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A importância da recreação no contexto social

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A importância da recreação no contexto social
 A recreação é uma ferramenta muito importante no desenvolvimento humano:
afetivo, cognitivo, motor, lingüístico e moral. Dentro de um contexto social,
quando um indivíduo está em recreação significa que está sentindo prazer em
realizar alguma coisa. Os seres humanos são movidos, principalmente, pela
emoção e pelo prazer; sendo assim, fica muito mais fácil assimilar alguma coisa
a partir daquilo nos faz bem, sendo possível englobar os mais altos níveis de
conhecimentos e, com crianças, é importante desenvolver e estimular atividades
diferentes da vida cotidiana, mas que façam parte da natureza humana, já que é
na infância o período de aprendizado e da assimilação que julgamos necessária
para a vida adulta. O mais importante desse contexto é permitir que diferentes
grupos de pessoas, principalmente crianças, se integrem, esquecendo o
preconceito de valores, distinção de raça, estrutura familiar; pelo contrário, é
possível estruturar todos esses tópicos.
 A recreação, nessa perspectiva, deve ser pautada em três pilares básicos de
desenvolvimento: o biofisiológico, o social e o cultural, desenvolvendo o
indivíduo com harmonia na realidade do seu cotidiano.
 Vygotsky (1991) defende uma relação de constituição recíproca, pois a
criança se desenvolve no contexto das interações sociais e quando as
informações ou experiências são internalizadas; reestrutura a organização das
ações sobre os objetos, reorganizando o plano do desenvolvimento interno e,
conseqüentemente obtendo transformações nos processos mentais. Assim,
pode-se observar que a informação e a conivência no meio social, interpretando
os seus vários significados, são necessárias para o desenvolvimento da criança.
Por sua vez, a Educação Física deve ser entendida numa perspectiva
político-filosófica.
 Existem vários estudos significativos e, de ainda com o critério cronológico,
os principais são:
 Segundo Bourdieu (1979), o indivíduo expressa no seu corpo a sua história,
marcada como tatuagem; o monge veste o hábito da mesma forma que o hábito
veste o monge, pois este expressa a sua representação na hexis corporal.
 Nesse percurso, nota-se que o caminho da primeira concepção parte da
sociedade mais ampla em direção ao indivíduo; em conseqüência, a segunda
parte do indivíduo para a sociedade. Assim, é possível analisar os
condicionantes no grupo social ou frações de classes (análise micro-social),
objetivando observar a cultura expressa por esses indivíduos pertencentes a
essas camadas especiais. Assim, pode-se contribuir, através dessas análises,
para uma reestruturação do Habitus do indivíduo, procurando ampliar o seu
capital cultural e proporcionando uma reorganização de conhecimentos. Uma
reformulação de conteúdos que deverá estar em consonância com a realidade
do educando, a fim de ser abordada. Nessa nova abordagem, deve-se procurar
desenvolver no estudante meio para que ele possa utilizar suas experiências,
sua realidade e o seu cotidiano para, enfim, ampliar suas informações e sua
formação cultural.
 O desporto participação deve ter como princípio norteador à formação de
habitus, segundo Bourdieu (1997): reestruturação de valores, crenças,
habilidades e conduta humana que deve ser trabalhada na instituição de lazer
no decorrer da vida do indivíduo, atribuindo ao mesmo uma valorização na
prática da atividade física e a necessidade do tempo livre, ou seja, o lazer.
 Bourdieu (1979) expressa em seus textos que educandos oriundos de meios
sociais desiguais possuem heranças culturais diferenciadas e tendem a agir de
acordo com essa cultura já interiorizada. Ele ainda acrescenta que, para difundir
a cultura socialmente legitima e valorizada universalmente é necessário que
esses indivíduos tenham contato com os conhecimentos e com práticas
culturais. Assim reestruturarão seus Habitus. Este é o conceito principal da
Teoria Bourdiniana. Segundo ele, o habitus pode ser entendido como:
[...]sistemas de disposições duráveis, estruturas estruturadas predispostas a
funcionar como estruturas estruturantes, isto é, como princípio gerador e
estruturador das práticas e das representações que podem ser objetivamente
"reguladas" e "regulares" sem ser o produto da obediência a regras,
objetivamente adaptadas a seu fim, sem supor a intenção consciente dos fins e
o domínio expresso das operações necessárias, para atingi-los e coletivamente
orquestradas, sem ser o produto da ação organizadora de um regente (Bourdieu
in Ortiz, 1983: 60-61).
