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EXTENSÃO PESQUEIRA-TÉCNICO EM AQUICULTURA

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C U R S O T É C N I C O E M A Q U I C U LT U R A
Introdução
EXTENSÃO PESQUEIRA
Soniamar Zschornack Rodrigues Saraiva
Coordenadora da Produção dos Materias
Vera Lucia do Amaral
Coordenador de Edição
Ary Sergio Braga Olinisky
Coordenadora de Revisão
Giovana Paiva de Oliveira
Design Gráfi co
Ivana Lima
Diagramação
Elizabeth da Silva Ferreira
Ivana Lima
José Antonio Bezerra Junior
Mariana Araújo de Brito
Arte e ilustração
Adauto Harley
Carolina Costa
Heinkel Huguenin
Leonardo dos Santos Feitoza
Revisão Tipográfi ca
Adriana Rodrigues Gomes
Margareth Pereira Dias 
Nouraide Queiroz
Design Instrucional
Janio Gustavo Barbosa
Jeremias Alves de Araújo Silva
José Correia Torres Neto
Luciane Almeida Mascarenhas de Andrade
Revisão de Linguagem
Maria Aparecida da S. Fernandes Trindade
Revisão das Normas da ABNT
Verônica Pinheiro da Silva
Adaptação para o Módulo Matemático
Joacy Guilherme de Almeida Ferreira Filho
EQUIPE SEDIS | UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE – UFRN
Projeto Gráfi co
Secretaria de Educação a Distância – SEDIS
Governo Federal
Ministério da Educação
Você ve
rá
por aqu
i...
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Extensão pesqueira A01
Objetivos
Estamos iniciando o conteúdo da disciplina de Extensão Pesqueira, que tem como principal objetivo fornecer subsídios para que você, futuro técnico em pesca/aquicultura, possa atuar no processo de extensão/comunicação com 
comunidades rurais e pesqueiras, de forma consciente e participativa. Nesta primeira 
aula, faremos um breve histórico sobre o processo de criação da extensão rural. Você 
também será convidado a refl etir sobre o assunto, através de exemplos concretos 
e, ao fi nal, elaboraremos “nosso conceito” sobre o tema, interagindo com conceitos 
apresentados por outros autores. Vamos começar?
  Conhecer a história do surgimento da extensão rural.
  Conhecer os principais modelos de atuação da extensão 
rural ao longo do tempo.
  Estimular a refl exão sobre fatores críticos de sucesso no 
processo de extensão rural e pesqueira.
  Elaborar um conceito próprio de extensão pesqueira com 
base em conceitos e refl exões de autores sobre o tema. 
2
Extensão pesqueira A01
Para começo 
de conversa...
Você conhece este personagem? 
Fonte: <http://www.jornalentreposto.com.br/jun2007/agronegocio.htm>. 
Acesso em: 24 mar. 2009.
Esse é o famoso “Jeca-Tatu”, criado por Monteiro Lobato, no início do século XX. Jeca-
Tatu era um caboclo que vivia no campo, em meio à pobreza. Sua rotina baseava–se 
em fi car o dia inteiro sem fazer tarefa alguma, fumando seu cigarro de palha, bebendo 
sua cachaça e observando o dia passar. Mas será que esse personagem faz algum 
sentido nos dias atuais? 
“Monteiro Lobato criou a personagem Jeca Tatu para denunciar, em tom 
irreverente e caricatural, a situação crítica em que vivia o nosso homem do 
interior. Em 1918, a fi gura do Jeca foi utilizada nos folhetos de propaganda do 
laboratório Fontoura, atingido imensa popularidade e contribuindo para criar 
uma imagem deformada do nosso sertanejo... Em 1947, Lobato retomou 
essa personagem, encarando o problema, porém, de outro ângulo.” 
Fonte: artigo disponível na Internet no endereço eletrônico: http://www.vestibular1.com.br/revisao/r30.htm 
(acesso em: 24/03/2009) 
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Extensão pesqueira A01
Extensão Pesqueira
Entre as muitas atribuições que você poderá desenvolver, como técnico em pesca/
aquicultura, a extensão pesqueira é certamente uma das mais importantes e 
gratifi cantes, se exercida com responsabilidade e comprometimento. 
Por se tratar de um processo educativo, a visão de mundo e o entendimento que cada 
um possui sobre a realidade que lhe cerca também farão parte desse processo, por 
isso a importância em refl etir sobre a nossa visão em relação ao meio rural.
 Em outras palavras, o trabalho do técnico extensionista não depende apenas do 
conhecimento técnico que se adquire ao longo do Curso, mas também do entendimento 
que cada um possui sobre a importância do resultado do trabalho que realiza na melhoria 
da qualidade de vida de outras pessoas.
Seguindo adiante... 
E esta música, você conhece? 
A Caneta e a Enxada
(Capitão Barduíno e Teddy Vieira)
Certa vez
Uma caneta foi passear no sertão
Encontrou com uma enxada fazendo uma plantação,
A enxada muito humilde foi fazer uma saudação
Mas a caneta soberba não quis pegar sua mão
E ainda por desaforo lhe passou uma repreensão
Disse a caneta para a enxada não vem perto de mim não,
Você tá suja de terra, de terra suja do chão
Sabe com quem tá falando, veja sua posição
E não esqueça a distância da nossa separação
Sou a caneta dourada que escreve nos tabelião
Eu escrevo pros governos as leis da constituição,
Escrevo em papel de linho
Pros ricaços e pros barão,
Só ando nas mãos dos mestres, dos homens de posição
1Praticando...
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Extensão pesqueira A01
A enxada respondeu
De fato eu vivo no chão
Pra poder dar de comer e vestir ao seu patrão
Eu vim no mundo primeiro quase no tempo de Adão
Se não fosse o meu sustento ninguém tinha instrução
Vai-te caneta orgulhosa vergonha da geração
A sua alta nobreza não passa de pretensão
Você diz que escreve tudo, tem uma coisa que não
É a palavra bonita que se chama EDUCAÇÃO
É, essa música também não é do seu tempo. Talvez seja do tempo dos seus pais ou 
dos seus avós. “A caneta e a enxada” é um exemplar da nossa “música de raiz” que já 
fez muito sucesso. E o que ela está fazendo na nossa aula? Isso é você quem vai dizer:
Procure descrever, numa única frase, a relação entre a letra da música, 
“A caneta e a enxada”, e o trabalho do técnico extensionista: 
Isso mesmo. A letra da música, embora tenha sido escrita há muito tempo, é um bom 
exemplo para a disciplina que estamos iniciando, porque fala da relação entre “a caneta 
e a enxada”, o que pode ser traduzido como “a relação entre o conhecimento técnico, 
acadêmico e o conhecimento empírico dos produtores rurais” ou ainda “a relação do 
técnico extensionista com o meio rural”. 
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Extensão pesqueira A01
Mas, afi nal, o que é extensão pesqueira? 
A extensão pesqueira pode ser entendida como o trabalho de extensão 
rural voltado para pescadores e/ou aquicultores. E extensão rural, 
o que signifi ca? 
Extensão Rural
No Brasil, a EMBRATER defi niu, em 1984, a extensão rural como “um processo educativo 
com o objetivo de contribuir para a elevação da produção, da produtividade da renda e 
da qualidade de vida das famílias rurais, sem dano ao meio ambiente”.
Assim como em outros temas, não há unanimidade quando se faz referência a esse 
conceito. Freitas (1990), buscando uma conceituação de extensão rural, analisou a 
opinião de diversos autores sobre o tema e verifi cou que a maior parte deles consideram 
a Extensão Rural como sendo a arte de interagir tecnicamente junto aos produtores 
rurais, a partir do conhecimento da realidade em todos os níveis, na incessante busca 
de combinar saber científi co com o saber popular, visando ao aumento da produção, 
produtividade e da melhoria de vida da família rural, sem agressão ao meio ambiente. 
Outro conceito aceito pela maioria dos autores, segundo a autora, é o que defi ne 
Extensão Rural como sendo um serviço público de caráter técnico prestado às famílias 
de pequenos e médios produtores rurais, por profi ssionais devidamente qualifi cados, 
visando a ajudá-los a melhorar os níveis de vida.
2Praticando...
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Extensão pesqueira A01
Com base nas informações fornecidas até então, defi na, com suas palavras, 
o que é extensão pesqueira.
Nas nossas próximas aulas, você será chamado a atualizar esse conceito, ampliando-o, 
na medida em que forem surgindo novas informações sobre o tema.
Extensão Rural X 
Assistência Técnica 
Algumas pessoas ainda confundem extensão rural com assistência técnica,mas existe uma diferença entre elas. A assistência técnica, como o próprio nome já diz, refere-se ao auxílio estritamente técnico, como quando algum técnico vai 
a nossa casa para consertar a máquina de lavar ou a televisão. Na aquicultura, um 
exemplo de assistência técnica seria o monitoramento da qualidade da água de viveiros 
de uma propriedade, em que o técnico em aquicultura iria periodicamente fazer a análise 
das características da água dos viveiros e emitiria um relatório com os dados obtidos. 
Já o trabalho de extensão é mais complexo, trata-se de um processo educativo, em que 
as informações técnicas são apenas parte desse processo, e não necessariamente as 
mais importantes. 
Sr. Juvêncio Sr. NicolauSr. Miguel
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Extensão pesqueira A01
Enquanto o conceito de assistência técnica tem um sentido bastante restrito, 
geralmente entendido como circunscrito à assessoria na produção agropecuária, 
pesca ou madeireira, o conceito de extensão rural pode ter as mais diversas 
interpretações. Nos EUA, onde está a origem do termo, ele foi derivado originalmente 
da extensão universitária. O conceito de extensão encontra hoje uso em diferentes 
setores, indo da ‘extensão para o desenvolvimento rural’ à ‘extensão empresarial’. 
Dado o papel relevante da ATER (Assistência Técnica e Extensão Rural) como 
elemento indutor e facilitador do desenvolvimento, a discussão sobre extensão 
rural constitui um tema polêmico entre os movimentos sindicais do campo, os 
principais interessados [...] (BROSE, 2004, p. 13).
