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01 C U R S O T É C N I C O E M A Q U I C U LT U R A Introdução EXTENSÃO PESQUEIRA Soniamar Zschornack Rodrigues Saraiva Coordenadora da Produção dos Materias Vera Lucia do Amaral Coordenador de Edição Ary Sergio Braga Olinisky Coordenadora de Revisão Giovana Paiva de Oliveira Design Gráfi co Ivana Lima Diagramação Elizabeth da Silva Ferreira Ivana Lima José Antonio Bezerra Junior Mariana Araújo de Brito Arte e ilustração Adauto Harley Carolina Costa Heinkel Huguenin Leonardo dos Santos Feitoza Revisão Tipográfi ca Adriana Rodrigues Gomes Margareth Pereira Dias Nouraide Queiroz Design Instrucional Janio Gustavo Barbosa Jeremias Alves de Araújo Silva José Correia Torres Neto Luciane Almeida Mascarenhas de Andrade Revisão de Linguagem Maria Aparecida da S. Fernandes Trindade Revisão das Normas da ABNT Verônica Pinheiro da Silva Adaptação para o Módulo Matemático Joacy Guilherme de Almeida Ferreira Filho EQUIPE SEDIS | UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE – UFRN Projeto Gráfi co Secretaria de Educação a Distância – SEDIS Governo Federal Ministério da Educação Você ve rá por aqu i... 1 Extensão pesqueira A01 Objetivos Estamos iniciando o conteúdo da disciplina de Extensão Pesqueira, que tem como principal objetivo fornecer subsídios para que você, futuro técnico em pesca/aquicultura, possa atuar no processo de extensão/comunicação com comunidades rurais e pesqueiras, de forma consciente e participativa. Nesta primeira aula, faremos um breve histórico sobre o processo de criação da extensão rural. Você também será convidado a refl etir sobre o assunto, através de exemplos concretos e, ao fi nal, elaboraremos “nosso conceito” sobre o tema, interagindo com conceitos apresentados por outros autores. Vamos começar? Conhecer a história do surgimento da extensão rural. Conhecer os principais modelos de atuação da extensão rural ao longo do tempo. Estimular a refl exão sobre fatores críticos de sucesso no processo de extensão rural e pesqueira. Elaborar um conceito próprio de extensão pesqueira com base em conceitos e refl exões de autores sobre o tema. 2 Extensão pesqueira A01 Para começo de conversa... Você conhece este personagem? Fonte: <http://www.jornalentreposto.com.br/jun2007/agronegocio.htm>. Acesso em: 24 mar. 2009. Esse é o famoso “Jeca-Tatu”, criado por Monteiro Lobato, no início do século XX. Jeca- Tatu era um caboclo que vivia no campo, em meio à pobreza. Sua rotina baseava–se em fi car o dia inteiro sem fazer tarefa alguma, fumando seu cigarro de palha, bebendo sua cachaça e observando o dia passar. Mas será que esse personagem faz algum sentido nos dias atuais? “Monteiro Lobato criou a personagem Jeca Tatu para denunciar, em tom irreverente e caricatural, a situação crítica em que vivia o nosso homem do interior. Em 1918, a fi gura do Jeca foi utilizada nos folhetos de propaganda do laboratório Fontoura, atingido imensa popularidade e contribuindo para criar uma imagem deformada do nosso sertanejo... Em 1947, Lobato retomou essa personagem, encarando o problema, porém, de outro ângulo.” Fonte: artigo disponível na Internet no endereço eletrônico: http://www.vestibular1.com.br/revisao/r30.htm (acesso em: 24/03/2009) 3 Extensão pesqueira A01 Extensão Pesqueira Entre as muitas atribuições que você poderá desenvolver, como técnico em pesca/ aquicultura, a extensão pesqueira é certamente uma das mais importantes e gratifi cantes, se exercida com responsabilidade e comprometimento. Por se tratar de um processo educativo, a visão de mundo e o entendimento que cada um possui sobre a realidade que lhe cerca também farão parte desse processo, por isso a importância em refl etir sobre a nossa visão em relação ao meio rural. Em outras palavras, o trabalho do técnico extensionista não depende apenas do conhecimento técnico que se adquire ao longo do Curso, mas também do entendimento que cada um possui sobre a importância do resultado do trabalho que realiza na melhoria da qualidade de vida de outras pessoas. Seguindo adiante... E esta música, você conhece? A Caneta e a Enxada (Capitão Barduíno e Teddy Vieira) Certa vez Uma caneta foi passear no sertão Encontrou com uma enxada fazendo uma plantação, A enxada muito humilde foi fazer uma saudação Mas a caneta soberba não quis pegar sua mão E ainda por desaforo lhe passou uma repreensão Disse a caneta para a enxada não vem perto de mim não, Você tá suja de terra, de terra suja do chão Sabe com quem tá falando, veja sua posição E não esqueça a distância da nossa separação Sou a caneta dourada que escreve nos tabelião Eu escrevo pros governos as leis da constituição, Escrevo em papel de linho Pros ricaços e pros barão, Só ando nas mãos dos mestres, dos homens de posição 1Praticando... 4 Extensão pesqueira A01 A enxada respondeu De fato eu vivo no chão Pra poder dar de comer e vestir ao seu patrão Eu vim no mundo primeiro quase no tempo de Adão Se não fosse o meu sustento ninguém tinha instrução Vai-te caneta orgulhosa vergonha da geração A sua alta nobreza não passa de pretensão Você diz que escreve tudo, tem uma coisa que não É a palavra bonita que se chama EDUCAÇÃO É, essa música também não é do seu tempo. Talvez seja do tempo dos seus pais ou dos seus avós. “A caneta e a enxada” é um exemplar da nossa “música de raiz” que já fez muito sucesso. E o que ela está fazendo na nossa aula? Isso é você quem vai dizer: Procure descrever, numa única frase, a relação entre a letra da música, “A caneta e a enxada”, e o trabalho do técnico extensionista: Isso mesmo. A letra da música, embora tenha sido escrita há muito tempo, é um bom exemplo para a disciplina que estamos iniciando, porque fala da relação entre “a caneta e a enxada”, o que pode ser traduzido como “a relação entre o conhecimento técnico, acadêmico e o conhecimento empírico dos produtores rurais” ou ainda “a relação do técnico extensionista com o meio rural”. 5 Extensão pesqueira A01 Mas, afi nal, o que é extensão pesqueira? A extensão pesqueira pode ser entendida como o trabalho de extensão rural voltado para pescadores e/ou aquicultores. E extensão rural, o que signifi ca? Extensão Rural No Brasil, a EMBRATER defi niu, em 1984, a extensão rural como “um processo educativo com o objetivo de contribuir para a elevação da produção, da produtividade da renda e da qualidade de vida das famílias rurais, sem dano ao meio ambiente”. Assim como em outros temas, não há unanimidade quando se faz referência a esse conceito. Freitas (1990), buscando uma conceituação de extensão rural, analisou a opinião de diversos autores sobre o tema e verifi cou que a maior parte deles consideram a Extensão Rural como sendo a arte de interagir tecnicamente junto aos produtores rurais, a partir do conhecimento da realidade em todos os níveis, na incessante busca de combinar saber científi co com o saber popular, visando ao aumento da produção, produtividade e da melhoria de vida da família rural, sem agressão ao meio ambiente. Outro conceito aceito pela maioria dos autores, segundo a autora, é o que defi ne Extensão Rural como sendo um serviço público de caráter técnico prestado às famílias de pequenos e médios produtores rurais, por profi ssionais devidamente qualifi cados, visando a ajudá-los a melhorar os níveis de vida. 2Praticando... 6 Extensão pesqueira A01 Com base nas informações fornecidas até então, defi na, com suas palavras, o que é extensão pesqueira. Nas nossas próximas aulas, você será chamado a atualizar esse conceito, ampliando-o, na medida em que forem surgindo novas informações sobre o tema. Extensão Rural X Assistência Técnica Algumas pessoas ainda confundem extensão rural com assistência técnica,mas existe uma diferença entre elas. A assistência técnica, como o próprio nome já diz, refere-se ao auxílio estritamente técnico, como quando algum técnico vai a nossa casa para consertar a máquina de lavar ou a televisão. Na aquicultura, um exemplo de assistência técnica seria o monitoramento da qualidade da água de viveiros de uma propriedade, em que o técnico em aquicultura iria periodicamente fazer a análise das características da água dos viveiros e emitiria um relatório com os dados obtidos. Já o trabalho de extensão é mais complexo, trata-se de um processo educativo, em que as informações técnicas são apenas parte desse processo, e não necessariamente as mais importantes. Sr. Juvêncio Sr. NicolauSr. Miguel 7 Extensão pesqueira A01 Enquanto o conceito de assistência técnica tem um sentido bastante restrito, geralmente entendido como circunscrito à assessoria na produção agropecuária, pesca ou madeireira, o conceito de extensão rural pode ter as mais diversas interpretações. Nos EUA, onde está a origem do termo, ele foi derivado originalmente da extensão universitária. O conceito de extensão encontra hoje uso em diferentes setores, indo da ‘extensão para o desenvolvimento rural’ à ‘extensão empresarial’. Dado o papel relevante da ATER (Assistência Técnica e Extensão Rural) como elemento indutor e facilitador do desenvolvimento, a discussão sobre extensão rural constitui um tema polêmico entre os movimentos sindicais do campo, os principais interessados [...] (BROSE, 2004, p. 13). Por outro lado, devemos levar em consideração o caráter subjetivo da atividade de extensão, onde cada realidade requer um diferente tipo de intervenção. Acompanhe um exemplo na atividade a seguir: Praticando... 