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ENADE COMENTADO 2008 Geografia Chanceler Dom Dadeus Grings Reitor Joaquim Clotet Vice-Reitor Evilázio Teixeira Conselho Editorial Ana Maria Lisboa de Mello Bettina Steren dos Santos Eduardo Campos Pellanda Elaine Turk Faria Érico João Hammes Gilberto Keller de Andrade Helenita Rosa Franco Ir. Armando Bortolini Jane Rita Caetano da Silveira Jorge Luis Nicolas Audy – Presidente Jurandir Malerba Lauro Kopper Filho Luciano Klöckner Marília Costa Morosini Nuncia Maria S. de Constantino Renato Tetelbom Stein Ruth Maria Chittó Gauer EDIPUCRS Jerônimo Carlos Santos Braga – Diretor Jorge Campos da Costa – Editor-Chefe Ana Regina de Moraes Soster Teresinha Maria Furlanetto Marques (Organizadoras) ENADE COMENTADO 2008 Geografia Porto Alegre 2011 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Ficha Catalográfica elaborada pelo Setor de Tratamento da Informação da BC-PUCRS. EDIPUCRS – Editora Universitária da PUCRS Av. Ipiranga, 6681 – Prédio 33 Caixa Postal 1429 – CEP 90619-900 Porto Alegre – RS – Brasil Fone/fax: (51) 3320 3711 e-mail: edipucrs@pucrs.br - www.pucrs.br/edipucrs © EDIPUCRS, 2011 CAPA Rodrigo Valls REVISÃO TEXTUAL Patrícia Aragão EDITORAÇÃO ELETRÔNICA Gabriela Viale Pereira Edição revisada segundo o novo Acordo Ortográfico. Questões retiradas da prova do ENADE 2008 da Geografia. E56 ENADE comentado 2008 [recurso eletrônico] : geografia / Ana Regina de Moraes Soster, Teresinha Maria Furlanetto Marques (Organizadoras). – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : EDIPUCRS, 2011. 94 p. Sistema requerido: Adobe Acrobat Reader Modo de Acesso: <http://www.pucrs.br/edipucrs> ISBN 978-85-397-0118-6 (on-line) 1. Ensino Superior – Brasil – Avaliação. 2. Exame Nacional de Cursos (Educação). 3. Geografia – Ensino Superior. I. Soster, Ana Regina de Moraes. II. Marques, Teresinha Maria Furlanetto. CDD 378.81 TODOS OS DIREITOS RESERVADOS. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo, especialmente por sistemas gráficos, microfílmicos, fotográficos, reprográficos, fonográficos, videográficos. Vedada a memorização e/ou a recuperação total ou parcial, bem como a inclusão de qualquer parte desta obra em qualquer sistema de processamento de dados. Essas proibições aplicam-se também às características gráficas da obra e à sua editoração. A violação dos direitos autorais é punível como crime (art. 184 e parágrafos, do Código Penal), com pena de prisão e multa, conjuntamente com busca e apreensão e indenizações diversas (arts. 101 a 110 da Lei 9.610, de 19.02.1998, Lei dos direitos Autorais). SUMÁRIO APRESENTAÇÃO ..................................................................................................... 7 Ana Regina de Moraes Soster e Teresinha Maria Furlanetto Marques COMPONENTE ESPECÍFICO − QUESTÕES OBJETIVAS QUESTÃO 11 ........................................................................................................... 10 Antônio Carlos Castrogiovanni QUESTÃO 12 ........................................................................................................... 12 Teresinha Maria Furlanetto Marques QUESTÃO 13 ........................................................................................................... 14 Teresinha Maria Furlanetto Marques QUESTÃO 14 ........................................................................................................... 17 Roberto Heemann QUESTÃO 15 ........................................................................................................... 21 Ana Regina de Moraes Soster e Teresinha Maria Furlanetto Marques QUESTÃO 16 ........................................................................................................... 24 Roberto Heemann QUESTÃO 17 ........................................................................................................... 26 João Marcelo Ketzer QUESTÃO 18 ........................................................................................................... 29 Roselane Zordan Costella QUESTÃO 19 ........................................................................................................... 32 Teresinha Maria Furlanetto Marques QUESTÃO 20 ........................................................................................................... 35 Ana Regina de Moraes Soster e Teresinha Furlanetto Marques QUESTÃO 21 ........................................................................................................... 37 Teresinha Maria Furlanetto Marques QUESTÃO 22 ........................................................................................................... 40 Ana Regina de Moraes Soster e Teresinha Maria Furlanetto Marques QUESTÃO 23 ........................................................................................................... 42 Ana Regina de Moraes Soster QUESTÃO 24 ........................................................................................................... 44 Ana Regina de Moraes Soster QUESTÃO 25 ........................................................................................................... 47 Ana Regina de Moraes Soster QUESTÃO 26 ........................................................................................................... 51 Ana Regina de Moraes Soster QUESTÃO 27 ........................................................................................................... 55 Ana Regina de Moraes Soster e Teresinha Maria Furlanetto Marques QUESTÃO 28 ........................................................................................................... 57 Ana Regina de Moraes Soster e Teresinha Maria Furlanetto Marques QUESTÃO 29 ........................................................................................................... 59 Roberto Heemann QUESTÃO 30 ........................................................................................................... 62 Ana Regina de Moraes Soster e Teresinha Maria Furlanetto Marques QUESTÃO 31 ........................................................................................................... 64 Ana Regina de Moraes Soster e Teresinha Maria Furlanetto Marques QUESTÃO 32 ........................................................................................................... 67 Teresinha Maria Furlanetto Marques QUESTÃO 33 ........................................................................................................... 70 Antônio Carlos Castrogiovanni QUESTÃO 34 ........................................................................................................... 72 Regis Alexandre Lahm QUESTÃO 35 ........................................................................................................... 75 Regis Alexandre Lahm QUESTÃO 36 ........................................................................................................... 79 Regis Alexandre Lahm e Roselane Zordan Costella QUESTÃO 37 ........................................................................................................... 82 Antônio Carlos Castrogiovanni COMPONENTE ESPECÍFICO − QUESTÕES DISCURSIVAS QUESTÃO 38 – DISCURSIVA ................................................................................. 86 Roselane Zordan Costella QUESTÃO 39 – DISCURSIVA ................................................................................. 88 Antônio Carlos Castrogiovanni QUESTÃO 40 – DISCURSIVA ................................................................................. 91 João Marcelo Ketzer LISTA DE CONTRIBUINTES ...................................................................................93 ENADE Comentado 2008: Geografia 7 APRESENTAÇÃO O ENADE comentado de 2008 da prova específica de Geografia é uma realização dos professores do Curso de Geografia, da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Este trabalho teve como objetivo contribuir para a análise crítica desta prova. Os professores, ao resolverem as questões, seguiram o seguinte padrão: Tipo de Questão Gabarito Autor Comentários: Identificação dos conteúdos implicados na questão; referência a competências/habilidades envolvidas; justificativa para a alternativa correta; justificativa das razões para inadequação das demais alternativas; considerações sobre a pertinência dos conteúdos envolvidos na questão, da realidade acadêmica e profissional do estudante. Referências Bibliográficas Esta prova foi constituída de 30 questões de diversos tipos, tais como: asserção e razão, escolha simples, escolha combinada de resposta simples, questões dissertativas, além da análise de gráficos, gravuras, mapas e imagens. De um modo geral, as questões articularam mais de uma área do conhecimento geográfico, exigindo do aluno a competência leitora, a competência lógico- matemática, habilidades para estabelecer relações com as questões do cotidiano, clareza a respeito das problemáticas presentes no mundo em geral e no Brasil, em particular, análise, interpretação e resolução de problemas, incluindo-se a localização espacial. É relevante destacar que algumas questões apresentaram enunciados pouco claros, induzindo ao erro. Ao final de cada questão disponibilizou-se uma referência bibliográfica referente ao conteúdo trabalhado. 