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PARADIGMAS DO CONHECIMENTO E ABORDAGENS PEDAGÓGICAS MAIRA BERNARDI SÔNIA DONDONIS DAUDT (ORG.) Editora Unisinos, 2014 SUMÁRIO Apresentação Capítulo 1 – Noções de Paradigma Capítulo 2 – Teorias Históricas: Inatismo, Empirismo e Racionalismo Capítulo 3 – Teorias do Paradigma Reprodutivista Capítulo 4 – Teorias do Paradigma Construtivista Capítulo 5 – Teorias do Paradigma da Complexidade Considerações Finais Referências Sobre as autoras Informações técnicas APRESENTAÇÃO Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já têm a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos. Fernando Teixeira de Andrade Teoria é sempre uma maneira singular de sistematizar um modo de ver o mundo a partir de determinado assunto ou tema. Também são diversas as teorias que buscam explicar o processo de conhecimento. O pensamento pedagógico, tão antigo quanto a própria Filosofia, tem suas raízes na Grécia antiga. De lá para cá, diferentes teorias surgiram, cada uma tentando explicar o processo de aquisição do conhecimento de acordo com seus paradigmas e crenças epistemológicas. Elas trazem, assim, novos conceitos à reflexão pedagógica, influenciando diferentes abordagens e metodologias utilizadas para a condução do processo de ensino e de aprendizagem até os dias de hoje. Denominam-se teorias de aprendizagem, na Psicologia e também na Educação, os diversos modelos que buscam explicar o processo de conhecimento vivido pelos indivíduos. Conhecer as teorias de aprendizagem é de fundamental importância para desenvolver-se uma reflexão sobre a prática docente, pois elas ajudam a compreender por que o processo educativo é encaminhado de determinada forma e as implicações de ele ser assim, ao mesmo tempo em que podem orientar as escolhas metodológicas que se fazem necessárias no cotidiano de todo professor ante o processo de ensino. Este livro foi preparado especialmente para atender alunos da atividade acadêmica Teorias de Aprendizagem, e busca apresentar aquelas que consideramos algumas das principais teorias e abordagens pedagógicas. Sabe-se que há sobre o tema vasta bibliografia e que a leitura deste material não dispensará, de modo algum, a consulta de outras fontes como complemento ou contraponto ao exposto. Trata-se, portanto, de um material de apoio que será mediado pelo professor e complementado com materiais disponíveis na comunidade de aprendizagem. Espera-se, deste modo, contribuir para a reflexão sobre a aprendizagem e o ensino. Optou-se por organizar as teorias de aprendizagem que serão tratadas neste livro em quatros grupos: 1. Teorias históricas: inatismo, empirismo e racionalismo; 2. Teorias do paradigma reprodutivista; 3. Teorias do paradigma construtivista; 4. Teorias do paradigma da complexidade. Este livro foi dividido em cinco capítulos. O primeiro capítulo, intitulado Noções de Paradigma, apresenta as concepções conceituais acerca do paradigma e da epistemologia trabalhadas. Encaminha-se, a seguir, para a abordagem da definição de Ciência fundamentada desde o paradigma newtoniano-cartesiano até o paradigma da complexidade, enfatizando-se, assim, as mudanças paradigmáticas vivenciadas até os dias atuais. No segundo capítulo, são abordadas as teorias históricas, a saber: inatismo, empirismo e racionalismo. Para cada uma, são descritas suas considerações gerais e apontados os teóricos de maior expressão, que difundiram suas ideias a partir de seus trabalhos. Dessa forma, buscamos salientar as diferenças epistemológicas que as caracterizam. Na sequência, no terceiro capítulo, denominado Teorias do Paradigma Reprodutivista, enfatizam-se os pressupostos tratados à luz do paradigma reprodutivista. Também são destacadas as abordagens pedagógicas: tradicional, escolanovista e tecnicista, sendo descritas suas características gerais, a relação professor-aluno, a ênfase metodológica e a avaliação da aprendizagem. O quarto capítulo, Teorias do Paradigma Construtivista , remete aos princípios teóricos deste paradigma. Também são apontadas as abordagens pedagógicas – progressista e ensino com pesquisa –, ambas embasadas em desdobramentos da concepção epistemológica do paradigma ora estudado. O quinto e último capítulo, intitulado Teorias do Paradigma da Complexidade, trata das concepções que fundamentam as teorias da complexidade, considerada tendência atual. São evidenciadas as abordagens sistêmica, holística e ecológica, conjuntamente, pelo fato de serem consideradas complementares. Finalmente, encerra-se este livro, com a explanação das considerações finais refletindo-se sobre os aspectos gerais abordados. Assim, convidamos você a realizar esta leitura, que contribuirá para seus estudos sobre as teorias de aprendizagem. CAPÍTULO 1 NOÇÕES DE PARADIGMA Este capítulo trata das noções de paradigma e epistemologia, fundamentais para a compreensão das teorias que serão abordadas. Veremos, ainda, a visão de Ciência à luz do paradigma newtoniano-cartesiano e do paradigma da complexidade, além das razões para a transição paradigmática por que passamos atualmente. Toda ação educativa é perpassada – tenha o professor consciência disto ou não – por paradigmas epistemológicos, razão pela qual começaremos nossa abordagem pelo significado da palavra “paradigma”. Compreender o significado do termo é essencial para estudar as teorias de aprendizagem. Não menos importante é compreender como surge um paradigma, como ele se torna um padrão de comportamento, e quão difícil é desafiá-lo e modificá-lo. “Paradigma” é um termo que vem do grego parádeigma, que significa “modelo”, “padrão”, “exemplo”. No sentido mais comumente usado, refere-se a algo que serve de referência à forma como percebemos e atuamos no mundo, algo a ser seguido em determinada situação. Paradigmas são normas que estabelecem limites, orientam grupos e determinam como os indivíduos devem se comportar dentro dessas fronteiras. É um modelo dominante em determinado período e contexto, sempre em relação à execução de certa atividade. Pode ser, por exemplo, um modelo social, educacional, profissional, organizacional, tecnológico, religioso, entre outros. A noção de “paradigma” não deve ser confundida com a noção de epistemologia. A epistemologia é uma das principais áreas da Filosofia, e sua origem remonta a Platão (427-347 a.C.). A palavra vem do grego episteme (“conhecimento”), do verbo episthanai (“saber”, “entender”) –, designando a ciência que trata da origem, natureza e limites do conhecimento. Dito de outra maneira: Epistemologia é a Ciência que busca responder o que é o conhecimento e como este se desenvolve. Estamos permanentemente vendo e interpretando o mundo através de nossos paradigmas, e estes estão sempre presentes e influenciam nossas percepções em todos os aspectos das nossas vidas. Vasconcellos (2003, p. 33) diz que os paradigmas “funcionam como filtros que selecionam o que percebemos e reconhecemos e que nos levam a recusar e distorcer os dados que não combinam com as expectativas por eles criadas.” Se forem diferentes os paradigmas de duas pessoas em relação a determinado assunto, o que for percebido por uma não será percebido por outra. Ou seja, pessoas com paradigmas diferentes, olhando para dada situação, veem coisas diferentes, porque vivem mundos diferentes. Vasconcellos (2003) diz que, para sabermos que coisas estão sendo vistas, temos de nos perguntar pelos mundos daqueles que estão vendo. Mudar os modos de ver e viver é, assim, fruto de um convencimento que necessariamente passa pela reflexão de cada um. Nossos paradigmas influenciam nossas ações a tal ponto que, frequentemente, nos levam a crer que o jeito como pensamos ou fazemos algo é o modo correto ouúnico de fazê-lo. Visto desse modo, pode-se dizer que nosso paradigma educacional influencia nossa visão epistemológica e, por consequência, nossas práticas docentes. Eis por que às vezes é tão difícil mudar, tornando-nos impermeáveis e resistentes a novas ideias. Vasconcellos (2003, p. 33) diz, a respeito, que “os paradigmas nos isolam dos dados que os contrariam”. Assim podemos compreender que uma mudança paradigmática sempre é difícil e lenta, pois “demanda uma revisão na visão de mundo, de sociedade e de homem” (BEHRENS, 2006, p. 12). Diferentemente dessa clássica definição de paradigma como “visão de mundo” – que pode ser assumida por uma única pessoa –, há também o sentido postulado por Capra (1997), que diz respeito à totalidade de pensamentos, percepções e valores que formam uma comunidade, constituindo a base de como essa comunidade se organiza. Desse modo, um paradigma é visto como sistema integrado e inter-relacionado, em conformidade com a visão de totalidade que ultrapassa a ideia da simples reprodução do conhecimento, projetando-se na direção da produção deste. Atualmente um novo paradigma de Ciência está definindo cada vez mais seus contornos, surgido nos anos 1980, e questionando crenças anteriores: é o chamado paradigma emergente, sistêmico ou da complexidade. Trata-se de uma nova forma de ver e pensar o mundo e, por consequência, de estar no mundo. Fritjof Capra (2002, p. 13), um dos expoentes do paradigma da complexidade, postula nova forma de compreender a vida, propondo uma “estrutura conceitual que integra as dimensões biológica, cognitiva e social da vida”. A gênese da mudança paradigmática que testemunhamos hoje está no advento da revolução tecnológica que temos vivido nas últimas décadas. Seus efeitos sobre a comunidade científica, as pessoas e a sociedade em geral são incontestáveis. Entretanto, como bem coloca Behrens, a geração de conhecimento adquire uma velocidade e volume nunca vistos antes, afetando diretamente as bases científicas da humanidade. A autora diz, ainda, enquanto aborda as