Métodos e materiais
 Este estudo foi realizado em uma escola pública na cidade de Ribeirão
Preto/SP. As atividades foram desenvolvidas para alunos de ambos os sexos,
com faixa etária entre 11 e 13 anos de idade, que estão na 6ª série do ensino
fundamental. No início quando foi aplicado o questionário piloto, eram 64 alunos
divididos em 2 grupos; após a aplicação, os grupos se dividiram em 3 grupos,
grupos A e B, com 26 alunos cada um e grupo C, com 22 alunos.
 Os materiais utilizados para desenvolver as aulas foram: arcos, bolas de
plástico, bolas de futebol, bolas de voleibol, garrafas "pet" utilizadas como
cones, jornais, barbante, raquetes e bolas de tênis de mesa, bexigas e cordas.
As atividades foram realizadas em uma quadra coberta ou um pátio descoberto
localizado na escola, sempre no período da tarde. No período da manhã, esses
mesmos grupos tinham Educação Física com os professores efetivos da escola.
As atividades desenvolvidas eram atividades recreativas educacionais, jogos
cooperativos, atividades lúdicas em grupo, com o intuito de aproximar e gerar
interação entre os alunos, aumentando, assim, o interesse pelos vários tipos de
atividades.
 As aulas desenvolvidas eram de segunda a sexta-feira, com duração de 50
minutos, com um total de três horas-aulas para cada 6ª série do ensino
fundamental.
 Através dessas atividades há uma socialização, os alunos aprendem a
conviver, a interagir, a criar um ambiente harmonioso com seus companheiros, e
isso se reflete fora do ambiente escolar. Dias (1996) diz que a Educação Física,
quando direcionada para aprendizagem, tem um papel
sócio-cognitivo-afetivo-educacional, participando diretamente na evolução da
criança. Completa, ainda, dizendo que os objetivos devem estar voltados para
desenvolver a responsabilidade, a socialização, a criatividade, a afetividade e a
capacidade decisória.
 Através de todas as observações iniciais, foram notados violência simbólica,
desrespeitos com alunos e professores, xingamentos, brigas, brincadeiras de
tapas e socos, agressividade e exclusão de alunos pelos próprios
companheiros. A agressividade é um elemento natural do ser humano e pode
manifestar-se como uma tensão, um cansaço, uma frustração, problemas
familiares e em geral. No ensino fundamental, a agressividade vem em forma de
indisciplina, de desobediências, de palavrões para colegas e professores.
Segundo Aquino,
[...] desobedecer, portanto, seria sinal de problemas ligados à infra-estrutura
psicológica, mais precisamente à introjeção de determinadas funções morais
apriorísticas, tais como: permeabilidade a regras comuns, partilha de
responsabilidades, reciprocidade, cooperação, solidariedade etc. (2003, p.33).
 Notou-se a carência de diversificação de atividades no ambiente escolar
escolhido para efetuar a pesquisa. As crianças apenas jogavam futebol e vôlei
durante as aulas de Educação Física. Esses hábitos foram, no início, um grande
desafio, pois as crianças às vezes preferem apenas praticar esses esportes
sem orientação nenhuma.
Resultados e discussões
 Segundo os 64 alunos entrevistados no primeiro questionário, 42,1%
disseram que a escola onde estudam é boa para a aprendizagem, 40,6%
disseram que a escola é boa/legal/bonita, e 17,3% tiveram respostas variadas.
Ainda sobre a escola, 48,4% responderam que gostariam que a escola fosse
mais legal, alegre e interessante,
20,3% responderam que poderia haver
melhorias na estrutura, regras e horários e 31,3% apresentaram outras
respostas. Para 48% deles, a escola ideal seria aquela com brincadeiras,
atividades e Educação Física; para 20,3% seria ideal com festas e passeios e
31,3% tiveram respostas variadas. Os alunos ainda ressaltaram que queriam
atividades, jogos e sucos no recreio.
 Com essas respostas, nota-se que os alunos querem uma escola melhor,
conteúdos com base científica, regras, horários e aulas que apresentem
informações diferenciadas no processo de aprendizagem no programa escolar e
contemplem atividades culturais. Segundo as análises das respostas, há poucas
atividades criadas pelos educadores, pouco comprometimento dos professores
em ministrar aulas com conteúdos diferentes e com ensino sistematizado.
