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Amy J. Fetzer ARDENTE RENDIÇAO

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Ardente Rendição
Título original: Wife for Hire
Amy J. Fetzer
(Digitado por Elimar e Merielly)
Pai milionário precisa de ajuda
Nasch Rayburn ficou abalado quando Hana Albright apareceu em sua fazenda anunciando que seria sua esposa de aluguel. Embora não a visse havia anos, ainda se lembrava muito bem de como Hana era capaz de despertar sua paixão e de provocá-lo até seu limite, e também de como sua vida teria sido diferente se ele não houvesse sido forçado a deixá-la para se casar com outra mulher.
Nash sabia que Hana o considerava um inimigo pelo que ele fizera no passado, mas por mais que ela quisesse demonstrar indiferença, rendia-se facilmente sempre que ele a tocava. Nash seria capaz de fazer qualquer coisa para reconquistar a confiança de Hana. Queria tornar-se dono daquele coração novamente. 
Só que, dessa vez, para sempre.�
Capítulo I
Plantação de River Willow
Aiken, Carolina do Sul
	Ela trazia uma galinha de plástico amarrada no bagageiro do carro!
	A “coisa70” pulava em cada movimento do veículo, parecendo uma espécie de caça capturada para a canja do jantar ou algo do gênero.
	Os lábios de Nash se curvaram em um sorriso.
	— Pelo menos ela tem bom humor — disse a si mesmo, antes de olhar de para as filhas.
	As duas mostravam sorrisos animados. Bom sinal, pensou ele, afastando o chapéu para trás e encostando o ombro no pilar da varanda. Em seguida enfiou os polegares nos cós da calça.
	Então era essa sua esposa de aluguel?
	O carro empoeirado parou a certa distancia e ficou ali durante um bom tempo, até ser finalmente desligado. Nash conteve o fôlego ao ver a perna esguia e perfeita que se insinuou para fora quando a porta do veículo foi aberta.
	Primeiro ponto: ela era linda.
	Não, na verdade, era adorável. Os olhos estavam ocultos por um belo par de óculos escuros. Os cabelos de um tom escuro de vermelho, esvoaçaram ao vento, deixando-a ainda mais atraente. Como se não bastasse, estava vestida com um top e um short justo, delineando partes nas quais ele nem quis deter muito o olhar.
	Segundo ponto: ela iria causar problemas.
	Ele havia solicitado à agência alguém que não distraísse a atenção de seus empregados. E lá estava ela, vindo em sua direção com aquele corpo escultural, mais do que pronta para deixar seus empregados boquiabertos. O movimento daqueles quadris era tão sexy que ele teve de se conter para não cobrir os olhos das meninas.
	— Que bom, ela não é velha — disse Kim, como se fosse algum crime ter mais do que dez anos de idade. — Poderá brincar conosco.
	Nash abaixou a vista para as gêmeas.
	— A sra. Winslow sabe brincar — observou ele.
	As duas fizeram um ar de desagrado
	— Ela tenta, mas não é nem um pouco animada — disse Kate. — Essa é bonita, hein, papai?
	“Deslumbrante, pensou Nash.
	— Sim, querida. Muito.
	A visitante parou a alguns passos deles, provocando uma sensação de desconforto em Nash. Ele estreitou o olhar, tendo a impressão de já tê-la vista em algum lugar.
	— Nash? — disse ela, como se não acreditasse no que seus olhos estavam vendo.
	Ele conteve o fôlego. Claro que conhecia aquela voz. Era Hana Albright.
	— O que está fazendo aqui? — perguntou ela.
	Ela empinou um quadril, segurando a alça da bolsa a tiracolo com mais firmeza.
	— Se Katherine queria fazer uma brincadeira com isso, não achei nem um pouco engraçado — disse Hana.
	— Nem eu.
	Nash muito pouco à vontade. Sete anos antes, fora completamente apaixonado por Hana, mas acabara traindo os próprios sentimentos e se casando com outra mulher. Ele nunca entendera direito o motivo. Nunca.
	No entanto, bastara olhar para Hana e sentir todo seu corpo se acender feito uma chama, clamando por ela.
	Hana era do tipo de mulher que fazia os olhares se voltarem na direção dela, tanto por seu ar de autoconfiança quanto por sua beleza. Ela era do tipo que fazia as pessoas sorrirem só por ela haver sorrido. O tipo de mulher com a qual ele sonhara se casar um dia. 
	Hana apoiou os óculos escuros no alto da cabeça. Então fitou Nash nos olhos, em busca do homem que ela havia amado.
	— Está trabalhando na empresa de Katherine? — perguntou ele.
	— Todo mundo tem que ganhar a vida — falou ela.
	Ele apertou os lábios.
	— E quanto a seu sonho de se tornar médica?
	Hana ajeitou a bolsa no ombro e respondeu:
	— Continua firme. Terminei a parte teórica há poucos dias. Terei uma folga de duas semanas, depois voltarei ao hospital de St. Anthony para começar a residência.
	— Isso é ótimo.
	O sorriso dele foi cínico, amargo. Para ela, foi como se houvesse sido atingida por um balde de água fria. O desejo dela de ser médica e a exigência de Nash para que abandonasse a sua meta para se tornar esposa dele fora o motivo de o relacionamento deles haver terminado, enviando-o direto para os braços de outra mulher.
	— Não sei porquê, mais isso não me soou muito genuíno. 
Nash estreitou o olhar.
	— Nunca desejei que você fracassasse, Hana.
	— Não. Apenas que eu desistisse de meus sonhos em favor dos seus.
	A expressão de Nash se tornou amarga. Aquele assunto era difícil demais para ser tratado em público. Havia muito o que dizer: o que ele estava sentindo, o que precisava explicar, o que queria fazer com ela... Sim, aquele mesmo aroma de jasmim do passado alcançou suas narinas, fazendo-o sentir um desejo quase incontrolável de tê-la nos braços.
	— É mesmo muito bom vê-la outra vez.
	O tom grave da voz dele a fez sentir um arrepio pelo corpo, evocando a lembrança de como era ser envolta no calor e na segurança daqueles braços fortes.
	Hana examinou o rosto dele com atenção. Nash mudara pouco e envelhecera de uma maneira que o deixara ainda mais charmoso. As linhas do rosto másculo haviam se tornado mais acentuadas, dando-lhe mais força e caráter. Aos trinta e cinco anos, ele era tão atraente quanto da primeira vez em que ela o vira, em uma festa em seu último ano do colégio. Nash chegara com sua amiga Katherine Davenport, colega de república de Hana, proprietária e gerente da Wife Incorporated. Acompanhara-a apenas como um favor, logo isso não o impediu de estar na companhia de Hana ao sair de lá.
	Ele fora a pessoa mais impressionante que já se aproximara dela e isso a deixara apaixonada quase imediatamente. Soltando um suspiro, forçou aquela lembrança a voltar para o fundo de sua memória, seu verdadeiro lugar. Fora uma tola ao se apaixonar perdidamente por ele, e não pretendia cometer o mesmo erro outra vez.
	Os dois se entreolharam em silêncio por algum tempo, antes de Hana fazer a pergunta que deveria ser fieta, mesmo que aquela fosse a última coisa do mundo que ela quisesse perguntar.
	— E então, como vai Michelle?
	A expressão dele tornou se severa.
	— Ela está morta, Hana. Morreu em um acidente de carro, quatro anos atrás.
	— Sinto muito.
	O que era verdade. Era verdade que guardava uma grande mágoa contra o que Nash e Michelle lhe haviam feito, mas jamais desejaria vê-la morta.
	— Você a conhece, papai? — perguntou uma voz infantil.
	Hana deu um passo para o lado e olhou para as meninas que estavam de pé na varanda. Embora Kat houvesse omitido o nome do cliente, colocando apenas o endereço, a ficha de serviço continha uma descrição detalhada do tipo de trabalho, que incluía cuidar de duas crianças. Sorrindo e acenando para as duas, falou em um tom suave e surpreso ao mesmo tempo.
	— Oh, Nash, elas são tão parecidas com você!
	Ele não deixou de encará-la em nenhum momento, admirando aquele sorriso amplo e sincero. Então falou:
	— Não sei se isso é bom ou ruim.
	— É bom. Com certeza, é bom — respondeu Hana, enquanto as gêmeas desciam os degraus da varanda para ficar ao lado do pai.
	— Estas duas princesinhas — falou Nash, acariciando os cabelos das meninas —, são Kim e Kate.
	— Eu sou Hana — disse ela, curvando-se e trocando um delicado aperto de mãos com cada uma delas. — E, sim, seu pai e eu somos velhos amigos.Ao concluir, deu uma piscadela para as meninas, fazendo-as rir.
	Nash sentiu um alívio imediato. Estava evidente que, mesmo que Hana tivesse alguma mágoa contra ele, não transferiria nada para suas filhas. Mesmo assim, não imaginava como solucionar aquele problema. Não poderia deixá-la ficar em sua casa, ou acabaria contando a verdade. Mas o que ocorrera fora responsabilidade sua, uma humilhação com a qual ele próprio deveria arcar. E sozinho. Talvez a melhor opção fosse mandá-la embora.
	Sentindo a tensão dele, Hana franziu o cenho. Por que Nash estava tão bravo? Ela é que havia sido dispensada e desprezada, enquanto ele conseguira tudo que queria: uma bela esposa, com cultura, riqueza e uma tradição familiar compatível com a dele.
	— Hum, vejo que não está satisfeito com esta situação — falou Hana. — O que acha de eu telefonar para Kat, pedindo que ela mande outra esposa de aluguel amanhã de manhã?
	A proposta soou como um desafio para Nash, o que fez sua admiração por ela aumentar ainda mais. Contudo, a cada vez que seus olhares se encontravam o remorso parecia querer consumi-lo um pouco mais.
	— Você gosta de papai? — indagou uma das gêmeas.
	A curiosidade delas era franca e encantadora, mas Hana pôde notar a tensão de Nash aumentar no momento em que ela se abaixou para falar com as meninas.
	— Eu o achava o homem mais bonito do mundo.
	As garotas riram de novo, aproximando-se. Nash as olhou e os sorrisos delas se tornaram pálidos. Aquilo o entristeceu. Depois de passar a semana toda ralando com elas, era normal que estivesse surgindo uma espécie de temor à sua presença. Mas a governanta, a sra. Winslow, estava doente, repousando em casa. As tarefas da fazenda não haviam diminuído em nada, mas ele passara a ter de cuidar daquele pequeno par de “furacões” o dia todo.
	— Eu posso lidar com a situação — falou Nash. Retornado o desfio de Hana, acrescentou: — E você?
	— Sem problema.
	— Ótimo — respondeu ele, virando-se e rumando para dentro da casa.
	— Oh... Quanta atitude.
