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SENT MODELO 1 CRECHE inserir crianca DEFERE

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Autos: 
Data: 10/04/2013
Vistos, etc.
Trata-se de ação de obrigação de fazer, com pedido de antecipação dos efeitos da tutela, movida por GGGGGGG representada por seu genitor, em desfavor do DISTRITO FEDERAL, pretendendo que o réu providencie a matrícula da autora em creche da rede pública de ensino ou, na ausência de vagas, em creche da rede privada, às expensas do réu.
Em breve relato, narra que sua família é de baixa renda, sendo que os seus genitores não tem condições financeiras de arcar com os gastos de uma creche particular, tampouco tem condições de abandonar seus empregos para cuidar da autora. 
Sustenta que o artigo 205, da CF e o art. 54, inciso IV, do Estatuto da Criança e do Adolescente, garantem o atendimento em creche e pré-escolas de crianças de zero a seis anos de idade. Ressalta que na Creche Cruz da Malta existem vagas disponíveis, tendo sido negada a matrícula da autora por não ter quatro anos de idade. 
Em virtude do alegado, pede, em sede de antecipação de tutela, que a autora seja matriculada em creche vinculada à rede pública de ensino. No mérito, requer a confirmação dos efeitos da tutela e, caso não haja vagas em creche da rede pública, requer a condenação do réu a arcar com os custos de creche particular. Requereu, ainda, os benefícios da justiça gratuita. 
Instruíram a inicial os documentos de fls. 08/17. 
A decisão de fls. 18 determinou a emenda da petição inicial, que foi atendida às fls. 22/23. 
O Distrito Federal manifestou-se às fls. 36/38, defendendo a ausência dos requisitos necessários para o deferimento da antecipação de tutela. 
A Sociedade Cruz da Malta respondeu ao ofício expedido por este Juízo (fl. 31), esclarecendo que mantém e administra duas creches para 384 crianças carente de 0 a 4 anos e que todas as crianças atendida pela creche são encaminhadas pela Secretaria de Educação do Distrito Federal. Esclarece que somente terá vagas no ano de 2012. 
Citado, o Distrito Federal apresentou contestação às fls. 45/48, oportunidade em que juntou os documentos de fls. 49/84. Afirma que os critérios de matrícula em creches são regulados pela Portaria nº 17/2011, a qual estabelece que a criança deve ter a idade mínima de quatro meses para ser atendida, bem como deve haver vagas disponíveis. Sustenta que a autora tinha apenas três meses quando buscou a matrícula em creche vinculada à Secretaria de Educação. No mais, defende que a educação básica é obrigatória somente a partir dos quatro anos de idade. 
Réplica à fl. 90 - verso. 
O pedido de antecipação de tutela foi deferido nos termos da decisão de fls. 92/94. Contra a decisão não foi interposto recurso. 
À fl. 101, o Distrito Federal sustenta a perda do objeto da demanda, ao argumento de que a foi firmado convênio entre a Secretaria da Educação e Creche Cruz da Malta com o fim oferecer de 384 vagas para crianças de 0 a 5 anos de idade. 
O Ministério Público oficia pela procedência do pedido às fls. 124/132.
É o relatório. Decido.
O pedido comporta julgamento antecipado, eis que a matéria é unicamente de direito, conforme a disposição inserta no artigo 330, inciso I, do Código de Processo Civil. 
Preliminarmente, o réu alega a perda superveniente do interesse de agir, considerando a realização de convênio entre a Secretaria de Educação do Distrito Federal e a Sociedade Cruz de Malta oferecendo 384 vagas em creche para crianças de 0 a 5 anos de idade. 
Destaco que a decisão interlocutória depende de confirmação por sentença de mérito, sendo certo que o fato de a autora ter sido matriculada em creche conveniada à Secretaria de Educação não importa no esvaziamento do objeto da ação. Ademais, a criação de vagas por meio de convênio não é suficiente para garantir a matrícula da autora na instituição. Ora, em análise dos autos, observo que o indigitado convênio foi firmado em data anterior à propositura da presente demanda, e mesmo assim a autora não teve o requerimento de matrícula atendido - fls. 105/115. 