3Praticando... Observe os exemplos abaixo e identifi que qual dos agricultores está em melhor situação, considerando apenas as informações obtidas através das imagens. Não se esqueça de justifi car sua resposta. Resposta: 8 Extensão pesqueira A01 Agora, vamos fornecer mais algumas informações sobre os três agricultores e você poderá optar em continuar com a mesma opção ou modifi cá-la, se achar pertinente. 1. O Sr. Miguel, que aparece na primeira imagem, é um pequeno agricultor que mora em um Município no sul do Brasil. Na sua propriedade, ele cultiva vários tipos de grãos, além de frutas e verduras. Filho de agricultores, o Sr. Miguel gosta do que faz, comercializa seus produtos na feira do produtor, que acontece uma vez por semana no seu Município, e vende o excedente para comerciantes do Município vizinho, que vão à sua propriedade buscá-lo. 2. O Sr. Juvêncio possui uma propriedade um pouco maior, quase o dobro da área da propriedade do Sr. Miguel. Mas como cria gado de forma extensiva, essa área ainda é pequena, e ele está tendo difi culdades em aumentar o pasto devido a problemas com a legislação ambiental, no Município onde mora, na região Norte do Brasil. O Sr. Juvêncio também aposta na diversifi cação de produtos em sua propriedade e, além de frutas e grãos (milho e feijão), ele também aposta na apicultura e já está comercializando mel. A sua principal difi culdade é o acesso à propriedade, que fi ca longe dos principais centros consumidores, o que difi culta a comercialização dos seus produtos. 3. O Sr. Tenório também é fi lho de agricultores, herdou a propriedade do pai, na região Centro-Oeste do Brasil. Dando continuidade ao trabalho do pai, o Sr. Tenório planta soja, a propriedade é extensa, e o cultivo, totalmente mecanizado. Ainda assim, o Sr. Tenório vem passando por difi culdades fi nanceiras, pois precisa pagar o fi nanciamento dos equipamentos que comprou, e a taxa de câmbio, aliada à instabilidade do mercado internacional, reduziram consideravelmente seus lucros, ao mesmo tempo em que o custo de produção quase dobrou. Ele está pensando, inclusive, em vender parte da propriedade para pagar as dívidas com os Bancos. 4Praticando... 9 Extensão pesqueira A01 E agora? Você vai reconsiderar sua resposta? Não se esqueça de justifi car sua opção: Como você pode observar, existem muitos fatores envolvidos, por isso não podemos nos deter a uma análise meramente técnica para defi nir aspectos subjetivos, como o fato de um determinado produtor ser “bem sucedido” ou não. A atividade acima teve como objetivo chamar a sua atenção para a complexidade que envolve a atividade da extensão rural, pois não é o técnico quem “decide” o que é melhor ou mais adequado. É a interação, a comunicação entre o técnico e o agricultor, unindo informações e conhecimentos, que vão apontar o melhor caminho. 10 Extensão pesqueira A01 História da Extensão Rural A partir de agora, vamos conhecer um pouquinho da história da extensão rural, em especial na Europa e nos Estados Unidos, onde o termo “extensão rural” surge ofi cialmente. Os textos disponibilizados contêm apenas um pequeno resumo dos acontecimentos, os quais você poderá aprofundar acessando o material sugerido nas indicações para leitura. Europa Na Europa, a partir da segunda metade do século XIX, associações de fazendeiros passaram a contratar pessoas com conhecimento e experiência em culturas e criações para ensinar aos produtores as novas técnicas agronômicas descobertas pela ciência. Essas pessoas iam de fazenda em fazenda, de modo semelhante a um extensionismo itinerante. Essa idéia evoluiu e, a partir do início do século XX foram organizados ofi cialmente os Serviços de Extensão Rural, atualmente presentes em todos os países da Europa (RIBEIRO, 2000). Estados Unidos O surgimento ofi cial da Extensão Rural, nos Estados Unidos, ocorreu no ano de 1914, durante o período pós-Guerra de Secessão, que representou para a agricultura norte- americana a passagem de uma estrutura escravista para uma estrutura mercantilista e capitalista (FONSECA, 1985). A ofi cialização desse serviço, porém, foi resultado de um longo processo, que teve início ainda no período de colonização daquele País, uma vez que as práticas levadas pelos imigrantes para o novo mundo não eram sufi cientes para o desenvolvimento da nova agricultura local. As tentativas de encontrar soluções para os problemas que iam surgindo, na prática, levou à criação e aceitação dos colégios agrícolas e das agências governamentais. Em 1887, o Congresso dos Estados Unidos aprovou a Lei Hatch, alocando a cada colégio de agricultura os fundos necessários para estabelecer permanentemente fazendas experimentais, chamadas mais tarde de estações experimentais. 11 Extensão pesqueira A01 A partir do desenvolvimento das estações experimentais, foi possível disponibilizar aos produtores rurais informações cada vez mais atualizadas, e estes, por outro lado, passaram a demandá-las, o que resultou na necessidade de trabalhar com grupos maiores. Foram criados, então, os institutos dos fazendeiros, responsáveis, na época, pelas atividades sociais mais importantes, o que contribuiu para o crescimento do movimento extensionista nos Estados Unidos. Ligado aos colégios de agricultura, tornou- se tão intenso e difundido pelos Estados americanos que, em 1905, foi criado um comitê do trabalho extensionista pela Associação Americana de Colégios Agrícolas e Estações Experimentais. Três anos mais tarde, o trabalho de extensão rural dos colégios agrícolas foi elevado ao mesmo nível da pesquisa e do ensino, com a recomendação de que as três atividades tivessem uma só coordenação. Este foi um dos eventos mais signifi cativos visando a fazer do Serviço de Extensão Rural uma organização permanente e bem-sucedida. Mais tarde, ocorreriam mudanças substanciais nesse Serviço, substituindo a ênfase do programa de ”mais produção” para “uma produção mais eficiente e melhor comercialização”. Por outro lado, haveria a troca da assistência individual pela assistência a grupos comunitários.Com o passar do tempo, o Serviço de Extensão Rural dos Estados Unidos da América foi se expandindo e se modernizando, e hoje existe um Serviço de Extensão Rural em cada unidade da federação americana, contribuindo de forma signifi cativa para o sucesso da agricultura naquele País (RIBEIRO, 2000). Brasil A experiência bem sucedida da extensão rural americana, como fi losofi a de um processo educativo para produtores rurais no campo da agricultura e da economia doméstica, bem como um serviço organizado que aplica o referido processo educativo, difundiu-se para muitos países de diversos continentes, inclusive para a América do Sul. No Brasil, a adoção dessa nova metodologia tem início na década de 40 (RIBEIRO, 2000) e vai sofrer algumas alterações de cunho fi losófi co e metodológico, ao longo do tempo, em função do contexto histórico vivenciado pelo país nesse mesmo período. A nossa próxima aula terá como tema o desenvolvimento da extensão rural e pesqueira no Brasil, quando você terá acesso a maiores detalhes sobre os acontecimentos relatados no parágrafo anterior. Exemplo 1 12 Extensão pesqueira A01 Extensão rural: modelos de atuação Desde o seu surgimento, até os dias de hoje, a extensão rural experimentou diversas fases, adotando modelos distintos de atuação. Os principais deles são o modelo clássico, o difusionista-inovador e o que chamaremos de novo modelo de atuação da extensão rural, ainda em construção, com enfoque na gestão participativa e no desenvolvimento local. Modelo Clássico O modelo clássico, criado nos Estados Unidos e o primeiro a ser implantado no Brasil, tem como princípio a comunicação dos que habitam o meio rural com as novas tecnologias geradas nos centros de pesquisa, através da extensão. Esta terá como propósito transmitir ou estender os conhecimentos adquiridos nos campos experimentais e levar os problemas do povo rural às fontes de pesquisa (FONSECA, 1985). Você se lembra do Seu Miguel, aquele pequeno agricultor citado na atividade 3? “... um pequeno agricultor que mora em um Município no sul do Brasil. Na sua propriedade, ele cultiva vários tipos de grãos, além de frutas e verduras. Filho de agricultores, o Sr. Miguel gosta do que faz, comercializa seus produtos na feira do produtor, que acontece uma vez por semana no seu Município, e vende o excedente para comerciantes do Município vizinho, que vão à sua propriedade buscá-lo”. No modelo clássico, o extensionista iria até Seu Miguel, diretamente ou através da associação de produtores do seu Município, e faria demonstrações de como ele poderia aumentar sua produção através da mecanização e/ou do uso de novas sementes, adubos e defensivos agrícolas. Isso porque, além de aumentar a produção, esse modelo de extensão tinha como objetivo criar mercado para a indústria de suprimentos agrícolas, que acabava de surgir. Mais tarde, essas demonstrações viriam acompanhadas de uma linha específi ca de crédito rural, que tinha como objetivo fi nanciar a “modernização da agricultura”. Exemplo 2 13 Extensão pesqueira A01 Modelo Difusionista-inovador A partir de 1962, a teoria que norteou a extensão rural no Brasil foi a do difusionismo (ou difusionismo-inovador). Essa teoria acredita que, pela difusão de conhecimentos, pode-se afetar um sistema social, através da adoção de inovações. Para ela, difusão e alocação de idéias é a transferência de alguns traços culturais de “áreas civilizadas” a outra área “não civilizada”. Baseia-se na capacidade individual de inovar, que seria o processo mental pelo qual o indivíduo passa, desde quando soube da inovação, até a decisão de adotá-la ou rejeitá-la (FONSECA, 1985). O modelo difusionista-inovador passou a ser adotado não só no Brasil como em outros países da América Latina, em função do modelo anterior (clássico) não estar surtindo os resultados esperados. No modelo difusionista, o extensionista não tinha como preocupação apenas o repasse de novas técnicas agrícolas, mas, principalmente, “modifi car o modo de pensar dos agricultores”, ou seja, convencer os agricultores de que eles teriam uma melhor qualidade de vida e, portanto, deveriam utilizar as novas tecnologias e modifi car seu modo de vida. Nesse modelo, a capacidade de persuasão do técnico extensionista era muito importante e, para isso, ele utilizava os mais diversos recursos pedagógicos. Além das técnicas agrícolas, informações sobre economia doméstica também eram repassadas às mulheres dos agricultores. Fique atento Observe que tanto no modelo clássico quanto no difusionista-inovador o objetivo era transformar a realidade rural em função de necessidades urbanas, ou seja, aumentar a produção de alimentos para atender a demanda dos grandes centros urbanos, difundir novas tecnologias para garantir a compra de insumos e suplementos agrícolas que as novas indústrias começavam a produzir. 