	Nash parou e se virou, arqueando as sobrancelhas. Viu-a sorrir com excessiva candura e gesticular para que ele prosseguisse, ladeada pelas duas meninas que já lhe sussurravam segredinhos.
	Que ótimo, pensou Nash. Hana nem bem chegara e ele já ficara em desvantagem numérica em menos de cinco minutos. Balançando a cabeça negativamente, abriu a porta da frente para as três, fechando a atrás de si quando as seguiu casa adentro. As meninas correram para ligar a tevê e Hana pareceu suspirar aliviada ao entrar no ambiente agradável, mantido fresco pelo sistema de ar-condicionado. 
	— Bela casa — elogiou ela, após olhar a gigantesca sala principal, que se dividia em três espaços ambientes bem definidos: sala de estar, sala de jantar e sala de televisão.
	— Obrigado — Nash agradeceu.
	— Então, por onde começamos?
	Nash inclinou a cabeça na direção da cozinha e começou a andar enquanto falava:
	— O que o pessoal da agência lhe disse?
	— Que você precisava de uma esposa temporária que pudesse tomar conta em tempo integral de duas crianças cheias de energia.
	Ele parou de repente e a olhou com severidade por sobre o ombro.
	— Não preciso de uma esposa.
	Hana franziu o cenho e pestanejou, surpresa.
	— Eu estava falando de maneira figurada, Nash.
	Olhando-a de alto a baixo com ar questionador, ele soltou o fôlego de maneira exasperada.
	— Preciso de uma governanta que cuide da casa, cozinhe e tome conta das meninas o dia todo. Essas tarefas são da senhora Winslow, mas serão suas por enquanto. As meninas também têm tarefas e a lista está fixada na geladeira. — Nash a encarou. — Isso é um arranjo temporário. Seu eu pudesse dar conta sozinho, não chamaria ninguém para ajudar. Fui claro?
	— Claríssimo.
	Qualquer idiota perceberia que não havia lugar na vida dele para mais nada além de ajuda doméstica.
	— E a comida deve dar para alimentar também mais sete cowboys e ajudantes, todos funcionários da fazenda.
	Hana deu de ombros.
	— Dois, cinco ou dez, não faz diferença. Desde que haja o que cozinhar.
	Nash a olhou com ceticismo.
	— Não me lembro de você ser uma boa cozinheira.
	— Muitas coisas mudaram nesses sete anos, meu caro. 
	O sorriso misterioso de Hana o deixou curioso a respeito de várias perguntas que não lhe caberiam fazer no momento. Como, onde ela estivera e o que fizera, entre outras coisas. Mas aquela relação tinha de se manter estritamente profissional.
	— Isso é o que iremos ver, certo?
	O tom sarcástico de Nash a fez franzir o cenho.
	— Não, acho que o certo é dizer que iremos “saborear”. Mas, se duvida de mim, porque concordou que eu ficasse?
	— Estou sem tempo e você já está aqui.
	— Ouça, Nash. Tivemos algo no passado, mas isto está morto e enterrado. Não vejo razão para estar tão irritado comigo. Se vou mesmo trabalhar para você, que tal diminuir a dose de rancor?
	A expressão dele mudou de repente e aqueles olhos demonstraram, pelo menos por um instante, o mesmo ardor de anos antes, fazendo-a lembrar-se de como fora bom explorar cada centímetro daquele corpo másculo e bronzeado.
	Oh-oh. Pensar em coisas assim não fazia parte de seus planos. Estreitando o olhar, gesticulou de maneira a fazê-lo prosseguir.
	Depois de um instante de hesitação, Nash continuou a andar, mostrando a cozinha, seguindo então para mostrar o restante do andar térreo da casa.
	— Aqui fica meu escritório, que é área proibida. Ninguém entra aqui exceto eu.
	— Sim senhor, capitão — respondeu ela, com um irônico tom militar.
	Nash se virou para olhá-la e a viu pestanejar com ar inocente.
	Balançando a cabeça negativamente, enquanto decidia se ria ou praguejava, ele se dirigiu à escada e rumou para o andar de cima, mostrando cada um dos cômodos.
	— ... e esse aqui é seu quarto — concluiu ele.
	Ele parou à porta, como se estivesse esperando que ela desaprovasse o lugar. Era um quarto de hóspedes convencional, com decoração neutra e bastante espaço.
	— Está ótimo — falou Hana, colocando a mala sobre a coma e tirando os sapatos. — Imagino que você tenha trabalho a fazer. Vou começar minhas tarefas.
	Ela se dirigiu à escada.
	— Ei, não acha que precisa de mais...
	— Instruções? — completou Hana. — Não fui contratada para tomar seu tempo. A agência me deu uma descrição completa das tarefas. Pode ir cuidar de seus afazeres e não se preocupe — falou ela, gesticulando na direção da porta ao chegar na sala, seguida por ele. — Nós ficaremos bem aqui, não é meninas?
	As gêmeas se ajoelharam no sofá, olhando-a por sobre o encosto como se fossem dois esquilinhos. Hana deu uma piscadela e as meninas pareceram vibrar. Aquela energia toda precisava ser gasta de alguma maneira. 
	— Quer que eu prepare algo para você comer antes de sair? — perguntou ela, olhando para Nash.
	— Não — respondeu ele, tendo a nítida sensação de estar sendo dispensado em sua própria casa. — Cada um de nós leva um lanche para o almoço e a refeição forte do dia é o jantar, sempre ao pôr-do-sol.
	— Terei tudo pronto até lá.
	Ele a olhou com ar de dúvida, mas não disse nada. Limitou-se a ir até o sofá e se sentar entre as filhas, puxando-as para o seu colo e fazendo uma expressão exagerada de tristeza.
	— Eu queria poder ficar com vocês.
	As garotas riram.
	— Os cavalos não teriam comida — disse Kate.
	— E então ficariam fraquinhos demais para serem vendidos — completou Kim. — Nós ficaremos bem.
	Elas pareciam tão maduras com relação àquilo que Nash sentiu um aperto no peito.
	— Comportem-se. Nada de fazer travessuras como as de ontem.
	As duas ficaram enrubescidas e responderam em coro: 
	— Sim, papai.
	— Prometem? — indagou ele, erguendo o dedo mínimo. 
	As duas entrelaçaram seus mindinhos aos dele e balançaram a cabeça afirmativamente.
	Nash sorriu, beijou as duas e as tirou do colo para se levantar.
	Hanna sentiu-se uma intrusa naquela casa. Por um momento, desejou ter sido tão próxima assimao próprio pai, quando tinha aquela idade. Perdera a mãe aos sete anos de idade e seu pai, sendo vendedor, levava-a em suas viagens pelo país o tempo todo. Ela sempre conhecia novas pessoas e via belas paisagens, mas nunca experimentara a sensação de permanência. Não tivera uma casa fixa até chegar à idade de ir para o colegial e morar em uma república. Aquelas duas meninas tinham sorte.
	Naquele momento, Nash atravessou a sala e se aproximou dela.
	— Essas meninas são minha vida, Hana.
	A devoção dele a comoveu.
	— Fique tranqüilo. Prometo que cuidarei bem delas.
	Ele assentiu sutilmente, parecendo até agradecido, antes de virar e sair.
	Soltando um suspiro ao ver a porta se fechar, Hana se recompôs e se virou para as meninas.
	— Há bastante trabalho a fazer. Você duas podem ficar aí vendo televisão pelas próximas horas, matando sues neurônios de tédio, ou podem me ajudar a fazer tudo mais depressa para termos tempo de brincar depois. O que preferem?
	— Brincar de quê?
	Hana fez uma expressão pensativa.
	— Acho que esse é um assunto para ser decidido em conjunto.
	As meninas saíram do sofá no mesmo instante e a seguiram com animação.
	— Aquela é sua nova esposa de aluguel, chefe?
	Nash não respondeu à pergunta de seu funcionário e continuou caminhado rumo ao celeiro.
	— Pensei que o sistema de pedir noivas pelo reembolso postal tivesse acabado no século passado — murmurou Seth.
	— Vamos lá, homens, acho que temos trabalho suficiente para preencher o tempo de vocês, para não ficarem se preocupando com bobagens — ralhou Nash.
	O jovem Beau desceu da traseira da caminhonete e jogou mais um fardo de feno lá dentro.
	Nash parou um instante para dar instruções e então foi depressa até o estábulo. O leilão de puros-sangues seria dali a uma semana e seus animais precisariam estar em perfeitas condições. Afinal, havia mais de dois séculos que sua família mantinha a tradição de criar os melhores cavalos da região. E o mínimo que ele poderia fazer era manter essa tradição. Contudo, conforme as garotas estavam crescendo e exigindo mais dele, estava ficando cada vez mais difícil dividir-se entre suas tarefas.
	No momento, porém, sua atenção estava voltada para Hana. A presença dela o fez lembrar do modo como a abandonara, sem lhe dar a menor satisfação, para casar-se com Michelle. Quando deu por si, estava fazendo um ar de desagrado.
	Terminado de fazer sua inspeção e de tomar algumas providencias, montou sua égua de trabalho predileta e rumou para a cerca quebrada da ala sul, disposto a concertá-la. Pelo menos isso o manteria ocupado. O problema era que, até então, ele vinha tentando ser pai e mãe ao mesmo tempo. Contudo, diante de Hana, seu instinto masculino voltara à tona com toda força, levando-o a desejá-la ainda mais do que antes.
	Hana ajeitou o cesto de piquenique no braço, enquanto seguia pela longa trilha de pedras rumo ao curral onde ficavam os celeiros. Ao lado dela, Kim e Kate carregavam uma garrafa térmica cada uma, esforçando-se para acompanhar seu passo rápido. Estava seguindo o som das vozes dos homens.
	Ao contornar um dos celeiros, ela colocou o cesto sobre a tampa traseira de uma das caminhonetes, que se encontrava abaixada. Então levou o indicador e o polegar aos lábios, soltando um poderoso assobio. Todas as cabeças se viraram na sua direção ao mesmo tempo.
	— Ei, rapazes! Estão com fome?
	Deixando as ferramentas de lado, todos começaram a se aproximar. Ela se apresentou e cada um deles tirou o chapéu ou inclinou a cabeça de maneira cordial. Jimmy Lee era alto e magro demais, dono de um sorriso amplo e de uma pele bastante bronzeada. Começou a olhá-la com interesse de alto a baixo, quando Beau o cutucou com o cotovelo. Beau era jovem e parecia ter acabado de sair do colegial. O rapazote corou quando eles trocaram um aperto de mãos. Ronnie, que parecia ter uns quarenta anos, usava cabelos compridos e os prendia em um rabo-de-cavalo. Sem dizer nada, apenas aceitou um copo de água gelada. E havia Bubba também.
	— Qual é seu verdadeiro nome, Bubba? — indagou Hanna.