Portanto, rejeito a questão preliminar atinente à perda superveniente do interesse de agir. 
Presentes os pressupostos processuais e as condições da ação, passo ao exame do mérito. 
A controvérsia exposta nos presentes autos consiste em analisar a obrigação do Estado de providenciar a matrícula de crianças em creches, com fundamento nas disposições da Constituição Federal e do Estatuto da Criança e do Adolescente. 
A Constituição Federal, em seu artigo 208, inciso IV, dispõe que o dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia, dentre outras, de fornecer ensino infantil em creches e pré-escolas a crianças com até cinco anos de idade. 
As disposições do art. 54, IV, do ECA e o art. 4º, inciso IV, da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, também estabelecem o dever do Estado de assegurar o atendimento em creche e pré-escola a crianças de 0 a 6 anos de idade. 
Reproduzindo a garantia constitucional, o Distrito Federal, em sua Lei Orgânica, assegura o atendimento de criança de 0 a 6 anos de idade, confira-se o teor da disposição legal: 
“Art. 223. O Distrito Federal garantirá atendimento em creches e pré-escolas a crianças de zero a seis anos de idade, na forma da lei.
§ 1º O Poder Público garantirá atendimento, em creche comum, a crianças portadoras de deficiência, oferecendo recursos e serviços especializados de educação e reabilitação.
§ 2º O sistema de creches e pré-escolas será custeado pelo Poder Público, mediante dotação
orçamentária própria, nos termos da lei.”
O Supremo Tribunal Federal já decidiu que “a educação é um direito fundamental e indisponível dos indivíduos. É dever do Estado propiciar meios que viabilizem o seu exercício. Dever a ele imposto pelo preceito veiculado pelo art. 205 da Constituição do Brasil. A omissão da Administração importa afronta à Constituição” (STF - RE 594.018-AgR, Rel. Min. Eros Grau, j. 26-6-09, 2ª T., DJE, de 7-8-09). 
Do exposto até aqui, considerando as disposições legais supracitadas e o direito fundamental à educação, não se mostra razoável a resistência do réu em providenciar a matrícula da autora em creche pública ou conveniada, haja vista que se obrigou no seu estatuto fundamental a garantir o atendimento, o qual não pode ser comprometido ou limitado pela discricionariedade dos entes públicos. 
Aliás, este é o entendimento esposado pelo Egrégio Supremo Tribunal Federal, confira-se a seguinte ementa: 
“E M E N T A: CRIANÇA DE ATÉ CINCO ANOS DE IDADE - ATENDIMENTO EM CRECHE E EM PRÉ-ESCOLA - SENTENÇA QUE OBRIGA O MUNICÍPIO DE SÃO PAULO A MATRICULAR CRIANÇAS EM UNIDADES DE ENSINO INFANTIL PRÓXIMAS DE SUA RESIDÊNCIA OU DO ENDEREÇO DE TRABALHO DE SEUS RESPONSÁVEIS LEGAIS, SOB PENA DE MULTA DIÁRIA POR CRIANÇA NÃO ATENDIDA - LEGITIMIDADE JURÍDICA DA UTILIZAÇÃO DAS “ASTREINTES” CONTRA O PODER PÚBLICO - DOUTRINA - JURISPRUDÊNCIA - OBRIGAÇÃO ESTATAL DE RESPEITAR OS DIREITOS DAS CRIANÇAS - EDUCAÇÃO INFANTIL - DIREITO ASSEGURADO PELO PRÓPRIO TEXTO CONSTITUCIONAL (CF, ART. 208, IV, NA REDAÇÃO DADA PELA EC Nº 53/2006) - COMPREENSÃO GLOBAL DO DIREITO CONSTITUCIONAL À EDUCAÇÃO - DEVER JURÍDICO CUJA EXECUÇÃO SE IMPÕE AO PODER PÚBLICO, NOTADAMENTE AO MUNICÍPIO (CF, ART. 211, § 2º) - LEGITIMIDADE CONSTITUCIONAL DA INTERVENÇÃO DO PODER JUDICIÁRIO EM CASO DE OMISSÃO ESTATAL NA IMPLEMENTAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS PREVISTAS NA CONSTITUIÇÃO - INOCORRÊNCIA DE TRANSGRESSÃO AO POSTULADO DA SEPARAÇÃO DE PODERES - PROTEÇÃO JUDICIAL DE DIREITOS SOCIAIS, ESCASSEZ DE RECURSOS E A QUESTÃO DAS “ESCOLHAS TRÁGICAS” - RESERVA DO POSSÍVEL, MÍNIMO EXISTENCIAL, DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E VEDAÇÃO DO RETROCESSO SOCIAL - PRETENDIDA EXONERAÇÃO DO ENCARGO CONSTITUCIONAL POR EFEITO DE SUPERVENIÊNCIA DE NOVA REALIDADE FÁTICA - QUESTÃO QUE SEQUER FOI SUSCITADA NAS RAZÕES DE