Buscar

Poliarquia em Duas e Tr s Dimensoes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 14 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 14 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 14 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Poliarquia em Duas e Três Dimensões 
 
Luiz Fernando Vieira Vasconcellos de Miranda* * 
 
 
Resumo: 
 
Este trabalho tem por propósito analisar criticamente as obras ‘Poliarquia’, de Robert 
Dahl, e o artigo ‘Poliarquia em 3D, de Wanderley Guilherme dos Santos no intuito de 
chamar a atenção para a importância das duas dentro do de que se convencionou chamar 
teoria democrática. Para que tal análise possa ser feita, antes será apresentado um 
resumo sintético das mesmas. 
 
Palavras-chave: teoria política; democracia; poliarquia; Robert Dahl 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
* Este artigo foi originalmente apresentado como trabalho final da disciplina “Teoria Política III”, 
ministrada pelo professor César Guimarães. Agradeço a Tiago Couto Berriel pela revisão e comentários 
sugestivos, que tornaram o trabalho mais claro e objetivo. 
* Mestrando em Ciência Política, Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro. E-mails: 
lfmiranda2005@yahoo.com.br / lfvasconcellos@iuperj.br 
Introdução 
 
Este trabalho tem por objetivo inicial apresentar um resumo sintético de um livro e um 
artigo que são complementares. Trata-se, pois, de ‘Poliarquia’ de Robert Dahl e de 
‘Poliarquia em 3D’ de Wanderley Guilherme dos Santos. Por objetivo final o trabalho 
expõe algumas aproximações e distanciamentos dentro de uma perspectiva crítica. 
A Poliarquia Bidimensional de Robert Dahl 
 
Dahl já no início de seu trabalho ‘Poliarquia’ resume o objetivo de seu esforço teórico 
em uma indagação: “Dado um regime em que os opositores do governo não possam se 
organizar aberta e legalmente em partidos políticos para fazer-lhe oposição em eleições 
livres e idôneas, que condições favorecem ou impedem sua transformação num regime 
no qual isto seja possível?” (Dahl: [1971] 1997: 25) Seu livro trata, portanto, da 
democratização e desenvolvimento da opinião pública. O termo “democracia” em Dahl 
significa um sistema político que tem como uma de suas características a qualidade de 
ser inteiramente, ou quase, responsivo aos seus cidadãos e são três as oportunidades 
plenas que os cidadãos devem ter para que um governo possa ser, então, responsivo a 
eles: a) a oportunidade de formular preferências; b) a oportunidade de expressar suas 
preferências a seus concidadãos e ao governo através da ação individual e coletiva e c) a 
oportunidade de ter suas preferências igualmente consideradas na conduta do governo, 
ou seja, consideradas sem discriminação decorrente do conteúdo ou da fonte da 
preferência. Decorre que para a existência destas três características oito garantias 
devem ser fornecidas pelas instituições da sociedade. Reproduzo de forma resumida, 
aqui, a tabela que expressa essas garantias. 
 
Tabela 1 
Alguns requisitos de uma democracia para um grande número de pessoas 
______________________________________________________________________ 
Para a oportunidade de: São necessárias as seguintes garantias: 
institucionais: 
 
I. Formular preferências 1. Liberdade de formar e aderir a organizações 
I. Formular preferências 2. Liberdade de expressão 
I. Formular preferências 3. Direito de voto 
I. Formular preferências 4. Direito de líderes políticos disputarem apoio 
I. Formular preferências 5. Fontes alternativas de informação 
 
II. Exprimir preferências Todos os cinco pontos anteriores mais dois 
II. Exprimir preferências 6. Elegibilidade para cargos públicos 
II. Exprimir preferências 7. Eleições livre e idôneas 
 
III. Ter preferências igualmente Todos os sete pontos anteriores mais um 
consideradas na conduta do governo 8. Instituições para fazer com que as políticas 
 governamentais dependam de eleições e de 
 outras manifestações de preferência 
 
Essa escala permite, então, a comparação de regimes segundo a amplitude da oposição, 
da contestação pública ou da competição política permissíveis. Surge, pois, uma 
segunda dimensão que é complementar à contestação pública: a inclusividade, que é a 
quantidade de pessoas habilitada a participar deste regime. 
 
