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INVENTÁRIO ANALÍTICO DO ARQUIVO DA ASSEMBLEIA GERAL CONSTITUINTE E LEGISLATIVA DO IMPÉRIO DO BRASIL, 1823

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Prévia do material em texto

Câmara dos 
Deputados
Brasília | 2015
Conheça outros títulos da Edições Câmara no portal da Câmara dos Deputados: 
www.camara.leg.br/editora
INVENTÁRIO ANALÍTICO DO ARQUIVO DA ASSEMBLEIA GERAL CONSTITUINTE E LEGISLATIVA DO IMPÉRIO DO BRASIL, 1823
2015
INVENTÁRIO
analítico
do arquivo 
da
ASSEMBLEIA GERAL
CONSTITUINTE
e legislativa
do
IMPÉRIO DO 
BRASIL, 1823
2a edição revisada e reformulada
Em 2013, o acervo do Fundo Assembleia Geral Constituinte e Legislativa do 
Império do Brasil de 1823, custodiado pelo Arquivo da Câmara dos Deputados, 
foi contemplado com o registro no Programa Memória do Mundo da Unesco.
Esse registro confirma a relevância do acervo documental da Assembleia Geral 
Constituinte e Legislativa do Império do Brasil de 1823 para a história, cultura 
e sociedade brasileira. 
O Fundo é composto por manuscritos originais, volumes de códices, documen-
tos em grandes formatos (tabelas, mapas) e volumes de publicações impressas 
(Diários e Anais). No total, são 3.697 documentos, que podem ser acessados 
virtualmente em: https://arquivohistorico.camara.leg.br
Com esta 2ª edição do Inventário Analítico do Arquivo da Assembleia Geral 
Constituinte e Legislativa do Império do Brasil, 1823, a Câmara dos Deputados 
torna acessível à sociedade essa documentação representativa de um período 
político e social único na história do país.
Brasília | 2015
INVENTÁRIO
analítico
do arquivo
da
ASSEMBLEIA GERAL
CONSTITUINTE
e legislativa
do
IMPÉRIO DO 
BRASIL, 1823
2a edição revisada e reformulada
Mesa da Câmara dos Deputados
55ª Legislatura – 2015-2019 
1ª Sessão Legislativa
Presidente
Eduardo Cunha
1º Vice-Presidente
Waldir Maranhão
2º Vice-Presidente
Giacobo
1º Secretário
Beto Mansur
2º Secretário
Felipe Bornier
3ª Secretária
Mara Gabrilli
4º Secretário
Alex Canziani
Suplentes de Secretário 
1º Suplente
Mandetta
2º Suplente
Gilberto Nascimento
3ª Suplente
Luiza Erundina
4º Suplente
Ricardo Izar
Diretor-Geral
Rômulo de Sousa Mesquita
Secretário-Geral da Mesa
Silvio Avelino da Silva
Centro de Documentação e Informação
Edições Câmara
Brasília | 2015
Câmara dos 
Deputados
INVENTÁRIO
analítico
do arquivo
da
ASSEMBLEIA GERAL
CONSTITUINTE
e legislativa
do
IMPÉRIO DO
BRASIL, 1823
2a edição revisada e reformulada
CÂMARA DOS DEPUTADOS
Diretoria-Geral
Diretor-Geral: Rômulo de Sousa Mesquita
Diretora-Geral Adjunta: Cassia Regina Ossipe Martins Botelho
Diretoria Legislativa
Diretor: Afrísio Vieira Lima Filho
Centro de Documentação e Informação
Diretor: André Freire da Silva
Coordenação Edições Câmara
Diretora: Heloísa Helena S. C. Antunes
Coordenação de Arquivo
Diretor: Vanderlei Batista dos Santos
1987, 1ª edição, elaborada pela Seção de Documentos Históricos da Coordenação de Arquivos do Centro de 
Documentação e Informação da Câmara dos Deputados.
Revisão técnica e atualização de informações: Seção de Gestão do Arquivo Permanente
Projeto gráfico, capa e diagramação: Mariana Rausch Chuquer
Imagem da capa: capa do livro 1° das Actas das Cortes do Imperio do Brazil – acervo da Assembleia 
Constituinte de 1823
Revisão: Karem Rodrigues de Paula, Lísia Freitas Carvalho e Luzimar Gomes de Paiva
A Câmara dos Deputados é responsável pela escolha e apresentação das ideias contidas 
nesta obra, bem como pelas opiniões nela expressas, que não são necessariamente as 
da Unesco, nem comprometem esta organização.
Câmara dos Deputados
Centro de Documentação e Informação – Cedi
Coordenação Edições Câmara – Coedi
Anexo II – Praça dos Três Poderes
Brasília (DF) – CEP 70160-900
Telefone: (61) 3216-5809
editora@camara.leg.br
SÉRIE
Coleções especiais. Acervo arquivístico.
n. 2
Dados Internacionais de Catalogação-na-publicação (CIP)
Coordenação de Biblioteca. Seção de Catalogação.
Brasil. Congresso Nacional. Câmara dos Deputados. Coordenação de Arquivo.
Inventário analítico do arquivo da Assembleia Geral Constituinte e Legislativa do Império do Brasil, 1823 
[recurso eletrônico] / Câmara dos Deputados. – 2. ed., rev. e reform. – Brasília : Câmara dos Deputados, 
Edições Câmara, 2015. – (Série coleções especiais. Acervo arquivístico; n. 2)
Versão PDF.
Modo de acesso: http://www.camara.leg.br/editora
Disponível, também, em formato impresso.
ISBN 978-85-402-0465-2
1. Brasil. Congresso Nacional. Câmara dos Deputados. Coordenação de Arquivo, coleções. 2. Brasil. 
Assemblea Geral, Constituinte e Legislativa (1823), fontes. I. Título. II. Série.
CDU 342.4(81)”1823”
ISBN 978-85-402-0464-5 (papel) ISBN 978-85-402-0465-2 (PDF)
SUMÁRIO
ABREVIATURAS, SIGLAS E CONVENÇÕES ..................................................................................8
APRESENTAÇÃO .......................................................................................................................14
APRESENTAÇÃO À 1a EDIÇÃO ...................................................................................................18
PREFÁCIO .................................................................................................................................22
NOTA TÉCNICA .........................................................................................................................24
INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................28
HISTÓRICO DA ASSEMBLEIA GERAL CONSTITUINTE E LEGISLATIVA DE 1823 .......................36
1) A ideia de uma assembleia brasiliense ......................................................................37
2) A sede da Assembleia .................................................................................................40
3) Instalação da Assembleia ...........................................................................................41
4) A sessão inaugural ......................................................................................................42
5) A fala do presidente da Assembleia ...........................................................................48
6) A representação nacional ...........................................................................................49
7) As funções da Assembleia ..........................................................................................52
a) A função legislativa ...............................................................................................52
b) A função constituinte ...........................................................................................53
8) Fontes e mérito do projeto de Constituição ..............................................................57
9) A dissolução da Constituinte ......................................................................................58
MESAS DA ASSEMBLEIA GERAL CONSTITUINTE E LEGISLATIVA DE 1823 ...............................62
COMPOSIÇÃO DA ASSEMBLEIA GERAL CONSTITUINTE E LEGISLATIVA DE 1823 ...................66
COMISSÕES PERMANENTES (INTERNAS E DE FORA) E ESPECIAIS: HISTÓRICO E 
COMPOSIÇÃO ...........................................................................................................................76
a) Histórico das comissões .............................................................................................77
b) Composição das comissões .......................................................................................81
MINISTROS E SECRETÁRIOS DE ESTADO DO IMPÉRIO DO BRASIL (1822-1823) ....................90
DESCRIÇÃO DO ACERVO ..........................................................................................................94
Série A – Registros e documentos gerais .......................................................................98
Série B – Instalação da Assembleia..............................................................................102
Série C – Projetos ..........................................................................................................105
Série D – Indicações e requerimentos ..........................................................................116
Série E – Pareceres ........................................................................................................146
Série F – Expediente ......................................................................................................190
REFERÊNCIAS ........................................................................................................................212
APÊNDICE – PROJETO DE CONSTITUIÇÃO DO IMPÉRIO DO BRASIL ....................................228
ANEXO – EMENTÁRIO DA LEGISLAÇÃO CITADA .....................................................................256
ÍNDICES ..................................................................................................................................262
Índice de assuntos, geográfico e onomástico (entidades e pessoas, exceto 
deputados) ....................................................................................................................264
Índice nominal e remissivo de deputados ...................................................................357
Índice de comissões e Mesa (autoria e assunto) .........................................................380
Abreviaturas, siglas e convenções
ABREVIATURAS,
siglas e
CONVENÇÕES
9Abreviaturas, siglas e convenções
AL Alagoas
abr. abril
art., arts. artigo(s)
BA Bahia
cap. capítulo
CE Ceará
Cel. coronel
cf. confere
cia. companhia
cit. citado(a)
cm centímetro
col. coluna
com. comissão 
comp. compilador
cont. continuação
cop. copiado
D. dom, dona
dep. deputado
dez. dezembro
dir. diretor
Dr. doutor
ed. edição
Ed. editora
ES Espírito Santo
etiq.; etiqs. etiqueta(s)
ex. exemplo
10 Abreviaturas, siglas e convenções
f.; fls. folha(s)
GO Goiás
ibid. trata-se da mesma obra
idem trata-se do mesmo autor
idem ibid. trata-se do mesmo autor e da mesma obra
impr. imprensa
in em
intr. introdução
jan. janeiro
jul. julho
jun. junho
Jr. Júnior
livr. livraria
M. ministro ou ministério
MA Maranhão
mar. março
MG Minas Gerais
Mr. mister
mss. manuscritos
MT Mato Grosso
n. número
n.d. original não disponível
nov. novembro
N.Sa. Nossa Senhora
num. numeradas
ob. cit. obra citada
obs. observação
11Abreviaturas, siglas e convenções
of. oficina
out. outubro
p. página(s)
PB Paraíba
p.; pçs peça(s)
PE Pernambuco
Pe. padre
PI Piauí
pref. prefácio
pseud. pseudônimo
pt. parte
rev. revista
RJ Rio de Janeiro
RN Rio Grande do Norte
RS Rio Grande do Sul
S. sessão
SC Santa Catarina
s/data sem data
s/doc. sem documento
SE Sergipe
sen. senador
set. setembro
sic assim mesmo
SM Sua Majestade
SMI Sua Majestade Imperial
s/n sem número
SP São Paulo
Sr.; Srs. Senhor(es)
SS. Santíssimo
t. tomo
12 Abreviaturas, siglas e convenções
Trad. tradução, tradutor
typ. typografia
univ. universidade
v. volume
VAR Vossa Alteza Real
VM Vossa Majestade
APRESENTAÇÃO
Apresentação
15Apresentação
A formação do patrimônio arquivístico da Câmara dos Deputados tem início em 17 de 
abril de 1823, com a Primeira Sessão Preparatória da Assembleia Constituinte e Legislativa 
do Império do Brasil, quando foram destacados servidores responsáveis pelo manuseio e 
guarda dos documentos por ela produzidos. Embora efêmera, dado que foi instalada em 
3 de maio de 1823 e dissolvida, por decreto imperial, em 12 de novembro do mesmo ano, 
a primeira Constituinte de nossa história gerou vasto material documental, que traça um 
rico e minucioso retrato da atividade legislativa de um país que dava seus primeiros passos 
como nação independente.