14 Extensão pesqueira A01 Um novo modelo de atuação na Extensão Rural Nesta disciplina não vamos nos ater ao debate teórico em torno de modelos e práticas pedagógicas, entretanto, você, como futuro técnico em pesca/aquicultura, deverá estar apto a desenvolver seu trabalho de forma consciente e participativa. Nos trechos a seguir, temos um farto material para a nossa refl exão. O primeiro deles, escrito por Paulo Freire há 30 anos, e o segundo, mais recente, sobre os novos rumos da extensão rural. Daí que sua participação no sistema de relações camponeses-natureza-cultura não possa ser reduzida a um estar diante, ou a um estar sobre, ou a um estar para os camponeses, pois que este deve ser um estar com eles, como sujeitos da mudança também (FREIRE, 1983, p. 56). [...] para além de alguma mudança organizacional ou adoção de novos métodos, faz- se necessária uma nova visão da sociedade sobre qual o papel a ser desempenhado pela extensão rural. Propomos que a extensão deve, antes de tudo, posicionar-se como instrumento de fortalecimento da capacidade de auto-gestão e inovação permanente das comunidades rurais [...] (BROSE, 2004, p. 19). Em linhas gerais, o que estamos chamando de “um novo modelo de extensão rural” representa, na verdade, uma nova tendência, com foco na gestão participativa e no desenvolvimento local, conforme você poderá constatar ao longo de nossas próximas aulas. Mais do que memorizar conceitos e fatos históricos, você deve estar atento para a realidade atual do seu Município/Região. E ter como premissa básica o fato de que o trabalho do técnico extensionista, muito além da difusão de novas tecnologias e da utilização de práticas pedagógicas diferenciadas, deve refl etir uma postura baseada na comunicação e na participação efetiva de todos os atores envolvidos no processo. Leituras complementares Para saber mais sobre o tema, você pode consultar as seguintes bibliografi as: BROSE, Markus (Org.). Participação na extensão rural: experiências inovadoras de desenvolvimento local. Porto Alegre: Tomo editorial, 2004. 15 Extensão pesqueira A01 FONSECA, Maria Teresa Lousa da. A extensão rural no Brasil: um projeto educativo para o capital. São Paulo: Loyola, 1985. Você também pode acessar o site do órgão ofi cial de assistência técnica e extensão rural do seu Estado e/ou Município, onde encontrará informações sobre a sua atuação no contexto atual. Nesta aula, você teve acesso a informações introdutórias sobre o tema da nossa disciplina, que é extensão pesqueira. Além de um breve histórico sobre o surgimento da extensão rural, a qual está relacionada ao assunto, você pode acompanhar ainda informações sobre os principais modelos de atuação, bem como exemplos e textos para refl exão, no processo de construção do seu próprio conceito sobre o tema. Complete as frases abaixo, utilizando seu próprio vocabulário: 1. Extensão rural pode ser defi nida como 2. Nessecontexto, a extensão pesqueira é 16 Extensão pesqueira A01 Referências AMORESE, Rubem Martins. Comunicação participativa como prática cultural: um enfoque para extensionistas. Brasília: EMBRATER, 1984. BROSE, Markus (Org.). Participação na extensão rural: experiências inovadoras de desenvolvimento local. Porto Alegre: Tomo editorial, 2004. FONSECA, Maria Teresa Lousa da. A extensão rural no Brasil: um projeto educativo para o capital. São Paulo: Loyola, 1985. FREIRE, Paulo. Extensão ou comunicação? 8. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983. FREITAS, Maria Leonice. Conceito de extensão rural e perfi l do extensionista para o estado do Rio Grande do Norte: um estudo délfi co. 164f. 1990. Dissertação (Mestrado) – CPGER, Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 1990. Mimeo. RIBEIRO, José Paulo. A saga da extensão rural em Minas Gerais. Belo Horizonte: Annablume, 2000. 4. O que havia em comum entre o modelo “clássico” de extensão rural e o modelo “difusionista-inovador” era 3. A origem da extensão rural oficial está , durante o período histórico 5. O pensamento de Paulo Freire, que aparece no fi nal desta aula, pode ser traduzido, em poucas palavras, como Soniamar Zschornack Rodrigues Saraiva 02 C U R S O T É C N I C O E M A Q U I C U LT U R A Extensão Rural e Pesqueira no Brasil EXTENSÃO PESQUEIRA Coordenadora da Produção dos Materias Vera Lucia do Amaral Coordenador de Edição Ary Sergio Braga Olinisky Coordenadora de Revisão Giovana Paiva de Oliveira Design Gráfi co Ivana Lima Diagramação Elizabeth da Silva Ferreira Ivana Lima José Antonio Bezerra Junior Mariana Araújo de Brito Arte e ilustração Adauto Harley Carolina Costa Heinkel Huguenin Leonardo dos Santos Feitoza Revisão Tipográfi ca Adriana Rodrigues Gomes Margareth Pereira Dias Nouraide Queiroz Design Instrucional Janio Gustavo Barbosa Jeremias Alves de Araújo Silva José Correia Torres Neto Luciane Almeida Mascarenhas de Andrade Revisão de Linguagem Maria Aparecida da S. Fernandes Trindade Revisão das Normas da ABNT Verônica Pinheiro da Silva Adaptação para o Módulo Matemático Joacy Guilherme de Almeida Ferreira Filho EQUIPE SEDIS | UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE – UFRN Projeto Gráfi co Secretaria de Educação a Distância – SEDIS Governo Federal Ministério da Educação Você ve rá por aqu i... Objetivos 1 Extensão pesqueira A02 Dando continuidade ao conteúdo da nossa disciplina, nesta aula acompanharemos os principais acontecimentos que marcaram a história da extensão rural e pesqueira no Brasil, desde o seu surgimento até os dias atuais. Com base nesse histórico, você será chamado a refl etir sobre a importância da extensão pesqueira para o desenvolvimento dos setores pesqueiro e aquícola em nosso País e qual o seu papel nesse processo como futuro profi ssional da área. Ao fi m da aula, após a autoavaliação, convidamos você a responder a um breve desafi o sobre os objetivos da política da ATER. Conhecer os principais acontecimentos que marcaram a história da extensão rural e pesqueira no Brasil. Estimular a refl exão sobre o papel da extensão pesqueira no Brasil, nos dias atuais. 2 Extensão pesqueira A02 Para começo de conversa... O exercício das atividades de extensão rural e pesqueira no Brasil, hoje, deve levar em consideração o momento histórico em que estamos vivendo, bem como a conexão entre temas aparentemente distintos, como agronegócio, biodiesel, pesca artesanal, agricultura familiar, reforma agrária, sustentabilidade... Algumas imagens que retratam temas ligados ao meio rural, no Brasil contemporâneo A Extensão rural no Brasil A extensão rural no Brasil surge, ofi cialmente, na década de 40, com a criação da Associação de Crédito e Assistência Rural - ACAR/MG, conforme você poderá acompanhar nos parágrafos que seguem. Entretanto, algumas outras iniciativas anteriores à criação da ACAR/MG podem ser incluídas no rol das primeiras experiências em extensão rural e pesqueira no país. 3 Extensão pesqueira A02 Entre elas, a missão do “Cruzador José Bonifácio”, comandada por Frederico Villar, que cruzou o País nos anos de 1919 a 1924, criando as Colônias de Pescadores e levando informações aos pescadores do nosso litoral, e a Semana do Fazendeiro, realizada pela primeira vez em 1929, pela então Escola Superior de Agricultura de Viçosa (atual Universidade Federal de Viçosa), com diversos cursos de extensão e palestras. A Missão do “Cruzador José Bonifácio” Uma das primeiras experiências em extensão rural e pesqueira no Brasil foi liderada pelo Capitão-de-mar-e-guerra Frederico Villar. Após visitar a Europa, os Estados Unidos e o Japão, nos anos de 1909 e 1910, a fi m de conhecer a indústria pesqueira nesses países, realiza, no período de 1919 a 1924 (após a Primeira Guerra Mundial), uma expedição no comando do Cruzador José Bonifácio que percorre o litoral Brasileiro de Belém do Pará à Cidade do Rio Grande, no Rio Grande do Sul, com o objetivo de tornar os pescadores aliados da Marinha para a segurança da costa brasileira. (CALLOU, 2007). Capitão-de- mar-e-guerra Frederico Villar “Nascido em 1875, no RJ, participou de várias missões no exterior como Ofi cial da Marinha Brasileira. Em Pernambuco, co- mandou a Escola de Aprendizes Marinhei- ros de 1903 a 1905. Na Primeira Grande Guerra, participou das operações da Marinha do Brasil contra a Alemanha. Destacou- se como Comandante do Cruzador José Bonifácio do qual fez parte como Chefe do Serviço de Pesca e Saneamento do Litoral, entre 1919 e 1923, quando fundou 800 colônias de pes- cadores. Após servir com o Capitão dos Portos do Estado do Pará, foi promovido ao posto de Capitão-de- Mar-e-Guerra. Quando sobreveio a Revolução de 1930, era chefe do Estado Maior da Armada e, a pedido, passou a Reserva”. Fonte: <http://www.100pctarraialdocabo.com.br/sites/port/index.php?option=com_content&task=view&id=69&Itemid=>. Acesso em: 18 set. 2009. Essa missão resultou na criação de oitocentas colônias, com aproximadamente cem mil pescadores matriculados. Mais de mil escolas de ensino primário foram criadas, além da tentativa de desenvolvimento da instrução profi ssional, o combate à verminose, à malária e ao alcoolismo, a fi scalização da pesca predatória e a nacionalização da pesca no país. Sobretudo, o objetivo maior era incentivar os pescadores à defesa da costa, os quais passaram a ser considerados reservas da Marinha de Guerra. 