RECURSO EXTRAORDINÁRIO -PRINCÍPIO “JURA NOVIT CURIA” - INVOCAÇÃO EM SEDE DE APELO EXTREMO - IMPOSSIBILIDADE - RECURSO DE AGRAVO IMPROVIDO. POLÍTICAS PÚBLICAS,OMISSÃO ESTATAL INJUSTIFICÁVEL E INTERVENÇÃO CONCRETIZADORA DO PODER JUDICIÁRIO EM TEMA DE EDUCAÇÃO INFANTIL: POSSIBILIDADE CONSTITUCIONAL. - A educação infantil representa prerrogativa constitucional indisponível, que, deferida às crianças, a estas assegura, para efeito de seu desenvolvimento integral, e como primeira etapa do processo de educação básica, o atendimento em creche e o acesso à pré-escola (CF, art. 208, IV). - Essa prerrogativa jurídica, em conseqüência, impõe, ao Estado, por efeito da alta significação social de que se reveste a educação infantil, a obrigação constitucional de criar condições objetivas que possibilitem, de maneira concreta, em favor das “crianças até 5 (cinco) anos de idade” (CF, art. 208, IV), o efetivo acesso e atendimento em creches e unidades de pré-escola, sob pena de configurar-se inaceitável omissão governamental, apta a frustrar, injustamente, por inércia, o integral adimplemento, pelo Poder Público, de prestação estatal que lhe impôs o próprio texto da Constituição Federal. - A educação infantil, por qualificar-se como direito fundamental de toda criança, não se expõe, em seu processo de concretização, a avaliações meramente discricionárias da Administração Pública nem se subordina a razões de puro pragmatismo governamental. - Os Municípios - que atuarão, prioritariamente, no ensino fundamental e na educação infantil (CF, art. 211, § 2º) - não poderão demitir-se do mandato constitucional, juridicamente vinculante, que lhes foi outorgado pelo art. 208, IV, da Lei Fundamental da República, e que representa fator de limitação da discricionariedade político-administrativa dos entes municipais, cujas opções, tratando-se do atendimento das crianças em creche (CF, art. 208, IV), não podem ser exercidas de modo a comprometer, com apoio em juízo de simples conveniência ou de mera oportunidade, a eficácia desse direito básico de índole social. - Embora inquestionável que resida, primariamente, nos Poderes Legislativo e Executivo, a prerrogativa de formular e executar políticas públicas, revela-se possível, no entanto, ao Poder Judiciário, ainda que em bases excepcionais, determinar, especialmente nas hipóteses de políticas públicas definidas pela própria Constituição, sejam estas implementadas, sempre que os órgãos estatais competentes, por descumprirem os encargos político- -jurídicos que sobre eles incidem em caráter impositivo, vierem a comprometer, com a sua omissão, a eficácia e a integridade de direitos sociais e culturais impregnados de estatura constitucional. DESCUMPRIMENTO DE POLÍTICAS PÚBLICAS DEFINIDAS EM SEDE CONSTITUCIONAL: HIPÓTESE LEGITIMADORA DE INTERVENÇÃO JURISDICIONAL. - O Poder Público - quando se abstém de cumprir, total ou parcialmente, o dever de implementar políticas públicas definidas no próprio texto constitucional - transgride, com esse comportamento negativo, a própria integridade da Lei Fundamental, estimulando, no âmbito do Estado, o preocupante fenômeno da erosão da consciência constitucional. Precedentes: ADI 1.484/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO, v.g.. - A inércia estatal em adimplir as imposições constitucionais traduz inaceitável gesto de desprezo pela autoridade da Constituição e configura, por isso mesmo, comportamento que deve ser evitado. É que nada se revela mais nocivo, perigoso e ilegítimo do que elaborar uma Constituição, sem a vontade de fazê-la cumprir integralmente, ou, então, de apenas executá-la com o propósito subalterno de torná-la aplicável somente nos pontos que se mostrarem ajustados à conveniência e aos desígnios dos governantes, em detrimento dos interesses maiores dos cidadãos. - A intervenção