Por outro lado, devemos levar em consideração o caráter subjetivo da atividade de 
extensão, onde cada realidade requer um diferente tipo de intervenção. Acompanhe um 
exemplo na atividade a seguir: 
Praticando... 3Praticando...
Observe os exemplos abaixo e identifi que qual dos agricultores está em melhor situação, 
considerando apenas as informações obtidas através das imagens. Não se esqueça 
de justifi car sua resposta. 
Resposta:
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Extensão pesqueira A01
Agora, vamos fornecer mais algumas informações sobre os três agricultores e você 
poderá optar em continuar com a mesma opção ou modifi cá-la, se achar pertinente.
1. O Sr. Miguel, que aparece na primeira imagem, é um pequeno agricultor que mora 
em um Município no sul do Brasil. Na sua propriedade, ele cultiva vários tipos de 
grãos, além de frutas e verduras. Filho de agricultores, o Sr. Miguel gosta do que faz, 
comercializa seus produtos na feira do produtor, que acontece uma vez por semana 
no seu Município, e vende o excedente para comerciantes do Município vizinho, que 
vão à sua propriedade buscá-lo. 
2. O Sr. Juvêncio possui uma propriedade um pouco maior, quase o dobro da área da 
propriedade do Sr. Miguel. Mas como cria gado de forma extensiva, essa área ainda 
é pequena, e ele está tendo difi culdades em aumentar o pasto devido a problemas 
com a legislação ambiental, no Município onde mora, na região Norte do Brasil. O 
Sr. Juvêncio também aposta na diversifi cação de produtos em sua propriedade e, 
além de frutas e grãos (milho e feijão), ele também aposta na apicultura e já está 
comercializando mel. A sua principal difi culdade é o acesso à propriedade, que fi ca 
longe dos principais centros consumidores, o que difi culta a comercialização dos 
seus produtos.
3. O Sr. Tenório também é fi lho de agricultores, herdou a propriedade do pai, na região 
Centro-Oeste do Brasil. Dando continuidade ao trabalho do pai, o Sr. Tenório planta 
soja, a propriedade é extensa, e o cultivo, totalmente mecanizado. Ainda assim, o Sr. 
Tenório vem passando por difi culdades fi nanceiras, pois precisa pagar o fi nanciamento 
dos equipamentos que comprou, e a taxa de câmbio, aliada à instabilidade do 
mercado internacional, reduziram consideravelmente seus lucros, ao mesmo tempo 
em que o custo de produção quase dobrou. Ele está pensando, inclusive, em vender 
parte da propriedade para pagar as dívidas com os Bancos. 
4Praticando...
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Extensão pesqueira A01
E agora? Você vai reconsiderar sua resposta? Não se esqueça de justifi car 
sua opção:
Como você pode observar, existem muitos fatores envolvidos, por isso não podemos 
nos deter a uma análise meramente técnica para defi nir aspectos subjetivos, como o 
fato de um determinado produtor ser “bem sucedido” ou não. 
A atividade acima teve como objetivo chamar a sua atenção para a complexidade que 
envolve a atividade da extensão rural, pois não é o técnico quem “decide” o que é melhor 
ou mais adequado. É a interação, a comunicação entre o técnico e o agricultor, unindo 
informações e conhecimentos, que vão apontar o melhor caminho. 
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Extensão pesqueira A01
História da 
Extensão Rural 
A partir de agora, vamos conhecer um pouquinho da história da extensão rural, em especial na Europa e nos Estados Unidos, onde o termo “extensão rural” surge ofi cialmente. Os textos disponibilizados contêm apenas um pequeno 
resumo dos acontecimentos, os quais você poderá aprofundar acessando o material 
sugerido nas indicações para leitura. 
Europa 
Na Europa, a partir da segunda metade do século XIX, associações de fazendeiros 
passaram a contratar pessoas com conhecimento e experiência em culturas e criações 
para ensinar aos produtores as novas técnicas agronômicas descobertas pela ciência. 
Essas pessoas iam de fazenda em fazenda, de modo semelhante a um extensionismo 
itinerante. Essa idéia evoluiu e, a partir do início do século XX foram organizados 
ofi cialmente os Serviços de Extensão Rural, atualmente presentes em todos os países 
da Europa (RIBEIRO, 2000).
Estados Unidos 
O surgimento ofi cial da Extensão Rural, nos Estados Unidos, ocorreu no ano de 1914, 
durante o período pós-Guerra de Secessão, que representou para a agricultura norte-
americana a passagem de uma estrutura escravista para uma estrutura mercantilista 
e capitalista (FONSECA, 1985).
A ofi cialização desse serviço, porém, foi resultado de um longo processo, que teve 
início ainda no período de colonização daquele País, uma vez que as práticas levadas 
pelos imigrantes para o novo mundo não eram sufi cientes para o desenvolvimento 
da nova agricultura local. As tentativas de encontrar soluções para os problemas 
que iam surgindo, na prática, levou à criação e aceitação dos colégios agrícolas e 
das agências governamentais. Em 1887, o Congresso dos Estados Unidos aprovou 
a Lei Hatch, alocando a cada colégio de agricultura os fundos necessários para 
estabelecer permanentemente fazendas experimentais, chamadas mais tarde de 
estações experimentais.
11
Extensão pesqueira A01
A partir do desenvolvimento das estações experimentais, foi possível disponibilizar 
aos produtores rurais informações cada vez mais atualizadas, e estes, por outro lado, 
passaram a demandá-las, o que resultou na necessidade de trabalhar com grupos 
maiores. Foram criados, então, os institutos dos fazendeiros, responsáveis, na época, 
pelas atividades sociais mais importantes, o que contribuiu para o crescimento do 
movimento extensionista nos Estados Unidos. Ligado aos colégios de agricultura, tornou-
se tão intenso e difundido pelos Estados americanos que, em 1905, foi criado um 
comitê do trabalho extensionista pela Associação Americana de Colégios Agrícolas e 
Estações Experimentais. 
Três anos mais tarde, o trabalho de extensão rural dos colégios agrícolas foi elevado ao 
mesmo nível da pesquisa e do ensino, com a recomendação de que as três atividades 
tivessem uma só coordenação. Este foi um dos eventos mais signifi cativos visando a 
fazer do Serviço de Extensão Rural uma organização permanente e bem-sucedida.
Mais tarde, ocorreriam mudanças substanciais nesse Serviço, substituindo a ênfase 
do programa de ”mais produção” para “uma produção mais eficiente e melhor 
comercialização”. Por outro lado, haveria a troca da assistência individual pela 
assistência a grupos comunitários.Com o passar do tempo, o Serviço de Extensão Rural dos Estados Unidos da América foi 
se expandindo e se modernizando, e hoje existe um Serviço de Extensão Rural em cada 
unidade da federação americana, contribuindo de forma signifi cativa para o sucesso da 
agricultura naquele País (RIBEIRO, 2000).
Brasil 
A experiência bem sucedida da extensão rural americana, como fi losofi a de um processo 
educativo para produtores rurais no campo da agricultura e da economia doméstica, 
bem como um serviço organizado que aplica o referido processo educativo, difundiu-se 
para muitos países de diversos continentes, inclusive para a América do Sul. No Brasil, 
a adoção dessa nova metodologia tem início na década de 40 (RIBEIRO, 2000) e vai 
sofrer algumas alterações de cunho fi losófi co e metodológico, ao longo do tempo, em 
função do contexto histórico vivenciado pelo país nesse mesmo período.
A nossa próxima aula terá como tema o desenvolvimento da extensão rural e pesqueira 
no Brasil, quando você terá acesso a maiores detalhes sobre os acontecimentos 
relatados no parágrafo anterior.
Exemplo 1
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Extensão pesqueira A01
Extensão rural: 
modelos de atuação 
Desde o seu surgimento, até os dias de hoje, a extensão rural experimentou diversas fases, adotando modelos distintos de atuação. Os principais deles são o modelo clássico, o difusionista-inovador e o que chamaremos de novo 
modelo de atuação da extensão rural, ainda em construção, com enfoque na gestão 
participativa e no desenvolvimento local. 
Modelo Clássico 
O modelo clássico, criado nos Estados Unidos e o primeiro a ser implantado no Brasil, tem 
como princípio a comunicação dos que habitam o meio rural com as novas tecnologias 
geradas nos centros de pesquisa, através da extensão. Esta terá como propósito 
transmitir ou estender os conhecimentos adquiridos nos campos experimentais e levar 
os problemas do povo rural às fontes de pesquisa (FONSECA, 1985).
Você se lembra do Seu Miguel, aquele pequeno agricultor citado na atividade 
3? “... um pequeno agricultor que mora em um Município no sul do Brasil. 
Na sua propriedade, ele cultiva vários tipos de grãos, além de frutas e 
verduras. Filho de agricultores, o Sr. Miguel gosta do que faz, comercializa 
seus produtos na feira do produtor, que acontece uma vez por semana no 
seu Município, e vende o excedente para comerciantes do Município vizinho, 
que vão à sua propriedade buscá-lo”.
No modelo clássico, o extensionista iria até Seu Miguel, diretamente ou 
através da associação de produtores do seu Município, e faria demonstrações 
de como ele poderia aumentar sua produção através da mecanização e/ou 
do uso de novas sementes, adubos e defensivos agrícolas. Isso porque, 
além de aumentar a produção, esse modelo de extensão tinha como objetivo 
criar mercado para a indústria de suprimentos agrícolas, que acabava de 
surgir. Mais tarde, essas demonstrações viriam acompanhadas de uma linha 
específi ca de crédito rural, que tinha como objetivo fi nanciar a “modernização 
da agricultura”.