8 SOSTER, Ana Regina de M. e MARQUES, Teresinha M. F. (Orgs.) Os professores esperam que este trabalho auxilie os alunos que irão realizar a prova do ENADE 2011, contribuindo para uma reflexão dos conhecimentos construídos durante o curso. Bom trabalho! Ana Regina de Moraes Soster Teresinha Maria Furlanetto Marques COMPONENTE ESPECÍFICO QUESTÕES OBJETIVAS 10 SOSTER, Ana Regina de M. e MARQUES, Teresinha M. F. (Orgs.) QUESTÃO 11 Em 1994, Manuel Correa de Andrade escreveu acerca do processo de globalização: “o contexto da universalidade dos problemas e da mobilidade das transformações forçará o geógrafo a pensar com mais rapidez e dinamismo; a procurar adaptar e readaptar o seu pensamento e a sua reflexão cada vez que houver um desafio; a repensar a sua formação filosófica, epistemológica e ideológica e procurar atuar de forma menos corporativa, mais interdisciplinar.” Não corrobora com esse pensamento a ideia de que (A) a geografia não poderá realizar sua tarefa somente com descrições, mas terá de realizar um esforço de comparações e de generalizações que lhe permita concluir a respeito da globalização. (B) a geografia manterá o status de ciência interdisciplinar caso adote, na análise ambiental, uma abordagem geossistêmica. (C) a geografia dos naturalistas e funcionalistas deverá passar por uma modernização inegável, tornando-se mais preparada para interpretar a complexidade do espaço geográfico. (D) a geografia da racionalidade científica dominará o cenário das pesquisas, subvertendo a noção expressa pela relação homem-meio da geografia tradicional. (E) o estudo da geografia deverá optar pela compreensão da complexidade do espaço a fim de equilibrar dialeticamente a especialização com a generalidade. Tipo de Questão: escolha simples de resposta correta Gabarito: alternativa (D) Autor: Antônio Carlos Castrogiovanni Comentários: Identificação dos conteúdos implicados na questão: - Epistemologia da Geografia - História do pensamento geográfico - Metodologia Referência a competências/habilidades envolvidas: Compreender questões epistemológicas da geografia e da história do pensamento geográfico, a fim de relacioná-las em seu momento histórico, suas metodologias e suas proposições. ENADE Comentado 2008: Geografia 11 Justificativa para a alternativa D ser a correta: A questão requer a alternativa que não está de acordo com a proposta da citação, nesse caso é a alternativa D, pois esta remete a um momento do pensamento geográfico anterior à proposta feita por Manuel Correa de Andrade. Justificativa das razões para inadequação das demais alternativas: As outras quatro alternativas estão incorretas, pois todas dissertam sobre tendências do pensamento geográfico relacionadas com a ideia que Manuel Correa de Andrade propõe nesse trecho. Considerações sobre a pertinência dos conteúdos envolvidos na questão, da realidade acadêmica e profissional do estudante: Questão de importância vital para profissionais da Geografia, pois exige que o avaliado possua um conhecimento epistemológico da sua ciência e seus métodos. Além disso, demanda que seja compreendida a história do pensamento geográfico. É imprescindível que acadêmicos e profissionais da área possuam um conhecimento epistemológico de sua ciência para que compreendam as funções a serem exercidas. Referências CASTRO, Iná Elias de & outros. Explorações geográficas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998. MENDONÇA, Francisco; KOZEL, Salete (Org.). Elementos de epistemologia da geografia contemporânea. Curitiba: Editora da UFPR, 2002. MORAES, Antonio Carlos Robert. Geografia: pequena história crítica. São Paulo: Hucitec, 1999. 12 SOSTER, Ana Regina de M. e MARQUES, Teresinha M. F. (Orgs.) QUESTÃO 12 Entre os conceitos-chave da ciência geográfica, figura o de região, que, marcado por diferentes acepções conforme a época ou a corrente do pensamento geográfico, frequentemente, ocupa lugar central nos debates acadêmicos. Acerca desse conceito, assinale a opção correta. (A) Conceitualmente, região natural, neste século XXI, ainda constitui, do ponto de vista espacial, referência-chave para explicar diferenças no processo de desenvolvimento socioeconômico. (B) Nos anos 50 do século passado, prevalecia a ideia de que região corresponderia à área de ocorrência de uma mesma paisagem cultural, caracterizada, portanto, como região-paisagem, ou landscape. (C) Conceitualmente, o termo região tem sido empregado para designar uma classe de área que apresenta grande uniformidade interna e grande diferença em relação ao seu entorno. (D) Após a década de 80 do século XX, no âmbito da geografia cultural, região passou a ser entendida como organização do processo social vinculada ao modo de produção capitalista. (E) Conceitualmente, do ponto de vista da geografia crítica, a região assumiu o caráter de conjunto específico de relações culturais no qual a apropriação simbólica do espaço geográfico é determinada pelo grupo social. Tipo de Questão: escolha simples de resposta correta Gabarito: alternativa (C) Autor: Teresinha Maria Furlanetto Marques Comentários: Identificação dos conteúdos implicados na questão: O conteúdo avaliado nesta questão é trabalhado na disciplina de Geografia Regional e refere-se ao tema-chave para a ciência geográfica, que é o conceito de região e seu significado. Além disso, também considera a utilização do conceito como critério para a regionalização de áreas. Referência a competências/habilidades envolvidas: A questão exige do candidato a competência leitora e a habilidade de analisar as proposições apresentadas nas opções, relacionando-as com as diferentes ENADE Comentado 2008: Geografia 13 escolas de pensamento geográfico, que se sucederam ao longo do tempo, desde o século XIX. Cada escola de pensamentogeográfico apresenta um conceito particular de região e diferentes formas de regionalização do espaço. Justificativa para a alternativa C ser a correta: A pista para a escolha da opção correta encontra-se nas caracterizações de região, nas cinco alternativas. A resposta certa é o conceito de região baseado na geografia quantitativa, teorética ou nova geografia. Fundamentada no positivismo lógico. Segundo Correa (1986) a região é definida como um conjunto de lugares em que as diferenças internas entre esses lugares são menores do que as existentes entre eles e qualquer elemento de outro conjunto de lugares. São as técnicas matemáticas e estatísticas que possibilitam obter as diferenças e as semelhanças entre os lugares. Essa forma de individualizar regiões aboliu toda ideia de processo, de gênese, de origem. Definir regiões passa a ser um problema de aplicação eficiente da estatística. São, pois, os propósitos do pesquisador que norteiam os critérios a serem selecionados para a divisão regional (LENCIONI, 2003). Considerações sobre a pertinência dos conteúdos envolvidos na questão, da realidade acadêmica e profissional do estudante: Questão relevante para profissionais da Geografia, pois exige que o avaliado possua um conhecimento epistemológico da sua ciência e seus métodos. É imprescindível que o futuro profissional tenha o domínio do conceito de região e das matrizes do pensamento que sustentam suas diferenciações. Referências CASTRO, Iná Elias de; GOMES, Paulo César; CORRÊA, Roberto Lobato. BRASIL: Questões atuais do território. São Paulo: Bertrand-Brasil, 1996. CORRÊA, Roberto Lobato. Região e Organização espacial. São Paulo: Ática, 1986. LENCIONI, Sandra. Região e Geografia. São Paulo: Edusp, 2003. 14 SOSTER, Ana Regina de M. e MARQUES, Teresinha M. F. (Orgs.) QUESTÃO 13 “Não pensamos que a região haja desaparecido. O que esmaeceu foi a nossa capacidade de reinterpretar e de reconhecer o espaço em suas divisões e recortes atuais, desafiando-nos a exercer plenamente aquela tarefa permanente dos intelectuais, isto é, a atualização dos conceitos”, dizia Milton Santos em 1994. Em 1999, o geógrafo afirmava: “a região continua a existir, mas com um nível de complexidade jamais visto pelo homem. Agora, nenhum subespaço do planeta pode escapar ao processo conjunto de globalização e fragmentação, isto é, de individualização e regionalização”. Se existe hoje um resgate ou uma continuidade teoricamente consistente para os estudos regionais e os métodos de regionalização, ele deve pautar-se em uma reconstrução do conceito de região a partir de suas articulações com os processos de globalização. Cabe-nos, portanto, à guisa de conclusão, corroborar plenamente o pensamento de Milton Santos: devemos empreender uma atualização do conceito de região levando em consideração alguns aspectos. HAESBAERT. In: GEOgraphia, ano I, n. 1, 1999, p. 32 (com adaptações). Com base nas ideias apresentadas no texto acima, é correto afirmar que os aspectos a serem observados na atualização do conceito de região incluem I o grau de complexidade muito maior na definição dos recortes regionais, atravessados por diversos agentes sociais que atuam em múltiplas escalas; II a interação entre os elementos da natureza e os recortes espaciais definidores de ambientes uniformes; III a mutabilidade muito mais intensa, que altera mais rapidamente a coerência ou a coesão regional; IV a inserção da região em processos concomitantes de globalização e fragmentação. Estão certos apenas os itens (A) I e II. (B) I e III. (C) II e IV. (D) III e IV. (E) I, III e IV. ENADE Comentado 2008: Geografia 15 Tipo de Questão: escolha combinada de resposta correta. Gabarito: alternativa (E) Autor: Teresinha Maria Furlanetto