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1 DESENVOLVIMENTO DE COMPETÊNCIAS GERAIS E ESPECÍFICAS NOS CURSOS SUPERIORES DO 1º CICLO DE CONTABILIDADE: PERCEPÇÃO DOS ESTUDANTES FINALISTAS Alexandra Domingos amrodrigues@iscal.ipl.pt Manuela Sarmento manuela.sarmento2@gmail.com Manuela Duarte manueladuarte@netcabo.pt Área temática: A7) Ensino e Investigação em Contabilidade. Palavras-chave: Contabilidade, ensino superior, competências, perceções, estudantes. Metodologia de investigação: Survey 2 RESUMO Nos últimos anos, todos os cursos superiores em Portugal e os de contabilidade não foram exceção, depararam-se com alterações significativas relativamente aos anteriores modelos de ensino. Com a aprovação do processo de Bolonha, os cursos passaram a basear-se em um modelo de aprendizagem concentrado no desenvolvimento de competências, sugerindo uma mudança de paradigma de ensino. O processo de Bolonha ergueu assim, todo um modelo de aprendizagem, que tem por detrás preocupações ao nível da empregabilidade dos diplomados pelas instituições do ensino superior (IES). Tendo em conta a especificidade daquilo que é o trabalho do profissional de contabilidade - trabalhar dados, que são transformados em informação que serve de suporte à tomada de decisão pela gestão da empresa - é extremamente importante formar estudantes capazes de pensar de forma construtiva e crítica, pois não é desejável que se continue a formar estudantes que tenham dificuldade em adaptar-se ao mundo empresarial. Neste contexto, para além de os formar ao nível das competências técnicas, há que os formar também ao nível de outras competências mais amplas, que lhes permitam uma constante adaptabilidade às mudanças que vão ocorrendo nas várias envolventes, nomeadamente nas organizações onde poderão vir a trabalhar. O objetivo geral deste estudo consiste em conhecer a perceção dos estudantes finalistas dos cursos superiores ao nível do 1º ciclo de contabilidade, em instituições de ensino superior portuguesas, quanto ao desenvolvimento das competências gerais e específicas no curso que frequentam, chegados ao fim do seu percurso de formação superior. No sentido de operacionalizar este objetivo, realizaram-se inquéritos por questionário a uma amostra de 353 estudantes finalistas dos cursos de contabilidade nessas mesmas instituições. Os resultados obtidos da investigação realizada evidenciam que os estudantes finalistas consideram que, na sua vertente curricular, o curso de contabilidade que frequentam, promove a aquisição de conhecimentos e o desenvolvimento de competências gerais; no entanto, consideram que a preparação para as exigências do mercado de trabalho é pouca. Palavras-chave: Contabilidade, ensino superior, competências, perceções, estudantes. 3 1. INTRODUÇÃO Desenvolver profissionais competentes é um dos objetivos da educação em contabilidade. Com a implementação do processo de Bolonha, as IES tiveram de responder ao apelo de os processos de ensino e aprendizagem terem de passar a reger-se por novas regras, destacando-se o desenvolvimento de uma pedagogia interativa e orientada para o desenvolvimento de competências, onde professores e alunos ensinam e aprendem, numa interatividade virada para o reforço da capacidade de resolução de problemas com que uns e outros se deparam, para conferir significado aos atos de ensinar e aprender. A compreensão de todo um conjunto de questões à volta desta temática tem gerado reflexões e debates com o objetivo de avaliar as possíveis divergências existentes entre os cursos superiores e as necessidades requeridas pelo mercado de trabalho, de forma a preparar profissionais competentes e competitivos (Kavanagh & Drennan, 2008; Jackling & De Lange, 2009; Bui & Porter, 2010; Jackson, 2010; Cory & Pruske, 2012). Até aos dias de hoje, tanto o sistema de ensino superior como os profissionais têm-se confrontado com a questão das competências que devem ser proporcionadas aos alunos para serem eternos aprendizes eficazes e que lhes permitam competir eficazmente no mercado de trabalho (Jackling e De Lange, 2009). Atualmente, a contabilidade é uma área do conhecimento que tem como missão importante a recolha de dados e a consequente preparação de informação, não se limitando apenas à preparação e apresentação da informação para efeitos de demonstrações contabilísticas, ou relato financeiro. Mas, hoje em dia, em Portugal, a contabilidade vai muito para além, transformando a informação em conhecimento aplicável à tomada de decisão, aproximando o contabilista da figura do accountant dos países anglo-saxónicos em que este é parte integrante da tomada de decisão ao mais alto nível nas organizações (Jones, 2010). Nesta perspetiva, são exigidas, aos profissionais