1Praticando... 4 Extensão pesqueira A02 Para atingir esses resultados, os “extensionistas” da Missão utilizam-se das mais variadas estratégias de comunicação: criaram, em 1920, a revista A Voz do Mar, de circulação nacional, cujas páginas difundiam novos conhecimentos sobre as artes de pesca; criaram hinos, hastearam bandeira; realizaram palestras e atendimento médico; distribuíram remédios e panfl etos informativos; estimularam a reunião de crianças e jovens através do escoteirismo; desenvolveram paradas militares; promoveram jogos de futebol; festas; regatas; raids; liberaram a rampa do Cruzador “José Bonifácio” para visitação pública; entre tantas outras estratégias persuasivas de comunicação que, no trato com os pescadores, se distinguiriam, sobretudo, pela sua verticalidade. Os pescadores foram vistos como meros objetos da ação. A eles, coube seguir as determinações dos ofi ciais (CALLOU, 2007, p. 86). Embora não tenha sido ofi cializada como tal, essa pode ser considerada como uma das primeiras iniciativas, em nível nacional, de extensão rural e pesqueira no Brasil. No texto anterior, você conheceu um pouco da história de fundação das Colônias de Pescadores no Brasil.Procure identifi car, no seu Município, a existência de uma ou mais Colônias de Pescadores, qual a sua sigla e a data de sua fundação. Ela foi criada na Missão do Cruzador José Bonifácio ou surgiu posteriormente? 5 Extensão pesqueira A02 A criação da Associação de Crédito e Assistência Rural – ACAR Seguindo o modelo norte-americano, a institucionalização da extensão rural no Brasil ocorre a partir da experiência da “International Association for Economic and Social Developmen” (AIA), criada em 1939 pela família Rockfeller, a qual iniciou suas atividades nos Municípios de Santa Rita do Passa Quatro e de São José do Rio Pardo, ambos no Estado de São Paulo, entre 1948 e 1956. Em 1948, um convênio entre a AIA e o governo do Estado de Minas Gerais resultou na criação da Associação de Crédito e Assistência Rural (ACAR), cujo objetivo era melhorar as condições de vida no campo por meio do aumento de produtividade das lavouras e educação da família rural. Os instrumentos de ação eram a assistência técnica e o crédito supervisionado (FONSECA, 1985 apud PEIXOTO, 2008). Estava, assim, implantado no Brasil, o modelo clássico americano de extensão rural. Esse modelo inicial, que caracterizou as ações da ACAR, levou à implantação, em vários Estados do país, de diversas associações de crédito semelhantes, o que resultou na necessidade de se instituir uma coordenação em nível nacional. Foi então criada a Associação Brasileira de Crédito e Assistência Rural (ABCAR), em 21/06/1956. As ACAR eram entidades civis, sem fi ns lucrativos, que prestavam serviços de extensão rural e elaboração de projetos técnicos para obtenção de crédito junto aos agentes fi nanceiros. Em cada município onde possuía um escritório, trabalhava-se sempre com uma EQUIPE constituída de um SUPERVISOR AGRÍCOLA (geralmente engenheiro agrônomo), uma SUPERVISORA DOMÉSTICA (moça com instrução especializada em economia doméstica), uma AUXILIAR, que se encarregava dos serviços de escritório, e um JIPE (ACAR, 1955, p. 4 apud FERRAZ; MENDONÇA, 1985, p. 12). Já na década de 70, os governos militares promovem uma grande reforma administrativa, voltada para o fortalecimento dos poderes da União, o que vai resultar na centralização de inúmeros serviços públicos e na criação de empresas estatais. Nesse contexto, é criada a EMBRATER, Empresa Pública Federal, em substituição à ABCAR. Nos estados, as ACAR vão ser substituídas pelas EMATER, que permanecem, em algumas Unidades da Federação, com essa nomenclatura até os dias de hoje. Família Rockfeller Família de industriais norte- americanos, símbolo da prosperidade americana no século XX, cuja fortuna deu origem a fundações científi cas e fi lantrópicas e que teve seu “The End” quando um grupo japonês comprou (1989) o Rockefeller Center, no bairro nova-iorquino de Manhattan. Fonte: <http:// www.brasilescola. com/biografi a/os- rockefeller.htm>. Acesso em: 21 set. 2009. 2Praticando... 6 Extensão pesqueira A02 Fonte: arquivo EMATER/RIO. Fonte: arquivo EMATER/RIO. Pesquise, na Internet, nos sites ofi ciais dos Governos Estaduais brasileiros, e descubra qual o órgão responsável pela ATER em cada Unidade da Federação da sua Região. Em seguida, faça, no quadro abaixo, um breve resumo sobre o histórico de cada um deles (Nome/sigla, ano de fundação, órgão ou secretaria a que está vinculado e principais políticas implementadas). 7 Extensão pesqueira A02 Órgãos responsáveis pelas atividades de Ater Região: Estado Sigla Data de fundação Principais políticas implementadas: Extensão ou Comunicação? A contribuição de Paulo Freire Em 1979, é lançado no Brasil o livro intitulado “Extensão ou Comunicação?”, do educador Paulo Freire, publicado originalmente em 1969, sob o título? Extención o Comunicación?, pelo Instituto Capacitación e Investigación em Reforma Agrária, em Santiago de Chile. Paulo Freire Paulo Freire (Recife, 19 de setembro de 1921 — São Paulo, 2 de maio de 1997) foi um educador brasileiro. Destacou- se por seu trabalho na área da educação popular, voltada tanto para a escolarização como para a formação da consciência. É considerado um dos pensadores mais notáveis na história da pedagogia mundial, tendo infl uenciado o movimento chamado pedagogia crítica. Fonte: <http:// pt.wikipedia.org/wiki/ Paulo_Freire>. Acesso em: 21 set. 2009 3Praticando... 8 Extensão pesqueira A02 Fonte: <http://200.183.137.72/BoletimCRWeb/Figuras/extensao.jpg>. Acesso em: 21 set. 2009. Nesse livro, Paulo Freire analisa o problema da comunicação entre o técnico e o camponês, no processo de extensão rural. Ao fazer uma análise do termo “extensão”, o educador questiona o fato de que esse termo transformaria o camponês em “coisa”, ou objeto de planos de desenvolvimento. Para ele, Conhecer [...] não é o ato através do qual um sujeito transformado em objeto, recebe dócil e passivamente os conteúdos que outro lhe dá ou lhe impõe... O conhecimento, pelo contrário, exige uma presença curiosa do sujeito em face do mundo. Requer sua ação transformadora sobre a realidade. Demanda uma busca constante. Implica invenção e reinvenção [...] (FREIRE, 1983, p. 27). O papel do educador não é o de “encher” o educando de “conhecimento”, de ordem técnica ou não, mas sim o de proporcionar, através da relação dialógica educacador- educando, educando-educador, a organização de um pensamento correto em ambos (FREIRE, 1983, p. 53). Embora tenha sido escrito há mais de três décadas, o livro de Paulo Freire nos traz ensinamentos que podem ser transportados para os dias atuais e continua inspirando extensionistas e educadores, embora muitos ainda pratiquem a extensão rural sem sequer refl etir sobre esses ensinamentos. No espaço abaixo, escreva qual o seu entendimento sobre as duas passagens do texto de Paulo Freire, citadas acima. Em seguida, se possível, insira sua resposta em um fórum de debates na página da disciplina e acompanhe a opinião de seus colegas sobre o tema. 9 Extensão pesqueira A02 A extensão rural no Brasil a partir da década de 90 Após a Constituição de 1988, os serviços de assistência técnica e extensão rural receberam um tratamento específi co na legislação brasileira. Em 17 de janeiro de 1991, foi promulgada a Lei nº 8.171, que dispõe sobre a Política Agrícola, também conhecida como Lei Agrícola, a qual estabelecia, no seu Capítulo V, ações específi cas da Ater. Entretanto, apesar dos avanços na legislação, historicamente a década de 80 representa, para o Brasil, o início do processo de ascensão do ideário neoliberal e da defesa de contenção de gastos públicos. Assim como outros serviços públicos, a extensão rural deixou de ser considerada imprescindível para o país, e o orçamento de diversas Emater passou a depender quase que exclusivamente dos repasses de recursos federais. Em 1990 é extinta a EMBRATER, tendo início um dos períodos mais críticos da extensão rural brasileira desde a sua institucionalização. Por outro lado, cabe mencionar, também, que estudos realizados nesse período apontaram a inefi cácia das ações de Ater, implementadas até então, na tentativa de redução da pobreza no meio rural. ideário neoliberal Doutrina político- econômica que representa uma tentativa de adaptar os princípios do liberalismo econômico às condições do capitalismo moderno [...] Atualmente, o termo vem sendo aplicado àqueles que defendem a livre atuação das forças do mercado, o término do intervencionismo do Estado, a privatização das empresas estatais e até mesmo de alguns serviços públicos essenciais, a abertura da economia e sua integraçãomais intensa no mercado mundial (SANDRONI, 2007, p. 590-591). Fonte: <http://www.brasilescola.com/upload/e/Reforma%20Agraria%20-%20CANAL%20DO%20EDUCADOR.jpg>. Acesso em: 21 set. 2009. 