Exemplo 2
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Extensão pesqueira A01
Modelo Difusionista-inovador 
A partir de 1962, a teoria que norteou a extensão rural no Brasil foi a do difusionismo 
(ou difusionismo-inovador). Essa teoria acredita que, pela difusão de conhecimentos, 
pode-se afetar um sistema social, através da adoção de inovações. Para ela, difusão e 
alocação de idéias é a transferência de alguns traços culturais de “áreas civilizadas” 
a outra área “não civilizada”. Baseia-se na capacidade individual de inovar, que seria o 
processo mental pelo qual o indivíduo passa, desde quando soube da inovação, até a 
decisão de adotá-la ou rejeitá-la (FONSECA, 1985).
O modelo difusionista-inovador passou a ser adotado não só no Brasil como 
em outros países da América Latina, em função do modelo anterior (clássico) 
não estar surtindo os resultados esperados. No modelo difusionista, o 
extensionista não tinha como preocupação apenas o repasse de novas 
técnicas agrícolas, mas, principalmente, “modifi car o modo de pensar dos 
agricultores”, ou seja, convencer os agricultores de que eles teriam uma 
melhor qualidade de vida e, portanto, deveriam utilizar as novas tecnologias 
e modifi car seu modo de vida. Nesse modelo, a capacidade de persuasão do 
técnico extensionista era muito importante e, para isso, ele utilizava os mais 
diversos recursos pedagógicos. Além das técnicas agrícolas, informações 
sobre economia doméstica também eram repassadas às mulheres 
dos agricultores.
Fique atento
Observe que tanto no modelo clássico quanto no difusionista-inovador 
o objetivo era transformar a realidade rural em função de necessidades 
urbanas, ou seja, aumentar a produção de alimentos para atender a 
demanda dos grandes centros urbanos, difundir novas tecnologias para 
garantir a compra de insumos e suplementos agrícolas que as novas 
indústrias começavam a produzir. 
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Extensão pesqueira A01
Um novo modelo de 
atuação na Extensão Rural 
Nesta disciplina não vamos nos ater ao debate teórico em torno de modelos e práticas 
pedagógicas, entretanto, você, como futuro técnico em pesca/aquicultura, deverá estar 
apto a desenvolver seu trabalho de forma consciente e participativa.
Nos trechos a seguir, temos um farto material para a nossa refl exão. O primeiro deles, 
escrito por Paulo Freire há 30 anos, e o segundo, mais recente, sobre os novos rumos 
da extensão rural. 
Daí que sua participação no sistema de relações camponeses-natureza-cultura não 
possa ser reduzida a um estar diante, ou a um estar sobre, ou a um estar para os 
camponeses, pois que este deve ser um estar com eles, como sujeitos da mudança 
também (FREIRE, 1983, p. 56).
[...] para além de alguma mudança organizacional ou adoção de novos métodos, faz-
se necessária uma nova visão da sociedade sobre qual o papel a ser desempenhado 
pela extensão rural. Propomos que a extensão deve, antes de tudo, posicionar-se 
como instrumento de fortalecimento da capacidade de auto-gestão e inovação 
permanente das comunidades rurais [...] (BROSE, 2004, p. 19).
Em linhas gerais, o que estamos chamando de “um novo modelo de extensão rural” 
representa, na verdade, uma nova tendência, com foco na gestão participativa e no 
desenvolvimento local, conforme você poderá constatar ao longo de nossas próximas 
aulas. 
Mais do que memorizar conceitos e fatos históricos, você deve estar atento para a 
realidade atual do seu Município/Região. E ter como premissa básica o fato de que 
o trabalho do técnico extensionista, muito além da difusão de novas tecnologias e da 
utilização de práticas pedagógicas diferenciadas, deve refl etir uma postura baseada 
na comunicação e na participação efetiva de todos os atores envolvidos no processo. 
Leituras complementares
Para saber mais sobre o tema, você pode consultar as seguintes bibliografi as: 
BROSE, Markus (Org.). Participação na extensão rural: experiências inovadoras de 
desenvolvimento local. Porto Alegre: Tomo editorial, 2004. 
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Extensão pesqueira A01
FONSECA, Maria Teresa Lousa da. A extensão rural no Brasil: um projeto educativo para 
o capital. São Paulo: Loyola, 1985.
Você também pode acessar o site do órgão ofi cial de assistência técnica e extensão 
rural do seu Estado e/ou Município, onde encontrará informações sobre a sua atuação 
no contexto atual. 
Nesta aula, você teve acesso a informações introdutórias sobre o tema da 
nossa disciplina, que é extensão pesqueira. Além de um breve histórico 
sobre o surgimento da extensão rural, a qual está relacionada ao assunto, 
você pode acompanhar ainda informações sobre os principais modelos 
de atuação, bem como exemplos e textos para refl exão, no processo de 
construção do seu próprio conceito sobre o tema.
Complete as frases abaixo, utilizando seu próprio vocabulário:
1. Extensão rural pode ser defi nida como 
2. Nessecontexto, a extensão pesqueira é 
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Extensão pesqueira A01
Referências 
AMORESE, Rubem Martins. Comunicação participativa como prática cultural: um enfoque 
para extensionistas. Brasília: EMBRATER, 1984.
BROSE, Markus (Org.). Participação na extensão rural: experiências inovadoras de 
desenvolvimento local. Porto Alegre: Tomo editorial, 2004.
FONSECA, Maria Teresa Lousa da. A extensão rural no Brasil: um projeto educativo para 
o capital. São Paulo: Loyola, 1985.
FREIRE, Paulo. Extensão ou comunicação? 8. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983.
FREITAS, Maria Leonice. Conceito de extensão rural e perfi l do extensionista para o 
estado do Rio Grande do Norte: um estudo délfi co. 164f. 1990. Dissertação (Mestrado) 
– CPGER, Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 1990. Mimeo.
RIBEIRO, José Paulo. A saga da extensão rural em Minas Gerais. Belo Horizonte: 
Annablume, 2000. 
4. O que havia em comum entre o modelo “clássico” de extensão rural e o 
modelo “difusionista-inovador” era
3. A origem da extensão rural oficial está , 
durante o período histórico 
5. O pensamento de Paulo Freire, que aparece no fi nal desta aula, pode 
ser traduzido, em poucas palavras, como 
Soniamar Zschornack Rodrigues Saraiva
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C U R S O T É C N I C O E M A Q U I C U LT U R A
Extensão Rural e Pesqueira no Brasil
EXTENSÃO PESQUEIRA
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Objetivos
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Extensão pesqueira A02
Dando continuidade ao conteúdo da nossa disciplina, nesta aula acompanharemos os principais acontecimentos que marcaram a história da extensão rural e pesqueira no Brasil, desde o seu surgimento até os dias atuais. Com base nesse 
histórico, você será chamado a refl etir sobre a importância da extensão pesqueira para 
o desenvolvimento dos setores pesqueiro e aquícola em nosso País e qual o seu papel 
nesse processo como futuro profi ssional da área. Ao fi m da aula, após a autoavaliação, 
convidamos você a responder a um breve desafi o sobre os objetivos da política da ATER.
  Conhecer os principais acontecimentos que marcaram a história da 
extensão rural e pesqueira no Brasil.
  Estimular a refl exão sobre o papel da extensão pesqueira no Brasil, nos 
dias atuais.
2
Extensão pesqueira A02
Para começo
de conversa... 
O exercício das atividades de extensão rural e pesqueira no Brasil, hoje, deve levar 
em consideração o momento histórico em que estamos vivendo, bem como a conexão 
entre temas aparentemente distintos, como agronegócio, biodiesel, pesca artesanal, 
agricultura familiar, reforma agrária, sustentabilidade...
Algumas imagens que retratam temas ligados ao meio rural, no Brasil contemporâneo 
A Extensão
rural no Brasil
A extensão rural no Brasil surge, ofi cialmente, na década de 40, com a criação da 
Associação de Crédito e Assistência Rural - ACAR/MG, conforme você poderá acompanhar 
nos parágrafos que seguem.
Entretanto, algumas outras iniciativas anteriores à criação da ACAR/MG podem ser 
incluídas no rol das primeiras experiências em extensão rural e pesqueira no país. 
3
Extensão pesqueira A02
Entre elas, a missão do “Cruzador José Bonifácio”, comandada por Frederico Villar, que 
cruzou o País nos anos de 1919 a 1924, criando as Colônias de Pescadores e levando 
informações aos pescadores do nosso litoral, e a Semana do Fazendeiro, realizada 
pela primeira vez em 1929, pela então Escola Superior de Agricultura de Viçosa (atual 
Universidade Federal de Viçosa), com diversos cursos de extensão e palestras.
A Missão
do “Cruzador
José Bonifácio”
Uma das primeiras experiências em extensão rural e pesqueira no Brasil foi liderada 
pelo Capitão-de-mar-e-guerra Frederico Villar. Após visitar a Europa, os Estados Unidos 
e o Japão, nos anos de 1909 e 1910, a fi m de conhecer a indústria pesqueira nesses 
países, realiza, no período de 1919 a 1924 (após a Primeira Guerra Mundial), uma 
expedição no comando do Cruzador José Bonifácio que percorre o litoral Brasileiro de 
Belém do Pará à Cidade do Rio Grande, no Rio Grande do Sul, com o objetivo de tornar 
os pescadores aliados da Marinha para a segurança da costa brasileira. (CALLOU, 2007).
Capitão-de-
mar-e-guerra 
Frederico Villar
  “Nascido em 1875, 
no RJ, participou de 
várias missões no 
exterior como Ofi cial 
da Marinha Brasileira. 
Em Pernambuco, co-
mandou a Escola de 
Aprendizes Marinhei-
ros de 1903 a 1905. 
Na Primeira Grande 
Guerra, participou das 
operações da Marinha 
do Brasil contra a 
Alemanha. Destacou-
se como Comandante 
do Cruzador José 
Bonifácio do qual fez 
parte como Chefe 
do Serviço de Pesca 
e Saneamento do 
Litoral, entre 1919 e 
1923, quando fundou 
800 colônias de pes-
cadores. Após servir 
com o Capitão dos 
Portos do Estado do 
Pará, foi promovido ao 
posto de Capitão-de-
Mar-e-Guerra. Quando 
sobreveio a Revolução 
de 1930, era chefe 
do Estado Maior da 
Armada e, a pedido, 
passou a Reserva”. Fonte: <http://www.100pctarraialdocabo.com.br/sites/port/index.php?option=com_content&task=view&id=69&Itemid=>. 