Figura 1 
Duas dimensões da democratização 
 
 
 Plena 
 
 
 
 
 Contestação 
 Pública 
 [Liberalização] 
 
 
 
 
 Nenhum(a) 
 Direito de participar em eleições 
 e cargos públicos [Inclusividade] 
 
 
 * Fonte: (Dahl: [1971] 1997: 29) 
 
Um bom exemplo onde podemos encontrar as duas dimensões é o direito ao voto.Pondo 
as duas dimensões em um gráfico cartesiano em que o eixo da abscissa é a inclusividade 
(participação) e o eixo da ordenada é a liberalização (contestação pública), 
visualizaremos o famoso gráfico de Dahl onde ele localiza e formula sua tipologia de 
regimes. São quatro tipos: o primeiro localiza-se o mais próximo de onde a contestação 
pública é nenhuma e a participação também é nenhuma – chama-se hegemonia fechada; 
o segundo localiza-se mais próximo de onde a contestação pública e plena e a 
participação é nenhuma – chama-se oligarquia competitiva; o terceiro localiza-se o mais 
próximo de onde a contestação pública é nenhuma e a participação é plena – chama-se 
hegemonia inclusiva; e o quarto localiza-se o mais próximo de onde ambas contestação 
pública e participação são plenas – chama-se de poliarquia. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 2 
Liberalização e democratização 
 
 
 Oligarquias Poliarquias 
 competitivas 
 
 III 
 
Liberalização 
 (contestação I 
 pública) 
 
 
 
 II 
 
 
 Hegemonias Hegemonias 
 fechadas inclusivas 
 
 
 Inclusividade (participação) 
 
 * Fonte: (Dahl: [1971] 1997: 30) 
 
Se um regime hegemônico se desloca através do caminho I (de uma hegemonia fechada 
para uma oligarquia competitiva), haverá uma maior contestação pública e, portanto, 
uma maior liberalização onde o regime se torna mais competitivo. Se o mesmo regime 
se desloca através do caminho II (de uma hegemonia fechada para uma hegemonia 
inclusiva), haverá uma maior participação e, portanto, uma maior popularização onde o 
regime se torna mais inclusivo. Se o mesmo regime se desloca através do caminho III 
(de uma hegemonia fechada para uma poliarquia), haverá um maior grau de 
democratização e, portanto, democratização é algo que diz respeito tanto à participação 
quanto a inclusividade. Usa-se o termo poliarquia onde se “poderia” usar democracia 
justamente porque o autor não vê no mundo real nenhum grande sistema como 
plenamente democratizado. As poliarquias podem ser pensadas, então, como regimes 
relativamente (mas incompletamente) democratizados e, segundo o autor, se fossemos 
observar os regimes nacionaisà época da feitura do livro (1971) iríamos encontrar um 
número significativo de países na área média do gráfico. 
 
Feita esta análise, Dahl reformula sua questão inicial desmembrando-a em três: 1a) Que 
condições aumentam ou diminuem as chances de democratização de um regime 
hegemônico ou aproximadamente hegemônico(?); 2a) Mais especificamente, que fatores 
aumentam ou diminuem as chances de contestação pública(?); 3a) Ainda mais 
especificamente, que fatores aumentam ou diminuem as chances de contestação pública 
num regime fortemente inclusivo, isto é, numa poliarquia(?). 
 
A transformação de hegemonias e oligarquias em quase-poliarquias foi, essencialmente, 
o processo que se operou no mundo ocidental ao longo do século XIX. A transformação 
de quase-poliarquias em poliarquias plenas foi o que ocorreu na Europa nas quase três 
décadas que se estenderam do final do século passado até a Primeira Guerra Mundial. A 
terceira transformação que corresponde a uma democratização ainda maior de 
poliarquias plenas coincide com o rápido desenvolvimento do Estado de bem-estar 
democrático que se seguiu à instauração da Grande Depressão, processo este que 
segundo o autor parece ter se renovado no final dos anos 60 na forma de rápido 
crescimento das reivindicações pela democratização de uma grande diversidade de 
instituições sociais. Importante frisar, aqui, que ‘Poliarquia’ trata apenas das duas 
primeiras transformações. 
 
Sobre a tolerância de governos para com os seus oponentes Dahl formula um axioma: ‘a 
probabilidade de um governo tolerar uma oposição aumenta com a diminuição dos 
custos esperados da tolerância’. Sobre o custo de supressão de oposições, formula um 
segundo axioma: ‘a probabilidade de um governo tolerar uma oposição aumenta na 
medida em que crescem os custos de sua eliminação’. Sendo assim, as possibilidades de 
um sistema político mais competitivo surgir ou durar podem ser pensadas como 
dependentes de dois conjuntos de custos expressos em um terceiro axioma: ‘quanto 
mais os custos da supressão excederem os custos da tolerância, tanto maior a 
possibilidade de um regime competitivo’. 
 