razões da crise e da ruptura paradigmática, que, seduzido pela tecnologia, o homem passa a se descuidar do planeta e, em especial, de si mesmo e dos outros. “É uma crise de dimensões planetárias, advinda de um paradigma que permitiu a separação, a divisão e a fragmentação, levando a uma visão mecanicista do mundo” (BEHRENS, 2011, p. 28). Em virtude do exposto, a comunidade científica e intelectual passa a buscar – através de diversas áreas do conhecimento, mas principalmente da Física – novas formas de ver e de estar no mundo, iniciando-se a crise do paradigma conservador, fortemente influenciado pelo pensamento newtoniano-cartesiano. Ou seja, “a ruptura de um paradigma acorre da existência de um conjunto de problemas, para os quais os pressupostos vigentes na ciência não conseguem solução” (BEHRENS, 2011, p. 29). Vasconcellos (2003, p. 47) diz que Nossa geração, apanhada entre o o velho e o novo paradigma da ciência [...], questiona suas crenças anteriores mas se sente no novo paradigma como numa terra estranha. [...] não ficamos completamente confortáveis com a nova visão e não somos capazes de articulá-las em nossas rotinas diárias. O paradigma da complexidade surge em resposta à insatisfação da comunidade científica e intelectual com a lógica presente no paradigma newtoniano-cartesiano. A nova concepção defende que as propriedades das partes só podem ser entendidas no seu contexto mais amplo e partir da organização do todo, além de apresentar a visão de um universo não linear em oposição ao pensamento analítico e mecanicista. No paradigma complexo (também chamado de paradigma sistêmico ou holístico), a visão entre o todo e as partes é invertida. Enquanto no paradigma newtoniano-cartesiano o todo deve ser dividido em partes para ser conhecido, na visão do paradigma complexo as partes são vistas como uma teia dinâmica de eventos inter-relacionados. Nenhuma das propriedades de qualquer parte dessa teia é fundamental; todas elas resultam das propriedades de outras partes [...] e suas interrelações determinam a estrutura de toda a rede. Portanto, o mundo é concebido em termos de conexão, inter-relações, teias e movimento, em redes interconectadas e em constante processo de mudança e transformação (BEHRENS, 2011, p. 34). É preciso ter em mente que, nas teorias baseadas no paradigma complexo, a visão do conhecimento é vista metaforicamente como uma “rede”, em que todos os componentes estão conectados e inter- relacionados, ou seja, tudo está ligado a tudo. São teorias não lineares sobre os seres vivos, que podem ser entendidas como uma nova compreensão científica da vida. Um paradigma educacional é um modelo usado na área da educação. O paradigma usado por um professor tem grande impacto no processo de aprendizagem do aluno, muitas vezes determinando seu sucesso na aprendizagem do conteúdo abordado. A forma de aprendizagem de novas gerações é normalmente diferente da de gerações anteriores, e, por isso, o ensino nutrido por paradigmas anteriores poderá não apresentar os melhores resultados. De modo geral, a mudança paradigmática no campo da educação costuma ser algo de difícil concretização. Vasconcellos (2003) diz que, quando um paradigma se torna o único modo de ver e de fazer algo, se instala uma disfunção chamada de “paralisia de paradigma” ou “doença fatal de certeza”, o que pode ser um problema se pensarmos que a educação deveria ser um campo de permanente busca pela inovação e mudança. De fato, questionar um paradigma requer esforço muito grande e não é processo fácil. Novas possibilidades, em geral, costumam deixar as pessoas inseguras e desconfiadas. Para Morin (1991 apud VASCONCELLOS, 2003, p. 35), a mudança paradigmática é sempre difícil e lenta, já que uma mudança de premissas envolve o colapso de toda uma estrutura de ideias: Conscientizarmo-nos de nosso paradigma – e questioná-lo – requer esforço e não é um processo fácil. Ao contrário, é quase sempre um processo doloroso. Diante dos questionamentos, as pessoas costumam sentir-se confusas. Eventos de resistências e rejeições ao novo costumam ser frequentes porque colocam em questão um paradigma de educação e uma organização no cotidiano do trabalho vinculado a um “conjunto de valores e crenças que dão escopo à performance dos docentes”, que são parte de suas histórias e experiências de vida e que “dão contornos ao seu desempenho” (CUNHA, 1998, p. 53). A superação da visão que propunha a dualidade em todos os segmentos da sociedade envolve também a educação e, por consequência, a prática pedagógica dos professores de todos os níveis de ensino. Afinal, a mudança paradigmática atinge a lógica epistemológica de conceber o universo. Implica em uma abertura epistemológica que leve em conta o movimento do universo, a superação das certezas absolutas, a fragmentação do conhecimento, a busca do papel da incerteza e do diálogo (BEHRENS, 2006, p. 13). Para entender-se uma mudança paradigmática é preciso perguntar o que de fato está mudando e, principalmente, que efeitos essa mudança poderá ter sobre nossas crenças e práticas. Agora que já abordamos, de forma introdutória, as noções de “paradigma” e “epistemologia”, veremos diferentes teorias de aprendizagem, o paradigma epistemológico presente em cada uma delas, assim como seus principais efeitos na educação, especialmente sobre a relação entre professor e aluno, e tendências metodológicas e de avaliação. Saiba mais sobre o conteúdo deste capítulo Para aprofundar o conhecimento sobre os temas abordados neste capítulo, assista ao filme Frankenstein (1931), de James Whale, baseado na obra de Mary Shelley. Figura 1 – Cartaz de Frankenstein. Fonte: www.colunistas.ig.com.br. Sinopse: O filme ilustra muito bem a visão de universo-máquina e é um bom o exemplo de concepção mecânica da natureza.Henry Frankenstein, um jovem cientista, vagueia à noite pelo cemitério na companhia de Fritz, seu leal assistente. Frankenstein procura mortos e costura partes de diferentes cadáveres para fazer um homem. Porém, para “dar” vida a esse ser monstruoso, um cérebro é necessário. Assim, ele manda Fritz para o departamento médico de uma universidade com o fim de roubar um cérebro. O assistente, no entanto, acaba trazendo o cérebro de um assassino, sem que o doutor o saiba. A experiência é um sucesso, e a criatura vive. Mas logo aparecem os impulsos assassinos do cérebro revivido, e a criatura começa a matar pessoas. O doutor Frankenstein, então, se dá conta da natureza aterradora de seu trabalho, e, no final, há o interessante confronto entre criador e criatura. Fonte: www.cineclick.br. CAPÍTULO 2 TEORIAS HISTÓRICAS: INATISMO, EMPIRISMO E RACIONALISMO Este capítulo apresenta as principais características das teorias históricas, destacando suas origens, princípios teóricos e diferenças epistemológicas entre elas. Afinal, o conhecimento é ou não é adquirido? De onde vem nossa capacidade de intuir e raciocinar? Nascemos com ela? Seria o conhecimento fruto da educação e dos nossos hábitos? Seria ele adquirido através da experiência? Com o nascimento do pensamento racional – que busca explicações baseadas na razão, e não mais em mitos (pensamento mítico), para entender o mundo –, a Filosofia passa a oferecer duas respostas a essas perguntas de cunho epistemológico. A primeira delas ficou conhecida como inatismo, e a segunda como empirismo. O inatismo postula que, quando nascemos, já trazemos conosco algumas ideias e os princípios racionais; por isso eles são compreendidos como ideias inatas ou congênitas. Já o empirismo afirma o contrário, ou seja, que tanto os princípios racionais como as ideias são adquiridas por meio da experiência. É o denominado conhecimento empírico. Como podemos perceber, a essência dessa discussão filosófica é saber se o conhecimento das pessoas é inato ou se é possível ensinar alguma coisa a alguém. 2.1 O Inatismo (ou apriorismo) Figura 2 – Platão (428-348 a.C.). Fonte: www.inconscientecoletiv o.net. Falaremos do inatismo, destacando como referência seu precursor, o filósofo grego Platão (século IV a.C.). Para Platão, a alma antes de nascer tem acesso ao conhecimento. Conhecer é, portanto, relembrar as ideias, pois a pessoa já domina certos conceitos a priori. A educação, segundo o filósofo, deveria servir para desenvolver o homem nos aspectos moral, intelectual e físico, cabendo ao aluno descobrir as coisas através da resolução de problemas impostos pela vida cotidiana. Como metodologia de ensino, Platão valorizava os métodos de debate e conversação. Conhecer, diz Platão, é recordar a verdade que já existe em nós; é despertar a razão para que ela exista por si mesma. Por isso, Sócrates fazia perguntas, pois através delas as pessoas poderiam lembrar-se da verdade e do uso da razão (CHAUÍ, 1999, p. 71). Na perspectiva da epistemologia inatista, as pessoas já trazem consigo certas aptidões, conhecimentos e qualidades em sua bagagem hereditária. Ou seja, as pessoas nascem com saberes “adormecidos”, que precisam ser “despertados” e organizados para tornarem-se conhecimentos verdadeiros. Dito de outra forma: as condições do conhecimento e da aprendizagem se manifestarão progressivamente pelo processo de maturação da pessoa, sendo esta a única responsável pela atividade de conhecimento. O meio, nessa perspectiva, não interfere ou participa do processo de aprendizagem. Tal visão do conhecimento originou um tipo de ensino baseado na crença de que o educador deveria ajudar o aluno a acessar as informações interferindo o mínimo possível no processo de aprendizagem, devendo, principalmente, dedicar-se às ações que pudessem ajudá-lo a trazer à consciência o conhecimento, que já está na pessoa. Para Becker (2001), o professor que desenvolve seu trabalho apoiado na epistemologia apriorista acaba renunciando a uma das principais características da docência, que é, justamente, a intervenção docente no processo de aprendizagem do aluno. 