Marques Comentários: Identificação dos conteúdos implicados na questão: O conteúdo avaliado nesta questão é trabalhado na disciplina de Geografia Regional e que tem como objetivo estudar a evolução do conceito de região e a sua aplicação em estudos regionais. É tema-chave para a ciência geográfica; além disso, o texto e as afirmativas consideram a evolução do conceito regional e a inserção desse conceito no sistema capitalista, que inclui ao mesmo tempo os processos de globalização e a fragmentação das regiões. Referência a competências/habilidades envolvidas: A questão exige do candidato a competência leitora e a habilidade de analisar o texto e o estabelecimento de relações com as afirmativas. A proposição conduz o acadêmico em busca da resposta correta. Justificativa para a alternativa E ser a correta: A pista para a escolha da opção correta encontra-se no texto de Rogério Haesbaert e nas quatro afirmativas sobre a evolução do conceito de região, ao longo do tempo. O conteúdo desta questão é trabalhado na disciplina de Geografia Regional, que tem como objetivo trabalhar a evolução do conceito de região e a sua aplicação em estudos regionais. O estudo do conceito de região é pertinente não só para os alunos da Academia como também para as escolas de ensino médio, pois os Parâmetros Curriculares Nacionais identificam a necessidade de dar atenção à discussão conceitual e explicam os conceitos como sendo ... a representação das características gerais de cada objeto pelo pensamento. Conceituar significa a ação de formular uma ideia que permita, por meio de palavras, estabelecer uma definição, uma caracterização do objeto a ser conceituado. Tal condição implica reconhecer que um conceito não é real em si, e sim uma representação desse real, construída por meio do intelecto humano (PCN, 1999). 16 SOSTER, Ana Regina de M. e MARQUES, Teresinha M. F. (Orgs.) O desenvolvimento e a aceleração do processo de globalização dão a impressão de que o mundo caminha cada vez mais para uma economia unificada, uma dinâmica cultural hegemônica, uma sociedade que só poderá ser compreendida como um processo de reprodução social global. Gomes (1995) comenta que alguns autores chegam a anunciar o fim das regiões devido à homogeneização dos espaços e à uniformização dos processos sociais. No entanto, o geógrafo Milton Santos destaca a universalidade do fenômeno da região afirmando que “nenhum subespaço do planeta pode escapar ao processo conjunto de globalização e fragmentação, isto é, individualização e regionalização” (1988, p. 64-65). As regiões são entendidas como o suporte e a condição das relações globais, sem os quais estas não se realizam. Considerações sobre a pertinência dos conteúdos envolvidos na questão, da realidade acadêmica e profissional do estudante: Como referido na questão 12 que também aborda temas da Geografia Regional, a questão é relevante para profissionais da Geografia, pois exige que o avaliado possua um conhecimento epistemológico da sua ciência e seus métodos. É imprescindível que o futuro profissional tenha o domínio do conceito de região e das matrizes do pensamento que sustentam suas diferenciações. Referências: BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: Introdução aos Parâmetros Curriculares Nacionais/Secretaria de Educação Fundamental - Brasília: MEC/SEF, 1999. GOMES, Paulo César da Costa. O conceito de região e sua discussão. In: CASTRO, Iná Elias; ______; CORREA, Roberto Lobato. Geografia: conceitos e temas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1995. LISBOA, Sarah S. A importância dos conceitos de Geografia para aprendizagem dos conteúdos escolares. Revista Ponto de Vista, Viçosa, v. 4. SANTOS, M. Metamorfoses do espaço habitado. São Paulo: HUCITEC, 1988. ENADE Comentado 2008: Geografia 17 QUESTÃO 14 Com uma área de 6.000 km2, omunicípio X apresenta inúmeras nascentes, que originam rios cristalinos, constituindo um grande potencial hídrico da região. A degradação dos ecossistemas onde estão essas nascentes seguramente causará a diminuição do volume de água do rio Y, que corta a cidade. Com base nessas informações, na análise do balanço hídrico do município X (gráfico I), considerada a média de 30 anos, bem como na variação temporal dos totais de precipitação pluvial, ao longo de seis anos, no município X, e na variação temporal da vazão do rio Y durante os mesmos seis anos (ambas no gráfico II), julgue os itens seguintes. I O período seco, no município X, diminui sensivelmente o aporte de água do rio Y, o que exige maior controle não só na distribuição como também na fiscalização dos poços artesianos, cuja proliferação poderá causar grandes danos ao abastecimento em geral, visto que, a cada perfuração realizada, diminui a pressão subterrânea que regula o fluxo da água nas nascentes. II No gráfico II pode-se observar que o potencial hídrico do rio Y acompanha a sazonalidade das chuvas e apresenta o limite de consumo de suas águas para abastecimento humano, comércio, agricultura e outros usos. O limite inferior expressa o ponto crítico de controle da demanda para se evitar colapso no sistema de abastecimento. III O potencial hidrológico do município X, ao longo do ano, apresenta-se uniforme; portanto, a disponibilidade de água para os diversos usos humanos é garantida mesmo com as intervenções humanas na região. IV O comportamento da precipitação pluvial determina a curva de vazão do rio Y, com um pequeno deslocamento no tempo, devido à dinâmica de infiltração das águas superficiais no solo até serem incorporadas ao curso d’água, como demonstrado no gráfico II. V A variabilidade temporal da precipitação pluvial no município X, representada no gráfico II, pode ser considerada baixa, característica identificável no balanço hídrico, mostrado no gráfico I. 18 SOSTER, Ana Regina de M. e MARQUES, Teresinha M. F. (Orgs.) Estão certos apenas os itens (A) I e II. (B) III e IV. (C) I, II e IV. (D) II, III e V. (E) III, IV e V. Tipo de Questão: escolha combinada de resposta correta Gabarito: alternativa (C) Autor: Roberto Heemann Comentários: Identificação dos conteúdos implicados na questão: Águas superficiais (nascentes, precipitação pluvial e balanço hídrico), águas subterrâneas (taxas de infiltração, zonas de recarga e área de influencia da bacia) e hidrogeologia. Avaliação integrada do contexto hidrológico 3D (sistema superficial e aquífero) e 4D (fator tempo – períodos secos e sazonalidade das chuvas). Referência a competências/habilidades envolvidas: Competência lógico-matemática e relacional para análise e interpretação de representações gráficas associadas a modelos de precipitação e cursos d’água. Justificativa para a alternativa C ser a correta: O item I faz referência à relação entre o período seco (município X) e a redução do aporte de água do rio Y, fato confirmado pela análise dos gráficos I e II. Com relação à segunda parte da afirmativa, “... o que exige maior controle não só na distribuição como também na fiscalização dos poços artesianos, cuja proliferação poderá causar grandes danos ao abastecimento em geral, visto que, a cada perfuração realizada, diminui a pressão subterrânea que regula o fluxo da água nas nascentes.”, ela também é verdadeira, porém é importante ressaltar que em qualquer cenário, época e contexto hidrogeológico o controle e a fiscalização de poços são fundamentais. O item II está correto porque, por meio da interpretação dos gráficos I e II, se confirma que o potencial hídrico do rio Y acompanha a sazonalidade das chuvas e apresenta o limite de consumo de suas águas. O limite inferior (período de maio a ENADE Comentado 2008: Geografia 19 setembro) expressa o ponto crítico de controle da demanda para se evitar uma potencial situação de colapso no sistema de abastecimento. O item IV é verdadeiro, pois, por meio da interpretação do gráfico II, o comportamento da precipitação pluvial está relacionado com a curva de vazão do rio Y, com um pequeno deslocamento no tempo, devido à dinâmica de infiltração das águas superficiais no solo (e nos demais horizontes e substrato rochoso) até serem incorporadas ao curso d’água. Justificativa das razões para inadequação das demais alternativas: O item III não é correto, pois o potencial hidrológico do município X, ao longo do ano, não é uniforme; portanto, a disponibilidade de água para os diversos usos humanos depende das taxas de precipitação, vazões, balanço hídrico e do monitoramento e da fiscalização (entre outros fatores), considerando-se os limites da bacia hidrográfica em questão. O item V não é verdadeiro, pois a variabilidade temporal da precipitação pluvial no município X (gráfico II) não é baixa, variando até valores >350 mm. Também é importante apontar que o balanço hídrico considera a variação do volume de água que entra (fluxos positivos – precipitação) e a saída de água (fluxos negativos – evaporação e descarga) de uma determinada área durante um intervalo de tempo específico, representando a variação no armazenamento. Considerações sobre a pertinência dos conteúdos envolvidos na questão, da realidade acadêmica e profissional do estudante: A referida questão aborda tópicos fundamentais relacionados ao ensino acadêmico aplicado a questões práticas, as quais farão parte da rotina dos futuros profissionais no mercado de trabalho. A análise temporal de bancos de dados hidrológicos e sua respectiva visualização e interpretação são tarefas frequentes executadas em autarquias administrativas, de fiscalização e planejamento. A aplicação dos conceitos de balanço hídrico e bacia hidrográfica são fundamentais para o estudante elaborar relações entre o meio físico e as interações urbanas e rurais de consumo, demanda e preservação ambiental. 