podemos dizer que a EFICIÊNCIA é a racionalização no uso dos insumos. A eficiência é alcançada quando os insumos são manipulados de forma adequada para atingir os produtos. A EFICÁCIA consiste no grau de alcance das METAS programadas em um determinado período de tempo, independentemente dos custos implicados. Quanto mais alto o grau de realização dos objetivos e metas, mais a organização é eficaz. A EFETIVIDADE observa se houve algum IMPACTO resultante da ação governamental. Não basta chegar ao produto, alcançando as metas, é preciso que ele produza alguma alteração na sociedade. Podemos observar melhor estas dimensões no quadro abaixo: Além desses três conceitos, outro que também é importante é o de economicidade, que está relacionada com os custos dos insumos. Quando avaliamos o desempenho em termos de economicidade, queremos saber o preço dos insumos usados na produção. A economicidade é a minimização dos custos dos recursos utilizados na consecução de uma atividade, sem comprometimento dos padrões de qualidade. Refere-se à capacidade de uma instituição gerir adequadamente os recursos financeiros colocados à sua disposição. No entanto, em vários momentos vemos a economicidade dentro da eficiência. Nos concursos, quando eles falam em custos estão se referindo à eficiência. Esta envolveria otimizar a produção quanto reduzir o custo dos insumos. Assim, a eficiência observa a relação entre PRODUTOS (bens e serviços) gerados por uma atividade e os CUSTOS dos insumos empregados, em um determinado período de tempo. Uma organização é eficiente quando utiliza seus recursos da forma mais produtiva e econômica possível, também conhecida como forma racional de utilização. OBJETIVO INSUMO AÇÃO PRODUTO RESULTADO Efeetiiviidaddee EEffiicácciia EEconomiicidade EEffiicciiêênncciiaa CURSO ON-LINE – ADM PÚBLICA EM EXERCÍCIOS – AFRFB E AFT PROFESSOR:RAFAEL ENCINAS Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 12 A eficiência é definida como a relação entre os produtos (bens e serviços) gerados por uma atividade e os custos dos insumos empregados para produzi- los em um determinado período de tempo, mantidos os padrões de qualidade. Essa dimensão refere-se ao esforço do processo de transformação de insumos em produtos. Pode ser examinada sob duas perspectivas: minimização do custo total ou dos meios necessários para obter a mesma quantidade e qualidade de produto; ou otimização da combinação de insumos para maximizar o produto quando o gasto total está previamente fixado. Nesse caso, a análise do tempo necessário para execução das tarefas é uma variável a ser considerada . A eficiência pode ser medida calculando-se e comparando- se o custo unitário da produção de um bem ou serviço. Portanto, podemos considerar que o conceito de eficiência está relacionado ao de economicidade. A eficácia é definida como o grau de alcance das metas programadas (de bens e serviços) em um determinado período de tempo, independentemente dos custos implicados. O conceito de eficácia diz respeito à capacidade da gestão de cumprir objetivos imediatos traduzidos em metas de produção ou de atendimento, ou seja, a capacidade de prover bens ou serviços de acordo com o estabelecido no planejamento das ações. É importante observar que a análise de eficácia deve considerar os critérios adotados para fixação da meta a ser alcançada. Uma meta subestimada pode levar a conclusões equivocadas a respeito da eficácia do programa ou da atividade sob exame. Além disso, fatores externos como restrições orçamentárias podem comprometer o alcance das metas planejadas e devem ser levados em conta durante a análise da eficácia. A efetividade diz respeito ao alcance dos resultados pretendidos, a médio e longo prazo. Refere-se à relação entre os resultados de uma intervenção ou programa, em termos de efeitos sobre a população-alvo (impactos observados), e os objetivos pretendidos (impactos esperados), traduzidos pelos objetivos finalísticos da intervenção. Trata-se de verificar a ocorrência de mudanças na população-alvo que se poderia razoavelmente atribuir às ações do programa avaliado. Portanto, ao examinar a efetividade de uma intervenção governamental, pretende-se ir além do cumprimento de objetivos imediatos ou específicos, em geral consubstanciados em metas de produção ou de atendimento (exame da eficácia da gestão). Trata-se de verificar se os resultados observados foram realmente causados pelas ações desenvolvidas e não por outros fatores. A avaliação da efetividade pressupõe que bens e/ou serviços foram ofertados de acordo com o previsto. O exame da efetividade ou avaliação de impacto requer CURSO ON-LINE – ADM PÚBLICA EM EXERCÍCIOS – AFRFB E AFT PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 13 tratamento metodológico específico que busca estabelecer a relação de causalidade entre as variáveis do programa e os efeitos observados, comparando-os com uma estimativa do que aconteceria caso o programa não existisse Vamos analisar um exemplo. Num programa do governo de distribuição de óculos para crianças do ensino fundamental, o objetivo é melhorar a educação, já que as crianças estarão enxergando melhor e poderão se concentrar mais. Entende-se que os pais não apresentam condições financeiras de levar a criança a um oftalmologista e de comprar os óculos, por isso seria importante que o Estado desempenhasse esse papel. A economicidade significa que os óculos foram comprados a um preço baixo. A eficiência refere-se ao governo entregar um número maior de óculos com os mesmos recursos, o mesmo número de pessoas, de carros, etc. A eficácia corresponde ao alcance de metas. Assim, se o objetivo era entregar 20.000 óculos e foi entregue um número maior, o programa é eficaz. Por fim, a efetividade se refere ao resultado da ação governamental na sociedade. No exemplo, corresponde a melhora no índice de educação. Alguns autores conceituam efetividade como a soma da eficiência e da eficácia ao longo do tempo. Não concordo com esta visão, mas é importante conhecermos, pois a ESAF já deu ele como certo. Vamos ver mais alguns conceitos, agora da Maria das Graças Rua: Eficácia: significa realizar aquilo que foi pretendido. Suponha-se, por exemplo, que uma ação de governo é uma campanha de vacinação para 50000 crianças. A eficácia será dada pelo numero de crianças vacinadas. As perguntas, então, são: os insumos foram disponibilizados? Estiveram disponíveis a tempo? Foram suficientes para gerar os outputs pretendidos? Eficiência: significa realizar aquilo que foi pretendido, de acordo com a estratégia selecionada, com os custos estabelecidos ou menos. A eficiência é um critério que remete à racionalidade dos processos, não se refere somente aos resultados, mas às relações entre meios e fins. As perguntas são: Os