2.2 O Empirismo Embora tenha sido discípulo de Platão, Aristóteles (384-322 a.C.) apresentou uma perspectiva contrária para compreender a razão e o conhecimento. Discordou de seu mestre quanto à divisão entre mundo das ideias e mundo dos sentidos, por acreditar que as pessoas nascem com capacidade de aprender, mas precisam da observação e das experiências ao longo da vida para que se desenvolvam. A fonte do conhecimento, nessa perspectiva, é a informação captada do meio exterior, através dos sentidos. Essa compreensão faz de Aristóteles um empirista. Contrariamente às ideias do inatismo, na epistemologia empirista, antes da experiência, somos como uma “folha em branco”, onde nada foi escrito, uma “tábula rasa”, onde nada foi gravado. “Somos como uma cera sem forma e sem nada impresso nela, até que a experiência venha escrever na folha, gravar na tábula, dar forma à cera” (CHAUÍ, 1999, p. 71). Os empiristas acreditavam que as informações se transformam em conhecimento quando passam a fazer parte do hábito de uma pessoa. Vejamos como isso acontece segundo essa epistemologia. Para os empiristas, todo conhecimento começa com as sensações que resultam da experiência dos sentidos, através dos quais percebemos cheiros, cores, formas, texturas, temperaturas etc. As sensações formam, através de suas combinações ou associações, percepções, ou seja, conseguimos perceber, em um único objeto, diversas expressões de sensações diferentes. Assim, vejo uma cor vermelha e uma forma arredondada, aspiro um perfume associado, sinto a maciez e digo: ‘percebo uma rosa’. A ‘rosa’ é o resultado da reunião de várias sensações diferentes num só objeto de percepção (CHAUÍ, 1999, p. 72). Para os empiristas, a repetição prolongada de sensações criará o hábito de associá-las. Essas associações são as ideias, que são levadas à memória, e, daí, a razão “as apanha” para formar os pensamentos (CHAUÍ, 1999). “A experiência escreve e grava em nosso espírito as ideias, e a razão irá associá-las, combiná-las ou separá-las, formando todos os nossos pensamentos” (CHAUÍ, 1999, p. 72). John Locke (1632-1704), considerado um dos principais representantes do empirismo na antiguidade (juntamente com George Berkeley e David Hume), acreditava que o homem não pode atingir a verdade definitiva, pois tem nos fatos, e não em si próprio, a fonte principal e explicação destes. Refuta a ideia das teorias inatas e com isso destaca a importância da educação e da instrução na formação do homem. A teoria empirista, através de seus princípios e pressupostos, imprimiu na educação uma lógica onde a condução pedagógica é baseada na repetição, cópia e memorização, que, apesar dos séculos passados, estão presentes nas escolas até os dias de hoje. Também o método científico mais tradicional ampara-se no empirismo, quando postula que as teorias científicas devem ser baseadas na experimentação e observação dos fenômenos. Na tentativa de configurar o funcionamento de uma sala de aula, cujo professor é orientador de uma epistemologia empirista, Becker (1999, p. 1) diz que, provavelmente, encontraremos um professor que observa seus alunos entrarem na sala, aguardando que se sentem, que fiquem quietos e silenciosos. As carteiras estão devidamente enfileiradas e suficientemente afastadas umas das outras para evitar que os alunos troquem conversas. Se o silêncio e a quietude não se fizerem logo, o professor gritará para um aluno, xingará outra aluna até que a palavra seja monopólio seu. Quando isto acontecer, ele começará a dar a aula. Ainda segundo Becker, é o professor, enquanto representante do meio social, quem determina ao aluno (folha em branco) o caminho e o conteúdo, imprimindo uma lógica para a relaçãodocente-discente na qual o “professor jamais aprenderá e o aluno jamais ensinará”, ou seja, ensino e aprendizagem não são compreendidos como dimensões complementares. “É o modelo, por excelência, do fixismo, da reprodução, da repetição. Nada de novo pode – ou deve – acontecer aqui” (BECKER, 1999, p. 20). Vimos que, segundo essa epistemologia, a pessoa é totalmente determinada pelo mundo físico e social, sendo que quem representa este mundo na sala de aula é o professor. Para Becker (1999, p. 3), no imaginário, ele [o professor], e somente ele, pode produzir algum novo conhecimento no aluno. O aluno aprende se, e somente se, o professor ensina. O professor acredita no mito da transferência do conhecimento: o que ele sabe, não importa o nível de abstração ou de formalização, pode ser transferido ou transmitido para o aluno. Tudo o que o aluno tem a fazer é submeter-se à fala do professor: ficar em silêncio, prestar atenção, ficar quieto e repetir tantas vezes quantas forem necessárias, escrevendo, lendo, etc, até aderir em sua mente, o que o professor deu. 2.3 Sobre o Racionalismo Na Idade Moderna, o filósofo e matemático René Descartes (1596- 1650) colocou em dúvida o pensamento de Aristóteles, questionando até que ponto conhecemos a verdade. Instituiu a dúvida ao afirmar que as pessoas se baseavam em opiniões, estando longe de ter certezas. Para ele, só se pode dizer que existe aquilo que puder ser provado, sendo o ato de duvidar incontestável. Descartes, considerado o maior expoente do racionalismo, desenvolveu o método racional dedutivo, enquanto Newton consolidou-o, surgindo assim o paradigma newtoniano-cartesiano, que influencia até hoje os campos do conhecimento científico. Ambos partem do pressuposto de que para conhecer o todo é preciso fragmentá-lo, pois este seria o resultado da união dessas partes menores. Postulavam, ainda, a separação do conhecimento em campos especializados, entre mente e matéria, imaginando o mundo como uma imensa máquina. Figura 3 – René Descartes (1596-1650). Fonte: www.ec-descartesb-asnieres.ac-v ersailles.f r. Nosso paradigma de Ciência ainda dominante – que influencia a prática pedagógica em todos os níveis – é nutrido por uma forma de ver o mundo influenciado pelo paradigma newtoniano-cartesiano. A partir do final século XIX e início do XX, ainda com a influência do método cartesiano, a divisão do conhecimento em áreas especializadas se intensifica, levando a comunidade científica a uma “mentalidade reducionista na qual o homem adquire uma visão fragmentada não somente da verdade, mas de si mesmo, dos seus valores e dos seus sentimentos” (BEHRENS, 2011, p. 17). Descartes propôs o discurso do método, no qual propunha uma forma de conduzir a razão na busca da verdade, dentro do mundo científico. Premissas como nunca aceitar algo como verdade sem evidências concretas; dividir os conceitos em tantas partes quantas possíveis para resolvê-los; partir sempre de conceitos mais simples para os mais complexos na condução do conhecimento sustentam até hoje a verdade científica. Newton apresentou o universo e o ser humano como uma máquina, dividindo-os e demonstrando-os em partes. É o chamado mecanicismo – que usa a mecânica newtoniana para explicar os fenômenos e trabalha a razão pela indução e pela dedução, que passa a ser a única forma reconhecida de fazer Ciência. Se, por um lado, esses referenciais de verdade científica possibilitaram a especialização, conduzindo a conquistas científicas e tecnológicas de envergadura, por outro levaram o homem a separar Ciência da ética e razão do sentimento (BEHRENS, 2011, p. 19). A visão fragmentada de Ciência e de mundo exerce forte influência no paradigma educacional, que passa a operar com uma visão disciplinar, Figura 4 – Isaac Newton (1643-1727). Fonte: www.spaceplace.nasa.gov . especializada, compartimentada e linear. Cursos são divididos em séries, períodos e disciplinas, levando as práticas docentes principalmente à reprodução do conhecimento. Tal visão tem seus efeitos também nas metodologias adotadas nos processos educacionais, nas quais o acento do processo pedagógico recai no resultado, na memorização do conteúdo, priorizando o cumprimento de atividades repetitivas. Behrens (2011, p. 21) diz que, Com a visão fragmentada do século XIX, a universidade se reorganiza e passa a credenciar como legítimo o conhecimento científico comprovável, racional e objetivo. As universidades assumem e aceitam o paradigma mecanicista e ocupam um papel fundamental na reprodução da atividade científica. A partir do próximo capítulo, serão consideradas as teorias de aprendizagem mais significativas do século XX, ou melhor, teorias baseadas nos paradigmas reprodutivista, construtivista e da complexidade. Com uma apresentação diferente da que vimos até aqui, nos próximos capítulos serão abordados mais detalhadamente os pressupostos, as bases epistemológicas sobre as quais se constroem os modos de relacionamento entre professor e aluno, os fundamentos metodológicos e de avaliação da aprendizagem em relação a cada paradigma. Figura 5 – A “Escola de Atenas” é uma das mais famosas pinturas do renascentista italiano Rafael Sanzio e representa a Academia de Platão. Foi pintada entre 1509 e 1510 sob encomenda do Vaticano. No centro, Platão e Aristóteles. Fonte: www.abrecom.org. Figura 6 – Mapa das teorias históricas. Fonte: elaborada pelas autoras. Saiba mais sobre o conteúdo deste capítulo Platão nasceu em Atenas, Grécia, por volta de 427 a.C. Filho de uma família aristocrática, estudou leitura e escrita, ginástica, música, poesia e pintura. Iniciou seus estudos filosóficos por volta dos vinte anos, após tornar- se amigo e discípulo de Sócrates. É considerado um dos principais pensadores gregos por ter, juntamente com Sócrates e seu discípulo Aristóteles, influenciado e ajudado a construir os alicerces da Filosofia. Platão fundou a Academia, escola de filosófica que tinha o propósito de recuperar e desenvolver as ideias e pensamentos socráticos e de preparar jovens para serem futuros governantes. Platão manteve-se à frente da Academia até sua morte, por volta de 347 a.C. Outros teóricos aprioristas: Immanuel Kant, Carl Rogers. Embora mais frequentemente relacionado à teoria do conhecimento, o empirismo, ao longo da história da Filosofia, teve implicações também na lógica, na Teologia, na ética, entre outras áreas. Alguns teóricos normalmente associados com o empirismo são: Aristóteles, Tomás de Aquino, Francis Bacon, Thomas Hobbes, John Locke,George Berkeley, David Hume e John Stuart Mill. CAPÍTULO 3 TEORIAS DO PARADIGMA REPRODUTIVISTA O propósito deste capítulo é dar uma visão dos princípios e pressupostos do paradigma reprodutivista, especialmente sob a ótica da teoria behaviorista, também conhecida como teoria comportamental. Na sequência, tendo em vista as características do paradigma reprodutivista, destacamos duas abordagens pedagógicas que julgamos representar esse modelo epistemológico. De cada uma, investigaremos os pressupostos que as sustentam, a relação professor-aluno, a ênfase metodológica e a avaliação da aprendizagem. São elas a abordagem pedagógica tradicional e a abordagem pedagógica tecnicista. 