	— Robert. Bob.
	Hana decidiu que, com aqueles cabelos broncos, e naquela idade, Robert lhe cairia melhor. Seth se aproximou e levantou Kim e Kate nos braços, colocando-as sentadas na tampa da caminhonete, ao lado da cesta.
	— A srta. Hana fez sanduíches, sr. Seth. Sanduíches enormes mesmo — falou uma das gêmeas, animada.
	Distribuindo lanche e copos de água gelada para todos, inclusive os dois “especiais” das meninas, feitos com pasta de amendoim e geléia, Hana começou a mastigar lentamente o seu próprio sanduíche enquanto olhava a casa de longe. O lugar era mesmo lindo. E enorme também, como descobriu naquela tarde, enquanto limpava os seis quartos, os quatro banheiros e todos os outros cômodos.
	O som de um galope se aproximando chamou sua atenção. Ao se virar, viu Nash parar o cavalo no topo da colina ao lado. As meninas acenaram e ele acenou em resposta, sob a sombra de uma enorme árvore, antes de colocar o animal em movimento outra vez, indo de encontro ao grupo. Aquela visão foi demais para o coração solitário de Hana. Como conseguiria conviver durante quinze dias com todo aquele charme e aquela masculinidade que pareciam exalar pelos poros de Nash?
	Virando-se para a caminhonete, viu que as meninas haviam acabado de comer e que estavam jogando os papéis amassados de volta no cesto. Ajudando-as a descer, pediu que elas recolhessem os copos de papel e os papéis deixados pelos homens, para que eles pudessem voltar ao trabalho.
	— O que estão fazendo aqui fora? — indagou Nash, desmontando do cavalo e se aproximando dela com passos largos.
	Se ele pensava que iria fazê-la recuar, estava muito enganado. 
	— Vocês todos precisam engordar um pouco — falou Hana, movendo a mão na direção dos cowboys e dele. — Do jeito que estão magricelas, não sei como conseguem trabalhar tanto sem desmaiar.
	Soltando risadinhas contidas, os funcionários se levantaram e começaram a se afastar.
	Nash parou, estreitando o olhar e permanecendo em silencio.
	— Por acaso dói? — indagou ela.
	— O quê?
	— Sorrir.
	Desarmado, Nash sentiu os lábios se curvarem. Logo atrás dela, as gêmeas riam com divertimento.
	— Acho que não — respondeu ele, perguntado a si mesmo por que estava tão bravo.
	— Muitíssimo obrigado, srta. Hana — falou Jimmy Lee, fitando-a de alto a baixo de maneira tão demorada que a fez enrubescer.
	— Ora, você é um amor, Jim.
	Nash cerrou os dentes ao ver o sorriso que ela deu ao empregado.
	— É isso que minha mãe vive me dizendo.
	O cowboy se afastou e Hana abriu uma aba do cesto, retirando um sanduíche e oferecendo-o a Nash.
	— Quer um também?
	Ele olhou dela para o lanche, então de volta para ela, sem nada dizer.
	— Isso não requer raciocínio, Nash. Um mero “sim” ou “não” já resolve o problema.
	Pegando o sanduíche da mão dela, ele precisou ser rápido para pegar a latinha de refrigerante que Hana jogou em seguida na sua direção.
	— Venham garotas — falou ela, pegando o cesto e inclinando a cabeça na direção da casa.
	As gêmeas pararam na frente do pai, que se inclinou para beijá-las.
	— O que fizeram a manhã toda? — indagou Nash.
	— Lavamos roupa! — responderam as duas, festejando.
	— Ei, vocês nunca gostaram de me ajudar na lavanderia.
	— Mas com srta. Hana é divertido.
	As crianças olharam com ar de adoração na direção dela.
	— Bem, ainda temos um montão de tarefas antes da festa, senhoritas.
	Ao ouvirem aquilo, as duas meninas saíram correndo na direção da casa.
	Nash se endireitou e deu um passo à frente, parando a poucos centímetros dela. Ao sentir o perfume de jasmim invadir suas narina e o calor daquele corpo perfeito penetrar o tecido de suas roupas, recuou um passo.
	— Hora da festa?
	— Prometi a elas que brincaríamos um pouco. Há algum problema em usarmos a piscina? — Ao vê-lo hesitar, ela completou: — Sou uma excelente nadadora.
	— Sim,claro, só me avisem antes para eu verificar o nível de cloro.
	— Já fiz isso.
	Virando-se depressa, Hana não viu as sobrancelhas dele se arqueando.
	— Obrigado, srta. Hana — disseram os homens, acenando.
	— Não há de quê, rapazes. Não trabalhem demais, hein? — falou ela, olhando-os por sobre o ombro.
	— Obrigado por haver trazido o lanche.
	Ao ouvir a voz grave de Nash, Hana se virou um instante para encará-lo.
	— Sem problema, chefe. Só estou fazendo meu trabalho. 
	Não. Na opinião dele, ela fora muito além de sua obrigação. Os homens haviam lanchado ao meio-dia e iriam jantar depois da sete horas da noite. Nada a obrigava a fazer sanduíches para eles no meio da tarde, muito menos a entregá-los em mãos. E Nash sabia que havia serviço suficiente na casa para ocupar mais de uma pessoa.
	Ao vê-la se afastar, observou o movimento natural, quase contido, daqueles quadris maravilhosos. Ouvindo um suspiro, olhou para o lado e viu Beau sorrindo feito um tolo.
	— Ela foi mesmo muito gentil, não foi, chefe?
	Que ótimo. O garoto já estava apaixonado por ela.
	Virando-se e voltando a montar em sue cavalo, Nash decidiu ir procurar cercas para consertar na ala norte. Sabendo que Hana iria nadar no final da tarde, queria se manter ocupado e longe da área da piscina. Se a visse de biquíni, com certeza iria se lembrar de como era maravilhoso fazer amor com ela.
Capítulo II
	Terceiro ponto: Hana sabia cozinhar.
	Nash ficou parado à porta da sala de jantar e olhou para a mesa posta. Embora não soubesse ao certo o que estava cheirando tão bem, sua boca havia se enchido de água desde o momento em que ele entrara na casa.
	A Hana que ele conhecera mal sabia ferver água e só era capaz de esquentar a comida pronta que comprava se houvesse um forno de microondas por perto. Esse era outro lembrete de que ele estava lidando com uma nova mulher.
	Os funcionários entraram logo depois dele, lavados e de camisas limpas. As gêmeas já estavam sentadas em seus lugares habituais, ao lado do dele, com os pratos feitos.
	— Sentem-se, senhores. O jantar está servido.
	Nash se virou e a viu vindo da cozinha com uma enorme travessa nas mãos, cheia de frango empanado. Os homens correram para seus lugares enquanto ele próprio acomodava ao lado das meninas.
	— Tenho certeza de que suas mães os ensinaram bons modos, então não servirei a comida até que todos esses chapéus desapareçam de vista — falou Hana, lançando um olhar de censura para todos, exceto para Nash e Seth, que já estavam com a cabeça descoberta. — Ótimo. A guarnição está nas travessas, senhores. Sirvam-se.
	Satisfeita com o que via, ela aproximou a travessa de cada um deles, para que se servissem também do prato principal. Ficando por último, Nash pegou um pedaço sem fitá-la nos olhos. 
	— Não se acanhe, Nash. Há mais frango na cozinha. 
	Ela estava tão perto que foi possível sentir o calor do hálito dela na lateral de seu pescoço. Virando-se um pouco para o lado, Nash sustentou-lhe o olhar. Os lábios de Hana se curvaram, como se ela soubesse o efeito que provocara nele.
	Voltando a olhar para a travessa, pegou outro pedaço de frango.
	— Feliz, agora?
	— Esfuziante — disse ela, ajeitando a travessa em um espaço vago, antes de encher os copos de todos com água gelada e se aproximar das garotas. — Vocês duas estão se virando bem?
	As meninas balançaram a cabeça afirmativamente de maneira vigorosa, ambas mastigando de maneira prazerosa.
	— Comam salada também — falou Hana.
	Ambas fizeram caretas de desgosto, mas o olhar severo de Nash as fez aceitar a recomendação.
	— Assim é melhor — murmurou ele, contendo um sorriso ao vê-las comer a salada.
	Hana inclinou a cabeça de lado e fitou Nash.
	— Como está a comida?
	Os olhos dele não se desviaram do prato.
	— Incrível.
	— O fato de eu saber cozinhar o irritou, não foi? — provocou ela, conseguindo a atenção dele. — Admita. Não pensou que eu pudesse dar conta disso, não é?
	— Não admito nada.
	— Oh. Cuidado chefe. Seu orgulho está transbordando.
	Dizendo isso, pestanejou com ar inocente e se endireitou, aceitando os elogios dos rapazes ao voltar para a cozinha. 
	Lançando um olhar ao longo da mesa, Nash percebeu que não havia lugar posto para ela. Então se levantou e foi até a cozinha. Encontrou-a sentada em um banco alto, debruçada sobre o balcão, lendo um livro de medicina enquanto comia. Hana parecia uma figura saída de um quadro, a cabeça inclinada sobre o livro, o garfo parado a meio caminho da boca... Aquela imagem solitária o fez sentir um aperto no peito. Quantas vezes ela comera sozinha daquele jeito?
	— Hana?
	— Sim?
	— Não vai se juntar a nós?
	Encarando-o, ela lhe ofereceu um sorriso paciente.
	— Sou apenas uma empregada temporária, e não parte da equipe.
	Já fizera aquele tipo de trabalho antes, diversas vezes, e sabia que não era sábio incluir-se à mesa do jantar.
	— Tenho certeza de que as meninas gostariam.
	— Mas eu não gostaria. Ficarei aqui por pouco tempo, principalmente pelo fato de nós dois já nos conhecermos.
	— E que mal há em nos conhecermos? — indagou ele, seu olhar valendo mais do que mil palavras e lembranças.
	As memórias daquelas noites ardentes a faziam lembrar-se sempre do sofrimento que se seguira. Colocando o garfo no prato, balançou a cabeça negativamente.
	— Não faça isso.
	Ele se aproximou, aqueles ombros largos ocupando todo seu campo de visão.
	— Hana.
	— Não, Nash — falou ela, inclinando a cabeça para trás para sustentar-lhe o olhar. — Não conseguirei olhá-lo, sentado à mesa, sem me lembrar de que você me abandonou sem me dar sequer uma satisfação. Sem me lembrar de como era ser amada por você.
	O lábio inferior dela começou a tremer. Nash se sentiu péssimo.
	— Hana, preciso lhe contar...
	— Não, não precisa. Michelle me contou tudo o que eu precisava saber.
	A expressão dele se tornou severa, como se uma onda de raiva e mágoa houvesse se apoderado dele.