20 SOSTER, Ana Regina de M. e MARQUES, Teresinha M. F. (Orgs.) Referências: PINTO, N.S., MARTINS, J.A.; HOLTZ, A.C.T. Hidrologia de superfície. São Paulo: Edgar Blucher, 1973. TUCCI, C.E.M. (Org.). Hidrologia – Ciência e Aplicação. São Paulo: EDUSP, 1993. TUCCI, C.E.M.; HESPANHOL, I.; CORDEIRO NETO, O.M. Gestão de água no Brasil. Brasília: UNESCO, 2001. VILLELA, S.M.; MATTOS, A. Hidrologia aplicada. São Paulo: McGrawHill do Brasil, 1975. ENADE Comentado 2008: Geografia 21 QUESTÃO 15 Ao informatizar os dados referentes a internações e atendimentos ambulatoriais em sua rede hospitalar a partir do ano 2000, a secretaria de saúde de uma cidade observou aumento gradativo no número de atendimentos a pacientes com doenças respiratórias no período de outono-inverno, tendo verificado, ainda, que os mais afetados eram crianças e idosos. A fim de melhor compreender o fenômeno e traçar políticas públicas de combate às patologias do aparelho respiratório, o governo local optou por contratar um geógrafo para analisar as causas ambientais do problema. Em sua análise, o profissional precisará lidar com uma série de variáveis interligadas. Em face da situação apresentada, o procedimento mais completo a ser adotado pelo geógrafo é (A) Utilizar dados referentes aos totais mensais de atendimentos a pacientes com doenças respiratórias, separados por tipo de patologia, local de residência e faixa etária dos pacientes; dados diários sobre material particulado, fumaça e ozônio em suspensão no ar; dados referentes a temperaturas médias, pressão atmosférica e umidade relativa do ar. (B) Obter dados do local de moradia dos pacientes atendidos, levando em consideração as condições desaneamento básico e verificar se os níveis de poluição do ar estão acima daqueles definidos pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA). (C) Obter os seguintes dados: número diário de atendimentos a pacientes com doenças respiratórias; local de residência e idade dos pacientes; níveis diários de material particulado em suspensão no ar, fumaça e ozônio, medidos nos pontos mais movimentados da cidade; dados de umidade relativa do ar, temperatura, precipitação e pressão atmosférica dos horários sinóticos. (D) Estabelecer a relação entre os episódios de inversão térmica na cidade e o número de atendimentos médicos a pacientes com doenças respiratórias nos dias em que ocorreu o fenômeno atmosférico, relacionando esse fato ao local de moradia dos pacientes e aos níveis de poluição definidos como aceitáveis pela Lei Federal n. 9.436/1997. (E) Submeter os pacientes com doenças respiratórias a questionários a fim de verificar as condições ambientais a que estão expostos, realizar medições de poluentes e partículas em suspensão nas áreas centrais da cidade e estabelecer coeficiente de correlação entre as respostas dos pacientes, as medições realizadas e as condições atmosféricas da cidade. 22 SOSTER, Ana Regina de M. e MARQUES, Teresinha M. F. (Orgs.) Tipo de Questão: escolha simples de resposta correta Gabarito: alternativa (C) Autor: Ana Regina de Moraes Soster e Teresinha Maria Furlanetto Marques Comentários: Os conteúdos avaliados nesta questão estão associados às disciplinas de Estudos de População, Geografia Ambiental, Climatologia. Referência a competências/habilidades: A questão exige do aluno competência leitora e relacional. A habilidade exigida do aluno remete a sua capacidade de reconhecer as variáveis mais adequadas para o cruzamento de informações e sua posterior interpretação. Justificativa para a alternativa C ser a correta: A alternativa C está correta porque o geógrafo, na sua tomada de decisão, cruzou as seguintes informações: o perfil etário da população atendida no posto de saúde (crianças e idosos), o local de residência dos pacientes, os dados de poluentes presentes na atmosfera nos locais de maior fluxo e os dados atmosféricos. Com esse banco de dados, o profissional tem condições de verificar se as doenças respiratórias têm como causa as condições de microclima, nas áreas de residência da população. Justificativa das razões para a inadequação das demais respostas: Na letra A, embora apresente variáveis pertinentes para análise, os valores mensais são muito genéricos e não permitem a precisão acurada das correlações. A letra B não apresenta as variáveis mais indicadas para a análise, porque o saneamento básico é relevante para a saúde pública, mas não é determinante para as doenças respiratórias. Na letra D, a inversão térmica, embora possa contribuir para os problemas respiratórios, constitui-se em fenômeno eventual e de ampla área de abrangência, o que não seria suficiente para explicar o aumento de atendimentos a partir de 2000. Na letra E a referência à coleta na área central pode não significar a área de residência dos doentes. Além disso, submeter os pacientes à coleta de informação demanda um tempo muito maior sem a garantia de obtenção de dados confiáveis. ENADE Comentado 2008: Geografia 23 Considerações sobre a pertinência dos conteúdos envolvidos: O conteúdo da questão é de suma importância para os geógrafos, pois exige a capacidade de analisar, cruzar e avaliar informações e assim auxiliar na solução de problemas ambientais que afetam a população em áreas urbanas. Referências: CONTI, José B. Clima e Meio Ambiente. São Paulo: Atual, 1998. MENEGAT, Rualdo; ALMEIDA, Gerson (Orgs.). Desenvolvimento Sustentável e Gestão Ambiental nas cidades – Estratégias a partir de Porto Alegre. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2004. MONTEIRO, Carlos A. de F.; MENDONÇA, Francisco. Clima urbano. São Paulo: Contexto, 2003. SANTOS, Milton. O trabalho do geógrafo no terceiro mundo. São Paulo: Hucitec, 1986. 24 SOSTER, Ana Regina de M. e MARQUES, Teresinha M. F. (Orgs.) QUESTÃO 16 No contexto atual, com o crescimento das preocupações em relação ao planejamento ambiental ou territorial, a geomorfologia assume um novo lugar entre as geociências. Embora caracterizada como ambiental ou aplicada, ela mantém-se voltada ao tratamento dos processos erosivos que ocorrem ao longo da vertente, dos cursos d’água ou da costa e litoral. A esse respeito, analise as asserções a seguir. O objetivo da geomorfologia aplicada não é prevenir ou reduzir o desenvolvimento e uso dos recursos naturais, mas, em vez disso, otimizar tal uso, para a redução tanto dos custos quanto dos impactos ambientais porque o uso prático da geomorfologia deve priorizar e minimizar as distorções topográficas e entender os processos inter-relacionados, tão necessários à restauração e à manutenção do equilíbrio natural. Acerca dessas asserções, assinale a opção correta. (A) As duas asserções são proposições verdadeiras, e a segunda é uma justificativa correta da primeira. (B) As duas asserções são proposições verdadeiras, e a segunda não é uma justificativa correta da primeira. (C) A primeira asserção é uma proposição verdadeira, e a segunda é uma proposição falsa. (D) A primeira asserção é uma proposição falsa, e a segunda é uma proposição verdadeira. (E) As duas asserções são proposições falsas. Tipo de Questão: asserção e razão Gabarito: alternativa (B) Autor: Roberto Heemann Comentários: ENADE Comentado 2008: Geografia 25 Identificação dos conteúdos implicados na questão: Os conteúdos implicados na questão são relativos às disciplinas de Geomorfologia e Planejamento Urbano Ambiental. Referência a competências/habilidades envolvidas: A questão exige do candidato competência leitora e relacional e a habilidade de interpretar e analisar criticamente as asserções apresentadas. Justificativa para a alternativa B ser a correta: O objetivo da geomorfologia aplicada é otimizar o aproveitamento dos recursos naturais, porém, apesar de verdadeira, a asserção " o uso prático da geomorfologia deve priorizar e minimizar as distorções topográficas e entender os processos interrelacionados, tão necessários à restauração e à manutenção do equilíbrio natural" não justifica a asserção anterior, pois o entendimento dos processos morfogenéticos e o equilíbrio natural são características básicas dos estudos das ciências geomorfológicas. Considerações sobre a pertinência dos conteúdos envolvidos na questão, da realidade acadêmica e profissional do estudante: Os conteúdos presentes na questão são relevantes para os graduandos em Geografia, pois dizem respeito à importância e às aplicações da geomorfologia para o entendimento dos processos morfogenéticos e no planejamento urbano e ambiental. Referências: GUERRA, A.J.T.; CUNHA, S.B. Geomorfologia: uma atualização de bases e conceitos. 2. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1995. 372 p. GUERRA, A.J.T.; CUNHA, S.B. Geomorfologia e Meio Ambiente. Bertrand Brasil. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1996. 