de contabilidade, competências que vão para além dos tradicionais conhecimentos teóricos e habilitações superiores. A destreza, a capacidade para resolver problemas, a iniciativa e a criatividade, articuladas aos conhecimentos de nível superior, são fatores que cada vez mais são privilegiados pelas entidades empregadoras (Kavanagh e Drennan, 2008). Independentemente da importância das perceções de académicos e de profissionais, as perceções dos estudantes também devem ser consideradas como parte integrante do processo de cocriação no ensino superior. Assim, este artigo estende a pesquisa em educação contabilística, analisando se os estudantes finalistas dos cursos de contabilidade do 1º ciclo do ensino superior, consideram que desenvolvem as competências gerais e específicas necessárias 4 para a sua futura carreira profissional. Para tal, foi formulada a seguinte pergunta de partida: quais as competências que os estudantes finalistas do 1º ciclo de ensino superior de contabilidade percecionam que foram desenvolvidas no curso que frequentam? Assim, para atingir o objetivo proposto para esta investigação, a metodologia utilizada assenta no tratamento dos dados recolhidos das respostas obtidas do questionário dos inquéritos, aos estudantes finalistas de contabilidade, por se considerar ser esta metodologia a que melhor permite aceder e relacionar a informação recolhida da revisão da literatura com a informação empírica extraída das respostas ao questionário dos inquéritos. Com os resultados obtidos nesta investigação procura-se contribuir para a formação de profissionais capacitados a gerar valor no mercado de trabalho, conferindo às IES a imposição de expandir a sua intervenção para além dos aspetos científicos e técnicos, de forma a permitir que o ensino proporcione competências científicas, técnicas, sistémicas e relacionais, todas elas consideradas fundamentais para o desenvolvimento holístico do profissional da contabilidade, que incluirá, entre outros, os desenvolvimentos pessoal, profissional e social. 2. DEFINIÇÕES DE COMPETÊNCIA O termo competência tem vindo a assumir uma ampla e destacada expressão na literatura académica e científica, sendo objeto de múltiplas definições e interpretações, com alterações de sentido de acordo com o domínio em que é utilizado, o contexto a que se refere, traduzindo uma diversidade de abordagens possíveis. Nas últimas décadas, apesar das tentativas para encontrar um entendimento face à globalização, vários autores reconhecem a diversidade conceptual e a variedade terminológica do conceito de competência. Utilizado pela psicologia, pela linguística, pela sociologia, pelas ciências do trabalho e pelas ciências da educação, o conceito de competência tem vindo a ser objeto de variadas definiçõese interpretações, mudando de sentido de acordo com o domínio em que é utilizado e o âmbito a que se refere (Rouco e Sarmento, 2012). Apesar da falta de consenso, o uso deste conceito tem vindo a ganhar espaço em diferentes domínios – entre os quais o da educação -, concorrendo para uma generalização e utilização plenas de ambiguidade. Para a IFAC (2005), organismo internacional que tem como missão, desenvolver e melhorar a profissão de contabilista a nível mundial, a competência é definida como a capacidade de desempenhar um papel, obedecendo a um determinado padrão de referência. Para demonstrar 5 a sua competência, o profissional de contabilidade deve possuir o conhecimento e a qualificação profissional necessários, além de valores e atitudes éticas. Para Ceitil (2010, p. 26), “as competências são entidades ou atributos extra-pessoais, quer dizer exteriores às pessoas e que podem ser atribuídos ou adquiridos por essas pessoas através de agentes externos.” Verifica-se assim que a qualidade do desempenho não é tida em conta. De facto, e como é amplamente sabido, a posse de uma licenciatura ou qualquer outro título ou grau académico, por exemplo, não garante, forçosamente, um bom desempenho profissional: alguém licenciado em contabilidade, mesmo que com elevadas classificações, não é necessariamente um bom diretor financeiro. Na opinião de Peiró (2012), a conceção tradicional das competências correspondia ao desenvolvimento de capacidades físicas e manuais para o desempenho adequado das tarefas correspondentes às funções no trabalho. Atualmente considera-se que uma pessoa competente é aquela que não só sabe aplicar os seus conhecimentos, como também é capaz de se adaptar ao meio ambiente em constante mudança, pelo que, deve ao mesmo tempo, ser capaz de resolver os problemas que se apresentam a cada momento, socorrendo-se das estratégias de que dispõe. Isto é, o termo competência deixa de se limitar à boa execução das