Figura 3 
Ilustração do Axioma 3 
 
 
 
 
 ← custos de tolerância 
 
 
 
Custos 
 
 
 
 
 
 
 ← custos de repressão 
 
 
 
 
 Probabilidades de um regime competitivo 
 
 * Fonte: (Dahl: [1971] 1997: 37) 
 
Dahl tem a preocupação de lidar com uma teoria razoavelmente parcimoniosa, e começa 
por considerar, em relação aos acontecimentos históricos, apenas três os caminhos 
possíveis para a poliarquia: da hegemonia fechada para a oligarquia competitiva e da 
oligarquia competitiva para a poliarquia; da hegemonia fechada para a hegemonia 
inclusiva e da hegemonia inclusiva para a poliarquia; e da hegemonia fechada para a 
poliarquia.1 
 
Quadro 1 - Mudanças de Regime segundo as Seqüências Históricas (Três Caminhos) 
 * Fonte: (Dahl: [1971] 1997: 52) 
 
 I. A liberalização precede a inclusividade: 
 A. Uma hegemonia fechada aumenta as oportunidades de contestação pública e assim se 
transforma numa oligarquia competitiva. 
B. A Oligarquia competitiva transforma-se numa poliarquia pelo crescimento da 
inclusividade 
 do regime. 
 
 II. A inclusividade precede a liberalização: 
A. Uma hegemonia fechada torna-se inclusiva 
B. A hegemonia inclusiva transforma-se então numa poliarquia pelo aumento das 
oportunidades de contestação pública 
 
 III. Atalho: Uma hegemonia fechada é abruptamente transformada em poliarquia por uma 
 repentina concessão de sufrágio universal e direitos de contestação pública. 
 
Figura 4 
Mudanças de Regime segundo as Seqüências Históricas (Três Caminhos) 
* Fonte: (Dahl: [1971] 1997: 52) 
 
 
 
 I B 
 
 
 
 Liberalização 
 
 A B 
 III 
 
 
 
 
 A II 
 
 Inclusão 
 
 
O primeiro caminho é uma aproximação nítida com a história da Inglaterra e da Suécia. 
O segundo, se aproxima da história da Alemanha do Império até a República de 
Weimar. O terceiro, aproxima-se com o caminho da França de 1789 a 1792. Dahl 
aponta o primeiro caminho como o mais comum percorrido por países. Os dois outros 
caminhos são tomados pelo autor como caminhos mais perigosos. Sobre o segundo e o 
terceiro (hegemonia fechada para a poliarquia e hegemonia inclusiva para a poliarquia) 
diz que “chegar a um sistema viável de segurança mútua é uma questão difícil, na 
melhor das hipóteses; quanto maior for o número de pessoas e a variedade e disparidade 
dos interesses envolvidos, mais difícil é a tarefa e maior o tempo por ela exigido. A 
tolerância e a segurança mútua são mais passíveis de se desenvolver entre uma pequena 
elite representando camadas sociais com objetivos, interesses e visões largamente 
diferentes” (Dahl: [1971] 1997: 54). 
 
Que diferença faz a ordem social e econômica? As chances de um regime hegemônico 
transformar-se num regime mais competitivo são maiores em algumas ordens 
socioeconômicas do que em outras? As chances de uma poliarquia manter-se dependem 
da ordem socioeconômica? Essas são as perguntas que antecedem a continuação da 
análise de Dahl. 
 
Dahl continua acrescendo axiomas a sua análise e em se tratando do axioma referente a 
custos de supressão e tolerância deriva-se outro: ‘a probabilidade de um governo tolerar 
uma oposição aumenta na medida em que os recursos disponíveis do governo para a 
supressão declinam em relação aos recursos de uma oposição’. Deste deriva-se mais 
um: ‘a probabilidade de um governo tolerar uma oposição aumenta com a redução da 
capacidade de o governo usar de violência ou sanções socioeconômicas para eliminar 
uma oposição’. Então, a situação mais favorável a uma poliarquia é aquela em que o 
acesso à violência e a sanções econômicas estiver mais disperso ou neutralizado. À 
situação onde este acesso está efetivamente mais disperso ou neutralizado Dahl chama 
de ordem social pluralista e ao inverso desta situação de ordem social centralmente 
dominada. Desta forma podemos formular uma equação: 
 
Equação das implicações de uma política competitiva: 
 
 
 política competitiva → ordem social pluralista → economia descentralizada2. 
 