Acesso em: 18 set. 2009.
Essa missão resultou na criação de oitocentas colônias, com aproximadamente cem mil 
pescadores matriculados. Mais de mil escolas de ensino primário foram criadas, além 
da tentativa de desenvolvimento da instrução profi ssional, o combate à verminose, à 
malária e ao alcoolismo, a fi scalização da pesca predatória e a nacionalização da pesca 
no país. Sobretudo, o objetivo maior era incentivar os pescadores à defesa da costa, 
os quais passaram a ser considerados reservas da Marinha de Guerra.
1Praticando...
4
Extensão pesqueira A02
Para atingir esses resultados, os “extensionistas” da Missão utilizam-se das mais 
variadas estratégias de comunicação: criaram, em 1920, a revista A Voz do Mar, de 
circulação nacional, cujas páginas difundiam novos conhecimentos sobre as artes 
de pesca; criaram hinos, hastearam bandeira; realizaram palestras e atendimento 
médico; distribuíram remédios e panfl etos informativos; estimularam a reunião 
de crianças e jovens através do escoteirismo; desenvolveram paradas militares; 
promoveram jogos de futebol; festas; regatas; raids; liberaram a rampa do Cruzador 
“José Bonifácio” para visitação pública; entre tantas outras estratégias persuasivas 
de comunicação que, no trato com os pescadores, se distinguiriam, sobretudo, pela 
sua verticalidade. Os pescadores foram vistos como meros objetos da ação. A eles, 
coube seguir as determinações dos ofi ciais (CALLOU, 2007, p. 86).
Embora não tenha sido ofi cializada como tal, essa pode ser considerada como uma das 
primeiras iniciativas, em nível nacional, de extensão rural e pesqueira no Brasil. 
No texto anterior, você conheceu um pouco da história de fundação das 
Colônias de Pescadores no Brasil.Procure identifi car, no seu Município, a 
existência de uma ou mais Colônias de Pescadores, qual a sua sigla e a 
data de sua fundação. Ela foi criada na Missão do Cruzador José Bonifácio 
ou surgiu posteriormente?
5
Extensão pesqueira A02
A criação da
Associação de Crédito e 
Assistência Rural – ACAR
Seguindo o modelo norte-americano, a institucionalização da extensão rural no Brasil ocorre 
a partir da experiência da “International Association for Economic and Social Developmen” 
(AIA), criada em 1939 pela família Rockfeller, a qual iniciou suas atividades nos Municípios 
de Santa Rita do Passa Quatro e de São José do Rio Pardo, ambos no Estado de São 
Paulo, entre 1948 e 1956. Em 1948, um convênio entre a AIA e o governo do Estado de 
Minas Gerais resultou na criação da Associação de Crédito e Assistência Rural (ACAR), 
cujo objetivo era melhorar as condições de vida no campo por meio do aumento de 
produtividade das lavouras e educação da família rural. Os instrumentos de ação eram 
a assistência técnica e o crédito supervisionado (FONSECA, 1985 apud PEIXOTO, 2008).
Estava, assim, implantado no Brasil, o modelo clássico americano de extensão rural. 
Esse modelo inicial, que caracterizou as ações da ACAR, levou à implantação, em vários 
Estados do país, de diversas associações de crédito semelhantes, o que resultou na 
necessidade de se instituir uma coordenação em nível nacional. 
Foi então criada a Associação Brasileira de Crédito e Assistência Rural (ABCAR), em 
21/06/1956. As ACAR eram entidades civis, sem fi ns lucrativos, que prestavam serviços 
de extensão rural e elaboração de projetos técnicos para obtenção de crédito junto aos 
agentes fi nanceiros.
Em cada município onde possuía um escritório, trabalhava-se sempre com uma 
EQUIPE constituída de um SUPERVISOR AGRÍCOLA (geralmente engenheiro 
agrônomo), uma SUPERVISORA DOMÉSTICA (moça com instrução especializada 
em economia doméstica), uma AUXILIAR, que se encarregava dos serviços de 
escritório, e um JIPE (ACAR, 1955, p. 4 apud FERRAZ; MENDONÇA, 1985, p. 12).
Já na década de 70, os governos militares promovem uma grande reforma administrativa, 
voltada para o fortalecimento dos poderes da União, o que vai resultar na centralização 
de inúmeros serviços públicos e na criação de empresas estatais. Nesse contexto, é 
criada a EMBRATER, Empresa Pública Federal, em substituição à ABCAR. Nos estados, 
as ACAR vão ser substituídas pelas EMATER, que permanecem, em algumas Unidades 
da Federação, com essa nomenclatura até os dias de hoje. 
Família 
Rockfeller
  Família de 
industriais norte-
americanos, símbolo 
da prosperidade 
americana no 
século XX, cuja 
fortuna deu origem a 
fundações científi cas 
e fi lantrópicas e 
que teve seu “The 
End” quando um 
grupo japonês 
comprou (1989) o 
Rockefeller Center, no 
bairro nova-iorquino 
de Manhattan. 
Fonte: <http://
www.brasilescola.
com/biografi a/os-
rockefeller.htm>. 
Acesso em:
21 set. 2009.
2Praticando...
6
Extensão pesqueira A02
Fonte: arquivo EMATER/RIO.
Fonte: arquivo EMATER/RIO.
Pesquise, na Internet, nos sites ofi ciais dos Governos Estaduais brasileiros, e 
descubra qual o órgão responsável pela ATER em cada Unidade da Federação 
da sua Região. Em seguida, faça, no quadro abaixo, um breve resumo sobre 
o histórico de cada um deles (Nome/sigla, ano de fundação, órgão ou 
secretaria a que está vinculado e principais políticas implementadas). 
7
Extensão pesqueira A02
Órgãos responsáveis pelas atividades de Ater
Região:
Estado Sigla
Data
de fundação
Principais políticas implementadas:
Extensão ou 
Comunicação?
A contribuição
de Paulo Freire
Em 1979, é lançado no Brasil o livro intitulado “Extensão ou Comunicação?”, do educador 
Paulo Freire, publicado originalmente em 1969, sob o título? Extención o Comunicación?, 
pelo Instituto Capacitación e Investigación em Reforma Agrária, em Santiago de Chile.
Paulo Freire
  Paulo Freire (Recife, 
19 de setembro de 
1921 — São Paulo, 
2 de maio de 1997) 
foi um educador 
brasileiro. Destacou-
se por seu trabalho 
na área da educação 
popular, voltada tanto 
para a escolarização 
como para a formação 
da consciência. É 
considerado um dos 
pensadores mais 
notáveis na história 
da pedagogia mundial, 
tendo infl uenciado o 
movimento chamado 
pedagogia crítica.
Fonte: <http://
pt.wikipedia.org/wiki/
Paulo_Freire>. Acesso 
em: 21 set. 2009
3Praticando...
8
Extensão pesqueira A02
Fonte: <http://200.183.137.72/BoletimCRWeb/Figuras/extensao.jpg>. Acesso em: 21 set. 2009.
Nesse livro, Paulo Freire analisa o problema da comunicação entre o técnico e o 
camponês, no processo de extensão rural. Ao fazer uma análise do termo “extensão”, 
o educador questiona o fato de que esse termo transformaria o camponês em “coisa”, 
ou objeto de planos de desenvolvimento. Para ele,
Conhecer [...] não é o ato através do qual um sujeito transformado em objeto, 
recebe dócil e passivamente os conteúdos que outro lhe dá ou lhe impõe... O 
conhecimento, pelo contrário, exige uma presença curiosa do sujeito em face do 
mundo. Requer sua ação transformadora sobre a realidade. Demanda uma busca 
constante. Implica invenção e reinvenção [...] (FREIRE, 1983, p. 27).
O papel do educador não é o de “encher” o educando de “conhecimento”, de ordem 
técnica ou não, mas sim o de proporcionar, através da relação dialógica educacador-
educando, educando-educador, a organização de um pensamento correto em ambos 
(FREIRE, 1983, p. 53).
Embora tenha sido escrito há mais de três décadas, o livro de Paulo Freire nos traz 
ensinamentos que podem ser transportados para os dias atuais e continua inspirando 
extensionistas e educadores, embora muitos ainda pratiquem a extensão rural sem 
sequer refl etir sobre esses ensinamentos.
No espaço abaixo, escreva qual o seu entendimento sobre as duas 
passagens do texto de Paulo Freire, citadas acima. Em seguida, se possível, 
insira sua resposta em um fórum de debates na página da disciplina e 
acompanhe a opinião de seus colegas sobre o tema. 
9
Extensão pesqueira A02
A extensão 
rural no Brasil
a partir da década de 90
Após a Constituição de 1988, os serviços de assistência técnica e extensão rural 
receberam um tratamento específi co na legislação brasileira. Em 17 de janeiro de 1991, 
foi promulgada a Lei nº 8.171, que dispõe sobre a Política Agrícola, também conhecida 
como Lei Agrícola, a qual estabelecia, no seu Capítulo V, ações específi cas da Ater. 
Entretanto, apesar dos avanços na legislação, historicamente a década de 80 representa, 
para o Brasil, o início do processo de ascensão do ideário neoliberal e da defesa de 
contenção de gastos públicos. Assim como outros serviços públicos, a extensão rural 
deixou de ser considerada imprescindível para o país, e o orçamento de diversas Emater 
passou a depender quase que exclusivamente dos repasses de recursos federais. Em 
1990 é extinta a EMBRATER, tendo início um dos períodos mais críticos da extensão 
rural brasileira desde a sua institucionalização. 