O acervo da Constituinte de 1823 mostra a diversidade de atores que buscavam dia-
logar com seus representantes, assim como a variedade de temas que então afligiam a 
sociedade brasileira em formação. Vários documentos permitem, ademais, acompanhar o 
início da trajetória pública de muitas personalidades que iriam protagonizar a cena políti-
ca do Império. Essas preciosidades documentais fazem desse acervo um conjunto único e 
insubstituível de fontes primárias, que se revelam de grande interesse para pesquisadores 
do Brasil e do exterior, e que, até recentemente, só podiam ser acessadas in loco.
Em novembro de 2013, a importância do Fundo Arquivístico da Assembleia Geral e 
Constituinte do Império foi atestada pela Organização das Nações Unidas para a Educa-
ção, Ciência e Cultura (Unesco), que o certificou o fundo como patrimônio documental da 
humanidade, no âmbito do programa Memória do Mundo, cujo principal objetivo é “asse-
gurar a preservação das coleções documentais de importância mundial, por meio de seu 
registro na lista do patrimônio documental da humanidade, democratizar o seu acesso e 
criar a consciência sobre sua importância e a necessidade de preservá-lo”. (BRASIL, 2004)
Mais do que uma honraria, portanto, alçar o Fundo Arquivístico da Constituinte de 1823 
à categoria de patrimônio documental da humanidade trouxe uma dupla responsabilida-
de para a Câmara dos Deputados: assegurar sua preservação e democratizar o seu acesso.
No que diz respeito a esse primeiro desafio, a Coordenação de Preservação de Con-
teúdos Informacionais (Cobec) do Centro de Documentação e Informação (Cedi) já havia 
executado, durante sete anos, um projeto de higienização, minuciosa restauração e rea-
condicionamento do acervo, envolvendo inclusive o tratamento, em laboratório, de sete 
códices e 536 documentos, em sua maioria escritos com tinta ferrogálica em papel de tra-
po. Os documentos higienizados e restaurados foram então submetidos a um processo 
de digitalização em escaneadores planetários, que gerou cerca de doze mil imagens de 
16 Apresentação
preservação em alta resolução. Foram também produzidas imagens adequadas para pu-
blicação na rede mundial de computadores.
O desafio de organizar e disseminar esse vasto material ficou a cargo da Coordenação 
de Arquivo do Cedi, que utilizou a plataforma AtoM (acrônimo de Access to Memory), ferra-
menta desenvolvida sob a governança do Conselho Internacional de Arquivos, para registrar 
e descrever todos os documentos da Assembleia Constituinte e Legislativa do Império do 
Brasil. O AtoM fornece informações contextuais sobre unidades arquivísticas, é organizado 
dentro de níveis hierárquicos (fundo, séries, dossiês/processos, itens documentais), e inclui 
metadados de descrição baseados na Norma Brasileira de Descrição Arquivística (Nobrade).
Neste contexto, o lançamento desta segunda edição, revista e ampliada, do Inventário 
Analítico da Assembleia Constituinte e Legislativa do Império do Brasil é mais do que opor-
tuno. Em primeiro lugar, porque homenageia e aperfeiçoa o trabalho pioneiro de descrição 
desse acervo, realizado pelos profissionais do Arquivo da Câmara, ao agregar documentos 
essenciais à compreensão desse fundo arquivístico, a exemplo do próprio projeto de Cons-
tituição. Em segundo lugar, porque marca, juntamente com a realização de uma exposição 
sobre o tema, o compromisso assumido pela Câmara dos Deputados em conservar e divul-
gar um patrimônio informacional reconhecido como de importância mundial.
Finalmente, e não menos importante, temos a certeza de que a leitura dessa obra será 
em muito enriquecida pela possibilidade de o leitor folhear virtualmente cada um dos do-
cumentos que compõem esse fundo arquivístico, em portal especialmente preparado para 
esse fim. A Câmara dos Deputadoscumpre, assim, com a obrigação de preservar e dissemi-
nar sua memória institucional para toda a sociedade brasileira.
Adolfo Furtado
Consultor legislativo
Certificado do registro no Programa Memória do Mundo
APRESENTAÇÃO
à 1ª edição
Apresentação à 1
19Apresentação à 1a edição
Com a publicação do Inventário analítico do arquivo da Assembleia Geral Constituinte 
e Legislativa do Império do Brasil, 1823, inauguramos uma série de trabalhos de divulga-
ção do acervo da Coordenação de Arquivo da Câmara dos Deputados. Basta compulsá-lo 
aleatoriamente para se perceber quão diversificada é, desde sua criação, a ação do Poder 
Legislativo e quão extenso o raio geográfico de sua atuação, que corresponde à dimensão 
continental deste país. Ora é a população de Icó, no Ceará, a reclamar contra o abuso de 
autoridade cometido por seus escrivães; ora é Barbacena, Campanha da Princesa ou ou-
tras muitas vilas mineiras a solicitarem o privilégio de sediar uma universidade; ora são 
notícias sobre o procedimento da Guarnição Militar de Porto Alegre, favorável ao direito de 
veto absoluto do imperador.
Estamos convencidos de que este trabalho constitui relevante serviço à recuperação 
de informações sobre o papel histórico desempenhado pelo Legislativo brasileiro. Tra-
ta-se de um instrumento de pesquisa cuidadosamente elaborado por dedicada equipe 
da Coordenação de Arquivo desta Casa, segundo metodologia fixada por sua diretora, a 
arquivista e bibliotecária Nilza Teixeira Soares, que abre, com todas as chaves, o portal 
de acesso ao acervo documental arquivístico do primeiro órgão constituinte do Brasil 
independente – a Assembleia Geral Constituinte e Legislativa do Brasil de 1823.
Afirmou o acadêmico José Honório Rodrigues, na Comissão Parlamentar de Inquérito 
do Patrimônio Cultural, criada pela Câmara dos Deputados em 1980:
Eu desafio: não há em qualquer livro didático ou de nível superior qualquer referência à 
ação do Poder Legislativo no Brasil. E este foi um Poder tão ou mais importante que o 
Poder Executivo.
E aponta o que julgava ser a causa do desigual peso nas balanças:
O Poder Legislativo e o Poder Judiciário descuidaram da sua história. Os arquivos, nem da 
Câmara nem do Senado, estão satisfatoriamente atendidos.
Em que pese o elevado conceito em que temos nosso querido e saudoso historiador, 
faz-se mister lembrar que não existe instituição pública no Brasil que mais completa e pron-
tamente divulgue seus atos e palavras do que o Congresso Nacional, por meio de cada uma 
de suas Casas ou coletivamente. Aí está o Diário do Congresso Nacional, cujo título o tem-
po não descaracterizou. Diariamente seus assinantes, entre os quais podem-se incluir os 
20 Apresentação à 1a edição
 historiadores, inteiram-se do que falaram, elaboraram ou fizeram, a nível de suas compe-
tências e atribuições, os Srs. Parlamentares.
Quem compulsar esse inventário poderá comprovar que a queixa do ilustre historiador 
não é de todo válida. A Assembleia Constituinte e Legislativa de 1823, já em seus primeiros 
dias de existência, criou uma Comissão de Redação do Diário. Por outro lado, o art. 35 de seu 
Regimento Interno trata dos taquígrafos da Assembleia, assim como dos taquígrafos dos “ga-
zeteiros” – a imprensa da época – determinando que tivessem lugares próprios na Assembleia.
Os deputados de 1823, como os de hoje, desejavam aliar a pronta publicação do Diário à 
fiel exposição dos trabalhos da Assembleia, de forma que a nação se inteirasse da atuação de 
seus representantes e pudesse julgar do fervor com que pugnavam pelos interesses públicos.
Deve-se a deputados, ainda em nossa fase imperial, a iniciativa de reunir em volumes 
de anais a matéria relativa a cada uma das Casas do Legislativo, divulgada à época nos 
jornais de grande circulação. Essa série mantém-se até nossos dias.
Temos consciência de que, na qualidade de representantes da nação, fazemos a his-
tória do Brasil e de que somos objeto de estudo por parte da nobre estirpe de Heródoto, à 
qual a humanidade deve a preservação de sua memória – tomado o termo em sua acep-
ção dinâmica, como repositório das múltiplas experiências do homem, do registro de seus 
ensaios e erros, do repasse de sua elaboração mental, e da voz e emoção de incontáveis 
gerações. Transmitindo-nos as vivências e saber acumulados, aponta-nos metas, sem as 
quais perderíamos referências para toda e qualquer qualificação do viver e do saber.
Esta Presidência, preocupada com a memória da Assembleia Nacional Constituinte 
atual, designou, pelo Ato nº 4, de 30/9/1987 (Diário da Assembleia Nacional Constituin-
te, 15/10/1987, p. 5447) um grupo de trabalho integrado por servidores da Câmara dos 
 Deputados e do Senado Federal, para propor normas e procedimentos a serem adotados 
na coleta, organização e publicação dos seus anais e publicações correlatas, bem como na 
preservação de seus arquivos.