Nota-se que 62,5% dos educandos ressaltam que os professores ideais na
escola poderiam ser mais educados e pacientes, 26,5% ressaltaram que as
aulas poderiam ser melhores e com mais lições e 11% tiveram respostas
variadas.
 No questionário final, 57,6% dos grupos A e B disseram que os professores
de sala às vezes eram legais e 45,4% do grupo C ficaram entre as alternativas
sempre e às vezes são legais. Isso mostra que os professores tendem a ter um
relacionamento cordial com os alunos. Os alunos apresentam o desejo de
participar de aulas mais interessantes e motivadoras. Em relação à aula de
Educação Física, no questionário inicial 71,8% responderam que ela é divertida,
legal, "irada" e alegre; 8,7% responderam saudável e educativa e 9,5% tiveram
outras respostas. Após iniciarmos as atividades com os grupos, no questionário
final 80,7% do grupo A disseram que sempre gostam das aulas de Educação
Física, 69,2% do grupo B tiveram a mesma resposta e 100% do grupo C
disseram que sempre gostam das atividades desenvolvidas. Isso se deve às
brincadeiras propostas, brincadeiras com o intuito de aproximar os alunos
através das atividades recreativas, jogos cooperativos de inclusão, de interação
e socialização.
 "O objetivo da integração é inserir um aluno, ou um grupo de alunos, que já
foi anteriormente excluído, e o mote da inclusão, ao contrário, é o de não deixar
ninguém no exterior do ensino regular, desde o começo da vida escolar."
(MANTOAN, 2003, p. 24)
 Brotto (2001) ressalta que os jogos cooperativos são jogos onde as pessoas
se unem, compartilham-se em todos os momentos, havendo relação e
confiança pessoal e interpessoal.
 Segundo 42,1% dos alunos que responderam o primeiro questionário dizem
que na aula de Educação Física faltam jogos e esportes, 25,8% dizem que
faltam atividades recreativas novas e 32,1% tiveram outros pedidos. Após 4
meses de atividades, desenvolvidas sempre no período da tarde, foi perguntado
no questionário se eles ficavam sem fazer aulas de Educação Física no período
da tarde. No grupo A, 88,4% responderam que nunca ficavam, no grupo B,
65,3% responderam que nunca ficavam sem fazer aula e no grupo C a resposta
que nunca ficavam sem fazer aula chegou a 77,2%.
 Em relação à Educação Física ministrada por professores no período da
manhã para os mesmos grupos A, B e C, a mesma pergunta foi feita e 84,6%
dos alunos do grupo A falaram que quase nunca ficam sem fazer aula de
Educação Física no período da manhã, 54,8% do grupo B responderam a
mesma alternativa e 68,1% do grupo C confirmaram que quase nunca ficam
sem fazer aula de Educação Física no período da manhã. Cabe ressaltar que
nessas aulas do período da manhã, ministradas por outros professores, os
alunos apenas jogam futebol e vôlei, não há nenhuma atividade educativa igual
ou semelhante às propostas e desenvolvidas pelas aulas do período da tarde.
Nota-se que, nesse contexto o professor deve partir de uma autonomia
educacional, mas nunca se distanciar das diretrizes do ensino universalmente
valorizado, evitando, assim, o esvaziamento dos conteúdos obrigatórios de base
educacional.
 Comparando as respostas sobre as aulas de Educação Física de manhã e à
tarde, 46,1% dos educandos do grupo A responderam que gostam mais das
aulas do período da tarde, 42,3% responderam que gostam das aulas de manhã
e 11,6% responderam que gostam das aulas dos dois períodos. No grupo B,
73% preferem as aulas ministradas à tarde, 23% preferem as duas e 4%
preferem as aulas da manhã. As respostas do grupo C foram as seguintes:
45,4% preferem as aulas da tarde, 36,3% preferem os dois períodos, 13,6%
preferem o período de manhã e 4,7% não responderam (Figura 1). 
 Isso mostra que as aulas desenvolvidas a tarde, com o objetivo de aumentar
o capital cultural e social das crianças, através de atividades recreativas, estão
sendo bem sucedidas, pois os números e a percepção dos professores
comprovam isso.
