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CADERNO DE DIREITO TRIBUTÁRIO II PONTO 1: OBRIGAÇÃO TRIBUTÁRIA Obrigação é um vínculo jurídico que opõe pelo menos duas pessoas. Há posições antagônicas em relação a um objeto. Pelo menos duas pessoas sempre fazem parte da relação tributária: o Estado e o particular. No processo de sistematização do direito tributário, há o aproveitamento dos conceitos dos ramos obrigacionais do direito e a importação de elementos do direito civil para o campo tributário. Define-se relação jurídica como a atribuição de um poder a uma determinada pessoa e a correspondente imposição de um dever a outra, havendo desse modo um credor e um devedor. Esse vínculo jurídico que obriga alguém a prestar algo (dar, fazer ou não fazer) é chamado de relação jurídica obrigacional. A relação jurídico-tributária é uma relação obrigacional. A obrigação é um poder jurídico por meio do qual uma pessoa (sujeito ativo), com base na lei (causa), pode exigir de outra ou de um grupo de pessoas (sujeito passivo) o cumprimento de uma prestação possível, lícita, determinável e possuindo expressão econômica (objeto). A obrigação positiva consiste em um dar ou em um fazer, a negativa consiste em um não fazer. A relação tributária é de natureza obrigacional que, entretanto, ao contrário da obrigação de direito privado (que pode surgir por vontade das partes), só pode resultar da lei, em razão do princípio da legalidade. A relação tributária, embora obrigacional, se distingue da relação do direito privado porque a tributária é ex lege (decorre de lei), enquanto que a do direito privado é, em regra, ex voluntate (decorre da vontade das partes ou pessoas envolvidas). Contudo, o fato de a relação jurídico-tributária decorrer do poder de império do Estado e efetivado por meio de lei em sentido estrito não impede de considerá-la como obrigacional, porque a obrigação tributária não cria apenas uma dever para o contribuinte, mas também para o Estado, que ficará limitado a cobrar o tributo dentro das condições estabelecidas em lei. Assim, destacam-se duas distinções entre a relação tributária e a relação obrigacional no direito privado: A) A maior parte das obrigações no Direito Comum decorrem da autonomia da vontade. Porém, há também as obrigações compulsórias, que são obrigações ex lege, ou seja, que decorrem de lei. Já no Direito Tributário tudo está pautado pela ótica da compulsoriedade, ou seja, as obrigações são compulsórias, conforme art. 3º, CTN. B) No Direito Tributário, sempre haverá um credor único. O credor é sempre o Poder Público. 1. CONCEITO E ELEMENTOS DA OBRIGAÇÃO TRIBUTÁRIA A obrigação tributária é o poder jurídico pelo qual o Estado, com base na lei, pode exigir do particular uma prestação positiva ou negativa. Representa um dever público do Estado de Direito moderno. Submete-se, por conseguinte, ao sentido da legalidade estrita. Em relação aos elementos da obrigação tributária, podem ser apontados os seguintes: A. Sujeito ativo → Será sempre pessoa jurídica de direito público; → Tem competência para exigir a satisfação do dever. Vide art. 119, CTN c/c art. 7º, CTN. Tem que haver essa combinação porque o art. 119 só fala em exigir. Observa-se que competência tributária (legislar) é diferente da capacidade tributária, também chamada de “competência ativa” (executar). Nem sempre a pessoa que legisla é a mesma que executa. A função executória pode ser objeto de modificação. O sujeito ativo pode ser, mas não é necessariamente, a pessoa que legislou. Por exemplo, houve uma mudança no sujeito ativo da contribuição previdênciária: antes era o INSS, atualmente é União (a Receita Federal é um órgão da Administração Direta, por isso, entra-se com um processo contra a União). Nas taxas das agências reguladoras, o sujeito ativo são as agências reguladoras. O sujeito ativo é a pessoa jurídica de direito público competente para exigir o cumprimento dos tributos. O sujeito ativo da obrigação tributária é sempre o poder público (a fazenda pública). B. Sujeito passivo É a pessoa obrigada a cumprir o dever tributário (dar, fazer e não fazer). Percebe-se que se utiliza um conceito amplo de pessoa, pode ser pessoa física ou jurídica, pessoa do direito privado ou do direito público. Quanto à pessoa de direito público, é importante destacar que a imunidade recíproca refere-se aos impostos. Os outros tributos têm que ser pagos. O sujeito passivo é a pessoa obrigada ao cumprimento da prestação tributária (art. 121, CTN). C. Causa Questiona-se de onde vem a obrigação tributária. Toda e qualquer obrigação tributária tem sua gênese em lei. A obrigação tributária é uma obrigação ex lege. É uma obrigação normativamente concebida. Causa → Lei (normativo) A causa, de forma mediata, é a lei, em razão do princípio da legalidade tributária. D. Objeto O objeto é a prestação. É o comportamento esperado do sujeito passivo e que pode ser exigido pelo sujeito ativo. É o cumprimento de uma prestação positiva ou negativa determinada pela norma jurídica. – Dar coisa certa (pagar) Obrigação principal (art. 113, §1º, CTN) → Forma de cumprimento (Art. 113, CTN) – Fazer/não fazer Obrigação acessória (art. 113, §2º, CTN) O art. 113, CTN, classifica a obrigação tributária em principal e acessória, considerando como critério distintivo o objeto prestacional. A obrigação principal é aquela de cunho pecuniário (dar dinheiro), pela qual o Estado arrecada os recursos públicos, enquanto que a acessória impõe comportamentos prestacionais (fazer e não fazer). A obrigação principal é a obrigação de dar dinheiro. A obrigação acessória são os deveres instrumentais de fazer ou não fazer. O elemento constitutivo da obrigação principal é o fato gerador, pois somente com ele concretamente nasce o dever jurídico (art. 113, §1º, CTN). Observa-se ainda que a obrigação principal tem por objeto o pagamento, seja quanto ao recolhimento de tributo ou quanto ao pagamento de multas. Tributo e multa são obrigações principais, todavia, não se confundem. A multa tem um caráter punitivo e o tributo não tem. Porém, eles possuem o mesmo objeto e têm o mesmo tratamento quanto à forma de cumprimento. A obrigação acessória é decorrente da legislação tributária, impondo a realização de condutas, positivas ou negativas, no interesse da fiscalização ou da arrecadação. O termo acessório não traduz um sentido de dependência da obrigação principal, significando sim a existência de deveres anexos ao objetivo básico da arrecadação. Esses deveres instrumentais não exigem lei em sentido estrito para sua previsão. A obrigação acessória poderá ser imposta por decretos ou até mesmo por normas complementares do Poder Executivo, como expressado no art. 96 c/c art. 100, CTN. O que diferencia a obrigação principal da acessória é o objeto (ato determinado na norma) e a sua causa individual (lei ou legislação). Portanto a obrigação tributária principal surge com o fato gerador, com o objetivo de pagar tributos, e está submetida à lei tributária, conforme art. 113, §1º. Já as obrigações acessórias não têm qualquer relação com o pagamento ou com uma prestação de dar dinheiro, mas representam a fixação dos deveres de fazer (obrigação acessória positiva) ou de não fazer e de tolerar (obrigação acessória negativa). São exemplos de obrigação acessória positiva: emissão de notas fiscais, entrega de declaração, inscrição no cadastro de contribuintes (o CPF e o CNPJ são, do ponto de vista tributário, obrigações cadastrais, obrigações de fazer), etc. São exemplos de obrigação acessória negativa: nãorasurar, não transportar mercadoria sem nota fiscal ou domumentação inidônea, não receber produtos cuja procedência não possa ser comprovada, tolerar a ação de fiscalização no seu estabelecimento, não pular a numeração no talão de cheque, etc. No Direito Tributário, o acessório não segue necessariamente o principal, visto que há certa autonomia entre as duas obrigações. É possível existir dever principal desacompanhado da obrigação acessória; assim como, haver deveres acessórios mesmo que não haja dever de pagamento. Por isso, muitos criticam a expressão obrigação acessória. Para estes seria melhor chamar de obrigação instrumental ou anexa, pois elas existem para facilitar a arrecadação de tributos. As pessoas imunes estão imunizadas em relação à obrigação principal. O princípio da anterioridade aplica-se apenas para a obrigação principal. Mesmo quem não paga tributo tem que cumprir obrigações acessórias. No silêncio da lei, entende-se que a imunidade ou isenção da obrigação principal não se estende à obrigação acessória. Esquematicamente, temos: – Tributo – Obrigação principal → pagamento – Multa – Fazer (positiva) – Obrigação acessória – Não fazer (negativa) A obrigação acessória compreende deveres instrumentais (arrecadação/fiscalização). Quanto à fiscalização é importante fazer uma observação quanto ao art. 194, parágrafo único, CTN. A fiscalização tem uma aplicação mais ampla ao que é dito no parágrafo, visto que podem ser fiscalizados quaisquer situações que estejam próximas de relações tributária, ou seja, mesmo aquelas situações que aparentemente não tenham qualquer relação tributária serão objeto de fiscalização. Por exemplo, quem não existe formalmente pode ser objeto de fiscalização, ou seja, o condomínio, o espólio e outros entes despersonificados pode ser fiscalizados. Conforme o art. 175, parágrafo único, CTN, mesmo quem tem isenção e anistia tem que