Por outro lado, cabe mencionar, também, que estudos realizados nesse período 
apontaram a inefi cácia das ações de Ater, implementadas até então, na tentativa de 
redução da pobreza no meio rural. 
ideário 
neoliberal
 Doutrina político-
econômica que 
representa uma 
tentativa de adaptar 
os princípios 
do liberalismo 
econômico às 
condições do 
capitalismo moderno 
[...] Atualmente, o 
termo vem sendo 
aplicado àqueles 
que defendem a 
livre atuação das 
forças do mercado, 
o término do 
intervencionismo do 
Estado, a privatização 
das empresas 
estatais e até mesmo 
de alguns serviços 
públicos essenciais, a 
abertura da economia 
e sua integraçãomais 
intensa no mercado 
mundial (SANDRONI, 
2007, p. 590-591).
Fonte: <http://www.brasilescola.com/upload/e/Reforma%20Agraria%20-%20CANAL%20DO%20EDUCADOR.jpg>. 
Acesso em: 21 set. 2009.
10
Extensão pesqueira A02
Em meados da década de 90, inicia-se uma discussão a respeito da execução de 
políticas públicas e programas governamentais através do Terceiro Setor, que naquele 
momento começava a entrar em crise. Isso porque as agências internacionais, até então 
tendo o Brasil como uma de suas prioridades, começaram a voltar sua ajuda fi nanceira 
para países do Leste Europeu e do Terceiro Mundo com renda per capita abaixo da 
brasileira. Também nos anos 90, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra e 
o movimento sindical de trabalhadores rurais (organizados na Confederação Nacional 
de Trabalhadores da Agricultura – CONTAG) desenvolveram ações dando legitimidade 
política a estudos acadêmicos que propunham uma nova categoria de análise: o de 
agricultura familiar. O conceito de agricultura familiar passaria então a infl uenciar as 
políticas públicas no restante dos anos 90, com a intensifi cação das ações de Reforma 
Agrária e de fortalecimento dessa categoria de produtores rurais (PEIXOTO, 2008).
E são esses movimentos que vão subsidiar a criação, em 2003, do Departamento 
de Assistência Técnica e Extensão Rural (DATER), o qual irá articular a construção da 
Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (PNATER) cuja fundamentação 
teórica representa um avanço e uma ruptura com os modelos de ATER praticados no 
País até então.
No caso específi co da extensão pesqueira e aquícola, a criação da Secretaria Especial 
de Aquicultura e Pesca (SEAP/PR), ainda em 2003, representa um marco para o 
desenvolvimento de políticas públicas voltadas a esses setores, incluindo a coordenação 
de programas e atividades de Ater.
[...] em 1º de janeiro de 2003, o Governo editou a Medida Provisória 103, hoje Lei 
10.683, na qual foi criada a Secretaria Especial da Aquicultura e Pesca - SEAP, ligada 
à Presidência da República. A SEAP/PR tem status de Ministério e atribuições para 
formular a política de fomento e desenvolvimento para a aquicultura e pesca no 
Brasil, permanecendo a gestão compartilhada do uso dos recursos pesqueiros com 
o Ministério do Meio Ambiente. A SEAP foi criada para atender uma necessidade 
do setor pesqueiro, na perspectiva de fomentar e desenvolver a atividade, no seu 
conjunto, nos marcos de uma nova política de gestão e ordenamento do setor, 
mantendo o compromisso com a sustentabilidade ambiental (SEAP/PR, 2003, 
extraído da Internet).
Política Nacional de 
Assistência Técnica e 
Extensão Rural – PNATER
A PNATER é uma política nacional, construída de forma democrática, a partir da criação, 
em 2003, do Departamento de Ater (DATER), da Secretaria da Agricultura Familiar (SAF), 
do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), que passou a coordenar as atividades 
Agricultura 
Familiar
  “[...] Na exploração 
familiar, a família 
é a principal fonte 
de mão de obra. A 
exploração do solo 
tende a ser intensiva, 
e os produtos são,
em sua maioria, 
consumidos 
internamente. Por 
vezes, recorre-se 
ao arrendamento, à 
parceria e a outras 
formas de produção” 
(SANDRONI, 2007,
p. 780).
Terceiro Setor
  “Expressão ainda não 
muito difundida, que 
vem sendo aplicada 
às atividades que 
reúnem entidades 
sem fi ns lucrativos e 
que trabalham para 
melhorar a qualidade 
de vida da população, 
seja na área da 
educação, saúde, 
cultura ou proteção 
do meio ambiente. 
A classifi cação 
de Terceiro Setor 
decorre de designar-
se como primeiro 
o setor público e, 
segundo o setor 
privado.” (SANDRONI, 
2007, p. 837).
11
Extensão pesqueira A02
de assistência técnica e extensão rural, em nível nacional. Veja, abaixo, os principais 
objetivos contidos no documento: você poderá ter acesso ao mesmo, na íntegra, 
acessando o endereço eletrônico disponível na seção “Leituras complementares”. 
4.2.1. Objetivo Geral:
Estimular, animar e apoiar iniciativas de desenvolvimento rural sustentável, 
que envolvam atividades agrícolas e não agrícolas, pesqueiras, de 
extrativismo e outras, tendo como centro o fortalecimento da agricultura 
familiar, visando à melhoria da qualidade de vida e adotando os princípios 
da Agroecologia como eixo orientador das ações.
4.2.2. Objetivos Específi cos:
  Contribuir para a melhoria da renda, da segurança alimentar e da 
diversifi cação da produção, para a manutenção e geração de novos 
postos de trabalho, em condições compatíveis com o equilíbrio ambiental 
e com os valores socioculturais dos grupos envolvidos.
  Potencializar processos de inclusão social e de fortalecimento da 
cidadania, por meio de ações integradas, que tenham em conta as 
dimensões: ética, social, política, cultural, econômica e ambiental da 
sustentabilidade.
  Estimular a produção de alimentos sadios e de melhor qualidade 
biológica, a partir do apoio e assessoramento aos agricultores familiares 
e suas organizações para a construção e adaptação de tecnologias de 
produção ambientalmente amigáveis e para a otimização do uso e manejo 
sustentável dos recursos naturais.
  Desenvolver ações que levem à conservação e recuperação dos 
ecossistemas e ao manejo sustentável dos agroecossistemas, visando 
assegurar que os processos produtivos agrícolas e não agrícolas evitem 
danos ao meio ambiente e riscos à saúde humana e animal.
  Incentivar a construção e consolidação de formas associativas que, além 
de criar melhores formas de competitividade, sejam geradoras de laços 
de solidariedade e fortaleçam a capacidade de intervenção coletiva dos 
atores sociais como protagonistas dos processos de desenvolvimento 
rural sustentável.
  Fortalecer as atuais articulações de serviços de Ater e apoiar a 
organização de novas redes e arranjos institucionais necessários para 
ampliar e qualifi car a oferta de serviços de Ater, visando a alcançar 
patamares crescentes de sustentabilidade econômica e socioambiental.
4Praticando...
12
Extensão pesqueira A02
  Promover a valorização do conhecimento e do saber local e apoiar os 
agricultores familiares e demais públicos da extensão rural no resgate 
de saberes capazes de servir como ponto de partida para ações 
transformadoras da realidade. (BRASIL, 2004, p. 9-10).
Como você pode observar, os objetivos da PNATER contemplam uma série de ações 
diferenciadas e representam uma ruptura com o antigo modelo de Ater praticado pelos 
organismos estatais em nosso País.
Essa Política pretende contribuir para uma ação institucional capaz de 
implantar e consolidar estratégias de desenvolvimento rural sustentável, 
estimulando a geração de renda e de novos postos de trabalho. Entre os 
pilares fundamentais que sustentam a Política Nacional de Ater, destaca-
se o respeito à pluralidade e às diversidades sociais, econômicas, étnicas, 
culturais e ambientais do país, o que implica na necessidade de incluir 
enfoques de gênero, de geração, de raça e de etnia nas orientações de 
projetos e programas. Sobretudo, cabe enfatizar que a busca da inclusão 
social da população rural brasileira mais pobre será elemento central de 
todas as ações orientadas pela Política Nacional de Ater (MDA, 2005, 
extraído da Internet).
Os objetivos da atual Política, descritos acima, sem dúvida extrapolam 
o modelo clássico de extensão rural como mera transferência de novas 
tecnologias. Observe as situações descritas abaixo e procure identifi car 
qual(is) dos objetivos descritos acima estaria(m) contemplado(s) em cada 
uma delas: 
a) Viveiros coletivos para grupos de 5 famílias, onde são cultivadas espécies 
regionais para consumo próprio. A construção dos viveiros é realizada 
através de mutirões, eas atividades de manutenção dos mesmos são 
divididas entre as famílias.
Objetivos contemplados: contribuir para a melhoria da segurança alimentar; 
incentivar a construção e consolidação de formas associativas.
13
Extensão pesqueira A02
b) Cursos práticos de formação em construção naval para filhos de 
pescadores e jovens da comunidade, envolvendo, como instrutores, 
“mestres” da própria comunidade, ou seja, pessoas idosas com 
experiência prática na construção de embarcações, em parceria com 
professores de um Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia.
Objetivos contemplados:
c) Realização de encontros envolvendo pescadores de diversas comunidades 
para conhecer exemplos e estudar alternativas de recuperação de áreas 
degradadas nas margens dos rios, bem como métodos de fi scalização e 
substituição de artes de pesca consideradas predatórias.
Objetivos contemplados:
O papel da
extensão rural e 
pesqueira no Brasil atual
Para entendermos qual o papel da extensão rural e pesqueira no Brasil atual, 
precisamos primeiramente nos situar sobre o papel do “meio rural” no Brasil. Embora 
seja considerado um país urbano, e os censos têm demonstrado que mais de 80% da 
população brasileira vive nas cidades, ainda assim devemos considerar que mais de 
80% dos Municípios Brasileiros apresentam uma baixa densidade populacional e são 
de caráter essencialmente rural (BROSE, 2004).
Nesse sentido, quando falamos em “rural” não estamos falando necessariamente em 
“agrícola”, mas em todas as atividades produtivas (indústria, serviços, lazer etc.) relacionadas 
a um determinado espaço territorial (que pode ser um Município, por exemplo).