 Foram relacionadas as respostas de duas perguntas sobre os professores do
período da manhã e os do período da tarde. As perguntas foram: Eu gosto dos
professores de Educação Física do período da manhã? Eu gosto dos
professores de Educação Física da tarde? (Figuras 2 e 3) As alternativas eram:
Sempre, Às Vezes, Quase Nunca. No grupo A, 53,8% responderam que sempre
gostam dos professores da tarde, 30,7% às vezes e 15,5% quase nunca. Em
relação aos professores da manhã, 65,3% responderam que sempre gostam
deles, 7,6% às vezes, 23% quase nunca e 4,1% não responderam. Nota-se que
o índice de rejeição foi mais elevado de manhã do que no período da tarde.
 Em relação aos educandos do grupo B, 84,6% disseram que sempre gostam
dos professores da tarde e 65,3% da manhã. O índice de rejeição para os
professores da manhã foi 4% e da tarde 7,7%; 30,7% responderam que às
vezes gostam dos professores da manhã e 7,7% da tarde.
 As respostas dos alunos do grupo C foram: 90,9% responderam que sempre
gostam dos professores da tarde e 9,1% não responderam nenhuma alternativa;
63,6% sempre gostam dos professores do período da manhã, 22,7% disseram
que ás vezes, 9% quase nunca e 4,7% não responderam. 
 Nota-se que, nas figuras 2 e 3, os alunos gostam dos professores que são
repetitivos nos conteúdos de suas aulas; pode-se também constatar que as
respostas às vezes e o índice de rejeição foram grandes. Já o índice de rejeição
para os professores da tarde foi muito baixo e os alunos sempre gostam dos
professores que propõem aulas recreativas educacionais.
 As brincadeiras desenvolvidas nas aulas são bem aceitas pelos alunos,
sempre em ambientes descontraídos e alegres; 46,1% dos alunos do grupo A
disseram que quase sempre as aulas são divertidas, 42,3% que sempre as
brincadeiras são divertidas e 11,6% não gostam das brincadeiras por algum
motivo. Quanto ao grupo B, 80,7% responderam que sempre as brincadeiras
são divertidas, contra 19,3% que acham às vezes as brincadeiras divertidas. No
grupo C, 81,8% disseram que sempre são divertidas, 13,6% apenas às vezes, e
4,6% não responderam.
 De acordo com os próprios alunos dos três grupos, após os 4 meses de
atividades desenvolvidas, eles disseram que a violência diminuiu. As respostas
dos grupos A, B e C foram: 69,2% dos primeiros grupos e 63,6% do grupo C
dizendo que realmente isso foi amenizado (Figura 4). 
 Através das aulas com propostas pedagógicas planejadas e sérias,
desenvolvidas por meio das atividades de socialização, com a orientação dentro
das atividades, foram melhoradas a conduta e ética dos alunos e, junto com os
valores adquiridos, notou-se e comprovou-se que a violência física e simbólica
foi amenizada.
Conclusão
 Ficou constatado que as aulas de Educação Física desenvolvidas com
propostas de educação, socialização e inclusão dos alunos, por meio de
atividades recreativas, jogos cooperativos e atividades lúdica em grupo foram
bem sucedidas nesse trabalho. Foi feito um resgate cultural e social dessas
crianças através das atividades, através da recreação, na tentativa de diminuir a
violência verbal e simbólica. Nesse contexto, verifica-se
a importância da
Educação Física ministrada com objetivo do desenvolvimento do Capital
Cultural, com a intenção de contribuir para que essas crianças se tornem
cidadãos com futuro promissor e reflitam sobre o meio social em que estão
inseridas, proporcionando, no âmbito escolar o desenvolvimento da cultura
universalmente valorizada para que essas crianças se desenvolvam, de um
modo que a cooperação, o respeito e a convivência disciplinada possam estar
embasados no princípio ético da vivência em comunidade.
Bibliografia
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⦁ LUDKE, M. e ANDRÉ M.E.D.A. Pesquisa em Educação:
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⦁ MANTOAN, M.T.E. Inclusão Escolar - O que é? Por quê? Como
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⦁ ORTIZ, R. (Org.). Pierre Bourdieu: Sociologia. Trad. Paula
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⦁ TRIVIÑOS, A.N.S. Introdução à pesquisa em Ciências Sociais. A
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⦁ VYGOSTSKY, L S. A Formação Social da Mente. São Paulo:
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