3.1 Teoria Comportamentalista: alguns aspectos A abordagem comportamentalista analisa o processo de aprendizagem, desconsiderando os aspectos internos do indivíduo, apenas concentrando-se nos aspectos observáveis do comportamento. John Watson (1878-1958), psicólogo e cientista norte-americano, é considerado o fundador da teoria comportamentalista, também conhecida c o m o behaviorismo. Em inglês, behavior significa “comportamento”, donde o nome dessa abordagem teórica. O behaviorismo dedicou-se ao estudo do comportamento, na relação que este estabelece com o meio em que ocorre. Essateoria postula que a aprendizagem é resultado de condicionamento, e, para explicar seu ponto de vista sobre a aprendizagem, adotou-se o conceito de estímulo-resposta. Para os behavioristas, todo estímulo eficaz provoca sempre uma resposta a ele relacionada. “O behaviorismo supõe que o comportamento inclui respostas que podem ser observadas e relacionadas com eventos que as precedem (estímulos) e as sucedem (consequências)” (MOREIRA, 2011, p. 21). Essas teorias, portanto, tratam a aprendizagem como conexão entre estímulos e respostas, ou seja, como condicionamento. Supõe que todas as respostas (comportamentos) são eliciadas por estímulos (condições que levam aos comportamentos) (MOREIRA, 2011, p. 20). O enfoque dado ao behaviorismo pelo psicólogo Burrhus Frederic Skinner (1904-1984) teve grande influência sobre as metodologias e recursos usados em aula, especialmente nas décadas de 1960 e 1970 (MOREIRA, 2011), razão pela qual trataremos das ideias desse autor com um pouco mais de detalhamento, em detrimento de outros behavioristas como Ivan Pavlov (1849-1936), John B. Watson (1878), Edward R. Guthrie (1886-1959). É interessante destacar que Skinner não considerou seu trabalho uma teoria de aprendizagem. Na verdade, assim como os demais behavioristas, ele não levava em consideração o que acontecia na mente do indivíduo durante o processo de aprendizagem, pois sua preocupação era com o comportamento observável. Isso quer dizer que Skinner não estava preocupado com “construtos intermediários”, mas com as respostas dos indivíduos aos estímulos que recebiam – estímulo-resposta (MOREIRA, 2011). Skinner acreditava que o comportamento é “controlado por suas consequências” (MOREIRA, 2011, p. 51). Sob esse ponto de vista, punições e recompensas desempenham papel fundamental, já que as pessoas tendem a se comportar de modo a obter recompensas (reforço positivo) e evitar punições (reforço negativo). Moreira (2011, p. 51) diz ainda que se pode “utilizar recompensas e situações dolorosas para modificar, implantar ou extinguir comportamentos”, ou seja, um estímulo (positivo ou negativo) é o que fortalece ou enfraquece a resposta por ele produzida. O procedimento que introduz um reforçador positivo, imediatamente após uma resposta, resultando um aumento da frequência daquela resposta, é chamado de condicionamento. Diz-se de uma resposta, cuja frequência foi aumentada, de maneira que foi condicionada (MOREIRA, 2011, p. 52). Isso quer dizer que na aprendizagem por meio de condicionamento está a noção de que as consequências do comportamento determinarão a probabilidade de este se repetir. Por isso a crença da escola de que o comportamento do aluno é provocado pelo professor, ou seja, pela utilização adequada de estímulos reforçadores, sobre o sujeito que aprende. A teoria comportamentalista teve grande influência na educação brasileira, consolidando-se principalmente na década de 1970 através da abordagem tecnicista do conhecimento pelo ensino programado, pelos modelos curriculares e pelas políticas educacionais que postulavam a formação técnica dos professores. Figura 6 – Abordagens das teorias reprodutivistas. Fonte: elaborada pelas autoras. 3.1.1 Abordagem tradicional 3.1.1.1 Características gerais A abordagem pedagógica tradicional sustenta suas ideias no racionalismo e no empirismo. De acordo com essa lógica, dividir o todo é necessário, e a aquisição do conhecimento deveria seguir a lógica linear e unidirecional, sempre do mais simples para o mais complexo. O pressuposto epistemológico que sustenta a concepção pedagógica da abordagem tradicional é toda uma visão de mundo fundamentada na ciência da ordem, no mecanicismo, na separatividade e no determinismo. Consequentemente, o papel do sujeito era muito insignificante, os modelos eram muito autoritários, os indivíduos estavam separados uns dos outros, o aluno como um sujeito obediente e pouco atuante (MORAES, 2003, p. 6). O referencial de Ciência que sustenta epistemologicamente a escola tradicional explica a origem de uma estrutura curricular que divide os conhecimentos em áreas e subáreas, cria especialidades, desvincula disciplinas de um mesmo curso, criando fronteiras de difícil transposição. Essa forma de pensar também “leva o homem a ver o mundo de forma compartimentada, separando ciência da ética, a razão do sentimento, a ciência da fé e, em especial, mente e corpo”. O paradigma tradicional parte do pressuposto de que o indivíduo desenvolve melhor suas habilidades como sujeito passivo, espectador do mundo, e o currículo é estabelecido antecipadamente, de modo linear, sequencial, cuja intencionalidade é expressa com base em objetivos e planos rigidamente estruturados, sem levar em conta a ação do sujeito e sua interação com o objeto, sua capacidade de criar, planejar e executar tarefas (MORAES, 2003, p. 146). 3.1.1.2 Relação professor-aluno A relação professor-aluno na escola tradicional estimula normas disciplinares rígidas. O aluno é considerado alguém presente em um lugar – a escola é o lugar que, por excelência, se realiza a educação –, onde tudo lhe será ensinado através de instruções e informações que lhes serão oferecidas, ou seja, um receptor passivo que recebe as informações julgadas úteis e necessárias a ele. O processo educativo é centrado no professor e na transmissão de conteúdos. Sendo a relação professor-aluno vertical, é o professor quem detém o saber e define o processo e modelo a serem seguidos. De postura distante dos alunos, prioriza o silêncio e a organização, e valoriza as relações hierárquicas e individuais em detrimento de outras formas de expressão, da solidariedade e da interação. 3.1.1.3 Ênfase metodológica Figura 7 – Abordagem tradicional. Fonte: www.av iagemdosargonautas.ne. Tendo a transmissão dos conteúdos como referência de ensino, a abordagem tradicional caracteriza-se metodologicamente pela demonstração do professor aos alunos e pelas aulas expositivas. As atividades são baseadas na memorização, repetição e cópia, dando ênfase ao conteúdo e ao resultado em detrimento do processo. O processo didático é dedutivo; o processo de ensino vai do abstrato ao concreto e do geral ao particular. São apresentados apenas os resultados, para que sejam armazenados. “O trabalho intelectual do aluno será iniciado, propriamente, após a exposição do professor, quando, então, realizará os exercícios propostos” (MIZUKAMI, 1986, p. 16). Esse método compreende que a aprendizagem do aluno é o resultado no exercício realizado. Em termos de conteúdos, a escola continua apresentando propostas voltadas para a aquisição de noções que enfatizam a transmissão, o conhecimento acumulado, o caráter abstrato e teórico do saber e a verbalização dele decorrente. Conteúdo e produto são mais importantes do que o processo de construção do conhecimento (MORAES, 2003, p. 7). O aluno é atendido individualmente. Embora seja respeitada a sua individualidade, todos aprendem as mesmas coisas, ao mesmo tempo e da mesma maneira. 3.1.1.4 Avaliação da aprendizagem A avaliação é predominantemente classificatória e seletiva. As provas são os instrumentos avaliativos mais valorizados e são usadas para verificar/mensurar a capacidade de reprodução do conhecimento acumulado, a partir das exposições em sala de aula. Para Mizukami (1986, p. 15), quando o aluno “reproduz os conteúdos de forma automática e sem variações, na maioria das vezes isso é considerado como um poderoso indicador de que houve aprendizagem e de que, portanto, o produto está assegurado”. 3.1.2 Abordagem escolanovista 3.1.2.1 Características gerais O movimento escolanovista foi uma tentativa de implantar ideias opostas às postuladas pelo ensino tradicional. Os primeiros defensores das ideias postuladas pela Escola Nova foram o filósofo suíço Jean-Jacques Rousseau, o também suíço epedagogo Heinrich Pestalozzi e o pedagogo alemão Friedrich Froebel. Na América, o grande nome do movimento foi o filósofo e pedagogo John Dewey. A Escola Nova é introduzida no Brasil a partir da década de 1930, principalmente por Anísio Teixeira e Lourenço Filho, dois importantes nomes da história pedagógica brasileira. 