tarefas de um posto de trabalho, significando também uma boa adaptação a novas situações e requisitos das tarefas do posto de trabalho. Para Câmara, Guerra & Rodrigues (2013, p. 309), a competência é o “conjunto de qualidades e comportamentos profissionais que mobilizam os conhecimentos técnicos e permitem agir na solução de problemas, estimulando desempenhos profissionais superiores, alinhados com a orientação estratégica da empresa.” Destacando o domínio da educação, para Sá & Paixão (2013) o conceito da competência surge identificado, na bibliografia de referência, com os conceitos de capacidade, saber (em ação, em uso, combinatório, complexo, integrado, dinâmico), processo, rede/sistema, dimensão de inteligência prática, coleção de recursos e pré-requisito. Verifica-se assim uma crescente necessidade de concretizar e validar um conceito que não reúne consenso teórico nem prático, mas que é, no entanto, uma ferramenta eficaz para as organizações, nomeadamente, pela possibilidade de estimular e gerir o potencial humano e consequentemente o êxito organizacional. 6 3. TIPO DE COMPETÊNCIAS De acordo com a revisão da literatura efetuada, verifica-se que as competências podem então ser organizadas de acordo com diferentes domínios: (a) de si próprio; (b) da relação com os outros; (c) da função; (d) da envolvente; e (e) da gestão. Quanto ao tipo de competências, podem ser enquadradas em competências pessoais ou cognitivas, funcionais, sociais e organizacionais. Confirma-se ainda que os quadros sobre a competência estão a levar a estruturas multidimensionais e divergentes, mesmo após os esforços de confluência no âmbito da UE (Rouco & Sarmento, 2012). Verifica-se ainda, da revisão da literatura efetuada, que o contexto cultural e social da organização é primordial para compreender, assimilar e partilhar os valores que habitam no interior de uma organização. A forma de desenvolver competências difere de um país para outro, ou mesmo até de região para região, em um mesmo Estado. Não obstante, hoje em dia, o estímulo é desenvolver uma tipologia de competência consistente e coerente em um contexto onde a divergência entre os vários países se possa aproximar. A abordagem tradicional dos EUA demonstrou a importância das características individuais e usa as competências comportamentais como um meio para desenvolver desempenhos superiores. No Reino Unido ficou claro o valor ocupacional definido por padrões das competências funcionais e as suas aplicações no local de trabalho. Em França, Alemanha e Áustria, parece adotar-se uma estrutura mais holística, considerando o conhecimento, as aptidões e as atitudes como uma dimensão da competência, como existe noutros países que adotaram a formação baseada nas competências. De uma forma geral, verifica-se que existem sinais de convergência nas abordagens dos diferentes países, não apenas entre os países da Europa como os modelos dos EUA, em que estes sugerem ser no valor da aproximação das multidimensões que está o desenvolvimento para uma compreensão global do termo. (Rouco & Sarmento, 2012). A partir desta análise, verifica-se que uma tipologia holística é vantajosa para compreender a combinação do conhecimento, aptidões e atitudes que são imprescindíveis para uma ocupação particular. Para Le Deist & Winterton (2005), um modelo holístico de competências é melhor representado através de uma pirâmide (Figura 1), representando cada vértice as dimensões das competências e assim verificar a dificuldade para separar, na prática, as dimensões cognitiva, funcional e social. As meta-competências são mostradas no topo para facilitar a aquisição da base do triângulo. 7 Figura 1: Modelo holístico das competências. Fonte: Traduzido e adaptado de Le Deist & Winterton (2005, p.40) As primeiras três dimensões, competências cognitivas, funcionais e sociais, são aceites de uma forma geral e estão nitidamente consistentes com a aproximação francesa (saber, saber fazer, saber ser) tal como o KSA (conhecimento, capacidade e atitudes) no treino para a profissão. Assim, o conhecimento e a compreensão são relacionados às competências cognitivas, às capacidades com as competências funcionais e, aos comportamentos e as atitudes com as com- petências sociais. A meta-competências representa a facilidade de aquisição das restantes dimensões. As competências práticas podem ser pensadas, combinando os elementos das dimensões da competência em proporções de variação. Para os autores, a aproximação holística multidimensional da competência está a tornar-se cada vez mais generalizada e dá a oportunidade de alinhar da melhor forma o programa educacional ao local de trabalho. Permite também explorar as sinergias entre o ensino convencional e a aprendizagem