	— Posso imaginar.
	— Não importa mais. Estou quase começando o período de residência.
	Ela se endireitou.
	— E, como antes, nada a fará parar.
	— Você pode me culpar: Trabalhei muito por esse diploma. 
	— Sim, eu sei. Mas ambos sabemos que ainda há algo entre nós.
	— Não podemos reviver o passado, Nash. Muita coisa já aconteceu.
	— Sei que a magoei...
	O riso amargurado de Hana o interrompeu.
	— Não pense que é capaz de imaginar como me sinto, Nash. Pelo que me lembro, você nem sequer se preocupou em perguntar isso sete anos atrás. E, para mim, já não faz mais diferença.
	Ele cerrou os punhos. Era evidente que fazia diferença, mas Hana era cabeça-dura demais para admitir. Ao mesmo tempo, a voz de sua consciência ecoava em sua mente: “E você está pronto para contar a verdade?”.
	— Vá ficar com suas filhas, Nash. Pergunte quanto tempo elas ficaram na água — falou ela, voltando a olhar para o livro e o fazendo sentir-se dispensado em sua própria casa mais uma vez. — Ah, elas também me ajudaram a preparar o jantar.
	Virando-se com hesitação e fazendo um ar de desagrado, ele voltou para a sala de jantar e a deixou sozinha. Apertando o livro contra o peito, Hana abaixou a cabeça e tentou conter as lágrimas que ameaçavam escapar-lhe dos olhos. Pensara haver se livrado das emoções de anos antes. Mas o amor que sentira fora muito sincero e intenso para ser esquecido.
	O pior era que estivera muito perto de aceitar a proposta de Nash, de parar temporariamente os estudos para se casar com ele e constituir família. Mas fora necessário recusar pois, se ela houvesse cedido, talvez jamais voltasse a estudar. Ser médica era uma das coisas mais importantes de sua vida, era um sonho do qual ela não queria abrir mão.
	De qualquer maneira, não houve muito tempo para repensar o caso, pois ele fora direto para os braços de Michelle Criswell, sem lhe dar satisfação nem olhar para trás.	
	Era verdade que todos sabiam que Michelle demonstrarainteresse por Nash desde o momento em que o conhecera, mas Hana jamais imaginara que uma colega de república a trairia, ainda mais depois de anos morando juntas como boas amigas.
	Mas sua “amiga” fizera questão de lhe mostrar, cheia de orgulho, o enorme anel de noivado que ganhara dele, dizendo em um tom vitorioso que o tirara dela sem nenhum esforço.
	Soltando um suspiro ao ouvir a voz de Nash, no outro cômodo, conversando com as meninas, pegou um guardanapo e enxugou as lágrimas. Era tarde demais para voltar atrás.
	— Calma, Hana.
	— Calma? — disse ela, ao telefone. — Juro, Kat, se eu estivesse aí...
	— Iria me espancar até me deixar inconsciente?
	Os lábios de Hana se curvaram em um sorriso e um suspiro escapou por entre eles.
	— Sim, mais ou menos isso. E ainda estragaria seu penteado. Oh, como pôde fazer isso comigo?
	— Amiga, foi o destino. Eu juro! Ele ligou e seu nome era o próximo da lista.
	— Você nem levou em consideração a situação em que estava me colocando?
	Katherine soltou uma risadinha confiante do outro lado da linha.
	— Você consegue lidar com isso. Sei que é uma mulher forte, Hana.
	— E sou também a ex-amante dele.
	— Seria rudeza de minha parte mencionar isso.
	— Ele não me quer aqui.
	— Como sabe disso? — questionou a dona da Wife Incorporated.
	— Ora, sou uma lembrança ruim do passado dele que voltou para assombrá-lo, Kat. E o fato de eu estar a poucos dias de começar a residência no hospital é um lembrete a mais do motivo de nossa separação.
	— E Michelle não tem nada a ver com isso, certo?
	Hana não queria falar a respeito de uma mulher morta, que fazia parte de um passado imutável. Além disso, ninguém sabia nada a respeito do casamento. Era como se Nash tivesse se fechado para o mundo desde o dia do noivado.
	— As investidas de Michelle nunca o abalaram, até o dia em que discuti com ele sobre minha carreira. Além disso, ela tinha todas as características adequadas, é claro, como um nome tradicional...
	— Isso é besteira!
	— ... e tudo mais — prosseguiu Hana, como se a amiga não tivesse dito nada. — Jamais daria certo entre nós. Ele queria uma esposa para ser dona de casa e mãe exemplar. Eu queria minha carreira. E ainda quero. Para completar, não tenho tempo.
	— Você tem duas semanas, querida.
	Hana se recusou a responder.
	— Tudo bem — anuiu Kat, quebrando o silêncio. — E então? Como ele está?
	Sorrindo ao notar o interesse puramente feminino da amiga, Hana balançou a cabeça negativamente e se deitou de costas na cama.
	— Bem, sabe como os bons vinhos ficam depois de amadurecidos? Pois é...
	— Oh, Deus, ele deve estar devastador.
	— Devastador é pouco — disse Hana.
	— E as filhas dele?
	Os lábios se curvaram em um sorriso.
	— São lindas. As gêmeas são adoráveis.
	— Você já se apegou a elas!
	— Qualquer pessoa com coração se apegaria.
	— E quanto ao pai delas? 
	— Esse assunto já se esgotou, Kat. Mas...
	A outra mulher se exaltou com aquele momento de hesitação:
	— Mas o quê?
	— Nada. Não é nada.
	— Que droga, Hana Ann!
	Hana sorriu. Sua amiga merecia sofrer com o suspense, depois de colocá-la naquela enrascada.
	— Sabe, Kat, o que tiver de ser, será.
	— Ha! Desdenhou Kat. – Eu bem que gostaria que alguém alto, forte e charmoso como Nashville Rayburn cruzasse meu caminho.
	— Cuidado com o que você deseja, minha cara.
	— Sua pestinha. Você foi a pior irmã caçula que já adotei.
	O carinho no tom de voz de Katherine era inconfundível, mas Hana ouviu a voz de Nash no corredor e achou melhor ver o que era.
	— Preciso desligar. Pelo que estou ouvindo, acho que Nash precisa de uma ajudazinha feminina com as meninas.
	— Bem, então corra para ele, amiga.
	Distraída, Hana nem percebeu o tom irônico e provocador de Kat ao colocar o telefone no ganho e se levantar.
	Se tivesse percebido, talvez optasse por permanecer no quarto.
	— Kimberly Grace Rayburn, abra esta porta!
	— Não posso, papai!
	— Prometi não entrar, mas vocês prometeram não trancar a porta.
	— Estamos bem, papai. Não somos mais bebês.
	— Mas vocês são os meus bebês — falou Nash, ouvindo-as rir em resposta. — Vocês sabem que posso abrir esta porta à força. 
	— Não! — gritaram as duas, em coro.
	Ele soltou um suspiro desanimado, recostando-se na parede oposta e esfregando as mãos no rosto. Já fazia dez minutos que estavam naquela situação e era inadmissível que elas tomassem banho sozinhas. Por que estariam com vergonha dele nos últimos tempos?
	— Isso é normal.
	Ao abrir os olhos, viu Hana parada logo ao lado, com algumas toalhas limpas sobre o braço.
	— Mas eu sou o pai delas.
	— Para essas meninas, no momento, você é um homem e elas não querem que as veja nuas.
	— Mas eu as vi sem roupa todos os dias pelos últimos cinco anos! E, por Deus, elas podem até se afogar...
	Hana se aproximou da porta, batendo com suavidade.
	— Ei, meninas, posso entrar?
	Depois de um instante de silêncio, ouviu-se o clique da fechadura sendo destrancada.
Nash fez uma careta, mas começou a seguir Hana ao vê-la entrar. Ela fez um gesto para que ele não a seguisse, mas deixou a porta levemente entreaberta.
	— O quê? Sem espuma?
	— Espuma? — disseram as gêmeas, entreolhando-se e sorrindo. — A sra. Winslow não nos deixa fazer espuma. Ela sempre nos apressa no banho.
	Ao ouvir aquilo, Nash fez outra careta de desgosto e se reclinou conta o portal, fora da vista delas.
	— Bem — falou Hana, ajeitando-se no chão ao lado da banheira, pegando a esponja e o sabão —, às vezes é preciso fazer as coisas depressa, mas uma dama precisa de um mergulho em uma banheira de espuma de vez em quando. É um luxo ao qual nós podemos nos dar. 
	— Por quê? — indagou Nash, sua voz vindo do corredor.
	— Porque somos mulheres, meu caro. Também é por isso que pintamos as unhas, falamos sobre roupas bonitas e sobre homens bonitos. — Hana deu uma piscadela para as meninas enquanto ensaboava os cabelos de uma delas. — Consolamos umas às outras quando temos nossos corações partidos e planejamos nosso futuro.
	— Não vejo razão para isso — insistiu ele, do lado de fora. — Entrar, limpar e sair. Transformar o banho num ritual é uma perda de tempo.
	Hana revirou os olhos e as garotas a imitaram.
	— Isso porque você é um homem e nós somos mulheres. Creio que jamais entenderia.
	— É uma dessas coisas de garota...
	— Isso mesmo. Bem, mocinhas, hora de se enxaguar.
	Nash ficou tenso. Aquele era o pior momento do banho, pois Kate tinha pavor de que lhe caísse sabão nos olhos. Contudo, mesmo ouvindo a água escorrer, não escutou nenhuma das costumeiras reclamações. Nem mesmo um protesto. Não resistindo à curiosidade, deu uma espiada pela fresta.
	Kate estava com a cabeça voltada para cima, apertando a toalha contra os olhos, enquanto Hana fazia o possível para não molhar demais o rosto dela. Era o mesmo que ele sempre fizera, mas tudo que obtinha como resultado eram gritos. Tendo acabado com Kate, a atenção de Hana se focou em Kim.
	Ele recuou antes de ser avistado, aguardando um instante de silêncio
	— Pronto, papai. Pode entrar — falou Kate, alguns minutos depois.
	— Ei! – comemorou Nash, sorrindo. – Eu sabia que minhas princesinhas estavam em algum lugar debaixo daquela sujeira toda. Aí estão vocês!
	Ambas o beijaram ao mesmo tempo, uma de cada lado do rosto, quando ele se curvou e colocou o rosto entre elas. Foram até o espelho. Observando o modo como Hana escovava os cabelos de uma delas, ele se incumbiu de fazer o mesmo com a outra, até conseguir o mesmo resultado.
	— É hora de ir dormir, mocinhas.
	As crianças foram para o quarto enquanto Hana recolhia as toalhas molhadas.
	— Obrigada, Hana.
	- Não há de quê.
	— Tenho passado por essas situações de pânico infantil faz uma semana.