Aos Srs. Parlamentares e constitucionalistas, aos historiadores e demais estudiosos, 
entregamos este instrumento de pesquisa, na certeza de que será objeto do mais vivo 
interesse, pelo que significa para o conhecimento das raízes históricas de nossas insti-
tuições, de nossa cultura política e social, sobretudo neste momento de elaboração da 
nova Carta Constitucional.
Ulysses Guimarães1
1 O deputado Ulysses Guimarães era o presidente da Câmara dos Deputados e da Assembleia Nacional Constituin-
te de 1987 quando da publicação da 1ª edição desta obra.
PREFÁCIO
Prefácio
23Prefácio
Com a publicação do Inventário analítico do arquivo da Assembleia Geral Constituinte e 
Legislativa do Império do Brasil, 1823, a Coordenação de Arquivo da Câmara dos Deputados 
divulga um importante capítulo da história institucional do nosso país.
O Estado nacional brasileiro constituiu-se, na segunda década do século XIX, como 
uma monarquia constitucional e, portanto, sensível ao ideário político dessa época de 
transformações. Primeiramente, o país espelhou-se na experiência inglesa do século XVIII, 
que logrou controlar a Coroa por meio de uma atuação parlamentar que tornava o Poder 
Executivo uma expressão da hegemonia conquistada no âmbito do Poder Legislativo. A efi-
cácia dessa operação residia justamente no princípio do constitucionalismo, com a adoção 
de uma divisão racional dos poderes e das atribuições dos entes políticos. Assim, o modelo 
do antigo regime, de orientação despótica, deu lugar ao modelo liberal, que enfatizava 
a ampliação do princípio da representação. Ao consultar o arquivo da Assembleia Geral 
Constituinte e Legislativa do Império do Brasil de 1823, vemos o trabalho de deputados 
que, orientados pelo referido ideário político, buscaram definir os princípios institucionais 
do jovem país, como a soberania nacional, os direitos e deveres dos cidadãos e a organiza-
ção e o funcionamento do Estado.
Como pesquisador, gostaria de ressaltar que esta obra tem a função de um verdadeiro 
instrumento de pesquisa. Com a sua organização interna e metodologia próprias, o leitor é 
conduzido, de forma clara e objetiva, ao conteúdo desejado, que pode ser constituído tan-
to pelos trabalhos dos parlamentares, razão primeira e última da publicação, quanto pelos 
índices e recursos preparados pela equipe técnica da Coordenação de Arquivo do Centro 
de Documentação e Informação da Câmara dos Deputados que concorrem para uma me-
lhor contextualização da pesquisa, como o histórico e a composição da assembleia, a com-
posição das mesas e das comissões, e a relação dos ministros de Estado.
Por fim, acredito que o presente livro constitui uma contribuição única da Câmara dos 
Deputados para a sociedade brasileira, uma vez que torna público o resultado da primeira 
experiência legislativa do país, responsável pela institucionalização do Estado brasileiro. 
Um verdadeiro documento da identidade nacional.
Maurício VicenteFerreira Júnior
Diretor do Museu Imperial – Ibram – MinC
Sócio do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro
NOTA
técnica
Nota Técnica
25Nota Técnica
Há instrumentos de pesquisa genéricos e globalizantes, como os guias, há os parciais, que 
são detalhados e específicos, tratando de parcelas do acervo, como os inventários, catálo-
gos, catálogos seletivos e índices, e há também a publicação de documentos na íntegra, a 
chamada “edição de fontes”. (Bellotto, 2004, p. 180)
O inventário é um dos mais importantes instrumentos de pesquisa para o acesso aos 
documentos de um acervo arquivístico. Seu uso permite a exploração dos documentos, de 
forma específica, e dos fundos arquivísticos mantidos por uma instituição, se for conside-
rada uma forma mais abrangente de análise.
Antecedendo a publicação da 1ª edição, em 1987, deste Inventário analítico do arquivo 
da Assembleia Geral Constituinte e Legislativa do Império do Brasil, 1823, foi desenvolvida 
uma ampla pesquisa que deixou como legado um inventário rico em detalhes, com foco 
na melhor forma de recuperar os documentos e as informações e, consequentemente, no 
interesse dos cidadãos e dos pesquisadores do tema.
Esta 2ª edição, revisada e reformulada, é resultado de um grande trabalho de trata-
mento documental, que se iniciou com a higienização de todo o acervo, seu reacondicio-
namento em invólucros com pH neutro e o restauro de alguns documentos. Ademais, cada 
documento recebeu um código de referência, de acordo com a Norma Brasileira de Des-
crição Arquivística (Nobrade) e a Resolução nº 28/2009 do Conselho Nacional de Arquivos 
(Conarq). Essa identificação documental facilitou o controle do acervo, sua digitalização 
e o trabalho de descrição documental na plataforma AtoM (Access to Memory), utilizada 
pelas mais expressivas instituições arquivísticas mundiais. 
A possibilidade de acesso virtual aos documentos de que trata este Inventário, por 
meio do site https://arquivohistorico.leg.br, determinou algumas mudanças nesta publi-
cação em relação ao conteúdo original. A Sinopse de Tramitação, que constituía a parte 2 
da 1ª edição, foi excluída da edição atual, já que os recursos de descrição documental e de 
recuperação de informações da plataforma tecnológica AtoM suprem, com vantagens, a 
ausência da referida sinopse publicada em 1987. Esta 2ª edição também incorpora o texto 
integral do Projecto de Constituição para o Império do Brazil, gerado a partir do original ma-
nuscrito integrante do livro de Registro das Propostas da Assemblea Geral do Império. Além 
disso, foram inseridos anexos ao item 496 do Inventário, que reúnem resumos do noticiá-
rio nacional e internacional da primeira metade do século XIX sobre política, economia e 
outros assuntos de interesse dos constituintes. 
26 Nota Técnica
Em 2013, a Câmara dos Deputados apresentou a candidatura do acervo da Assem-
bleia Geral Constituinte e Legislativa de 1823 ao programa Memória do Mundo, criado pela 
Unesco. O acervo foi então contemplado, em março de 2014, com a nominação pelo Comi-
tê Nacional do Brasil, confirmando seu “valor excepcional”. Com esta 2ª edição do Inventá-
rio, a Câmara dos Deputados celebra o reconhecimento mundial conferido a esse conjun-
to documental e permite à sociedade brasileira conhecer com profundidade seu primeiro 
processo constituinte que, embora precocemente encerrado por sua dissolução em 12 de 
novembro de 1823, lançou as bases para a organização do nascente Estado brasileiro.
Introdução
INTRODUÇÃO2
2 Introdução da 1ª edição redigida por Nilza Teixeira 
 Soares, diretora da Coordenação de Arquivo da Câma-
ra dos Deputados quando da publicação da 1a edição 
desta obra. Pelo caráter histórico e informativo desse 
texto, optou-se por mantê-lo e inserir notas de rodapé 
nos trechos que foram alterados para a 2ª edição.
29Introdução
Mantém a Câmara dos Deputados a custódia do arquivo da Assembleia Geral Consti-
tuinte e Legislativa de 1823 – primeira constituinte do Brasil –, convocada a 3 de junho de 
1822, instalada a 3 de maio de 1823 e dissolvida, por decreto imperial, a 12 de novembro 
do mesmo ano.
O valor desse acervo, gerado em significativa fase de nossa história política, levou-nos 
a preparar o inventário analítico, com intuito de dar publicidade a todo o conteúdo desse 
precioso legado de que somos detentores.
Incluímos, nas folhas preliminares, além de uma “Notícia Histórica”, outras informa-
ções que nos parecem importantes para melhor retratar esse órgão constituinte, como: 
composição da Assembleia (nomes dos deputados e suplentes, representantes das pro-
víncias); composição das Mesas eleitas nos meses de maio a novembro, o curto período 
de seu funcionamento; histórico e composição das comissões, com base em excertos dos 
Anais, e, por fim, a relação dos ministros de Estado, à época.
A sistemática adotada neste inventário teve por objetivo adequá-lo às necessidades 
de recuperação de informações evidenciadas nos frequentes pedidos formulados por par-
lamentares, órgãos da Câmara dos Deputados e por terceiros, de modo a dispensar novas 
buscas quando se fizer necessário conhecer a atuação de determinado deputado, ou quan-
do se indagar sobre a existência de documentos procedentes de um certo município ou, 
ainda, sobre um assunto específico. Valemo-nos da descrição circunstanciada das peças 
que integram os dossiês, para oferecer uma visão exata deles e revelar a abrangência dos 
assuntos tratados pela Assembleia de 1823.
No propósito de facilitar a consulta ao arquivo da Assembleia Geral Constituinte e 
Legislativa de 1823, pareceu-nos essencial colocar em paralelo os originais e a forma im-
pressa dos documentos, tal como se encontram nos Anais. Assim é que fizemos constar 
do inventário, em relação a cada uma das peças que compõem os dossiês, informações 
concernentes à página e coluna do volume em que foram publicados.
Com este procedimento, além de tornar acessível o texto dos documentos, possibili-
tamos a identificação das peças originais inéditas e realmente desconhecidas da grande 
maioria dos pesquisadores, limitados, comum das vezes, ao uso de diários e anais.
Revela-se como de alto valor para a pesquisa histórica a documentação remetida à 
Assembleia como subsídio para deliberação sobre diversos assuntos, existente nas se-
cretarias do governo e nas províncias. Citamos, como exemplos, o projeto de lei que cria 
30 Introdução
 universidades, o relativo a governos provinciais e, ainda, as consultas sobre tributos, estra-
das e pontes, cujos dossiês contêm, respectivamente, 430, 69 e 1813 peças, anexas a ofícios, 
representações e outros expedientes (itens nos 18, 38 e 448). Essas peças despertam grande 
interesse por se tratar de matéria não suficientemente explorada pelos historiadores.
Destacam-se, também, entre os documentos não divulgados, as petições e representa-
ções dirigidas à Assembleia por cidadãos e entidades no exercício do direito de represen-
tar, que muito valorizam o arquivo inventariado, pelo que espelham em termos de aspira-
ções do povo e conduta das autoridades.
Quanto ao caráter de inéditas, por nós atribuído às peças apenas citadas e não trans-
critas nos Anais, esclarecemos que algumas foram oferecidas à Assembleia já sob a forma 
impressa. Não houve preocupação em pesquisar a eventual edição de peças que integram 
o acervo documental arquivístico. Limitamo-nos às fontes oficiais do Poder Legislativo, 
Diários e Anais.