372 p. 26 SOSTER, Ana Regina de M. e MARQUES, Teresinha M. F. (Orgs.) QUESTÃO 17 Com relação ao fenômeno da desertificação, analise as asserções a seguir. Embora a desertificação seja concebida como um fenômeno climático, pode-se distinguir outro tipo desse mesmo fenômeno, o ecológico, porque a desertificação, do ponto de vista ecológico, pode se desenvolver até mesmo em ambiente úmido, podendo o elemento clima não sofrer variação tão perceptível quanto aquela do manto vegetal e do solo.Acerca dessas asserções, assinale a opção correta. (A) As duas asserções são proposições verdadeiras, e a segunda é uma justificativa correta da primeira. (B) As duas asserções são proposições verdadeiras, e a segunda não é uma justificativa correta da primeira. (C) A primeira asserção é uma proposição verdadeira, e a segunda é uma proposição falsa. (D) A primeira asserção é uma proposição falsa, e a segunda é uma proposição verdadeira. (E) As duas asserções são proposições falsas. Tipo de Questão: asserção e razão Gabarito: alternativa (A) Autor: João Marcelo Ketzer Comentários: Identificação dos conteúdos implicados na questão: Os conteúdos presentes na questão dizem respeito aos processos de desertificação, trabalhado em disciplinas como Águas Continentais e Geografia do Rio Grande do Sul. ENADE Comentado 2008: Geografia 27 Referência a competências/habilidades envolvidas: A questão exige do candidato competência leitora e relacional e a habilidade de interpretar e analisar criticamente as asserções apresentadas. Justificativa para a alternativa A ser a correta: Esta questão é confusa e induz o aluno ao erro. Considerando o conceito físico de deserto, está errada, inclusive. O conceito de deserto está relacionado a um fenômeno climático, em que precipitação anual e taxa de evaporação são variáveis fundamentais. Deserto é uma região em que a precipitação é inferior a 250 mm/ano. Existe, de forma simples, um “déficit” de umidade. Desertos podem ser frios ou quentes, mas sempre muito secos. A causa da baixa precipitação anual pode ser variada, com barreiras geográficas à umidade como cadeias de montanhas, correntes oceânicas frias, por exemplo. A desertificação é, portanto, um fenômeno que leva à formação de um deserto como descrito acima (essa seria uma definição geológica, com fenômenos de longo prazo). Ao contrário do que induz a questão, os desertos podem ter uma grande biodiversidade. Levando em consideração o exposto acima, a resposta correta seria a “E”, sendo as duas asserções falsas. O conceito de desertificação, no entanto, tem sido utilizado de forma mais ampla (e por isso a questão induz ao erro), no sentido de degradação ambiental, notadamente com causas antrópicas. Assim, deserto pressupõe (contrária a uma definição física), por exemplo, uma perda de biodiversidade. De acordo com as Nações Unidas, a desertificação é a degradação de terra em regiões de clima árido, semiárido e subúmido seco. Ainda de acordo com a ONU, “é um processo gradual de perda de produtividade do solo e cobertura vegetal causada por atividades humanas e variações climáticas”. Mesmo considerando esta definição da ONU, a questão acima induz ao erro, pois aceita a desertificação em regiões de clima úmido. Assumindo a definição da ONU, a resposta correta poderia ser a “C”, na qual a primeira asserção é uma proposição verdadeira, e a segunda é uma proposição falsa, mas não a “A”. 28 SOSTER, Ana Regina de M. e MARQUES, Teresinha M. F. (Orgs.) Considerações sobre a pertinência dos conteúdos envolvidos na questão, da realidade acadêmica e profissional do estudante: Os conteúdos presentes na questão são relevantes para os graduandos em Geografia, pois as questões ambientais não podem ser desconsideradas nas diferentes escalas do planejamento territorial, área na qual a atuação do geógrafo se faz cada vez mais presente. Referências: SUERTEGARAY, Dirce. Deserto Grande do Sul - Controvérsia. Porto Alegre: Ed. da Universidade/UFRGS, 1998. VERDUM, Roberto, BASSO Alberto; SUERTEGARAY, Dirce. (Orgs.). Rio Grande do Sul - Paisagens e Territórios em transformação. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2004. http://www.unccd.int/main.php>. Acesso em: 09 mar. 2010. ENADE Comentado 2008: Geografia 29 QUESTÃO 18 Na obra Domínios da Natureza no Brasil: Potencialidades Paisagísticas, Aziz Ab’Sáber discute as paisagens como heranças de processos fisiográficos e biológicos e como patrimônio coletivo dos povos que, historicamente, as herdaram como território de suas comunidades. A partir desse entendimento, pode-se refletir sobre a herança que a sociedade atual irá deixar para as gerações futuras. O mapa abaixo apresenta a situação atual das ações antrópicas nos biomas do Brasil, cujos percentuais são listados na tabela. Com base nas informações apresentadas no texto, no mapa e na tabela ao lado deste, julgue os itens a seguir. I O bioma Amazônia, por apresentar o menor percentual de antropização, é o que tem maiores chances de manter-se como herança. II A situação no bioma pampa se agravará se houver investimentos significativos nas atividades agrossilvopastoris. III O bioma Cerrado sofrerá fortes transformações com a expansão da agricultura em decorrência do cultivo de cana-de-açúcar. Assinale a opção correta. (A) Apenas um item está certo. (B) Apenas os itens I e II estão certos. (C) Apenas os itens I e III estão certos. (D) Apenas os itens II e III estão certos. (E) Todos os itens estão certos. 30 SOSTER, Ana Regina de M. e MARQUES, Teresinha M. F. (Orgs.) Tipo de Questão: escolha simples Gabarito: alternativa (E) Autor: Roselane Zordan Costella Comentários: Identificação dos conteúdos implicados na questão: Vegetação, ocupação econômica, preservação ambiental e, de forma indireta, a aplicabilidade de conceitos ligados à ética ambiental e sustentabilidade. Referência a competências/habilidades envolvidas: A competência relacional está evidenciada na questão por meio da reflexão, leitura espaço-ambiental e resolução de problemas. As habilidades exigidas são: localização, relação, reconhecimento de elementos que definem a ocupação socioeconômica e interpretação textual. Justificativa para a alternativa E ser a correta: A Amazônia, apesar de apresentar um desgaste ambiental muito grande, não representa em relação aos outros biomas um percentual de agressão significativo. Pela consciência nacional, pautada na mata arbórea, como a principal fonte de recursos, a condição de fiscalização se torna maior, possibilitando maior herança no que diz respeito às reservas florestais. A massa biótica é intensa reforçando a ideia de que os refúgios florestais serão resgatados. Os Pampas, principalmente no sul do país, estão sendo utilizados de forma agressiva para o plantio de silviculturas, árvores silvestres como eucalipto, pínus, acácia..., e este evento ocupacional mudará a paisagem de forma significativa, alterando o solo e as condições naturais do bioma. O plantio deste tipo de cultura está voltado para a produção da indústria de celulose. O Cerrado está sendo ocupado pela expansão das lavouras de soja e cana- de-açúcar. O solo desta região é ácido e precisa de constante correção, provocando agressões e alterações ambientais, bem como a retirada da vegetação. A ocupação da agropecuária neste espaço reforça a condição de um país voltado para a produção de matérias-primas. ENADE Comentado 2008: Geografia 31 Considerações sobre a pertinência dos conteúdos envolvidos na questão, da realidade acadêmica e profissional do estudante: O conteúdo abordado na questão e as competências exigidas pela mesma representam parte significativa das reflexões de um futuro profissional em Geografia, pois aborda a leitura crítica e relacional do espaço. Referências: BRANCO, Samuel Murgel. O desafio amazônico. São Paulo: Moderna, 2007. CASTRO, Iná. Redescobrindo o Brasil. São Paulo: Bertrand Brasil, 2000. ROSS, Jurandyr L. S. Geografia do Brasil. São Paulo: Edusp, 2008. 32 SOSTER, Ana Regina de M. e MARQUES, Teresinha M. F. (Orgs.)QUESTÃO 19 Figura I – Paisagem urbana do litoral brasileiro. Figura II – Paisagem de manguezal do litoral brasileiro. Folha de S. Paulo. “Folha Turismo”, 30/10/2000, p. G-14. Considerando as figuras I e II acima, e a relação homem-natureza no que se refere às questões ambientais, sociais e econômicas decorrentes da apropriação dos recursos naturais, julgue os itens seguintes. I O fenômeno verificado na figura I não decorre de fato isolado, mas de um conjunto de acontecimentos interligados, resultantes do crescimento urbano e dos impactos deste sobre os ecossistemas. II O Estatuto das Cidades (Lei Federal n. 10.257, de 10 de julho de 2001) prevê a desocupação urbana de áreas de preservação permanentes, como a representada na figura II, previstas pela legislação de zoneamento ambiental. III Os manguezais, áreas especiais frágeis, são considerados de proteção permanente desde a aprovação do Código Florestal brasileiro. IV Os manguezais, que se estendem da foz do rio Amazonas até o delta do rio Parnaíba (PI), têm recebido monitoramento dos órgãos federais e estaduais competentes, que asseguram os limites de ocupação dessas áreas pela urbanização. Assinale a opção correta. (A) Apenas um item está certo. (B) Apenas os itens I e II estão certos. (C) Apenas os itens I e III estão certos. (D) Apenas os itens II e III estão certos. (E) Todos os itens estão certos. Tipo de Questão: escolha combinada de resposta correta Gabarito: alternativa (C) Autor: Teresinha Maria Furlanetto Marques Comentários: ENADE Comentado 2008: Geografia 33 Identificação dos conteúdos implicados na questão: Os conteúdos avaliados na questão se referem ao crescimento urbano, ao estatuto das cidades e à presença de manguezais