cumprir as obrigações acessórias. De igual modo, a suspensão da exigibilidade do crédito tributário não implica a dispensa das obrigações acessórias (art. 151, parágrafo único, CTN). Pode haver situações tributárias em que só tenha obrigação principal (IPTU, IPVA); porém, também há situações em que há obrigação acessória, sem haver uma obrigação principal. Exemplo: o próprio STF reconhece que as entidades, ainda que imunes, devem manter o cumprimento das obrigações acessórias, de modo que ele reconheceu a obrigação do SESC de fazer notas fiscais de prestação de serviços. A ideia da obrigação acessória é uma ideia muito finalística, de modo a facilitar/viabilizar o controle da Administração Pública. Cabe ressaltar que o descumprimento da obrigação acessória a converte em obrigação principal, visto que acarretará a incidência de uma multa tributária (art. 113, §3º, CTN). A obrigação acessória decorre da legislação tributária. Legislação não é sinônimo de lei (art. 96, CTN). O termo legislação engloba tanto as fontes primárias como secundárias. A Receita Federa pode baixar uma instrução normativa (ato administrativo normativo) instituindo uma obrigação acessória, uma portaria de um secretário também pode criar uma obrigação acessória, por exemplo. A legalidade na obrigação principal é mais estrita. Na obrigação acessória, utiliza- se a legalidade em sentido amplo. Existem algumas críticas à essa flexibilidade referente às obrigações acessórias: → Há um custo gerado pelas obrigações acessórias: exemplo, quando a Receita Federal cria várias obrigações acessórias, isso aumenta o custo do sujeito passivo. → A maior parte das obrigações acessórias são para coleta de informação para fins tributários. De acordo com alguns autores, hoje a maior parte das informações podem ser coletadas por meio das tecnologias de informação, não sendo necessário a criação de obrigações acessórias para esse fim. Os tratados internacionais em matéria tributária tentam evitar bitributações. Existe o Acordo Fatca, que é um acordo internacional de troca de informações tributárias entre países. Para cumprir esse acordo, a Receita Federal teve que criar novas obrigações acessórias, entre elas, teve que haver o detalhamento dos gastos do sujeito passivo, havendo um aumento dos custos das obrigações acessórias. A coleta de informação cai na máxima de ponderar direitos, visto que pode haver conflito com a privacidade. Além disso, existem pessoas que discutem a razoabilidade das obrigações acessórias. O sigilo bancário decorre da cláusula da privacidade. O STF declarou constitucional o Fisco ter acesso a dados bancários. A lei que foi objeto de julgamento foi a Lei complementar 105 (2001), visto que nela há a previsão de que autoridade fiscal pode ter acesso aos dados bancários. A Corte defendeu a tese da transferência de sigilo bancário, dizendo que ela não se confunde com a quebra de sigilo bancário. 2. FATO GERADOR É a figura que dá origem à obrigação tributária, caracterizando-se, portanto, como fato constitutivo do dever jurídico. No Código Tributário, a expressão “fato gerador” foi utilizada em vários sentidos diferentes. Uma dessas referências refere-se ao fato gerador como uma previsão em lei. A ideia do fato gerador no momento de previsão legal tem que ser o mais genérico possível. O tributo parte do pressuposto que há um fato econômico por trás dele que seja revelador de riqueza. A CPMF é um tributo fácil de arrecadar, porém, era criticado pelo seu fato gerador, visto que sacar dinheiro não é um ato que por si só revela riqueza. De acordo com o art. 114, CTN, os elementos que compõem o fato gerador têm que ser necessários e suficientes para se conseguir entender a situação que será tributada, ou seja, deve prever em norma todas as características para se compreender o que será tributado. Esse art. 114, CTN, trata da hipótese de incidência. Só há o dever de pagar tributo se a situação social se encaixar perfeitamente na previsão legal que trata do tributo. O primeiro passo para a criação do fato gerador é a definição da situação a ser tributada. A situação definida em lei signfica a escolha pelo legislador, de um ato, fato, de qualquer situação que demonstre alguma percepção de riqueza capaz de desencadear o dever de pagar tributos, colocando os particulares na condição de devedores e o Estado na qualidade de credor. Para alguns autores, tem-se a hipótese de incidência representando o fato gerador em abstrato e o fato imponível representando o fato gerador em concreto. Contudo, observa-se que o CTN usa a expressão fato gerador tanto para a situação em abstrato como para se referir ao evento em concreto. Percebe-se a importância da observação dos princípios da legalidade e da tipicidade. A necessidade da previsão em lei do fato tributável se deve ao princípio da legalidade, que permeia o Direito Tributário e que representa exigência constitucional. Em relação à obrigação principal, o fato gerador é a “situação definida em lei como necessária e suficiente à sua ocorrência”. Trata-se da adoção do princípio da tipicidade. Conforme o STJ, “por força do princípio da legalidade estrita, corolário da tipicidade fechada, própria do Direito Tributário, apenas a lei em sentido formal pode estabelecer os elementos estruturais ou essenciais dos tributos, com exceção dos casos previstos expressamente no próprio CTN”. O princípio da tipicidade é fechado, inclusive mais fechado que no direito penal. Não existe norma em branco no direito tributário. No direito tributário, só pode haver a cobrança do tributo se o fato ocorrido se encaixar perfeitamente na previsãolegal. A tipicidade traduz a ideia de que deve haver um previsão específica, detalhada e cuidadosa para que um fato ocorrido possa ensejara a cobrança de tributo. É uma tipicidade fechada, mais fechada ainda que o Direito Penal, pois não existe lei tributária em branco, por exemplo. Conforme a manifestação do STF, ganhar dinheiro é muito genérico, deve haver uma lista taxativa de quais fontes serão consideradas como fato gerador – dinheiro decorrente de salário, loteria, etc. Os serviços sobre os quais incide o ISS também devem estar previstos em uma lista taxativa. A obrigação tributária surge com a ocorrência do fato gerador (art. 113, §1º, CTN). A hipótese de incidência, também chamada de regra-matriz é o fato tributável previsto em lei. O fato gerador da obrigação acessória é qualquer situação descrita na norma que imponha a prática ou a abstenção de ato que não configure obrigação principal. Conforme a doutrina, podem ser apontados cinco elementos do fato gerador: A. Elemento Material/substancial É o que a lei chama propriamente de fato gerador. É o fator determinante do tributo. É a situação da vida social que enseja o dever de pagar tributo. É a conduta descrita na norma que origina a obrigação tributária. Exemplo: auferir renda (IR), circular mercadorias (ICMS), ter propriedade (IPTU). É importante observar que é inadequado o Direito Tributário alterar os institutos, definições, características e os conceitos de outros ramos do Direito, como o Direito Privado. O legislador deve respeitar a unicidade do Direito. Pode se atribuir efeitos tributários a esses institutos, porém, não se pode modificá-los, conforme art. 109 e art. 110, CTN. Assim, por exemplo, o legislador tributário não pode considerar o seguro de vida uma herança. B. Elemento Espacial Observa-se onde ocorre o fato gerador, ou seja, o local do fato gerador. Exemplo: o fato gerador do IPTU ocorre onde se situa o imóvel, sendo tributado pelo município em que se encontra o imóvel. Porém, ressalta-se que essa determinação não é tão simples no caso de bens que não são imóveis, como, por exemplo, os serviços. C. Elementos Quantitativos Os aspectos quantitativos abrangem: – Alíquota (%) – Base de cálculo: valor sobre o qual a alíquota incide. No ICMS, a base de cálculo é o valor da mercadoria. Em relação à base de cálculo do Imposto de Renda, na pessoa física, pensa-se na ideia de ganhos e rendimentos com deduções. Na pessoa jurídica, a base de cálculo refere-se ao lucro. No IPVA, a base de cálculo é o valor do veículo. D. Elementos subjetivos ou pessoal É a determinação dos sujeitos ativos e dos sujeitos passivos. Observa-se sobre quem incide o tributo. Indaga-se quais são os sujeitos ativos e passivos, qual pessoa que está relacionada naquele fato tributário, visto que não é possível tributar quem não mantém relação com o fato da vida social (com o elemento material sobre o qual incide o tributo). E. Elemento temporal Observa-se quando se identifica o fato jurídico incidente. É a identificação da ocasião ou de quando ocorre o fato gerador. No ITCMD, é no momento do óbito. No ITBI, é no momento em que se faz o registro, porém, para fazer a escritura tem que se pagar o ITBI primeiramente, ou seja, paga-se o tributo antes da ocorrência do seu fato gerador, o que gerou uma discussão no STF. A lei deve estabelecer o momento em que se considera ocorrido o fato gerador, o que possibilita a sua incidência concretamente e aperfeiçoa o elemento temporal. 