do Poder Judiciário, em tema de implementação de políticas governamentais previstas e determinadas no texto constitucional, notadamente na área da educação infantil (RTJ 199/1219-1220), objetiva neutralizar os efeitos lesivos e perversos, que, provocados pela omissão estatal, nada mais traduzem senão inaceitável insulto a direitos básicos que a própria Constituição da República assegura à generalidade das pessoas. Precedentes. A CONTROVÉRSIA PERTINENTE À “RESERVA DO POSSÍVEL” E A INTANGIBILIDADE DO MÍNIMO EXISTENCIAL: A QUESTÃO DAS “ESCOLHAS TRÁGICAS”. - A destinação de recursos públicos, sempre tão dramaticamente escassos, faz instaurar situações de conflito, quer com a execução de políticas públicas definidas no texto constitucional, quer, também, com a própria implementação de direitos sociais assegurados pela Constituição da República, daí resultando contextos de antagonismo que impõem, ao Estado, o encargo de superá-los mediante opções por determinados valores, em detrimento de outros igualmente relevantes, compelindo, o Poder Público, em face dessa relação dilemática, causada pela insuficiência de disponibilidade financeira e orçamentária, a proceder a verdadeiras “escolhas trágicas”, em decisão governamental cujo parâmetro, fundado na dignidade da pessoa humana, deverá ter em perspectiva a intangibilidade do mínimo existencial, em ordem a conferir real efetividade às normas programáticas positivadas na própria Lei Fundamental. Magistério da doutrina. - A cláusula da reserva do possível - que não pode ser invocada, pelo Poder Público, com o propósito de fraudar, de frustrar e de inviabilizar a implementação de políticas públicas definidas na própria Constituição - encontra insuperável limitação na garantia constitucional do mínimo existencial, que representa, no contexto de nosso ordenamento positivo, emanação direta do postulado da essencial dignidade da pessoa humana. Doutrina. Precedentes. - A noção de “mínimo existencial”, que resulta, por implicitude, de determinados preceitos constitucionais (CF, art. 1º, III, e art. 3º, III), compreende um complexo de prerrogativas cuja concretização revela-se capaz de garantir condições adequadas de existência digna, em ordem a assegurar, à pessoa, acesso efetivo ao direito geral de liberdade e, também, a prestações positivas originárias do Estado, viabilizadoras da plena fruição de direitos sociais básicos, tais como o direito à educação, o direito à proteção integral da criança e do adolescente, o direito à saúde, o direito à assistência social, o direito à moradia, o direito à alimentação e o direito à segurança. Declaração Universal dos Direitos da Pessoa Humana, de 1948 (Artigo XXV). A PROIBIÇÃO DO RETROCESSO SOCIAL COMO OBSTÁCULO CONSTITUCIONAL À FRUSTRAÇÃO E AO INADIMPLEMENTO, PELO PODER PÚBLICO, DE DIREITOS PRESTACIONAIS. - O princípio da proibição do retrocesso impede, em tema de direitos fundamentais de caráter social, que sejam desconstituídas as conquistas já alcançadas pelo cidadão ou pela formação social em que ele vive. - A cláusula que veda o retrocesso em matéria de direitos a prestações positivas do Estado (como o direito à educação, o direito à saúde ou o direito à segurança pública, v.g.) traduz, no processo de efetivação desses direitos fundamentais individuais ou coletivos, obstáculo a que os níveis de concretização de tais prerrogativas, uma vez atingidos, venham a ser ulteriormente reduzidos ou suprimidos pelo Estado. Doutrina. Em conseqüência desse princípio, o Estado, após haver reconhecido os direitos prestacionais, assume o dever não só de torná-los efetivos, mas, também, se obriga, sob pena de transgressão ao texto constitucional, a preservá-los, abstendo-se de frustrar - mediante supressão total ou parcial - os direitos sociais já concretizados. LEGITIMIDADE JURÍDICA DA IMPOSIÇÃO, AO PODER PÚBLICO, DAS “ASTREINTES”. - Inexiste obstáculo jurídico-processual à utilização, contra entidades de direito público, da multa cominatória prevista no § 5º do art. 461 do CPC. A “astreinte” - que se reveste de função coercitiva - tem por finalidade específica compelir, legitimamente, o devedor, mesmo que se cuide do Poder Público, a cumprir o preceito, tal como definido no ato sentencial. Doutrina. Jurisprudência.”