insumos foram totalmente utilizados para os fins pretendidos? Houve insumos não utilizados? Algum dos insumos foi usado de maneira que não contribuiu para os resultados? A escala de utilização dos recursos foi apropriada, excessiva ou insuficiente? Houve atrasos?Erros?Haveria algum método de obter o mesmo resultado com custo e prazo menor? Houve perdas, desperdícios? Houve atrasos na CURSO ON-LINE – ADM PÚBLICA EM EXERCÍCIOS – AFRFB E AFT PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 14 disponibilização dos insumos? Houve inadequação de quantidade ou qualidade dos insumos? Houve erros de operação dos processos ou de gestão dos recursos e atividades? Efetividade: significa que o que foi realizado produziu os efeitos pretendidos. A efetividade é o grande critério de sucesso de um programa ou projeto. Refere-se aos efeitos, que são resultados diretos da ação realizada. É muito importante lembrar que é possível ter eficácia sem ter efetividade. Exemplo; é possível ter todas as 50000 crianças vacinadas e ainda assim ter muitos casos da doença devido à baixa qualidade das vacinas ou devido à sua aplicação numa ocasião em que uma epidemia já estivesse em andamento. 1.3 PÚBLICO X PRIVADO A comparação entre a gestão pública e a privada não é algo recente. Frank J. Goodnow, ainda em 1893, afirmou que “ao realizar seu negócio, o objeto do governo não costuma ser a obtenção do ganho, mas a promoção do bem-estar da comunidade. Essa é a grande distinção entre o negócio público e o privado”. Realmente, é a maior diferença entre os dois tipos de gestão: a privada busca o lucro; a pública, o interesse público. Podemos resumir da seguinte forma: Enquanto as empresas se motivam pelo lucro, a gestão pública tem como motivação a consecução do interesse público. Os principais argumentos de que a gestão pública difere de maneira fundamental da privada em todos os aspectos relevantes são: O interesse público difere do privado; As autoridades públicas, por exercerem o poder soberano do Estado, devem necessariamente atender aos valores democráticos em detrimento dos interesses de qualquer grupo ou material em particular; A Constituição exige o tratamento igualitário das pessoas e descarta o tipo de seletividade que é essencial para sustentar a lucratividade. Todavia, alguns autores entendem que a enumeração de tais diferenças é enganosa porque oculta importantes semelhanças. Como o desenvolvimento da Administração Gerencial, houve uma aproximação grande entre a gestão CURSO ON-LINE – ADM PÚBLICA EM EXERCÍCIOS – AFRFB E AFT PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 15 pública e a gestão privada, pois as técnicas desta começaram a ser usadas naquela. O mundo entrou num grave período de recessão na décadade 1970 devido às duas crises do petróleo, que fizeram com que os juros dos financiamentos externos subissem para a estratosfera. Ficou muito difícil para os países conseguirem recursos, resultando numa grave crise fiscal. Os governos tinham que produzir uma série de serviços e bens exigidos pela sociedade, mas não possuíam recursos suficientes. Eles precisavam, então, de eficiência, o que estava longe de ser proporcionado pelo modelo burocrático, que era rígido, lento, caro e não dava atenção às necessidades da população. Essa insatisfação da sociedade irá levar ao poder governos conservadores como o de Ronald Reagan, nos EUA, e de Margareth Thatcher, na Inglaterra, no início dos anos 1980, que irão adotar reformas segundo os princípios do Neoliberalismo. Para dar uma resposta à sociedade, que exigia serviços públicos de qualidade, passaram a ser adotadas técnicas da gestão privada. Os conceitos de eficiência, eficácia e efetividade passaram a fazer parte do vocabulário de todo administrador público. Muitas questões cobram este aspecto da aplicação das técnicas de gestão privada no setor público. Na esmagadora maioria das vezes, elas são sim aplicáveis – é óbvio que devem haver algumas adaptações. Assim, pode-se aplicar no setor pública a reengenharia, a qualidade total, a gestão por competências, o planejamento estratégico, os investimentos sob uma perspectiva de custo-benefício, o benchmarking, a análise SWOT, entre outras. Entre as teorias que buscaram estudar as mudanças da administração pública com a crise fiscal está a do Empreendedorismo Governamental, de David Osborne e Ted Gaebler. Eles buscaram analisar as diversas iniciativas de administrações públicas dos EUA, principalmente municipais, que demonstram que o Estado poderia eliminar a burocracia, superando a crise que se instalara em todo o mundo. Uma coisa importante em relação ao conceito de governo empreendedor é não confundir com governo empresário. O verdadeiro significado da palavra empreendedor é bem mais amplo. Segundo os autores, ela foi usada inicialmente por volta do ano 1800, para se referir àquele que “movimenta recursos econômicos de um setor de menor produtividade para um outro de maior produtividade e melhor rendimento”. Em outras palavras, o CURSO ON-LINE – ADM PÚBLICA EM EXERCÍCIOS – AFRFB E AFT PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 16 empreendedor emprega recursos de novas formas, para maximizar a produtividade e a eficiência. Esta definição se aplica igualmente ao setor privado, ao setor público e ao setor voluntário. Superintendentes e diretores escolares dinâmicos usam recursos de novas formas para maximizar a produtividade e a eficiência das escolas. Os gerentes de aeroportos inventivos fazem o mesmo. Quando queremos identificar instituições do setor público que sejam empreendedoras, olhamos para as que usam constantemente seus recursos de novos modos, para aumentar sua eficiência e sua efetividade. A partir desta noção de que empreendedor não é a mesma coisa que empresário, os autores defendem que não se pode “governar como quem administra uma empresa”. Segundo os autores: Assim, quando os autores defendem um governo empreendedor, não estão dizendo que o Estado deve ser administrado como uma empresa. Eles afirmam que: O governo é uma instituição fundamentalmente diferente da empresa. Os empresários são movidos pela busca do lucro; as autoridades governamentais se orientam pelo desejo de serem reeleitas. As empresas recebem dos clientes a maior parte dos seus recursos; os governos são custeados pelos contribuintes. As empresas normalmente trabalham em regime de competição; os governos usam habitualmente o sistema do monopólio. Aqui já podemos enumerar algumas diferenças entre a gestão pública e a gestão privada. A primeira delas é a motivação daqueles que definem as diretrizes. A motivação das autoridades públicas é a reeleição, dos empresários é o lucro. Podemos ver que eles reformularam um pouco a principal diferença entre a gestão pública e a privada. Aqui, o