10 Extensão pesqueira A02 Em meados da década de 90, inicia-se uma discussão a respeito da execução de políticas públicas e programas governamentais através do Terceiro Setor, que naquele momento começava a entrar em crise. Isso porque as agências internacionais, até então tendo o Brasil como uma de suas prioridades, começaram a voltar sua ajuda fi nanceira para países do Leste Europeu e do Terceiro Mundo com renda per capita abaixo da brasileira. Também nos anos 90, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra e o movimento sindical de trabalhadores rurais (organizados na Confederação Nacional de Trabalhadores da Agricultura – CONTAG) desenvolveram ações dando legitimidade política a estudos acadêmicos que propunham uma nova categoria de análise: o de agricultura familiar. O conceito de agricultura familiar passaria então a infl uenciar as políticas públicas no restante dos anos 90, com a intensifi cação das ações de Reforma Agrária e de fortalecimento dessa categoria de produtores rurais (PEIXOTO, 2008). E são esses movimentos que vão subsidiar a criação, em 2003, do Departamento de Assistência Técnica e Extensão Rural (DATER), o qual irá articular a construção da Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (PNATER) cuja fundamentação teórica representa um avanço e uma ruptura com os modelos de ATER praticados no País até então. No caso específi co da extensão pesqueira e aquícola, a criação da Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca (SEAP/PR), ainda em 2003, representa um marco para o desenvolvimento de políticas públicas voltadas a esses setores, incluindo a coordenação de programas e atividades de Ater. [...] em 1º de janeiro de 2003, o Governo editou a Medida Provisória 103, hoje Lei 10.683, na qual foi criada a Secretaria Especial da Aquicultura e Pesca - SEAP, ligada à Presidência da República. A SEAP/PR tem status de Ministério e atribuições para formular a política de fomento e desenvolvimento para a aquicultura e pesca no Brasil, permanecendo a gestão compartilhada do uso dos recursos pesqueiros com o Ministério do Meio Ambiente. A SEAP foi criada para atender uma necessidade do setor pesqueiro, na perspectiva de fomentar e desenvolver a atividade, no seu conjunto, nos marcos de uma nova política de gestão e ordenamento do setor, mantendo o compromisso com a sustentabilidade ambiental (SEAP/PR, 2003, extraído da Internet). Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural – PNATER A PNATER é uma política nacional, construída de forma democrática, a partir da criação, em 2003, do Departamento de Ater (DATER), da Secretaria da Agricultura Familiar (SAF), do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), que passou a coordenar as atividades Agricultura Familiar “[...] Na exploração familiar, a família é a principal fonte de mão de obra. A exploração do solo tende a ser intensiva, e os produtos são, em sua maioria, consumidos internamente. Por vezes, recorre-se ao arrendamento, à parceria e a outras formas de produção” (SANDRONI, 2007, p. 780). Terceiro Setor “Expressão ainda não muito difundida, que vem sendo aplicada às atividades que reúnem entidades sem fi ns lucrativos e que trabalham para melhorar a qualidade de vida da população, seja na área da educação, saúde, cultura ou proteção do meio ambiente. A classifi cação de Terceiro Setor decorre de designar- se como primeiro o setor público e, segundo o setor privado.” (SANDRONI, 2007, p. 837). 11 Extensão pesqueira A02 de assistência técnica e extensão rural, em nível nacional. Veja, abaixo, os principais objetivos contidos no documento: você poderá ter acesso ao mesmo, na íntegra, acessando o endereço eletrônico disponível na seção “Leituras complementares”. 4.2.1. Objetivo Geral: Estimular, animar e apoiar iniciativas de desenvolvimento rural sustentável, que envolvam atividades agrícolas e não agrícolas, pesqueiras, de extrativismo e outras, tendo como centro o fortalecimento da agricultura familiar, visando à melhoria da qualidade de vida e adotando os princípios da Agroecologia como eixo orientador das ações. 4.2.2. Objetivos Específi cos: Contribuir para a melhoria da renda, da segurança alimentar e da diversifi cação da produção, para a manutenção e geração de novos postos de trabalho, em condições compatíveis com o equilíbrio ambiental e com os valores socioculturais dos grupos envolvidos. Potencializar processos de inclusão social e de fortalecimento da cidadania, por meio de ações integradas, que tenham em conta as dimensões: ética, social, política, cultural, econômica e ambiental da sustentabilidade. Estimular a produção de alimentos sadios e de melhor qualidade biológica, a partir do apoio e assessoramento aos agricultores familiares e suas organizações para a construção e adaptação de tecnologias de produção ambientalmente amigáveis e para a otimização do uso e manejo sustentável dos recursos naturais. Desenvolver ações que levem à conservação e recuperação dos ecossistemas e ao manejo sustentável dos agroecossistemas, visando assegurar que os processos produtivos agrícolas e não agrícolas evitem danos ao meio ambiente e riscos à saúde humana e animal. Incentivar a construção e consolidação de formas associativas que, além de criar melhores formas de competitividade, sejam geradoras de laços de solidariedade e fortaleçam a capacidade de intervenção coletiva dos atores sociais como protagonistas dos processos de desenvolvimento rural sustentável. Fortalecer as atuais articulações de serviços de Ater e apoiar a organização de novas redes e arranjos institucionais necessários para ampliar e qualifi car a oferta de serviços de Ater, visando a alcançar patamares crescentes de sustentabilidade econômica e socioambiental. 4Praticando... 12 Extensão pesqueira A02 Promover a valorização do conhecimento e do saber local e apoiar os agricultores familiares e demais públicos da extensão rural no resgate de saberes capazes de servir como ponto de partida para ações transformadoras da realidade. (BRASIL, 2004, p. 9-10). Como você pode observar, os objetivos da PNATER contemplam uma série de ações diferenciadas e representam uma ruptura com o antigo modelo de Ater praticado pelos organismos estatais em nosso País. Essa Política pretende contribuir para uma ação institucional capaz de implantar e consolidar estratégias de desenvolvimento rural sustentável, estimulando a geração de renda e de novos postos de trabalho. Entre os pilares fundamentais que sustentam a Política Nacional de Ater, destaca- se o respeito à pluralidade e às diversidades sociais, econômicas, étnicas, culturais e ambientais do país, o que implica na necessidade de incluir enfoques de gênero, de geração, de raça e de etnia nas orientações de projetos e programas. Sobretudo, cabe enfatizar que a busca da inclusão social da população rural brasileira mais pobre será elemento central de todas as ações orientadas pela Política Nacional de Ater (MDA, 2005, extraído da Internet). Os objetivos da atual Política, descritos acima, sem dúvida extrapolam o modelo clássico de extensão rural como mera transferência de novas tecnologias. Observe as situações descritas abaixo e procure identifi car qual(is) dos objetivos descritos acima estaria(m) contemplado(s) em cada uma delas: a) Viveiros coletivos para grupos de 5 famílias, onde são cultivadas espécies regionais para consumo próprio. A construção dos viveiros é realizada através de mutirões, eas atividades de manutenção dos mesmos são divididas entre as famílias. Objetivos contemplados: contribuir para a melhoria da segurança alimentar; incentivar a construção e consolidação de formas associativas. 13 Extensão pesqueira A02 b) Cursos práticos de formação em construção naval para filhos de pescadores e jovens da comunidade, envolvendo, como instrutores, “mestres” da própria comunidade, ou seja, pessoas idosas com experiência prática na construção de embarcações, em parceria com professores de um Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia. Objetivos contemplados: c) Realização de encontros envolvendo pescadores de diversas comunidades para conhecer exemplos e estudar alternativas de recuperação de áreas degradadas nas margens dos rios, bem como métodos de fi scalização e substituição de artes de pesca consideradas predatórias. Objetivos contemplados: O papel da extensão rural e pesqueira no Brasil atual Para entendermos qual o papel da extensão rural e pesqueira no Brasil atual, precisamos primeiramente nos situar sobre o papel do “meio rural” no Brasil. Embora seja considerado um país urbano, e os censos têm demonstrado que mais de 80% da população brasileira vive nas cidades, ainda assim devemos considerar que mais de 80% dos Municípios Brasileiros apresentam uma baixa densidade populacional e são de caráter essencialmente rural (BROSE, 2004). Nesse sentido, quando falamos em “rural” não estamos falando necessariamente em “agrícola”, mas em todas as atividades produtivas (indústria, serviços, lazer etc.) relacionadas a um determinado espaço territorial (que pode ser um Município, por exemplo). 