3.1.2.2 Relação professor-aluno Se na abordagem tradicional a figura central era o professor, na abordagem da Escola Nova a iniciativa desloca-se para o aluno, “dando ênfase ao indivíduo e à sua atividade criadora” (BEHRENS, 2011, p. 44). Na abordagem escolanovista, o professor tem um papel de facilitador da aprendizagem, e dele se espera uma postura menos diretiva e controladora, em favor de uma postura mais acolhedora e receptiva às iniciativas dos alunos. 3.1.2.3 Ênfase metodológica A metodologia na Escola Nova busca desenvolver a iniciativa e a autonomia do aluno, incentivar a aprendizagem pela descoberta e resolução de problemas, além de valorizar o trabalho coletivo. A prática é mais valorizada que a teoria, o que explica o fato de a exposição oral dar lugar a métodos mais “ativos”. 3.1.2.4 Avaliação da aprendizagem Na avaliação da aprendizagem, predomina a autoavaliação, uma concepção perfeitamente alinhada ao pressuposto de que o aluno deve buscar metas pessoais e ser responsável pelo controle da própria aprendizagem. A avaliação qualitativa é mais valorizada que a quantitativa, característica da avaliação tradicional. Entretanto, esse movimento não teve a aderência esperada, apesar da difusão de seus pressupostos entre os educadores. Apontadas como razões importantes para que a proposta não fosse adotada em larga escala estão: (a) o fato de que sua implantação dependesse de uma infraestrutura robusta e cara (como laboratórios, por exemplo); e (b) a falta de preparo e/ou a insegurança dos professores para desenvolver o trabalho sob essa nova ótica. A Escola Nova recebeu também muitas críticas, especialmente porque seria pouco rigorosa no tratamento dos conteúdos tradicionais e por creditar o andamento do trabalho pedagógico, em grande parte, ao interesse e desenvolvimento espontâneo dos alunos. Contudo, um olhar mais atento sobre as ideias postuladas pelo movimento escolanovista mostrará o equívoco de atribuir essa interpretação ao espírito do movimento. Segundo Behrens (2011), os pressupostos postulados pela Escola Nova foram incorporados, principalmente, por escolas experimentais ou com infraestrutura adequada, destinadas à elite. Sendo a escola pública carente de recursos, a implantação dessa proposta educativa tornou-se difícil em seu contexto, frustrando seu ideário de democratização e igualdade de oportunidades para todos. “Embora no interior da escola nova continuasse a proclamação dos procedimentos escolanovista e democráticos, os professores, em geral, não abdicavam do ensino tradicional” (BEHRENS, 2011, p. 47). Apesar de ter conseguido alguma adesão, a Escola Nova não teve sucesso no propósito de alterar a maneira incisiva de tratamento dado ao ensino nas escolas, perdendo força sem chegar ao seu objetivo. E, apesar das críticas que são atribuídas à Escola Nova, como a de ser considerada uma abordagem “não crítica” por não ter atingido as camadas populares e a escola pública, como se esperava no Brasil, o fato é que ela trouxe perspectivas importantes para a prática de ensinar e “assegura seu predomínio assumindo novas versões, entre as quais o construtivismo é, provavelmente, a mais difundida na atualidade” (SAVIANI, 2005, p. 3). 3.1.3 Abordagem tecnicista 3.1.3.1 Características gerais Outra abordagem influenciada e justificada pela teoria psicológica behaviorista é a tecnicista. Surgida nos Estados Unidos na segunda metade do século XX, é adotada no Brasil, entre as décadas de 60 e 70, com o objetivo de adequar o sistema educacional à orientação econômica do regime militar, inserindo a escola nos modelos de racionalização do sistema de produção capitalista. Nessa abordagem, as principais características são a organização racional e operacional dos conteúdos e a expressão exata e minuciosa dos objetivos finais a serem atingidos. Os processos metodológicos voltados à eficiência e à eficácia – característicos dessa abordagem – eram semelhantes aos adotados no trabalho fabril, quer dizer, a escola tecnicista buscava uma organização didático-pedagógica que a protegesse de qualquer influência que pudesse pôr em risco a eficiência almejada (SAVIANI, 2005, p. 11-13). A lógica da fragmentação do todo foi deixando suas marcas e favorecendo o pensamento racional em detrimento do pensamento intuitivo, da objetividade em detrimento da subjetividade. E foi imprimindo seus efeitos para além da educação, também nos modelos das organizações, que ainda hoje operam a partir de políticas fragmentadas de administração: “O planejamento da execução e a separação entre os que pensam e os que fazem, em que é tributária a epistemologia da administração, preconizada por Fayol e Taylor, é bastante viva ainda hoje” (SANTOS et al., 2012, p. 54). Se, na abordagem tradicional, a ênfase estava na figura do professor, na abordagem tecnicista, o foco principal passou a ser a tecnologia, a organização dos conteúdos e métodos, tendo em vista a preparação dos indivíduos para a produtividade e para o mercado de trabalho, levando professor e aluno a uma posição secundária dentro do processo: Os planos e planejamentos característicos da abordagem tecnicista tem como pressuposto essencial a busca de um comportamento responsivo. O advento da revolução industrial exige do ensino uma bordagem técnica, mas a ênfase do ensino continua na reprodução do conhecimento (BEHRENS, 2011, p. 48). Essa abordagem pedagógica, alinhada com o modelo capitalista e consequentemente com o sistema produtivo, tinha o objetivo principal de formar pessoas competentes para o mercado de trabalho, e, nesse aspecto, a escola funcionava como moderadora do comportamento desejado para esse fim. 3.1.3.2 Relação professor-aluno A abordagem tecnicista, através de seus princípios e propostas, desloca a tarefa de planejamento das atribuições do professor para as mãos de equipes de especialistas. Nesse sentido, esvazia-se a função ativa do professor no processo educacional, dando-se a ele lugar secundário e função de executor de um ensino previamente programado. Nessa abordagem, o planejamento é o centro da ação pedagógica. Os livros didáticos têm, então, papel preponderante na apresentação dos conteúdos e atividades a serem desenvolvidas em aula. Nesta corrente, professor e alunos são secundários, executores de um processo concebido por uma equipe de planejamento e controle, a cargo de especialistas preocupados com a “neutralidade”, objetividade e imparcialidade da ação educacional (MORAES, 2003, p. 8). Luckesi (2012, p. 6) coloca que O professor é apenas um elo de ligação (sic) entre a verdade científica e o aluno, cabendo-lhe empregar o sistema instrucional previsto. O aluno é um indivíduo responsivo, não participa da elaboração do programa educacional. Ambos são espectadores frente à verdade objetiva. A comunicação professor-aluno tem um sentido exclusivamente técnico, que é o de garantir a eficácia da transmissão do conhecimento. Debates, discussões, questionamentos são desnecessários, assim como pouco importam as relações afetivas e pessoais dos sujeitos envolvidos no processo ensino-aprendizagem. A relação entre professor e aluno, nesse sentido, se estabelecia Figura 8 Fonte: www.construirnoticias.com.br. pela lógica da reprodução e transmissão do conhecimento a um aluno passivo e alienado ante a realidade. Influenciada pelo behaviorismo, a abordagem tecnicista utiliza-se do condicionamento estabelecido, por exemplo, através de premiações e classificações pelas notas e comportamento demonstrados. Behrens (2011, p. 49)afirma que a influência da teoria do reforço de Skinner motiva a programação do ensino e a busca pelo comportamento desejável e pelo produto final, e, nesse sentido, torna o professor um “engenheiro comportamental”. 3.1.3.3 Ênfase metodológica A concepção de aprendizagem como processo de aquisição de habilidades técnicas justifica, nesta abordagem, a predominância de práticas instrucionais e de metodologias voltadas à demonstração de modelos a serem reproduzidos, tendo em vista o desenvolvimento do trabalho pedagógico. O ensino é, assim, pautado pela repetição e pelo “treinamento” através de exercícios de “fixação”. A ideia subjacente é formar hábitos que serão aplicados a situações idênticas. As metodologias orientadas, principalmente por livros didáticos, apresentam minuciosamente os passos a serem seguidos para o estudo, assim como a estrutura das tarefas a serem realizadas. A metodologia tecnicista reprodutivista enfatiza a resposta, e, especialmente, a resposta certa. O erro é sancionado com rigorosidade. A pergunta só pode ser formulada dentro do contexto exposto pelo professor [...]