governo não busca o interesse público, mas sim a reeleição. Isto faz com que os “investimentos” da gestão pública sigam uma lógica diferente da gestão privada, inclusive no que se refere ao risco. Outra diferença entre a gestão pública e a privada citada pelos autores é que: As empresas recebem seus recursos dos clientes, enquanto o governo recebe por meio de impostos. CURSO ON-LINE – ADM PÚBLICA EM EXERCÍCIOS – AFRFB E AFT PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 17 Assim, enquanto nas empresas os clientes têm a possibilidade de se retirarem no momento que quiserem, os contribuintes continuam pagando impostos mesmo que insatisfeitos. Vimos que os governos são pouco orientados pelos seus “clientes”, enquanto as empresas focam suas energias em tentar satisfazê-los. A Gestão da Qualidade Total, que ganhou muita força na gestão privada na segunda metade do Século passado, tem como uma das suas maiores inovações a mudança no conceito de qualidade, que deixou de ser a conformidade com o projeto, o produto sem defeitos, para ser considerada como aquilo que o cliente enxerga no produto, se ele fica satisfeito ou não. Assim, um produto sem defeitos não significa que será um produto de qualidade. A razão pela qual os órgãos públicos não são orientados pelos “clientes” está justamente no fato de não receberem seus recursos diretamente dos clientes, mas sim do Executivo e do Legislativo. A consequência é que os gestores públicos se preocupam em agradar mais a estes entes do que aos seus verdadeiros clientes, a população. Soma-se a isso o fato de não haver alternativas a que a sociedade possa recorrer quando estiver insatisfeita com determinado serviço. Se alguém não gostar do serviço do DETRAN, não há nenhum outro órgão ou empresa que emite carteiras de motoristas. Esta é outra diferença colocada pelos autores: As empresas normalmente trabalham em regime de competição; os governos usam habitualmente o sistema do monopólio. O Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado também traça algumas diferenças entre a administração gerencial e a administração de empresas: A administração pública gerencial inspira-se na administração de empresas, mas não pode ser confundida com esta última. Enquanto a receita das empresas depende dos pagamentos que os clientes fazem livremente na compra de seus produtos e serviços, a receita do Estado deriva de impostos, ou seja, de contribuições obrigatórias, sem contrapartida direta. Enquanto o mercado controla a administração das empresas, a sociedade - por meio de políticos eleitos - controla a administração pública. Enquanto a administração de empresas está voltada para o lucro privado, para a maximização dos interesses dos acionistas, esperando-se que, através do mercado, o interesse coletivo seja atendido, a administração pública gerencial está explícita e diretamente voltada para o interesse público. A primeira diferença a que o PDRAE se refere é a mesma que vimos acima: as empresas recebem seus recursos dos clientes e os governos dos impostos. A terceira diferença também já foi vista, que é o fato de a motivação das CURSO ON-LINE – ADM PÚBLICA EM EXERCÍCIOS – AFRFB E AFT PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 18 empresas ser o lucro e da administração pública o interesse público. Há uma diferença que não foi falada antes: O controle das empresas é feito pelo mercado; o da administração pública é feito pela sociedade mediante políticos eleitos; Podemos dizer até que o controle da administração pública não passa necessariamente pelos políticos. O controle social é uma das bandeiras da administração gerencial.Atualmente existem diversos instrumentos que permitem que a sociedade realize o controle social da administração pública, como os conselhos gestores, as ações judiciais como a ação popular e o mandado de segurança coletivo, as ouvidorias, etc. Esta necessidade de controle implica em outra diferença, que é o rigor com que se devem tratar questões como a transparência na administração pública. A administração privada, fora as sociedades anônimas e outros tipos de sociedades que devem obedecer a regras de governança corporativa, não precisar motivar nem divulgar que medidas adota para atingir seus objetivos. Os princípios constitucionais da administração pública, assim como outros princípios administrativos, são bastante cobrados quando falamos em diferenças entre a gestão pública e a gestão privada, já que eles determinam limites para a atuação dos gestores públicos. Veremos alguns destes princípios mais a frente. O Programa Qualidade e Participação na Administração Pública, lançado também no Governo FHC, trazia algumas diferenças entre a gestão pública e a privada no que se refere à qualidade. Segundo o Programa: O esforço de implantar a qualidade no campo da Administração Pública apresenta algumas especificidades decorrentes da natureza da atividade pública, ausentes no setor privado, que desaconselha a mera reprodução, para o setor público, das diretrizes e ações adotadas na absorção da metodologia no setor privado. As principais diferenças são: as finalidades principais das atividades de caráter privado são o lucro e a sobrevivência em um ambiente de alta competitividade, enquanto os objetivos da atividade pública são imbuídas do ideal democrático de prestar serviços à sociedade, em prol do bem-estar comum; a preocupação em satisfazer o cliente no setor privado é baseada no interesse, enquanto no setor público essa preocupação tem que ser alicerçada no dever; CURSO ON-LINE – ADM PÚBLICA EM EXERCÍCIOS – AFRFB E AFT PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 19 o cliente atendido, no setor privado, remunera diretamente a organização, pagando pelo serviço recebido ou pelo produto adquirido; no setor público, o cliente atendido, paga indiretamente, pela via do imposto, sem qualquer simetria entre a quantidade e a qualidade do serviço recebido e o valor do tributo que recolhe. as políticas voltadas para a Qualidade no setor privado referem-se a metas de competitividade no sentido da obtenção, manutenção e expansão de mercado; enquanto no setor público, a meta é a busca da excelência no atendimento a todos os cidadãos, ao menor custo possível; as diferentes contingências a que estão submetidos os dois setores, como, por exemplo, limites de autonomia estabelecidos pela legislação e o perfil da clientela. O atual programa de qualidade do governo brasileiro, o Gespública, afirma que: O Modelo de Excelência em Gestão Pública foi concebido a partir da premissa de que a administração pública tem que ser excelente sem deixar de considerar as particularidades inerentes à sua natureza pública. Depois ele enumera as diferenças entre a gestão pública e a privada: Enquanto as