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DIREITO DE FAMILIA I - PROF. CELSO SUZUKI AULA 02 - DIREITO DE FAMÍLIA: DEFINIÇÕES, FONTES, CONTEÚDO, PRINCÍPIOS, NATUREZA, IMPORTÂNCIA, ESTADO DE FAMÍLIA, ENTIDADES FAMILIARES LEGISLADAS E NÃO LEGISLADAS (CONTORNOS CONSTITUCIONAIS) 1. NOÇÕES GERAIS SOBRE A FAMILIA “Família é uma realidade sociológica e constitui a base do Estado, o núcleo fundamental em que repousa toda a organização social. Em qualquer aspecto em que é considerada, aparece a família como uma instituição necessária e sagrada, que vai merecer a mais ampla proteção do Estado.”(GONÇALVES) “Família em sentido genérico e biológico é o conjunto de pessoas que descendem de tronco ancestral comum; em senso estrito, a família se restringe ao grupo formado pelos pais e filhos; e em sentido universal é considerada a célula social por excelência.”(CAIO MARIO) “Uma reunião de pessoas descendentes de um tronco ancestral comum, incluídas aí também as pessoas ligadas pelo casamento ou pela união estável, juntamente com seus parentes sucessíveis, ainda que não descendentes”(CEZAR FIUZA) “O pluralismo das relações familiares – outro vértice da nova ordem jurídica – ocasionou mudanças na própria estrutura da sociedade. Rompeu-se o aprisionamento da família nos moldes restritos do casamento, mudando profundamente o conceito de família. A consagração da igualdade, o reconhecimento da existência de outras estruturas de convívio, a liberdade de reconhecer filhos havidos fora do casamento operaram verdadeira transformação na família. Enquanto anteriormente o casamento era o março identificador da entidade familiar, agora o que prepondera para o reconhecimento desta entidade é o vínculo afetivo. Assim, o reconhecimento da existência de um núcleo familiar não se restringe mais aos referenciais casamento, gênero e procriação.” (M.BERENICE DIAS) A família é um conjunto de vínculos biológicos, sociológicos e jurídicos altamente protegida pelo Direito. DIREITO DE FAMILIA I - PROF. CELSO SUZUKI 2. O DIREITO DE FAMÍLIA: DEFINIÇÃO, CARACTERISTICAS E O “ESTADO DE FAMÍLIA” “O direito de família nasce do fato de uma pessoa pertencer à determinada família, na qualidade de cônjuge, pai, filho, ou seja, como membro constituinte de uma família. O que prevalece no direito de família é seu conteúdo personalíssimo, focado numa finalidade ética e social, direito esse que se violado poderá implicar na suspensão ou extinção do poder familiar, na dissolução da sociedade conjugal, ou seja, propriamente nos direitos exercidos pelos membros de uma família na sociedade. (GONÇALVES)”. “O direito das famílias - por estar voltado à tutela da pessoa – é personalíssimo, adere indelevelmente à personalidade da pessoa em virtude de sua posição na família durante toda a vida. Em sua maioria é composto de direitos intransmissíveis, irrevogáveis, irrenunciáveis e indisponíveis.” (M.BERENICE DIAS). “O Direito de Família é o conjunto de normas de ordem pública e privada, que tem como objeto de estudo os seguintes institutos: casamento, união estável, parentesco, alimentos, filiação, bem de família, guarda, tutela e curatela.” (TARTUCE) O Direito de Família estabelece as regras a partir dos quais são criados direitos subjetivos em favor dos membros da família/entidade familiar, uns em relação aos outros, direitos esses denominados em conjunto “estado de família” “O estado de família é um dos atributos da personalidade das pessoas naturais. É atributo personalíssimo. É conferido pelo vínculo que une uma pessoa às outras: casado, solteiro. Também pode ser considerado sob o aspecto negativo: ausência de vínculo conjugal, familiar, filho de pais desconhecidos. Esses vínculos jurídicos familiares são de duas ordens: vínculo conjugal, que une a pessoa com quem se casou, e vínculo de parentesco, que a une com as pessoas de quem descende (parentesco em linha reta), com as que descendem de um ancestral comum (parentesco colateral), com os parentes do outro cônjuge (parentesco por afinidade), além de com o parentesco adotivo. Desse estado de família decorem deveres e direitos disciplinados pelo direito de família com reflexos em todos os campos jurídicos (processual, penal, tributário, previdenciário etc.”