2.1. Momento de ocorrência do fato gerador Há o momento legislativo, em que a obrigação tributária é abstrata (norma geral e abstrata). Não é o fato gerador em si, mas a hipótese de incidência. O legislador terá que descrever e trazer os elementos técnicos para o fato se subsumir à norma. O legislador deverá narrar minusciosamente a hipótese de incidência. Passa-se a ter a obrigação tributária em si no momento do fato gerador, antes disso a norma é geral e abstrata. No momento da ocorrência do fato gerador iniciam-se os efeitos da obrigação tributária. Devido à sua importância, o CTN procura determinar quando se considera ocorrido o fato gerador, no caso de omissão legal. O art. 116 fala sobre dois tipos de situações sobre o fator gerador: a situação de fato e a situação jurídica. A situação de fato configura-se como a cirscunstância não disciplinada ou não detalhada pelas normas jurídicas. Nesse caso, a mera ocorrência de situação fática referente ao tributo serve para a compreensão do fato gerador. A situação jurídica é aquela circunstância (determinada como fato gerador) que está totalmente regulada e especificada na ordem jurídica. É o caso, por exemplo, da compra e venda de imóveis. Para a situação de fato, o art. 116 considera a ocorrência do fato gerador a partir de momento em que são verificadas todas as circunstâncias materiais necessárias para que tal situação produza os efeitos que normalmente lhe são próprios. Situação de fato → circunstâncias materiais Para a situação jurídica, sendo esta dependente das especificações da regra de Direito, considera-se ocorrido o fato gerador a partir do momento em que a referida situação estiver definitivamente constituída nos termos das normas que a disciplinam. Situação jurídica → definitivamente constituída na lei aplicável Na situação jurídica, pode ocorrer de o fato gerador ser submetido à estipulação de condições, que são aquelas circunstâncias que subordinam os efeitos a um determinado evento futuro e incerto (art. 121, CC/2002). As condições podem ser suspensivas: (art. 125, CC) ou resolutivas (art. 127, CC). – Suspensiva: (art. 125, CC): é aquela em que o negócio jurídico realizado não tem o seu efeito principal já verificado, ficando este suspenso até que ocorra aquele efeito. Somente quando ocorrer o evento tratado como condicional é que o efeito principal do negócio produzirá plenas consequências jurídicas. O fato gerador ocorre com o implemento da condição. Somente no momento futuro da ocorrência da condição verificada e ocorrida é que também ocorrerá o fato gerador. Um exemplo é a venda a contento (art. 509, CC), os 30 dias para o comprador ver se a compra foi do seu agrado é uma condição suspensiva. Outro exemplo é o leasing clássico, em que há a locação e posteriormente ocorre a opção de compra, que é quando a propriedade é transferida e, portanto, ocorre o fato gerador. – Resolutiva (art. 127, CC): é aquela que resolve o contrato, mas sem o impedimento da produção de efeitos desde o primeiro ato praticado. O fato gerador ocorre desde a prática do ato, desde a celebração do negócio. Exemplo: alguém doa um imóvel, porém, com o dever usá-lo para determinado fim, sob pena de devolver. Nesse caso, o fato gerador ocorre desde o momento em que se efetivou a doação. Entretanto, se o bem deixar de ser utilizado para o fim determinado, será posto fim à doação e não haverá mais efeitos. Observa-se que a hipótese de incidência do tributo já ocorreu na celebração do negócio, não ensejando qualquer restituição do tributo já pago. Outro exemplo é o leasing financeiro em que a pessoa compra um veículo por meio de um banco. A propriedade foi transferida no momento em que o banco comprou o veículo da concessionária e se a pessoa não pagar as prestações, o banco pode pegar o veículo de volta (condição resolutiva). As suspensivas são aquelas em que quaisquer efeitos só se produzirão após a ocorrência do fato incerto e futuro, ficando-se no mais em mera expectativa de direito. Suspensivas → efeitos suspensos As resolutivas são aquelas nas quais, enquanto não se realizar a condição, o ato jurídico é perfeito e produz todos os efeitos inerentesà sua substância. Resolutivas → condição resolve a questão Por causa dessas especificidades, o art. 117, CTN, trata da verificação do fato gerador nas situações jurídicas condicionais. De acordo com o CTN, a identificação dos momentos de verificação da ocorrência do fato gerador pode ser resumida da seguinte forma: – Situação de fato → verificação das circunstâncias materiais; – Situação jurídica → definitivamente constituída; – Condição suspensiva → momento de seu implemento; – Condição resolutória → prática do ato ou da celebração do negócio jurídico. 2.2. Interpretação do fato gerador De acordo com o art. 118, CTN, a interpretação do fato gerador deve ser feita de forma objetiva (interpretação objetiva). Pela leitura desse artigo, a validade ou invalidade verificada em outros áreas do direito, a nulidade, a anulabilidade e a anulação decretada por ato jurídico não é importante para a compreensão do fato gerador e sua dimensão tributária. Se a obrigação tributária é ex lege, se afastam todos os vícios do direito civil. Praticado o ato jurídico ou celebrado o negócio que a lei tributária prescreve como fato gerador nasce a obrigação tributária. A obrigação existirá independentemente da validade ou invalidade do ato ou das consequências que possua nos demais ramos do direito. Essa determinação consagra o princípio do pecunia non olet (o dinheiro não tem cheiro). Essa determinação não importa a legalização dos atos inválidos. Ela trata da efetividade do princípio da igualdade, visto que quem realizou os atos de maneira a seguir toda a disciplina jurídica paga os tributos. Não isonômico seria deixar de tributar àquele que não respeitou as regras. 2.3. Elisão e evasão Esse assunto está relacionado com a questão do planejamento tributário, ou seja, o que pode ser feito para pagar menos tributos. A evasão é o uso de meios ilícitos e antijurídicos para evitar o pagamento de tributos. A evasão é realizada por meio de medidas ilegais por parte dos contribuintes como, por exemplo: a omissão de informações, as falsas declarações e a produção de documentos que contenham informações falsas ou distorcidas. Esses mecanismos não são considerados válidos para afastar o fato gerador do tributo e são repreendidos pela legislação tributária e penal. A sonegação fiscal – tipo penal previsto no art. 1º da Lei 8137/1990 – configura-se como um tipo qualificado de evasão. Mais do que ilícita, tal conduta ofende também a ordem penal, mantendo as qualidades caracterizadoras da evação. Assim, toda sonegação é uma evasão, mas nem toda evasão é uma sonegação. A elisão constitui-se como um meio lícito e válido para a economia dos tributos. Ela envolve o planejamento das atividades do contribuinte, por meio da utilização de métodos legais para diminuir as consequências tributárias dos seus atos e atividades. Deste modo, o sujeito passivo, observando as normas do ordenamento jurídico, realiza escolhas prévias (antes mesmo da ocorrência do fato gerador) que permitem diminuir o impacto tributário. Um exemplo é a holding familiar, a qual é utilizada como instrumento de planejamento sucessório. Diferentemente da evasão fiscal – em que ocorre o fato gerador e contribuinte não paga uma obrigação legal se valendo de meios escusos e proibidos –, na elisão fiscal, evita-se a ocorrência do fato gerador ou tem suas consequências minoradas por meio de atos que implicarão numa menor repercussão tributária. A evasão é ilícita e proibida; a elisão é válida e permitida. A elisão é prática decorrente do princípio da legalidade, sendo fruto de planejamento fiscal. Sendo assim, nada impede que o contribuinte busque alternativas para redução da sua carga tributária dentre as opções que a lei fornece. As medidas evasivas são as condutas ilícitas. As medidas elisivas são as condutas lícitas. Cabe ressaltar a existência de posicionamento doutrinário que distingue elisão lícita e elisão ilícita, abusiva ou ineficaz, a qual é chamada de elusão tributária. A elusão tributária ocorre independentemente do momento do fato gerador, sendo uma conduta praticada pelo sujeito passivo com abuso da forma jurídica ou abuso de direito, com completa discordância entre a forma de determinado negócio jurídico e o conteúdo econômico que lhe corresponde. Assim, a elusão (Tax Avoidance) é mecanismo utilizado para se ter uma menor consequência tributária por meio de uma forma válida, mas que é criado somente para evitar ou diminuir tributos. A lei complementar 104/2001 acrescentou parágrafo único ao art. 116 do CTN, de modo a admitir a possibilidade de a autoridade administrativa desconsiderar atos ou negócios jurídicos praticados com a finalidade única de dissimular a ocorrência do fato gerador do tributo ou a natureza dos elementos constitutivos da obrigação tributária. Ressalta-se que a maior parte da doutrina considera-a uma norma não autoaplicável, ou seja, para a maior parte da doutrina a autoridade administrativa não pode desconsiderar a personalidade jurídica. Esse dispositivo visa a coibir o abuso da elisão, o abuso da forma. Ele objetiva identificar a prática de ato que tenha os efeitos econômicos previstos, mas em que o sujeito passivo cria uma dissimulação de um fato análogo que não está descrito na norma unicamente para escapar da tributação. A elisão pode representar uma violação à justiça tributária, à isonomia tributária e à capacidade contributiva, visto que o sujeito passivo utiliza formas indiretas de minorar os efeitos dos fatos econômicos tributados, porém, é o direito do contribuinte. Esse parágrafo não pode ser visto como o fim das medidas elisivas válidas, mas sim como instrumento para evitar elisão abusiva. A função da cláusula anitielisiva é evitar ou diminuir o espaço da elisão fiscal, com cláusulas genéricas e específicas. Essa norma de eficácia limitada indica que a elisão (conjunto de medidas dos sujeitos passivos para validamente evitar ou reduzir os efeitos tributários antes da ocorrência do fato gerador) não possuirá mais caráter absoluto. Porém a norma antielisão deverá ser aplicada apenas nos casos em que o sujeito passivo adote medidas com a finalidade de dissimular a própria ocorrência do fato gerador ou a natureza dos elementos que compõem a obrigação tributária. Assim, a elisão é válida, ressalvadas as medidas para dissimular proibidas no art. 116, parágrafo único, CTN. Evasão é diferente de Elisão Ilícitas Lícitas - Proibidas - Expressamente permitidas Ex: Sonegação - Lacunas (Tipo penal) Por fim, destaca-se que, no aspecto penal, o STF possui o entendimento de que só pode começar a ação penal depois de consolidada a dívida tributária, ou seja, deve-se esgotar todos os instrumentos administrativos (Súmula Vinculante 24). 