com base na experiência, para desenvolver as competências profissionais adequadas. Ceitil (2010) refere que, para sistematizar o conceito, as competências podem ser divididas em diferentes tipos ou categorias. A primeira distinção a considerar é entre as competências individuais, ou seja, as que estão presentes em um indivíduo, e as nucleares, que são as competências características da organização, que a tornam inimitável e lhe dão vantagem competitiva. O autor afirma que as competências podem então ser divididas em dois tipos: 1. Competências transversais: apresentam duas características: a transversalidade e a transferibilidade. Isto significa que estas competências devem ser isentas de especificidades profissionais e situacionais e serem passíveis de se exercerem, espontaneamente, em um domínio diferente, não só no presente, mas também no futuro próximo. Exemplo: a comunicação oral, a iniciativa e o trabalho em equipa,8 que devem ser asseguradas para promoverem a flexibilidade profissional dos trabalhadores, independentemente do processo produtivo onde se encontram integrados. 2. Competências específicas: estão diretamente associadas a uma atividade ou função e são hierarquizadas. Por exemplo, em uma função administrativa poderá ser requerida uma competência específica denominada “gestão de arquivos”. De acordo com Câmara, Guerra & Rodrigues (2013) e conforme mostra o Quadro 1, as competências tipificam-se da seguinte forma: Quadro 1: Clusters de competências. Competências Competências e áreas temáticas Competências de liderança e gestão ▪ Alinhar estrategicamente/conhecer o negócio (visão estratégica, abertura face ao exterior e atenção centrada no cliente, inovação e rapidez e parcerias); ▪ Inspirar as pessoas a conhecer a organização (saber comunicar, ganhar envolvimento, trabalhar em equipa, aprender continuamente, perceber a organização); ▪ Ser agente de mudança (líder de mudança, coragem, determinação e credibilidade e fazer com que as coisas aconteçam). Competências técnico- profissionais ▪ São muito variadas e dependem do tipo de função e da área de atividade. Este grupo de competências é essencialmente constituído pelos conhecimentos técnicos e experiência profissional que são exigíveis ao titular da função para ter um bom desempenho. Competências comportamentais ▪ Qualidades pessoais e aptidões comportamentais (capacidade de análise, imaginação, sentido de realidade, respeito pelos outros, integridade, eficácia interpessoal, capacidade de comunicação, proactividade e iniciativa, capacidade de gestão do stress). Fonte: Adaptado de Câmara, Guerra & Rodrigues (2013, p. 310-312). Em contexto de ensino, para que as IES consigam conceber planos de estudo adequados ao desenvolvimento das competências necessárias ao profissional de contabilidade, a maioria dos autores é da opinião que se pode efetuar uma classificação básica das competências, dividindo- as em competências genéricas e competências específicas (González & Wagenaar, 2008; Peiró, 2012). Desta forma, da revisão da literatura efetuada, verificou-se que a relevância dos estudos sobre as competências genéricas tem incrementado, uma vez que estas são consideradas essenciais para que um graduado se adapte ao mercado de trabalho em constante mudança. Estas competências não estão associadas a um contexto de trabalho específico, mas contribuem para o desenvolvimento da capacidade de comunicação e do trabalho em equipa. 9 4. METODOLOGIA Tendo por base o objetivo deste estudo que baliza a presente investigação, o processo investigativo exige que se proceda à eleição da metodologia de trabalho. Assim, de forma a extrair os melhores resultados possíveis, optou-se por seguir uma abordagem quantitativa. Com base na natureza do estudo, este trabalho de investigação contemplou uma recolha de informação a partir de dados primários - inquérito por questionário -, tanto por ser o que mais se enquadrava neste âmbito como pelas potencialidades a ele associadas, como o acesso universal a dados e o tratamento estatístico. De acordo com Sarmento (2013, p. 67), “o inquérito é um instrumento de pesquisa, que permite recolher os dados, os quais após a sua introdução numa base de dados e a aplicação adequada dos métodos de análise, originam informações, que se consubstanciam em resultados. Estes resultados são analisados, comparados e comentados.” Desta forma, o estudo que se apresenta situa-se no domínio das licenciaturas em contabilidade em Portugal, tendo sido consideradas 28 IES, compostas por universidades e politécnicos dos ensinos público e privado, com o 1º ciclo de estudos em contabilidade e, acreditados pela Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior (A3ES), no final do ano 2013. Para