(MARIA AP. BASTOS) “A maioria dos direitos estabelecidos pelas normas de Direito de Família são irrenunciáveis, imprescritíveis, irrevogáveis e indisponíveis. A exceção são os direitos de ordem estritamente patrimonial, nos limites do autorizado em lei.A terceira característica é que os direitos são, em maioria, personalíssimos, e, por isso, intransferíveis e intransmissíveis por herança. Assim são os direitos de conteúdo subjetivo, pessoal, não patrimonial, vinculados à personalidade da pessoa em DIREITO DE FAMILIA I - PROF. CELSO SUZUKI razão de sua posição familiar. Como exemplos, o poder familiar e o estado de filiação.” .”(MARIA AP. BASTOS) O Código Civil dividiu o Direito de Família em dois grandes gêneros : o Direito Pessoal, ligado aos temas das entidades familiares, filiação e relações de parentesco em geral, e o Direito Patrimonial, tratando dos regimes de bens, pactos nupciais e alimentos. 3. O DIREITO DE FAMÍLIA: PRINCIPIOS "A base constitucional da disciplina legal da família é inegável. A Constituição Federal, como é da tradição brasileira, mais uma vez veio a atender aos anseios sociais no sentido de se modernizar, adequando-se à realidade atual, sem, no entanto deixar de adotar como norma principiológica o reconhecimento da família e do casamento como fundamentais no contexto nacional, merecedores de proteção do Estado que, ao contrário do que muitos pregam, deve envidar esforços no sentido de estimular a vida familiar saudável, responsável, independentemente da forma de sua constituição, sempre tendo como norte a busca do engrandecimento moral, material, cultural do organismo familiar e de cada um dos seus integrantes."(CALMON GAMA) • PRINCÍPIO DE PROTEÇÃO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA (ART. 1º, INC. III, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988) • PRINCÍPIO DA SOLIDARIEDADE FAMILIAR (ART. 3º, INC. I, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988) • PRINCÍPIO DA IGUALDADE ENTRE FILHOS (ART. 227, § 6º, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988, E ART. 1.596 DO CÓDIGO CIVIL) • PRINCÍPIO DA IGUALDADE ENTRE CÔNJUGES E COMPANHEIROS (ART. 226, § 5º, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL, E ART. 1.511 DO CÓDIGO CIVIL) • PRINCÍPIO DA IGUALDADE NA CHEFIA FAMILIAR (ARTS. 226, § 5º, E 227, § 7º, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988, E ARTS. 1.566, INCS. III E IV, 1.631 E 1.634 DO CÓDIGO CIVIL) • PRINCÍPIO DA NÃO-INTERVENÇÃO OU DA LIBERDADE (ART. 1.513 DO CÓDIGO CIVIL) • PRINCÍPIO DO MELHOR INTERESSE DA CRIANÇA (ART. 227, CAPUT, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988, E ARTS. 1.583 E 1.584 DO CÓDIGO CIVIL) • PRINCÍPIO DA AFETIVIDADE DIREITO DE FAMILIA I - PROF. CELSO SUZUKI • PRINCÍPIO DA FUNÇÃO SOCIAL DA FAMÍLIA 4. ENTIDADE FAMILIAR E FAMILIA CF/88 - Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. (...) § 3º. Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento. § 4º. Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes. A jurisprudência recente do STF e do STJ equipara os conceitos de “família” e “entidade familiar” ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL(ADPF). UNIÃO ESTÁVEL. NORMAÇÃO CONSTITUCIONAL REFERIDA A HOMEM E MULHER, MAS APENAS PARA ESPECIAL PROTEÇÃO DESTA ÚLTIMA. FOCADO PROPÓSITO CONSTITUCIONAL DE ESTABELECER RELAÇÕES JURÍDICAS HORIZONTAIS OU SEM HIERARQUIA ENTRE AS DUAS TIPOLOGIAS DO GÊNERO HUMANO. IDENTIDADE CONSTITUCIONAL DOS CONCEITOS DE “ ENTIDADE FAMILIAR” E “ FAMÍLIA. (....) Não há como fazer rolar a cabeça do art. 226 no patíbulo do seu parágrafo terceiro. Dispositivo que, ao utilizar da terminologia “ entidade familiar” , não pretendeu diferenciá-la da “ família” . Inexistência de hierarquia ou diferença de qualidade jurídica entre as duas formas de constituição de um novo e autonomizado núcleo doméstico. Emprego do fraseado “ entidade familiar” como sinônimo perfeito de família.