3. SUJEITOS DA OBRIGAÇÃO TRIBUTÁRIA 3.1. Sujeito ativo (art. 119, CTN) O sujeito ativo é uma das partes da obrigação tributária e tem a competência para exigir o cumprimento da prestação. A sujeição ativa pode consistir na exigência do pagamento de tributo ou penalidade pecuniária (obrigação tributária principal), na imposição da prática (prestação positiva) ou na omissão (prestação negativa) de um ato de interesse da arrecadação, da fiscalização ou controle dos tributos, conforme o art. 113, CTN. O sujeito ativo é competente para exigir o cumprimento da obrigação principal e da obrigação acessória. Em geral, essa capacidade decorre da própria competência tributária determinada constitucionalmente. Normalmente, a lei não nomeia o sujeito ativo. A sua identificação deriva da competência outorgada pela Constituição Federal e da edição de norma impositiva por meio do seu poder legislativo. O sujeito ativo não é necessariamentequem legisla e sim quem tem o poder de cobrar o tributo, ou seja, que detém o poder de fiscalizar, executar e arrecadar. Se via de regra haverá a coincidência entre o competente para legislar e o que tem capacidade para agir, nem sempre o titular de competência constitucional é o sujeito ativo, visto que existe a possibilidade de as funções administrativas e executivas de arrecadação e fiscalização serem transferidas a outras pessoas de direito público (art. 7º, CTN). Por isso, não se deve confundir a competência para instituir tributos com a competência para exigir o cumprimento da obrigação tributária, denominada de capacidade tributária ativa. Somente quem recebe a competência tributária constitucionalmente é que pode criar lei relacionada ao tributo, lembrando que não é admitida nem delegação expressa, nem tácita da competência legislativa(art. 7º e 8º, CTN). Porém, instituído o tributo por meio de lei, não há impedimento para o titular delegar a outro ente público as funções de arrecadar, fiscalizar ou executar leis, decisões, atos administrativos referentes ao tributo (sujeição ativa por delegação). O sujeito ativo é a pessoa jurídica de direito público, que é titular da competência para exigir tributo, conforme art. 119, CTN. Conforme o disposto no art.119 c/c 7º do CTN, são os sujeitos ativos são as Pessoas de Direito Público que são titulares da competência para exigir o tributo. Um ponto a ser destacado refere-se à situação em que o sujeito ativo é submetido à desmembramento de uma pessoa jurídica de direito público, como a criação de um novo Estado ou Município (art. 18, §§ 3º e 4º, CF/88). Nesse caso, os direitos da entidade desmembrada são transferidos à nova, permanecendo esta com a utilização das normas de legislação da entidade anterior até que constitua ordenamento próprio, conforme o art. 120, CTN. Enquanto não for feita a sua própria legislação tributária, o novo Estado subrroga-se nos direitos do Estado do qual ele foi desmembrado, sendo tal fenômeno denonimado de subrrogação ativa. Logo, o crédito tributário relativo a fatos ali ocorridos vão ser de competência tributária do novo Estado, que usará a legislação tributária do antigo Estado até a edição de lei própria. Isso valerá inclusive para os créditos já formalizados e decorrentes de fatos geradores anteriores ao ato de surgimento da nova pessoa política. Em síntese, pode haver o desmembramento da competência para exigir tributo, visto que pode ocorrer de um ente federativo se desmembrar. Com isso, os dois novos municípios, estados brasileiros poderão exigir a realização da obrigação tributária, cujo fator gerador surgiu antes do desmembramento, ou da emancipação daquele município ou estado que surgiu. Vide artigos 31 da CF/88 e 120 do CTN. 3.2. Sujeito passivo O sujeito passivo da relação obrigacional é a pessoa obrigada ao cumprimento do objeto que constitua aquele dever. O CTN define o sujeito passivo da obrigação principal como a pessoa obrigada ao pagamento do tributo ou penalidade pecuniária, conforme o art. 121, caput, CTN. Porém, sendo esse o dever principal, a identificação do sujeito passivo deverá constar de lei em sentido estrito, conforme o art. 97, III, in fine, CTN. O art. 122 do CTN define o sujeito passivo da obrigação acessória como a pessoa obrigada ao cumprimento dos deveres de fazer ou abster. A indicação da pessoa que deverá cumprir a obrigação acessória poderá estar em qualquer norma integrante da legislação tributária. O sujeito passivo da obrigação principal é a pessoa obrigada ao pagamento de tributo ou penalidade pecuniária. O sujeito passivo da obrigação acessória é a pessoa obrigada às prestações que constituam o seu objeto. Como o exposto entre os artigos 121 e 123 do CTN, são os sujeitos que possuem o dever de arcar com a obrigação tributária no sentido jurídico, ou seja, a obrigação tributária é encargo destes. Tais sujeitos são os sujeitos tanto da obrigação principal, quanto da obrigação acessória. Em síntese, o sujeito passivo é a pessoa obrigada a cumprir a obrigação acessória (art. 122, CTN) ou a obrigação principal (art. 121, CTN). De acordo com o art. 121, parágrafo único, o sujeito passivo pode revestir a forma de contribuinte (sujeito passivo direto) ou de responsável (sujeito passivo indireto). Em razão dessa distinção, a denominação contribuinte é dada para a pessoa física ou jurídica que está ligada ao fato gerador por uma relação pessoal e direta com a situação que constitui esse fato. No caso dos impostos sobre a propriedade (IPVA, IPTU ou ITR), o proprietário desses bens é o contribuinte, visto que ele possui a relação de domínio. Em relação ao imposto de renda, a condição de contribuinte será da pessoa física ou jurídica que tenha a aquisição da renda ou dos proventos tributáveis. A pessoa é responsável quando, sem revestir da condição de contribuinte, sua obrigação decorrer de disposição expressa em lei. Assim, existem pessoas que devem pagar sem ter relação direta com o fato gerador pelo simples fato de que a lei lhes impõe esse dever. Isso decorre da busca de praticidade da relação, imputando a sujeito que torne aquele vínculo tributário mais exequível na vida social. O exemplo mais comum encontra-se no art. 45, CTN, que identifica o contribuinte do imposto de renda e reconhece a responsabilidade do recolhimento pela fonte pagadora. Em resumo, a lei pode atribuir a outra pessoa, que não o contribuinte, a responsabilidade pelo pagamento do crédito tributário, isto é, o dever de cumprir a obrigação tributária principal, desde que ela esteja minimamente vinculada ao respectivo fato gerador, ainda que não se relacione com ele de modo pessoal e direto. O contribuinte é aquele que possui relação direta com a obrigação tributária, é aquele que, de fato, paga a obrigação tributária. Já o responsável é aquele determinado em lei como sendo o sujeito passivo daquela obrigação. Esquematicamente, tem-se: – Contribuinte: relação direta Exemplo: IPTU, IPVA – Responsável: imposição legal Exemplo: imposto de renda – a fonte pagadora paga o tributo no lugar do outro Tanto o contribuinte como o responsável podem ser chamados a cumprir a obrigação tributária, sendo que a lei indica qual deles deve cumpri-la. Nota-se que apenas a lei tem possibilidade de fixar esse dever em face dos particulares (art. 97, III, CTN). No art. 123, CTN, estabelece-se que, salvo disposição de lei em contrário, as convenções particulares relativas ao pagamento de tributos não podem ser opostas à Fazenda Pública, para modificar a definição legal do sujeito passivo das obrigações tributárias correspondentes. Em razão disso, se um contrato de locação contiver cláusula pela qual o locatário se obriga a pagar o valor do IPTU incidente sobre o imóvel, ela só vinculará os contratantes e não impedirá o Município de cobrar do contribuinte (proprietário-locador) o valor do IPTU, caso o locatário não o tenha pago. Para a autoridade fiscal não importa qualquer convenção ou disposição particular. Essas convenções obrigam as partes que a celebraram, mas não podem ser apresentadas contra a Fazenda Pública, a menos que a lei autorize expressamente esses acordos. 