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TEORIA GERAL DO CRIME

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TEORIA GERAL DO CRIME
	No Brasil, infração penal é gênero, podendo ser dividida em crime (ou delito) e contravenção penal (ou crime anão, delito liliputiano ou crime vagabundo). 
		Nos termos do que disposto no art. 1° da Lei de Introdução ao Código Penal, " Considera-se crime a infração penal que a lei comina pena de reclusão ou de detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa; contravenção, a infração penal a que a lei comina, isoladamente, pena de prisão simples ou de multa, ou ambas alternativa ou cumulativamente" (art. 1 °) . Percebam, portanto, que os crimes serão punidos com penas mais severas (reclusão ou detenção) , enquanto as contravenções penais com penas menos severas (destacando-se a prisão simples, art. 6° da LCP, que não segue os rigores penitenciários daquelas) .
	O conceito de infração penal varia conforme o enfoque: 
Sob o enfoque formal, infração penal é aquilo que assim está rotulado em uma norma penal incriminadora, sob ameaça de pena. 
Num conceito material, infração penal é comportamento humano causador de relevante e intolerável lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado, passível de sanção penal. 
O CONCEITO ANALÍTICO LEVA EM CONSIDERAÇÃO OS ELEMENTOS ESTRUTURAIS QUE COMPÕEM INFRAÇÃO PENAL, PREVALECENDO FATO TÍPICO, ILÍCITO E CULPÁVEL.
- SUJEITOS (ATIVO E PASSIVO) DO CRIME: 
	Sujeito ativo do crime é a pessoa que pratica a infração penal. Qualquer pessoa física capaz e com 18 (dezoito) anos completos pode ser sujeito ativo de crime.
	O crime, quanto ao sujeito ativo, classifica-se em:
Crime comum, quando o tipo penal não exige qualidade ou condição especial do agente (homicídio - art. 121 do CP) ; 
Crime próprio, quando o tipo penal exige qualidade ou condição especial do agente (peculato - art. 312 do CP) 
Crime de mão própria quando além de exigir o tipo qualidade ou condição especial do agente, a execução do crime somente pode ser praticada por ele, caracterizando infração penal de conduta infungível (falso testemunho - art. 342 do CP)
 obs. Pessoa jurídica pode ser sujeito ativo de determinados crimes. (Crimes ambientais)
	O sujeito passivo é a pessoa ou ente que sofre as consequências da infração penal. Pode figurar como sujeito passivo qualquer pessoa física ou jurídica, ou mesmo ente indeterminado, destituído de personalidade jurídica (ex: coletividade, família, etc.), caso em que o crime é chamado pela doutrina de vago. O sujeito passivo classifica-se em:
 (A) sujeito passivo constante (mediato, formal, geral ou genérico) : será sempre o Estado, interessado na manutenção da paz pública e da ordem social. As normas penais emanam do Estado, de modo que, sendo ele titular do mandato proibitivo, será sempre lesado pela conduta do sujeito ativo. 
(B) sujeito passivo eventual (imediato, material, particular ou acidental) : é o titular do interesse penalmente protegido. 
	O morto, não sendo titular de direitos, não é sujeito passivo de crime. Punem-se, entretanto, os delitos contra o respeito aos mortos (arts. 209 a 212 do CP) , sendo vítima, nesses casos, a coletividade. De igual modo, é punível a calúnia contra o morto (art. 1 38, §2°, CP), figurando como sujeito passivo, sim a sua família. 
	Os animais não são vítimas de crime, embora possam aparecer como objeto material do delito, figurando como sujeito passivo o proprietário do animal (crime de dano, furto, etc.) ou a coletividade, no caso das infrações ambientais (art. 64 da LCA ou Lei de Crimes Ambientais) .
OBJETOS (MATERIAL E JURÍDICO) DO CRIME MATERIAL 
- Objeto material é a pessoa ou coisa sobre a qual recai a conduta criminosa.
 - Objeto jurídico do delito revela o interesse tutelado pela norma, o bem jurídico protegido pelo tipo penal .
CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA DE CRIMES
CRIME MATERIAL, FORMAL E DE MERA CONDUTA.
Material: É aquele que descreve o resultado naturalístico (modificação do mundo exterior) e exige a sua ocorrência para a consumação.