O inventário compõe-se de duas partes principais: 1. descrição do acervo e 2. sinopse 
de tramitação4; complementam-nas índices e uma bibliografia básica.
Os livros de registros de correspondência, de proposições e de atas, bem como os dos-
siês, constituem unidades de arquivo descritas e numeradas de 1 a 497. Esse número apa-
rece na altura da primeira linha, à esquerda da descrição e seapresenta como elemento 
referencial dos índices e tabelas deste inventário.
Após a descrição, encontra-se a cota de localização no arquivo, para efeito de solici-
tação dos originais, composta da sigla indicativa da Assembleia Constituinte, ano, nº do 
maço e da pasta de arquivamento e nº específico do dossiê, na pasta, quando for o caso. 
Ex.: AC 1823/5/1.15.
A primeira parte – descrição do acervo – constitui, na verdade, o inventário dos docu-
mentos, num total de 3.2186 peças. Sua estrutura básica corresponde ao arranjo físico do 
acervo, isto é, compreende as séries de volumes de registros e de documentos gerais, bem 
como as várias espécies de proposições, projetos, propostas, indicações e requerimentos, 
pareceres, forma que melhor retrata a dinâmica do trabalho da Assembleia e o desempe-
nho dos parlamentares. Os demais documentos compõem a série Expediente da Mesa e 
3 O número de peças desses dossiês sofreu alteração após a identificação de documentos realizada na etapa de 
codificação. Esses dossiês possuem, respectivamente, 451, 68 e 185 peças.
4 A sinopse de tramitação está disponível em: <https://arquivohistorico.camara.leg.br>.
5 Para esta 2ª edição, a cota de localização dos dossiês no arquivo foi substituída pelo código de referência, ele-
mento de busca e recuperação dos documentos no sistema de descrição, disponível em: <https://arquivohisto-
rico.camara.leg.br>.
6 Após a identificação de documentos realizada na etapa de codificação do inventário, esse número foi alterado 
para 3.693 peças.
31Introdução
das comissões, ordenada segundo o despacho registrado no próprio documento ou pela 
pertinência dos assuntos.
Houve, de nossa parte, a preocupação de incluir nas descrições os elementos que vies-
sem a facultar a elaboração de índices minuciosos e que contribuíssem para a mais precisa 
recuperação das informações.
Inúmeras e frequentes foram as dúvidas e os percalços a superar. Uma das maiores 
dificuldades consistiu em criar um modo de informar e obter dados sobre a atuação in-
dividual dos deputados. O registro apenas da autoria da peça inicial da proposição seria, 
sem dúvida, insuficiente. Por outro lado, assinalar todos os nomes de parlamentares que 
participaram da elaboração legislativa de cada proposição pareceu-nos inviável e de difícil 
compreensão, sobretudo nos caso de dossiês mais volumosos. Omiti-los na descrição e 
fazer com que constassem do índice, seria tecnicamente incorreto. Como solução, idealiza-
mos o formulário Sinopse de Tramitação, segunda parte deste inventário7, que possibilitou 
determinar a atuação parlamentar, em termos de autoria, em nível, inclusive, de emendas 
a proposições e declarações de votos.
Nos casos de proposições e pareceres da Mesa e de comissões, bem como de correspon-
dência de ministros e demais órgãos oficiais, dispensamo-nos de declinar os nomes dos 
signatários. Sua identificação fica condicionada à verificação nos originais do arquivo e nos 
Anais. Pode-se também inferir quem os assinou, pela consulta à composição das comissões 
ou à relação de ministros em 1823, que se encontram nas páginas iniciais deste inventário.
Fizemos constar das descrições apenas a data da peça inicial dos dossiês. Não houve 
preocupação com datas-limite, já que, de modo geral, os documentos foram produzidos no 
ano de atuação da Assembleia. No caso de dossiês com anexos muito volumosos, mencio-
namos o ano a que retroagem. O arranjo cronológico foi sempre observado. Na ordenação 
das descrições dos expedientes, itens nos 393 a 497, na falta de uma data do próprio docu-
mento, recorremos à data de entrada na Câmara dos Deputados.
Considerando a época, dispensamo-nos de acrescentar à descrição dos dossiês a infor-
mação “mss.”, já que, praticamente, todo o acervo é manuscrito.
Em seguida às descrições, colocamos a nota8, que remete para a segunda parte do 
inventário. Nas páginas referidas, o usuário encontrará, sob o mesmo número, a sinopse 
de tramitação correspondente ao item da descrição, com informações complementares 
quanto às peças dos dossiês e à tramitação legislativa.
Por vezes complementamos a descrição com notas especiais sobre o documento, rela-
tivas a lacunas existentes nas séries e a outros dados de interesse.
7 A sinopse de tramitação está disponível em: <https://arquivohistorico.camara.leg.br>.
8 A nota mencionada foi excluída na 2ª edição devido à reestruturação do inventário.
32 Introdução
A segunda parte – sinopse de tramitação – constitui instrumento auxiliar que atende 
ao objetivo, além do já citado, de facilitar o acesso a grande parte do acervo arquivístico, 
pela referência aos Anais, caracterizados como arquivos impressos, de mais fácil e pronta 
leitura e de uso mais amplo que os originais.
É oportuno enfatizar que os arquivos do Poder Legislativo apresentam uma caracte-
rística sui generis em relação aos demais arquivos de órgãos oficiais. A matéria tratada no 
Plenário de suas Casas é encaminhada, de imediato, para publicação no Diário do Con-
gresso Nacional. Na organização do arquivo da Câmara dos Deputados, não vemos como 
desconhecer esta realidade: os documentos gerados no processo legislativo são, na sua 
quase totalidade, objeto de pronta divulgação. O que constitui, em geral, ambição máxima 
e última dos arquivistas, publicar os textos de seus documentos, ocorre, no Legislativo, na 
fase ativa dos arquivos.
Através das pesquisas nos Anais e do uso de formulário próprio, identificamos as peças 
pertencentes a determinada proposição e que compõem seu dossiê. Indica-se a data das 
sessões da Assembleia, a página e a coluna do volume dos Anais em que foram publicados 
os documentos, bem como as peças apenas citadas, e os anexos que acompanham aviso 
dos ministros ou outros expedientes, cujo teor só será conhecido pela consulta aos origi-
nais, a fonte limpa dos arquivos.
Além de reconstituir o funcionamento da própria Assembleia e dar acesso à matéria 
não formalizada em documentos como discussões e pronunciamentos diversos, o formu-
lário de Sinopse de Tramitação indica a existência ou não da peça original no acervo, atra-
vés de sinais convencionados: “+” e “–”.9
É dever dos arquivistas “reconstituir o arquivo com base nos documentos colocados 
sob sua custódia, mas também obter os que outrora dele faziam parte”, nos termos da 
regra nº 35 do Manual de arranjo e descrição de arquivos, da Associação dos Arquivistas 
Holandeses, de autoria de Müller, Feith e Fruin (Rio de Janeiro, Arquivo Nacional, 1960, 
p. 64). Inspirados nessa recomendação, descrevemos documentos cuja existência desco-
brimos pelo levantamento procedido nos Anais, mas que, na verdade, não estão em nos-
so poder e que, por qualquer motivo, se extraviaram. Podemos verificar, por exemplo, ao 
examinar o Parecer nº 4, da Comissão de Polícia, sobre comunicações de Gonçalves Ledo 
à Assembleia, que o documento inicial não existe no acervo; possuímos apenas a segunda 
comunicação. Destino ignorado tiveram, também, as memórias relativas à situação dos 
indígenas e à interiorização da capital (itens nos 194 e 433), bem como outros documentos 
de grande valor.
9 A sinalização mencionada foi modificada devido à reestruturação do Inventário.
33Introdução
No acervo do Arquivo da Câmara dos Deputados, observa-se que muitos documentos 
apresentam, na face externa, uma etiqueta10 numerada. Embora desconhecendo a sistemáti-
ca de seu emprego e não logrando obter a chave de identificação dos documentos da época, 
reconhecemos que constituem um elemento de identificação e recuperação que não pode 
ser desprezado. Este dado, quando existente, está registrado no formulário da Sinopse de 
Tramitação. Em tabela11 à parte, encontra-se a concordância entre o número das etiquetas e 
o que foi atribuído à unidade de arquivo, neste inventário.
Com vista a possibilitar a recuperação das informações, elaboramosíndices cujo des-
dobramento por assuntos e nominal de deputados, Mesa e comissões, além de facilitar a 
pesquisa, oferecem a possibilidade de se visualizar a atuação dos parlamentares e a dinâ-
mica dos órgãos técnicos da Assembleia.
Esses índices nos remetem aos indicativos numéricos que ocorrem na primeira parte 
do inventário, à esquerda da descrição das unidades de arquivo (dossiê ou séries de volu-
mes). A cada descrição corresponde uma sinopse de tramitação (segunda parte do inven-
tário), sob o mesmo número.
A partir dos índices, o usuário se reportará à primeira parte para conhecer a descrição 
do todo em que se inserem o assunto, o nome ou local indexados. Nos casos em que o ver-
bete do índice foi tirado da segunda parte do inventário, o indicativo é seguido da data da 
sessão. Exemplo: 18 (sessão de 9/6/1823).
Na indexação dos assuntos, procuramos atender, preliminarmente, ao princípio da 
especificidade, adotando palavras-chave extraídas das próprias descrições e que corres-
pondem ao conteúdo dos documentos. Não recorremos a instrumentos de vocabulário 
controlado, como tesauros, listas de cabeçalhos de assuntos, etc. Acreditamos que os inte-
ressados iniciem suas pesquisas por termos usuais. No entanto, alguns vocábulos antigos, 
hoje em desuso, como boticário, morfeia e outros, foram conservados.
Atendendo ao próprio conceito de arquivo como um todo orgânico e estruturado reuni-
mos, no índice, sob grandes assuntos, a matéria pertinente, em vez de recorrer à referência 
cruzada “ver também”, para os temas correlatos. Para maior destaque visual, aparecem 
em caixa alta.12
Os termos específicos, arrolados em um descritor comum de grande assunto, apre-
sentam-se na ordem alfabética geral. Por exemplo: sob Petições e Representações há uma 
petição relativa à extinção do “Contrato do Ver”, oriunda de Santo Antônio de Sá do termo 
10 A referência ao número da etiqueta foi excluída na 2ª edição, pois foi considerada de uso interno do Arquivo e 
não um elemento de identificação e recuperação dos documentos pelos usuários.