A análise que se segue indaga em que medida a seguinte hipótese está correta: ‘é um 
pressuposto largamente aceito que um alto nível de desenvolvimento socioeconômico 
favorece não só a transformação de um regime hegemônico numa poliarquia, mas 
também ajuda a manter – se necessário for – uma poliarquia’. Seguindo a análise de 
dados o autor chega à conclusão de que quanto maior o nível socioeconômico de um 
país, maior a sua probabilidade de ter um regime político competitivo e que quanto mais 
competitivo o regime político de um país, maior sua probabilidade de estar em um nível 
relativamente alto de desenvolvimento socioeconômico. Então quantomaior o nível 
socioeconômico de um país, maior a probabilidade de que seu regime seja uma 
poliarquia inclusiva (poliarquia plena) ou uma quase-poliarquia e se um regime é uma 
poliarquia, é mais provável que ele exista num país com nível de desenvolvimento 
socioeconômico relativamente alto do que num país de nível mais baixo. Seguindo esta 
análise dos dados Dahl chega a um número que mostra existir um limiar superior (PNB3 
per capita de U$ 700-800 – dólares em 1957) acima do qual as chances de poliarquia 
são tão altas que qualquer novo aumento no PNB per capita não podem afetar o 
resultado de maneira significativa. Do mesmo modo abaixo de PNB per capita de U$ 
100-200 (dólares em 1957) as chances de poliarquia são tão fracas que as diferenças 
propriamente per capita ou de variáveis afins realmente não importam. 
 
As igualdades e desigualdades parecem, então, afetar as chances de hegemonia e de 
competição política através de dois conjuntos diferentes de variáveis, pelo menos a 
distribuição de recursos e habilidades políticas e a criação de ressentimentos e 
frustrações. As desigualdades extremas na distribuição do que o autor chama de 
recursos-chave (renda, riqueza, status, saber e façanhas militares) equivalem a 
desigualdades extremas em recursos políticos. Evidentemente, um país com 
desigualdades extremas em recursos políticos comporta uma probabilidade muito alta 
de ostentar desigualdades extremas no exercício do poder. Entretanto, muitos regimes 
poliárquicos existem até hoje em sociedades com enormes desigualdades de alguns 
tipos, por exemplo, com respeito a rendas, riqueza ou oportunidades de educação 
superior. Isto se daria pelo fato de que quando surgem as reivindicações por uma maior 
igualdade, um regime pode ganhar aceitação junto a um grupo excluído atendendo parte 
das reivindicações, ainda que não necessariamente todas elas, mas uma grande dose de 
desigualdade não gera, no grupo prejudicado, reivindicações políticas por maior 
igualdade. 
 
Caso um sistema esteja polarizado entre grupos fortemente antagônicos ele está 
seriamente em perigo. Confrontados com uma polarização aguda, os regimes 
competitivos tendem ao colapso, ao golpe de estado e à guerra civil. “Há, pois, conflitos 
com que um sistema político competitivo não consegue lidar facilmente e talvez não 
possa mesmo lidar. Qualquer disputa em que uma grande parcela da população de um 
país sinta que seu modo de vida ou seus principais valores estão seriamente ameaçados 
por um outro segmento da população provoca uma crise num sistema competitivo. Seja 
qual for o resultado, o registro histórico confirma que o sistema vai, muito 
provavelmente, se dissolver numa guerra civil, ou será substituído por uma hegemonia, 
ou ambos” (Dahl: [1971] 1997: 111). Então, no que diz respeito a subculturas, padrões 
de clivagem e eficácia governamental, são condições mais favoráveis à poliarquia 
quando a quantidade de pluralismo cultural é baixa – caso esta quantidade seja 
acentuada que nenhum grupo constitua maioria – e que não haja nenhum subgrupo 
regional e nenhum indefinidamente fora do governo. 
 