Formal: No crime formal (ou de consumação antecipada) , o resultado naturalístico é previsto, mas é dispensável, pois a consumação ocorre com a conduta. O resultado jurídico consumador do delito ocorre em concomitância com o comportamento do agente. Como exemplos, podemos citar os crimes de ameaça e de extorsão.
Mera conduta: O crime de mera conduta, por sua vez, é aquele que apenas descreve a conduta delituosa, sem mencionar qualquer resultado naturalístico, que, obviamente, é dispensável. Pune-se o agente pela simples atividade, como, por exemplo, no porte ilegal de arma e na violação de domicílio.
CRIME COMUM, PRÓPRIO E DE MÃO PRÓPRIA
Comum: É aquele que pode ser praticado por qualquer pessoa, isto é, em que a lei não exige qualidade especial do sujeito ativo. Ex.: homicídio, furto, latrocínio.
Próprio: No crime próprio, o tipo penal exige que o agente ostente certas características. Como exemplos, temos os crimes funcionais, como peculato e corrupção passiva, que só podem ser praticados por funcionários públicos no exercício de suas funções; o infanticí dio, que somente a mãe pode praticar etc.
De mão própria: É aquele que somente pode ser cometido por determinado agente designado no tipo penal. Exige-se a atuação pessoal do sujeito ativo, que não pode ser substituído por mais ninguém, a exemplo do que ocorre no falso testemunho ou falsa perícia (Código Penal, artigo 342).
CRIME DOLOSO, CULPOSO E PRETERDOLOSO.
Doloso: O crime será doloso sempre que o agente quiser o resultado (dolo direto) ou assumir o risco de produzi-lo (dolo eventual) .
Culposo: Será culposo, por sua vez, o crime cujo resultado não for querido ou aceito pelo agente, mas que, previsível, seja proveniente de inobservância dos deveres de cuidado (imprudência, negligência ou imperícia) .
Preterdoloso: Diz-se preterdoloso o crime praticado com dolo em relação ao fato antecedente e culpa no que tange ao resultado agravante, como ocorre na lesão corporal seguida de morte, em que a intenção inicial do agente era a de tão somente atingir a integridade física da vítima, mas, por inobservância das cautelas necessárias, termina por causar a morte.
CRIME INSTANTÂNEO, PERMANENTE E INSTANTÂNEO DE EFEITOS PERMANENTES.
Instantaneo: É aquele que se consuma em momento determinado (consumação imediata) , sem qualquer prolongação
Permanente: É aquele em que a execução se protrai no tempo por determinação do sujeito ativo. É a modalidade de crime em que a ofensa ao bem jurídico se dá de maneira constante e cessa de acordo com a vontade do agente. Como exemplo, temos a extorsão mediante sequestro.
Instantaneo de efeito permanente: Nos crimes instantâneos de efeitos permanentes, a consumação também ocorre em momento determinado, mas os efeitos dela decorrentes são indeléveis, como no homicídio consumado, por exemplo.
CRIME CONSUMADO E TENTADO.
Consumado: Quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição legal;
Tentado: Quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente.
- Artigo 14 Parágrafo único - Salvo disposição em contrário, pune-se a tentativa com a pena correspondente ao crime consumado, diminuída de um a dois terços.
CRIME PLURISSUBJETIVO E UNISSUBJETIVO.
Plurissubjetivo: Ocorre na hipótese em que o concurso de agentes sej a imprescindível para sua configuração (crime de concurso necessário).
Unissubjetivo: É aquele que pode ser praticado por apenas uma ou várias pessoas (concurso eventual de agentes) .
CRIME UNISSUBSISTENTE E PLURISSUBSISTENTE
Unissubsistente: Crime unissubsistente é aquele em que não se admite o fracionamento da conduta, isto é, perfaz-se com apenas um ato. Por isso, não admite a tentativa. Como exemplo, temos os crimes contra a honra cometidos verbalmente.
Plurissubsistente: No crime plurissubsistente, por sua vez, a conduta é fracionada em diversos atos que, somados, provocam a consumação. Por esse motivo, é admissível a tentativa, como, por exemplo, no homicídio, no roubo, no estelionato etc.
CRIME COMISSIVOE OMISSIVO
Comissivo: O crime comissivo nada mais é do que a realização (ação) de uma conduta desvaliosa proibida pelo tipo penal incriminador.
Omissivo: O crime omissivo é a não realização (não fazer) de determinada conduta valiosa (comportamento ideal) a que o agente estava juridicamente obrigado e que lhe era possí vel concretizar. Viola um tipo mandamental .