organizações do mercado são conduzidas pela autonomia da vontade privada, as organizações públicas são regidas pela supremacia do interesse público e pela obrigação da continuidade da prestação do serviço público. O controle social é requisito essencial para a administração pública contemporânea em regimes democráticos, o que implica em garantia de transparência de suas ações e atos e na institucionalização de canais de participação social, enquanto as organizações privadas estão fortemente orientadas para a preservação e proteção dos interesses corporativos (dirigentes e acionistas). A administração pública não pode fazer acepção de pessoas, deve tratar a todos igualmente e com qualidade. O tratamento diferenciado restringe-se apenas aos casos previstos em lei. Por outro lado, as organizações privadas utilizam estratégias de segmentação de “mercado”, estabelecendo diferenciais de tratamento para clientes preferenciais. As organizações privadas buscam o lucro financeiro e formas de garantir a sustentabilidade do negócio. A administração pública busca gerar valor para a sociedade e formas de garantir o desenvolvimento sustentável, CURSO ON-LINE – ADM PÚBLICA EM EXERCÍCIOS – AFRFB E AFT PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 20 sem perder de vista a obrigação de utilizar os recursos de forma eficiente. A atividade pública é financiada com recursos públicos, oriundos de contribuições compulsórias de cidadãos e empresas, os quais devem ser direcionados para a prestação de serviços públicos e a produção do bem comum. A atividade privada é financiada com recursos de particulares que têm legítimos interesses capitalistas. A administração pública tem como destinatários de suas ações os cidadãos, sujeitos de direitos, e a sociedade, demandante da produção do bem comum e do desenvolvimento sustentável. A iniciativa privada tem como destinatários de suas ações os “clientes” atuais e os potenciais. O conceito de partes interessadas no âmbito da administração pública é ampliado em relação ao utilizado pela iniciativa privada, pois as decisões públicas devem considerar não apenas os interesses dos grupos mais diretamente afetados, mas, também, o valor final agregado para a sociedade. A administração pública tem o poder de regular e gerar obrigações e deveres para a sociedade, assim, as suas decisões e ações normalmente geram efeitos em larga escala para a sociedade e em áreas sensíveis. O Estado é a única organização que, de forma legítima, detém este poder de constituir unilateralmente obrigações em relação a terceiros. A administração pública só pode fazer o que a lei permite, enquanto a iniciativa privada pode fazer tudo que não estiver proibido por lei. A legalidade fixa os parâmetros de controle da administração e do administrador, para evitar desviosde conduta. Podemos ver nesta última diferença o princípio da legalidade. Ele é muito importante na distinção entre a gestão pública e a privada, o veremos daqui a pouco, junto com outros princípios administrativos. 1.4 PARADIGMA DO CLIENTE NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA Outra distinção muito importante entre a gestão pública e a privada se refere à diferença entre os bens públicos e os bens privados. O bem público se caracteriza pelo princípio da não-exclusão, o que significa que o consumo de uma pessoa não exclui o consumo de outra. Os bens privados são exclusivos: quando uma pessoa compra um carro, as outras CURSO ON-LINE – ADM PÚBLICA EM EXERCÍCIOS – AFRFB E AFT PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 21 não poderão usar esse mesmo veículo. Já nos bens públicos, se uma pessoa usa a segurança pública, as outras também usam. No caso dos bens privados, somente aqueles que contribuem para sua aquisição podem desfrutá-lo; com os bens públicos, mesmo aqueles que não contribuíram vão poder utilizá-lo. Quem não paga impostos, vai ter proteção policial, limpeza nas ruas e iluminação pública do mesmo jeito. Assim, como a pessoa vai ser beneficiada mesmo sem contribuir, surge a figura do free rider (carona). Quando alguém conta com a possibilidade de beneficiar-se da ação coletiva dos demais sem sofrer os custos da participação, tem um grande incentivo para se comportar isoladamente. Pode-se dizer, portanto, que o problema da ação coletiva aparece quando o interesse privado sobrepõe-se à obtenção do bem público. Essa diferenciação é importante quando nos referimos ao chamado “paradigma do cliente na gestão pública”. Outra mudança importante do final do séculopassado, que veio com a administração gerencial, foi o fato de a administração pública passar a ver as pessoas como clientes dos serviços públicos que desejam qualidade, dentro do chamado consumerism. A administração pública voltada para o cidadão-usuário tem origem ainda nos anos 80. Em 1987, a OCDE publicou um documento intitulado “Administration as Service, the Public as Client”, que traz alguns princípios gerais dessa nova administração. Segundo esse documento, os clientes devem saber como a administração funciona, o que a constrange, como é controlada e quem são os responsáveis. Além disso, a administração deve possibilitar a participação dos clientes, satisfazer suas necessidades e ser, ao máximo, acessível ao público. A administração burocrática era auto-referida, ou seja, não olhava para fora da organização para saber qual eram as reais necessidades das pessoas. Havia a desconfiança tanto em relação aos servidores quanto em relação àqueles que lhe traziam demandas. A administração gerencial tenta mudar esta perspectiva, incorporando a visão do cliente à noção de qualidade no serviço público. Assim como as empresas dão prioridade às necessidades de seus clientes, a administração pública também deve atender às necessidades dos cidadãos. Ela deve prestar serviços públicos de qualidade, da mesma forma que as empresas. As limitações impostas ao setor público não justificam a falta de qualidade. Na fase mais recente, o entendimento de que o usuário do serviço deve ser visto como cliente-consumidor perdeu força, principalmente porque a idéia de CURSO ON-LINE – ADM PÚBLICA EM EXERCÍCIOS – AFRFB E AFT PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 22 consumidor poderia levar a um atendimento melhor para alguns e pior para outros, num universo em que todos têm os mesmos direitos. É possível perceber isso quando levamos em consideração que clientes melhores organizados e estruturados teriam mais poder para pleitear mais ou melhores serviços, culminando em prejuízo para os menos estruturados. A crítica mais geral é direcionada ao conceito de consumidor de serviços públicos. Em primeiro lugar, com relação à diferença que existe entre o consumidor de bens no mercado e o “consumidor” dos serviços públicos. É mais