Dahl nos aponta a importância da crença dos ativistas políticos como fundamentais no 
alcance dos fatores precedentes que impelem um país para um regime hegemônico, para 
a contestação pública e a poliarquia4. As crenças destes ativistas são, pois, um estágio 
decisivo nos complexos processos pelos quais as seqüências históricas ou as clivagens 
subculturais são convertidas em sustentação de um tipo ou outro de regime. A 
importância dos líderes neste processo está justamente no fato de ser mais razoável de 
neles se encontrar sistemas de crenças políticas moderadamente elaboradas; pelo fato 
deles serem guiados por suas crenças em suas ações e por terem mais influência nos 
acontecimentos políticos, inclusive acontecimentos que afetam a estabilidade ou 
transformação dos regimes. Então, no que diz respeito às crenças dos ativistas políticos, 
são condições mais favoráveis a poliarquia quando estas crenças estipulam que as 
instituições da poliarquia são legítimas; que a poliarquia é eficaz na solução de 
problemas críticos; quando a confiança nos outros é alta; quando as relações políticas 
são tanto competitivas quanto cooperativas e quando os acordos são necessários e 
desejáveis. São igualmente condições favoráveis a poliarquia quando estas crenças vão 
contra a apenas uma autoridade unilateral ser legítima. 
 
O último ponto que Dahl analisa sobre condições favoráveis a poliarquia refere-se ao 
grau de controle estrangeiro de um país sobre outro. Já que todo país existe num 
ambiente que contém outros países, sob qualquer regime, os políticos devem levar em 
conta as possíveis ações e reações dos políticos de outros Estados. Neste sentido, até 
mesmo os Estados mais poderosos são, em certo grau, limitados por influência, controle 
e poder dos outros. Esta situação é mais forte ainda quanto mais um país participa de 
uma economia multinacional. Se as opções de grandes potências são ocasionalmente 
reduzidas pelas ações de estrangeiros, sobre quem elas têm pouco ou nenhum controle 
direto, a situação é ainda mais aguda para países com recursos de poder mais limitados, 
tais como os países pequenos e menos desenvolvidos. No entanto é possível que um 
país possa existir num ambiente cujas opções fossem fortemente restringidas pelas 
ações estrangeiras, mas é normalmente mais favorável a poliarquia quando a dominação 
por um poder estrangeiro é fraca ou temporária. 
Wanderley Guilherme dos Santos e o Terceiro Eixo da Poliarquia 
 
O argumento principal e ponto de partida da análise de Wanderley Guilherme é, como o 
próprio subtítulo já diz, a necessidade de um terceiro eixo ao já citado gráfico de Dahl – 
o eixo da elegibilidade –, para que a teoria fique mais robusta. Trata-se não somente de 
um acréscimo, mas de uma reformulação da teoria que se propõe a introduzir um 
ordenamento na cronologia política, “em maior sintonia com a história real das nações” 
(dos Santos: 1998: 209). 
 
Figura 5 
O Terceiro Eixo da Democracia 
 
 
 
 
 
 
 Institucionalização 
 
 
 
 
 Participação 
 
 
 Controle 
 
* Fonte: (dos Santos: 1998: 220) 
 
 
Um primeiro ponto de crítica a Dahl seria o fato de seu modelo ser excessivamente 
parcimonioso, o que faria com que casos importantes como o do México e o da Índia 
sejam tratados como anômalos se tomados em questão. Do mesmo modo a Suíça, que 
até 1971, negava às mulheres o direito ao voto, também seria tomado como caso 
anômalo. 
 
Das oito características propostas por Dahl como necessárias à poliarquia, a da 
elegibilidade é vista como problemática por dos Santos. Desta maneira ele desmembra a 
elegibilidade, que, em Dahl, é o poder votar, em mais um eixo que é o de poder ser 
votado. O argumento para tal é que os países têm diferentes graus de controle, que é 
como dos Santos chama o fato de se poder ser votado. A “variação entre os países nos 
requisitos para participar eleitoralmente como eleitor ou como candidato difere 
consideravelmente, sendo os dois sentidos de “elegibilidade”, mesmo nacionalmente, 
assimétricos e independentes” (dos Santos: 1998: 215). Diz também o autor que a 
maioria das atuais poliarquias tomadas por estáveis progrediu mais rapidamente ao 
longo do eixo “controle” e desta maneira se subverte a trajetória dahlsiana que tem no 
eixo institucionalização (possibilidade de contestação pública) a origem da estabilidade 
democrática. O autor propõe, então, acrescentar às oito condições dahlsianas mais uma, 
que é justamente o eixo ‘controle’, ou, simplesmente, ‘poder ser votado’; para num 
segundo momento condensá-las em quatro, segundo o princípio dasgarantias mútuas: 
direito de expressão, de organização (incluindo a competição pelo poder), de votar e de 
ser votado. Apontando para o fato de que o salto do absolutismo para a democracia se 
constitui em essencial equívoco pelo fato de se poder encontrar oligarquias e poliarquias 
depois do fim dos regimes autocráticos dos Santos mostra que, por esse motivo, a 
dicotomia correta seja então sistemas não representativos/sistemas representativos (ao 
invés de absolutismo/democracia). É, portanto, a partir da definição “minimalista” de 
sistema representativo5 de dos Santos que se faz possível distinguir de maneira mais 
formal e rigorosa as oligarquias das poliarquias. 
 