(STF - ADPF: 132 RJ , Relator: Min. AYRES BRITTO, Data de Julgamento: 05/05/2011, Tribunal Pleno, Data de Publicação: DJe-198 DIVULG 13-10-2011 PUBLIC 14-10- 2011 EMENT VOL-02607-01 PP-00001) RECURSO ESPECIAL. DIREITO CIVIL. EXECUÇÃO. EMBARGOS DE TERCEIROS.PENHORA INCIDENTE SOBRE IMÓVEL NO QUAL RESIDEM FILHAS DO EXECUTADO.BEM DE FAMÍLIA. CONCEITO AMPLO DE ENTIDADE FAMILIAR.RESTABELECIMENTO DA SENTENÇA. (...) 2. A impenhorabilidade do bem de família visa resguardar não somente o casal, mas o sentido amplo de entidade familiar. Assim, no caso de separação dos membros da família, como na hipótese em comento, a entidade familiar, para efeitos de impenhorabilidade de bem, não se extingue, ao revés, surge em duplicidade: uma composta pelos cônjuges e outra composta pelas filhas de um dos cônjuges.(STJ - REsp: 1126173 MG 2009/0041411-3, Relator: Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, Data de Julgamento: 09/04/2013, T3 - TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe 12/04/2013) DIREITO DE FAMILIA I - PROF. CELSO SUZUKI ENTIDADES FAMILIARES NO DIREITO BRASILEIRO LEGISLADAS NÃO - LEGISLADAS CASAMENTO UNIÃO ESTÁVEL FAMÍLIA MONOPARENTAL CONCUBINATO FAMÍLIA ANAPARENTAL(REsp 1.217.415) FAMÍLIA RECONSTITUÍDA OU PLURIPARENTAL FAMILIA PARALELA FAMILIA EUDEMONISTA POLIAMOR - “O poliamorismo ou poliamor, teoria psicológica que começa a descortinar-se para o Direito, admite a possibilidade de coexistirem duas ou mais relações afetivas paralelas, em que os seus partícipes conhecem e aceitam uns aos outros, em uma relação múltipla e aberta.”(PABLO STOLZE GAGLIANO) EUDEMONISMO - “Surgiu um novo nome para essa nova tendência de identificar a família pelo seu envolvimento afetivo: a família eudemonista, que busca a felicidade individual vivendo um processo de emancipação de seus membros. O eudemonismo é a doutrina que enfatiza o sentido de busca pelo sujeito de sua felicidade. A absorção do princípio eudemonista pelo ordenamento altera o sentido da proteção jurídica da família, deslocando-o da instituição para o sujeito, como se infere da primeira parte do § 8º do art. 226 da CF: o Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos componentes que a integram.”(M. BERENICE DIAS) “O novo modelo da família funda-se sobre os pilares da repersonalização, da afetividade, da pluralidade e do eudonismo, impingindo nova roupagem axiológico ao direito de família. Agora, a tônica reside no indivíduo, e não mais nos bens ou coisas que guarnecem a relação familiar. A família-instituição foi substituída pela família instrumento, ou seja, ela existe e contribui tanto para o desenvolvimento da personalidade de seus integrantes como para o crescimento e formação da própria sociedade, justificando, com isso, a sua proteção pelo Estado”.(MARIA BERENICE DIAS) DIREITO DE FAMILIA I - PROF. CELSO SUZUKI A caracterização da proteção jurídica da entidade familiar no Direito contemporâneo conforme doutrina deve pautar-se pelo chamado “caráter instrumental da família” “(A família), tendente a promover o desenvolvimento da personalidade de seus membros, reafirma uma nova feição, agora fundada no afeto. Seu novo balizamento evidencia um espaço privilegiado para que os seres humanos se complementem e se completem. Abandona-se, assim, uma visão institucionalizada, pela qual a família era, apenas, uma célula social fundamental, para que seja compreendida como núcleo privilegiado para o desenvolvimento da personalidade humana. Ou seja, afirma-se um caráter instrumental, sendo a família o meio de promoção da pessoa humana e não a finalidade almejada. Outrossim, deixando a família de ser compreendida como núcleo econômico e reprodutivo (entidade de produção), avança-se para uma compreensão socioafetiva (como expressão de uma unidade de afeto e entre-ajuda), e surgem, naturalmente, novas representações sociais, novos arranjos familiares. Abandona-se o casamento como ponto referencial necessário, para buscar a proteção e o desenvolvimento da personalidade do homem. É a busca da dignidade humana, sobrepujando valores meramente patrimoniais.”(ROOSENVALD)
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