complexa a relação do prestador de serviço público com a sociedade, já que ela não obedece ao puro modelo de decisão de compra vigente no mercado. Aliás, há determinados serviços públicos cujo caráter é compulsório, isto é, não existe a possibilidade de escolha, como provam a utilização em determinados momentos dos hospitais e dos serviços policiais. Por isso, nesta abordagem é preferível o uso do conceito de cidadão, que ao invés de buscar a sua satisfação, estaria voltado para a consecução do bem- comum. Além disso, deve-se buscar a equidade, ou seja, o tratamento igual aos iguais e o tratamento desigual aos desiguais. Assim, as pessoas não devem ser vistas apenas como clientes, em que aqueles que possuem mais recursos recebem mais. Deve-se privilegiar justamente aqueles que mais precisam, dando tratamento diferenciado. É por isso que defende-se que o Estado Mínimo não é viável, pois, apesar do mercado ter suas vantagens em termos de eficiência, não olha para a equidade. Segundo Humberto Falcão Martins e Caio Marini, é preciso que haja um equilíbrio entre Estado, mercado e terceiro setor. Para os autores: O Estado promove equidade, mas é menos eficiente. Enfraquecê-lo em detrimento das demais esferas pode levar à baixa capacidade de governo, fortalecê-lo pode levar ao estatismo dirigista e formas autoritárias perversas. O mercado é virtuoso em eficiência, mas insensível em equidade. enfraquecê-lo em detrimento das demais esferas pode levar à ineficiência e perda de competitividade, fortalecê-lo pode levar a formas perversas de “mercado livre”, concentração e “capitalismo selvagem”. O terceiro setor é virtuoso porque é o domínio do valor, da causa, provendo meio de expressão de iniciativas comunitárias e cidadãs essenciais à afirmação da identidade cívica, mas sua natureza não é a regra de direito. Fortalecê-lo em detrimento das demais esferas pode gerar formas anômicas de atuação paroquial ou formas perversas de comunitarismo excessivo, enfraquecê-lo pode levar a negligência de comunidades e identidades. CURSO ON-LINE – ADM PÚBLICA EM EXERCÍCIOS – AFRFB E AFT PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 23 Além da equidade, outro princípio importante na Administração Pública é o da Accountability. Não há tradução do termo para o português. Alguns autores afirmam que isto se deve a pouca qualidade de nossa democracia em comparação com as anglo-saxãs. Alguns traduzem o termo como responsabilização, outros como dever de prestar contas, mas nenhum destes termos consegue abarcar todos os sentidos presentes na accountability. Ela abrange pelo menos três aspectos: O agente público administra bens pertencentes a terceiros, por isso te a obrigação de prestar contas desta administração. O segundo aspecto é a responsabilização. O agente deve responder pelos seus atos, tanto em termos de legalidade quanto de resultados. A administração gerencial mudou o foco do controle a priori sobre os processos para ser a posteriori de resultados, por isso o administrador público responde não só em termos de legalidade, mas também em termos de eficiência, eficácia e efetividade. A responsividade refere-se à sensibilidade do agente em à vontade do principal. Assim, na administração pública, as decisões do governo devem ter como finalidade sempre o interesse público, seguindo o princípio da impessoalidade. 1.5 PRINCÍPIOS ADMINISTRATIVOS Veremos agora alguns dos princípios que têm importância neste tema das convergências e diferenças entre a gestão pública e a gestão privada. a) Princípio da Legalidade Segundo o princípio da legalidade, a Administração só pode fazer o que a lei permite. Este conceito diverge da aplicação do princípio da legalidade na relação entre particulares (princípio da autonomia das vontades), que podem fazer tudo aquilo que a lei não proíbe, segundo o inciso II do art. 5º da CF: II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei; Aqui temos uma das diferenças mais importantes da gestão pública para a gestão privada. Segundo Hely Lopes Meirelles: A eficácia de toda atividade administrativa está condicionada ao atendimento da lei. Na Administração Pública não há liberdade nem vontade pessoal. Enquanto na administração particular é lícito fazer tudo que a lei CURSO ON-LINE – ADM PÚBLICA EM EXERCÍCIOS – AFRFB E AFT PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 24 não proíbe, na Administração Pública só é permitido fazer o que a lei autoriza. Assim, para os administrados, o princípio da legalidade possui uma conotação negativa, já que os particulares são autorizados desempenhar todos os comportamentos para os quais não exista expressa proibição em lei. No caso da Administração Pública, o princípio tem uma conotação positiva, pois a ausência de norma proibitiva não é suficiente para que determinados comportamentos possam ser exercidos, é preciso que haja uma lei que a autorize a agir (nas competências discricionárias) ou que determine que o faça (nas competências vinculadas). Toda ação administrativa apresenta-se como exercício de um poder atribuído previamente pela lei e por ela é construído e delimitado. O que legitima a ação administrativa é retirar seu fundamento de uma lei anterior. O pessoal do Direito gosta muito dos termos em latim. Michel Stassinopoulos afirma que: A lei não é apenas o limite do ato administrativo, mas a sua condição e a sua base. Emum Estado de Direito, a Administração não se encontra apenas impossibilitada de agir contra legem ou praeter legem, mas é obrigada a agir sempre secundum legem. O que ele quis dizer é que não basta que a atividade administrativa não seja contra a lei (contra legem) ou além da lei (praeter legem), é preciso que ela seja segundo a lei (secundum legem). Vimos acima que pode haver competências discricionárias. É praticamente impossível que a lei atinja todos os vários aspectos de uma atividade administrativa. Quando ela faz isso, dizemos que o poder da Administração é vinculado, porque a lei não deixa opções. A lei estabelece que, diante de determinados requisitos, a Administração deve agir de tal ou qual forma. Nos casos em que a lei não atinge todos os aspectos da atuação administrativa, quando ela deixa certa margem de liberdade de decisão para autoridade no caso concreto, dizemos que o poder da Administração é discricionário. Diante de uma situação, a Administração poderá optar por uma dentre várias soluções possíveis, todas válidas perante o direito. José dos Santos Carvalho Filho, o poder discricionário como A prerrogativa concedida aos agentes administrativos de eleger, entre várias condutas possíveis, a que traduz maior conveniência e oportunidade para o interesse público. Quando falamos em conveniência e oportunidade, estamos nos referindo onde que é possível a discricionariedade. A