Um ponto forte da crítica de dos Santos é aquele que se debruça sobre a capacidade de 
análise histórica de Dahl. Lançando luz sobre o fato de que o sufrágio universal só foi 
adotado na Inglaterra em 1928, o autor classifica a cronologia das poliarquias clássicas 
de Dahl como nebulosas. 
 
Sobre os trajetos de ida e vinda da poliarquia, dos Santos afirma que não se revela 
qualquer padrão sistemático, concluindo que, assim como se pode chegar ao 
autoritarismo a partir de qualquer tipo de democracia, a qualquer uma delas se pode 
também voltar, fenômeno relevante para o entendimento da estabilidade democrática. E 
sobre o espectro temporal diz que um recuo não necessariamente extenso diminuiria a 
população do conjunto de democracias. 
Semelhanças e diferenças entre as análises de Dahl e dos Santos e uma 
conclusão 
 
A primeira coisa que creio ser iminente dizer é que, apesar das críticas fortes, e, em sua 
grande maioria, pertinentes de Wanderley Guilherme dos Santos creio que a teoria da 
poliarquia de Dahl não seja precária. Assim como o inconsciente estrutural de Levi-
Strauss é a ossatura do pensamento (Levi-Strauss: 1974), permitam-me a estranha, mas 
creio, acertada comparação, a teoria dahlsiana da poliarquia é o esqueleto teórico dos 
regimes comumente chamados de democráticos. A preocupação de Dahl em diversificar 
os motivos pelos quais um regime se torna democrático (poliárquico)6 parece bastante 
acertada em função da comum multiplicidade de causas nos fenômenos sociais. O 
modelo é sim econômico, mas não menos prolífico. 
 
Mesmo diversificando os motivos pelos quais um regime possa ser chamado de 
democrático (poliárquico), Dahl reforça a importância de tomar certas variáveis 
políticas como variáveis independentes. 
 
Àqueles que apostam que a teoria de Dahl apóia-se numa crença em um continuum ou 
em algo teleológico erram, pois apesar de em alguns momentos, como no seguinte 
trecho, à primeira vista, parecer mostrar o contrário – “Dos 140 países nominalmente 
independentes existentes em 1969, cerca de duas dúzias eram fortemente inclusivos e 
possuíam sistemas de contestação pública altamente desenvolvidos: eram poliarquias 
inclusivas, em suma. Uma outra dúzia ou menos, talvez, eram quase-poliarquias a um 
alcance razoável da poliarquia plena. É nessas três dúzias que a terceira onde deve 
acontecer” (Dahl: 1997: 33) – mais adiante ele afirma que o advento da terceira onda de 
democratização parece ser duvidoso. 
 
Um ponto ruim de ‘Poliarquia’ é que em alguns momentos o autor parece ser um pouco 
impreciso7, mas creio que o mais problemático em Dahl seja sua definição de axioma. A 
obra, entretanto, não precisa ser comprometida se tomarmos o problema de definição de 
axioma como um problema de nomenclatura, bastando a mudança do termo axioma ou 
explicitação da definição usada na obra . Axioma8 é, por definição, algo que não precisa 
de demonstração, e, portanto, dizer que um axioma deriva do outro é absurdo, ou bem 
minha definição usual de axioma não é aquele usada por Dahl e dos Santos, pois este 
corrobora o uso do termo ‘axioma’ em ‘Poliarquia’: “Embora axiomas e tipologia sejam 
muito claros, em Robert Dahl...” (dos Santos: 1998: 222). 
 