(ARE 639337 AgR, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Segunda Turma, julgado em 23/08/2011, DJe-177 DIVULG 14-09-2011 PUBLIC 15-09-2011 EMENT VOL-02587-01PP-00125) 
Assim, deve ser garantida a matrícula da criança de 0 a 6 anos, não se sustentando a alegação que a educação infantil só é obrigatória a partir dos 4 anos de idade. Com efeito, o direito público subjetivo à educação (art. 208, § 1º, da CF) deve abranger a educação escolar em toda a sua plenitude, nos termos das disposições legais transcritas, assegurando-se a educação infantil em creches e pré-escolas. 
O deferimento do pedido inicial visa preservar a dignidade da autora, impondo ao Distrito Federal a responsabilidade social de atender as demandas educacionais de acordo com as diretrizes estabelecidas no texto constitucional para todo o Estado brasileiro. Incumbe ao Judiciário, nesse contexto, a atuação corretiva no sentido de impedir qualquer tipo de prejuízo à autora, considerando a sua exposição, bem como a de sua família, às dificuldades e despesas decorrentes da necessidade de guarda no horário de trabalho de seus genitores. 
Destaque-se que a matrícula da criança em creche além de possibilitar o desenvolvimento social e intelectual da criança, garante à proteção da entidade familiar, na medida em que os pais não podem abrir mão do trabalho que lhes garante, muitas vezes, o mínimo para sobrevivência. Como se verifica nos autos, os genitores da autora são empregados e não possuem condições de abandonarem seus empregos, ou arcar com os custos de uma escola particular, sob pena de grande redução na renda familiar, prejudicando diretamente a criança. 
Ressalto, ainda, que a escassez de recursos públicos não pode servir de fundamento genérico para descumprimento do estabelecido na Lei Maior. Na verdade, em se tratando de direitos intimamente ligados à dignidade da pessoa humana, não é possível que a concretização do direito fique ao alvedrio do administrador. Por outro lado, mesmo que se alegue o descumprimento da norma constitucional por falta de recursos financeiros e não pela falta de investimentos em atividades prioritárias, como a educação infantil, deve o Poder Público demonstrar a real insuficiência de recursos, não sendo admitida, repise-se, a alegação genérica para a omissão estatal na efetivação dos direitos fundamentais. 
Por todo o exposto, a procedência do pedido é medida que se impõe. 
\Pauta
Diante dos argumentos expendidos, julgo PROCEDENTE O PEDIDO, para determinar ao réu que providencie a matrícula da autora em creche apta a recebê-la na rede pública de ensino ou em instituição conveniada, confirmando a antecipação de tutela anteriormente deferida. 
Declaro resolvido o mérito da demanda, com fundamento no art. 269, inciso I, do Código de Processo Civil.
Sem custas, ante a isenção legal a beneficiar o réu. Sem condenação em honorários advocatícios, uma vez que a parte autora é assistida pela Defensoria Pública, que é integralmente custeada pelo réu.
Na forma do artigo 475, inciso I, do Código de Processo Civil, decisão sujeita ao reexame necessário pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal.
Com o retorno, e após o trânsito em julgado, não havendo outros requerimentos, dê-se baixa e arquivem-se os autos.
Sentença registrada eletronicamente. Publique-se. Registre-se.

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