11 A tabela foi excluída na 2ª edição, pois foi considerada de uso interno do Arquivo e não um elemento de identifi-
cação e recuperação dos documentos pelos usuários.
12 Nesta edição, optou-se por retirar os destaques mencionados.
34 Introdução
de Macacu, Rio de Janeiro. Este documento pode ser encontrado também em: Contrato do 
Ver; Rio de Janeiro (cidades, vilas, etc.); Santo Antônio de Sá do termo de Macacu, e ainda 
inserido em outro grande assunto: Impostos, Taxas, etc.
Este procedimento, embora torne o índice volumoso, é de uso mais prático, pois as 
várias entradas informam diretamente, em vez de remeter de uns para outros termos. O 
emprego de remissivas e referências se tornou, assim, muito restrito neste trabalho.
O primeiro grande assunto diz respeito à própria Assembleia Constituinte, 1823. Outros 
exemplos são: Educação e Ensino; Eleições para a Assembleia Constituinte; Igreja e Estado; 
Independência – consolidação; leis, decretos, etc.; Projeto de Constituição para o Império 
do Brasil, etc.
Visando ainda à especificidade e à redução do grau de irrelevância, colocamos detalhes 
próprios à abordagem temática e pontos de vista sob os vários assuntos, evitando, desta 
forma, conceitos muito abrangentes, que dificultariam a recuperação da informação precisa.
Com o objetivo de melhor individualizar os nomes pessoais indexados, acrescenta-
mos-lhes os cargos ou outros atributos com que entram neste inventário, sempre que ob-
tidos esses dados. Quanto aos documentos assinados por ministros, preferimos o cargo ao 
nome do signatário.
As províncias aparecem sob os respectivos nomes, seguidos do restritivo (província). 
Na província epigrafada, arrolam-se todos os assuntos referentes a ela, tanto os gerais, 
como aqueles que tiveram lugar ou origem numa determinada vila, arraial ou cidade. Es-
tes nomes geográficos, ou os respectivos assuntos, também constarão do corpo do índice, 
na ordem alfabética geral. Ex.: um documento oriundo ou referente à cidade de Mariana, 
Minas Gerais, será encontrado em Minas Gerais (província) – vilas, cidades, etc. e, direta-
mente, pelo nome Mariana (cidade).
Cabe ainda esclarecer que, quanto aos nomes geográficos, foi observada a divisão po-
lítico-administrativa vigente à época, respeitando-se as denominações de então. Assim, 
Curitiba e Paranaguá aparecem sob São Paulo – vilas, cidades, etc., e a cidade de Campos 
está indexada como São Salvador dos Campos dos Goitacases e sob Espírito Santo – vilas, 
cidades, etc.
Os índices deste inventário têm uma utilidade adicional. Como à época não se haviam 
introduzido nos trabalhos da Assembleia os períodos de breves e grandes comunicações, 
os assuntos dos documentos eram também os dos discursos. Não havia discussão que não 
incidisse sobre um documento. Conclui-se que os índices tanto servirão aos pesquisadores 
do acervo arquivístico, como aos estudiosos dos debates da Assembleia.
A elaboração de instrumentos de pesquisa de arquivos requer o preparo de um peque-
no histórico do órgão a que o fundo documental diz respeito. Pareceu-nos também oportu-
35Introdução
no que se oferecesse, aos usuários deste inventário, uma bibliografia seletiva, como fonte 
complementar de estudo da Assembleia Constituinte e Legislativa de 1823. Pretender le-
vantar uma bibliografia exaustiva seria problemático e inviável, por todas as implicações 
de contexto em que se insere o Legislativo de um país. Foi assim estruturada em: 1. fontes 
primárias e 2. outras fontes.13
Este trabalho, na sua etapa inicial, resultou da atividade da Seção de Documentos His-
tóricos que, até 31/3/1982, encontrava-se sob a chefia de Astréa de Moraes e Castro. A eta-
pa posterior de editoração e montagem dos índices teve a supervisão imediata da diretora 
da Coordenação de Arquivo. As descrições dos dossiês foram ampliadas e a indexação in-
teiramente reelaborada, desenvolvendo-se intensa pesquisa nos originais, bem como em 
várias obras de referência. Procedemos, então, ao levantamento da elaboração legislativa 
das proposições, para efeito de registro dos documentos existentes no acervo, como foi 
anteriormente explicado.
A seriedade e dedicação de quantos se empenharam no preparo deste inventário, o 
caráter inovador de que se reveste e, ainda, o alto grau de confiabilidade a ele imprimi-
do justificam sua metodologia. No entanto, manifestações, favoráveis ou contrárias, serão 
bem recebidas.
Ao entregar este trabalho para publicação, apresentamos nossos sinceros agradeci-
mentos a todos os funcionários da Coordenação de Arquivo que, de alguma forma, viram-se 
envolvidos nesta tarefa e cuja relação aparece na contracapa. Formulamos agradecimen-
tos especiais a Gracinda Assucena de Vasconcellos, Ophélia Drumond de Andrade Müller, 
Maria Borges e Ernani Valter Ribeiro, pela colaboração incansável e altamente qualificada. 
Agradecemos, sobretudo, a Deus que nos dotou da perseverança necessária para superar 
os inúmeros desafios surgidos e concedeu-nos a gratificante oportunidade de vê-lo editado.
13 Nesta 2ª edição, a bibliografia foi inserida nas referências.
 
HISTÓRICO DA 
ASSEMBLEIA
geral constituinte 
e legislativa 
DE 182314
14 Texto redigido por Ernani Valter Ribeiro, técnico le-
gislativo da Câmara dos Deputados quando da pu-
blicação da 1a edição desta obra.
Histórico da Assembleia Geral Constituinte e Legislativa de 1823
37Histórico da Assembleia Geral Constituinte e Legislativa de 1823
1) A IDEIA DE UMA ASSEMBLEIA BRASILIENSE
A Assembleia Geral Constituinte e Legislativa brasileira tem sua história estreitamente 
ligada à Revolução Liberal do Porto, de 1820, movimento antiabsolutista, antibritânico e an-
tibrasileiro, nascido do ressentimento luso contra a inversão da balança do Império portu-
guês, que passou a pender para o Brasil,desde que o invasor napoleônico obrigou a Corte de 
D. João VI a procurar abrigo seguro na colônia americana, até então só lembrada como fonte 
fornecedora de produtos tropicais e de metais e pedras preciosas.
Visto à superfície, a Revolução Constitucionalista do Porto foi um movimento turbi-
lhonar de ideias liberais, que arrastava adeptos entusiásticos em todas as partes do Impé-
rio luso. No Brasil, primeiro o Pará, depois a Bahia, o Rio de Janeiro, enfim, o Reino todo 
declara-se “constitucional” e atende ao decreto que ordena a realização de eleições para 
deputados às Cortes de Lisboa.
Assim como o rei o era dos três reinos – Portugal, Brasil e Algarves –, o Congresso faria 
uma constituição e legislaria para os três reinos – a “nação” – como então diziam.
Estando o comando da Revolução em Portugal, as parcelas do Império que a ela ade-
rissem tinham, forçosamente, de ficar sujeitas a esse comando. Para combater a Coroa ab-
solutista e não lhe deixar terreno onde assentar-se, as Cortes foram subtraindo unidades 
ao Reino americano, vinculando-as à antiga Metrópole.
O conde de Palmela, ministro dos Estrangeiros e Guerra de D. João VI, ao tomar cons-
ciência da força do movimento revolucionário, sugeriu ao rei que se antecipasse a este, a 
exemplo de Luís XVIII, quando outorgou uma constituição aos franceses. Argumentava que 
a Europa “quase toda propendia para instituições liberais e não era acertado contrariar de 
frente essa tendência, antes cumpria traçar-lhe rumos” (SOUSA, 1972, v. 2, p. 138). Fazia-se 
mister mandar, sem tardança, “o príncipe herdeiro para Portugal presidir as Cortes e san-
cionar a Carta, cujas bases seriam estabelecidas pelo Trono” (SOUSA, 1972, v. 2, p. 138).15 
Aconselhava Palmela que, simultaneamente à ida do príncipe, deveria ser convocada “no 
Rio uma assembleia de procuradores das câmaras e vilas, para a elaboração da carta cons-
titucional aplicável à antiga colônia”. (CARVALHO, 1979, p. 25)