. Valoriza as aulas expositivas e os exercícios repetitivos [...] com a finalidade de provocar a assimilação e a repetição, são util izados recursos audiovisuais para facil itar a reprodução fiel dos conteúdos (BEHRENS, 2011, p. 50). Figura 9 Fonte: www.blog.geama.com.br. 3.1.3.4 Avaliação da aprendizagem A avaliação da aprendizagem na abordagem tecnicista é pautada por atividades formais e pontuais que demonstrem a aquisição do conhecimento segundo a lógica do aprender a fazer. Do processo de aprendizagem, considera e valoriza apenas o produto final, e a expectativa é a obtenção de respostas exatas por parte do aluno. Segundo Behrens (2011, p. 51), O sistema de instrução leva a desencadear processos de avaliação na entrada (pré-teste) e na saída (pós-teste) do sistema. A educação é proposta como uma fábrica: o aluno entra em uma esteira de produção, é processado e resulta num produto. Os aspectos quantitativos são relevantes, em detrimento dos qualitativos, complemente desprezados. Nesse sentido, o erro é visto como algo desqualificante e que deve ser punido. Para “testar” os conhecimentos, a pedagogia tecnicista utiliza recursos que possibilitam a demonstração e reprodução simples do que foi “transmitido” pelo professor. Entre os instrumentos mais usados estão: provas objetivas (especialmente as de múltipla escolha), atividades de memorização e reprodução direta. Figura 11 – Tempos Modernos. Fonte: www.cineplay ers.com. Figura 10 – Mapa das teorias reprodutivistas. Fonte: elaborada pelas autoras. Saiba mais sobre o conteúdo deste capítulo O filme O Experimento do Pequeno Albert (The Little Albert Experiment) pode ser assistido na Internet, pelo endereço. Trata-se de um polêmico experimento conduzido por John Watson em 1920. Watson queria demonstrar o funcionamento do condicionamento clássico em seres humanos. No experimento, o psicólogo norte-americano implanta uma fobia em um bebê de onze meses, associando um estímulo inicialmente neutro (animais peludos) a um estímulo aversivo (som alto). A apresentação simultânea dos dois estímulos, por repetidas vezes, fez com que o bebê desenvolvesse o medo de animais peludos. Filme: Tempos Modernos (1936). Um operário (Charles Chaplin) de uma linha de montagem que testou uma “máquina revolucionária” para evitar a hora do almoço é levado à loucura pela monotonia do seu trabalho. Após longo período em um sanatório, ele fica curado de sua crise nervosa, mas desempregado. Deixando o hospital para começar sua nova vida, encontra uma crise generalizada e equivocadamente é preso como agitador comunista, que liderava uma marcha de operários em protesto. Fonte: www.cineclick.com.br. Os principais pensadores behavioristas são: Ivan Pavlov, John Watson, Edwin Guthrie, Clark L. Hull, Edward Lee Thorndike e Burrhus F. Skinner. CAPÍTULO 4 TEORIAS DO PARADIGMA CONSTRUTIVISTA O objetivo deste capítulo é apresentar uma visão geral do paradigma construtivista, ressaltando seus princípios e pressupostos teóricos. A seguir, são destacadas as abordagens pedagógicas – progressista e ensino com pesquisa –, fundamentadas nos princípios dessa concepção epistemológica. Para cada abordagem são descritas as características gerais, a relação professor-aluno, a ênfase metodológica e a avaliação da aprendizagem. 4.1 Paradigma Construtivista – Questões conceituais Como já foi visto nos capítulos anteriores, a educação é influenciada, no decorrer da sua história, por diferentes paradigmas e suas abordagens. Estas, por sua vez, repercutem na ação educativa, principalmente nas orientações metodológicas e pedagógicas empregadas pelos professores no ensino dos alunos. Entretanto, como destaca Behrens (20011, p. 26), “a passagem para um novo paradigma não é abrupta e nem radical. É um processo que vai crescendo, se construindo e se legitimando.” Podemos acrescentar a essa ideia que a mudança paradigmática, mesmo significando uma ruptura, pode remeter a aspectos de paradigmas anteriores, buscando a realização destes através dos novos tempos. Neste capítulo, avançamos nas discussões em torno dos paradigmas, abordando algumas considerações acerca das teorias do paradigma construtivista. Para a apresentação desses apontamentos, é importante ressaltar algumas questões de cunho conceitual que estão intrinsecamente relacionadas à compreensão da concepção do paradigma construtivista. Ao iniciar a explanação sobre as teorias do paradigma construtivista, concorda-se com Moreira (2011, p. 15) quando este afirma que o paradigma construtivista tem “uma posição filosófica cognitivista interpretacionista”. Cognitivista porque leva em consideração o processo cognitivo. Cognição vem do latim cognitione (“conhecimento”), ou seja, a forma como o sujeito conhece e constrói sua estrutura cognitiva. Nesse sentido, as teorias cognitivas vêm salientar o ato de conhecer, que era desconsiderado pelas teorias empiristas. Interpretacionista porque estabelece um significado, permitindo a explicação e a compreensão acerca das ações e dos objetos interpretados pelo sujeito (MOREIRA, 2011, p. 14). Nesse sentido, como apontado por Coll (2000, p. 60), as teorias baseadas em princípios cognitivistas apresentam “uma concepção construtivista da ação pedagógica, pressupõe criar condições adequadas para que os esquemas de conhecimento, inevitavelmente construídos pelos estudantes, sejam os mais corretos e ricos possíveis”. Em linhas gerais, as teorias do paradigma construtivista consideram que o desenvolvimento da inteligência é estabelecido através de ações de trocas recíprocas do indivíduo com o meio. Compreende-se a inteligência como a capacidade de adaptação e elaboração contínua de estruturas mentais do organismo humano através de seus processos intelectuais e biológicos. Sendo assim, a inteligência é um processo de organização e equilíbrio voltado para novas situações de aprendizagem. De acordo com Pozo (2002, p. 48), se, na abordagem apriorista, o conhecimento “é só o reflexo de estruturas inatas, e aprender é atualizar o que desde sempre, sem sabê-lo, sabemos”, no empirismo, o conhecimento é resultado da estrutura do ambiente; sendo assim, a aprendizagem é a reprodução da informação recebida. O construtivismo, então, é considerado uma das teorias de aprendizagem por reestruturação. Ou seja, o conhecimento é sempre uma Figura 12 – Jean Piaget (1896-1980). Fonte: www.jeanpiaget.org. interação entre uma nova informação e aquilo que já era sabido, construindo-se modelos para interpretar e agregar a informação recebida às nossas estruturas anteriores (POZO, 2002). O construtivismo, explica Inhelder (1976, p. 8), implica que não se adquire conhecimento simplesmente através do impactoda experiência empírica, como sugere a teoria behaviorista, embora, naturalmente, tal impacto não seja inteiramente excluído do processo. Ele, além disso, também se opõe à teoria inatista, à qual, ao que parece, se recorre com frequência atualmente. Construtivismo enfatiza a atividade do sujeito ou da criança no processo de desenvolvimento cognitivo: em outras palavras, tudo deriva de ações que, eventualmente, se traduzam em operações de pensamento coerentes e lógicas. Entende-se que há construção de conhecimento quando o que se aprende se deve não só a novas informações apresentadas como também aos conhecimentos prévios dos alunos. Dessa forma, o que aprendemos depende, em boa parte, do que já sabíamos. Jean Piaget é um dos principais representantes das teorias construtivistas. Sua teoria é fundamentada no interacionismo. A interação é compreendida como processo de simultaneidade e, assim, conta com a ação de ambos: tanto o sujeito como o objeto vão se modificando, constituindo e superando, e vão também construindo uma nova realidade (FRANCO, 1999). A relevância do interacionismo está no fato de não considerar o ambiente único responsável pelo desenvolvimento cognitivo do ser humano, pois o sujeito também é ativo nesse processo. Dessa forma, a ênfase está na gênese dos processos mentais, a fim de investigar-se como ocorre o processo da inteligência e como se dá a passagem do pensamento infantil para o pensamento adulto, além dos fatores relacionados à maturação do indivíduo (RAMOS, 1996). Pode-se, portanto, dizer que essa abordagem estuda cientificamente a aprendizagem, considerando-a mais que mero produto do ambiente. Por isso as teorias desse paradigma são predominantemente interacionistas. O autor considera-se construtivista ao afirmar que o conhecimento manifesta-se pela experiência, sendo necessária a relação com o mundo externo ao sujeito (PIAGET, 1977a). Segundo Parrat e Tryphon (1998, p. 141), defende-se a ideia de que o sujeito só adquire conhecimento de si mesmo “na medida em que aprende a conhecer os outros”, ou seja, a consciência da sua existência é organizada pela sua conduta social. Assim, salientamos que o estudo construído por Piaget não se trata de trabalho psicológico ou educacional. Sua teoria, a epistemologia genética, aborda o conhecimento sobre o conhecimento, enfatizando o processo de construção do conhecimento realizado pelo homem através das diferentes Ciências (FRANCO, 1998). Recordando o que já se viu no primeiro capítulo, a palavra “epistemologia” vem do latim episteme (“conhecimento”) e logia (“estudo”), tratando-se, assim, do estudo do conhecimento. Na epistemologia genética, o processo de aprendizagem está fundamentado na interação do sujeito com o objeto, sendo estabelecido numa permanente construção. Falar em construção do conhecimento significa considerar a construção do sujeito que conhece e do objeto a ser conhecido. Ou seja, nessa concepção, o conhecimento apresenta-se inicialmente de forma elementar, sendo transformado, através do exercício constante da busca de equilíbrio entre o sujeito e o meio, gerando, assim, formas cada vez mais complexas. Piaget estuda o sujeito epistêmico, ou seja, considera a parte comum a todos os sujeitos, o que supõe a sua constituição universal, que é resultado da própria organização biológica. É através da interação entre o sujeito e o objeto que se desenvolve a capacidade da pessoa de conhecer e produzir seu próprio conhecimento. Isso significa que o conhecimento não é meramente registrado, mas assimilado e organizado de forma coerente, sendo construído pela sua experiência. Por isso, destaca-se a razão de a proposta de Piaget ser considerada construtivista-interacionista. Na teoria piagetiana, o processo de aprendizagem está relacionado a descobertas, à ação e tomada de consciência da coordenação de ações. Nesse estudo, entende-se tomada de consciência como a apropriação dos mecanismos da própria ação, no sentido de avanço do sujeito em direção ao objeto para