este estudo foram considerados os alunos inscritos no último ano dos cursos de “Contabilidade”, “Contabilidade e Administração”, “Contabilidade e Finanças”, “Contabilidade e Auditoria”, “Contabilidade e Fiscalidade”, “Contabilidade e Gestão Pública” e “Contabilidade e Gestão Financeira”, inseridos na área científica do grupo 344 designado de Contabilidade e Fiscalidade, segundo a Classificação Nacional das Áreas de Educação e formação (CNAEF)1 e onde constam um total de 41 cursos com vagas abertas para o ano letivo 2013/2014. Após análise aos dados foram excluídos os alunos inscritos em regime de ensino à distância. As 28 IES que estão na base deste estudo e os respetivos ciclos de estudo, repartidos por universidades e politécnicos públicos e privados encontram-se discriminados no Quadro 2: 1 Aprovada pela Portaria n.º 256/2005, de 16 de Março. 10 Quadro 2: Lista de IES e respetivos ciclos de estudos que estão na base deste estudo De acordo com Sarmento (2013, p. 91), para calcular a dimensão adequada da amostra (n) de estudantes finalistas - população finita (N), quando se pretende estimar uma proporção da população (p), utilizou-se a Equação 1, tendo em conta os parâmetros indicados na Tabela 1, referente a uma amostra aleatória simples e que garante um nível de confiança de 95% e um erro amostral de + 5%. INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR CICLO DE ESTUDOS Instituto Politécnico de Setúbal Contabilidade e Finanças (diurno); Contabilidade e Finanças (nocturno) Instituto Politécnico de Viana do Castelo Contabilidade e Fiscalidade (pós-laboral) Instituto Politécnico do Cávado e Ave Contabilidade (diurno), Contabilidade (pós-laboral) Instituto Politécnico de Castelo Branco Contabilidade e Gestão Financeira Instituto Politécnico de Santarém Contabilidade e Fiscalidade (diurno); Contabilidade e Fiscalidade (pós-laboral) Instituto Politécnico de Bragança Contabilidade Instituto Politécnico da Guarda Contabilidade (diurno); Contabilidade (noturno) Instituto Politécnico de Viseu Contabilidade e Auditoria (diurno); Contabilidade e Auditoria (pós-laboral); Contabilidade e Administração (nocturno) Instituto Politécnico de Leiria Contabilidade e Finanças (diurno); Contabilidade e Finanças (pós-laboral) Instituto Politécnico de Coimbra Contabilidade e Auditoria; Contabilidade e Gestão Pública Universidade de Aveiro Contabilidade (diurno); Contabilidade (pós-laboral) Instituto Politécnico de Lisboa Contabilidade e Administração (diurno); Contabilidade e Administração (pós-laboral) Instituto Politécnico do Porto (ESEIG) e ISCAP) Contabilidade e Administração (diurno); Contabilidade e Administração (pós-laboral) Escola Superior de Ciência e Tecnologia (Ispgaya) Contabilidade e Gestão Escola Superior de Tecnologias de Fafe Contabilidade Instituto Superior D. Dinis Contabilidade e Administração Instituto Superior de Ciências da Administração Contabilidade e Administração Instituto Superior de Entre Douro e Vouga Contabilidade Instituto Superior de Paços de Brandão Gestão e Contabilidade Instituto Superior Politécnico do Oeste Contabilidade e Administração Universidade do Minho Contabilidade (pós-laboral) Universidade Fernando Pessoa Gestão Comercial e Contabilidade Instituto Superior da Maia Contabilidade Instituto Superior Manuel Teixeira Gomes Contabilidade Universidade Atlântica Contabilidade e Auditoria Universidade Lusíada Contabilidade Universidade Lusíada de Vila Nova de Famalicão Contabilidade Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologia Contabilidade, Fiscalidade e Auditoria ENSINO SUPERIOR POLITÉCNICO PÚBLICO ENSINO SUPERIOR POLITÉCNICO PRIVADO ENSINO SUPERIOR UNIVERSITÁRIO PÚBLICO ENSINO SUPERIOR UNIVERSITÁRIO PRIVADO 11Tabela 1: Dados da análise estatística. Os parâmetros anteriormente apresentados para o cálculo da dimensão mínima da amostra foram incorporados na Equação 1: Equação 1: Dimensão da amostra para uma população finita. (1) A amostra foi calculada atendendo ao total de inscritos no último ano dos cursos de contabilidade em estudo, ou seja, N=2608 indivíduos. A proporção (p) pode assumir todos os valores no intervalo [0,1] e a função [p×(1-p)] assume o valor máximo 0,25 na hipótese mais pessimista, ou seja, quando a dispersão é máxima. Como não se conhece a proporção (p), optou-se pela hipótese mais pessimista, isto é, p=0,5. Pretende-se que o nível de confiança seja =95% e o nível de precisão D=+ 5%. Para este nível de confiança a distribuição normal apresenta o valor Z/2 =1,96. Então, a amostra deve ter a dimensão de n=335 estudantes finalistas. Recolheram-se 357 inquéritos, sendo válidos 353, constituindo uma amostra representativa da população, o que corresponde a um nível de precisão D=+4,85%, mantendo o grau de confiança de =95%. No âmbito deste estudo, foi considerada a seguinte hipótese de investigação: os estudantes finalistas, de cursos de 1º ciclo em contabilidade, das instituições de ensino superior públicas e privadas, consideram que desenvolvem, ao longo do curso que frequentam, as competências gerais e específicas apresentadas. 