discricionariedade pode ainda residir no conteúdo do ato. Um primeiro aspecto ao qual concerne a discricionariedade é CURSO ON-LINE – ADM PÚBLICA EM EXERCÍCIOS – AFRFB E AFT PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 25 o momento da prática do ato. Se a lei nada estabelece, a Administração escolhe o momento que lhe pareça mais adequado para atingir a consecução de determinado fim. Aqui temos a oportunidade. A discricionariedade ainda pode dizer respeito a uma escolha entre o agir e o não agir. Quando há um ilícito administrativo, a Administração atua de forma vinculada, é obrigada a agir, a apurar o ilícito. No entanto, depois de realizada a licitação, a Administração pode ou não celebrar o contrato, ou revogar a licitação, segundo razões de interesse público devidamente demonstradas. Aqui temos a discricionariedade sob a forma da conveniência. Com relação ao conteúdo, ou objeto, o ato será vinculado quando a lei estabelecer apenas um objeto possível para atingir determinado fim. Por exemplo, quando a lei prevê uma única penalidade possível para punir uma infração. Será discricionário quando houver vários objetos possíveis. É o que ocorre quando a lei diz que, para uma determinada infração, a Administração pode punir com as penas de suspensão ou multa. Nos casos de discricionariedade, o Judiciário não pode atuar sobre o mérito, ou seja, sobre o tripé visto acima: conveniência, oportunidade e conteúdo. No entanto, o Judiciário poderá fazer o controle da discricionariedade, é aqui que entram os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade. O princípio da razoabilidade aplica-se na aferição da legitimidade de atos discricionários, em especial daqueles que estabelecem limitações ou condicionamentos ao exercício de direitos ou atividades individuais, impõem obrigações ou aplicam sanções. Ele acabou dividido em três subprincípios: a adequação, a necessidade e a proporcionalidade em sentido estrito. A adequação traduz uma exigência de compatibilidade entre o fim pretendido pela norma e os meios por ela enunciados para sua consecução. A necessidade diz respeito ao fato de a medida restritiva de direitos ser indispensável à preservação do próprio direito por ela restringido ou a outro em igual ou superior patamar de importância, isto é, o ato que restringe direito só deve ser edita se for indispensável. Por último, o subprincípio da proporcionalidade em sentido estrito diz respeito à valoração entre o direito que está sendo protegido em comparação com o que está sendo restringido. O juízo de proporcionalidade permite um equilíbrio entre o fim almejado e o meio empregado, ou seja, o resultado obtido com a intervenção na esfera de direitos do particular deve ser proporcional à carga coativa da mesma. Vamos ver um exemplo. Para acabar com os congestionamentos em uma via, a prefeitura decide alargá-la. Mas, para isso, terá que utilizar parte dos terrenos que estão ao longo da via, desapropriando-os. O ato será adequado CURSO ON-LINE – ADM PÚBLICA EM EXERCÍCIOS – AFRFB E AFT PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 26 se está medida for realmente a melhor solução para o trânsito, se ela realmente vai reduzir os congestionamentos. Talvez a solução fosse retirar os semáforos. O ato é necessário se há realmente congestionamentos e isso prejudica a qualidade de vida da população. Por fim, será proporcional se a parcela dos terrenos não exceder ao necessário. Assim, se uma desapropriação de um metro é suficiente, será desproporcional uma desapropriação de três metros. b) Princípio da Supremacia do Interesse Público sobre o Privado Este é outro princípio importante na distinção entre a gestão pública e a privada. É um princípio implícito, que não é objeto de qualquer norma expressa de caráter geral (ele atualmente é citado no art. 2º da Lei 9.784/99, aplicável na esfera federal). A própria razão de existir da Administração é a busca dos interesses públicos, e para cumprir a contento sua missão é necessário assegurar que esses interesses, porque pertinentes a toda a coletividade, prevaleçam sobre os interesses privados de seus membros. É o princípio que distingue o Direito Administrativo dos demais ramos, no disciplinamento das relações jurídicas. É justamente essa a essência do princípio: a Administração atua voltada aos interesses da coletividade, aos interesses mais básicos e relevantes do corpo social. Logo, deve gozar de superioridade perante os administrados, como medida indispensável para assegurar a prevalência desses interesses, os interesses públicos, sobre os interesses privados dos membros da coletividade. Tais considerações fazem com que nossa doutrina amplamente majoritária este princípio como o princípio fundamental do regime jurídico-administrativo. Este princípio serve de fundamento para todas as prerrogativas administrativas, os poderes conferidos por lei à Administração que lhe asseguram uma posição de superioridade perante o administrado, quando e enquanto age na busca do interesse público. Entre as principais prerrogativas administrativas, podemos citar: Os atributos dos atos administrativos, a exemplo da presunção de legitimidade e veracidade, da auto-executoriedade e da imperatividade; As cláusulas exorbitantes dos contratos administrativos, a exemplo dos poderes de alteração unilateral do contrato e de rescisão unilateral do contrato; CURSO ON-LINE – ADM PÚBLICA EM EXERCÍCIOS – AFRFB E AFT PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 27 As diversas formas de intervenção do Estado na propriedade privada, dentre as quais podemos citar a desapropriação, a servidão administrativa, o tombamento, a requisição administrativa, a ocupação temporária e as limitações administrativas. c) Princípio da Indisponibilidade do Interesse Público Para Celso Antonio Bandeira de Mello, este é um dos dois princípios basilares do Direito Administrativo, juntamente com a Supremacia do Interesse Público. Enquanto este princípio está ligado às prerrogativas da Administração que fazem com que ela seja preponderante numa relação com os administrados, o princípio da indisponibilidade do interesse público está ligado às sujeições da Administração. É mais um princípio implícito. A Administração tem o dever de defender o interesse público.Não é uma faculdade sua escolher se irá praticar um ato ou não que tenha como objetivo a satisfação do interesse público. O que nós denominamos como poderes da Administração (hierárquico, de polícia, etc.) são na realidade poderes-deveres. Sempre que a finalidade, o interesse público previsto em lei o requerer, são eles de utilização obrigatória para o agente. Esta é a aplicação mais importante do princípio da indisponibilidade do interesse público: sempre que a ordem jurídica confere a um