apreender o mundo, transformando-o, como também a si mesmo (PIAGET, 1977b). Por ter uma postura ativa na aprendizagem, as teorias baseadas no paradigma construtivista denominam “sujeito” aquele indivíduo que está envolvido no processo de aprendizagem, e “objeto” aquilo que se quer conhecer. A relevância está no fato de que o sujeito é sempre o protagonista da aprendizagem, e o objeto é tudo aquilo que não pode ser considerado o próprio sujeito, isto é, animais, entes inanimados e demais pessoas. Como pode ser observado na Figura 18, buscamos resgatar e sintetizar o que já foi abordado nos capítulos anteriores a respeito das diferentes concepções epistemológicas do apriorismo, do empirismo e do construtivismo, ressaltando a relação entre sujeito e objeto. Figura 13 – Relação sujeito-objeto nas correntes epistemológicas. Fonte: elaborada pelas autoras a partir de Becker (2001, p. 29). Nas teorias construtivistas, essa relação ocorre através de um processo de duplo sentido, denominado adaptação, o qual é subdividido em dois momentos: assimilação e acomodação. Segundo Piaget (1975, p. 309), “a assimilação e a acomodação são [...] os dois polos de uma interação entre o organismo e meio, a qual é a condição de todo funcionamento biológico e intelectual”. Por assimilação entende-se o processo cognitivo de construção de estruturas e ao mesmo tempo de integração de um novo dado às estruturas prévias da pessoa, para apropriar-se e internalizar o objeto, interpretando-o e acrescentando-o às suas estruturas cognitivas. Já acomodação é o momento em que o sujeito altera suas estruturas cognitivas para melhor compreender o objeto que o perturba. Dessas sucessivas e permanentes relações entre assimilação e acomodação (não necessariamente nessa ordem), o indivíduo vai “adaptando-se” ao meio externo através de um interminável processo de desenvolvimento cognitivo. Significa, portanto, que a acomodação é o resultado das pressões exercidas pelo meio, levando à modificação do esquema assimilador por meio de diferenciações necessárias à assimilação do objeto, considerada fonte de mudança. A ideia de acomodação está relacionada à ideia de equilibração, por esta última ser definida como a ação de equilibrar os mecanismos assimiladores e acomodadores (PIAGET, 1987). Dessa forma, verifica-se que as assimilações levam o sujeito à necessidade de acomodar as estruturas já existentes. Argumenta-se, a partir dessa visão, que “aprender é proceder a uma síntese indefinidamente renovada entre a continuidade e a novidade” (INHELDER; BOVET; SINCLAIR, 1977, p. 263). Ou seja, a aprendizagem pressupõe, por um lado, a conservação das estruturas já existentes e, por outro, a reformulação destas por novas assimilações constituídas. Compreende-se, assim, o motivo pelo qual não é preciso aprender tudo novamente em cada nova atividade. As estruturas, constituídas no plano anterior, são reorganizadas pelas e acrescidas de novas descobertas, traduzindo-se a aprendizagem em construção de modelos que visam à interpretação das novas informações recebidas (BECKER, 2001). As teorias construtivistas têm como pressupostos de aprendizagem a descoberta, tomada como autoaprendizagem, sendo o ambiente apenas um meio estimulador. Só é retido aquilo que se incorpora à atividade do aluno através da descoberta pessoal; o que é incorporado passa a compor a estrutura cognitiva para ser empregada em novas situações. Comprova-se que as teorias desse paradigma respeitam a individualidade do aluno, enfatizando o processo de construção da sua forma de pensar. Uma de suas maiores contribuições para a educação está no fato de acreditar que a aprendizagem deve ser estabelecida pelo próprio sujeito. É ele que apontará o que já é conhecido e o que ainda precisa ser aprendido. Um modelo de escola coerente com o paradigma construtivista deveoferecer aos alunos liberdade de ação, procurando estruturar o ambiente de modo a desafiar sua inteligência. Nesse sentido, a escola deve possibilitar ao aluno o desenvolvimento de suas potencialidades, a fim de poder intervir no processo sociocultural e inovar a sociedade. Esse paradigma defende que sempre se crie algo de novo no processo de aprendizagem, como condição para sua existência, o que implica o processo da evolução: a criatividade deve ser permanente. Do ponto de vista metodológico, o trabalho em equipe explora a visão do grupo como importante elemento na socialização do indivíduo. A troca com os outros indivíduos é decisiva no desenvolvimento intelectual do ser humano, aprimorando-se, assim, sua autonomia. Outro aspecto a se considerar está relacionado à prática da pesquisa como meio de aprendizagem. Nessa perspectiva, destaca-se a importância de o ato pedagógico realizar-se a partir do “educar pela pesquisa”. Neste estudo, compreendemos a pesquisa como “princípio científico e educativo” inerente à prática docente e como atividade fundamental do paradigma construtivista (DEMO, 2000). Entendemos que a pesquisa permite ao professor problematizador a avaliação constante de seu trabalho. Além disso, oportuniza ao indivíduo, na sua atuação como pesquisador, condições de aproximar-se mais da realidade que o cerca, viabilizando, assim, a construção de novos saberes (SILVA, 1995). A resolução de problemas também é uma tendência metodológica das teorias construtivistas. Encontramos nos escritos da teoria de Ausubel, outro pensador de destaque do paradigma construtivista, uma definição ao considerar a resolução de problemas “qualquer atividade na qual a representação cognitiva de experiência prévia e os componentes de uma situação problemática apresentada são reorganizados a fim de atingir um determinado objetivo” (AUSUBEL, 1968 apud COSTA; MOREIRA, 2001, p. 263-4). Trata-se, pois, de um tipo de trabalho pedagógico que enfatiza a solução de problemas escolhidos pelos alunos e professores através de um exercício de investigação. Busca-se, assim, a valorização da participação do aluno, tornando-o responsável pela elaboração e realização das atividades. Dessa forma, pretende-se aproximar o conteúdo o máximo possível da realidade e da vida do aluno. Segundo Demo (2001, p. 51), “o bom professor não é aquele que soluciona os problemas, mas justamente o que ensina os alunos a problematizarem”. Entendemos, dessa forma, que a atividade de resolução de problemas é uma importante prática a ser implementada na sala de aula, ao permitir que o indivíduo possa exteriorizar o processo construtivo de aprender através da apropriação conceitual, de proposições e de exemplos adquiridos e elaborados na interação com seus professores, colegas e materiais de estudo. Nas teorias construtivistas, considera-se o erro elemento constitutivo do processo de aprendizagem e do desenvolvimento cognitivo. Nesse sentido, o erro é tido como fonte de conhecimento e compreendido como construção realizada pelo aluno no seu processo de aprendizagem. Ao interagir com o objeto (tema de estudo), o indivíduo realiza diferentes aproximações, que lhe permitem elaborar hipóteses e dados relevantes para sua compreensão sobre determinado assunto. Assim, compreende-se que o erro é um importante instrumento a ser utilizado pelo professor no seu exercício docente, já que se trata de etapa de aprendizagem que fornece indícios importantes sobre as reais capacidades de assimilação e compreensão por parte do aluno. No entanto, é preciso diferenciar os tipos de erros, pois, como salienta Hoffmann (1993), nem todos os erros cometidos podem ser considerados construtivos e passíveis de novas descobertas. Existem os Figura 14 – Lev Vygotsky (1896-1934). Fonte: www.psicosmica.com. erros resultantes do esquecimento, ou mesmo da dificuldade de linguagem, e ainda erros produzidos pela ignorância sobre determinado assunto. Portanto, um erro só é construtivo quando permite a reestruturação do pensamento. Ao analisar o erro, o professor pode coletar informações que o auxiliam a examinar o nível de desenvolvimento alcançado pelo estudante, o que lhe possibilita elaborar e aplicar diferentes estratégias de aprendizagem. Entretanto, trabalhar com o erro de forma significativa e construtiva pede do professor bom senso para que não cause constrangimento, revertendo o erro no seu sentido negativo. Cabe ao educador diagnosticar e qualificar o erro, verificando o nível de desenvolvimento do aluno e as reais possibilidades de trabalhar em torno das certezas e hipóteses, chamadas por Vygotsky de zonas de desenvolvimento proximal (ZDP). Segundo Vigotsky, essas zonas são estabelecidas como o espaço existente ou a distância entre o nível de desenvolvimento real (situações que o indivíduo já sabe resolver sozinho) e os níveis de desenvolvimento potencial (quando o indivíduo ainda precisa da ajuda de outra pessoa, mas vai saber sozinho em breve). Vygotsky também é um representante das teorias construtivistas. Sua teoria, entretanto, é denominada sociointeracionismo ou socioconstrutivismo, e destaca a importância das relações sociais no processo de aprendizagem. Conforme o psicólogo bielorrusso, a construção do conhecimento é resultado da internalização de um amplo processo de interação social. Ao trabalhar de forma que o aluno reflita sobre seu erro, é-lhe permitido pensar e tomar consciência do caminho percorrido e dos dados elaborados, refletindo sobre suas aprendizagens em um processo ativo sobre a reflexão. Em diferentes trabalhos e estudos, encontramos algumas críticas relacionadas ao construtivismo. Muitas delas se devem à visão distorcida e mesmo errônea difundida pelos slogans e frases desencontradas que buscam resumir as concepções do paradigma construtivista. Uma delas está em considerar o construtivismo método de ensino ou de alfabetização. Nesse caso, o principal problema está na aplicação