12 4.1 – Instrumento de recolha de dados Quanto à construção das perguntas integradas no questionário, estas foram efetuadas de forma distinta e com base em várias considerações. A primeira secção inclui cinco questões demográficas e independentes, as quais permitiram caraterizar, do ponto de vista estatístico e demográfico, a população em estudo. A construção dos itens de competências que constituem a segunda secção do questionário foi realizada com base na revisão da literatura efetuada, tendo em conta as competências que os autores consideravam como mais relevantes. Nesta secção foram utilizadas questões fechadas de resposta com escala, tendo todas elas por base uma escala tipo Likert, com as seguintes opções de resposta: 1 – Discordo Totalmente; 2 – Discordo em grande parte; 3 – Discordo pouco; 4 – Não concordo nem discordo; 5 – Concordo pouco; 6 – Concordo em grande parte; 7 – Concordo Totalmente). A opção por questões fechadas tem a ver com o facto de estas serem muito utilizadas na investigação empírica, de permitirem uma graduação da resposta quando se deseja comparar visões e experiências de muitas pessoas (Sarmento, 2013) e de serem consideradas úteis quando a natureza das variáveis mais relevantes é conhecida, se pretende obter sobre elas informação quantitativa (Hill & Hill, 2009). Após receção de todos os questionários, os dados obtidos foram exportados diretamente para uma base de dados Excel, sendo a mesma posteriormente transferida para o programa IBM SPSS Statistics versão 20 para o tratamento e análise estatística dos dados obtidos. 4.2 – Métodos e técnicas de análise utilizados Em termos de análise da informação, e de forma a determinar a forma de distribuição dos dados na escala dos valores possíveis, recorreu-se a técnicas de estatística descritiva e de análise exploratória dos dados. Para o efeito, foram utilizadas análises de frequência e medidas descritivas (e.g. média e desvio padrão) consoante a adequação da sua análise às variáveis em estudo. De acordo com Pestana e Gageiro (2014) na análise univariada cada variável é tratada separadamente e, deve ser o primeiro passo na exploração dos dados. De acordo com Hill e Hill (2009), o questionário como instrumento de recolha de dados pode ser analisado quer em termos de utilidade quer em termos de fiabilidade dos dados, definidos nos seguintes termos: 13 (i) A validade é a adequação do instrumento ou, em última instância, a pertinência dos resultados ou medidas por ele produzidos para medir aquilo que se pretende; (ii) A fiabilidade, por sua vez, é a consistência ou a estabilidade estatística das medidas quando estas são obtidas por repetição e mantidas imutáveis as condições sob as quais são geradas. No primeiro caso, a utilização do Kaiser-Meyer-Olkin Measure of Sampling Adequacy (KMO) e do teste de esfericidade de Barlett são estatísticas igualmente relevantes na análise da validade dos dados. O valor de KMO situa-se entre 0 e 1, e quanto mais próximo da unidade maior será a adequação (validade) dos dados para a análise em estudo. De acordo com Marôco (2014: 368), apesar de não existir um teste rigoroso para os valores KMO, estes podem ser adjetivados, de uma forma geral da seguinte forma: valores entre 0,5 e 0,6 seriam considerados “maus mais ainda aceitáveis”, enquanto que valores entre 0,7 e 0,8 seriam considerados “médios”. Valores acima de 0,9 são considerados “excelentes”. Foi também efetuado o teste de esfericidade de Bartlett, para determinar se as variáveis estão significativamente correlacionadas entre elas (Pestana e Gageiro, 2014). No segundo caso, a análise do coeficiente de fiabilidade alfa de Cronbach, pode ser utilizada para avaliar a fiabilidade do agrupamento de determinados itens, nomeadamente, as questões desenvolvidas no questionário. Como uma medida de consistência interna, a análise do valor de alfa permite identificar o grau com que as diferentes questões se identificam com o mesmo conceito. Aceita-se o valor de 0,6 como o valor mínimo para o grau de identificação expresso pelo alfa (Hill e Hill, 2009). O objetivo da análise de fiabilidade é identificar, com base nos itens propostos as variáveis latentes relacionadas com cada um dos conceitos ou agrupamentos objeto de estudo. 5. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Nesta seção será efetuada, em primeiro lugar, uma caracterização dos inquiridos e em segundo lugar, proceder-se-á a uma análise univariada dos dados referentes às respostas ao inquérito. 