agente público um poder, o faz tendo em vista dada finalidade; presente esta, tal poder é de exercício obrigatório para o agente. As questões, além de poder-dever, chamam isto de caráter instrumental dos poderes administrativos e aspecto dúplice dos poderes administrativos. A segunda aplicação deste princípio é a indisponibilidade dos bens públicos. Qualquer aplicação dos recursos financeiros, qualquer utilização dos bens públicos, deve-se voltar para o interesse previsto em lei. Destinação contrária à lei, desvirtuada de qualquer interesse legítimo, caracteriza ato ilícito. O princípio é a justificativa para todas as sujeições administrativas, as limitações e restrições impostas por lei à Administração com o intuito de evitar que ela atue de forma lesiva aos interesses públicos ou de modo ofensivo aos direitos fundamentais dos administrados. Sempre que estivermos perante uma regra imposta à Administração e que limita seu comportamento, comparativamente ao dos particulares, estaremos perante uma sujeição administrativa, a qual tem seu fundamento o princípio da indisponibilidade do interesse público. Exemplos de sujeições é a necessidade de concurso público para contratação de pessoal, as licitações, entre outros. CURSO ON-LINE – ADM PÚBLICA EM EXERCÍCIOS – AFRFB E AFT PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 28 Uma quarta interpretação do princípio é o impedimento imposto à Administração de transferir aos particulares os direitos relacionados aos interesses públicos que a lei lhe encarregou de defender (Bandeira de Mello inclusive trata a matéria como um princípio à parte, o princípio da inalienabilidade dos direitos concernentes a interesses públicos). d) Princípio da Eficiência O princípio da eficiência não estava na redação original do art. 37, ele foi incluído pela Emenda Constitucional 19/98. Hely Lopes Meireles fala na eficiência como um dos deveres da Administração Pública, definindo-o como: O que se impõe a todo agente público de realizar suas atribuições com presteza, perfeição e rendimento funcional. É o mais moderno princípio da função administrativa, que já não se contenta em ser desempenhada apenas com legalidade, exigindo resultados positivos para o serviço público e satisfatório atendimento das necessidades da comunidade e de seus membros. O princípio da eficiência pode ser considerado em dois sentidos diversos: pode ser considerado em relação ao modo de atuação do agente público, do qual se espera o melhor desempenho possível de suas atribuições, para lograr os melhores resultados; e em relação ao modo de organizar, estruturar e disciplinar a Administração Pública, também com o mesmo objetivo de alcançar os melhores resultados na prestação do serviço público. No primeiro sentido, o princípio impõe aos agentes públicos uma atuação célere e tecnicamente adequada, sempre objetivando um melhor desempenho das suas atribuições. As principais aplicações do princípio são: a avaliação especial de desempenho do servidor ocupante de cargo efetivo, requisito para a aquisição da estabilidade; a avaliação periódica de desempenho, nova hipótese de perda do cargo para o servidor estável; e o concurso público, procedimento de adoção obrigatória para o preenchimento de cargos efetivos e empregos públicos. Ainda num terceiro possível sentido, o princípio da eficiência consagra o princípio da economicidade, impondo à Administração uma atuação sob uma adequada relação custo/benefício, visando sempre à obtenção de um máximo de benefícios com um mínimo de despesas. Com o menor gasto possível os melhores resultados possíveis, tanto em termos quantitativos como qualitativos. Vamos ver uma questão do CESPE. CURSO ON-LINE – ADM PÚBLICA EM EXERCÍCIOS – AFRFB E AFT PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 29 1. (CESPE/AGU/2004) A transparência e a desburocratização são, entre outras, obrigações do Estado decorrentes do princípio da eficiência. Esta questão foi dada como CERTE. Neste concurso o CESPE fez algo que deveria fazer em todos os demais: explicou não só porque alterou ou anulou questões, mas também porque manteve o gabarito de algumas que foram alvo de recursos. A justificativa para a manutenção deste gabarito foi: As características citadas na assertiva são do princípio da eficiência, apontadas por Alexandre de Moraes, Direito Constitucional, 15.ed. São Paulo: Atlas, 2004, pp. 321-322. O fato de a transparência ser também característica do princípio da publicidade não invalida a veracidade da assertiva, como também a existência de outras características do princípio da eficiência não a invalida, uma vez que esta traz a expressão “entre outras”. Segundo Alexandre de Moraes, o princípio da eficiência é aquele que impõe à Administração Pública direta e indireta e a seus agentes a persecução do bem comum, por meio do exercício de suas competências de forma imparcial, neutra, transparente, participativa, eficaz, sem burocracia e sempre em busca da qualidade, primando pela adoção dos critérios legais e morais necessários para a melhor utilização possível dos recursos públicos, de maneira a evitar-se desperdícios e garantir-se uma maior rentabilidade social. Portanto, devemos entender que a transparência é decorrência também do princípio da eficiência. Isso deveria ser estendido então a tudo que o Alexandre de Moraes falou em relação ao princípio da eficiência: imparcial, neutra, participativa, eficaz, sem burocracia e sempre em busca da qualidade. Mas nem sempre é assim. Vejamos a próxima questão: 2. (CESPE/MPE-AM/2007) Fere o princípio da eficiência a atitude praticada pelo prefeito de uma cidade do interior que, com o objetivo de valorizar sua propriedade, abre processo de licitação para asfaltar a estrada que liga a cidade à sua fazenda. Esta questão foi dada como ERRADA. Contudo, se formos seguir a lógica do Alexandre de Moraes, esta atitude seria sim contrária ao princípio da eficiência, já que não é imparcial. CURSO ON-LINE – ADM PÚBLICA EM EXERCÍCIOS – AFRFB E AFT PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 30 Para Paulo Modesto: Eficiência, para fins jurídicos, não é apenas o razoável ou correto aproveitamento dos recursos e meios disponíveis em função dos fins prezados. A eficiência, para os administradores, é um simples problema de otimização de meios; para o jurista, diz respeito tanto à otimização dos meios quanto à qualidade do agir final. Outro ponto importante é que o princípio da eficiência não pode sobrepor-se aos demais, especialmente ao da legalidade, sob pena de sérios riscos à segurança jurídica e ao próprio Estado de Direito. Dessa forma, não se pode identificar a eficiência como algo fora da legalidade, mas sim como uma nova versão, que enfatiza o elemento discricionário, conferindo ao administrador