3.3. Capacidade tributária A capacidade tributária refere-se às condições nas quais a pessoa natural ou jurídica é considerada apta para contrair obrigações tributárias. A capacidade do sujeito passivo no Direito Tributário não segue as mesmas regras do Código Civil. O art. 126 do CTN determina que todo sujeito passivo da obrigação tributária deve cumpri-la, independentemente da(s): a)Capacidade civil; b) Medidas que impliquem privação ou limitação do exercício de atividades civis, comerciais ou profissionais, ou da administração direta de seus bens ou negócios; c) Pessoa jurídica estar constituída regularmente e da sua regularidade documental. No caso das pessoas jurídicas, basta que a mesma se constitua com uma unidade econômica ou profissional, não importando a regularidade documental da sociedade. (art. 126, CTN) A capacidade civil não é relevante para fins de determinação da capacidade tributária, desde que incorram no fato gerador do tributo, são passíveis de pagá-lo todos aqueles que o Código Civil considera como absoluta ou relativamente incapazes. Na medida em que a capacidade tributária passiva não depende de qualquer elemento civil, das medidas de privação, entre outras, conclui-se que toda e qualquer pessoa natural (ou física) poderá ser sujeito passivo. Quanto às pessoas jurídicas de direito privado, não importa que estejam regularmente constituídas, pois basta que existam de fato. Assim, as denominadas sociedades em comum (outrora, sociedades de fato ou irregulares) terão ampla capacidade tributária. Igualmente entes despersonificados (espólio, condomínio, etc.) também têm capacidade tributária. A capacidade tributária é plena, visto que independe de qualquer outro elemento que não seja o tributário. Todos têm capacidade tributária. 3.4. Domicílio tributário O domicílio é a fixação de um ponto em que o sujeito passivo possa manter as relações com a fazenda pública, indicando o local onde poderá ser procurado pelo sujeito ativo para cumprimento dos seus deveres. Não se deve confundir residência e domicílio. Residência é o local em que a pessoa natural mora. O domicílio é o local em que o sujeito exerce seus direitos e responde por suas obrigações jurídicas. No caso do vínculo fiscal corresponde ao ponto em que os atos decorrentes da relação serão praticados, notadamente onde o credor poderá procurar o sujeito passivo para exigir o cumprimento e a prestação das obrigações, sejam elas principais ou acessórias. No Direito Tributário, o sujeito passivo tem o direito de escolher o domicílio tributário. Trata-se, portanto, de domicílio voluntário. (art. 127,CTN) Essa liberdade de escolha é relativa, uma vez que a autoridade administrativa tem o poder de recusá-lo, quando o local escolhido impossibilitar ou dificultar a atividade de arrecadação ou de fiscalização do tributo. Nesses casos, a autoridade deve fundamentar os motivos de sua rejeição ao domicílio eleito. A recusa tem que ser motivada (art. 127, §2º, CTN). Destaca-se que a execução fiscal é feita no domicílio do executado, conforme art. 46, §5º, CPC/2015. Se o sujeito passivo não escolher seu domicílio (omissão), o CTN adota as seguintes regras, conform os incisos do art. 127: – Pessoa natural: residência O domicílio tributário será sua residência habitual. Caso esta for incerta ou desconhecida, considerar-se-á como sendo seu domicílio o lugar onde mantenha o centro habitual de suas atividades. – Pessoa jurídica de direito privado: sede O domicílio tributário será o lugar de sua sede ou, em relação aos atos ou fatos que deram origem à obrigação, o lugar de cada estabelecimento. – Pessoa jurídica de direito público: repartição O domicílio tributário será quaisquer das repartições existentes no território da entidade tributante. Se não houver a possibilidade de aplicação de quaisquer regras mencionadas anteriormente, a art. 127, CTN, §1º, determina que o domicílio será o lugar onde estejam situados os bens ou onde tenha ocorrido os atos ou fatos que deram origem à obrigação, ou seja, fica o domicílio no local em que efetivamente tenha ocorrido o fato gerador. 3.5. Solidariedade A solidariedade ocorre quando existem dois ou mais devedores, com interesse comum, envolvidos com o fato gerador da obrigação ou quando a lei expressamente determinar. Haverá uma pluralidade de pessoas em um dos polos da obrigação, tornando essa obrigação indivisível. As pessoas envolvidas na solidariedade passiva podem ser tanto contribuintes como responsáveis. A solidariedade tributária passiva ocorre quando cada um dos devedores responde sobre todo o montante da obrigação tributária. No direito tributário, não existe solidariedade ativa, em razão da rigidez constitucional na distribuição da competência tributária. A solidariedade é sempre para a sujeição passiva. Só existe solidariedade no polo passivo. Não existe solidariedade no polo ativo. A solidariedade não se presume e, de acordo com o art. 124, CTN, há duas origens para a solidariedade tributária passiva: – Solidariedade de fato: ocorre quando duas ou mais pessoas têm interesse comum sobre determinado fato gerador, o qual cria uma obrigação principal; O sócio oculto também deve pagar tributo. – Solidariedade de direito ou jurídica: ocorre quando estiver previsto em lei que os envolvidos com o fato gerador responderão solidariamente pela obrigação. No art. 124, parágrafo único, observa-se que a solidariedade não comporta o benefício de ordem. Portanto, não existe qualquer possibilidade de criação de ordem ou prioridade entre os devedores. O Fisco pode agir contra quaisquer devedores solidários para exigir o pagamento do tributo. O art. 125 trata dos efeitos da solidariedade para os fins tributários: a) Pagamento: o pagamento de um, aproveita a todos Como todos possuem o dever de adimplir, o pagamento efetuado por um dos obrigados aproveita aos demais. Ressalta-se que se um dos devedores comparece para o pagamento e efetiva a entrega de apenas uma parte do valor, não há de subentender que está pagando a sua parte. Se o pagamento for parcial, é parcial para todos e todos permanecem devedores do valor remanescente. b) Isenção ou remissão: favorece a todos, salvo se concedido em caráter pessoal – Caráter pessoal: só para um, não favorece aos demais – Caráter objetivo: favorece a todos Desse modo, a isenção ou remissão dos valores devidos para o tributo exonera, em regra, todos os obrigados. A exceção ocorre quando o benefício for outorgado pessoalmente a um deles, subsistindo, nesse caso, a solidariedade quanto aos demais pelo saldo restante. Se a norma concessiva o fizer levando em consideração qualidades de uma das pessoas, liberará apenas o favorecido, permanecendo os demais pela parte da obrigação que não foi atingida por aquele favor subjetivo. c) Prescrição: se interromper a prescrição para um, interrompe para todos; se prescrever par um, prescreve para todos No caso de interrupção da prescrição, em favor ou contra um dos obrigados, favorece ou prejudica aos demais. Sendo a prescrição um prazo para o exercício do direito de ação, tanto no caso de o Fisco exigir os valores do contribuinte, como na hipótese deste acionar o Fisco, se este prazo for reiniciado ou sofre qualquer interrupção, a contagem deverá ser uma única para todos os solidários. Vide art. 169, parágrafo único, e art. 174, CTN. Em síntese: – O pagamento pode ser exigido integralmente de cada um ou de todos, sendo que, uma vez efetivado, libera a todos os devedores daquela relação; – A isenção ou remissão são para todos, como regra. Se a norma adotar consideração de uma das pessoas, liberará apenas esse favorecido, permanecendo os demais pela parte da obrigação que não foi atingida por aquele favor subjetivo; – O tempo da prescrição será comum para todos os solidários. PONTO 2: RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA No art. 121, o CTN trouxe a demarcação do sujeito passivo como sendo a pessoa obrigada ao pagamento do tributoou penalidade pecuniária. Além disso, trouxe as seguintes definições do sujeito passivo da obrigação principal: – Sujeito passivo direto ou contribuinte: ligado ao fato gerador por uma relação pessoal e direta; – Sujeito passivo indireto ou responsável: sem revestir daquela condição de contribuinte, sua obrigação decorre de disposição expressa em lei A lei pode atribuir a terceira pessoa, que não o contribuinte, a responsabilidade pelo pagamento do crédito tributário, isto é, o dever de cumprir a obrigação tributária principal, desque ela esteja indiretamente vinculada ao respectivo fato gerador. O responsável não se relaciona com a hipótese de incidência de maneira pessoal e direta. Somente a lei pode fixar esse dever em face dos particulares (art. 97, III, CTN c/c art. 121, parágrafo único, CTN). A responsabilidade tributária é o vínculo que subordina terceira pessoa, que não o próprio contribuinte, ao cumprimento da obrigação tributária. De acordo com o art. 128, CTN, para que haja essa incidência, são necessários: a) Uma obrigação tributária; b) Uma pessoa ligada, indiretamente, ao fato gerador da respectiva obrigação tributária, que não seja o próprio contribuinte; c) Uma lei que atribua a essa pessoa o dever de pagar o crédito tributário, total ou parcialmente, nas condições que ela estabelecer. 