15 Correspondência do duque de Palmela.
38 Histórico da Assembleia Geral Constituinte e Legislativa de 1823
No dia 26 de fevereiro de 1821, no Largo do Rossio, D. Pedro enfrentou os “oficiais e agi-
tadores portugueses”, que estavam irritados tanto com a viagem do príncipe regente, orde-
nada pelo Decreto de 18 de fevereiro, como também com o ato de 23 do mesmo mês, que 
convocava a Junta de Cortes para reunir-se no Rio. Objetou-lhes não existir ainda a Cons-
tituição portuguesa “e que a do Brasil se faria da melhor maneira pelos representantes es-
colhidos pelas câmaras municipais” (SOUSA, 1972, p. 160). Mais se irritaram os insurgentes 
que, temendo ver o Brasil “tomar atitude constitucional diferente” da que lhe decretassem 
as Cortes, julgaram oportuno proclamar imediata adesão “à causa de Portugal, qualquer 
que ela fosse, ou qualquer que possa ser a constituição que as Cortes ora congregadas na-
quele Reino houverem de decretar para toda a monarquia”.16 (SOUSA, 1972, p. 158)
Serão necessárias as medidas antibrasileiras das Cortes e a afirmação de um partido 
brasileiro para que D. Pedro retome a ideia da convocação de uma assembleia brasileira, 
da qual José Clemente Pereira se blasonava de ser o primeiro motor. (RODRIGUES, 1974, 
p. 280-281)
Em carta ao pai, datada de 21 de maio de 1822, D. Pedro argumentava: “é necessário 
que o Brasil tenha Cortes suas; esta opinião generaliza-se cada dia mais. (...) O Brasil deve 
ter Cortes; já o disse VM; não posso recusar este pedido do Brasil porque é justo, funda-
-se no direito das gentes, é conforme aos sentimentos constitucionais, oferece, enfim, um 
meio para manter a união [entre Brasil e Portugal], que de outro modo breve cessará intei-
ramente. Sem igualdade de direito, em tudo e por tudo, não há união”. (RODRIGUES, 1975, 
v. 1, p. 236)
A 23 de maio, José Clemente Pereira manifesta a D. Pedro o pensamento do Senado da 
Câmara do Rio de Janeiro: “se a lei suprema da salvação da pátria exigiu a ficada de VAR 
neste Reino, como remédio único de o conservar unido, esta mesma lei impera, hoje, que se 
convoque já nesta Corte uma assembleia geral das províncias do Brasil” (RODRIGUES, 1974, 
p. 24). José Clemente Pereira endossara a representação “redigida por Ledo e Januário da 
Cunha Barbosa” em nome do povo do Rio de Janeiro (RODRIGUES, 1974, p. 22). No Manifes-
to de 1º de agosto de 1822, lavrado por Ledo, D. Pedro afirma: “representação que me fez a 
Câmara e o povo desta cidade no dia 23 de maio, que motivou o meu real decreto de 3 de 
junho do corrente ano” (BRASIL, 1887a, parte 2, p. 127). Referia-se ao decreto de convoca-
ção de uma “assembleia luso-brasiliense” dessa data, cujas instruções foram baixadas a 19 
do mesmo mês e ano. Essa Assembleia, contudo, ainda era uma contemporização, até no 
nome, e também na finalidade: para que “constitua as bases sobre que se devam erigir a sua 
Independência (...), e a sua união com todas as outras partes integrantes da grande família 
portuguesa”. (BRASIL, 1887b, p. 19)
16 Carta de Silvestre Pinheiro Ferreira.
39Histórico da Assembleia Geral Constituinte e Legislativa de 1823
O deputado Maia, em seus “Apontamentos que podem servir de base à pro-
clamação que fizer a Assembleia Geral Constituinte e Legislativa aos povos do 
Brasil” entregues à Assembleia na 1ª sessão ordinária, informa que “depois de se 
terem começado já em algumas províncias as eleições dos deputados, na forma 
das instruções de 19 do sobredito mês e ano [junho de 1822], mudou, desde os 
fundamentos, toda a sua perspectiva, decorado o frontispício com o dourado, e 
duradouro rótulo da Independência”. E adiante: “nestas felizmente alteradas cir-
cunstâncias, a Assembleia Constituinte Legislativa brasiliense (só) toma não aque-
la porção de soberania, que lhe designava o sobredito decreto, nesse tempo, mas 
em toda a sua plenitude a soberania que compete hoje à nação que representa, 
para com atenção única aos verdadeiros interesses do Brasil, promover o bem-ser 
dos povos, e a lustrosa duração do Império”. (Anais, 1823, t. 1, p. 21)
Decreto Imperial de 3 de junho de 1822. 
Fonte: Acervo da Câmara dos Deputados.
40 Histórico da Assembleia Geral Constituinte e Legislativa de 1823
2) A SEDE DA ASSEMBLEIA
“Em dezembro de 1822, por determinação do ministro da Fazenda, Martim Francisco 
Ribeiro de Andrada, foi expedida ordem para se preparar casa destinada aos trabalhos da 
Assembleia Geral Constituinte brasileira, cuja reunião seria a 3 de maio de 1823”. A Cadeia 
Velha, que se achava desocupada e era o edifício que melhores proporções oferecia, foi 
escolhida e sua decoração foi entregue a Theodoro José Biancardi, por indicação de José 
Bonifácio de Andrada e Silva. (CASTRO, 1926, v. 2, p. 677)
Cadeia Velha – 1a Sede da Câmara dos Deputados 
Fonte: Acervo da Câmara dos Deputados.
41Histórico da Assembleia Geral Constituinte e Legislativa de 1823
3) INSTALAÇÃO DA ASSEMBLEIA
Seguindo o roteiro fixado no Decreto de 14 de abril de 1823, que “designa o dia 17 do 
corrente mês para a reunião dos deputados da Assembleia Geral Constituinte e Legisla-
tiva”, no dia estabelecido, às 9 horas da manhã, reuniram-se em sessão preparatória, na 
Cadeia Velha, os 52 deputados presentes na Corte. Elegeram eles, por aclamação, para 
presidente, D. Jozé Caetano da Silva Coutinho, bispo capelão mor, e para secretário, o Sr. 
Manoel Jozé de Souza França. Criaram duas comissões para a verificação de poderes, uma 
de cinco membros para examinar os diplomas dos deputados em geral, e outra, de três, 
para o exame dos diplomas dos membros da primeira.
Na segunda sessão preparatória, em 18 de abril, foi confiada a elaboração de um proje-
to de regimento a uma comissão composta de cinco membros, da qual foi relator o depu-
tado paulista Antônio Rodrigues Velloso de Oliveira. A comissão desincumbiu-se da tarefa 
em doze dias, apresentando, na terceira sessão preparatória, no dia 30de abril, um projeto 
de mais de duzentos artigos. Ainda na sessão do dia 18, Antônio Carlos Ribeiro de Andrada 
Machado ofereceu a fórmula para o juramento dos deputados, em que fixa as funções da 
Assembleia – fazer a Constituição política do Império do Brasil e as reformas indispensá-
veis e urgentes – e delimita os poderes dos constituintes. Pelo juramento, seria “mantida 
a religião Católica Apostólica Romana e a independência [‘integridade e independência’, 
emendaria Martim Francisco] do Império, sem admitir com alguma nação qualquer outro 
laço de união ou federação, que se oponha à dita independência” e seria “mantido, outros-
sim, o Império Constitucional, e a dinastia do Senhor Dom Pedro, nosso primeiro impera-
dor, e sua descendência”. (Anais, 1823, t. 1, p. 3-4)
Na terceira sessão, de 30 de abril, foi lido pelo relator da Comissão de Regimento seu 
projeto, do qual foram antecipadamente votados os artigos de 19 a 34, “relativos ao ceri-
monial ou formalidades da sessão solene de entrada e recebimento de SMI na Assembleia, 
porque a matéria não admite demora: ficando, porém, igualmente estes artigos do ceri-
monial só provisoriamente aprovados” (Anais, 1823, t. 1, p. 4). Foi, na mesma sessão, no-
meada uma deputação de doze membros para anunciar ao imperador o dia da instalação 
da Assembleia, tendo sido escolhido, unanimemente, “o dia 3 de maio, por ser já distinto 
na história do Brasil” (Anais, 1823, t. 1, p. 8). A igreja comemora nesta data a invenção da 
Santa Cruz, e a história do Brasil tinha, até então, esse dia como o do descobrimento de 
Pedro Álvares Cabral.
Na quarta sessão preparatória, em 1º de maio, a Assembleia dirigiu-se à Capela Impe-
rial para assistir à missa do Espírito Santo e prestar o juramento.
Na quinta sessão, realizada a 2 de maio, o deputado José Bonifácio prestou contas, 
como orador, da deputação ao imperador para convidá-lo para a abertura dos trabalhos da 
42 Histórico da Assembleia Geral Constituinte e Legislativa de 1823
primeira Assembleia Geral brasileira. Era generalizado o conceito de Martim Francisco, para 
quem, “entre os atos públicos do governo representativo, nenhum é mais solene que aquele 
em que o monarca, como chefe da nação, abre a Assembleia, e aquele em que termina os 
seus trabalhos” (Anais, 1823, t. 2, p. 43). Costa Aguiar, outro Andrada, na mesma ocasião 
completava o pensamento de Martim Francisco dizendo que estes atos “pela sua importân-
cia são, e devem ser, os mais esplêndidos e solenes”. Assim, a “deputação nomeada para ir, 
da parte da Assembleia Geral Constituinte e Legislativa do Império do Brasil, anunciar a SMI 
o dia da instalação solene da mesma Assembleia, dirigiu-se em três coches, que SMI tinha 
mandado pôr à disposição da Assembleia, à sua quinta da Boa Vista, pelo Largo do Paço, rua 
Direita, rua do Ouvidor, praça da Constituição, rua dos Ciganos, Campo da Aclamação, rua 
de São Pedro, Rossio da Cidade-Nova e Ponte do Mangue, levando adiante, como batedo-
res, um piquete da Cavalaria, e atrás dos coches uma companhia de Cavalaria do Exército. 
Em alguns lugares da estrada estavam postados diferentes corpos também de Cavalaria 
para fazerem (sic) à deputação continências militares”. (Anais, 1823, t. 1, p. 12)
4) A SESSÃO INAUGURAL
Dentre outras gazetas, O Espelho registrava: “assomou finalmente o dia suspirado, objeto 
dos desejos e dos votos dos brasileiros”, e é o professor José Honório Rodrigues quem nos diz 
que “O paço, a capela imperial e todos os edifícios das ruas por onde deviam passar D. Pedro 
e seus acompanhantes apareceram adornados de brilhantes cortinas de seda de variadas 
cores, realçadas algumas de bordados; as ruas estavam juncadas de folhas aromáticas. As 
tropas ocupavam as ruas na melhor ordem e disciplina, com todo o garbo”. E às “onze e um 
quarto, os fogos de artifício e as salvas das fortalezas, 101 tiros, anunciavam que D. Pedro, 
a imperatriz D. Leopoldina e a herdeira D. Maria da Glória haviam deixado o Palácio de São 
Cristóvão em direção ao Paço das Cortes, seguidos de dez coches conduzindo seus acompa-
nhantes, os grandes do Império, os criados e oficiais-mores da Casa Imperial e os ministros 
de Estado. Fechava o acompanhamento o esquadrão de cavalaria de Minas Gerais”. (RODRI-
GUES, 1975, n. 6, p. 31-32)
A entronização do imperador na sala das sessões da Assembleia se obedeceu em tudo 
ao Regimento Provisório, aprovado nas sessões preparatórias, deu-se da seguinte forma: 
uma deputação de onze membros foi receber o imperador, onde se apeou à entrada do 
edifício da Assembleia, para acompanhá-lo até o Trono. O imperador teve de se descobrir 
à entrada da sala, e a coroa e o cetro foram conduzidos por seus oficiais e depositados em 
uma mesa à direita do Trono, que se situava no topo da sala das sessões. A cadeira do pre-
sidente da Assembleia ficava no primeiro degrau à direita do trono, ladeada pelas cadeiras 
dos secretários. Os deputados, em torno de uma mesa circular, podiam ver o presidente 
43Histórico da Assembleia Geral Constituinte e Legislativa de 1823
e podiam ser vistos, assentando-se indistintamente e sem precedências. O presidente, os 
secretários e todos os deputados ficaram em pé até que o imperador se assentou no Tro-
no. Os espectadores, independentemente de sua classe ou cargo, exceto os membros da 
família imperial, ficaram de pé, enquanto o imperador permaneceu na sala das sessões. 