A análise de dos Santos é bastante acurada e com pontos fortes a acrescentar, todavia, 
creio não serem pertinentes todas as suas críticas e análises. Como suas contribuições já 
foram mostradas na sessão anterior me deterei apenas aos pontos em que penso ou haver 
problemas ou serem dignos de menção. A mudança de dicotomia de 
absolutismo/democracia para sistema não representativo/sistema representativo é de 
relevância significante para o aperfeiçoamento da teoria e a ampliação dos requisitos de 
democracia de oito para nove mostra-se bastante acertada, mas a conseguinte 
condensação das nove condições em quatro é desnecessária por um motivo: outros 
autores podem querer reformular a teoria e acrescentarem, suprimirem, condensarem ou 
dilatarem as características alongando demasiadamente o debate já que as nove 
características são absolutamente satisfatórias ao que propõem ser. 
 
Por outro lado e por fim, gostaria de atentar para os pontos em comum dos dois autores 
que são fortes e relevantes. O primeiro ponto vai no sentido de mostrar como é frágil a 
existência da democracia e como foi preciso haver processos históricos singulares para 
que ela pudesse existir e subsistir. Dois trechos mostram claramente isto. “As condições 
mais favoráveis para a poliarquia são comparativamente incomuns e não são fáceis de 
se criar” (Dahl: [1971] 1997: 50). “Em verdade, o processo democratizante resulta de 
uma combinatória de fatores, nenhum deles suficiente em um só país, nem necessário 
em todos, combinatória, portanto, que pode variar de país para país” (dos Santos: 1998: 
232). O segundo e mais importante ponto de proximidade entre os autores é que ambos 
apontam para a importância da História nos processos políticos. Importância esta que é 
vital, principalmente numa obra-chave como a de Dahl, dentro de uma disciplina que 
cada vez mais se pretende autárquica e auto-suficiente. Retiro, por fim, dois trechos que 
atentam para o fato. “Conceitos como ‘sociedade européia’ ou ‘povo americano’ são 
amplos demais ou mal definidos. Certamente estaremos nos referindo a algum 
subconjunto de pessoas, mas o subconjunto é extremamente difícil de especificar 
precisamente. Freqüentemente, o que parece que se tem em mente são aquelas pessoas 
de um país, ou de algum conjunto de países, que formam o que poderia ser chamado de 
elites pensantes, os criadores e portadores especiais de idéias – intelectuais de vários 
tipos, filósofos, ideólogos, panfletários, publicistas, jornalistas, cientistas e assim por 
diante. Pode-se ter em mente também as elites políticas, cujas crenças são de 
excepcional importância na vida política devido à excepcional influência de seus 
portadores. Mas as fronteiras dessas elites são imprecisas e não temos informações 
suficientes sobre seus membros. Não surpreende então que, devido a sua preocupação 
com o rigor e sua insatisfação com a “maleabilidade” da descrição, generalização e 
explicação históricas, a maioria dos cientistas sociais se afastou do movimento histórico 
de idéias. Como conseqüência, suas próprias teorias, por ‘rigorosas’ que possam ser, 
deixam de fora uma importante variável explanatória e levam, freqüentemente, a um 
reducionismo ingênuo...” (Dahl: 1997: 170). “Executado pelos politólogos, o seqüestro 
do extraordinário e inédito fenômeno democrático da agenda dos historiadores não se 
revelou empreendimento bem-sucedido, sendo precárias as fundações do registro 
temporal implícito nas recém publicadas teorias da democracia. Em vários casos, o que 
deveria constituir evidência ilustrativa de relevante ponto teórico é simplesmente falso, 
ou de significado ininteligível” (dos Santos: 1998: 210). 
 
Notas 
 
1. Seria extremamente interessante e profícuo fazer uma comparação de ‘Poliarquia’ com ‘As 
Origens Sociais da Ditadura e da Democracia’ de Barrington Moore Jr, mas o assunto escaparia 
ao foco do trabalho. Entretanto, podemos mencionar alguns pontos curiosos que o próprio Dahl 
faz em algumas notasde rodapé de sua obra. Uma parte de ‘Poliarquia’ e todo o livro ‘As 
Origens Sociais da Ditadura e da Democracia’ se detém sobre a importância das seqüências 
históricas para se chegar à democracia, e uma crítica de Dahl a Moore é que concentrando-se em 
seqüências históricas mais longas e em variáveis diferentes o autor acaba ignorando experiências 
de países menores com fundamentos que Dahl considera não persuasivos. Entretanto, Dahl diz 
que este abandono de países menores se faz em função de dar prioridade a casos de países de 
maior destaque internacional que Moore utiliza como casos-tipo. O ponto de discussão não se 
esgota aqui e Dahl, mais adiante, faz outra crítica ao livro de Moore: “A ênfase de Moore na 
importância vital da revolução violenta como estágio no caminho para a democracia é, a meu 
ver, enganosa, particularmente se for aplicada ao processo de inauguração. Moore salienta 
veementemente a Guerra Civil inglesa, a Revolução Francesa e – um caso muito duvidoso – a 
Guerra Civil americana. Seu argumento aqui, penso eu, é enfraquecido por sua crença de que a 
experiência dos países pequenos é um tanto irrelevante. A questão é a seguinte: irrelevante para 
quê?” (Dahl: [1971]1997: 60) 
 