1. RESPONSABILIDADE POR SUCESSÃO A essência da responsabilidade por sucessão é a transferência patrimonial de bens ou direitos, imputando ao adquirente a responsabilidade pelos tributos incidentes sobre os bens ou direitos transferidos com fatos geradores ocorridos antes da alienação. Fundamenta-se na tradicional concepçãoo da obrigação propter rem (por causa da coisa). Admite que determinadas imposições tributárias são tão diretamente relacionadas aos bens e direitos que devem seguir estes, independentemente da mudança de titularidade. A responsabilidade por sucessão cria um dever para o adquirente. Ela é a transferência da obrigação tributária em razão de uma transferência de bens ou direitos. Não importa se, no momento da alienação, a dívida já estava perfeitamente constituída e exigida pelas autoridades fazendárias. Mesmo que as medidas administrativas ainda não tenham se aperfeiçoado, mas com o fato gerador tributário ocorrido, haverá responsabilidade do adquirente, como indica o art. 129, CTN. 1.1. Regra geral da responsabilidade por sucessão O art. 131, I, determina que o adquirente, a qualquer título, é sucessor tributário em relação às dívidas tributárias incidentes sobre os bens adquiridos. Qualquer pessoa que adquirir um bem de outra será sucessor tributário dos tributos incidentes sobre esse bem. Mesmo se não tiver havido cobrança de tributos, ainda assim o adquirente tem que pagar. O adquirente assume a responsabilidade pessoal. Observa-se que toda vez que o CTN afirmar que alguém é pessoalmente responsável significa que o único sujeito passivo é o responsável. O contribuinte, que possuía o bem no momento da ocorrência do fato gerador, é afastado da relação jurídica. 1.2. Sucessão imobiliária O CTN prevê como primeiro caso de responsabilidade por sucessão a situação do adquirente de bem imóvel (art. 130) que tem os créditos tributários contra si subrrogados. O adquirente do imóvel é o responsável tributário por sucessão inter vivos relativamente aos débitos anteriores à aquisição, porque a relação jurídica integrada pelo alienante extinguiu-se no momento da transmissão da propriedade, tendo-se tornado, o sucessor, sujeito passivo de outra obrigação com o mesmo conteúdo da primeira (subrrogação). Consequentemente, há a exclusão da responsabilidade do alienante (contribuinte originário), respondendo o sucessor, portanto, pelos tributos apurados ou passíveis de apuração à data da ocorrência do fenômeno sucessório. Essa previsão somente será aplicável no caso dos tributos que incidem sobre a propriedade, o domínio útil e a posse, além das taxas de serviços e da contribuição de melhoria, ou seja, essa previsão serve para os tributos que recaem sobre a coisa, exclui- se, por exemplo, a taxa de polícia. O art. 130 prevê duas exceções que excluem a responsabilidade pessoal do adquirente: a prova de quitação (caput, parte final) e a hasta pública (parágrafo único). A primeira exceção refere-se à prova de quitação no título aquisitivo. Ou seja, no ato traslativo da propriedade, o tabelião afirma expressamente que todos os tributos foram pagos. Nesse caso, o adquirente não será o sucessor tributário, haverá transferência por imputação legal. Haverá, no máximo, uma solidariedade entre o contribuinte e o tabelião, ou seja, a responsabilidade não será por sucessão e sim por imputação legal. A prova de quitação se dará com a apresentação das certidões negativas expedidas pelos setores competentes. De acordo com o art. 205, CTN, a certidão negativa de débito é o meio que o adquirente possui para fazer prova da quitação de tributos incidentes sobre o imóvel adquirido, o que não afasta a possibilidade da posterior constituição do crédito tributário cujo fato gerador já tenha ocorrido. A segunda exceção ocorre quando aquisição da propriedade é realizada em hasta pública. Nesse caso, identifica-se que não há uma aquisição derivada. Não há entre o antigo proprietário e o adquirente a realização de um negócio jurídico e, portanto, não há sucessão no sentido pretendido pela assunção de responsabilidade. Trata-se de uma aquisição originária. O CTN afirma que o crédito tributário se subrroga no valor pago na arrematação (art. 130, par. único). Ainda que o preço alcançado na arrematação do bem seja insuficiente para a quitação do débito tributário, o arrematante não poderá ser responsabilizado por dívidas contraídas por outrem. Em síntese: – O adquirente ou remitente é responsável pelos tributos incidentes sobre o bem adquirido ou remido (art. 131, I, CTN); – O adquirente de bem imóvel (art. 130) que tem os créditos tributários contra si subrrogados: a) exclusão havendo a prova do pagamento no título traslativo da propriedade imobiliária (art. 130, in fine); b) arrematação do imóvel em hasta pública (art. 130, parágrafo único), a subrrogação se dará sobre o preço pago naquela venda pública. 1.3. Sucessão causa mortis A segunda regra específica é a causa mortis (art. 131, II e III). O falecimento do contribuinte não impede o Fisco de prosseguir na execução dos seus créditos, de modo que, na abertura da sucessão, o espólio é o responsável pelos tributos devidos pelo de cujus, nos termos do art. 131, CTN. A herança transmite-se, desde logo, aos herdeiros legítimos e testamentários (art. 1784, CC). Há dois momentos para se destacar: abertura da sucessão e partilha. Sobre dívidas que o Fisco exigir durante a fase do inventário, o pagamento deve ser feito pelo espólio, mantido o padrão definido pelo CC de que até a partilha, o direito dos co- herdeiros, quanto à propriedade e posse da herança, será indivisível, e regular-se-á pelas normas relativas ao condomínio (art. 1791, parágrafo único, CC). Se a cobrança ocorrer após a partilha, o pagamento deve ser feito diretamente pelos herdeiros e sucessores, uma vez que o patrimônio já teria sido individualizado e estaria sob o domínio daqueles. O art. 192, CTN, diz que não pode haver partilha sem prova de quitação de todos os tributos relativos aos bens do espólio, porém, pode acontecer de uma dívida tributária ser descoberta depois da partilha, cuja responsabilidade será atribuída ao herdeiro (art. 131, II e III, CTN) nos limites das forças da herança, ou seja, com respeito ao quinhão hereditário (figurapresente no art. 1792, CC). Se a cobrança for feita ao espólio, deve-se limitar ao valor do patrimônio que o espólio tem a inventariar. Se a cobrança for feita ao herdeiro, deve-se limitar ao valor da parcela recebida pelo herdeiro. 1.4. Sucessão empresarial Trata-se da hipótese de sucessão das pessoas jurídicas, com foco nas atividades empresariais. Na sucessão empresarial, a pessoa jurídica resultante da operação arca com os tributos e as multas devidas pela anterior. Importante observar que na cessão de cotas não há sucessão tributária porque o fato gerador praticado foi pela pessoa jurídica e não pelos sócios. Há sucessão do controle societário e não tributária. Não há qualquer modificação no polo passivo da relação tributária e quem permanece como contribuinte é a empresa. A responsabilidade por sucessão das pessoas jurídicas refere-se aos casos de fusão, incorporação e transformação, conforme o art. 132, CTN. O crédito é mantido independente da modificação produzida na personalidade. De acordo com a Lei 6.404, 1976: – Incorporação: é a operação pela qual uma ou mais sociedades são absorvidas à outra, que lhes sucede em todos os direitos e obrigações (art. 227). A + B = A' – Fusão: é a operação pela qual se unem duas ou mais sociedades para formar sociedade nova, que lhes sucederá em todos os direitos e obrigações. A sociedade anterior é dissolvida (art. 228). A + B = C – Transformação: é a operação pela qual a sociedade passa, independemente de dissolução e liquidação, de um tipo societário para outro (art. 220). É o caso, por exemplo, da transformação de uma sociedade limitada para anônima. Os mesmos sentidos foram dados a essas conceituações no Código Civil nos arts. 1.115, 1.116 e 1.119. Nessas hipóteses, não há limite ao pagamento da responsabilidade tributária, nem qualquer restrição de que estaria limitada ao valor do patrimônio transferido. A empresa incorporadora deverá pagar todas as dívidas da pessoa jurídica incorporada, diferente da limitação na sucessão causa mortis. A abrangência dessa responsabilidade atinge também as penalidades devidas pela pessoa jurídica incorporada, conforme entendimento do STJ. Isso visa a evitar que as empresas acumulem dívidas e depois alterem sua composição jurídica pela extinção da anterior para se livrarem das dívidas tributárias. O art. 132, CTN, dispõe que a empresa que surgir dessa alteração societária será sucessora tributária dos impostos das empresas extintas. Ademais, conforme o parágrafo único, o sócio que prosseguir em nome próprio ou com o mesmo nome da empresa anterior, ou ainda com nome diferente, no mesmo ramo de comércio, também será considerado sucessor tributário. Essa determinação não está restrita ao sócio administrador ou gerente, podendo ser para qualquer sócio continuante da exploração da atividade da pessoa jurídica. Observa-se que o sócio não tem responsabilidade direta pelo simples fato de ser sócio. Para fins tributários, só haverá responsabilidade por sucessão se a extinção da pessoa jurídica for regular e ele continuar a explorar a mesma atividade. Se ele explorar atividade diversa e sendo a extinção regular, não há responsabilidade. Se a extinção for irregular, haverá responsabilidade, pois nessa caso terá descumprido a lei. Sócio remanescente explora: – A mesma atividade da sociedade extinta → responsabilidade – Atividade diversa da anterior → não há responsabilidade Existe ainda a previsão da responsabilidade decorrente da transmissão de estabelecimento comercial, industrial ou profissional, ou ainda, de fundo de comércio. Trata-se da responsabilidade tributária daqueles que adquirem um fundo de comércio ou estabelecimento e mantém a exploração da atividade. Quando houver a alienação do estabelecimento, o adquirente será sucessor tributário. Sucede nos valores tributários decorrentes da obrigação principal e nas multas. Ressalta-se, porém, que se o alienante permanecer na atividade empresarial ou profissional ou retomá-la em um prazo de seis meses, ele permanece como devedor principal, na qualidade de contribuinte, e o adquirente passa a figurar como subsidiariamente responsável (art. 133, II, CTN). Se o alienante cessa completamente suas atividades, a responsabilidade do adquirente será integral (art. 133, I, CTN). Se o alienante cessar completamente a atividade, implicará a responsabilidade integral do adquirente. Se o alienante continuar a exploração da atividade ou se retornar, é fixada a responsabilidade subsidiária do adquirente, na medida em que o alienante não puder suportar. O art. 133, §1º, CTN, exclui responsabilidade do adquirente na hipótese de alienação judicial. Há uma excludente de responsabilidade, de modo que não existirá sucessão caso a aquisição seja feita em processo de falência ou recuperação judicial. O § 2§ apresenta as hipóteses em que não se aplica a excludente de responsabilidade do § 1º, como um modo de prevenir tentativas de fraudes na aplicação da referida excludente. O §3º remete à questão da ordem de classificação dos créditos. 