no litoral, desde o estado do Amapá até o estado de Santa Catarina. Comenta ainda a relação entre a expansão urbana, a ocupação dos manguezais e os efeitos sobre esse ecossistema. O conteúdo desta questão é trabalhado nas disciplinas de Geografia do Brasil I e II e na disciplina de Geografia Urbana. Referência a competências/habilidades envolvidas: A questão exige do candidato a competência de analisar as figuras I e II, estabelecendo relações com itens I, II, III e IV, além do julgamento dos referidos itens em busca da resposta correta. As pistas para a escolha da opção correta encontram-se nas duas figuras e nos quatro itens ali apresentados. Justificativa para a alternativa C ser a correta: Segundo Guimarães de Araújo, Suely (2003) em seu relatório sobre O Estatuto da Cidade e a Questão Ambiental, as APPs em áreas urbanas não são respeitadas e são muitas vezes ocupadas por assentamentos humanos informais, sem estudo prévio de impacto ambiental. Essas áreas não podem ser regularizadas, pois as normas de proteção ambiental não permitem a concessão de licença nas áreas de APPs. A Constituição Federal de 1988 coloca acima dos interesses individuais ou de determinada comunidade, o direito das coletividades em relação ao ambiente ecologicamente equilibrado. Mas o Poder Público “não deve e nem de perto conseguiria desalojar incontáveis famílias em áreas ambientalmente protegidas” (GUIMARÃES DE ARAÚJO, 2003, p. 8). Como se pode observar, esta questão não prevê a desocupação, pura e simples, conforme consta no item II. Cada situação deve ser estudada em particular e tratada de tal forma que se busque uma alternativa para os assentamentos informais, mesmo que para isso seja necessário deslocar a população para outras áreas. Os manguezais são considerados como áreas de preservação permanente no Código Florestal Brasileiro, que data de 1965. Essas áreas incluem-se nas Zonas 34 SOSTER, Ana Regina de M. e MARQUES, Teresinha M. F. (Orgs.) Costeiras e, devido as suas características especiais em termos biológicos, o ecossistema manguezal está protegido legalmente contra a degradação. Mas, apesar das leis federais e estaduais existentes, os manguezais vêm sofrendo grande pressão com seu aterramento para a expansão urbana, desastres ecológicos por derramamento de petróleo, poluição por lançamento de esgotos, entre outros aspectos, o que se transforma em catástrofe contra essa área de proteção permanente e não evidencia controle por parte dos órgãos públicos. Considerações sobre a pertinência dos conteúdos envolvidos na questão, da realidade acadêmica e profissional do estudante: O conteúdo abordado na questão e as competências exigidas pela mesma representam parte significativa das reflexões de um futuro profissional em Geografia, pois aborda a leitura crítica e relacional do espaço, analisando o processo de urbanização, seus efeitos sobre as áreas ocupadas a as políticas públicas. Referências: GUIMARÃES DE ARAÚJO, Suely. O Estatuto da Cidade e a Questão Ambiental (2003). Site consultado: bd.camara.gov.br./bd.estatutodacidade. A autora foi Consultora Legislativa da Área XI – Geografia Regional, Ecologia e Desenvolvimento Ambiental, Urbanismo, Habitação e Saneamento. ROSS, Jurandyr. Geografia do Brasil. São Paulo: Edusp, 1996. SANTOS, Milton; SILVEIRA, María Laura. O Brasil-Território e Sociedade no início do Século XXI. Rio de Janeiro, 2001. ENADE Comentado 2008: Geografia 35 QUESTÃO 20 A globalização é o processo de constituição de uma economia mundial, da crescente integração dos mercados nacionais e do aprofundamento da divisão internacional do trabalho. No que diz respeito a esse processo, assinale a opção incorreta. (A) A globalização de capitais, proporcionada pelas fusões transnacionais, gera gigantes econômicos. (B) A etapa atual da globalização fundamenta-se no aumento generalizado das barreiras mercadológicas. (C) Intensificam-se, nesse processo, as trocas comerciais e a organização dos países em blocos econômicos. (D) O processo de globalização acentuou as diferenças entre países desenvolvidos e emergentes. (E) Os megablocos econômicos contribuem para ampliar a escala das atividades econômicas e facilitar a centralização de capitais. Tipo de Questão: escolha simples de resposta incorreta Gabarito: alternativa (B) Autor: Ana Regina de Moraes Soster e Teresinha Furlanetto Marques Comentários: Os conteúdos avaliados nesta questão estão associados às disciplinas de Geografia da Produção e do Consumo e Geografia Regional. Referência a competências/habilidades: A competência leitora – ler o mundo – é exigida na questão, e a habilidade para realizar esta competência é analisar o contexto econômico mundial. Justificativa para a alternativa correta: A alternativa B está incorreta, porque a atual etapa da globalização fundamenta- se no rompimento das fronteiras e das barreiras mercadológicas. As outras opções oferecem informações que caracterizam o contexto mundial a partir dos anos 90, no mundo globalizado. 36 SOSTER, Ana Regina de M. e MARQUES, Teresinha M. F. (Orgs.) Considerações sobre a pertinência dos conteúdos envolvidos: Os conteúdos envolvidos nesta questão são relevantes tanto para o licenciado como para o bacharel em Geografia, pois a compreensão do mundo se constitui na sua ferramenta de trabalho. Referências: BRENNER, Jayme. O mundo pós-guerra fria. São Paulo: Scipione, 1994. HAESBAERT, Rogério. Blocos internacionais de poder. São Paulo: Contexto, 1991. HAESBAERT, Rogério; PORTO-GONÇALVES, Carlos W. A nova des-ordem mundial. São Paulo: Unesp, 2006. SENE, Eustáquio de. Globalização e espaço geográfico. São Paulo: Contexto, 2003. ENADE Comentado 2008: Geografia 37 QUESTÃO 21 Guerra fiscal tira 8,5 mil postos de trabalho do Paraná. A agressividade dos incentivos concedidos pelos estados doAmazonas, de Santa Catarina e da Bahia enfraquece setores da economia paranaense. Madeireiras, confecções e fábricas de plástico são as mais atingidas pela disputa. Os programas incluem desconto de até 90% do ICMS por 15 anos, desconto no pagamento do imposto de renda das empresas e doação de terrenos e infraestrutura; além disso, a mão de obra da região, em geral, é mais barata. Somente o setor plástico contabiliza 15 empresas locais que preferiram transferir investimentos, segundo o presidente do Sindicato da Indústria Plástica. “Essas empresas gerariam, para o estado, cerca de 6 mil empregos”, disse o presidente. Gazeta do Povo. Paraná, 8/9/2008 (com adaptações). A partir das informações acima e com base no conceito de produção do espaço geográfico, conclui-se que a expansão do meio técnico-científico-informacional (A) Apresenta-se como solução para as constantes disputas tributárias no cenário nacional. (B) Destaca-se nos setores da economia tradicional, pois mantém as diretrizes da sociedade local e regional. (C) Caracteriza-se pelo aspecto social, visto que procura preservar os saberes tradicionais. (D) É seletiva, com reforço de algumas regiões e enfraquecimento relativo de outras. (E) É ordenada e reforça os setores da economia de maneira equilibrada e dinâmica. Tipo de Questão: escolha simples de resposta correta Gabarito: alternativa (D) Autor: Teresinha Maria Furlanetto Marques Comentários: Identificação dos conteúdos implicados na questão: Os conteúdos avaliados nesta questão estão relacionados com a economia brasileira e as disputas regionais para a atração de indústrias (guerra fiscal). A expressão “meio técnico-científico-informacional” foi cunhada por Milton Santos, um dos mais importantes geógrafos brasileiros. 38 SOSTER, Ana Regina de M. e MARQUES, Teresinha M. F. (Orgs.) Referência a competências/habilidades envolvidas: A questão exige do candidato a competência leitora e a habilidade de analisar o excerto da Gazeta do Povo – PR e as informações ali contidas. Por outro lado, a presença de dados percentuais exige a utilização da competência lógico-matemática para completar o entendimento e favorecer o julgamento do acadêmico, de forma acertada. Justificativa para a alternativa D ser a correta: A pista para a escolha da opção correta encontra-se na raiz da questão e também na proposição, que deve ser completada com alternativa adequada. Após a Segunda Guerra Mundial, nos anos 70, observa-se uma profunda interação entre a ciência e a técnica nos países desenvolvidos e nos países subdesenvolvidos. Essa união entre técnica e ciência ocorre sob a responsabilidade do mercado. E o mercado, graças exatamente à ciência e à técnica, torna-se um mercado global. E a distribuição da ciência, da técnica e da informação não acontece em todos os lugares ao mesmo tempo; ela é seletiva e vai aparecer em alguns lugares em detrimento de outros. O tema “guerra fiscal” assume importância crescente, frente aos benefícios fiscais e financeiros que são concedidos pelos estados às grandes empresas, para que estas se instalem em seus territórios. Estes benefícios produzem uma concorrência predatória entre os estados, contribuindo para agravar a crise financeira em que se encontram. O que se tem, de fato, é um confronto entre interesses econômicos dos estados, os quais, através de concessão de benefícios, buscam o favorecimento de suas economias. Justificativa das razões para a inadequação das demais respostas: Na alternativa A, a expansão do meio técnico-científico e informacional não serve como solução para as constantes disputas tributárias entre