14
Extensão pesqueira A02
É do conhecimento de todos que o nosso País, a despeito de suas riquezas naturais e 
dos números sempre crescentes do seu Produto Interno Bruto – PIB, é também campeão 
quando o tema passa a ser desigualdade social. E se as grandes cidades representam 
o símbolo da riqueza e do progresso, é no meio rural que a pobreza se apresenta de 
forma mais intensa. É também no meio rural que vai se encontrar a mão de obra barata 
para suprir os postos de trabalho menos qualifi cados, nas grandes cidades.
Em outras palavras, onde você imagina que um cidadão teria mais facilidade em 
frequentar boas escolas? Teria acesso a serviços de saúde? À Internet? À rede de 
esgotos e água tratada? Seria numa grande cidade ou no meio rural?
Por outro lado, embora envolva atividades diferenciadas, é no meio rural que ocorre 
a produção primária do País, principal responsável pelas exportações brasileiras. A 
grande quantidade de terras e as riquezas naturais também fazem do Brasil uma grande 
promessa para suprir a demanda de outros países na recentemente anunciada crise 
mundial de alimentos.
E qual o papel da ATER nesse contexto? O técnico extensionista deverá “convencer” 
essas pessoas a produzirem mais para suprir as necessidades do mercado ou atuar 
com um enfoque “participativo”, problematizando e deixando que elas mesmas decidam 
quais caminhos desejam percorrer e quais as melhorias que desejam alcançar para a 
própria qualidade de vida?
A Extensão Rural pública deve priorizar a relação entre agricultores e agentes de Ater, 
criando novas possibilidades de resgate dos conhecimentos locais e de participação 
consciente nas mudanças necessárias nos níveis político, social, ambiental, 
econômico, cultural e ético. Além disso, deve estimular o estabelecimento de laços 
de solidariedade no meio rural. Desse modo, o uso de metodologias persuasivas 
e difusionistas está ultrapassado. Esse tipo de intervenção não é compatível com 
o estilo de atuação dos profi ssionais de uma nova extensão. O novo enfoque de 
Ater requer que o agente esteja preparado para utilizar técnicas e instrumentos 
participativos que permitam o estabelecimento de negociações e a ampliação 
da capacidade de decisão dos grupos sobre sua realidade. Graças à troca de 
conhecimentos e de saberes empíricos e científi cos, técnicos e agricultores poderão 
elaborar um conhecimento novo que lhes permitirá fazer opções tecnológicas e 
não tecnológicas, adequadas às condições locais. A ação extensionista deve 
criar condições objetivas para ajudar no fortalecimento da cidadania, na efetiva 
participação dos atores nas decisões e na melhoria da qualidade de vida das 
populações rurais (CAPORAL; RAMOS, 2006, p. 6-7).
produção 
primária
  Produção primária: 
“Uma das 
classifi cações 
mais correntes das 
atividades produtivas 
foi originalmente 
proposta por Colin 
Clark. De acordo com 
essa formulação, 
existem três 
setores básicos na 
economia de um 
País. O setor primário 
reúne as atividades 
agropecuárias e 
extrativistas (vegetais 
e minerais). O 
setor secundário 
engloba a produção 
física por meio da 
transformação de 
matérias-primas, 
realizada pelo 
trabalho humano com 
o auxílio de máquinas 
e ferramentas; inclui 
toda a produção 
fabril, a construção 
civil e a geração 
de energia. O setor 
terciário abrange 
os serviços em 
geral: comércio, 
armazenagem, 
transportes, 
sistema bancário, 
saúde, educação, 
telecomunicações, 
fornecimento de 
energia elétrica, 
serviços de 
água e esgoto e 
administração pública 
[...]” (SANDRONI, 
2007, p. 768-769).
Para saber mais...
Até aqui, acompanhamos a evolução da extensão rural e pesqueira no 
Brasil, desde a sua institucionalização até os dias atuais. E por falar em 
dias atuais, você sabe quais são as ações em extensão rural e pesqueira 
que estão sendo implementadas no seu Município e/ou Região? Que tal 
verifi carmos isso através de uma pesquisa? Veja a atividade abaixo.
5Praticando...
15
Extensão pesqueira A02
Faça uma visita ao Órgão responsável pela Extensão rural no seu Município 
e/ou Região, ou pesquise o site ofi cial do mesmo, na Internet, e procure 
responder às seguintes perguntas:
1. Qual o nome e a sigla do Órgão visitado e qual a esfera de atuação 
(federal, estadual, municipal)?
2. Quantas pessoas trabalham diretamente em atividades de extensão rural 
e qual a sua formação?
3. Existe algum trabalho específi co em extensão pesqueira?
4. Quais as principais atividades realizadas?
5. Quais os principais problemas enfrentados pelos extensionistas?
6. Existem técnicos em pesca e/ou aquicultura trabalhando na Instituição? 
Quantos?
16
Extensão pesqueira A02
7. Qual a principal fonte de recursos da Instituição?
8. Na opinião do entrevistado, existe carência de técnicos na Instituição?
9. Você consegue identifi car o modelo teórico do trabalho desenvolvido pela 
Instituição? Qual é?
10. Observações
Leituras complementares
PEIXOTO, Marcus. Extensão rural no Brasil: uma abordagem histórica da legislação. 
Textos para Discussão, Brasília, n. 48, out. 2008. Disponível em: <http://www.senado.
gov.br/conleg/textos_discussao/texto48-marcuspeixoto.pdf>. Acesso em: 21 set. 2009.
Para ampliar seus conhecimentos sobre a história da extensão rural no Brasil.
BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Agrário. Secretaria da Agricultura Familiar. 
Departamento de Assistência Técnica e Extensão Rural. Política nacional de 
assistência técnica e extensão rural. Brasília, 2004. Disponível em: <http://www.
mda.gov.br/saf/arquivos/0878513433.pdf>. Acesso em: 21 set. 2009.
Para saber mais sobre a Política nacional de Assistência Técnica e extensão Rural 
(PNATER), consulte o documento, na íntegra. 
DEPARTAMENTO DE ASSISTÊNCIA TÉCNICA E EXTENSÃO RURAL – DATER. Disponível 
em: <http://www.pronaf.gov.br/dater>. Acesso em: 21 set. 2009.
E para ter acesso a outros artigos e textos publicados por especialistas no assunto, 
consulte o site do MDA, no endereço eletrônico anterior.
17
Extensão pesqueira A02
Você acompanhou alguns acontecimentoshistóricos importantes na trajetória 
da extensão rural e pesqueira no Brasil, desde a missão do “cruzador José 
Bonifácio”, em 1919, até a criação da Política Nacional de Assistência Técnica 
e Extensão Rural, em 2003, e pode identifi car, ao longo desse processo, 
a influência do contexto político e social na definição de políticas e na 
implementação das ações de Ater. Finalizando, uma breve contextualização 
sobre a importância da extensão rural e pesqueira para o Brasil atual, tema 
esse que será retomado na nossa próxima aula. Até lá.
E então, vamos avaliar nossos conhecimentos? Procure responder, com 
suas palavras, aos questionamentos abaixo:
1. Quais foram os principais marcos institucionais da extensão rural no 
Brasil, desde a sua institucionalização até os dias atuais?
2. Qual o período considerado crítico para a extensão rural no Brasil e por quê?
3. Qual o diferencial da PNATER, em relação a outras políticas de ATER já 
implementadas no Brasil?
18
Extensão pesqueira A02
4. Como você interpreta o papel da extensão rural e pesqueira no Brasil, 
nos dias atuais?
Desafi o
No texto que fala da PNATER, você teve acesso a algumas informações, 
bem como aos principais objetivos dessa Política coordenada pelo DATER. 
Para ampliar seus conhecimentos, pesquise no site do MDA, disponível 
no endereço eletrônico <http://www.pronaf.gov.br/dater> e escolha dois 
programas atualmente em execução, para implementação da política de 
ATER. No espaço abaixo, descreva quais são e como funcionam.
2. 
1. 
19
Extensão pesqueira A02
Referências 
BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Agrário. Política Nacional de Assistência 
Técnica e Extensão Rural. Brasília, DF: SAF/Dater, 2004.
BROSE, Markus (Org.). Participação na extensão rural: experiências inovadoras de 
desenvolvimento local. Porto Alegre: Tomo editorial, 2004. 
CALLOU, A. B. F. Extensão rural: polissemia e memória. Recife: Bagaço, 2007.
CAPORAL, F. R.; RAMOS, L. S. Da extensão rural convencional à extensão rural para o 
desenvolvimento sustentável: enfrentar desafi os para romper a inércia. Brasília, 2006. 
No prelo. Disponível em: <http://www.pronaf.gov.br/dater/arquivos/0730612392.pdf>. 
Acesso em: 18 set. 2009.
FONSECA, Maria Teresa Lousa da. A Extensão Rural no Brasil: um projeto educativo 
para o capital. São Paulo: Loyola, 1985.
FREIRE, Paulo. Extensão ou comunicação? 8. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983.
MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO – MDA. Política Nacional de ATER e outros 
Documentos Pertinentes. 2005. Disponível em: <http://www.pronaf.gov.br/dater/index.
php?sccid=97>. Acesso em: 21 set. 2009.
PEIXOTO, Marcus. Extensão rural no Brasil: uma abordagem histórica da legislação. 
Textos para Discussão, Brasília, n. 48, out. 2008. Disponível em: <http://www.senado.
gov.br/conleg/textos_discussao/texto48-marcuspeixoto.pdf>. Acesso em: 21 set. 2009.
SANDRONI, P. Dicionário de Economia do Século XXI. 3. ed. Rio de Janeiro: Record, 2007.
SECRETARIA ESPECIAL DA AQUICULTURA E PESCA – SEAP. Histórico da SEAP. 2003. 
Disponível em: <http://tuna.seap.gov.br/seap/html/sobre_secretaria/historico_main.
html>. Acesso em: 21 set. 2009.