5.1 – Caracterização e perfil dos inquiridos Da análise ao Gráfico 1 verifica-se que, 68,3% dos estudantes finalistas respondentes, pertencem ao género feminino e os restantes 31,7% ao género masculino. 14 Gráfico 1: Distribuição dos estudantes finalistas por género. Conforme se constata no Gráfico 2 abaixo indicado, 68,1% dos estudantes finalistas respondentes encontram-se na faixa etária com menos de 25 anos, 16,0% têm entre 26 e 35 anos, 12,9% estão na faixa entre 36 e 45 anos, 2,2% têm entre 46 e 55 anos e apenas 0,8% dos respondentes tem mais de 55 anos. Gráfico 2: Distribuição dos estudantes finalistas por nível etário. No que respeita ao curso superior frequentado, o Gráfico 3 mostra que, mais de metade dos estudantes finalistas respondentes (55,7%) pertencem ao curso de contabilidade e administração, 17,4% pertencem ao curso de contabilidade e fiscalidade, 14,8% ao curso de contabilidade e apenas 0,8% frequentam o curso de contabilidade e gestão financeira. Gráfico 3: Curso superior frequentado. 15 Quanto ao tipo de ensino superior frequentado, verifica-se através da análise ao Gráfico 4, que 96% dos estudantes finalistas respondentes pertencem a institutos politécnicos públicos, 3% a universidades públicas e apenas 1% respeitam ao setor privado – 0,5% a institutos politécnicos e 0,5% a universidades. Gráfico 4: Tipo de ensino superior frequentado. 5.2 – Interpretação e análise univariada Este ponto compreende uma análise da informação obtida a partir do questionário aos estudantes finalistas, tendo por base cada uma das questões propostas no referido instrumento. 5.2.1 – Análise geral do curso que frequentamCom o objectivo de verificar qual a opinião dos estudantes finalistas sobre a análise geral do curso de contabilidade que frequentam, na sua vertente curricular, foram apresentados quatro elementos e solicitava-se que respondessem quanto ao grau de concordância com as afirmações apresentadas (Gráfico 5): Gráfico 5: Análise geral do curso de contabilidade frequentado. Ao nível das médias das várias afirmações verifica-se que a oscilação entre os valores é reduzida, de qualquer forma, destaca-se pela maior importância, em termos do grau de concordância, o facto de o curso promover a aquisição de conhecimentos (6,00) e o facto de o O curso promove a minha formação integral O curso promove a aquisição de conhecimentos O curso potencia o desenvolvimento de competências gerais/transversais O curso prepara-me para as exigências do mercado de trabalho 5,54 6,00 5,64 5,22 16 curso potenciar o desenvolvimento de competências gerais/transversais (5,64). No entanto, os estudantes finalistas concordam pouco que o curso os prepara para as exigências do mercado de trabalho (5,22). 5.2.2 – Perceções dos estudantes finalistas quanto ao desenvolvimento das competências gerais apresentadas De forma a entender as perceções dos estudantes finalistas sobre as competências gerais reunidas ao longo do curso, foram apresentadas um conjunto de dezasseis competências e solicitava-se que respondessem quanto ao grau de concordância no que diz respeito ao desenvolvimento dessas competências, ao longo do curso que frequentam. Tendo por base os dezasseis itens de competências gerais associados à segunda seção do questionário, foi efetuada a análise de consistência interna (alfa de Cronbach) e identificado um coeficiente de 0,940 para o conjunto dos itens propostos, o qual é considerado muito bom para a confirmação da fiabilidade das variáveis. De seguida, o Gráfico 6 mostra os valores médios, por ordem decrescente, de cada competência geral percepcionada pelos estudantes finalistas: Gráfico 6: Perceção dos estudantes finalistas quanto ao desenvolvimento de competências gerais/transversais ao longo do curso frequentado. 4,92 5,03 5,05 5,08 5,14 5,17 5,20 5,21 5,22 5,29 5,36 5,39 5,39 5,42 5,51 5,61 Criatividade Cultura Geral Capacidade de liderança Capacidade de crítica Capacidade para utilizar as TIC Capacidade de autocrítica Capacidade para tratar dados Capacidade para analisar a informação Capacidade para resolver problemas Capacidade de comunicação Capacidade para tomar decisões Capacidade de organização Capacidade para trabalhar sob pressão Capacidade de trabalhar autonomamente Capacidade de relacionamento interpessoal Capacidade para trabalhar em grupo/equipa 17 Analisando o Gráfico 6, constata-se que das 16 competências gerais apresentadas, aquelas que os estudantes finalistas concordam que foram mais desenvolvidas são: a capacidade para trabalhar em grupo/equipa (5,61) e a capacidade de relacionamento interpessoal (5,51). Pelo contrário, as competências gerais apontadas como menos desenvolvidas são: a criatividade (4,92) e a cultura geral (5,03). 