os estados brasileiros. As alternativas B e C sugerem a utilização da ciência, da tecnologia e da informação na economia tradicional, na manutenção de uma sociedade local e na preservação dos saberes tradicionais. Na realidade, a utilização da tecnociência e da informação originam a globalização, a mundialização das ideias, a abertura ao novo e o descaso pelos saberes tradicionais. ENADE Comentado 2008: Geografia 39 A alternativa E sugere que o uso da ciência, da técnica e da informação teriam como consequência a ordenação e o reforço da economia de maneira equilibrada e dinâmica. Nesse caso ocorre justamente o contrário, ocasiona o crescimento e o desenvolvimento de alguns em detrimento de outros. É a lógica do capitalismo. Considerações sobre a pertinência dos conteúdos envolvidos na questão, da realidade acadêmica e profissional do estudante: O conteúdo desta questão, trabalhado na disciplina de Geografia Econômica e Geografia do Brasil, é muito pertinente, pois tem como objetivo a análise da realidade brasileira, base que não pode ser desconsiderada pelo acadêmico em Geografia. Referências: AFFONSO, Rui de Brito Alves. Guerra Fiscal no Brasil: três estudos de caso. Minas Gerais, Rio de Janeiro e Paraná. Série Estudos de Economia do Setor Público. FAPESP. Edições FUNDAP, 1999. SANTOS, Milton. Técnica, espaço, tempo: globalização e meio técnico-científico- informacional. São Paulo: Hucitec, 1994. SANTOS, Milton; SILVEIRA, María Laura. O Brasil-Território e Sociedade no início do Século XXI. Rio de Janeiro, 2001. 40 SOSTER, Ana Regina de M. e MARQUES, Teresinha M. F. (Orgs.) QUESTÃO 22 Analise as asserções a seguir. No século XX, os anos 70, no Brasil, foram marcados pela modernização da agricultura, influenciados pelo desenvolvimento do capitalismo agrário, pela expansão das fronteiras agrícolas para o Centro-Oeste e pela intensificação dos movimentos sociais no campo, porque houve, nessa época, a inserção de tecnologias para a agricultura de precisão, ampliação do acesso ao crédito agrícola e a forte mecanização em substituição à mão de obra tradicional. Acerca dessas asserções, assinale a opção correta. (A) As duas asserções são proposições verdadeiras, e a segunda é uma justificativa correta da primeira. (B) As duas asserções são proposições verdadeiras, e a segunda não é uma justificativa correta da primeira. (C) A primeira asserção é uma proposição verdadeira, e a segunda é uma proposição falsa. (D) A primeira asserção é uma proposição falsa, e a segunda é uma proposição verdadeira. (E) As duas asserções são proposições falsas. Tipo de Questão: asserção e razão Gabarito: alternativa (E) Autor: Ana Regina de Moraes Soster e Teresinha Maria Furlanetto Marques Comentários: Os conteúdos avaliados nesta questão estão associados às disciplinas de Geografia Agrária, Geografia do Brasil e Geografia da Produção e do Consumo. Referência a competências/habilidades: A questão é difícil e exige do acadêmico a competência leitora e relacional para articular no momento histórico identificado, anos 70 do século XX, a conjuntura ENADE Comentado 2008: Geografia 41 política nacional, a forte expansão tecnológica no contexto mundial e as políticas de crédito para o setor primário. Justificativa para a alternativa E ser a correta: A letra E corresponde à alternativa correta: a primeira asserção está incorreta por afirmar que nos anos 70 houve a intensificação dos movimentos sociais no campo. Esse período histórico caracterizou-se pelo aprofundamento da ditadura militar no Brasil, impossibilitando a organização de movimentos sociais, tanto no campo como na cidade. A segunda assertiva é falsa, pois embora o período citado tenha se caracterizado pela introdução de novas tecnologias e mecanização, o acesso ao crédito agrícola não ocorreu de forma ampliada para todos os segmentos do setor. Nessa época o financiamento era destinado para a introdução de melhorias noarmazenamento e/ou comercialização. Justificativa das razões para a inadequação das demais respostas: As demais alternativas não são corretas, pois partem do pressuposto de que pelo menos uma das asserções é verdadeira. Considerações sobre a pertinência dos conteúdos envolvidos: Os conteúdos envolvidos são pertinentes e relevantes, porque a compreensão da organização territorial do Brasil de hoje pressupõe o conhecimento do processo. Referências: OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino de. Modo capitalista de produção e agricultura. São Paulo: Ática, 1987. ______. Geografia das lutas no campo. São Paulo: Contexto, 1988. SANTOS, Milton; SILVEIRA, Maria Laura. O Brasil território e sociedade no início do século XXI. Rio de Janeiro: Record, 2001. 42 SOSTER, Ana Regina de M. e MARQUES, Teresinha M. F. (Orgs.) QUESTÃO 23 Mediante o Decreto Presidencial n.º 6.040/2007, o governo brasileiro instituiu a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais, que, no inciso I do seu art. 3º, assim caracteriza esses povos e comunidades tradicionais: grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, que possuem formas próprias de organização social, que ocupam e usam territórios e recursos naturais como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição. A política acima referida inclui, entre os princípios que a norteiam, I o reconhecimento e a consolidação dos direitos dos povos e comunidades tradicionais. II a articulação e integração com o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional. III a preservação dos direitos culturais, o exercício de práticas comunitárias, a memória cultural e a identidade racial e étnica. IV a articulação com o Plano Nacional de Desenvolvimento Agrário e o Plano Nacional de Recursos Hídricos. Estão certos apenas os itens (A) I e II. (B) I e III. (C) III e IV. (D) I, II e III. (E) II, III e IV. Tipo de Questão: asserção e razão Gabarito: alternativa (D) Autor: Ana Regina de Moraes Soster Comentários: Os conteúdos avaliados nesta questão estão associados às disciplinas de Geografia Cultural, Geografia Agrária e Estudos de População. ENADE Comentado 2008: Geografia 43 Referência a competências/habilidades: A questão exige do candidato a competência leitora e relacional e a habilidade de analisar as diferentes afirmações em cada uma das alternativas, envolvendo comunidades remanescentes do Brasil Colônia e as atuais políticas públicas de inclusão. Justificativa para a alternativa D ser a correta: A letra D está correta ao identificar as assertivas I, II e III como corretas. As afirmativas I e III estão colocadas na raiz da questão ao esclarecer o Decreto Presidencial. A dúvida para o candidato estaria entre as afirmativas II e IV. A assertiva II está correta, uma vez que a sustentabilidade desses povos passa necessariamente, de um lado, pela garantia alimentar dos mesmos e, de outro, pelo aprendizado das relações e práticas por eles realizadas para a preservação da biodiversidade. A alternativa IV está errada, pois as políticas agrárias não fazem parte deste decreto. Justificativa das razões para a inadequação das demais respostas: As demais alternativas estão incorretas, pois não contemplam como corretas as assertivas, I, II e II, ou indicam a assertiva IV como verdadeira. Considerações sobre a pertinência dos conteúdos envolvidos: O conteúdo envolvido na questão é pertinente para o acadêmico em Geografia, pois tanto o licenciado quanto o bacharel precisam ter o conhecimento e a compreensão das diversidades socioambientais bem como das políticas nacionais. Referências: CLAVAL, Paul. A geografia cultural. Florianópolis: Ed. UFSC, 2005. CORRÊA, Roberto; ROSENDAHL, Zeny. Paisagem, imaginário e espaço. Rio de Janeiro: Ed. da UERJ, 2001. YÁZIGI, Eduardo. A alma do lugar. São Paulo: Contexto, 2002. 44 SOSTER, Ana Regina de M. e MARQUES, Teresinha M. F. (Orgs.) QUESTÃO 24 Analise as asserções a seguir. No mundo, estima-se que metade da população viva em aglomerados urbanos, em um processo de incremento contínuo, no qual já são contabilizadas 17 megacidades com mais de 10 milhões de habitantes. As características da urbanização brasileira fazem que esse processo seja não só um gerador de problemas ambientais, mas também um problema ambiental em si porque a urbanização cria não apenas novas paisagens, mas também novos ecossistemas, dependendo de grandes áreas externas para obtenção de energia, alimentos, água e outros materiais. A respeito dessas asserções, assinale a opção correta. (A) As duas asserções são proposições verdadeiras, e a segunda é uma justificativa correta da primeira. (B) As duas asserções são proposições verdadeiras, e a segunda não é uma justificativa correta da primeira. (C) A primeira asserção é uma proposição verdadeira, e a segunda é uma proposição falsa. (D) A primeira asserção é uma proposição falsa, e a segunda é uma proposição verdadeira. (E) As duas asserções são proposições falsas. Tipo de Questão: escolha simples de resposta correta Gabarito: alternativa (A) Autor: Ana Regina de Moraes Soster Comentários: Os conteúdos avaliados nesta questão estão associados à área de Geografia Urbana, Organização Territorial e Geografia do Brasil. ENADE Comentado 2008: Geografia 45 Referência a competências/habilidades: A competência leitora – ler o mundo – é exigida na questão e a habilidade para realizar essa competência é analisar o processo de urbanização e suas consequências. Justificativa para a alternativa A ser