	— Apenas respeite a privacidade delas. Pode acreditar, isso é só o começo. Agora, vá colocar as meninas na cama e me deixe limpar obanheiro.
	Enquanto seguia o conselho dela, Nash pensou em quanto suas filhas estavam gostando de ter uma mulher mais jovem em casa. Além disso, naquele horário a sra. Winslow estava sempre se arrumando para ir para casa. Aquilo o fez pensar se a mulher estaria mesmo doente ou apenas cansada demais.
	Hana entrou no quarto das meninas meia hora depois e encontrou Nash cochilando na poltrona que ficava entre as camas, com uma mão em cada uma das filhas. A ternura daquela cena a fez sentir um aperto no peito e um desejo inusitado de ter uma família para si. Ele estava se desdobrando para manter a sua, sendo pai, mãe e fazendeiro ao mesmo tempo.
	Olhando ao redor, notou que havia muitas fotos emolduradas nas paredes e um porta-retratos sobre a penteadeira. Todas de Nash com as meninas ou apenas delas, mas nenhuma sequer de Michelle. Qual seria o motivo?
	Aproximando-se dele, Hana o chamou com delicadeza, sussurrando-lhe ao ouvido. 
	— Você vai despertar arrependido e com torcicolo se passar a noite nessa poltrona.
	— Sua voz continua maravilhosa, Hana.
	— Quero vê-lo dizer isso quando me vir gritando de fúria.
	Aquilo o fez franzir o cenho. Nunca a vira furiosa. Jamais dera essa chance a ela. Contudo naquele momento, a expressão dela, olhando para as gêmeas, era de completa ternura. Hana oferecera seu amor às gêmeas como se as conhecesse desde sempre.
	A imagem de Michelle lhe veio à mente. Como ela tivera coragem de abandonar as filhas sem a menor preocupação? Isso o atormentava toda a vez que ele notava quanta falta elas sentiam de ter uma mãe por perto. Como naquela noite.
	Mas era preciso lembrar a si mesmo de que a presença de Hana era temporária. Não seria bom que as crianças se apegassem demais a ela, ou sofreriam ao vê-la partir.
	Mas, naquele momento, vendo-a sussurrar “boa-noite” e se dirigir ao quarto de hóspedes, pareceu-lhe impossível acreditar que a estada dela fosse algo apenas passageiro. 
Capítulo III
	Nash estava se saindo bem.
	Por mais difícil que fosse, conseguira controlar o desejo que sentia por Hana. Mas só até o momento em que fora até a parte de trás da casa, procurando seu canivete suíço, e a vira nua.
	Bem, quase nua.
	Cerrando os dentes e jogando a camisa suada para o lado, Nash desceu o machado com força sobre o pedaço de madeira que se encontrava sobre um anteparo, fazendo o chão vibrar.
	Hana poderia muito bem estar nua, tão pequeno era o biquíni cor-de-rosa que parecia apenas esconder aquele corpo voluptuoso.
	De costas para a casa, colocou outra tora sobre o anteparo, cortando-a ao meio com um só golpe. Então cortou outra, outra e mais outra, até que o cós de sua calça jeans estivesse ensopado de suor. Contudo, isso não aliviou em nada o desejo que fazia seu sangue ferver.
	A pilha de lenha que cortava já daria para um inverno e meio, mas era preciso continuar ocupado e de costas para a casa. Não poderia sequer olhar para lá, pois Hana estava ali com as meninas. Usando aquele biquíni cor-de-rosa.
	Fechando os olhos, com a lembrança do que vira ainda perturbando sua mente, balançou a cabeça por um momento, como se quisesse desanuviá-la. Só lhe restava rogar para que seus empregados não vissem daquele jeito, tão exposta e desejável. Seria pior do que um estouro de manada.
	Outra tora sofreu a violência da descarga de seu desejo reprimido, sendo partida em duas.
	— Oi.
	Com a cabeça baixa, Nash encostou a cabeça do machado no anteparo e se apoiou sobre o cabo, sem se virar.
	— Olá.
	— Você na vai nem mesmo olhar para mim? — indagou Hana.
	— Ainda está usando aqueles fiapos de pano que alega ser um traje de banho?
	— Sim, estou — respondeu ela, soltando uma risada suave. — Nash, isso é tolice.
	Colocando outra tora sobre o anteparo, ele ergueu o machado e a partiu em duas com um golpe rápido e seco. Mesmo sem olhar, foi possível sentir o modo como ela se surpreendeu.
	— O que foi que eu fiz? — indagou Hana, em tom magoado.
	— Nada.
	— Nash, se isso...
	— Volte para junto das meninas.
	— Claro, chefe. Fique feliz fazendo companhia para si mesmo.
	Ele soltou um suspiro exasperado. O problema era o desejo e a culpa que o dominavam na presença dela. Estava furioso consigo mesmo. Não se achava merecedor da gentileza de Hana.
	Então olhou por sobre o ombro. Ela estava descendo a trilha da colina, rumando para a beira da piscina, onde as meninas brincavam, sob a sombra da varanda de pedra. Hana não apenas estava usando uma saída de praia que lhe cobria todo o corpo, mas também caminhava de cabeça baixa, com os braços enlaçados ao redor de si mesma.
	Para piorar, seu olhar se desviou para o outro anteparo de cortar lenha, logo atrás dele, onde havia uma bandeja como jarro de água gelada, um copo alto e um sanduíche embrulhado. 
	Nash soltou um gemido. Precisava fazer algo o mais breve possível, ou acabaria ficando maluco.
	Nash incentivava o cavalo, tentando, sem sucesso, fazê-lo obedecer seus comandos, pois sua atenção estava em outro lugar. Não via Hana desde o desjejum, que já fora bastante tenso, graças à grosseria injustificada que cometera na tarde anterior, na colina. Mas, naquele momento, ela e as meninas estavam chegando para brincar no gramado ao lado da casa, que tangenciava a cerca do chiqueiro.
	Ao longe, pode ver-lhe a expressão preocupada, como se houvesse algo errado. Aquilo o perturbou ainda mais. Como que pressentindo a distração de seu cavaleiro, o agressivo puro-sangue empinou as patas dianteiras e quase o derrubou da sela.
	Decidido a ficar em algum lugar em que Hana ficasse fora de alcance de sua vista, sinalizou para que Seth o acompanhasse para outra área do curral. Assim que recomeçou a tarefa de amansar o animal, ouviu a voz de suas filhas, gritando:
	— Papai, venha depressa!
	Virando o cavalo na direção da casa e saindo em disparada, desceu da sela ao lado da cerca do curral e correu para o chiqueiro.
	Aproximando-se, verificou que as meninas estavam em segurança, do lado de fora da cerca, mas Hana estava caída na lama, cercada pelos porcos-africanos, que cheiravam seu rosto e seus cabelos, enlameando-a.
	— Não se mexa! — gritou ele.
	Mas ela continuou se debatendo. Conseguiu se ajoelhar, mas voltou a cair de costas.
	— Creio que não fomos apresentados adequadamente, mas acho que eles gostaram de mim — brincou Hana, mas era possível notar o medo em sua voz.
	Entrando no chiqueiro, Nash afugentou os animais aos gritos, erguendo-a nos braços e colocando-a sobre o ombro para conseguir andar pela lama até a porteira.
	— Isso não é necessário. Posso na...
	— Fique quieta!
	Sem dizer a menor cerimônia, ele a colocou de pé do lado de fora, perto do lugar onde estavam as meninas.
	— Bem obrigada — falou Hana, dando um passo atrás para recuperar o equilíbrio.
	— O que diabos você foi fazer lá dentro?
	— Derrubei o jarro ao apoiá-lo na cerca e estava tentando pegá-lo.
	O olhar dele se voltou para as filhas.
	— Vocês duas não a avisaram que é proibido entrar ali?
	As gêmeas recuaram um pouco e não disseram nada.
	— Nash...
	ele olhou para Hana.
	— Não tente defendê-las. As meninas sabem muito bem que é responsabilidade delas informá-la sobre as regras da fazenda.
	— A culpa foi minha. Não achei que fosse perigoso.
	— Dez daqueles animais são machos reprodutores! Não viu aquelas presas? Você poderia ter sido destroçada. É óbvio que não sabe nada sobre porcos-africanos, nem quão violentos eles podem ficar.
	Hana se aproximou um passo, retirando a lama dos braços com as mãos.
	— Então, porque está tão bravo? Por ter sido obrigado a parar de trabalhar para me resgatar? Porque eu poderia ter me machucado, o que me impediria de trabalhar? Por causa do meu erro? — Hana colocou as mãos na cintura. — Ou você precisava apenas de uma desculpa para gritar comigo?
	— Não estou gritando!
	O som de risada preencheu o ar.
	Virando-se para o lado, ele avistou três de seus empregadosna cerca do curral, entretidos com a cena. Bastou um olhar severo para fazê-los voltar depressa ao trabalho. Então voltou a encará-la. Ela estava coberta de lama e as meninas estavam logo atrás, como se fossem duas pequenas guarda-costas.
	— Não me venha falar de perigo, quando você mesmo arrisca sobre aqueles cavalos selvagens. Age como se ainda fosse um garoto!
	— Mas eu tenho feito isso minha vida inteira!
	— E eu estou nisso há quatro dias, Nashville, então acho que você poderia me dar um pequeno desconto!
	Virando-se de repente, ela pegou o cesto, sinalizou para as meninas e as três rumaram depressa para a casa.
	Nash tirou o chapéu de cowboy e o jogou com força no chão, respirando de maneira ofegante. Hana poderia ter morrido! Depois de andar de um lado para outro por alguns minutos, rumou para casa também.
	— Nem ouse deixar uma trilha de lama aqui dentro, Nash Rayburn — gritou Hana, assim que ele chegou à varanda. — Acabei de limpar o piso.
	Aquilo o fez parar aonde estava.
	— Então venha aqui fora.
	— Não. Volte ao trabalho e me esqueça.
	As gêmeas apareceram à porta.
	— Onde ela está, Kim?
	Hesitante, a menina olhou para a irmã.
	— No banheiro, papai — respondeu Kate. — Está se lavando.
	Retirando as botas e dobrando as barras enlameadas da calça para cima, Nash entrou com passos firmes e parou à frente do banheiro. A porta estava entreaberta e Hana estava apenas de calcinha e sutiã, curvada sobre a pia, lavando os braços, o rosto e os cabelos, que já estavam cobertos de espuma.
	Ao ver aquele corpo seminu, Nash sentiu seus hormônios atingirem uma contagem quase inumana. Ficou boquiaberto, vendo a enxaguar-se e pegar uma toalha para se enxugar.
	— Ora, mas você é mesmo ousado! — esbravejou Hana ao vê-lo, cobrindo-se com a toalha e se adiantando para fechar a porta diante dele.