5.2.3 – Perceções dos estudantes finalistas quanto ao desenvolvimento das competências específicas apresentadas Para aferir sobre as competências específicas, foram apresentadas um conjunto de onze competências e solicitava-se que os estudantes finalistas respondessem quanto ao grau de concordância relativamente ao desenvolvimento dessas competências, ao longo do curso que que frequentam. A análise de consistência interna (alfa de Cronbach) aos onze itens de competências específicas associados à segunda seção do questionário, identificou um coeficiente de 0,930 para o conjunto dos itens propostos, o qual significa uma consistência interna muito boa. De seguida, o Gráfico 7 mostra os valores médios, por ordem decrescente, de cada competência específica percepcionada pelos estudantes finalistas: Gráfico 7: Perceções dos estudantes finalistas quanto ao desenvolvimento de competências específicas no curso que frequentam. 18 Da análise global ao Gráfico 7, constata-se que, das onze competências específicas apresentadas, as indicadas pelos estudantes finalistas como mais desenvolvidas no curso onde frequentam são: compreender a linguagem técnica contabilística (5,83) e capacidade para preparar as demonstrações financeiras (5,50). Já as restantes nove competências específicas são apontadas pelos estudantes finalistas como pouco desenvolvidas no curso que frequentam, destacando-se negativamente: a capacidade para preparar relatórios de desvios de desempenho (4,79) e a capacidade de estruturar um painel de gestão com informação útil para a tomada de decisão (4,99). 6. CONCLUSÕES Este artigo pretende contribuir para o conhecimento de algumas das competências que são desenvolvidas em cursos do ensino superior de contabilidade. O facto de a investigação ter sido efetuada a partir da perspetiva do estudante oferece a este estudo uma perspetiva única. Os resultados deste estudo revelam que: (1) a capacidade para trabalhar em grupo/equipa e a capacidade de relacionamento pessoal são as competências gerais que os estudantes finalistas apontam como as mais desenvolvidas nos cursos que frequentam; (2) a cultura geral é das competências gerais menos desenvolvidas no seu percurso de ensino; (3) a compreensão da linguagem técnica contabilística e a capacidade para preparar as demonstrações financeiras são as competências específicas percecionadas como mais desenvolvidas ao longo do curso que frequentam; (4) a capacidade de estruturar um painel de gestão com informação útil para a tomada de decisão é a competência específica percecionada como a menos desenvolvida no curso que os estudantes finalistas frequentam. Para alguns organismos internacionais, nomeadamente o IFAC, são evidenciadas competências a adquirir aquando da qualificação dos diplomados, tais como: as interpessoais e a capacidade de trabalhar eficazmente em grupo, este estudo pode ser visto como um contributo essencial para destacar as capacidades dos estudantes para competir eficazmente no mercado de trabalho (IFAC, 2005; Jackling e de Lange, 2009). Cada vez mais as organizações valorizam as competências gerais/transversais em detrimento das competências específicas. São nas primeiras que o indivíduo pode mostrar a sua capacidade de liderança, de iniciativa, de cooperação, de adaptação à organização em que se insere, enquanto as segundas, as competências específicas, se centralizam nas experiências e no 19 percurso profissional específico do individuo. Os seus saberes e conhecimentos são mais restritos e específicos a determinada profissão ou sector profissional. Neste contexto, o debate sobre os currículos dos cursos de contabilidade tem durado décadas e parece que vai continuar no futuro, uma vez que grande parte das entidades empregadoras, de acordo com a revisão da literatura efetuada, expressaram insatisfação com o nível de conhecimentos de contabilidade e capacidades demonstradas pelos seus novos colaboradores. No futuro, o ensino superior, nomeadamente o ensino da contabilidade, precisa assim de continuar a trabalhar novas formas de ensino e aprendizagem, devendo estender-se muito para além das capacidades técnicas desta profissão em célere crescimento e cada vez mais diversificada. 20 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Bui, B., & Porter,B. (2010). The Expectation-Performance Gap in Accounting Education: An Exploratory Study. Accounting Education, 19(1-2), 23-50. Doi: 10.1080/09639280902875556. Câmara, P. B., Guerra, P. B. & Rodrigues, J. V. (2013). Humanator XXI – Recursos Humanos e Sucesso Empresarial (6ª edição). Lisboa: Edições Dom Quixote. 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