14 Extensão pesqueira A02 É do conhecimento de todos que o nosso País, a despeito de suas riquezas naturais e dos números sempre crescentes do seu Produto Interno Bruto – PIB, é também campeão quando o tema passa a ser desigualdade social. E se as grandes cidades representam o símbolo da riqueza e do progresso, é no meio rural que a pobreza se apresenta de forma mais intensa. É também no meio rural que vai se encontrar a mão de obra barata para suprir os postos de trabalho menos qualifi cados, nas grandes cidades. Em outras palavras, onde você imagina que um cidadão teria mais facilidade em frequentar boas escolas? Teria acesso a serviços de saúde? À Internet? À rede de esgotos e água tratada? Seria numa grande cidade ou no meio rural? Por outro lado, embora envolva atividades diferenciadas, é no meio rural que ocorre a produção primária do País, principal responsável pelas exportações brasileiras. A grande quantidade de terras e as riquezas naturais também fazem do Brasil uma grande promessa para suprir a demanda de outros países na recentemente anunciada crise mundial de alimentos. E qual o papel da ATER nesse contexto? O técnico extensionista deverá “convencer” essas pessoas a produzirem mais para suprir as necessidades do mercado ou atuar com um enfoque “participativo”, problematizando e deixando que elas mesmas decidam quais caminhos desejam percorrer e quais as melhorias que desejam alcançar para a própria qualidade de vida? A Extensão Rural pública deve priorizar a relação entre agricultores e agentes de Ater, criando novas possibilidades de resgate dos conhecimentos locais e de participação consciente nas mudanças necessárias nos níveis político, social, ambiental, econômico, cultural e ético. Além disso, deve estimular o estabelecimento de laços de solidariedade no meio rural. Desse modo, o uso de metodologias persuasivas e difusionistas está ultrapassado. Esse tipo de intervenção não é compatível com o estilo de atuação dos profi ssionais de uma nova extensão. O novo enfoque de Ater requer que o agente esteja preparado para utilizar técnicas e instrumentos participativos que permitam o estabelecimento de negociações e a ampliação da capacidade de decisão dos grupos sobre sua realidade. Graças à troca de conhecimentos e de saberes empíricos e científi cos, técnicos e agricultores poderão elaborar um conhecimento novo que lhes permitirá fazer opções tecnológicas e não tecnológicas, adequadas às condições locais. A ação extensionista deve criar condições objetivas para ajudar no fortalecimento da cidadania, na efetiva participação dos atores nas decisões e na melhoria da qualidade de vida das populações rurais (CAPORAL; RAMOS, 2006, p. 6-7). produção primária Produção primária: “Uma das classifi cações mais correntes das atividades produtivas foi originalmente proposta por Colin Clark. De acordo com essa formulação, existem três setores básicos na economia de um País. O setor primário reúne as atividades agropecuárias e extrativistas (vegetais e minerais). O setor secundário engloba a produção física por meio da transformação de matérias-primas, realizada pelo trabalho humano com o auxílio de máquinas e ferramentas; inclui toda a produção fabril, a construção civil e a geração de energia. O setor terciário abrange os serviços em geral: comércio, armazenagem, transportes, sistema bancário, saúde, educação, telecomunicações, fornecimento de energia elétrica, serviços de água e esgoto e administração pública [...]” (SANDRONI, 2007, p. 768-769). Para saber mais... Até aqui, acompanhamos a evolução da extensão rural e pesqueira no Brasil, desde a sua institucionalização até os dias atuais. E por falar em dias atuais, você sabe quais são as ações em extensão rural e pesqueira que estão sendo implementadas no seu Município e/ou Região? Que tal verifi carmos isso através de uma pesquisa? Veja a atividade abaixo. 5Praticando... 15 Extensão pesqueira A02 Faça uma visita ao Órgão responsável pela Extensão rural no seu Município e/ou Região, ou pesquise o site ofi cial do mesmo, na Internet, e procure responder às seguintes perguntas: 1. Qual o nome e a sigla do Órgão visitado e qual a esfera de atuação (federal, estadual, municipal)? 2. Quantas pessoas trabalham diretamente em atividades de extensão rural e qual a sua formação? 3. Existe algum trabalho específi co em extensão pesqueira? 4. Quais as principais atividades realizadas? 5. Quais os principais problemas enfrentados pelos extensionistas? 6. Existem técnicos em pesca e/ou aquicultura trabalhando na Instituição? Quantos? 16 Extensão pesqueira A02 7. Qual a principal fonte de recursos da Instituição? 8. Na opinião do entrevistado, existe carência de técnicos na Instituição? 9. Você consegue identifi car o modelo teórico do trabalho desenvolvido pela Instituição? Qual é? 10. Observações Leituras complementares PEIXOTO, Marcus. Extensão rural no Brasil: uma abordagem histórica da legislação. Textos para Discussão, Brasília, n. 48, out. 2008. Disponível em: <http://www.senado. gov.br/conleg/textos_discussao/texto48-marcuspeixoto.pdf>. Acesso em: 21 set. 2009. Para ampliar seus conhecimentos sobre a história da extensão rural no Brasil. BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Agrário. Secretaria da Agricultura Familiar. Departamento de Assistência Técnica e Extensão Rural. Política nacional de assistência técnica e extensão rural. Brasília, 2004. Disponível em: <http://www. mda.gov.br/saf/arquivos/0878513433.pdf>. Acesso em: 21 set. 2009. Para saber mais sobre a Política nacional de Assistência Técnica e extensão Rural (PNATER), consulte o documento, na íntegra. DEPARTAMENTO DE ASSISTÊNCIA TÉCNICA E EXTENSÃO RURAL – DATER. Disponível em: <http://www.pronaf.gov.br/dater>. Acesso em: 21 set. 2009. E para ter acesso a outros artigos e textos publicados por especialistas no assunto, consulte o site do MDA, no endereço eletrônico anterior. 17 Extensão pesqueira A02 Você acompanhou alguns acontecimentoshistóricos importantes na trajetória da extensão rural e pesqueira no Brasil, desde a missão do “cruzador José Bonifácio”, em 1919, até a criação da Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural, em 2003, e pode identifi car, ao longo desse processo, a influência do contexto político e social na definição de políticas e na implementação das ações de Ater. Finalizando, uma breve contextualização sobre a importância da extensão rural e pesqueira para o Brasil atual, tema esse que será retomado na nossa próxima aula. Até lá. E então, vamos avaliar nossos conhecimentos? Procure responder, com suas palavras, aos questionamentos abaixo: 1. Quais foram os principais marcos institucionais da extensão rural no Brasil, desde a sua institucionalização até os dias atuais? 2. Qual o período considerado crítico para a extensão rural no Brasil e por quê? 3. Qual o diferencial da PNATER, em relação a outras políticas de ATER já implementadas no Brasil? 18 Extensão pesqueira A02 4. Como você interpreta o papel da extensão rural e pesqueira no Brasil, nos dias atuais? Desafi o No texto que fala da PNATER, você teve acesso a algumas informações, bem como aos principais objetivos dessa Política coordenada pelo DATER. Para ampliar seus conhecimentos, pesquise no site do MDA, disponível no endereço eletrônico <http://www.pronaf.gov.br/dater> e escolha dois programas atualmente em execução, para implementação da política de ATER. No espaço abaixo, descreva quais são e como funcionam. 2. 1. 19 Extensão pesqueira A02 Referências BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Agrário. Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural. Brasília, DF: SAF/Dater, 2004. BROSE, Markus (Org.). Participação na extensão rural: experiências inovadoras de desenvolvimento local. Porto Alegre: Tomo editorial, 2004. CALLOU, A. B. F. Extensão rural: polissemia e memória. Recife: Bagaço, 2007. CAPORAL, F. R.; RAMOS, L. S. Da extensão rural convencional à extensão rural para o desenvolvimento sustentável: enfrentar desafi os para romper a inércia. Brasília, 2006. No prelo. Disponível em: <http://www.pronaf.gov.br/dater/arquivos/0730612392.pdf>. Acesso em: 18 set. 2009. FONSECA, Maria Teresa Lousa da. A Extensão Rural no Brasil: um projeto educativo para o capital. São Paulo: Loyola, 1985. FREIRE, Paulo. Extensão ou comunicação? 8. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983. MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO – MDA. Política Nacional de ATER e outros Documentos Pertinentes. 2005. Disponível em: <http://www.pronaf.gov.br/dater/index. php?sccid=97>. Acesso em: 21 set. 2009. PEIXOTO, Marcus. Extensão rural no Brasil: uma abordagem histórica da legislação. Textos para Discussão, Brasília, n. 48, out. 2008. Disponível em: <http://www.senado. gov.br/conleg/textos_discussao/texto48-marcuspeixoto.pdf>. Acesso em: 21 set. 2009. SANDRONI, P. Dicionário de Economia do Século XXI. 3. ed. Rio de Janeiro: Record, 2007. SECRETARIA ESPECIAL DA AQUICULTURA E PESCA – SEAP. Histórico da SEAP. 2003. Disponível em: <http://tuna.seap.gov.br/seap/html/sobre_secretaria/historico_main. html>. Acesso em: 21 set. 2009. Anotações 20 Extensão pesqueira A02 Soniamar Zschornack Rodrigues Saraiva 03 C U R S O T É C N I C O E M A Q U I C U LT U R A Técnico Extensionista: qual o melhor perfi l? EXTENSÃO PESQUEIRA Coordenadora da Produção dos Materias Vera Lucia do Amaral Coordenador de Edição Ary Sergio Braga Olinisky Coordenadora de Revisão Giovana Paiva de Oliveira Design Gráfi co Ivana Lima Diagramação Elizabeth da Silva Ferreira Ivana Lima José Antonio Bezerra Junior Mariana Araújo de Brito Arte e ilustração Adauto Harley Carolina Costa Heinkel Huguenin Leonardo dos Santos Feitoza Revisão Tipográfi ca Adriana Rodrigues Gomes Margareth Pereira Dias Nouraide Queiroz Design Instrucional Janio Gustavo Barbosa Jeremias Alves de Araújo Silva José Correia Torres Neto Luciane Almeida Mascarenhas de Andrade Revisão de Linguagem Maria Aparecida da S. Fernandes Trindade Revisão das Normas da ABNT Verônica Pinheiro da Silva Adaptação para o Módulo Matemático Joacy Guilherme de Almeida Ferreira Filho EQUIPE SEDIS | UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE – UFRN Projeto Gráfi co Secretaria de Educação a Distância – SEDIS Governo Federal Ministério da Educação Você ve rá por aqu i... 1 Extensão pesqueira A03 Objetivos Dando continuidade à nossa disciplina, nesta aula você conhecerá alguns dos principais requisitos desejáveis no perfi l do técnico extensionista nos dias atuais. Retomando alguns dos temas iniciados na aula anterior, vamos refl etir juntos sobre a sua responsabilidade como futuro profi ssional e quais os caminhos possíveis para um bom desempenho como profi ssional da área. Articular informações referentes a modifi cações no espaço agrário/pesqueiro à atuação do técnico extensionista. Refletir sobre a atuação do técnico extensionista no desenvolvimento dos setores pesqueiro e aquícola no Brasil. 