	Mas a mão de Nash a impediu. A água que escorria daqueles cabelos avermelhados formavam trilhas que lhe escorriam pelos ombros, pelo pescoço, por entre os seios...
	— Pare de me olhar dessa maneira, Nash, porque não estou muito satisfeita com você no momento.
	Fitando-a nos olhos, ele tentou manter sua atenção ali.
	— Aquilo foi uma reação impensada de minha parte.
	— Você exagerou — falou Hana, dando-lhe as cosas enquanto colocava um robe, antes de voltar a encará-lo. — Não precisava me humilhar em público. E as meninas são muito pequenas para se lembrarem de regras como aquela. Elas se submetem às decisões dos adultos durante a maior parte do tempo. — Seus rostos ficaram próximos, o indicador dela estava batendo com força no peito dele. — E você é quem deveria ter me falado das regras.
	— Sim, já percebi isso. E peço desculpas.
	— Desculpas aceitas.
	Ao ouvi-la, Nash franziu o cenho.
	— Pelo seu tom, não é bem o que parece.
	— Esse é o seu problema, meu caro. Não consegue aceitar que uma questão já esteja encerrada.
	Era óbvio que havia algo mais implicado naquela frase do que a crise do momento. E isso não o agradou em nada.
	— Por que ficou tão bravo, papai?
	Ele se virou. Suas filhas o estavam olhando com olhos arregalados, quase cheios de lágrimas. Sentindo-se culpado, ajoelhou-se para falar com elas.
	— Porque fiquei assustado.
	— Por quê? — indagou Kim.
	Por experiência, Nash sabia que seria necessário responder uma série de perguntas lógicas antes que as garotas ficassem satisfeitas.
	— Porque pensei que os porcos fossem machucar a srta. Hana.
	— Mas você gritou — insistiu Kate, deixando óbvio que a explicação não fora satisfatória.
	— Isso acontece quando... — começou ele, tentando encontrar uma maneira de explicar que as fizesse entender.
	— ... quando alguém culpa a si mesmo pelo perigo em si existir — completou Hana.
	Ele se levantou e a encarou.
	— É... é isso.
	— Eu não sou de porcelana, sabia?
Mas ela era. Era delicada e frágil demais para a vida na fazenda.
— Pergunte a Seth sobre a sensação de enfrentar um porco-africano enfurecido. Aqueles bichos pesam em torno de cento e cinqüenta quilos!
	— Nesse caso, as meninas também não deveriam chegar nem perto de lá.
	— Como? 
	— A cerca e o portão do chiqueiro. Você pode garantir que são completamente à prova de um estouro de porcos?
	Nash balançou a cabeça negativamente, bravo consigo mesmo por não ter percebido isso antes, e mais ainda por saber que jamais perceberia isso por conta própria.
	— Você me desculpa, papai? — falou Kim.
	Ele se voltou para as meninas outra vez, abraçando-as.
	— Nenhuma de vocês teve culpa. O papai é quem deve pedir desculpas. Todos seremos mais cuidadosos da próxima vez.
	— Está bem.
	— Vão tomar um pouco de suco, mocinhas — falou Hana. — Daqui a pouco eu vou lá e poderemos continuar nossas tarefas.
	As gêmeas olharam os adultos por um momento e então saíram em disparada.
	— Quero que me diga os detalhes que preciso saber a respeito daqui o mais breve possível — falou ela, assim que ficaram a sós. — Acho que você as assustou um bocado.
	— Tenho certeza de que fiz isso.
Ao vê-lo com aquela expressão culpada e preocupada, Hana simpatizou com ele.
	— Volte ao trabalho, Nash. Vou acalmar as coisas por aqui. Farei com que você pareça um heróico cavaleiro aos olhos delas. Pode deixar.
	— Não exagere, por favor. Já tenho dificuldades em atender as expectativas delas do jeito que as coisas são normalmente. — Nash entregou uma toalha a ela. — Você ainda está pingando.
	Ele se aproximou e Hana pôde sentir o calor do corpo dele, mesmo sem se toracem.
	— Nem pense nisso.
	Aquilo o fez sorrir com ternura.
	— Nem pensar em quê?
	— Em me beijar.
	— Eu não estava pensando nisso.
	— Você mente muito mal — murmurou ela.
	Nash segurou o queixo dela entre o indicador e o polegar, fazendo-a erguer o rosto até ficarem bem próximos um do outro.
	— Estava pensando em fazer muito mais do que apenas beijá-la. E só estou tentando me desculpar como um verdadeiro cavalheiro.
	O corpo dela estremeceu de desejo.
	— Já aceitei suas desculpas.
	— Não o suficiente.
	Hana ficou tentada. Ah, e como ficou. Mas seu instinto de autopreservação e a velha mágoa foram mais fortes. Colocando a mão sobre os lábios dele, impediu-o de prosseguir.
	— Não. Isso só nos levará a ter mais problemas. E eu já passei por isso.
	Notando o perigo do que estava fazendo, Nash recuou. Passara os últimos dias evitando aquilo, mas perdera o controle. Inclinando a cabeça para frente, em um sutil assentimento, começou a se afastar. Antes de se vira de vez, contudo, teve a impressão de vislumbrar um certo ar de desapontamento dos olhos dela, mas foi impossível ter certeza.
	Naquela noite, ao ouvir as batidas suaves à porta do escritório, Nash nem parou de inserir os dados no computador ao dizer:
	— Entre.
	— Oi. Quer café, ou algo mais forte?
	O olhar dele encontrou o de Hana, parada à porta, e só depois registrou os cabelos molhados dela, o pijama e o robe acetinado. A bandeja em suas mãos atrapalhavam um pouco a visão daquelas formas esguias e sedutoras, mas não muito. Apesar de discreto, o traje delineava o corpo escultural com perfeição.
	— E então? — insistiu ela, desconfortável com a maneira como ela era olhada e com a demora em obter uma resposta.
	— Sim. Claro.
	— O que prefere? Café ou Bourbon?
	— Café.
	Aceitando a xícara que lhe fora oferecida, ele esperou que ela, que optara pelo vinho, se servisse, para então começar a falar sobre trivialidades.
	— O jantar estava ótimo, Hana.
	— Obrigada, chefe. Digamos que, servir costeletas de porco foi uma pequena vingança para mim.
	Aquilo o fez sorrir.
	— Desde quando se tornou uma artista da culinária?
	— Desde que isso se tornou necessário. Eu precisava comer e também ganhar dinheiro para pagar meus estudos. Demorei seis anos para completar a parte do curso que os outros fazem em quatro. Tinha de trabalhar, economizar, ir para a escola, então parar de novo para ganhar dinheiropara o semestre seguinte.
	— O que mais tem feito?
	— Um pouco de tudo. Incluindo trabalhar para a Wife Incorporated. Os horários são flexíveis e o pagamento é bom.
	Nash se recostou na cadeira, observando-a andar pelo escritório, admirando as fotografias e os moveis.
	— Esta é sua irmã?
	— Sim, é Samantha.
	— Ela é linda.
	— Pois é. Todos os rapazes da região também achavam isso e viviam em seu encalço. Daniel, o marido dela, fisgou-a antes que meu pai a mandasse para o internato, para ter sossego.
	— Hum... Sua irmã deu trabalho?
	— Se meu pai soubesse um terço do que ela aprontou, teria mandado Samantha embora no momento em que... — Ele parou de repente.
	— Em que ela começou a desenvolver seios? — sugeriu Hana.
	— Em que ela amadureceu.
	Os dois riram. Nash se inclinou e colocou um pouco de Bourbon na xícara na qual acabara de tomar café.
	— Isso é uma carta de amor?
	Hana estava apontando para uma carta emoldurada, que se encontrava ao lado de uma arma antiga.
	— Sim. Um antepassado meu a escreveu para a esposa, quando estava na guerra, mas nunca chegou a enviá-la. A carta apareceu junto com os seus pertences, trazido pelo coronel de pelotão.
	— Que história triste.
	— É mesmo. Ele deixou a esposa e três filhos aqui mesmo, nessa casa. Foi o começo da tradição dos Rayburn.
	— A carta é tão antiga assim?
	— Se não me engano, deve estar com duzentos e vinte e cinco anos.
	— Meu Deus! É impressionante que sua família ainda esteja neste lugar. 
	— Os Rayburn sempre passaram a preocupação de manter a tradição de família.
	— Admiro muito isso — falou Hana, com sinceridade. — Poucas pessoas podem olhar para a historia e dizer: “É daqui que venho, foi tudo onde começou”. 
	Quando iria responder, Nash conteve o fôlego. Ela estava olhando a foto de seu casamento cm Michelle, a única que havia em toda casa. O porta-retratos ficava em um canto de pouco destaque e mal iluminado, quase esquecido. Mas Hana o encontrara.
	Sorvendo todo o vinho de sua taça, Hana nem olhou na direção dele ao dizer:
	— Ela parece... adorável.
	— Naquele dia ela estava.
	— Você diz isso como se houvesse sido a única vez.
	Nash fez um som de desgosto e se serviu de mais Bourbon, ante de se levantar.
	— Ela está morta. Prefiro não falar a respeito.
	Hana sentiu um nó na garganta.
	— Você a amava?
	— Não pergunte, Hana. Por favor.
	— Sabe, eu nunca entendi direito.
	Observar o modo como ela segurava o porta-retratos entre as mãos o fez sentir um aperto ainda mais forte no peito.
	— Nunca entendeu o quê?
	— O motivo de você ter me abandonado e corrido para junto dela.
	— E acha que entende agora?
	Ela balançou a cabeça afirmativamente, mas com tanta sutileza que foi notar o gesto.
	— Você a amava — murmurou Hana, em tom de choro contido. — E me usou.
	— Isso não é verdade.
	Ela se virou e o encarou, os olhos cheios de mágoa.
	— Então qual é a verdade, Nash? Acho que tenho o direito de saber, depois de todos esses anos! Como foi capaz de dizer que me amava, de pedir que eu desistisse de meus sonhos por você, para então me trair?
	A expressão dele ficou severa, cheia de sofrimento. Mas ele guardou silencio.
	— nunca tive a chance de expressar minha mágoa. Ninguém imagina como foi humilhante ficar sabendo pela própria Michelle que eu havia sido descartada. Todos sabia que estávamos juntos. Todos! Você me fez parecer a vadia do campus, boa o bastante para levar para a cama, mas não o suficiente para se tornar esposa de um dos ricos e poderosos Rayburn.
	— Não, Hana, não é nada disso.
	— Sim, é! Sua noiva praticamente esfregou o anel de noivado na minha face, diante de todas as colegas da república, dizendo que eu era apenas um passatempo seu e que não deveria esperar nada além de migalhas! — esbravejou Hana, com anos de mágoa emergindo de uma só vez. — Não posso continuar com isso. Preciso ir embora daqui.