(Anais, 1823, t. 1, p. 5-7)
A entrada do imperador, sem coroa e sem cetro, provocou constrangimento em alguns 
deputados, como saberemos por ocasião da nova discussão do cerimonial, já para tornar 
definitivo o Regimento Interno. Questão aparentemente fútil, envolvia, no entanto, um 
problema capital, qual o de saber quem encarnava a soberania nacional, o imperador ou a 
Constituinte, ou que parcela dessa soberania cada um destes representava. Na discussão 
desse aspecto do cerimonial, ficou bem evidenciada a preocupação dos constituintes com 
esse problema, que vai estar presente até o golpe de Estado de 12 de novembro, quando o 
imperador dissolveria a Assembleia. Antônio Carlos explicou: “a comissão julgou que, sen-
do SMI um poder constitucional e a Assembleia outro, devia ser igual a situação de ambos, 
quando presentes; e como a Assembleia se não cobre, pareceu que também SMI devia en-
trar descoberto” (Anais, 1823, t. 1, p. 7, 1ª col.). Mas na sessão de 12 de junho, o dispositivo 
do Regimento foi alterado, passando-se a admitir que o imperador entrasse na Assembleia 
com a coroa e o cetro, insígnias da realeza e não cobertura. Rodrigues de Carvalho defen-
deu esta emenda com este argumento: “o magistrado, quando lhe cumpre, aparece com a 
sua beca, o militar, com o seu uniforme, e assim os mais; e só o imperador, na função mais 
solene da nação, há de depor as insígnias que o distinguem de todos os outros cidadãos?” 
(Anais, 1823, t. 2, p. 43, 1ª col.). Dentre os espectadores presentes à sessão inaugural, tam-
bém muitos criticaram a Assembleia, segundo afirmou o deputado Costa Aguiar, quando 
chamou a atenção de seus pares para “a circunspecção que é mister haver em matérias tão 
delicadas, para não chocarmos de frente a opinião pública, pois que a todos é patente a 
maneira e forma por que este negócio foi encarado, quando pela vez primeira dele se tra-
tou”. O deputado Arouche Rendon também manifestou sua preocupação: “sobretudo não 
quero escandalizar os meus paulistas, que são de ordinário mui desconfiados, e prezam 
muito o seu imperador”. (Anais, 1823, t. 2, p. 40, 2ª col.)
“Logo que SM se assentou no trono e os Srs. Deputados nos seus lugares, recitou o seguin-
te discurso”, começa a relatar o Diário da Assembleia (Anais, 1823, t. 1, p. 13). A Fala do Trono 
consistiu em uma recapitulação dos principais acontecimentos, a partir da elevação do Brasil à 
dignidade de Reino, por obra de D. João VI. D. Pedro introduziu-a com uma exclamação solene:É hoje o dia maior que o Brasil tem tido; dia em que ele pela primeira vez começa a mostrar 
ao mundo que é Império, e Império livre. Quão grande é meu prazer, vendo juntos repre-
sentantes de quase todas as províncias fazerem conhecer umas às outras seus interesses e 
sobre eles basearem uma justa e liberal constituição que as reja!
44 Histórico da Assembleia Geral Constituinte e Legislativa de 1823
Afirma D. Pedro, inicialmente, que a representação nacional muito tardara, “vista a for-
ça e predomínio do partido português”. Faz referência ao “espaço de trezentos e tantos 
anos”, em que o Brasil “sofreu o indigno nome de colônia”. Evoca o nome de seu pai ao 
referir-se à elevação do país à categoria de Reino, em 1815. Relembra a perfídia portuguesa 
perpetrada quando, em face da Revolução do Porto, o Brasil, com toda a sinceridade, “gri-
tou Constituição Portuguesa”, e os reinóis trataram de “os converter repentinamente de ho-
mens livres, em vis escravos”. Rememora sua atitude frente à tropa europeia, representada 
pela Divisão Auxiliadora, comandada pelo general Avilez. Foi obrigado a fazê-la “passar à 
outra banda do Rio, pô-la em sítio, mandá-la embarcar e sair barra a fora”. Procedeu com 
a mesma firmeza diante de nova expedição, constituída pela esquadra que trazia as tropas 
comandadas pelo coronel Antônio Joaquim Rosado. Atitude idêntica tomará Pernambuco, 
ao passo que a Bahia acolheu os invasores e “sofre hoje crua guerra dos vândalos”.
A seguir, faz envaidecer seu ministro do Reino e Estrangeiros e mordomo-mor, ao mes-
mo tempo, José Bonifácio, postado à sua direita:
Eis em suma a liberdade que Portugal apetecia dar ao Brasil: ela se converteria para nós 
em escravidão e faria a nossa ruína total se continuássemos a executar suas ordens, o que 
aconteceria, a não serem os heróicos esforços, que, por meio de representação, fizeram, 
primeiro que todos, a Junta de São Paulo (...)
José Bonifácio fora o redator dessa representação de São Paulo. O então príncipe re-
gente estava propenso a submeter-se ao decreto das Cortes, que o mandavam partir para 
a Europa, afirmando seu presidente, Fernando Tomás, que esta determinação era uma or-
dem do soberano Congresso. Se não obedecida, este poderia dizer ao príncipe: “não és 
digno de governar, vai-te” (RODRIGUES, 1975, n. 7, p. 83). Que efeito não deve ter causado 
sobre o príncipe, então com 23 anos de idade, a frase aguilhoadora de José Bonifácio: “se 
VAR estiver (o que não é crível) pelo deslumbrado e indecoroso Decreto de 29 de setembro, 
além de perder para o mundo a dignidade de homem, e de príncipe, tornando-se escravo 
de um pequeno número de desorganizadores, terá também que responder, perante o céu, 
do rio de sangue, que decerto vai correr pelo Brasil com a sua ausência” (FALCÃO, 1965, 
v. 2, p. 224). Essas palavras eletrizaram de tal modo o príncipe, que valeram ao paulista um 
ministério e ascendência sobre ele.
(...) depois a Câmara desta capital, e após desta, todas as mais juntas de governo e câma-
ras, implorando a minha ficada.
Se a Assembleia e espectadores haviam lançado olhares respeitosos sobre o patriar-
ca, muitos presentes vão agora revolver contra ele sentimentos mistos de desconfiança e 
fundo ressentimento. Onde estava o outro herói do Fico, o presidente da Câmara do Rio? 
45Histórico da Assembleia Geral Constituinte e Legislativa de 1823
Onde estavam os demais heróis deste ou dos atos subsequentes, dentro do processo da In-
dependência: Joaquim Gonçalves Ledo, Januário da Cunha Barbosa, Pedro José da Costa 
Barros, João Soares Lisboa e outros? Essas perguntas serão feitas nas sessões imediatas, 
sempre na presença de José Bonifácio, responsabilizado por essas ausências, como expo-
remos mais adiante.
D. Pedro discorre sobre a situação do Tesouro, da administração pública, do Exército: 
“por duas vezes tenho mandado socorros à província da Bahia, um de 240 homens, outro 
de 735, compondo um batalhão com o nome de batalhão do imperador”. “Além disso, fo-
ram criados um regimento de estrangeiros e um batalhão de artilharia de libertos”. Afirma 
que “todas as províncias, desde a Paraíba do Norte até Montevidéu, receberam os socorros 
que pediam”.
Fala da situação da Armada e enumera as obras empreendidas e os edifícios públicos 
erigidos no Rio de Janeiro. Refere-se às providências tomadas no campo do ensino, da 
assistência social e da saúde.
Reporta-se à convocação dos procuradores-gerais, mais uma ideia de José Bonifácio, 
que preferia este Conselho de Estado à convocação da Assembleia. Em seus rascunhos 
para a elaboração das Lembranças e apontamentos oferecidos à bancada paulista junto 
às Cortes de Lisboa, lemos a observação: “talvez seja útil fazer cortes particulares em 
cada Reino, e outras gerais para a União” (NOGUEIRA, 1973, v. 2, p. 12). Ficou só no ras-
cunho. José Honório comenta: “A inspiração de uma Assembleia Constituinte vinha da 
França revolucionária e nunca foi bem recebida pelos conservadores, durante todo o 
Império. Não é, assim, estranho que José Bonifácio, ministro do Império, não visse com 
bons olhos a iniciativa liberal, ao contrário do Conselho de Procuradores, órgão consul-
tivo, que ele propusera. A Assembleia Constituinte oferecia o perigo de arrogar-se, como 
se arrogará, a encarnação da soberania nacional, sobrepondo-se ao príncipe, defensor 
perpétuo”. (RODRIGUES, 1974, p. 22)
D. Pedro confessa que, “escondidamente, porque o tempo não permitia que tais ideias 
se patenteassem de outro modo”, muito desejava que “esta leal, grata, briosa e heroica na-
ção fosse representada numa Assembleia Geral Constituinte e Legislativa”, ideal concreti-
zado “em consequência do Decreto de 3 de junho do ano pretérito, a requerimento dos po-
vos, por meio de suas Câmaras, seus procuradores-gerais e meus conselheiros de Estado”.
Fala de sua marcha para Minas e depois para São Paulo, com o fito de reunir essas 
províncias sob seu mando. Rememora o Grito do Ipiranga e o recebimento do título de 
defensor perpétuo do Brasil a 13 de maio de 1822.