2. RESPONSABILIDADE DE TERCEIROS Os artigos 134 e 135 tratam da responsabilidade solidária e pessoal, respectivamente. Na responsabilidade solidária, tanto o contribuinte como o responsável são considerados devedores. Na responsabilidade pessoal, apenas o responsável é considerado devedor. São dispositivos que tratam de hipótese de responsabilidade tributária de terceiro, que, tinha o dever de zelar pelo pagamento do crédito tributário e não o fez. 2.1. Responsabilidade solidária Nesse caso, o legislador atribui a um terceiro a obrigação de pagar o tributo. Essas pessoas são responsáveis porque agem em nome de terceiros, possuem o dever de zelo e de vigia dos atos praticados. De acordo com o art. 134, CTN, são terceiros: pais; tutores e curadores; administradores dos bens de terceiros; inventariante; síndico (administrador judicial) e comissário; tabeliães, escrivães e demais serventuários de ofício; sócios, no caso de liquidação de sociedade de pessoas. São dois os requisitos para a fixação dessa responsabilidade: a impossibilidade de pagamento pelo devedor principal e a intervenção do responsável pelo inadimplemento. Condições: a) o contribuinte não possa cumprir sua obrigação; b) o terceiro tenha participado do ato que configura o fato gerador ou que tenha indevidamente se omitido quando devia participar. Essas pessoas assumirão responsabilidade solidária. Todavia, na forma prevista no art. 134, CTN, só haverá solidariedade na impossibilidade de pagamento pelo devedor principal, o que leva ao reconhecimento de que se trata na verdade de um responsabilidade subsidiária, como já apontou a doutrina e a jurisprudência. No caso de imóvel em que consta prova de quitação do pagamento dos tributos, não há sucessão, há responsabilidade por imputação legal do tabelião, que será solidário com o alienante. 2.2. Responsabilidade pessoal O art. 135, CTN, apresenta um rol de terceiros que possuem responsabilidade pessoal pelas obrigações tributárias resultantes dos atos que praticarem com excesso de poder ou por infração de lei, contrato social ou estatuto. O terceiro ao extrapolar os limites da lei passa a ter responsabilidade pessoal, ou seja, a obrigação tributária recai diretamente sobre o seu patrimônio propriamente dito, excluindo o dever do contribuinte. Todos que estavam no artigo 134, CTN, acrescido das novas pessoas mencionadas no art. 135, são responsáveis tributários,na medida em que pratique atos que estejam violando lei, contrato social ou agindo com excesso de poderes. A jurisprudência entende que o mero inadimplemento não gera a responsabilidade tributária, uma vez que é necessário o dolo específico de violar a lei, contrato social ou estatuto. Nesse sentido, foi editada a Súmula 430, STJ. Outro entendimento jurisprudencial é a decorrente da dissolução irregular da sociedade, a qual se presume ilegal. A dissolução irregular da sociedade configura atuação ilegal capaz de gerar a responsabilidade do sócio, atingindo, a princípio, todos os sócios, já que todos possuem os deveres de controle das atividades sociais. Há também responsabilidade nos casos em que a empresa deixa de funcionar no endereço declarado. O domicílio tributário é eleito e indicado pelo sujeito passivo, não sendo a pessoa jurídica encontrada no local indicado, é possível reconhecer que já houve irregularidade e, por conseguinte, responsabilização do sócio-administrador. Vide Súmula 435, STJ. Por fim, como essa responsabilidade pessoal depende da atuação e do dolo do agente, ela não se comunica ao cônjuge meeiro, que não tenha participado da irregularidade, conforme dicção da Súmula 251, STJ. PONTO 3: CRÉDITO TRIBUTÁRIO Após a ocorrência do fato gerador e o surgimento da obrigação tributária, deve-se transformar o dever jurídico do sujeito em um valor exigível pela autoridade administrativa. Surge, assim, a figura do crédito tributário, o qual é a expressão numérica da obrigação, além de decorrer da obrigação principal e possuir a mesma natureza desta, de acordo com o art. 139, CTN. Ressalta-se que a obrigação percorre três etapas. A primeira etapa refere-se à hipótese de incidência, de modo que, para o surgimento da obrigação principal, é necessária a previsão daquela hipótese. Logo, para que o tributo exista é preciso a edição de lei com a fixação da hipótese de incidência tributária (art. 114, CTN), de maneira geral e abstrata. Ainda não há um devedor, visto que a obrigação encontra-se prevista dentro de uma generalidade legal. Na segunda etapa, concretiza-se a obrigação tributária por meio da ocorrência do fato gerador previsto em lei (art. 113, §1º, CTN), de maneira que a obrigação não se encontra mais apenas no campo da abstração, materializando-se em concreto. A terceira etapa é a fase de quantificação da obrigação tributária, em que ocorre a a transformação do dever tributário em um montante devido e apurado pelo sujeito passivo, com a formalização tributária. A atividade administrativa do lançamento confere a forma e o conteúdo à obrigação e traduz o aparecimento do crédito tributário (art. 142, CTN). Formaliza-se o vínculo obrigacional. Nas obrigações tributárias, a maioria dos seus elementos é identificada de maneira posterior através do procedimento de liquidação dos vínculos obrigacionais tributários. O direito potestativo da Fazenda de constituir o crédito tributário é realizado por meio do lançamento, que é um procedimento de liquidação dos vínculos obrigacionais tributários. Assim, o lançamento torna a obrigação líquida, certa e exigível, permitindo à Fazenda demandar o cumprimento da obrigação tributária. Observa-se que, no Direito Civil, crédito e obrigação são termos correspondentes. Sob a ótica do credor, o seu direito é um crédito e, sob a ótica do devedor, o seu vínculo é uma obrigação, ou seja, de modo geral, toda obrigação corresponde a um crédito. No direito tributário, embora seja possível falar em obrigação desde o fato gerador, somente se pode falar em crédito a partir do lançamento. Quando acontece o fato gerador, a obrigação surge de maneira concreta (fato jurídico constitutivo do dever). Nesse momento, estamos falando da obrigação principal, que é pecuniária em sua essência. As obrigações pecuniárias possuem características muito próprias. Elas possuem dois componentes: o dever jurídico (obligatio ou responsabilidade ou Haftung) e a quantificação desse dever jurídico (debitum ou débito ou Schuld, quantidade dos valores devidos). O aperfeiçoamento desses dois componentes torna a obrigação exigível Nota-se que existem obrigações com quantificação, mas sem dever (dívida de jogo, dívida prescrita, etc.) e obrigações com dever, mas sem quantificação (dívidas ilíquidas). Dívida de jogo é uma obrigação natural. Envolve dinheiro, mas não possui exigibilidade. Até se conhece a quantidade correspondente, mas não se tem um dever jurídico atribuído. A situação oposta é, por exemplo, uma ação na justiça pedindo o ressarcimento por danos de um acidente de trânsito, mas o juiz ainda não teve condições de definir esse valor na sentença, porque o tratamento médico ainda está acontecendo, não se sabe quanto vai custar no final. Nesse caso, teríamos a obligatio sem o debitum definido, a sentença precisa ser liquidada ainda. 