	Ela correu na direção da porta, deixando-o apavorado com a idéia de vê-la partir.
	— Hana, não!
	— Chega — falou ela, com uma das mãos no trinco da porta.
	— Michelle estava grávida.
	Parando onde estava e se virando para encará-lo, ela tomou o fôlego com dificuldade. Seus olhares se encontraram. 
	— maldito! Você dormiu com ela!
Capítulo IV
	— Não foi tão simples assim – respondeu Nash, arrasado pela expressão decepcionada de Hana.
	— Enquanto estávamos saindo?
	Diante do silêncio dele, ela se aproximou com passos largos, parando a poucos centímetros de distância, fitando-o nos olhos. Então o esbofeteou com força.
	O rosto dele virou para o lado e Nash massageou o queixo antes de voltar a encará-la. Ao vê-la erguer a mão para acertá-lo outra vez, ele a segurou pelos pulsos, enfrentando-a até que Hana caísse em seus braços.
	Ela chorou encostada em seu peito, fazendo-o sentir-se o pior canalha sobre a face da Terra.
	— Eu te amava — murmurou ela. — Eu te amava!
	— Sei disso querida. Sei mesmo. Naquela noite em que discutimos sobre o futuro, pensei que tivesse perdido para sua carreira. Então fui para a casa e me embebedei. — Nash a segurou pelos ombros e a afastou o bastante para fitá-la nos olhos. — Fiquei bêbado como nunca. Em torno da meia-noite, Michelle bateu à minha porta e se atirou nos meus braços.
	Hana se esquivou dele e lhe deu as costas.
	— Acho que não quero ouvir isso. 
	Segurando-a pelo braço, ele a forçou a se virar e encará-lo.
	— Oh, quer sim. Você queria a verdade, então vai ouvi-la toda. Quando acordei, na manhã seguinte, ela estava dormindo nua a meu lado e eu nem me lembrava de tê-la deixado entrar em meu apartamento. Não me recordo de ter feito nada com ela.
	— Mas nós dois fomos para Jekyll Island no final de semana seguinte àquela briga — falou Hana, franzindo o cenho, pois quase haviam chegado a um acordo naquela viagem. — Por isso estava tão quieto.
	O olhar acusador dela o fez sentir a necessidade de fazê-la entender, a qualquer custo.
	— Eu não poderia lhe contar algo que eu não me lembrava.
	— Um homem não esquece o fato de ter feito amor com uma mulher, Nash.
	— Ele se esquece quando não há nada a ser lembrado.
	A cabeça dela já estava começando a latejar com aquela confusão toda.
	— Mas... Você acabou de dizer que ela estava grávida.
	— Ela disse que estava. Eu tinha de acreditar. Especialmente quando fiz as contas e as semanas batiam.
	— Então casou-se com ela para dar seu nome à criança?
	— Eu havia cometido um erro e precisava repará-lo. Era meu dever, Hana.
	— E quanto a seu dever para comigo? — gritou ela, em um tom de voz alterado. — Eu até acreditaria nessa bobagem toda, se suas filhas fossem um pouco mais velhas.
	Magoada, dirigiu-se a porta. Deixaria a fazenda naquela noite e iria para a casa de Kat, em Savannah.
	— Isso porque ela mentiu.
	Hana se virou de repente, ofegante.
	— É melhor falar depressa, sr. Rayburn.
	— Ela não estava grávida, mas não percebi a verdade até que já haviam se passado semanas depois do casamento — explicou Nash, passando a mão pelos cabelos e massageando a própria nuca, sentindo-se exausto. — Michelle fez a nós dois de bobos. Depois que percebi a farsa, ela admitiu que nós nunca havíamos feito sexo antes do casamento.
	Aquilo o fez lembrar-se da mágoa e do ultraje que sentira, e principalmente da frustração de saber que abandonara Hana por nada.
	Depois de se encararem por alguns minutos em silêncio, viu-a andar devagar até o sofá e se sentar, como se estivesse com fraqueza.
	— Maldição! — resmungou ela, inclinando a cabeça para trás.
	— Pois é.
	Nash serviu outra taça de vinho e a ofereceu para Hana, que a aceitou. Depois de sorver um generoso gole, perguntou:
	— O que você fez em seguida?
	— Quais eram minhas opções? Já havia perdido você e estava casado. Na época, morávamos perto da cidade. Ela queria morar aqui, mas meus pais souberam a verdade e minha mãe não a quis na fazenda.
	— Devo ter sidoduro para você.
	Soltando um suspiro, ele se sentou em uma cadeira. Só mesmo Hana para se preocupar com os sentimentos dele em uma hora daquelas.
	— Sim, foi difícil, mas Michelle não incomodava com isso. Quando meu pai morreu, fomos obrigados a mudar para cá para ajudar a cuidar de tudo. Depois de algum tempo, mamãe não suportou a situação e se mudou para uma casa, a cinqüenta quilômetros daqui.
	— Michelle a forçou a sair?
	— Não. Elas mal se falavam. Era minha presença que a incomodava.
	As sobrancelhas dela se arquearam em surpresa.
	— Sua própria mãe?
	— Ela sabia que eu estava infeliz. Sabia que eu amava você e censurava minha opção, mas mesmo assim eu tentei fazer o casamento dar certo. Antes eu tivesse seguido o conselho dela, terminando tudo o mais breve possível. Quando as gêmeas nasceram, as exigências do papel de mãe não se encaixaram na agenda social de Michelle.
	Nash fez uma expressão sombria de desgosto e mágoa.
	— E...
	— Ela queria que eu contratasse uma babá para cuidar das meninas, deixando-a livre para brincar de “esposa rica”. Todos nesta casa trabalhavam muito, mas Michelle nunca fez nada. Só gostava do dinheiro. Aliás, vivia dizendo que eu deveria passar as obrigações para meu irmão, Jake, e sair viajando pelo mundo na companhia dela.
	— Esse era o sonho dela — murmurou Hana, balançando a cabeça negativamente.
	— No dia em que morreu, ela havia feito as malas, pedido divórcio e, quando falei que iria lutar pela custódia das meninas, ela disse que não as queria. Então foi embora, abandonando a mim, as meninas e a vida que ela conquistara por meio de mentiras e armadilhas.
	A mágoa que Hana viu nos olhos dele a deixou entristecida.
	— Graças a Deus ela não levou as gêmeas com ela — disse a ele.
	Seus olhares se encontraram..
	— Oh, eu agradeço aos céus todos os dias por isso.
	— Como Michelle pôde abandonar os bebês? Não consigo conceber algo assim. As meninas não sabem de nada disso, não é?
	— Não. Somente minha mãe soube a verdade.
	Hana acabou de beber o vinho de sua taça, então voltou a encará-lo.
	— Por que não me procurou para contar tudo, em vez de me deixar pensando o pior? Você simplesmente parou de me telefonar e nunca mais apareceu. Era como se eu não existisse mais.
	Nash se endireitou na cadeira.
	— Eu não poderia vê-la outra vez. O amor que sentia era tão forte que, se a visse ou ouvisse sua voz, não teria forças para fazer a coisa certa. Senti-me obrigado a arcar com as conseqüências dos meus erros. A reputação da minha família estava em jogo.
	— E se você tivesse me visto? — indagou Hana, em tom suave.
	Ele passou as mãos pelos cabelos.
	— Eu a teria levado para algum lugar distante e fugido de tudo, sem olhar para trás.
	A garganta de Hana se fechou em um nó. Seus olhos se encheram de lágrimas, que começaram a escorrer-lhe pela face.
	— Não acredito que não tenha me procurado. Maldito seja o orgulho dos Rayburn — sussurrou ela, com a voz entrecortada. — Eu... poderia ser a mãe delas.
	Nash balançou a cabeça afirmativamente, sentindo um aperto no peito. O que mais desejava naquele momento era tomá-la nos braços e confortá-la, mas conhecia-a bem o bastante para saber que aquele não era o momento.
	— Você deveria ser a mãe delas.
	Eles se encaravam em silêncio, um sentindo a mágoa e a frustração do outro. Os olhos dele ardiam e a voz quase lhe faltou ao dizer:
	— Eu... sinto muito, meu anjo.
	Hana abaixou o olhar, então se levantou e saiu pela porta. Franzindo o cenho, Nash a seguiu pelo corredor, parando à porta do quarto dela ao vê-la deitar-se em silêncio na cama.
	— Hana?
	— Não agüento mais falar sobre isso. Tudo isso foi... demais.
	Entrando no quarto, ele a cobriu com o lençol e se ajoelhou ao lado da cama. Os olhos marejados de lágrimas se abriram para fitá-lo.
	— Perdoe-me, querida. Se eu pudesse mudar o passado...
	Ela tirou a mão debaixo do lençol e cobriu os lábios dele com dois dedos.
	— O que passou, passou, Nash. Precisamos seguir em frente.
	Soltando um suspiro, ele se reclinou e beijou-lhe a testa.
	Hana fechou os olhos e absorveu aquela sensação, ouvindo-o partir em seguida, fechando a porta atrás de si.
	Só lhe restava rogar para que o vinho surtisse um efeito forte e a fizesse ter uma noite de sono sem nenhum sonho a respeito de como sua vida poderia, ou deveria, ter sido.
	
Hana acordou suada, meia hora antes do despertador tocar. Estivera sonhando com Nash. Não apenas isso. Sonhara que estava fazendo amor com ele. Fora real demais.
	“Isso não é justo”, pensou consigo mesma. Antes de adormecer, concluíra que não adiantaria retomar um relacionamento que não tinha futuro. Decidira que iria se manter distante dele. Partiria o mais depressa possível e aguardaria o começo do período de residência. Havia outras pessoas contando com sua presença no hospital.
	Levantando-se, foi ao banheiro, vestiu-se e foi para a cozinha. Precisava de um copo de água e de uma perspectiva mais clara de o que fazer, antes que os outros acordassem.
	Principalmente Nash.
	Nash passara a noite em claro. A culpa o consumia. Precisava saber se Hana o perdoara. Quando faltava meia hora para seu despertar habitual, ocorreu-lhe uma possibilidade: e se ela tivesse partido na calada da noite? Como teria a chance de conquistar a confiança dela outra vez?
	Vestindo uma calça jeans e se lavando às pressas, foi rapidamente até o quarto dela. Sentiu um nó no estômago. A cama estava arrumada, como se o quarto estivesse desocupado.
	Depois de alguns minutos de pânico silencioso, ouviu um ruído estranho vindo do outro lado da casa. O alívio que sentiu ao chegar na cozinha foi imenso, pois a avistou andando de um lado para outro, preparando o desjejum.