a utilização de critérios subjetivos de apreciação baseados em conveniência e oportunidade. Modesto acredita que o princípio da eficiência pode ser percebido como componente da própria legalidade, percebida sob ângulo material e não formal. Além do princípio da eficiência no art. 37, temos também a economicidade, no art. 70, que trata do controle externo: Art. 70. A fiscalização contábil,financeira, orçamentária, operacional e patrimonial da União e das entidades da administração direta e indireta, quanto à legalidade, legitimidade, economicidade, aplicação das subvenções e renúncia de receitas, será exercida pelo Congresso Nacional, mediante controle externo, e pelo sistema de controle interno de cada Poder. Enquanto a eficiência olha para a relação custo e produto, a economicidade vê só o custo. Segundo Lei Orgânica do TCU (Lei 8.142/1990): Art. 58. O Tribunal poderá aplicar multa de Cr$ 42.000.000,00 (quarenta e dois milhões de cruzeiros), ou valor equivalente em outra moeda que venha a ser adotada como moeda nacional, aos responsáveis por: III - ato de gestão ilegítimo ou antieconômico de que resulte injustificado dano ao Erário; Muitas questões tentam dizer que o gestor público, devido Às imposições legais, não precisa ter eficiência e economicidade. Ele não só pode perseguir tais princípios, como é uma obrigação. CURSO ON-LINE – ADM PÚBLICA EM EXERCÍCIOS – AFRFB E AFT PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 31 2 Comunicação na Gestão Pública Um professor em Harvard uma vez pediu à classe que, por meio de desenhos, definisse comunicação. A maioria dos alunos desenhou um gerente falando ou escrevendo. Alguns colocaram balões de fala perto de seus personagens; outros mostraram páginas voando de uma impressora a laser. “Não”, disse o professor, “nenhum de vocês conseguiu captar a essência da comunicação”. Ele continuou a explicar que comunicação significa “compartilhar” – não “falar” ou “escrever”. Richard Daft define comunicação como: Processo pelo qual as informações são transmitidas ou entendidas por duas ou mais pessoas, geralmente com a intenção de motivar ou influenciar o comportamento. No concurso da Paraná Previdência, de 2002, O CESPE disse: “O processo de comunicação é a base do atendimento. A comunicação pode ser definida como o processo de passar informação e compreensão de uma pessoa para outra. Toda comunicação envolve pelo menos duas pessoas: a que envia e a que recebe. Para que haja comunicação utiliza-se um processo que contém no mínimo quatro elementos: emissor ou fonte de comunicação – pessoa que elabora a mensagem, tendo como objetivo atingir o receptor; mensagem – o que se quer transmitir; canal – meio utilizado para transmitir a mensagem; receptor ou destino da mensagem – pessoa para quem é enviada a mensagem”. No entanto, estes quatro componentes não são os únicos no processo de comunicação. O processo de Comunicação ocorre quando o emissor (ou codificador) emite uma mensagem (ou sinal) ao receptor (ou decodificador), através de um canal (ou meio). O receptor interpretará a mensagem que pode ter chegado até ele com algum tipo de barreira (ruído, bloqueio, filtragem) e, a partir daí, dará o feedback ou resposta, completando o processo de comunicação. Podemos observar estes elementos na figura abaixo. CURSO ON-LINE – ADM PÚBLICA EM EXERCÍCIOS – AFRFB E AFT PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 32 a) Código: é o conjunto de sinais e regras que permite transformar o pensamento em informação que possa ser entendida, na sua globalidade, pelo receptor. O emissor utiliza o código para construir a sua mensagem -operação de codificação - (é capaz de construir mensagens com significado e que sejam entendidas pelo receptor), enquanto que o receptor utiliza esse mesmo código para compreender a mensagem – o receptor decodifica a mensagem (é capaz de interpretar a mensagem, compreendê-la, dar-lhe um significado). b) Contexto: é o conjunto de variáveis que rodeiam e influenciam a situação de comunicação. c) Ruído: Inclui tudo aquilo que perturba ou distorce o processo de comunicação. Os ruídos que adulteram a comunicação podem surgir em qualquer altura do processo e se tornam barreiras para uma comunicação eficaz. Em comunicação, um ruído é tanto um barulho (fisicamente perceptível), como uma ideia ou sentimento que esteja perturbando a eficácia do processo comunicacional. Exemplos de possíveis fontes de ruído incluem problemas de percepção, excesso de informações, dificuldades semânticas ou diferenças culturais. Quanto mais ruído, menos informações podem ser transmitidas. d) A redundância é um recurso que pode ser usado para anular ruídos. Redundância é todo o elemento da mensagem que não traz nenhuma informação nova. É um recurso utilizado para chamar à atenção e eliminar possíveis ruídos. Nesse sentido, devem-se repetir frases e informações julgadas essenciais à compreensão do receptor. Ruído FONTE Canal Feedback RECEPTOR Mensage m a ser Codificação da Mensage m Mensagem decodificad CUR Prof. Rafa e) En tem sen f) Fee ret qu cor sin tra sen ma com g) Ca um qu a r ab A capaci habilidad rápido e comunica amplas e impessoa padroniz em um feedback RSO ON-L ael Encinas tropia eq m um gr ntido do q edback: troalimen e forma rrigir def ntonia. O ansmite c ntidas pe aior for a municaçã nal: é o m telefone e podem riqueza do aixo: dade do de de lida e bilatera ação. A e profund al, inclu zados, são único rec k. LINE – A PRO s uivale à rau de i que receb ou info ntação. É a mens iciências feedback como as elo recep confianç ão é unila transpor e, uma co ser trans o canal. A canal de ar com d al e a h discussão das e o en uindo pa o os mais ceptor, u ADM PÚB OFESSOR www.po desordem nterpreta be, dizem rmação o que pe sagem es ou equív k é a men suas com ptor. 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Se cação. Fa emissor e ram perc nto maio . Sem fee m relatório de de info municação mostrada caracter cilitar o o pessoa ão de dic es. A míd computad não estão o e não p E AFT 33 receptor er o real do como ação e de rve para avorece a e que lhe cebidas e r quanto edback, a o formal, ormações , maior é na figura ísticas: a feedback l para a cas mais ia escrita dorizados o focados permitem 3 r o e a e e o , s é a k s s s CURSO ON-LINE – ADM PÚBLICA EM EXERCÍCIOS – AFRFB E AFT PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS Prof. Rafael Encinas www.pontodosconcursos.com.br 34 A escolha de um canal depende de a mensagem ser rotineira ou não-rotineira. As mensagens rotineiras costumam ser diretas e apresentar um mínimo de ambiguidade. As não-rotineiras tendem a ser mais complicadas e podem levar a um erro de entendimento. Os executivos podem comunicar
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