Anotações
20
Extensão pesqueira A02
Soniamar Zschornack Rodrigues Saraiva
03
C U R S O T É C N I C O E M A Q U I C U LT U R A
Técnico Extensionista: 
qual o melhor perfi l?
EXTENSÃO PESQUEIRA
Coordenadora da Produção dos Materias
Vera Lucia do Amaral
Coordenador de Edição
Ary Sergio Braga Olinisky
Coordenadora de Revisão
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Revisão das Normas da ABNT
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Adaptação para o Módulo Matemático
Joacy Guilherme de Almeida Ferreira Filho
EQUIPE SEDIS | UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE – UFRN
Projeto Gráfi co
Secretaria de Educação a Distância – SEDIS
Governo Federal
Ministério da Educação
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1
Extensão pesqueira A03
Objetivos
Dando continuidade à nossa disciplina, nesta aula você conhecerá alguns dos principais requisitos desejáveis no perfi l do técnico extensionista nos dias atuais. Retomando alguns dos temas iniciados na aula anterior, vamos refl etir 
juntos sobre a sua responsabilidade como futuro profi ssional e quais os caminhos 
possíveis para um bom desempenho como profi ssional da área. 
  Articular informações referentes a modifi cações no espaço 
agrário/pesqueiro à atuação do técnico extensionista.
  Refletir sobre a atuação do técnico extensionista no 
desenvolvimento dos setores pesqueiro e aquícola 
no Brasil. 
2
Extensão pesqueira A03
Para começo 
de conversa... 
Dizem que uma imagem vale mais que mil palavras. O que você acha que esta está 
querendo dizer?
 Fonte: <http://www.objetosdedesejo.com/uploaded_images/fl yclockx-732951.gif>. Acesso em: 18 set. 2009.
É, o tempo não para e nem espera ninguém. A cada dia, acontecimentos históricos, 
novas descobertas da ciência, mudanças políticas e ambientais, entre tantos outros 
fatores, infl uenciam e transformam a realidade que nos cerca. Para ser um bom 
profi ssional, não basta lembrar o que os professores nos ajudaram a descobrir um dia. 
O aprendizado profi ssional é uma conquista diária, num ambiente onde os desafi os 
se renovam a cada momento. 
3
Extensão pesqueira A03
Técnico Extensionista: 
qual o melhor perfi l? 
O tema desta aula não tem a pretensão de dar a você uma “receita” - e nem poderia - de atuação como profi ssional. Nosso objetivo aqui é apresentar premissas básicas e proporcionar a refl exão sobre elas, como a ética profi ssional, o foco 
na comunicação e participação e no desenvolvimento local, que entendemos ser os 
caminhos mais viáveis para o atual momento vivido pela profi ssão.
Como vimos na aula anterior, é preciso entender, também, que os modelos de Assistência 
Técnica e extensão Rural (ATER) apresentados há décadas, quando da institucionalização 
dessas atividades no Brasil, foram exercidos por muitos profi ssionais que acreditaram 
e dedicaram-se a esse trabalho por ser a única opção que lhes fora apresentada até o 
momento, ou por não terem tido a oportunidade de refl etir sobre o resultado das próprias 
ações em função da estrutura hierárquica a que estavam submetidos. 
Muitos deles, porém, refletiram e avançaram na sua prática, atualizaram seus 
conhecimentos e continuam exercendo a profi ssão, agora com outra perspectiva. Assim 
como eles, o técnico extensionista em formação, nos dias atuais, deverá atuar de forma 
consciente, sem ignorar a perspectiva histórica, que poderá levá-lo a escolher outros 
caminhos no futuro. Em outras palavras, não se pode dar as costas ao tempo, porque 
ele “voa”. 
Esta aula diz respeito a você como futuro profi ssional, cuja formação depende, além do 
seu aprendizado, também da sua vocação, do seu interesse pelo tema. Como vimos 
na primeira aula desta disciplina, a extensão pesqueira é uma das atribuições que 
pode ser exercida pelo técnico em pesca/aquicultura. E, independente da profi ssão 
que você escolheu, é importante fazer aquilo de que se gosta. Se, para o bom exercício 
de qualquer profi ssão, não se pode ter como único objetivo a recompensa fi nanceira, 
no caso específi co da extensão, fatores como motivação e comprometimento se 
tornam essenciais.
1Praticando...
4Extensão pesqueira A03
O texto anterior tem como objetivo levá-lo a refl etir sobre a importância do 
interesse e dedicação de cada profi ssional pela atividade de extensão. 
Procure formar uma opinião sobre o tema, respondendo ás perguntas abaixo, 
e participe do fórum, debatendo com seus colegas sobre o tema:
1. Você já foi “mal atendido” por algum profissional? Qual foi a 
sua sensação? 
2. No caso do exemplo acima, você acredita que a insatisfação do 
profi ssional com a atividade desenvolvida por ele pode ter motivado 
esse comportamento?
3. E você, considera-se com “perfi l” para atuar como técnico extensionista?
4. Como você imagina que seriam as atividades desenvolvidas por você, 
nessa profi ssão? 
Extensão Rural e 
Pesqueira no Brasil 
Na aula passada, fi zemos um retrospecto sobre a história das atividades de ATER no 
Brasil, desde a experiência de Frederico Villar, em 1919, até os dias atuais. 
Em resumo, os serviços de Assistência Técnica e Extensão Rural – ATER iniciaram 
ofi cialmente no Brasil no fi nal da década de quarenta, período pós-guerra, com o objetivo 
de promover a melhoria das condições de vida da população rural e apoiar o processo 
de modernização da agricultura, seguindo o modelo norteamericano. 
O marco histórico de implantação da ATER no país foi a criação, em 1948, da Associação 
de Crédito e Assistência Rural (ACAR), resultado de um convênio entre uma agência 
americana, a International Association for Economic and Social Development (AIA), e o 
governo do Estado de Minas Gerais. 
5
Extensão pesqueira A03
Em 1956, com o apoio do presidente Juscelino Kubitschek, foi criada a Associação 
Brasileira de Crédito e Assistência Rural (ABCAR), constituindo-se, então, um Sistema 
Nacional articulado com Associações de Crédito e Assistência Rural nos estados. 
Na década de 70, uma iniciativa dos governos militares “estatizou” o serviço, implantando 
o Sistema Brasileiro de Assistência Técnica e Extensão Rural – Sibrater, coordenado pela 
Embrater e executado pelas empresas estaduais de ATER nos estados, denominadas 
Emater. Cabe ressaltar que, naquela época, a participação do Governo Federal chegou a 
representar, em média, 40% do total dos recursos orçamentários da Emater, alcançando 
até 80%, em alguns estados.
Com a extinção da Embrater, em 1990, foi desativado o Sibrater e, apesar das tentativas 
de coordenação nacional por meio da Embrapa e, posteriormente, pelo Ministério da 
Agricultura, a Emater fi cou à mercê das decisões e políticas dos Governos Estaduais. 
Esse período é considerado um dos mais críticos na história das atividades de ATER no 
País. No caso da Extensão Pesqueira, esses serviços foram quase que completamente 
eliminados. Alguns Estados buscaram reestruturar os serviços de ATER, dando-lhes 
diversas formas institucionais e criando novos mecanismos de financiamento e 
operacionalização. Nesse mesmo período, surgiram iniciativas de outros atores, incluindo 
as organizações não-governamentais, entre outras.
Na esfera legislativa, tanto a Constituição Federal de 1988 quanto a Lei Agrícola de 1991 
determinam que a União mantenha serviços de ATER pública e gratuita para os pequenos 
agricultores. Esse compromisso foi resgatado pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário 
(MDA), através da Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (PNATER), 
pautada em novos paradigmas, incorporando conceitos como a gestão participativa, 
agricultura familiar, agroecologia, desenvolvimento sustentável e desenvolvimento local 
(MDA/PNATER, 2004). 
A gestão participativa, como o próprio nome já diz, requer a participação ativa 
dos homens e mulheres do campo em todas as etapas, incluindo a discussão de 
problemas, alternativas de solução, planejamento, formulação e execução de projetos, 
no sentido de torná-los autores no processo de transformação da própria realidade. 
A base desse trabalho é o diálogo, contrapondo-se ao antigo paradigma de “repasse 
de conhecimentos”.
Como vimos na aula anterior, o termo agricultura familiar vem sendo utilizado no sentido 
de defi nir propriedades rurais que têm a própria família como principal fonte de mão-
de-obra. Entre outras características, observa-se, ainda, a diversifi cação da produção 
e o uso intensivo do solo. Esse conceito se contrapõe, por exemplo, com o conceito 
de “agronegócio”, representado, nesse caso, por grandes propriedades totalmente 
mecanizadas, especializadas em um único cultivo (a soja, por exemplo), onde todo o 
trabalho de exploração da terra é feito por empregados, muitos dos quais nem conhecem 
pessoalmente o proprietário. 
2Praticando...
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Extensão pesqueira A03
O conceito de agroecologia, difundido no Brasil a partir da década de 80, tem como 
premissa a prática de uma agricultura “limpa”, ou seja, livre de agrotóxicos, envolvendo 
o conhecimento tecnológico com a sabedoria popular sobre os ecossistemas, 
representando um modelo socialmente justo, economicamente viável e ecologicamente 
sustentável, contrapondo-se à agricultura convencional. 
Quando o assunto é desenvolvimento sustentável, estamos falando de uma concepção 
de desenvolvimento que não contemple apenas a esfera econômica, mas também o 
social e o ambiental. Em outras palavras, é pensar o desenvolvimento hoje, de forma 
que os resultados do mesmo não venham a comprometer o desenvolvimento das 
gerações futuras.
Já o desenvolvimento local diz respeito a um modelo de desenvolvimento sustentável 
baseado nas potencialidades locais, ou seja, é a partir da realidade e das potencialidades 
do “local” que são pensadas e construídas, de forma participativa, as alternativas de 
desenvolvimento, traduzidas na melhoria da qualidade de vida de todos os envolvidos. 
Nas nossas próximas aulas, teremos a oportunidade de debater e aprofundar esse e 
outros conceitos.