2. A leitura se faz da seguinte maneira: lê-se → da direita para a esquerda como implicação e da 
esquerda para a direita como ‘condição necessária para’. 
 
3. “Por PNB entendemos o valor de todos os bens e serviços finais produzidos num determinado 
ano pelos residentes num determinado país. Repare-se que neste caso o que conta é o país de 
residência dos detentores dos direitos sobre os bens produzidos, não o país onde a produção tem 
lugar”. (http://docentes.fe.unl.pt/~jbmacedo/pt/contas.html). 
 
4. Para um aprofundamento do conceito de crença como motivador de mudanças históricas 
consultar: Elias (1997) e Tocqueville (1979). 
 
5. “Sistemas políticos representativos são complexos combinatórios de quatro atributos de direito: 
expressão, organização, votar e ser votado, conforme estejam institucionalizados segundo o 
princípio das garantias mútuas” (dos Santos: 1998: 221). 
 
6. Uso os termos, aqui, indistintamente. 
 
7. Um bom exemplo disto é quando encontramos na sua tabela de requisitos para a democracia 
(Dahl: [1971] 1997: 27), mais precisamente o ponto oito, dizendo que para que se tenha 
preferências igualmente consideradas na conduta do governo faz-se necessário ter, entre outras 
características, instituições para fazer com que as políticas governamentais dependam de 
eleições e de outras manifestações de preferência, Dahl não menciona que outras manifestações 
de preferência são essas. 
 
8. Retiro, aqui, as definições correntes de axiomas usadas tanto em um dicionário da língua 
portuguesa, quanto de um dicionário técnico de filosofia. “1. Filos. Premissa imediatamente 
evidente que se admite como universalmente verdadeira sem exigência de demonstração. 3. Lóg. 
Proposição que se admite como verdadeira porque dela se podem deduzir as proposições de uma 
teoria ou de um sistema lógico ou matemático.” (Ferreira: 2004: 240). “A. Sentido mais usual: 
premissa considerada evidente e admitida como verdadeira sem demonstração por todos os que 
lhe compreendem sentido. (...) B. Muito geralmente, num sistema hipotético-dedutivo, toda 
proposição, evidente ou não, que não se deduz de outra, mas que é posta por um ato decisório do 
espírito no início da dedução” (Lalande: 1999: 119-120). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Referências Bibliográficas 
 
DAHL, R. (1997), Poliarquia. São Paulo. Edusp 
 
ELIAS, Norbert. (1997), Os Alemães: A Luta pelo Poder e a Revolução do Habitus nos 
Séculos XIX e XX. Rio de Janeiro, J. Zahar. 
 
LEVI-STRAUSS, C. (1974), “Introdução à obra de Marcel Mauss”. In: MAUSS, M. 
Sociologia e Antropologia. São Paulo, Edusp. 
 
MOORE, B. (1975), As Origens Sociais da Ditadura e da Democracia: Senhores e 
Camponeses na Construção do Mundo Moderno. Lisboa, Cosmos. 
 
TOCQUEVILLE, Alexis de. (1979), O Antigo Regime e a Revolução: Pensamento 
Político. Brasília, Editora da UnB. 
 
SANTOS, W. G. (1998), “Poliarquia em 3D”. Dados, vol. 41, nº 2 
 
Dicionários: 
 
FERREIRA, A. B. H. (2004). Novo dicionário Aurélio da língua portuguesa. Curitiba, 
Positivo. 
 
LALANDE, A., (1999). Vocabulário Técnico e Crítico da Filosofia. São Paulo, Martins 
Fontes. 
 
Sites: 
 
http://docentes.fe.unl.pt/~jbmacedo/pt/contas.html

Outros materiais