1. CARACTERÍSTICAS DO CRÉDITO A existência do crédito tributário depende da prévia caracterização da obrigação tributária, porém, a obrigação tributária não depende da prévia caraterização do crédito tributário, pois é possível ocorrer a obrigação sem que isso resulte necessariamente na formalização de um crédito futuro. A obrigação antecede o crédito e, conforme o art. 139, CTN, o crédito decorre da obrigação, ou seja, a obrigação origina o crédito, logo, não existe crédito sem obrigação. Assim, um crédito formalizado, sem que tenha se originado de uma obrigação, será declarado nulo, ou seja, o lançamento e o crédito dele decorrente serão anulados. Isso ocorre quando, por exemplo, o lançamento realizado não corresponde a um dívida exigível, quando um fato gerador não ocorreu, quando a norma legal é inconstitucional, etc. Todavia, pode haver obrigação sem formalização do crédito tributário, por exemplo, na situação em que tenha ocorrido o fato gerador, mas ainda não tenha sido feito o lançamento. Logo, sem obrigação não há crédito, mas pode haver obrigação sem crédito. Os vícios relacionados ao crédito não necessariamente contaminam a obrigação, principalmente, os vícios formais. Exemplo: no caso de lançamento feito por autoridade incompetente, o crédito será anulado por vício na lançamento, porém, essa nulidade não atinge a obrigação originária, de modo que inexiste impedimento para que, após a anulação do lançamento, seja realizado o lançamento correto pela autoridade competente. Uma das características da fase de lançamento/do crédito tributário é o princípio da indisponibilidade, por estarmos no campo do Direito Público. É uma indisponibilidade do interesse público, que vira uma indisponibilidade do crédito público, que vira uma indisponibilidde do crédito tributário. Qualquer cenário que possa mexer nesse crédito (modificar, instruir, extinguir, suspender, afastar) tem que ser, necessariamente, por lei (art. 141, CTN). O fiscal não age como quer, por mais que ele esteja com pena da Dona Maria que diz que não condições de pagar seu IPTU, ele não pode extinguir esse crédito, por exemplo. Outra consequência, além da indisponibilidade, é que apesar do fato do crédito decorrer da obrigação, eu não preciso ter um rigor muito claro na amarração entre essas duas fases. Eu posso, sim, reconhecer uma certa e relativa autonomia dessa fase que chamamos de crédito em relação à obrigação tributária (art. 140, CTN). Por exemplo, eu vejo que existe o crédito no momento que faço a atividade admnistrativa de lançamento, e se aquele lançamento tiver um vício, a consequência é nulidade, então o crédito que decorreu dela é extinto, mas o dever jurídico não desapareceu. Eu mato o crédito sem afetara obrigação que lhe deu causa. Depois eu faço um novo lançamento acertado. Houve uma decisão do STJ no semestre passado dizendo que se você reconhecer prescrição do tributo, o crime não está prescrito. Por mais que não exista mais o crédito pela prescrição, ela não necessariamente desconhece que aquele fato aconteceu. Continua o interesse da persecução penal em cima da sua conduta criminosa. Em relação às características podem ser destacadas: – Autonomia (relativa) do crédito (art. 140, CTN); – Indisponibilidade de crédito tributário (art. 141, CTN). Ademais, pode se ressaltar como consequências dessas características: – Reserva legal – Ausência de discricionariedade (art. 3º, CTN) A obrigação principal tem um certo grau de independência do crédito tributário. Conforme o art. 140, CTN, as circunstâncias que modificam o crédito tributário, sua extensão ou seus efeitos, ou as garantias ou os privilégios a ele atribuídos, ou que excluem sua exigibilidade, não afetam a obrigação tributária que lhe deu origem. Assim, se o processo de lançamento for anulado, suspenso ou interrompido, a obrigação subsistirá perfeita e intocável. De igual modo, a obrigação permanece inalterada, mesmo quando o crédito tributário é excluído por isenção ou anistia. Na relação tributária, as alterações em relação ao crédito tributário podem afetar o lançamento, mas não a obrigação que o antecedeu (art. 140, CTN), com exceção da hipótese de extinção do crédito tributário que também extingue a respectiva obrigação (art. 113, §1º, in fine, CTN). Além disso, é relevante destacar a indisponibilidade do crédito tributário. Conforme previsão do art. 141, CTN, todas as causas que modifiquem ou extingam o crédito, ou operem os efeitos de suspensão ou exclusão de sua exigibilidade, só serão válidas quando estiverem reconhecidas no próprio CTN. Portanto, os entes políticos estão proibidos de reconhecerem ou legislarem sobre novas modalidades de disponibilidade do crédito tributário, assim como os agentes administrativos devem respeitar o CTN – sob pena de responsabilidade funcional –, de maneira que nenhuma autoridade fazendária pode dispensar a exigência e as garantias do crédito tributário, nem dar-lhe tratamento diverso do previsto no CTN. 2. LANÇAMENTO Para conseguir que os tributos sejam funcionais, os sistemas tributários ao redor do mundo começaram a reconhecer que, depois de ocorrido o fato, era preciso uma atividade de apuração dessa quantificação. É a busca da exigibilidade. Essa é uma atividade administrativa feita pelo Estado (pegar o que está descrito na lei, trazer ao caso concreto e dizer quanto é devido). Os italianos chamam essa atividade de “acertamento da dívida”, nós usamos a expressão “lançamento”. O último ato desse lançamento é uma notificação (exemplo: carnê do IPTU) ao particular dizendo quanto se deve. Se o Poder Público não cumpre essa atividade, não pode me exigir, nem dizer que eu estou em mora. No fato gerador surge a obligatio, com o lançamento surge o debitum. Precisa-se dos dois para que a obrigação tributária se aperfeiçoe. Percebe-se que a obrigação tem as seguintes fases: previsão, realização e liquidação. O lançamento é procedimento administrativo em que a obrigação é transformada em um crédito tributário dotado de exigibilidade. Ele torna a obrigação tributária algo líquido e certo, passível de exigência pela Fazenda. Pela leitura do art. 142, CTN, compreende-se o lançamento como o procedimento administrativo no qual o fato gerador e a correspondente base de cálculo são verificados, além de se identificarem o sujeito e os montantes devidos para a exigência do crédito tributário. Nesse momento, também são aplicadas as penalidades verificadas em razão das infrações cometidas. O crédito tributário é formalmente constituído pelo lançamento, ou seja, o lançamento tem natureza constitutiva do crédito. A função do lançamento é individualizar a obrigação prevista em abstrato pela lei e surgida em concreto com a ocorrência do fato gerador. O lançamento formaliza o dever, ou seja, determina as formas da respectiva obrigação tributária, com o registro documental do ocorrido e da quantificação correspondente. A autoridade administrativa deve verificar a ocorrência do fato gerador e declarar os elementos da obrigação tributária. Pelo art. 142, CTN: lançamento é um procedimento administrativo. O próprio artigo diz que é um procedimento privativo da autoridade – será sempre feito pela autoridade administrativa, não existindo hipótese de ser feita por particular. Mais do que privativo é uma atividade obrigatória – é indispensável, independentemente de qualquer coisa. E para bem orientar esse agente administrativo é feito de forma vinculada – sem discricionariedade, conveniência, oportunidades, por exemplo. Portanto, o lançamento é um procedimento administrativo privativo, obrigatório (art. 142, p. único) e vinculado (art. 142, p. único). Assim, define-se o lançamento como o ato ou série de atos de administração vinculada e obrigatória que tem como fim a constatação e valoração quantitativa das situações que a lei define como pressuposto da incidência e, como consequência, a criação da obrigação tributária em sentido formal. O lançamento é um procedimento que compete privativamente à autoridade administrativa. Por ser procedimento vinculado e obrigatório, não há discricionariedade na atividade de lançar. Não cabe ao agente público ponderar qualquer conveniência ou oportunidade na atividade. Ele deve observar a legalidade estrita e objetiva do Direito Tributário. A autoridade administrativa tem de lançar o tributo previsto em lei. Se dolosamente deixar de lançá-lo, incorrerá em crime de prevaricação, e também na responsabilidade funcional. Se cobrar um valor acima de maneira dolosa, poderá responder por excesso de exação. O contribuinte apenas sofrerá os efeitos da formalização do crédito por meio do lançamento com a notificação. Por isso, a notificação recebida pelo particular em seu domicílio para pagar o tributo é que efetivamente materializa o lançamento. Vide Súmula 397, STJ. Pela letra da lei (art. 142, CTN), o lançamento é procedimento; porém, para doutrina majoritária, o lançamento é ato, ou seja, privilegia-se o momento do cálculo e se considera o lançamento o último ato administrativo que constitui o crédito. Quanto ao seu conteúdo, o lançamento se compõe dos seguintes atos: I) Verificar a ocorrência do fato gerador da obrigação correspondente O agente responsável tem que atestar que o fato gerador ocorreu e formalizar os elementos que o compõem (local, circunstância, etc.) e o detalhamento da obrigação surgida. A ideia do lançamento é documentar o fato gerador. Caberá a autoridade administrativa verificar de maneira clara e inequívoca que o fato gerador aconteceu. Não só “verificar”, em um sentido de “ver”, apenas dizer que aconteceu, a própria doutrina diz que a palavra não deve ser vista na sua literalidade, mas, sim, no sentido de atestar, descrever, formalizar. Para fins de controle e para que não se perca a informação. II) Determinar a matéria tributável Essa “matéria tributável” é quase um sinônimo para o que acabou se chamando na vida prática de base de cálculo. Significa esclarecer a matéria a ser submetida à tributação, ou seja, a repercussão do fato econômico que sofrerá a tributação. Tem que dizer o quanto será tributável. Busca-se a efetivação dos valores devidos, definindo a base de cálculo. III) Calcular o montante devido Após a determinação
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