- Próprio: A norma mandamental (que determina a ação valiosa) pode decorrer do próprio tipo penal, quando o tipo descreve a omissão (exemplo: deixar de prestar assistência - omissão de socorro).
- Impróprio:  Artigo 13, § 2º, CP - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado. 
O dever de agir incumbe a quem:
        a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; 
        b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado
        c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado
CONCEITO ANALÍTICO DE CRIME
	
	Prevalece hoje, na Doutrina e Jurisprudência pátrias, a teoria tripartite de crime. Segundo esta, o crime contém 03 substratos. 
FATO TÍPICO + ILICITUDE + CULPABILIDADE = CRIME
FATO TÍPICO:
	Pode ser conceituado como ação ou omissão humana, antissocial que, norteada pelo princípio da intervenção mínima, consiste numa conduta produtora de um resultado que se subsume ao modelo de conduta proibida pelo Direito Penal, seja crime ou contravenção penal.
O fato típico é composto por quatro elementos: Conduta, resultado, nexo causal e tipicidade.
A) CONDUTA: A teoria finalista concebe a conduta como comportamento humano voluntário psiquicamente dirigido a um fim. 
A-1) Causas de exclusão da conduta: 
- Caso fortuito e força maior
- involuntariedade: É a ausência de capacidade, por parte do agente, de dirigir sua conduta de acordo com uma finalidade predeterminada. (Estados de inconsciência incompleta, reflexos.)
- Coação física irresistível: 
 A-2) Formas de conduta: A conduta pode ser dolosa ou culposa, comissiva ou omissiva. 
DOLO: Pode ser direto ou indireto.
Direto: Como visto anteriormente, o dolo direto é a ação dirigida a um fim específico. 
Indireto: Esta modalidade pode ocorrer de duas formas:
A) Alternativo: o agente prevê uma pluralidade de resultados, dirigindo sua conduta para perfazer qualquer deles com a mesma intensidade de vontade (ex.: quero ferir ou matar, tanto faz).
B) Eventual: O agente não quer o resultado mais grave, mas assume o risco de produzi-lo. (é indiferente ao resultado).
CULPA: São elementos da culpa: 
1- Conduta humana voluntária, 
2 -violação de um dever de cuidado objetivo (imprudência, negligência e imperícia),
 3- resultado, 
4- nexo e 
5- previsibilidade do resultado. 
Formas de culpa: 
Comum ou inconsciente: O agente não prevê o resultado que lhe era previsível
Consciente: Prevê o resultado mas acredita que este não se realizará. 
OBS. Somente se pune a forma culposa se previsto expressamente em lei. 
B) RESULTADO
	Da conduta (ação ou omissão sem a qual não há crime) podem advir dois resultados: naturalístico (presente em determinadas infrações) e normativo (indispensável em qualquer delito).
C) NEXO CAUSAL
Nexo causal é o vínculo entre conduta e resultado.
	Adotou-se, no caso, a teoria da equivalência dos antecedentes causais (ou da conditio sine qua non). Em resumo, para esta teoria, todo fato sem o qual o resultado não teria ocorrido é causa.
	 Para saber se uma conduta é causa de um resultado, utiliza-se o método da eliminação hipotética dos antecedentes causais. (Dessa análise concluímos pela causalidade objetiva- Causa/efeito).
	Todavia essa causalidade não é suficiente para determinarmos a responsabilidade penal, é necessário também analisarmos a causalidade psíquica (Dolo/culpa), sob pena de voltamos ao infinito. 
C - 1) Concausas
	Identificados quais antecedentes podem figurar como causa dentro de uma linha de eventos que se sucedem, nota-se que, no caso concreto, é possível que haja mais de uma causa concorrendo para o resultado (concausas). 
As concausas podem ser: Preexistentes, concomitantes ou supervenientes. E ainda diferenciam-se em:
- abslutamente independes. Nesse caso o autor responde pelo seu dolo e não pelo resultado.
- Relativamente independentes. Nesse caso, se a situação era preexistente ou concomitante, responde pelo resultado. Por outro lado, se a causa for superveniente, e por si só, causar o resultado, o agente não responde pelo resultado. 
D) TIPICIDADE
	Tipicidade nada mais é do que a subsunção do fato à norma. Aqui, deve-se atentar, também, para a análise dos princípios, em especial o da insignificância.

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