dos princípios construtivistas como conjunto de regras ou técnicas a ser seguido, julgando-os de forma mecânica e descontextualizada. Outro aspecto a ser destacado é entender que a prática fundamentada no construtivismo desconsidera o estudo da gramática e o uso da tabuada. A questão é que essas práticas têm sido normalmente empregadas como algo a ser decorado e repetido pelo aluno, acabando por esvaziar-se a noção de ensino. Entretanto, percebe-se que o construtivismo valoriza toda produção do aluno, inclusive o texto escrito, e o que se espera do professor que fundamenta seu fazer docente nas concepções do paradigma construtivista é a diversificação da aplicação dos diferentes recursos e metodologias de trabalho. Com relação aos conteúdos, uma interpretação equivocada é compreender o enunciado como a principal preocupação do processo de ensino, em detrimento do estudo dos conteúdos curriculares. Conforme destaca Coll (1991), existem diferentes teorias psicológicas consideradas construtivistas. Isso não garante que elas apresentem semelhanças nem complementaridade entre si. Muitas vezes, essas teorias têm como ponto de convergência a participação ativa do sujeito no processo de aprendizagem, e, por isso, tangenciam-se mutuamente ao considerar o sujeito construtor do próprio conhecimento. Entretanto, também podem partir de diferentes raízes filosóficas e divergir sobre outros aspectos. Figura 15 – Abordagens das teorias construtivistas. Fonte: elaborada pelas autoras. 4.1.1 Abordagem progressista 4.1.1.1 Características gerais O pensamento central da abordagem progressista visa à transformação social e à compreensão do indivíduo “como um ser que constrói a própria história” (BEHRENS, 2011, p. 71). Os pressupostos dessa abordagem visam também a propiciar aos alunos o estabelecimento de parcerias através da realização de atividades grupais. Uma curiosidade, trazidapor Behrens (2011, p. 72), esclarece que a expressão progressista foi primeiramente difundida por Snyders (1974) ao apresentar um ponto de vista pedagógico voltado para a defesa dos objetivos sociais e políticos da educação. Como Behrens (2011) coloca, esse posicionamento foi aceito e atribuído para caracterizar o paradigma inovador na educação. No Brasil, a abordagem progressista tem o trabalho de Paulo Freire como principal expoente teórico. Assim, essa abordagem busca a efetivação de uma aprendizagem Figura 16 – Paulo Freire (1921-1997). Fonte: www.paulof reire.org. pautada em práticas educativas baseadas no exercício do diálogo e da discussão coletiva e voltadas para a problematização de temas do cotidiano. O diálogo, nesse sentido, é considerado caminho para uma educação como prática da liberdade (FREIRE, 1989). De acordo com Freire (1989, 1980), uma característica da ação dialógica é a colaboração dos sujeitos que, unidos, possam transformar a realidade. Nessa ação, não há sujeito conquistador ou objeto conquistado, mas sim indivíduos numa mesma pronúncia, a do mundo a ser transformado. “O diálogo impõe-se como o caminho pelo qual os homens encontram seu significado enquanto homens; o diálogo é, pois, uma necessidade existencial” (FREIRE, 1980, p. 82). Para Libâneo (1990), a abordagem progressista desdobra-se em três tendências: a libertadora, relacionada ao trabalho de Paulo Freire; a libertária, que enfatiza a defesa da autogestão pedagógica; e a crítico- social dos conteúdos, priorizando o confronto entre os conteúdos curriculares e as realidades sociais. A proposta de instituição de ensino apoiada nessa abordagem vislumbra um espaço político e articulador de produção cultural entre o conhecimento intelectual e os conhecimentos elaborados pelos alunos. Nesse sentido, ela deve oferecer ao aluno acesso aos avanços da Ciência, assumindo-se a atividade de pesquisa como ação cotidiana. Deve ser assim: um lugar onde se estuda para a vida. O conhecimento é trabalhado, ultrapassando-se sua simples definição e descrição e estabelecendo-se correlações com a realidade social. Assim, destaca-se como uma das tarefas do professor explicitar as problemáticas sociais concretas e contextualizá-las, de modo a desmontar prenoções e preconceitos que sempre dificultam o desenvolvimento da autonomia intelectual e de ações políticas direcionadas para uma transformação social. O ensino deve ser encaminhado pela promoção da problematização dos fenômenos sociais, superando-se a visão do senso comum e desenvolvendo-se um exercício dialético de síntese que favoreça “a leitura” dos fatos sociais, interpretados e estudados à luz do conhecimento científico. 4.1.1.2 Relação professor-aluno Na abordagem progressista, professor e aluno encontram-se em posição de igualdade e numa relação horizontal, pois ambos são sujeitos do processo educativo. Por isso educam-se, por estarem mediatizados pelo mundo, despertados pela necessidade de assumir responsabilidades e lutar por seus direitos. O professor assume uma postura reflexiva e crítica, mas também exigente. Ele busca exercer uma relação dialógica de autoridade, mas sem autoritarismo, permitindo uma reflexão autêntica e crítica da realidade. O aluno, por sua vez, tem participação efetiva no processo de ensino e aprendizagem. É instigado a posicionar-se com liberdade de expressão e de pensamento no processo de investigação e discussão em busca da produção do conhecimento, assumindo-se como sujeito criativo e ativo, reflexivo e crítico (BEHRENS, 2011, p. 75). É por essa concepção problematizadora e dialógica que alunos e professores estão comprometidos com a necessidade de mudança numa escola verdadeiramente democrática: A escola democrática não apenas deve estar permanentemente aberta à realidade contextual de seus alunos, para melhor compreendê-los, para melhor exercer sua atividade docente, mas também disposta a aprender de suas relações com o contexto concreto (FREIRE, 1993, p. 100). 4.1.1.3 Ênfase metodológica A metodologia, na abordagem progressista, é proposta a partir de conteúdos significativos aos estudantes. Apoia-se no estabelecimento do diálogo, oportunizando o questionamento e a problematização voltados para a reflexão crítica sobre a prática, visando contribuir para a formação de um sujeito atuante na sociedade (BEHRENS, 2011). A ênfase metodológica apoia-se na proposição de atividades baseadas no princípio do “aprender fazendo”, valorizando-se as práticas experimentais, o estudo do meio natural e social, levando-se sempre em conta os interesses do aluno. Oportuniza-se, assim, a realização de trabalhos coletivos, com reflexões coletivas e métodos, materiais e técnicas que visam à democratização do saber. Contempla, também, a liberdade com rigor e a autoridade com liberdade (BEHRENS, 2011). 4.1.1.4 Avaliação da aprendizagem A avaliação nessa abordagem é desenvolvida de forma processual e contínua. No momento da proposição da atividade, o aluno é convidado a participar da definição e composição dos critérios avaliativos a serem empregados (BEHRENS, 2011). Devem-se contemplar atividades de teoria e prática, constituindo-se um processo dinâmico e criterioso. Seus resultados são relevantes para o acompanhamento e validação da aprendizagem dos alunos, visando, assim, à transformação do processo de ensino. Valoriza-se o exercício da autoavaliação, provocando-se o desenvolvimento da consciência crítica e responsabilidade do aluno pelo seu processo. 4.1.2 Abordagem ensino por pesquisa 4.1.2.1 Características gerais A abordagem do ensino por pesquisa é pautada no desenvolvimento do espírito crítico e investigativo e pressupõe o exercício da curiosidade, da descoberta e da resolução de problemas. Visa, portanto, à superação da cópia, da reprodução, práticas vigentes do pensamento newtoniano-cartesiano, já abordado anteriormente. Prima-se pelo desenvolvimento de atividades de pesquisas compartilhadas entre professor e aluno. Tal processo está alicerçado em princípios do paradigma construtivista, pois considera o aluno construtor do conhecimento, com ênfase voltada para o “saber aprender”. Essa abordagem é apoiada por autores como Paoli (1988), Demo (2000) e Cunha (2000, 1996). A escola deve ser um espaço voltado para o exercício de formação diferenciada, estabelecida em princípios como reflexão, criatividade e criticidade (BEHRENS, 2011). Nesse sentido, precisa estar organizada para contribuir na articulação de seus professores e alunos, produtores de conhecimentos, às novas exigências, a fim de garantir a aprendizagem pela e com a pesquisa. Trata-se, pois, de um ambiente que visa a resgatar a formação geral do ser humano para o desenvolvimento da autonomia crítica e criativa do aluno e o exercício de uma cidadania democrática e atenta ao desenvolvimento tecnológico, em vez de permanecer fundamentado na memorização e passividade. 4.1.2.2 Relação professor-aluno O professor é uma figura de destaque nessa abordagem, superando, entretanto, uma visão conservadora, cabendo a ele, por sua maior experiência, ser responsável pela proposição de projetos de autoria própria ou compartilhada, a serem desenvolvidos em parceria com seus alunos através da realização de atividades individuais e/ou coletivas. O professor assume, assim, função mediadora e articuladora, voltada ao desenvolvimento da criticidade e criatividade por parte dos alunos. Nas diferentes fases da pesquisa, ele deve estar presente, acompanhando e orientando seus alunos, instigando-os a “aprender a aprender”. É importante ressaltar que o exercício da abordagem ensino com pesquisa pressupõe que o professor já tenha introduzido a pesquisa como elemento central do seu exercício profissional. Ao aluno cabe assumir-se como sujeito ativo, produtivo e dialógico do processo pedagógico, como aquele
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