2 Extensão pesqueira A03 Para começo de conversa... Dizem que uma imagem vale mais que mil palavras. O que você acha que esta está querendo dizer? Fonte: <http://www.objetosdedesejo.com/uploaded_images/fl yclockx-732951.gif>. Acesso em: 18 set. 2009. É, o tempo não para e nem espera ninguém. A cada dia, acontecimentos históricos, novas descobertas da ciência, mudanças políticas e ambientais, entre tantos outros fatores, infl uenciam e transformam a realidade que nos cerca. Para ser um bom profi ssional, não basta lembrar o que os professores nos ajudaram a descobrir um dia. O aprendizado profi ssional é uma conquista diária, num ambiente onde os desafi os se renovam a cada momento. 3 Extensão pesqueira A03 Técnico Extensionista: qual o melhor perfi l? O tema desta aula não tem a pretensão de dar a você uma “receita” - e nem poderia - de atuação como profi ssional. Nosso objetivo aqui é apresentar premissas básicas e proporcionar a refl exão sobre elas, como a ética profi ssional, o foco na comunicação e participação e no desenvolvimento local, que entendemos ser os caminhos mais viáveis para o atual momento vivido pela profi ssão. Como vimos na aula anterior, é preciso entender, também, que os modelos de Assistência Técnica e extensão Rural (ATER) apresentados há décadas, quando da institucionalização dessas atividades no Brasil, foram exercidos por muitos profi ssionais que acreditaram e dedicaram-se a esse trabalho por ser a única opção que lhes fora apresentada até o momento, ou por não terem tido a oportunidade de refl etir sobre o resultado das próprias ações em função da estrutura hierárquica a que estavam submetidos. Muitos deles, porém, refletiram e avançaram na sua prática, atualizaram seus conhecimentos e continuam exercendo a profi ssão, agora com outra perspectiva. Assim como eles, o técnico extensionista em formação, nos dias atuais, deverá atuar de forma consciente, sem ignorar a perspectiva histórica, que poderá levá-lo a escolher outros caminhos no futuro. Em outras palavras, não se pode dar as costas ao tempo, porque ele “voa”. Esta aula diz respeito a você como futuro profi ssional, cuja formação depende, além do seu aprendizado, também da sua vocação, do seu interesse pelo tema. Como vimos na primeira aula desta disciplina, a extensão pesqueira é uma das atribuições que pode ser exercida pelo técnico em pesca/aquicultura. E, independente da profi ssão que você escolheu, é importante fazer aquilo de que se gosta. Se, para o bom exercício de qualquer profi ssão, não se pode ter como único objetivo a recompensa fi nanceira, no caso específi co da extensão, fatores como motivação e comprometimento se tornam essenciais. 1Praticando... 4Extensão pesqueira A03 O texto anterior tem como objetivo levá-lo a refl etir sobre a importância do interesse e dedicação de cada profi ssional pela atividade de extensão. Procure formar uma opinião sobre o tema, respondendo ás perguntas abaixo, e participe do fórum, debatendo com seus colegas sobre o tema: 1. Você já foi “mal atendido” por algum profissional? Qual foi a sua sensação? 2. No caso do exemplo acima, você acredita que a insatisfação do profi ssional com a atividade desenvolvida por ele pode ter motivado esse comportamento? 3. E você, considera-se com “perfi l” para atuar como técnico extensionista? 4. Como você imagina que seriam as atividades desenvolvidas por você, nessa profi ssão? Extensão Rural e Pesqueira no Brasil Na aula passada, fi zemos um retrospecto sobre a história das atividades de ATER no Brasil, desde a experiência de Frederico Villar, em 1919, até os dias atuais. Em resumo, os serviços de Assistência Técnica e Extensão Rural – ATER iniciaram ofi cialmente no Brasil no fi nal da década de quarenta, período pós-guerra, com o objetivo de promover a melhoria das condições de vida da população rural e apoiar o processo de modernização da agricultura, seguindo o modelo norteamericano. O marco histórico de implantação da ATER no país foi a criação, em 1948, da Associação de Crédito e Assistência Rural (ACAR), resultado de um convênio entre uma agência americana, a International Association for Economic and Social Development (AIA), e o governo do Estado de Minas Gerais. 5 Extensão pesqueira A03 Em 1956, com o apoio do presidente Juscelino Kubitschek, foi criada a Associação Brasileira de Crédito e Assistência Rural (ABCAR), constituindo-se, então, um Sistema Nacional articulado com Associações de Crédito e Assistência Rural nos estados. Na década de 70, uma iniciativa dos governos militares “estatizou” o serviço, implantando o Sistema Brasileiro de Assistência Técnica e Extensão Rural – Sibrater, coordenado pela Embrater e executado pelas empresas estaduais de ATER nos estados, denominadas Emater. Cabe ressaltar que, naquela época, a participação do Governo Federal chegou a representar, em média, 40% do total dos recursos orçamentários da Emater, alcançando até 80%, em alguns estados. Com a extinção da Embrater, em 1990, foi desativado o Sibrater e, apesar das tentativas de coordenação nacional por meio da Embrapa e, posteriormente, pelo Ministério da Agricultura, a Emater fi cou à mercê das decisões e políticas dos Governos Estaduais. Esse período é considerado um dos mais críticos na história das atividades de ATER no País. No caso da Extensão Pesqueira, esses serviços foram quase que completamente eliminados. Alguns Estados buscaram reestruturar os serviços de ATER, dando-lhes diversas formas institucionais e criando novos mecanismos de financiamento e operacionalização. Nesse mesmo período, surgiram iniciativas de outros atores, incluindo as organizações não-governamentais, entre outras. Na esfera legislativa, tanto a Constituição Federal de 1988 quanto a Lei Agrícola de 1991 determinam que a União mantenha serviços de ATER pública e gratuita para os pequenos agricultores. Esse compromisso foi resgatado pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), através da Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (PNATER), pautada em novos paradigmas, incorporando conceitos como a gestão participativa, agricultura familiar, agroecologia, desenvolvimento sustentável e desenvolvimento local (MDA/PNATER, 2004). A gestão participativa, como o próprio nome já diz, requer a participação ativa dos homens e mulheres do campo em todas as etapas, incluindo a discussão de problemas, alternativas de solução, planejamento, formulação e execução de projetos, no sentido de torná-los autores no processo de transformação da própria realidade. A base desse trabalho é o diálogo, contrapondo-se ao antigo paradigma de “repasse de conhecimentos”. Como vimos na aula anterior, o termo agricultura familiar vem sendo utilizado no sentido de defi nir propriedades rurais que têm a própria família como principal fonte de mão- de-obra. Entre outras características, observa-se, ainda, a diversifi cação da produção e o uso intensivo do solo. Esse conceito se contrapõe, por exemplo, com o conceito de “agronegócio”, representado, nesse caso, por grandes propriedades totalmente mecanizadas, especializadas em um único cultivo (a soja, por exemplo), onde todo o trabalho de exploração da terra é feito por empregados, muitos dos quais nem conhecem pessoalmente o proprietário. 2Praticando... 6 Extensão pesqueira A03 O conceito de agroecologia, difundido no Brasil a partir da década de 80, tem como premissa a prática de uma agricultura “limpa”, ou seja, livre de agrotóxicos, envolvendo o conhecimento tecnológico com a sabedoria popular sobre os ecossistemas, representando um modelo socialmente justo, economicamente viável e ecologicamente sustentável, contrapondo-se à agricultura convencional. Quando o assunto é desenvolvimento sustentável, estamos falando de uma concepção de desenvolvimento que não contemple apenas a esfera econômica, mas também o social e o ambiental. Em outras palavras, é pensar o desenvolvimento hoje, de forma que os resultados do mesmo não venham a comprometer o desenvolvimento das gerações futuras. Já o desenvolvimento local diz respeito a um modelo de desenvolvimento sustentável baseado nas potencialidades locais, ou seja, é a partir da realidade e das potencialidades do “local” que são pensadas e construídas, de forma participativa, as alternativas de desenvolvimento, traduzidas na melhoria da qualidade de vida de todos os envolvidos. Nas nossas próximas aulas, teremos a oportunidade de debater e aprofundar esse e outros conceitos. Finalizando, cabe ressaltar, no caso específi co da pesca e da aquicultura, a criação, ainda em 2003, da Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca (SEAP), com status de Ministério e vinculada à Presidência da República. A SEAP passou a ser o