a correta: A alternativa A está correta porque as duas assertivas são verdadeiras e a segunda é uma justificativa correta da primeira. O processo de urbanização é antigo, mas assumiu uma maior velocidade a partir do último quartel do século XX. Segundo Davis (2006, p. 13), “em 1950, havia 86 cidades no mundo com mais de 1 milhão de habitantes; hoje são 400 e em 2015 serão pelo menos 550.” Ainda de acordo com o referido autor, em tabela apresentada em sua obra (2006, p. 15), com dados de maio de 2004 obtidos em www.citypopulation.de/world.html, são 19 as cidades com mais de 10 milhões de habitantes, na seguinte ordem crescente: Pequim, Istambul, Teerã, Rio de Janeiro, Buenos Aires, Xangai, Lagos, Karachi, Manila, Cairo, Calcutá, Daca, Jacarta, Délhi, Mumbai, São Paulo, Nova Iorque, Seul e Cidade do México. Ao se observar as cidades listadas, verifica-se que a grande maioria são cidades presentes em países pobres como o Brasil. No caso brasileiro, o processo de urbanização resultou de contextos internos como a Lei de Terras (1850) e a abolição da escravatura (1888) que, articulados, orientaram no final do século XIX os primeiros movimentos de êxodo rural reforçados ao longo do século XX por reorganizações territoriais nas áreas rurais decorrentes entre outros fatores, dos modelos agrário e agrícola do país. À medida que há uma ampliação da população urbana de forma desordenada, a densificação resultante originou processos de favelização e ampliação das distâncias para obtenção das matérias-primas e energia necessárias para o atendimento das necessidades das mesmas. Os ecossistemas urbanos apresentam uma condição de equilíbrio instável, pela matriz de consumo hoje dominante, constituindo-se em problemas ambientais em si também pelo volume de produção de resíduos. 46 SOSTER, Ana Regina de M. e MARQUES, Teresinha M.F. (Orgs.) Justificativa das razões para a inadequação das demais respostas: As demais alternativas estão incorretas, pois informam que pelo menos uma das assertivas é falsa – letras C, D e E – ou mesmo quando se consideram as duas assertivas verdadeiras, caso da letra B, não se estabelece a relação entre ambas. Considerações sobre a pertinência dos conteúdos envolvidos: A capacidade de ler o mundo, fazendo a relação entre os contextos internos e externos, bem como a compreensão dos efeitos desses processos, é papel do acadêmico de Geografia. Santos (1994, p. 69) coloca que “Nos conjuntos que o presente nos oferece, a configuração territorial, apresentada ou não em forma de paisagem, é a soma de pedaços de realizações atuais e realizações do passado.” Desse modo, a compreensão da cidade, que é o interno, só é possível se compreendermos os seus processos, os quais estão vinculados aos contextos externos. Referências: ACSELRAD, Henri (Org.). A duração das cidades. Sustentabilidade e risco nas políticas urbanas. Rio de Janeiro: DP&A, 2001. DAVIS, Mike. Planeta favela. São Paulo: Boitempo, 2006. SANTOS, Milton. Técnica, espaço e tempo: globalização e meio técnico-científico informacional. São Paulo: HUCITEC, 1994. SENE, Eustáquio de. Globalização e espaço geográfico. São Paulo: Contexto, 2003. ENADE Comentado 2008: Geografia 47 QUESTÃO 25 O cartograma acima, que representa a área de polarização de uma cidade categorizada como grande cidade média (lugar central), retrata a estrutura hierárquica e expressa a organização espacial da rede urbana, assim como a forte hierarquização da grande cidade média sobre os demais centros urbanos. Um dos propositores da ideia de centralidade dos lugares, consolidada na década de 30 do século passado, foi o geógrafo alemão Walter Christaller. Segundo sua teoria, a grande cidade média de hoje corresponderia à capital regional, assim como as cidades médias, a centros subregionais. A respeito da teoria das localidades centrais e da estrutura da rede urbana, representada no cartograma, julgue os itens a seguir. 48 SOSTER, Ana Regina de M. e MARQUES, Teresinha M. F. (Orgs.) I Segundo Christaller, a centralidade dos lugares seria uma hierarquização da função desempenhada por uma cidade em um conjunto de cidades, que não seria, obrigatoriamente, uma região. II As pequenas cidades geram, via de regra, expressiva densidade de centros que se situam a uma pequena distância média entre si, ainda que esta possa variar de acordo com a densidade demográfica da região em que se localizam. III A hierarquia entre as cidades resultaria da tendência natural de centralização em uma rede de interdependência em que várias cidades menores estão ligadas à cidade central. IV No cartograma, observa-se que o número de pequenos centros é baixo em relação aos centros maiores, sendo elevada a distância média entre eles. V No cartograma, a localidade central de nível hierárquico mais elevado possui ampla região de influência: nela, estão contidos os centros de nível imediatamente abaixo. Assinale a opção correta. (A) Apenas os itens I e II estão certos. (B) Apenas os itens II, III e IV estão certos. (C) Apenas os itens III, IV e V estão certos. (D) Apenas os itens I, II, III e V estão certos. (E) Todos os itens estão certos. Tipo de Questão: escolha combinada de resposta correta Gabarito: alternativa (D) Autor: Ana Regina de Moraes Soster Comentários: Os conteúdos avaliados nesta questão estão associados à área de Geografia Regional, Geografia Urbana e Organização Territorial. Referência a competências/habilidades: A competência leitora e relacional é exigida na questão, através da interpretação de um cartograma. A habilidade para realizar esta competência está no reconhecimento dos conceitos de região e de hierarquia urbana aplicados. Também será necessário que o aluno relacione esses conceitos com os processos de constituição das redes urbanas. ENADE Comentado 2008: Geografia 49 Justificativa para a alternativa D ser a correta: A alternativa D está correta, pois informa que as assertivas I, II, III e V estão corretas. A assertiva I é verdadeira, pois, de acordo com a Teoria das Localidades Centrais, todo núcleo urbano, independentemente de seu tamanho, é uma localidade central, porém, uma localidade central só terá uma condição de centralidade quando as funções centrais (bens e serviços) ali realizadas atenderem uma população externa (região complementar) relevante, estabelecendo uma área de influência (hinterlândia) significativa. Na época da elaboração desta proposta teórica (década de 30), as propostas teóricas predominantes estavam associadas ao determinismo ambiental e possibilismo. Para a primeira a região (região natural) era definida a partir da integração dos elementos da natureza, o que resultaria em uma certa uniformidade. Para a segunda, a chamada região geográfica, era resultado da interação entre os aspectos humanos e os aspectos de natureza, resultando em uma condição harmoniosa e visível, constituindo modos de vida. Tanto do ponto de vista do determinismo ambiental quanto do possibilismo, as regiões resultantes não coincidem necessariamente com o arranjo hierárquico de cidades articuladas a partir das funções centrais de uma delas. A assertiva II está correta, porque localidades centrais de pequeno porte, por apresentarem reduzida oferta de bens e serviços (funções centrais), complementam- se umas às outras favorecendo a ocorrência de densificações. A assertiva III, por sua vez, é verdadeira, pois a Teoria das Localidades Centrais propõe os conceitos de alcance espacial máximo e alcance espacial mínimo. Nessa perspectiva, determinadas funções centrais podem ser replicadas em diferentes pontos de uma mesma localidade central e em todas as localidades centrais, como, por exemplo, é o caso de uma padaria ou farmácia, que apresentam alcance espacial mínimo. Porém, funções centrais, como hospitais ou universidades, cujo custo de implantação é muito elevado, serão implantadas, de modo geral, em localidades centrais com maior contingente populacional e/ou com um maior número de funções centrais, apresentando assim um alcance espacial máximo e uma região complementar ampliada. 50 SOSTER, Ana Regina de M. e MARQUES, Teresinha M. F. (Orgs.) A assertiva V está correta porque o cartograma expressa justamente os aspectos analisados nas assertivas anteriores, especialmente na III, pois a grande cidade média ali representada se constitui em uma centralidade, com funções centrais de alcance espacial máximo. A assertiva IV está errada porque o cartograma apresenta, ao contrário do que é informado, um elevado número de pequenos centros. Justificativa das razões para a inadequação das demais respostas: A alternativa A está errada, pois não indica todas as assertivas que são verdadeiras. As alternativas B e C, além de não indicarem todas as assertivas corretas, indicam a assertiva IV (falsa) como verdadeira, assim como a E. Considerações sobre a pertinência dos conteúdos envolvidos: Os conteúdos envolvidos na questão são muito pertinentes, pois o acadêmico de Geografia deve saber ler, analisar e interpretar a constituição das redes urbanas e os arranjos espaciais resultantes. Referências: CORRÊA, Roberto L. A Rede urbana. São Paulo: Ática, 1989. ______. Região e Organização espacial. 8. ed. São Paulo, 2007. SANTOS, Milton. A urbanização brasileira. São Paulo: HUCITEC, 1993. ENADE Comentado 2008: Geografia 51 QUESTÃO 26 Óia o rapa Tremenda correria Some com a mercadoria
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