Volta a falar do 3 de junho de 1822 e, certamente fitando a Assembleia, exclama:
46 Histórico da Assembleia Geral Constituinte e Legislativa de 1823
Graças sejam dadas à Providência, que vemos hoje a nação representada, e representada 
por tão dignos deputados. Oxalá que há mais tempo pudesse ter sido; mas as circunstân-
cias anteriores ao Decreto de 3 de junho não o permitiam, assim como depois as grandes 
distâncias, a falta de amor da pátria em alguns, e todos aqueles incômodos, que em longas 
viagens se sofrem, principalmente em um país tão novo e extenso como o Brasil, são quem 
tem retardado esta apetecida e necessária junção apesar de todas as recomendações que 
fiz de brevidade por diferentes vezes.
Afinal raiou o grande dia para este Império, que fará época na sua história. Está junta a 
Assembleia para constituir a nação. Que prazer! Que fortuna para todos nós!
Em seguida, D. Pedro aborda um ponto que deixa suscetibilizados vários deputados e 
mais uma vez deverá ter suscitado olhares inquisitoriais para seu braço direito, José Bonifácio:
Disse ao povo, no 1º de dezembro do ano próximo passado em que fui coroado e sagrado, 
que “com a minha espada defenderia a pátria e a nação, e a Constituição, se fosse digna 
do Brasil e de mim”.
A coroação do imperador fora ocasião de discórdias entre os dois “partidos” responsá-
veis pelas suas principais decisões rumo à independência do Brasil, o grupo de Ledo, da 
Maçonaria, e José Bonifácio e seus sequazes. O primeiro queria impor ao imperador que, 
no dia da coroação, fizesse um juramento prévio à Constituição que a Assembleia convoca-
da iria elaborar. José Bonifácio, vitorioso a 30 de outubro, excluiu esta cláusula e inspirou 
os termos do juramento a que acabara de se referir D. Pedro. Por diversas vezes, vamos 
ler nos Anais daConstituinte a descrição dos fatos ocorridos a partir de 30 de outubro, e 
comentários sobre estas ocorrências, que vão ser responsáveis pela ausência de muitos 
heróis da Independência na solenidade que estamos a descrever. “Desde 30 de outubro do 
ano passado a marcha dos negócios políticos do Brasil não é serena e regular. O governo 
tem tomado medidas violentas e anticonstitucionais; têm-se prendido homens sem culpa 
formada; têm-se deportado outros; abrindo-se uma devassa não só na Corte, mas pelas 
províncias, que nada menos é que uma inquisição política; a liberdade da imprensa está 
quase acabada, se não de direito, ao menos de fato. O Rio de Janeiro, donde saíram tantos 
papéis liberais, até àquela data, está hoje reduzido ao Diário das Vendas, ao do Governo 
e ao Espelho. Os escritores de maior nomeada estão deportados, ou presos; os espíritos 
aterrados, muita gente timorata, desconfiada e vacilante; teme-se, desconfia-se do despo-
tismo”, desabafará o deputado Alencar, ao defender o projeto de anistia (Anais, 1823, t. 1, 
p. 42, 2ª col.). E contra este estado de coisas, oriundo da devassa que o povo apelidara de 
“Bonifácia”, a imaginação criadora dos deputados proporá diversas medidas e apresentará 
várias proposições legislativas. Este excelente Inventário de documentos da Constituinte 
47Histórico da Assembleia Geral Constituinte e Legislativa de 1823
permitirá ao leitor, desde que tenha em mãos os Anais dela, acompanhar os debates e a 
tramitação legislativa dessas proposições, sobretudo as da anistia, das sociedades secre-
tas e da liberdade de imprensa (ver itens 51, 15, 22 e 48 deste inventário). Nesses debates, 
sempre tomarão parte os Andradas, sem excluir o próprio José Bonifácio. O leitor verá sua 
defesa, quando contra-argumenta à imputação de arbitrariedades praticadas pelo minis-
tério. Ouvirá os clamores das vítimas, que escreverão à Assembleia quando ainda nas pri-
sões das fortalezas ou no exílio. É “no seio virginal dos campeões da liberdade brasílica 
que eu solto as vozes da dor e da opressão”, escreverá à Assembleia Pedro José da Costa 
Barros (Anais, 1823, t. 1, p. 44, 1ª col.; ver também itens 274 e 283 deste inventário). O zelo 
de José Bonifácio pelo seu projeto monárquico-constitucional será tão acendrado que, por 
ele, ordenará prisões, banimentos e outras violências contra todo suspeito de republica-
nismo. Por ele, policiará o comportamento da Assembleia e, com a colaboração de seus 
irmãos, sobretudo de Antônio Carlos, direcionará seus trabalhos. Foi José Bonifácio quem 
apresentou as instruções para as eleições dos deputados. Foi ele quem, atingido o quórum 
mínimo fixado nessas instruções, deu o roteiro dos trabalhos nas sessões preparatórias; 
foi Antônio Carlos quem ofereceu a fórmula de juramento para a posse dos deputados. 
Fê-los jurar que, na Constituição que elaborassem, garantiriam que fosse mantido “o Im-
pério Constitucional, e a dinastia do Senhor Dom Pedro, nosso primeiro imperador, e sua 
descendência” (Anais, 1823, t. 1, p. 3, 2ª col.). Nos debates, à menor manifestação de repu-
blicanismo, os Andradas erguerão sua voz exasperada. Assim foi, já na terceira sessão pre-
paratória, quando o radical Dias abriu a boca para expor sua doutrina. Antônio Carlos caiu 
sobre ele com cáustica ironia: “Sr. Presidente, eu estava preparado para ouvir portentos 
nesta Assembleia, vivemos na idade das maravilhas, e somos mui pouco ilustrados para 
não ferverem entre nós os milagres” (Anais, 1823, t. 1, p. 5, 1ª col.). O comportamento dos 
Andradas despertará contra eles animosidades até entre os melhores deputados. E o apoio 
destes fará muita falta quando os oficiais portugueses “incorporados ao Exército nacional, 
contra a opinião pública e da Assembleia”, intrigarem, “com o apoio de Domitila, dos nego-
ciantes portugueses e especialmente do gabinete secreto, D. Pedro I contra os Andradas, 
especialmente José Bonifácio, o grande chefe das forças nacionais” (RODRIGUES, 1974, 
p. 225). Nessa hora, os Andradas, mais afinados com a Assembleia, serão precipitados na 
desgraça do imperador e levarão ao abismo também a Assembleia.
Prosseguiu D. Pedro nestes termos:
Ratifico hoje aqui, solenemente, perante vós, esta promessa e espero que me ajudeis a 
desempenhá-la, fazendo uma Constituição sábia, justa, adequada e executável, ditada 
pela razão e não pelo capricho (...) Uma Constituição em que os três poderes sejam bem 
divididos de forma que não possam arrogar direitos que lhe não compitam; mas que se-
jam de tal modo “organizados e harmonizados”, que se lhes torne impossível, ainda pelo 
48 Histórico da Assembleia Geral Constituinte e Legislativa de 1823
decurso do tempo, fazerem-se inimigos, e cada vez mais concorram de mãos dadas para a 
felicidade geral do Estado.
Os períodos finais repisam advertência e encômios à Assembleia.
5) A FALA DO PRESIDENTE DA ASSEMBLEIA
Concluída a Fala do Trono, o presidente respondeu, em nome da Assembleia. Era pre-
sidente D. Jozé Caetano da Silva Coutinho, bispo capelão mor, o que nos faz verificar como 
todo o processo político, desde as eleições até a solene instalação da Assembleia, teve, ao 
lado da função cívica, a função religiosa. As instruções de 19 de junho de 1822 prescreviam 
que no “dia aprazado para as eleições paroquiais, reunido na freguesia o respectivo povo, 
celebrará o pároco missa solene do Espírito Santo, e fará, ou outro por ele, um discurso 
análogo ao objeto e circunstâncias”. Apurados os votos e conhecidos e reunidos os elei-
tores, “os cidadãos que formaram a Mesa, levando-os entre si e acompanhados do povo 
se dirigirão à igreja matriz, onde se cantará um Te Deum solene”. Na nova data aprazada, 
reunidos os eleitores nas cabeças de distrito, e apresentando seus diplomas ao Colégio 
Eleitoral, este, achando-os “legais, dirigir-se-á todo o Colégio à Igreja Principal, onde se 
celebrará (pela maior dignidade eclesiástica) missa solene do Espírito Santo, e o orador 
mais acreditado (que não se poderá escusar) fará um discurso análogo às circunstâncias” 
(BRASIL, 1887c, p. 43, 44 e 48, Cap. II, §§ 1º e 6º; Cap. V, § 4º). Apuradas as diferentes nomea-
ções pela Câmara, a “Câmara, os deputados, eleitores e circunstantes dirigir-se-ão à igreja 
principal onde se cantará solenemente Te Deum”. (FALCÃO, 1965, v. 2, p. 26)
Diplomados os deputados em suas províncias, compareceram estes ao edifício da Ca-
deia Velha, onde, após a verificação de poderes, na quarta sessão preparatória, de 1º de 
maio, o presidente fez um convite à Assembleia:
Creio que são horas de irmos à capela, para se ouvir missa e prestar o juramento. Conveio 
a Assembleia, e dali se dirigiu em corpo à capela imperial, onde assistiu à missa solene do 
Espírito Santo, que oficiou o Sr. Bispo Capelão Mor o qual, logo depois, prestou o juramento 
de deputado nas mãos do decano do cabido, pronunciando de joelhos em voz alta o mes-
mo juramento pela fórmula aprovada. Igualmente juraram perante o Sr. Bispo, presidente 
da Assembleia, o Sr. Secretário e mais deputados, pondo, cada um por sua vez, a mão sobre 
os Santos Evangelhos, e dizendo: Assim o juro. (Anais, 1823, p. 8, 2ª col.)
Agora, na sessão solene de abertura, a resposta do presidente da Assembleia, que é 
bispo capelão mor, soa como homilia: “os talentos e as luzes da Assembleia hão de levan-
tar certamente com toda a perfeição e sabedoria a complicada máquina do Estado, mas o 
49Histórico da Assembleia Geral Constituinte e Legislativa de 1823
que nos afiança a regularidade, a constância, e a perpetuidade dos seus movimentos são 
as virtudes, as paixões bem reguladas pela razão, os bons costumes e maneiras, os since-
ros sentimentos religiosos das autoridades públicas e dos indivíduos particulares. Não, 
Senhor, as santas virtudes, sublimes filhas do Céu, não hão de abandonar-nos, enquanto 
nós não abandonarmos a religião de nossos pais,

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