Finalizando, cabe ressaltar, no caso específi co da pesca e da aquicultura, a criação, 
ainda em 2003, da Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca (SEAP), com status 
de Ministério e vinculada à Presidência da República. A SEAP passou a ser o Órgão 
responsável pelas ações do governo federal voltadas ao desenvolvimento da pesca e 
da aquicultura no País, incluindo a operacionalização da PNATER, no que diz respeito a 
esses dois setores produtivos. 
Você acompanhou, no texto acima, um resumo da história das atividades 
de ATER no Brasil, onde são citados alguns conceitos que fazem parte da 
atual Política Nacional, a PNATER.
Defi na, com suas palavras, esses conceitos. Para auxiliá-lo nessa tarefa, 
você pode pesquisar na Internet, no site do MDA, artigos e textos voltados 
para esses temas. O endereço eletrônico é <http://www.pronaf.gov.br>.
Agricultura familiar:
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Extensão pesqueira A03
Agroecologia: 
Desenvolvimento sustentável
Desenvolvimento local:
Gestão participativa: 
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Extensão pesqueira A03
Técnico Extensionista:
Agente de Desenvolvimento Local 
Técnico extensionista: agente de desenvolvimento local. Você sabe o que isso signifi ca, na prática? 
Essa é a terceira aula em que falamos especifi camente de extensão rural e pesqueira. Falamos da 
sua história, de modelos de atuação que não surtiram os efeitos desejados e de novas perspectivas 
para a profi ssão. Mas afi nal, como isso se apresenta no dia-a-dia técnico extensionista?
“Num espaço agrário marcado pela exclusão social e reconfi gurado pelas formas 
associadas de produção agrícola e não agrícolas locais como estratégia de combate 
à pobreza rural, cabe aos extensionistas assumirem hoje o papel de gestores 
do desenvolvimento local e não mais de difusores de inovações tecnológicas 
agropecuárias e pesqueiras.” (CALLOU, 2003, p. 4).
Nas aulas 12 a 15 desta disciplina, trataremos especifi camente da temática “desenvolvimento 
local”, portanto não vamos nos aprofundar no assunto nesta aula. Entretanto, é importante que,ao refl etir sobre o perfi l profi ssional do técnico extensionista nos dias atuais, você possa entender 
o signifi cado e a diferença entre esses dois modelos de atuação.
“[...] Quando se fala em desenvolvimento local, é preciso discutir o conceito, que muda 
ao longo da história. Durante muito tempo, as pessoas foram levadas a pensar que 
era uma questão apenas de desenvolvimento econômico. Com o tempo, percebeu-
se que o desenvolvimento econômico é um componente necessário, mas não é o 
sufi ciente... Cada vez mais o conceito se distancia de progresso material ilimitado e 
se aproxima da ideia de assegurar a qualidade de vida e o progresso material dentro 
dos limites naturais – apontados pelo pensamento ambientalista que nos ajudou a 
enxergar isso.” (PAULA, 2006, p. 27-28). 
De um lado, a difusão de novas tecnologias e, de outro, o agente de desenvolvimento local. Vamos 
ver como isso se daria na prática, através das situações descritas abaixo: 
3Praticando...
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Extensão pesqueira A03
José trabalha como Técnico em Pesca na prefeitura de um pequeno Município. O atual prefeito 
pretende cumprir uma de suas promessas de campanha, que é aumentar em 50% a produção de 
pescado do Município, fi nanciando apetrechos de pesca e um GPS (sistema de posicionamento 
global) para cada grupo de 5 pescadores, a fi m de facilitar a localização dos cardumes e aumentar 
a produtividade. José é o responsável pelo cadastro dos pescadores que desejam ter acesso aos 
fi nanciamentos e também oferece treinamento na utilização do GPS pelos pescadores. Ele não 
tem certeza se a estratégia do Prefeito vai dar certo, também não questiona a taxa de juros que 
os pescadores terão de pagar sobre os valores fi nanciados e nem tampouco as consequências 
do aumento nas capturas para a manutenção dos estoques pesqueiros.
João também trabalha como Técnico em Pesca na prefeitura de um pequeno Município. Lá, 
a produção pesqueira também não vai bem, e os pescadores reclamam dos baixos volumes 
capturados. Desde que iniciou seu trabalho, João procurou conhecer as principais lideranças 
e conversa muito com os pescadores do Município. Utilizando uma metodologia que prioriza o 
diálogo e a participação entre os membros do grupo, desenvolveu, junto com eles, um diagnóstico 
da situação atual, apontando as causas e possíveis soluções para o problema da pesca no 
Município. João observou que a falta de vegetação em alguns pontos das margens do rio que corta 
o Município pode ser um dos fatores que vem contribuindo para a redução dos estoques. Observou 
ainda que a forma de manuseio do pescado nas embarcações contribui para a baixa qualidade do 
mesmo, o que diminui os preços e provoca desperdício. João também prestou atenção no “festival 
do pirapá”, um peixe típico da Região. São três dias de festa, atraindo pessoas dos Municípios 
vizinhos, e envolve uma série de danças e manifestações culturais. O resultado das conversas, 
das observações e do diagnóstico realizado foi transformado num projeto, num trabalho conjunto 
que uma comissão, eleita e formada por pescadores, acompanhados por João, vai apresentar ao 
Prefeito do Município.. Não é um projeto caro, e nem envolve grandes fi nanciamentos, mas todos 
estão animados e querem participar. 
E então, deu para perceber a diferença? Enquanto José operacionaliza um projeto com soluções 
vindas de fora, João procura construir caminhos a partir da realidade e das potencialidades 
locais, identifi cadas pela própria população. De um lado, há o cumprimento de tarefas. Do outro, 
há comprometimento. 
Vamos praticar? Suponha que você foi contratado pela mesma Prefeitura que 
contratou João e, tendo como base as informações descritas no parágrafo 
acima , descreva, no espaço abaixo, uma sugestão sobre o que você poderia 
fazer, na prática, para iniciar um trabalho pautado pela ação participativa 
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Extensão pesqueira A03
O trabalho do técnico 
extensionista nos dias atuais: 
avanços e difi culdades na 
implementação da PNATER 
A nova política de ATER no Brasil, em execução pelo MDA, trouxe consigo muitos avanços, ao preconizar a promoção do desenvolvimento rural sustentável, com ênfase na utilização de métodos participativos e de um paradigma tecnológico baseado nos princípios da 
Agroecologia. Por outro lado, trouxe também o desafi o da sua implementação por instituições e 
profi ssionais nem sempre preparados e/ou com condições de abraçar essa tarefa.
Se no modelo anterior cabia ao profi ssional de ATER repassar informações tecnológicas com 
o objetivo de aumentar a produção a qualquer custo, o atual modelo requer uma nova postura 
profi ssional, baseada no diálogo e na participação. Isso requer, além da capacitação técnica da 
equipe de profi ssionais envolvidos, o tempo e os recursos necessários para que esse processo 
se dê, de fato, o que não pode ocorrer sem um planejamento e/ou com uma sobrecarga de 
atendimentos, limitando o tempo disponível do técnico extensionista com cada grupo.
E se o modelo anterior não conseguiu lograr êxito na redução da pobreza no meio rural, deixou 
como herança problemas atuais, como a concentração da terra, o êxodo rural, a baixa escolaridade 
para o desenvolvimento local. Não se esqueça de inserir suas sugestões no fórum e 
dividir suas opiniões com os colegas. 
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Extensão pesqueira A03
no campo, a redução da biodiversidade, poluição, contaminação dos alimentos e exclusão social. 
Por outro lado, cabe à Pnater servir como referencial para os Estados, o que ocorre na orientação 
de convênios e contratos do MDA com as entidades governamentais e não-governamentais, mas 
que não garante, de forma efetiva, que a adoção das velhas práticas não continue sendo adotada 
no campo. 
[...] as entidades de Ater ainda carecem de uma gestão compatível com os novos desafi os; 
faltam-lhes estratégias diferenciadas em sua forma de atuação junto ao público benefi ciário, 
bem como uma nova visão do papel e do perfi l dos extensionistas... O novo enfoque de Ater 
requer que o agente esteja preparado para utilizar técnicas e instrumentos participativos que 
permitam o estabelecimento de negociações e a ampliação da capacidade de decisão dos 
grupos sobre sua realidade. (CAPORAL; RAMOS, 2006, p. 5-7).
Nesse processo, o agente de Ater, para além de um simples técnico, é também o mediador nos 
processos de desenvolvimento. Isso requer, além de uma sólida formação na área que lhe é de 
competência, conhecimentos básicos em outras áreas e a capacidade de articulação para buscar 
parcerias com profi ssionais de diversos ramos que possam contribuir para o desenvolvimento de 
seu trabalho com qualidade. Mas, como avaliar a qualidade de um trabalho que envolve tantos 
fatores subjetivos?
Caporal e Ramos (2006), apresentam alguns exemplos de indicadores a serem acompanhados 
em cada grupo atendido, seguindo os princípios da Pnater e do desenvolvimento sustentável: 
a) indicadores do processo de transição agroecológica: redução do uso de insumos 
químicos sintéticos, melhorias no solo, uso de tecnologias de base ecológica (inseticidas 
biológicos, adubos orgânicos, etc.), redução de impactos ambientais (erosão do solo, 
redução das queimadas, proteção das nascentes, etc.), diversifi cação de cultivos, aumento 
da biodiversidade nos agroecossistemas (plantas de coberturas, plantas companheiras, 
corredores ecológicos, SAF, etc.), melhorias das relações ecológicas entre solo, planta e 
animais (presença de inimigos naturais, micorrizas, fungos entomófogos, etc.);
b) indicadores sociais: melhoria na alimentação das famílias, tomada de decisões sobre os 
recursos da família (uso da mata, sementes, decisão sobre aplicação de recursos fi nanceiros, 
etc.), participação dos jovens e das mulheres nas decisões, acesso a sistemas de saúde e 
previdência, uso de plantas medicinais, condições de moradia, disponibilidade de água potável,

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