	Olhando ao redor, percebeu que estavam sozinhos. As meninas acordariam bem mais tarde, mas os empregados chegariam para comer em poucos minutos. Observando-a em silêncio, ficou procurando por algo para dizer.
	— Espiar os outros é falta de educação, Nash.
	— Então vista mais roupas da próxima vez.
	Hana olhou para o short e para a camiseta que usava, então o encarou.
	— É melhor pensar a respeito desse problema que você tem com as minhas roupas. Aliás, nem está em condição de me criticar.
	Olhando para aquele peito nu, Hana tentou não se demorar demais admirando-o. Era melhor encará-lo e manter o foco da atenção ali. Melhor ainda, iria tratar de cozinhar, antes que fizesse alguma besteira.
	Colocando manteiga para derreter na frigideira, quebrou alguns ovos em uma tigela. Então notou que Nash se aproximara. Uma daquelas mãos másculas pegou um ovo ainda inteiro que estava em sua mão e o colocou de volta na cartela. 
	Ao se virar e sustentar o olhar dele, soube de imediato qual era sua intenção. Ela se afastou.
	— Não.
	Nash a segurou pela cintura e a puxou para perto de si.
	— Sim.
	Hana espalmou as mãos contra o peito dele, tentando empurrá-lo, sem nenhum resultado. 
	— Os homens chegarão a qualquer momento. Não seria nada bom que eles vissem seu chefe com a babá nos braços.
	— Deixe que eles procurem suas próprias babás.
	Os lábios dela se curvaram num sorriso,
	— Você é incorrigível, Nash.
	— Mas eu estou sofrendo.
	O sorriso dela desapareceu.
	— Nash...
	— Preciso de seu perdão, querida. Sei que não o mereço, mas preciso ouvir isso de você.
	Fitando aqueles olhos azuis, Hana identificou a agonia que o consumia, e só ela tinha a chave que o libertaria da culpa.
	— Claro que eu o perdôo. Além do mais você foi tão vítima quanto eu.
	— Mas eu poderia ter agido de outra maneira.
	— Não, não poderia. Como iria saber ao certo que ela não estava carregando um filho seu? E mesmo na presença da dúvida, você é honrado demais para não fazer a coisa certa.
	Nash pressionou a testa contra a dela.
	— Oh, Hana.
	— Encare a verdade, querido, você é um dos mocinhos.
	Os lábios dele se curvaram num sorriso aliviado.— Repita isso mais uma vez, só para que eu tenha certeza de que não estou sonhando.
	— Eu te perdôo, Nashville.
	— Assim até vale a pena ouvir esse nome horroroso — falou ele, apertando-a contra si e a beijando na testa. — Obrigada, querida.
	Hana recostou a cabeça sobre aquele peito másculo, apertou os braços ao redor da cintura dele e soltou um suspiro.
	Aquilo o fez sentir-se satisfeito e atormentado ao mesmo tempo. O perdão dela o liberou, mas o impulso de seu desejo se tornou ainda mais forte. Não seria mais possível resistir àqueles lábios perfeitos.
	Afastando o rosto por um momento, esperou que ela o encarasse. No momento em que seus olhares se encontraram, foi como se o universo desaparecesse. Apenas seus corpos e suas almas existiam naquele momento. Sentindo a urgência de seu corpo se refletindo nela, beijou-a como jamais o fizera antes.
	As carícias que se seguiram ao beijo dele a fizeram lembrar-se de como era delicioso fazer amor com Nash. Hana mal podia acreditar que estava ali, na casa dele, depois de todas as decisões que tomara. Mas era mais forte do que ela mesma. Pelo menos por um momento, iria aproveitar sem se preocupar.
	Então o som das vozes se fez ouvir ao longe. Eram Seth e os rapazes. 
	Recompondo-se, eles se separaram.
	Hana percebeu então o que estivera fazendo. Ou melhor, o que quase fizera.
	— Não farei isso de novo — sussurrou ela. — Não mesmo.
	— Hana, as coisas são diferentes agora.
	O som dos homens ficava mais próximo a cada instante. Ela estreitou o olhar e nada disse.
	— Você não pode negar que há algo entre nós, querida.
	Os lábios dela se curvaram com certa amargura,
	— Sim, há, mas não podemos deixar que vá além disso. Eu vou embora.
	— Você não confia em mim. Quer fugir porque acha que eu a magoarei outra vez.
	— Isso não importa.
	— Claro que importa, sua cabeça-dura. Falaremos disso mais tarde,
	— Não há o que falar, Nash, Dessa vez eu não tenho escolha. Há outras pessoas contando comigo.
	Em vez de responder, ele apenas cruzou os braço e endireitou o corpo, o que a irritou ainda mais. 
	Quando Seth entrou na cozinha, avistou os dois e olhou de um lado para outro, com ar curioso. Havia poucos centímetros separando seus corpos, mas suas expressões eram de quem estava no meio de uma batalha entre o desejo e a razão.
	Antes que o cowboy fizesse qualquer pergunta indiscreta, Nash a olhou com olhar carinhoso e falou?
	— Vá preparar o desjejum, Hana. O sol já vai nascer.
	Ela balançou a cabeça afirmativamente. Pelo menos achou que o fez. Aquele olhar envolvente a afetou quase tanto quanto o ardente beijo de antes. Foi preciso utilizar toda sua força de vontade para não se atirar de novo nos braços dele e exigir outro daqueles beijos sedentos que pareciam capazes de lhe roubar a alma.
Capítulo V
	Hana fez o possível para não pensar em Nash. Tentou divertir as meninas, brincando com elas e deixando os serviços domésticos para depois. Certas coisas eram mais importantes do que manter o chão da cozinha sempre brilhando.
	Como brincar com bonecas, ou manter o dedo mindinho levantado ao fingir estar tomando um chá delicioso, ou usar um vestido com saia bem rodada e um chapéu à moda antiga, pensou ela, olhando para a aba do seu chapéu.
	Então estendeu a xícara de brinquedo na direção de Kim.
	— Por gentileza, srta. Kimberly.
	Com um risinho de divertimento, a menina fingiu servir chá para ela. As três estavam brincando à sombra da varanda do fundo da casa. Kim e Kate trajavam vestido antigos que a avó havia deixado em um baú para elas brincarem. Hana escolhera um vestido azul, à la Audrey Hepburn, e um chapéu combinando.
	Haviam passado a maior parte da manhã na piscina e continuavam com as roupas de banho por baixo do vestido. O dia estava perfeito para brincar, e Hana decidira aproveitá-lo ao máximo com as meninas.
	Não queria pensar em Nash e nem dar ouvidos ao que ele andava dizendo, do contrario acabaria cedendo e se entregando a ele mais uma vez. Não, não podia deixar isso acontecer.
	Ao perceber que já estava pensando em Nash novamente, ficou de pé com um impulso e disse:
	— Vamos dançar um pouco. Todo esse chá pode acabar nos trazendo uns quilinhos a mais e precisamos nos livrar deles.
		As meninas levaram a mão aos lábios e começaram a rir, enquanto Hana ligava o rádio em uma estação que tocava rock. Kim e Kate também ficaram de pé, começando a dançar e a cantar com empolgação. Hana sorriu ao vê-las rodopiando com os vestidos de saia rodada com manequins vários números acima dos delas e tentando se equilibrar sobre as sandálias de salto alto bem maiores do que seus pezinhos delicados. Sem resistir, juntou-se a elas.
	“Oh, essas duas vão arrasar corações quando crescerem”, pensou.
	— A festa é particular ou está aberta para convidados? 
	Hana parou de dançar no mesmo instante e virou-se para trás a tempo de ver Nash subindo a escada da varanda. Ele estava irresistível trajando jeans desbotado, uma camisa branca com as mangas dobradas, botas de vaqueiro e um chapéu cinza-escuro. Se pelo menos ele não a afetasse tanto, pensou Hana, contendo o fôlego quando ele finalmente parou próximo a elas. Era impossível ignorá-lo. Ainda mais quando ele a olhava daquela maneira possessiva.
	Determinada a não demonstrar o poder que ele ainda exercia sobre ela, Hana sorriu.
	— Claro que pode se juntar à festa — respondeu.
	Os lábios dele se curvaram em um sorriso charmoso, ciente de que sua presença a afetara.
	— Acho que ainda sei dar alguns passos — disse ele.
	— Você sempre soube dançar muito bem.
	— Fico contente que ainda se lembre de algumas coisas a meu respeito.
	Hana estava prestes a responder, mas Nash enlaçou o braço em torno de sua cintura e começou a dançar com ela. 
	As meninas deram gritinhos de surpresa, como se estivessem presenciando algo proibido para crianças.
	Hana sentiu um frio no estomago, sentindo o coração acelerar e mais ciente do que nunca do poder que a proximidade de Nash exercia em seu ser.
	Quando se separaram para dar alguns passos mais ousados, Nash riu ao vê-la jogar o chapéu para o lado, antes de terminar a dança com um movimento dramático. As gêmeas começaram a aplaudir.
	— O que mais pretende tirar? — sussurrou ele, de modo que somente ela o ouvisse.
	Hana sabia que não deveria fazer aquilo, mas Nash a estava provocando. Sem hesitar, ela deu um passo atrás, abriu o zíper do vestido e deixou que ele caísse ao seus pés. Então fez uma pose provocante e começou a descer a escada da varanda, chamando as meninas para se juntarem a ela na piscina.
	Kim e Kate levaram a mão à boca, rindo com divertimento. Nash continuou no mesmo lugar por alguns segundos. Então passou a mão por entre os cabelos e disse às meninas que tirassem os vestidos e acompanhassem Hana.
	— Deveria ter visto seu rosto, papai! — falou Kim. — Seus olhos ficaram desse tamanho — completou ela, arregalando os olhos com a ajuda das mãos.
	— Sim, eu sei — anuiu ele, também descendo as escadas e seguindo-as em direção à piscina.
	Assim que chegaram lá, as meninas foram logo pulando na água. Aproveitando o momento de distração, nas disse:
	— Aposto que esse é o menor biquíni que você já usou.
	— Se não gostou, é só não olhar — respondeu Hana, em tom de provocação.
	— Nenhum homem com sangue nas veias conseguiria deixar de olhar para você, minha cara. Ainda mais nesse “traje, se é que isso pode ser chamado assim.
	— Já deveria ter aprendido a não me provocar, Nash.
	Um brilho diferente surgiu nos olhos dele.
	— Como daquela vez em que fizemos amor na praia?
	— Shh. — Hana olhou para as meninas que se aproximavam.
	Depois de elogiar o modo como as duas haviam nadado até a beira da piscina, ela se dirigiu a Nash:
	— O almoço está na geladeira. Basta esquentá-lo no microondas.
	— Está me dispensando?
	Hana sorriu.
	— Sim, cowboy. Volte ao trabalho.
	Ele enfiou os polegares no cós da

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