Órgão responsável pelas ações do governo federal voltadas ao desenvolvimento da pesca e da aquicultura no País, incluindo a operacionalização da PNATER, no que diz respeito a esses dois setores produtivos. Você acompanhou, no texto acima, um resumo da história das atividades de ATER no Brasil, onde são citados alguns conceitos que fazem parte da atual Política Nacional, a PNATER. Defi na, com suas palavras, esses conceitos. Para auxiliá-lo nessa tarefa, você pode pesquisar na Internet, no site do MDA, artigos e textos voltados para esses temas. O endereço eletrônico é <http://www.pronaf.gov.br>. Agricultura familiar: 7 Extensão pesqueira A03 Agroecologia: Desenvolvimento sustentável Desenvolvimento local: Gestão participativa: 8 Extensão pesqueira A03 Técnico Extensionista: Agente de Desenvolvimento Local Técnico extensionista: agente de desenvolvimento local. Você sabe o que isso signifi ca, na prática? Essa é a terceira aula em que falamos especifi camente de extensão rural e pesqueira. Falamos da sua história, de modelos de atuação que não surtiram os efeitos desejados e de novas perspectivas para a profi ssão. Mas afi nal, como isso se apresenta no dia-a-dia técnico extensionista? “Num espaço agrário marcado pela exclusão social e reconfi gurado pelas formas associadas de produção agrícola e não agrícolas locais como estratégia de combate à pobreza rural, cabe aos extensionistas assumirem hoje o papel de gestores do desenvolvimento local e não mais de difusores de inovações tecnológicas agropecuárias e pesqueiras.” (CALLOU, 2003, p. 4). Nas aulas 12 a 15 desta disciplina, trataremos especifi camente da temática “desenvolvimento local”, portanto não vamos nos aprofundar no assunto nesta aula. Entretanto, é importante que,ao refl etir sobre o perfi l profi ssional do técnico extensionista nos dias atuais, você possa entender o signifi cado e a diferença entre esses dois modelos de atuação. “[...] Quando se fala em desenvolvimento local, é preciso discutir o conceito, que muda ao longo da história. Durante muito tempo, as pessoas foram levadas a pensar que era uma questão apenas de desenvolvimento econômico. Com o tempo, percebeu- se que o desenvolvimento econômico é um componente necessário, mas não é o sufi ciente... Cada vez mais o conceito se distancia de progresso material ilimitado e se aproxima da ideia de assegurar a qualidade de vida e o progresso material dentro dos limites naturais – apontados pelo pensamento ambientalista que nos ajudou a enxergar isso.” (PAULA, 2006, p. 27-28). De um lado, a difusão de novas tecnologias e, de outro, o agente de desenvolvimento local. Vamos ver como isso se daria na prática, através das situações descritas abaixo: 3Praticando... 9 Extensão pesqueira A03 José trabalha como Técnico em Pesca na prefeitura de um pequeno Município. O atual prefeito pretende cumprir uma de suas promessas de campanha, que é aumentar em 50% a produção de pescado do Município, fi nanciando apetrechos de pesca e um GPS (sistema de posicionamento global) para cada grupo de 5 pescadores, a fi m de facilitar a localização dos cardumes e aumentar a produtividade. José é o responsável pelo cadastro dos pescadores que desejam ter acesso aos fi nanciamentos e também oferece treinamento na utilização do GPS pelos pescadores. Ele não tem certeza se a estratégia do Prefeito vai dar certo, também não questiona a taxa de juros que os pescadores terão de pagar sobre os valores fi nanciados e nem tampouco as consequências do aumento nas capturas para a manutenção dos estoques pesqueiros. João também trabalha como Técnico em Pesca na prefeitura de um pequeno Município. Lá, a produção pesqueira também não vai bem, e os pescadores reclamam dos baixos volumes capturados. Desde que iniciou seu trabalho, João procurou conhecer as principais lideranças e conversa muito com os pescadores do Município. Utilizando uma metodologia que prioriza o diálogo e a participação entre os membros do grupo, desenvolveu, junto com eles, um diagnóstico da situação atual, apontando as causas e possíveis soluções para o problema da pesca no Município. João observou que a falta de vegetação em alguns pontos das margens do rio que corta o Município pode ser um dos fatores que vem contribuindo para a redução dos estoques. Observou ainda que a forma de manuseio do pescado nas embarcações contribui para a baixa qualidade do mesmo, o que diminui os preços e provoca desperdício. João também prestou atenção no “festival do pirapá”, um peixe típico da Região. São três dias de festa, atraindo pessoas dos Municípios vizinhos, e envolve uma série de danças e manifestações culturais. O resultado das conversas, das observações e do diagnóstico realizado foi transformado num projeto, num trabalho conjunto que uma comissão, eleita e formada por pescadores, acompanhados por João, vai apresentar ao Prefeito do Município.. Não é um projeto caro, e nem envolve grandes fi nanciamentos, mas todos estão animados e querem participar. E então, deu para perceber a diferença? Enquanto José operacionaliza um projeto com soluções vindas de fora, João procura construir caminhos a partir da realidade e das potencialidades locais, identifi cadas pela própria população. De um lado, há o cumprimento de tarefas. Do outro, há comprometimento. Vamos praticar? Suponha que você foi contratado pela mesma Prefeitura que contratou João e, tendo como base as informações descritas no parágrafo acima , descreva, no espaço abaixo, uma sugestão sobre o que você poderia fazer, na prática, para iniciar um trabalho pautado pela ação participativa 10 Extensão pesqueira A03 O trabalho do técnico extensionista nos dias atuais: avanços e difi culdades na implementação da PNATER A nova política de ATER no Brasil, em execução pelo MDA, trouxe consigo muitos avanços, ao preconizar a promoção do desenvolvimento rural sustentável, com ênfase na utilização de métodos participativos e de um paradigma tecnológico baseado nos princípios da Agroecologia. Por outro lado, trouxe também o desafi o da sua implementação por instituições e profi ssionais nem sempre preparados e/ou com condições de abraçar essa tarefa. Se no modelo anterior cabia ao profi ssional de ATER repassar informações tecnológicas com o objetivo de aumentar a produção a qualquer custo, o atual modelo requer uma nova postura profi ssional, baseada no diálogo e na participação. Isso requer, além da capacitação técnica da equipe de profi ssionais envolvidos, o tempo e os recursos necessários para que esse processo se dê, de fato, o que não pode ocorrer sem um planejamento e/ou com uma sobrecarga de atendimentos, limitando o tempo disponível do técnico extensionista com cada grupo. E se o modelo anterior não conseguiu lograr êxito na redução da pobreza no meio rural, deixou como herança problemas atuais, como a concentração da terra, o êxodo rural, a baixa escolaridade para o desenvolvimento local. Não se esqueça de inserir suas sugestões no fórum e dividir suas opiniões com os colegas. 11 Extensão pesqueira A03 no campo, a redução da biodiversidade, poluição, contaminação dos alimentos e exclusão social. Por outro lado, cabe à Pnater servir como referencial para os Estados, o que ocorre na orientação de convênios e contratos do MDA com as entidades governamentais e não-governamentais, mas que não garante, de forma efetiva, que a adoção das velhas práticas não continue sendo adotada no campo. [...] as entidades de Ater ainda carecem de uma gestão compatível com os novos desafi os; faltam-lhes estratégias diferenciadas em sua forma de atuação junto ao público benefi ciário, bem como uma nova visão do papel e do perfi l dos extensionistas... O novo enfoque de Ater requer que o agente esteja preparado para utilizar técnicas e instrumentos participativos que permitam o estabelecimento de negociações e a ampliação da capacidade de decisão dos grupos sobre sua realidade. (CAPORAL; RAMOS, 2006, p. 5-7). Nesse processo, o agente de Ater, para além de um simples técnico, é também o mediador nos processos de desenvolvimento. Isso requer, além de uma sólida formação na área que lhe é de competência, conhecimentos básicos em outras áreas e a capacidade de articulação para buscar parcerias com profi ssionais de diversos ramos que possam contribuir para o desenvolvimento de seu trabalho com qualidade. Mas, como avaliar a qualidade de um trabalho que envolve tantos fatores subjetivos? Caporal e Ramos (2006), apresentam alguns exemplos de indicadores a serem acompanhados em cada grupo atendido, seguindo os princípios da Pnater e do desenvolvimento sustentável: a) indicadores do processo de transição agroecológica: redução do uso de insumos químicos sintéticos, melhorias no solo, uso de tecnologias de base ecológica (inseticidas biológicos, adubos orgânicos, etc.), redução de impactos ambientais (erosão do solo, redução das queimadas, proteção das nascentes, etc.), diversifi cação de cultivos, aumento da biodiversidade nos agroecossistemas (plantas de coberturas, plantas companheiras, corredores ecológicos, SAF, etc.), melhorias das relações ecológicas entre solo, planta e animais (presença de inimigos naturais, micorrizas, fungos entomófogos, etc.); b) indicadores sociais: melhoria na alimentação das famílias, tomada de decisões sobre os recursos da família (uso da mata, sementes, decisão sobre aplicação de recursos fi nanceiros, etc.), participação dos jovens e das mulheres nas decisões, acesso a sistemas de saúde e previdência, uso de plantas medicinais, condições de moradia, disponibilidade de água potável,
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